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CAPÍTULO I – OS PRINCÍPIOS

Princípio da oficialidade
De acordo com este princípio, o exercício da ação penal compete ao MP, nas suas vestes de entidade pública
– art.º 48º, 219º n.º1 CRP e o EMP. Este princípio está ligado à iniciativa ou impulso processual.

Nos crimes públicos, o MP tem o poder-dever de instaurar o procedimento criminal logo que se adquira a
notícia do crime, seja por conhecimento público, por intermédio dos OPC ou mediante denuncia – art.º 241º
- proceder à investigação dos factos e, se for caso disso, sujeitar o arguido a julgamento, através da
competente acusação.

Nos crimes semipúblicos, o MP só pode abrir o inquérito após a apresentação de queixa por parte dos
titulares, sendo que após a queixa o crime passa a ser tratado como se fosse público.

Nos crimes particulares, para além da apresentação de queixa pelo respetivo titular, a intervenção do MP
encontra-se ainda dependente da acusação particular deduzida pelo assistente.

Nos crimes dependentes de participação, o MP pode desencadear o processo penal após a participação da
respetiva autoridade – cfr. Art.º 49º n.º4.

Art.º 53º: para além do dever de colaborar com o tribunal na descoberta da verdade e na realização do
direito, compete ainda ao MP:
a) Receber as denúncias, queixas e as participações e apreciar o seguimento a dar-lhes
b) Dirigir o inquérito – art.º 263º
c) Encerrar o inquérito: arquivando o processo – art.º 277º - arquivando com dispensa de pena – art.º
280º - suspensão provisória do processo – art.º 281º - deduzindo acusação – art.º 283º
d) Interpor recursos, ainda que no exclusivo interesse da defesa – art.º 401º n.º1 a)
e) Promover a execução das penas e das medidas de segurança – art.º 469º

Princípio da legalidade
Compete ao MP representar o Estado e defender os interesses que a lei determinar, bem como, participar
na execução da polícia criminal definida pelos órgãos de soberania, exercer a ação penal orientada por este
princípio e defender a legalidade democrática – art. 219º n.º1 CRP.

A consagração deste princípio justifica-se na medida em que constitui uma forma de confiança por parte da
sociedade contra suspeitas de parcialidade. Como consequência temos:
a) Impossibilidade de renúncia e desistência da acusação pública
b) Casos de denúncia obrigatória e facultativa – art.º 242º e 244º
c) É assegurado o cumprimento do princípio da igualdade no que diz respeito à aplicação do direito
– art.º 13º CRP

Verificados os pressupostos da acusação, o MP não pode deixar de promover o processo penal sob pena de
ilegalidade e de omissão de um dever, que pode mesmo constituir um crime de denegação de justiça nos
termos do art.º 369º. Por outro lado, a falta de promoção do MP constitui nulidade insanável que deve ser
declarada oficiosamente em qualquer fase do processo – art.º 48º + 119º n.º1 b). O legislador previu duas
formas de controlo da atuação do MP:
• Hierárquico – art.º 278º - intervenção hierárquica
• Judicial – art.º 287º - requerimento para abertura da instrução – art.º 311º - saneamento do
processo.

O MP não é obrigado a submeter o arguido a julgamento, deduzindo acusação sempre que reúna índicos da
prática do crime. Todo o processo está sujeito a este princípio, com efeito ao abrigo do art.º 2 e do art.º
125º.

Princípio da acusação
Consagrado no art.º 32º n.º5 CRP.
Reflete-se no facto de não competir ao tribunal julgador, por sua iniciativa, dar inicio a uma investigação
criminal. A entidade que julga e que investiga são diferentes. Por força deste princípio, cada uma das
fases processuais penais deve ser presidida por entidades diferentes.

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Por outro lado, o juiz só poderá julgar e decidir sobre uma infração se previamente tiver sido proferida
acusação pelo MP – crimes públicos e semipúblicos art.º 283º - ou pelo assistente – art.º 285º.

Princípio do contraditório
De acordo com o art.º 32º n.º5 parte final CRP, a audiência de julgamento e os atos instrutórios que a lei
determinar estão subordinados a este princípio. Desta feita, deve ter-se sempre em conta tanto as razões de
acusação como de defesa. Por outro lado, o juiz deve ouvir todos os participantes processuais sempre que
tomar qualquer decisão que pessoalmente os afete – art.º 327º n.º1.

