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O IMPACTO DA GLOBALIZAÇÃO E DA TECNOLOGIA NO

CONSUMO DE MÚSICA

RESUMO: Este artigo visa demonstrar que o processo de globalização alterou a forma
como consumimos música, não no aspecto mercadológico e comercial, mas no sentido
de apreciação da música.

PALAVRAS-CHAVE: globalização, música, consumo, tecnologia.

1. INTRODUÇÃO

A globalização, associada à tecnologia e ao advento das novas mídias,


possibilitou que os produtos artísticos fossem acessados por um maior número de
pessoas. Assim, tendo como certo que a globalização permitiu a expansão de bens
culturais é possível dizer que uma das consequências foi a alteração da forma como
consumimos música?
Para responder a esta pergunta, foi usada a referência teórica do escritor Chris
Anderson e sua obra “A Cauda Longa”. O autor reflete, entre outros assuntos, sobre
como as pessoas ouvem música, tendo uma infinidade de opções de estilos musicais e
artistas das mais variadas regiões do mundo; além de existir várias formas de consumir
música, como a distribuição gratuita e compra por sites e a pirataria. Também usamos
os conceitos de Frederic Jameson e Néstor Garcia Canclini para tratar sobre a
globalização e seus aspectos.
Ressalto que o sentido de consumo tratado neste artigo é enquanto apreciação da
música. Ou seja, o consumo está relacionado a ter acesso e a ouvir a música e não o
consumo comercial ou de venda. Dessa maneira, o artigo aborda itens que tratam da
evolução dos suportes de áudio e da atuação da indústria fonográfica, explicando como
a evolução das mídias e a globalização modificaram o consumo da obra musical pelo fã.

Carlos Valério Santos


Estudante de Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV, da Faculdade Paulus de Tecnologia e
Comunicação (FAPCOM)
2. GLOBALIZAÇÃO

A globalização pode ser definida como um processo pelo qual os setores sociais
e culturais, de diversos países do mundo, são afetados por influências políticas e
econômicas internacionais. Uma era onde os mercados do mundo se integram formando
uma "aldeia global", prevalecendo a rapidez e a redução da distância.
Esse fenômeno só é possível em decorrência do advento tecnológico, o
desenvolvimento dos transportes, o avanço dos meios de comunicação, a informatização
acelerada e, principalmente, uma política neoliberalista que prega o livre comércio.
Entretanto, a globalização não é algo tão atual quanto pensamos. Ela já existia
antes mesmo da criação do conceito de indústria cultural, visto que em períodos antigos
da história da civilização já havia a troca de características socioculturais entre as
nações.

(...) a globalização não é um fenômeno recente, sempre existiu e basta folhear


um livro como Europe and the People Without Hsitory de Eric Wolf (1982),
para perceber que desde o período neolítico as rotas de comércio tiveram
alcance global (...) (JAMESON, 2001)

Uma das premissas da globalização é o fim das barreiras geográficas a fim de


expandir o livre comércio entre as nações. Assim, juntamente com o avanço
tecnológico, possibilitou que os produtos culturais fossem disseminados em lugares que
antes eram considerados inalcançáveis. Um artista latino americano dificilmente
conseguiria levar a sua arte ao Japão, por exemplo. Contudo, a globalização permite que
sua arte seja enviada até o outro continente e consumida.

Sob a lógica da globalização, o popular não é sinônimo de local. Não se


forma nem se consolida apenas na relação a um território. Não consiste
naquilo que lhe é mais acessível ou mobiliza sua afetividade. Os intercâmbios
mundializados misturam roupas indianas, músicas africanas e latinas, rock e
pop multilíngues. Pop, popular, popularidade: as identificações étnicas e
nacionais, sem desaparecerem por completo, transbordam suas localizações
em linguagens e espetáculos transnacionais. (CANCLINI, 2008)

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A internet acentua ainda mais a característica transnacional da globalização. Por
meio da rede, milhões de pessoas podem ouvir uma música e assistir a um filme sem
precisar sair de suas casas. Dessa maneira, a internet serve como ferramenta para a
disseminação de produtos culturais, não há a necessidade de ir até a uma loja comprar
um cd e nem ir até ao cinema para assistir a um filme.

Para Negroponte (1996), as superestradas da informação vão substituir as


rodovias de concreto como fundamento da forma de viver e transacionar. A
internet representa “a morte da geografia”, na medida em que “ir ao trabalho”
pode significar apenas ligar um modem. Assim, a tendência é que os avanços
nas tecnologias de comunicação venham reduzir a dependência sobre estar
em um lugar específico em uma hora específica. (JAMESON, 2001)

3. O CONSUMO DE MÚSICA

A globalização permite que a música chegue a lugares distantes e que se


conheçam artistas de várias nacionalidades. Já o avanço tecnológico trouxe diversos
suportes para o áudio, fazendo com que a qualquer momento possa-se ouvir música.

Um dia comemos o mesmo que nossos avós, no dia seguinte almoçamos às


pressas num McDonald’s enquanto escutamos Ricky Martin ou Gloria
Estefan misturando inglês e espanhol na mesma canção, e à noite pedimos
um sushi delivery porque não temos vontade de cozinhar, e enquanto
esperamos o entregador decidimos se acompanharemos o jantar com um
disco brasileiro, do cantor marroquino que acabamos de descobrir ou com os
clipes da MTV, que podem ser de qualquer lugar. (CANCLINI, 2008)

Até a década de 1990, quando um artista lançava um álbum, havia toda uma
expectativa para este evento. Os fãs daquele artista tinham acesso a uma quantidade
limitada de canais de TV e emissoras de rádio. Estes veículos determinavam a
programação que consideravam interessante para elevar o índice de audiência.

