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PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE MENINGITE BACTERIANA EM

IPATINGA-MG NOS ANOS DE 2013 A 2022:

Yllara Gonçalves
https://orcid.org/0000-0003-0318-7539
Sara Euzébio da Cunha
https://orcid.org/0000-0003-1203-311X
Letícia César de Oliveira
https://orcid.org/0000-0002-8482-0043
Maiana Lourenço Benvindo da Rocha Martins
https://orcid.org/0009-0001-6693-3028
Sofia Zulianeli Carvalho Andrade
Contagem total das palavras do texto, excluindo resumo, agradecimentos,
referências bibliográficas, tabelas e legendas das figuras: 2615 palavras
Contagem total das palavras do resumo: 280 palavras
Número de tabelas e figuras: 4 tabelas e 0 figuras

RESUMO

Objetivo: Compreender o perfil epidemiológico da meningite bacteriana em


Ipatinga-MG durante o período de 2013 a 2022, visando fornecer informações
para orientar políticas de saúde pública e estratégias de prevenção direcionadas.
Métodos: Este estudo adotou uma abordagem observacional de natureza
ecológica e retrospectiva. Foram utilizados dados secundários disponíveis no
DATASUS para examinar os casos de meningite bacteriana registrados em
Ipatinga-MG ao longo do período investigado. As variáveis de interesse
abrangeram aspectos como raça, faixa etária, sexo e etiologia bacteriana. A
análise dos dados foi conduzida por meio de métodos estatísticos descritivos.
Resultados: Os resultados revelaram várias descobertas importantes. Houve uma
alta incidência de casos entre indivíduos pardos, destacando uma disparidade
racial na ocorrência da doença na região. A análise por faixa etária mostrou uma
predominância de casos em crianças menores de 5 anos, indicando uma
vulnerabilidade significativa nesse grupo populacional. Os homens emergiram
como o grupo mais impactado pela meningite bacteriana, representando uma
proporção significativa dos casos notificados. Quanto à etiologia bacteriana, uma
proporção considerável de casos foi atribuída a outras bactérias, destacando a
importância dessa causa específica de meningite na área de estudo.
Conclusão: Os achados deste estudo fornecem informações valiosas sobre o
perfil epidemiológico da meningite bacteriana em Ipatinga-MG. Eles destacam a
necessidade de intervenções específicas para grupos de risco identificados e
fornecem uma base sólida para o desenvolvimento de políticas e estratégias de
saúde pública voltadas para a redução da incidência da doença e melhoria do
manejo dos casos na região. Recomenda-se que futuras pesquisas empreguem
métodos mais robustos de coleta de dados e considerem uma análise longitudinal
para uma compreensão mais abrangente das tendências epidemiológicas da
meningite bacteriana na região.

Palavras-chave: Meningites; Meningite bacteriana; Infectologia; Epidemiologia.


INTRODUÇÃO

A meningite bacteriana é uma infecção purulenta aguda no interior do


espaço subaracnóideo, é a forma mais comum de infecção supurativa do SNC, os
microrganismos mais frequentemente responsáveis pela meningite bacteriana são
Streptococcus, Neisseria meningitidis, streptococcus do grupo B e Listeria
monocytogenes. O Haemophilus influenzae tipo b responde por < 10% dos casos
de meningite bacteriana. As bactérias presentes no sangue atingem o plexo
coróide intraventricular, onde infectam diretamente as células epiteliais do plexo e
ganham acesso ao líquido cefalorraquidiano (LCR). No Brasil, a meningite é
considerada uma doença endêmica. Casos da doença são esperados ao longo de
todo o ano, com a ocorrência de surtos e epidemias ocasionais1