Manifestações do princípio:
• Fase de inquérito: o arguido e o assistente podem intervir oferecendo provas e requerendo as
diligencias que se lhes afigurem necessárias, bem como conhecer os despachos – art.º 61º n.º1 g)
+ 69º n.º2 a). O arguido goza ainda do direito a estar presente nos atos – art.º 61º n.º1 a) e b).
o Também foi atribuído à vítima o direito de participação ativa no processo penal – art.º 1º
c) b) e d); art.º 67º-A.
• Fase de instrução: A finalidade da fase de instrução é o controlo judicial da atuação do MP,
presidida pelo juiz de instrução, assegurando todas as possibilidades de contraditório.
§ Debate instrutório – art.º 289º n.º1, 298º, 301º n.º2
§ Declarações para memória futura – art.º 294º
• Fase de julgamento: é contraditória por natureza.

Princípio da suficiência: art.º 7º

Princípio da vinculação temática


O objeto do processo deve manter-se estável desde a acusação até ao trânsito em julgado da sentença,
tratando-se de uma condição essencial da defesa do arguido.

Manifestações:
• Na fase de inquérito: o conceito de alteração dos factos encontra-se enunciado nos art.º 284º e
285º n.º1 e o n.º4 relativo à acusação subordinada do MP.
• Na fase de instrução: o juiz está sujeito aos limites de cognição impostos pelos factos que lhe são
trazidos pela acusação do MP – crimes públicos e semipúblicos – ou do assistente – crimes
particulares – ou pelo RAI – pelo assistente. Convém salientar que os seus poderes de investigação
autónoma só funcionam dentro de certos limites – art.º 288º nº4. Paralelemente à acusação, o RAI
delimita o thema probandum desta fase processual, isto é, vincula tematicamente o juiz, ou seja, a
decisão instrutória só pode recair sobre esses factos.
o Art.º 303º: alteração dos factos descritos na acusação ou no RAI
o Art.º 309º n.º3 e n.º4: nulidade da decisão instrutória.
• Fase de julgamento: rege os art.º 339º n.º4 e o art.º359º e 379º n.º1 b).

Princípio do juiz natural


Nenhuma causa pode ser subtraída ao tribunal cuja competência esteja fixada em lei anterior – art.º 32º n.º9
CRP. A repartição da competência há-de ser feita por lei e esta deve anterior à prática do facto que vai ser
objeto do processo.

A ratio deste princípio assenta, sobretudo, na necessidade de assegurar uma decisão imparcial e isenta.
Este princípio vale em pleno quer para a fase de julgamento, quer para a fase de instrução (art.º 288º).

O juiz natural é o titular do processo, no entanto, o mesmo pode ser jubilado, transferido, promovido ou
aposentado. Constituindo nulidade insanável, que deve ser oficiosamente declarada em qualquer fase do
procedimento, a falta do numero de juízes ou jurados que devam constituir o tribunal ou a violação das
regras legais relativas ao modo de determinar a respetiva composição – art.º 119º a) + 605º

O regime jurídico dos impedimentos, recusas e escusas consta dos art.º 39º e ss.

Princípio da investigação ou da verdade material


Traduz-se no poder-dever que ao tribunal incumbe de proceder oficiosamente ou a requerimento à produção
de todos os meios de prova cujo conhecimento se lhe afigure necessário à descoberta da verdade e à boa
decisão da causa – art.º 340º n.º1 e 323º a) e b).

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Para além do dever de atender aos meios de prova oferecidos em tempo oportuno pela acusação e pela
defesa, o juiz, na fase de julgamento, pode ainda ordenar a produção de quaisquer outros – art.º 340º n.º2;
20º CRP e 32º n.º1,7 CRP

No âmbito da audiência de julgamento o princípio da investigação verifica-se de forma limitada, uma vez
que o princípio da vinculação temática restringe os poderes de cognição do juiz proibindo-o de investigar
os factos que se afastem do objeto do processo. Por outro lado, a produção probatória também se encontra
limitada – art.º 126º CPP + 32º n.º8 CRP.

