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Escravos da Desigualdade

Como é possível um país tão futurista trazer uma bagagem cheia de


problemas antigos?

Bom dia a todos e obrigada por me ouvirem. Gostaria que pensassem


comigo: Gosto de futebol? Acompanho o Mundial que está a decorrer?
Pois é: vejo muitos adeptos nesta sala que acompanham o tão esperado
Mundial. Muitas outras pessoas acompanham-no também por todo o
mundo, mas infelizmente, hoje em dia o futebol é apenas uma «grande
máquina de lavar dinheiro» dominado pela ganância e pelo ódio e um dos
grandes exemplos é a falta de ética nas bancadas e fora delas.

Quantos pais vão ver um jogo de futebol com receio de levar as suas
crianças? O objetivo de levar os seus filhos é para eles sentirem a onda de
energia, de euforia contagiante de estar nas bancadas a torcer por um
clube ou até mesmo torcer por um jogador que gostem e achem piada.
Porém o mais comum é sair a meio do jogo, pois as rivalidades consomem
os adeptos tornando-os agressivos e os pais apenas tentam afastar os
seus filhos da confusão, quebrando assim todo o espírito coletivo.

Não são apenas criticados os amantes de futebol como o próprio futebol,


as revistas criticam-no bastante por ser uma «grande máquina de lavar
dinheiro» à disposição de muitos criminosos, pois as autoridades não têm
qualquer interesse em combater a corrupção. Vimos imensas vezes nos
telejornais titulos como: «Fraude nos impostos», «Imigração ilegal»,
«Desvio de dinheiro por parte de…». Esta «máquina» é movida pelo
dinheiro ilegal, pelas apostas, pelas compras de jogadores e tantas outras
coisas que não temos ideia.

Poderíamos também pensar que todo esse dinheiro era usado, por
exemplo, para construir os estádios do Mundial ou qualquer outro estádio
mas não, os estádios em que estão sentados foram construídos por
trabalhadores, muitos dos quais estavam em condições do que chamamos
trabalho forçado ou outras formas de escravatura moderna. Alguns
trabalhadores falaram sobre taxas ilegais de recrutamento que os deixava
profundamente endividados antes mesmo de começarem, longas horas de
trabalho sob condições severas, discriminação baseada em
nacionalidades, na qual o trabalho mais perigoso era reservado para sul-
africanos, salários não pagos e violência verbal e física. Para não falar nas
vidas perdidas, quase 7 mil, apenas para uns estádios que deixarão de ter
uso no final de dezembro, quase 7 mil pessoas perderam a vida para o
entretenimento de outras, quase 7 mil vidas não é nem nunca será o custo
para algo! Por isso volto a perguntar, como é que um país tão futurista
conhecido pelos seus arranha-céus modernos vive nesta triste realidade?

Queria terminar o meu discurso com uma frase de Charlie Chaplin, o


maior ator, diretor e produtor de cinema de todos os tempos, retirada do
filme «O Grande Ditador»: «Os ditadores libertam-se, porém escravizam o
povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais,
dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de
razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de
todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos.» É
absolutamente trágico como 82 anos depois deste magnífico discurso, que
é tão perene, a humanidade continua a insistir nos mesmos erros?

Todos queremos ajudar-nos uns aos outros. O ser humano é assim.


Desejamos viver para a felicidade do próximo — não para seu sofrimento.
Não queremos odiar e desprezar-nos uns aos outros. Neste mundo há
lugar para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas
necessidades.

Por isso, caros ouvintes, colegas, amigos, a ganância corrói a alma, mas
o Homem é tolo, acha que o dinheiro é consolo e vive a trabalhar apenas
para faturar. Procuram ser felizes a todo o custo, roubam, maltratam,
matam apenas para ostentar o seu luxo obrigada a todos.

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