O perfil clínico do paciente acometido por meningite, geralmente é baseado


na manifestação por febre súbita, relacionada à cefaleia, prostração, náuseas,
êmese, rigidez nucal, fotofobia, mialgia, excitação e sinais meníngeos, mas não é
via de regra, há casos assintomáticos.2 A síndrome toxêmica cursa com
hipertermia, mal-estar geral, prostração e excitação psicomotora. O sinal de Faget,
a qual o pulso é inferior ao apropriado para um dado grau de temperatura, ou seja,
febre alta para pouca taquicardia é comum. Cerca de 40–60% das meningites
meningocócicas ocorre um dano endotelial nos capilares da derme, devido à
disseminação local do meningococo, caracterizada pela eclosão de rash cutâneo
hemorrágico, evidenciado por petéquias e equimoses3. O diagnóstico da MB é
concretizado por meio do estudo do LCR, em especial o exame quimiocitológico e
a cultura. Os aspectos laboratoriais a qual revelam traços na MB são liquor de
aspecto turvo, cor leitosa ou xantocrômica, glicose diminuída e neutrofilia4. No
entanto, nem sempre é fácil, uma vez que os sintomas podem ser inespecíficos e
a análise do LCR nem sempre está disponível devido à ausência de tempo para
análise de desfechos específicos5.

Entretanto, mesmo com o uso de novos e potentes antibióticos e de


medidas avançadas de suporte utilizadas nas unidades de terapia intensiva, as
meningites bacterianas ainda representam importante causa de morbidade e
mortalidade infantil. O crescente desenvolvimento de resistência bacteriana nos
últimos anos tem contribuído para dificultar o manejo da doença6.
Com isso, considerando a escassez de trabalhos publicados na literatura
com dados do município de Ipatinga, Minas Gerais, que possui uma população de
227.731 pessoas e localiza-se no Vale do Rio Doce e pertence à Região
Metropolitana do Vale do Aço, ressaltamos a importância desse estudo sobre a
epidemiologia dos casos nesta população. Dessa forma a razão para realização
do estudo é compreender qual o perfil epidemiológico dos casos de meningite
bacteriana, visto que tal etiologia é a que reflete a maior prevalência dos casos e
não há estudos que abordem essa temática na cidade de Ipatinga, Minas Gerais
nos anos de 2013 a 2022.

OBJETIVOS

Objetivo primário

● Compreender o perfil epidemiológico dos pacientes de meningite bacteriana


diagnosticados na cidade de Ipatinga-MG a fim de subsidiar políticas
institucionais para melhorar o padrão de assistência empregada a esses
pacientes, determinando assim decisões sobre grupos de pessoas,
podendo ser a base para as políticas de prevenção e o planejamento das
ações de saúde.

Objetivo secundário
● Analisar os casos de meningite bacteriana na cidade de Ipatinga -MG, a
partir da análise dos dados na base de dados secundária DATA-SUS, a fim
de identificar fatores os quais influenciam no aumento ou diminuição desses
dados.
● Examinar se o sexo, idade, faixa etária e etiologias bacterianas dos
pacientes diagnosticados com meningite bacteriana em Ipatinga-MG de
2013 a 2022 demonstram vulnerabilidade ou pior prognóstico para os
casos.

METODOLOGIA:
Este estudo segue o desenho observacional, ecológico e retrospectivo, as
informações serão obtidas a partir de uma base de dados secundários,
especificamente o DATASUS, será realizado na cidade de Ipatinga, localizada no
estado de Minas Gerais, Brasil. Os dados serão coletados no período de 2013 a
2022 e a população de estudo incluirá todos os casos de meningite bacteriana
registrados em Ipatinga-MG durante o período especificado. As variáveis de
interesse incluem: raça, faixa etária, sexo e etiologia da meningite bacteriana. Os
dados serão obtidos através da consulta da base de dados do DATASUS,
utilizando os códigos correspondentes às ocorrências de meningite bacteriana. A
análise dos dados será realizada com métodos estatísticos descritivos e todos os
dados utilizados neste estudo serão de acesso público e não identificáveis,
garantindo a confidencialidade e privacidade dos indivíduos.

RESULTADOS

Durante o período de 2013 a 2022, em Ipatinga-MG, registrou-se uma


prevalência significativamente maior de notificações de meningite bacteriana em
pacientes pardos, totalizando 119 casos em relação ao total. Isso representa um
aumento de 44% em comparação com os indivíduos brancos, pretos e aqueles
cuja raça foi registrada como ignorada ou em branco, como evidenciado no
Gráfico 1.
Gráfico 1. Razão das raças.