O princípio também tem manifestação na fase de instrução – art.º 288º; 289º n.º4; 290º n.º1.

Princípio da igualdade de oportunidades


A tramitação processual deve estar estruturada de modo a garantir que a acusação e a defesa disponham dos
mesmos direitos e deveres no âmbito da intervenção judicial. Este princípio só tem lugar verdadeiramente
nas fases de instrução, julgamento e recursos. Cfr. Art.º 10 DUDH, art.º 6 n.º1 CEDH, art.º 14º PIDCP.

O arguido deve ter a possibilidade de usar todos os meios necessários à sua defesa e, por outro lado, a causa
em que intervém deve decorrer mediante um processo equitativo – art.º 32º n.º1 e n.º20.

Princípio da concentração
Deve haver uma tramitação unitária, continuada e concentrada do processo penal, de forma a poder realizar-
se uma justiça penal atempada e eficaz – art. 32º n.º2

Princípio da livre apreciação de prova


Salvo disposição em contrário, a prova é apreciada segundo as regras da experiencia e a livre convicção da
entidade competente – art.º 127º
Este princípio não significa que o tribunal pode utilizar esta liberdade de modo discricionário e arbitrário.
O juiz tem de orientar a produção de prova para a busca da verdade material e, ao decidir, deve fundamentar
as suas decisões – art. 97º n.º5, 374º n.º2, 410º n.º2 CPP; art.º 205º n.º1 CRP; art.º 24º n.º1 LOSJ.

Princípio in dúbio pro reu


Protege a posição do arguido no processo – art.º 32º n.º2, nos termos do qual o arguido se presume inocente
até ao trânsito em julgado da sentença.

Princípio da publicidade
A publicidade do processo tem como finalidade evitar a desconfiança da comunidade quanto ao
funcionamento dos tribunais e a realização da justiça.

Manifestações do princípio no CPP: art.º 85º; 86º; 87º; 321º

Atualmente, o processo é público em todas as fases processuais, quer relativamente aos sujeitos processuais
(publicidade interna) quer para o público em geral (publicidade externa).
Não obstante no decurso do inquérito a regra ser da publicidade do processo mediante requerimento do
arguido, do assistente ou do ofendido, o juiz de instrução pode determinar, por despacho irrecorrível, o
segredo de justiça, sendo que o MP deve ser ouvido – art.º 86º n.º1 e n.º2.

No entanto, o segredo de justiça pode sofrer as limitações constantes do art.º 86º n.º 9,11,12. Na hipótese
do n.º9, o segredo de justiça pode ser quebrado se tal não puser em causa a investigação e se afigurar
conveniente ao esclarecimento da verdade ou indispensável ao exercício de direitos pelo interessado – cfr.
N.º10

O crime de violação do segredo de justiça encontra-se previsto no art.º 371º CP

Para além do assistente, arguido ou ofendido, a iniciativa de sujeitar o processo a SJ pode partir do MP,
sendo que nesse caso, a decisão fica sujeita a validação pelo juiz de instrução no prazo de 72h – art.º 86º
n.º3 a 5.

Princípio da oralidade
A atividade processual deve ser exercida oralmente na presença dos agentes processuais. Manifestações:
art.º 96º, 140º, 145º n.º2, 298º n.º3, 302º, 243º, 345º, 348º, 350º, 355º, 360º.

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A proibição de valoração de provas não produzidas em audiência traduz-se numa das principais
demonstrações da oralidade. A regra da oralidade destina-se a garantir a imediação da prova, a
espontaneidade das declarações e a publicidade.

Princípio da imediação
Com estreita conexão ao princípio da oralidade, este princípio incide no contacto pessoal entre o julgador
e os diversos meios de prova, traduzindo-se na regra segundo a qual, não vale em julgamento,
nomeadamente para o efeito de formação da convicção do tribunal, quaisquer provas que não tiverem sido
produzidas ou examinadas em audiência – art.º 355º n.º1.

A ineficácia dos depoimentos indiretos impõe-se por força deste princípio – art.º 129º,130º,138º n.º1.

