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CIVEBRA / 2021

Oficina de Bandolim / Marcílio Lopes

II) A música vocal e a consolidação do estilo Jacob

Participações em gravações anteriores ao 1º disco


1938 “Se alguém sofreu” (Jacob do Bandolim) - Araci de Almeida

O Jacob compositor e sambista chega ao disco quase dez anos antes do Jacob chorão!!!
Possibilidade de ser o primeiro registro de Jacob – reparar bandolim ao fundo. Jorge Cardoso
relatou passagem em que Jacob comentou, em entrevista, o estranhamento quando soube da gravação
de seu samba....

1941 “Ai! Que saudades da Amélia” 1941 - Ataulfo Alves (Jacob ao Cavaquinho)
1947 "Marina" - Dorival Caymmi (no bandolim)
1947 “Lá vem a baiana” - Dorival Caymmi (no bandolim)

"Lá vem a baiana" – faria parte do LP "Época de Ouro" que conversaremos a seguir...
Caymmi seria o principal articulador de saída de Jacob Continental para a RCA-Victor em 1949.
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A “Época de ouro” do rádio (~1930-1945)

Curiosamente, Jacob do Bandolim passou toda esta “época de ouro” ligado aos programas de
rádio e próximo dos personagens centrais do período, porém sem gravar!
O conceito de “Época de Ouro” começa a circular no final da década de 1950 por articulação de
personagens como Almirante, o jornalista Lúcio Rangel e o pesquisador Ary Vasconcelos.
Na Revista Long Playing de outubro de 1956, Lúcio Rangel começa uma série de três artigos
intitulados “Música Popular Brasileira – A época de ouro” em que faz um apanhado dos principais
artistas daquele cenário.

Observando a constituição repertório do Jacob (é uma tendência, não uma questão absoluta...)
Podemos imaginar uma linha geral de influências sobre repertório, tendo de certa forma o LP
“Época de Ouro” como um ponto de inflexão.
a) O repertório instrumental que grava até 1959 é fortemente centrado nos compositores do
início do século, os casos excepcionais de contemporâneos como Pixinguinha e Luiz
Americano, podem ser relacionados também àquele período. De alguma forma se alinha com
a abordagem e a valorização proposta por Almirante, que se revela no “Programa da Velha
Guarda”, que vai ao ar entre 1947 e 1954, tendo Pixinguinha a frente da direção musical.
Jacob participa exatamente a partir de seu lançamento no disco.
b) O repertório vocal que aparece no LP “Época de Ouro” (1959) e no LP “Jacob revive sambas
para você cantar” (1963), aponta para um período posterior. Revela a influência do
jornalista Lúcio Rangel, editor da importante “Revista da Música Popular”, que tem
circulação entre 1954 e 1956.
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O LP “Época de Ouro” - 1959

Há uma mudança para o novo padrão LP (12”); Melhor qualidade da gravação (Hi-Fi).
É um projeto mais amplo, concebido como um todo, a contrário dos tradicionais 78 RPM.
Os gestos instrumentais do bandolim no Época de Ouro (RCA, BBL.10336) revela uma profunda
reflexão sobre a expressão cantada: Jacob usa gravações anteriores como referência.
Os registros anteriores são de: Sílvio Caldas (6); Orlando Silva (2); Francisco Alves (2); Dorival
Caymmi (1); Roberto Paiva (1).
No depoimento ao MIS (fevereiro de 1967, o LP Vibrações ainda não havia sido gravado), Jacob
afirmou categoricamente: “Época de Ouro, considerado por mim o melhor LP”. E complementa
orgulhoso: “Época de Ouro tem dois orquestradores admiráveis, Radamés Gnattli e Carioca. Tem três
tipos de orquestra. Um tipo boate, com músicos os mais admiráveis. (...) Depois teve uma orquestra
fazendo quatro faixas, com cinco saxofones orquestrados admiravelmente por Radamés. Depois teve 4
faixas, 4 valsas, orquestradas por Radamés na base de violinos.”

Comparando algumas faixas com as versões originais cantadas:

Jardim de flores raras


Valsa de Francisco Matoso e Romualdo Peixoto - Gravação original de Roberto Paiva (1938)

Reparar trêmolo nos lugares onde cantor usa vibrato: em “Raras” o vibrato mais curto como na
voz)
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Longe dos olhos


Samba de Cristóvão de Alencar e Djalma Ferreira - Gravação original de Francisco Alves (1936)

Bibliografia recomendada:

• “Tributo a Jacob do Bandolim – Discografia completa” de Maria Vicencia Pugliesi e


Sérgio Prata; Ed. Centro Cultural Antônio Carlos Carvalho (2002).
• “O dito e o não dito: a palavra cantada no gesto instrumental de Jacob do bandolim” de
Marcílio Lopes; Tese de doutorado; PPGM/UNIRIO (2016).

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