Em consonância com os dados relacionados ao sexo, observa-se que, no


período compreendido entre 2013 e 2022, os homens emergiram como o grupo
mais impactado pela meningite bacteriana na cidade de Ipatinga-MG. O sexo
masculino representou uma proporção significativa dos casos notificados,
totalizando 77% do número total de casos, o que corresponde a 248 casos de um
total de 323, como exemplificado no Gráfico 2.

Gráfico 2- Número de casos de Meningite Bacteriana por sexo.


Ao examinar detalhadamente os dados por faixa etária, é notório que as
crianças com idade inferior a um ano se destacam como o segmento mais afetado
pela incidência de meningite bacteriana em Ipatinga-MG ao longo do período
investigado. Conforme demonstrado no Gráfico 3, nesta faixa etária foram
notificadas 55 ocorrências ao longo dos anos, correspondendo a 21% do total. É
relevante destacar que o maior número de casos registrados em uma faixa etária
ocorreu em 2014, na faixa etária de 1 a 4 anos, totalizando 14 casos.
Gráfico 3- Casos de meningite bacteriana em Ipatinga-MG por faixa etária.

No intervalo contemplado pela pesquisa, destaca-se que a principal causa


de meningite bacteriana em Ipatinga foi atribuída à infecção bacteriana por outras
bactérias, representando uma parcela considerável de 53,1% dos casos
confirmados. Esses dados são visualizados no Gráfico 4.
Gráfico 4 - Etiologia dos casos confirmados.

Legenda: MCC: meningococcemia; MM: meningite meningocócica; MCC+MM:


meningococcemia com meningite meningocócica; MTBC: meningite tuberculosa;
MB: meningite por outras bactérias; MH: meningite por hemófilo; MP: meningite
por pneumococo.
DISCUSSÃO

Os resultados desta pesquisa fornecem uma visão aprofundada do perfil


epidemiológico da meningite bacteriana em Ipatinga-MG, destacando dados
inéditos e relevantes em várias áreas. Uma das descobertas mais significativas foi
a alta incidência de casos entre indivíduos pardos, representando
aproximadamente 44% dos casos registrados. Este resultado é particularmente
relevante, pois destaca uma disparidade racial na ocorrência da doença na região,
não amplamente documentada em estudos anteriores. Além disso, a análise por
faixa etária revelou uma predominância de casos entre crianças menores de 5
anos, com uma taxa de incidência de 0,210 para crianças menores de 1 ano,
indicando uma vulnerabilidade significativa nesse grupo populacional. Em relação
ao sexo, observou-se uma razão masculino-feminino de 77% para 23%, sugerindo
uma predisposição dos homens à doença. Quanto à etiologia bacteriana, os
resultados mostraram uma alta proporção de casos atribuídos à Meningite por
outras bactérias e meningites bacterianas não especificadas (MB), representando
cerca de 53,1% dos casos, o que destaca a importância dessa causa específica
de meningite na área de estudo. Esses achados inéditos fornecem uma base
sólida para futuras pesquisas e estratégias de prevenção direcionadas à
população de Ipatinga-MG, destacando a necessidade de intervenções
específicas para grupos de risco identificados.