Estes dois princípios permitem ao tribunal avaliar a credibilidade dos depoimentos e declarações, bem como
ter acesso à personalidade do arguido.

Princípio da proibição de reformatio in pejus


Este princípio visa garantir que a sentença penal aplicada ao arguido não seja alterada em seu prejuízo,
quando for interposto recurso. Interposto recurso somente pelo arguido, ou pelo arguido e pelo MP com
exclusivo interesse do primeiro, o tribunal superior não pode modificar, na sua espécie ou medida, as
sanções constantes da decisão recorrida em prejuízo de qualquer arguido, ainda que não recorrentes.

Esta proibição não se aplica à agravação da quantia fixada por cada dia de multa, se a situação económica
e financeira do arguido tiver entretanto melhorado de forma sensível – art.º 409º n.º1/2.

O recurso interposto apenas contra um dos arguidos – art.º 402º n.º3º - não prejudica os restantes em caso
de comparticipação.

Este princípio é válido tanto para os recursos ordinários – art.º 409º– como para os recursos
extraordinários – art.º 443º; 463º n.º2/3.

Princípio da recorribilidade
É permitido recorrer dos acórdãos, sentenças e dos despachos cuja irrecorribilidade não esteja prevista na
lei – art.º 399º

CAPÍTULO II – NATUREZA DO CRIME


Se a lei usa:
• “queixa” – crime semipúblico. Ex: art.º 153º CP
• “acusação particular” – crime particular. Ex: art. º 188º n.º1 CP
• Não utiliza nenhuma das expressões – crime público. Ex: art.º 131º CP

O procedimento criminal pode também depender de participação – art.º 49º n.º4 – como é o caso do art.º
383º.

A mediação em processo penal pode ter lugar em casos em que o procedimento depende de queixa ou de
acusação particular.

Crimes públicos
O MP toma conhecimento da notícia do crime, promove, obrigatória e oficiosamente o processo penal,
dando início à fase de inquérito – art.º 48º; 262º - princípio da oficialidade.

O MP adquire a notícia do crime por conhecimento próprio, por intermédio dos OPC ou mediante notícia
– art.º 241º. Depois de proceder às diligencias de investigação, o MP decide se o arguido deve ou naos er
submetido a julgamento.

O legislador atribui ao MP a titularidade da ação penal, competindo-lhe colaborar com o tribunal na


descoberta da verdade e na realização do direito, obedecendo em todas as intervenções a critérios de estrita
objetividade e de legalidade – art.º 53º n.º1; 219º n.º1 CRP.

A falta de promoção constitui nulidade insanável que deve ser oficiosamente declarada em qualquer fase
do processo – art.º 48º + art.º 119º b).

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O ofendido pode constituir-se assistente, ainda que não seja obrigatório, assumindo uma posição de
colaborador do MP, cuja atividade subordina a sua intervenção no processo – art.º 68º e 69º n.º1.

Deduzida acusação, o assistente pode também deduzir pelos mesmos factos, por parte deles ou por outros
que não importem uma alteração substancial dos factos – art.º 284º n.º1. A acusação do assistente é sempre
facultativa e, quando deduzida, é sempre subordinada à do MP – art.º 69º

A desistência não é admissível.

Exemplos de crimes públicos no CP: art.º 131º, 135º, 136º, 151º, 158º, 210º,223º, 247º

Crimes semipúblicos
A promoção do processo penal pelo MP está dependente da apresentação de queixa por parte do ofendido
ou de outras pessoas a quem a lei confere esse direito – art.º 49º n.º1 CPP + 113º CP. Estes crimes
representam a primeira restrição ao caráter oficioso e obrigatório da promoção do processo penal pelo MP
– art.º 48º.

Após apresentação da queixa, o MP dá início à fase de inquérito – art.º 262º e ss. – desenvolvendo-se toda
a tramitação como se fosse um crime público.

O ofendido pode constituir-se assistente, não sendo obrigatório – art.º 68º. Se o MP deduz acusação por um
crime semipúblico, o assistente pode também deduzir acusação pelos mesmos factos, por parte deles ou por
factos que não importem uma alteração substancial daqueles – art.º 284º. Esta acusação é facultada e
subordinada à do MP.