O adolescente típico tinha acesso à meia dúzia de canais de TV e


praticamente todos viam os mesmos programas. Em qualquer cidade, havia
três ou quatro estações de rádio que impunham boa parte das músicas
escutadas por todos. (ANDERSON, 2006)
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Dessa maneira, as emissoras de rádio juntamente com as gravadoras,
delimitavam quais eram as faixas do artista que seriam veiculadas, restringindo ao
ouvinte uma pequena parcela do álbum para veiculação. O acesso à obra completa
ficava restrito a quem podia comprar um disco e um aparelho que o reproduzisse.

As gravadoras tinham boas razões para se sentirem confiantes. Os fãs corriam


como manadas para as lojas de discos. Entre 1990 e 2000, as vendas de álbuns
dobraram a taxa de crescimento mais acelerada da história do setor. Quase
metade dos 100 maiores campeões de vendas da história havia sido vendida
nesse período. O negócio de música só ficava atrás de Hollywood nas fileiras da
indústria de entretenimento. (ANDERSON, 2006)

Contudo, o disco de vinil também não permitia que escolhêssemos quais faixas
gostaríamos de ter, além de ser difícil o manuseio e o transporte. A partir do surgimento
da fita cassete passamos a ter a opção de selecionar quais músicas gostaríamos de ouvir.
Ou seja, conseguíamos montar nosso próprio álbum de música, podendo gravar as
músicas da rádio. Mesmo assim, ficávamos restritos a consumir as músicas das
programações da rádio.
A chegada do cd fez com que ficasse mais fácil o consumo da música. Esse
suporte trouxe uma nova era na indústria fonográfica. Em um único álbum, poderia
haver mais de vinte músicas com alta qualidade de áudio e o seu uso era fácil, se
comparado ao disco de vinil e fita cassete. Entretanto, o cd tinha um custo elevado, o
que restringia a compra a uma pequena parcela da sociedade, além de não permitir
misturar os gêneros musicais.

3.1. A INTERNET E OS NOVOS MEIOS DIGITAIS

A internet surgiu como algo revolucionário em relação à maneira como


transportamos e consumimos música. Começamos a ter mais opções de escolhas e os
novos meios digitais, como mp3, ipod e celular, servem como suporte à expansão de
áudio.

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Antes, um artista local só seria conhecido na sua cidade, sua música era
considerada regional, sendo consumida somente pelas pessoas daquela região.
Entretanto, a internet abriu a possibilidade desse artista ser conhecido em outras áreas,
podendo ser ouvido em qualquer lugar do mundo por meio da rede de computadores. A
internet transformou sua rede em um campo onde se pode consumir uma infinita
variedade de músicas.

Durante um século, fomos muito seletivos em nossas triagens e só


deixávamos passar o que tinha condições de se transformar em campeão de
venda, para utilizar da maneira mais eficiente possível as dispendiosas
prateleiras, telas, canais e atenção. Agora, numa nova era de consumidores
em rede, na qual tudo é digital, a economia da distribuição está mudando de
forma radical, à medida que a Internet absorve quase tudo, transmutando-se
em loja, teatro e difusora, por uma fração mínima do custo tradicional.
(ANDERSON, 2006)

O que antes era restrito aos canais de comunicação tradicionais (rádio e TV) e as
formas convencionais de distribuição (até certa época, o vinil, fita cassete e cd), agora é
veiculado na internet, onde pessoas de todas as localidades podem ouvir e compartilhar
músicas.
O músico tem sua obra distribuída na internet que pode ser acessada de
computadores, celulares, smartphones, por exemplo. A música também pode ser ouvida
de suportes em que não é necessário o uso da internet, como mp3 e ipod. Assim, o
artista veicula sua obra de maneira rápida e mais abrangente. Já o fã, tem a
possibilidades de escolhas e de consumir vários estilos de musicais.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A globalização alterou sim, a forma como consumimos música. Antes desse


fenômeno, grande parte do consumo de música era limitada aos artistas que tinham seus
trabalhos veiculados no rádio e na TV. Entretanto, a partir do momento em que um
artista regional passou a ser conhecido e ouvido em lugares distantes de sua localidade,
o consumo de música mudou, se tornando global.

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Assim como a globalização exerceu um papel importante na alteração do
consumo musical, a internet e as novas mídias digitais foram fundamentais nesse
processo. A internet serviu como uma eficaz plataforma de produção e veiculação de
músicas. Pois, muitos artistas não precisam de mais de um computador e alguns
equipamentos digitais para produzir uma música em sua própria casa e depois divulgar
em sites de áudio, como o soundcloud, por exemplo.
Por fim, a globalização, em junção com a tecnologia e os novos meios digitais,
modificou a relação entre a obra musical e o fã, permitindo ao ouvinte ter variedades de
música e estilos musicais. Hoje, ouvimos músicas produzidas por grandes gravadoras,
como Warner e Sony, e de artistas independentes, como as Biscoito Fino e DeckDisc.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERSON, Chris. A cauda longa: o mercado de massa para o mercado de


nicho. São Paulo: Campus, 2006.

CANCLINI, Néstor Garcia. Latino-americanos à procura de um lugar neste


século. São Paulo: Iluminuras, 2008.

FREDERIC Jameson. A cultura do dinheiro: ensaios sobre a globalização.


Petrópolis: Vozes, 2001.

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