Ao considerar a precisão dos resultados desta pesquisa, é importante


reconhecer algumas fontes potenciais de imprecisão que podem ter influenciado
os achados. Uma das limitações decorre da utilização de dados secundários do
DATASUS, os quais podem estar sujeitos a subnotificações e erros de codificação.
Essa imprecisão nos dados pode ter impactado a precisão e confiabilidade dos
resultados, limitando nossa capacidade de capturar com precisão a verdadeira
incidência de casos de meningite bacteriana na região de Ipatinga-MG. Além
disso, a análise retrospectiva dos dados pode ter levado a distorções,
especialmente considerando a possibilidade de que nem todos os casos tenham
sido corretamente registrados ou identificados nos registros de saúde. Para mitigar
potenciais erros e distorções nos dados, foram adotadas algumas medidas
durante o processo de análise. A seleção de participantes foi baseada em critérios
pré-definidos, visando incluir apenas casos de meningite bacteriana confirmados
clinicamente e laboratorialmente. Além disso, foram realizadas verificações
adicionais para evitar a inclusão de dados repetidos ou duplicados, garantindo
assim a integridade dos resultados apresentados. No entanto, é importante
reconhecer que algumas limitações dos delineamentos de estudo ainda persistem,
especialmente no que diz respeito à relação de causa e efeito. Como este estudo
se baseou em dados observacionais retrospectivos, não é possível estabelecer
conclusões definitivas sobre os fatores de risco subjacentes à meningite
bacteriana em Ipatinga-MG, nem inferir causalidade entre as variáveis analisadas.
Essas limitações devem ser consideradas ao interpretar os resultados e ao
formular conclusões sobre a epidemiologia da doença na região.

Os resultados obtidos neste estudo proporcionam uma valiosa oportunidade


para comparar e interpretar estes achados à luz da literatura existente sobre
meningite bacteriana. Em relação à concordância com os achados prévios, nossos
resultados corroboram em grande parte com o que tem sido descrito na literatura.
Por exemplo, a alta incidência de casos entre crianças menores de 5 anos é
consistentemente observada em estudos anteriores7, reforçando a importância
desse grupo etário como um foco de intervenção para prevenção e controle da
doença. Além disso, a predominância de casos entre indivíduos do sexo
masculino, conforme observado em nosso estudo, está em linha com as
descobertas de estudos anteriores8, que identificou uma razão masculino-feminino
de 60,2%. Essa consistência nos resultados sugere uma predisposição masculina
à meningite bacteriana, embora a razão exata para essa disparidade ainda precise
ser totalmente elucidada. Apesar da concordância com a literatura existente, este
estudo também traz contribuições significativas e novas perspectivas para o
campo da epidemiologia da meningite bacteriana. Os achados relacionados à
distribuição racial dos casos, com uma alta incidência entre indivíduos pardos,
representam uma contribuição original para o conhecimento existente. Essa
descoberta destaca a necessidade de considerar fatores socioeconômicos e
raciais ao planejar estratégias de prevenção e controle da doença em
Ipatinga-MG, uma lacuna de pesquisa que este estudo ajuda a preencher. Além
disso, ao identificar uma proporção significativa de casos atribuídos à MB, nosso
estudo reafirma a importância dessa etiologia específica como uma causa
substancial da doença na região. Essas novas perspectivas e descobertas
fornecem uma base valiosa para aprimorar políticas de saúde pública e
intervenções direcionadas à prevenção e controle da meningite bacteriana em
Ipatinga-MG, e potencialmente em outras regiões com perfis epidemiológicos
semelhantes.

CONCLUSÃO:

Este estudo observacional ecológico forneceu uma visão abrangente do


perfil epidemiológico da meningite bacteriana em Ipatinga-MG durante o período
de 2013 a 2022. Estes resultados destacaram várias descobertas relevantes,
incluindo a alta incidência de casos entre indivíduos pardos, a predominância de
casos em crianças menores de 5 anos e uma proporção significativa de casos
atribuídos à meningite por outras bactérias e meningites bacterianas não
especificadas (MB). A análise também revelou uma razão masculino-feminino
desproporcional e uma distribuição específica de faixa etária dos casos. Os
resultados têm implicações importantes para o planejamento de políticas de saúde
pública e intervenções direcionadas à prevenção e controle da meningite
bacteriana em Ipatinga-MG. Embora o estudo tenha proporcionado insights
valiosos, é importante reconhecer as limitações associadas à utilização de dados
secundários do DATASUS, incluindo possíveis subnotificações e erros de
codificação. Portanto, recomenda-se que futuras pesquisas empreguem métodos
mais robustos de coleta de dados e considerem uma análise longitudinal para uma
compreensão mais abrangente das tendências epidemiológicas da meningite
bacteriana na região. No entanto, os achados deste estudo fornecem uma base
sólida para intervenções e estratégias de saúde pública voltadas para a redução
da incidência e melhoria do manejo da doença em Ipatinga-MG.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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