É admissível a desistência da queixa – art.º 116º n.º2 CP + art.º 49º e 51º CPP

Exemplos do CP: art.º 143 nº.2, 153º n.º2, 190º e 198º, 191º e 198º, 194º e 198º, 199º n.º3, 203º n.º3, 212º
n.º3, 217º n.º3

Crimes particulares
Os crimes particulares são aqueles cujo procedimento exige obrigatoriamente:
a) Apresentação de queixa pelo ofendido ou por pessoas a quem a lei confere esse direito – art.º 50º
n.º1 CPP + art.º 113º e 117º CP
b) Manifestação da intenção de constituir-se assistente – art.º 246º n.º4
c) Constituição de assistente – art.º 50º n.º1, 68º n.º2, 246º n.º4
d) Dedução de acusação particular – art.º 50º n.º1 e 285º n.º1

Esta é a segunda restrição ao caráter do MP do art.º 48º. A exigência de queixa e de acusação justifica-se
pela diminuta gravidade da infração e pela especial natureza dos valores em causa. É o ofendido, constituído
assistente, que deve realizar a ação penal, sustentando a acusação no julgamento.

Após a apresentação de queixa, inicia-se a fase de julgamento – art.º 262º e ss. – finda a qual o MP notifica
o assistente para que este deduza acusação particular – art.º 285º n.º1. Após a acusação particular ser
apresentada, o MP pode acusar pelos mesmos factos, por parte deles ou por outros que não importem uma
alteração substancial dos factos – art.º 285º n.º4. É a acusação do MP que é subordinada à do assistente.

Se o assistente se abstiver de acusar, o MP arquiva o processo por falta de legitimidade para prosseguir com
o mesmo.

De acordo com o art.º 50º n.º2, estando em causa um crime particular, o MP:
a) Procede oficiosamente a quaisquer diligencias que julgar indispensáveis à descoberta da verdade
e que couberem na sua competência
b) Participa em todos os atos processuais em que intervier a acusação particular – art.º 119º b)
c) Acusa conjuntamente com o assistente – art.º 285º n.º4
d) Recorre autonomamente das decisões judiciais – art.º 53º n.º3 d) + 401º n.º1 a).

É admissível a desistência da queixa.


Exemplos do CP: art.º 180º e 188º, 181º e 188º, 185º e 188º, 212º n.º4, 216º n.º3, 217º n.º4, 220º n.º3, 224º
n.º4.

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CAPÍTULO III – QUEIXA/DENÚNCIA

A notícia do crime
É condição indispensável para abertura do inquérito e, consequentemente, para o início da atividade de
investigação criminal pelo MP. O processo penal inicia-se quando é dado conhecimento do facto criminoso
à autoridade competente, ou seja, com a aquisição da notícia do crime por parte do MP – art.º 241º e ss.

Meio de aquisição da notícia


• Por conhecimento próprio – art.º 241º
• Por intermédio dos OPC – art.º 241º
• Mediante denúncia – obrigatória, facultativa ou anónima – art.º 242º, 246º e 246º n.º6 a n.º8
• Durante uma inquirição a uma pessoa que não é o arguido (p.e. testemunha)
• Em virtude de conhecimentos fortuitos obtidos no decurso de outras investigações
• Quando verificado o circunstancialismo do art.º 303º, 359º n.º4 e n.º2
• Através dos órgãos de comunicação social

A queixa
É a expressão de vontade do titular do respetivo direito, manifestada por requerimento, na forma e prazo
previstos na lei par que se proceda criminalmente contra alguém pela prática de um crime. Ao contrário da
denúncia, que é apenas a transmissão ao MP da prática de um crime.

Legitimidade
Conforme o art.º 113º e 117º, tem legitimidade para apresentar queixa, nos crimes semipúblicos e
particulares:
a) O ofendido – art.º 113º n.º1
b) Caso o ofendido morra sem ter apresentado queixa – o cônjuge sobrevivo, descendentes, adotantes,
ascendentes e adotados, irmãos e seus descendentes – art.º 113º n.º2 + 116º n.º1
c) Se o ofendido for menor de 16 anos ou não possuir discernimento para entender o alcance ou
significado – o representante legal ou na sua falta as pessoas indicadas no art.º 113º n.º2.
d) O MP – se o ofendido for menor ou não possuir o discernimento necessário, ou se o direito de
queixa não puder ser exercido – art.º 113º n.º5

Legitimidade em caso de concurso de infrações


Estando perante uma situação de concurso de infrações em que o MP tem legitimidade para promover o
processo quanto a alguma ou algumas delas e não quanto a outras, devemos considerar o seguinte:
• O MP deve promover imediatamente o processo por aqueles crimes para que tiver legitimidade,
se o procedimento criminal pelo crime mais grave não depender de queixa ou acusação, ou se os
crimes forem de igual gravidade – art.º 52º n.º1
• Se o crime pelo qual o MP pode promover for de menor gravidade , as pessoas a quem a lei
confere o direito de queixa ou acusação são notificadas, para declararem, em 5 dias, se querem ou
não usar esse direito – art.º 52º n.º2

Quem pode apresentar a queixa


De acordo com o art.º 49º n.º2, a queixa pode ser apresentada:
a) Pelo titular do direito
b) Pelo mandatário judicial
c) Por mandatário munido de poderes especiais

Onde deve ser apresentada


Nos serviços do MP, junto do tribunal competente visto que é ao MP que compete receber as queixas e
apreciar o seguimento a dar-lhes – art.º 53º n.º2 a). Não obstante, considera-se feita ao MP a queixa dirigida
a qualquer outra entidade que tenha a obrigação legal de transmitir àquele – art.º 49º n.º2.

Extinção do direito
O prazo de extinção do direito de queixa – pelo decurso de tempo – e o prazo de prescrição do procedimento
criminal são prazos autónomos que correm paralelamente e, como tal, não devem ser confundidos. O prazo
de extinção do direito de queixa tem natureza substantiva, ou seja, nenhuma circunstância o suspende ou
interrompe – art.º 328º C.C.

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Prazo de extinção
O titular do direito de queixa não pode exercer o direito a todo o tempo. Com efeito, de acordo com o art.º
115º n.º1/2 CP, o direito de queixa extingue no prazo de 6 meses a contar da data em que:
• O titular tiver tido conhecimento do facto e dos seus autores, ou a partir da morte do ofendido, ou
a partir do momento em que ele se tiver tornado incapaz
• O ofendido perfizer 18 anos – apenas no caso do art.º 113º n.º6

Renúncia
De acordo com o art.º 116º n.º1 CP, o direito de queixa não pode ser exercido se:
a) O titular a ele tiver renunciado expressamente
b) Tiver praticado factos donde a renúncia necessariamente se deduza – ex: dedução de pic em ação
cível separada, antes de instaurado o procedimento criminal – art.º 72º n.º2

A renúncia pressupõe, por um lado, que o crime já tenha sido praticado e, por outro, que o direito de queixa
não tenha sido exercido, não chegando assim a existir processo. O regime da renúncia também é aplicável
aos crimes particulares – art.º 117º

Desistência
O queixoso pode desistir da queixa, desde que não haja oposição do arguido, até à publicação da sentença
da 1ª instância. A desistência impede que a queixa seja renovada.

O art.º 51º n.º1 diz-nos que a intervenção do MP no processo cessa com a homologação da desistência da
queixa/acusação. O legislador consagrou no art.º 116º n.º5 que depois de perfazer 16 anos, o ofendido pode
requerer que seja posto fim ao processo, através de desistência quando:
a) Tiver sido exercido o direito de queixa pelos representantes legais ou pelas pessoas elencadas –
art.º 113º n.º4 e n.º2
b) Tiver sido dado início ao procedimento criminal pelo MP – art.º 113º n.º5 a)

A desistência da queixa pode ter lugar durante o inquérito, a instrução ou o julgamento, cabendo a sua
homologação ao MP, ao juiz de instrução e a o presidente do tribunal – art.º 51º n.º2. A violação destas
regras constitui uma nulidade insanável, que deve ser oficiosamente declarada em qualquer fase do
procedimento – art.º 119º e). O despacho de homologação, porque põe termo ao processo, deve ser
fundamentado – art.º 97º n.º1 b) e n.º5 CPP; art.º 205º n.º1 CRP e art.º 24º n.º1 LOSJ

De acordo com o art.º 51º n.º3 e n.º4, logo que tomar conhecimento da desistência, a autoridade judiciária
competente para a homologação notificada o arguido para, em 5 dias, declarar sem necessidade de
fundamentação, se a ela se opõe. A falta de declaração do arguido equivale a não oposição. Se o arguido
se opuser, o processo continua como se fosse público.

A notificação do arguido para proceder à oposição deve fazer-se na pessoa do seu defensor – art.º 114º n.º
10 – no entanto, se o arguido não tiver defensor nomeado e for desconhecimento o seu paradeiro, esta é
feita de forma edital.

A declaração pode ser apresentada pessoalmente ou através de mandatário judicial – art.º 45º n.º2 CPC – à
autoridade judiciária competente, consoante a fase do processo – cfr. Art.º 1159º CC

A desistência de queixa pressupõe uma declaração expressa do ofendido nesse sentido. No entanto, no
âmbito dos crimes particulares, a falta não justificada do representante do assistente à audiência de
julgamento ou a segunda falta valem como desistência da acusação – art.º 330º n.º2.

Custas processuais
É devida taxa de justiça pelo assistente, se fizer terminar o processo por desistência – art.º 515º n.º1 d).

A denúncia
É a comunicação da prática de um crime ao MP, sendo possível de ser feita de forma verbal ou por escrito,
não estando sujeita a formalidades especiais. Sendo feita de forma verbal, deve ser reduzida a escrito e
assinada pela entidade que a receber e pelo denunciante, devidamente identificado – cfr. Art.º 246º n.º1/2 e
275º n.º2. Depois de receber a denúncia, o MP deve apreciar o seguimento a dar-lhe – art.º 53º n.º2 a).

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Declaração de constituição de assistente
Se o crime em causa for público ou semipúblico, o denunciante pode declarar se deseja constituir-se
assistente, sendo crime particular a declaração é obrigatória – art.º 246º n.º4

Comunicação, registo e certificado de denúncia


O art.º 247º impõe que o MP informe o ofendido da notícia do crime, sempre que tenha razões para crer
que ele não a conhece.

A denúncia obrigatória e facultativa


A denúncia é obrigatória, segundo o art.º 242º n.º1, ainda que os agentes do crime não sejam conhecidos:
a) Para as entidades policiais, quanto a todos os crimes de que tomarem conhecimento
b) Para os funcionários na aceção do art.º 386º CP

Tratando-se de crime semipúblico ou particular, a denúncia só pode ser apresentada pelo titular do direito
de queixa.

Denúncia anónima
Esta só pode determinar a abertura do inquérito se:
a) Dela se retirarem indícios de crime – art.º 246º n.º6 a)
b) Constituir crime – art.º 246º n.º6 b)

Se a denúncia disser respeito a crimes semipúblicos ou particulares, a autoridade judiciária ou o OPC


competente informam o titular de direito de queixa ou participação da existência da denúncia – art.º 246º
n.º7, para que façam desencadear os necessários procedimentos judiciais no prazo previsto.

O auto de notícia
Por força do art.º 243º n.º1, sempre que uma autoridade judiciária ou um OPC presenciarem qualquer crime
de denúncia obrigatória – crime público – levantam ou mandam levantar auto de notícia onde se
mencionem:
a) Os factos que constituem o crime
b) O dia, a hora e o local e as circunstâncias em que o crime foi cometido
c) Tudo o que puderem averiguar acerca da identificação dos agentes e dos ofendidos, bem como os
meios de prova conhecidos

O auto de notícia é assinado pela entidade que o levantou e pela que o mandou levantar, sendo
obrigatoriamente remetido ao MP no mais curto prazo, que não pode exceder 10 dias, valendo como
denúncia – art.º 243º n.º2 e n.º3

Custas processuais
O denunciante paga as custas quando se mostrar que agiu de má fé ou com negligência grave.

A participação
Manifestação de vontade, por parte de uma autoridade, de que seja instaurado procedimento criminal,
distinguindo-se da queixa simplesmente pela qualidade da entidade que impulsiona o procedimento.

CAPÍTULO IV – O ASSISTENTE
Noção
O assistente é um sujeito processual que intervém no processo como colaborador do MP, a cuja atividade
subordina a sua intervenção, com vista à investigação dos factos jurídicos com relevo criminal e à
condenação dos seus atores, encontrando-se o seu regime regulado nos art.º 68º a 70º.

Distinção entre assistente e outras figuras


• O ofendido é o titular do interesse que a lei quis especialmente proteger com a incriminação,
distinguindo-se do assistente porque não é sujeito processual, mas pode vir a sê-lo caso se
constitua.
• O lesado, sendo aquele que sofreu danos ocasionados pelo crime, pode coincidir com a figura do
ofendido e, por isso, pode também constituir-se como assistente.

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• O queixoso, nos crimes semipúblicos e particulares, é indispensável para o desencadeamento do
procedimento criminal, podendo constituir-se como assistente.
• A vítima, não é sujeito processual, a não ser que se constituía como assistente.

Constituição de assistente
Legitimidade
Pode constituir-se assistente, pessoas singulares e coletivas:
• As pessoas e entidades a quem a lei confere especialmente esse direito – art.º 68º n.º1
o Os ofendidos, considerando-se como tais os titulares dos interesses que a lei
especialmente quis proteger com a incriminação – art.º 68º n.º1 a)
o As pessoas de cuja queixa ou acusação particular depender o procedimento – art.º 68º
n.º1 b)
§ A constituição de assistente só é obrigatória nos crimes particulares.
o No caso de o ofendido morrer sem ter renunciado à queixa, pode o cônjuge sobrevivo, os
descendentes e adotados, ascendentes e adotantes, irmãos e seus descendentes – art.º 68º
n.º1 c)
o No caso de o ofendido ser menor de 16 anos ou não tenha consciência do que está a
acontecer – art.º 68º n.º1 d)
• Qualquer pessoa nos crimes contra a paz e a humanidade, bem como nos crimes de tráfico de
influência – art.º 335º CP – favorecimento pessoal praticado por funcionário – art.º 368º CP –
denegação de justiça e prevaricação – art.º 369º CP – recebimento ou oferta indevida de vantagem
– art.º 372º - corrupção – art.º 373º entre outros.

Obrigatoriedade de representação judiciária


Ao abrigo do art.º 70º n.º1, os assistentes são sempre representados por advogados. Havendo vários
assistentes, são todos representados por um só advogado, a não ser que tenham interesses incompatíveis.

Os requerimentos dos participantes processuais que se encontrem representados por advogados são
assinados por estes.

• Intervenções processuais do advogado


• Pode consultar autos, requerer a confiança do processo, obter extratos, cópias e certidões conforme
o art.º 89º
• O assistente e as partes civis, bem como os seus advogados podem consultar alguns dos dados
relativos aos respetivos processos
• Podem entrar nas secretarias
• Os pareceres dos advogados, jurisconsultos ou de técnicos devem ser juntos no decurso do
inquérito ou da instrução e, não sendo possível, até ao encerramento da audiência
• Havendo lugar à tomada de declarações para memória futura, ao advogado é comunicado o dia,
hora e o local da prestação do depoimento para que possa estar presente se o desejar.
Comparecendo, pode solicitar ao juiz a formulação de perguntas, podendo o juiz autorizar que seja
ele mesmo a fazê-las – art.º 271º n.º3 e 294º
• Pode estar presente na inquirição de recluso – art.º 82º-B LOSJ
• A falta injustificada é comunicada à OA – art.º 116º n.º3
• As notificações do arguido, assistente e partes civis podem ser feitas ao respetivo
defensor/advogado.

Intervenções processuais do advogado no julgamento:


• Nenhum juiz pode exercer a sua função num processo penal quando tiver intervindo no processo,
designadamente, como advogado do assistente ou da parte civil – art.º 39º n.º1 c)
• O tribunal marca a data da audiência de modo que não ocorra sobreposição com outros atos
judiciais a que os advogados tenham obrigação de comparecer – art.º 151º CPC
• O despacho que designa a data para audiência de julgamento é notificado aos advogados pelo
menos 20 dias antes da data fixada para a audiência – art.º 313º n.º1
• Ao advogado é comunicada a solicitação de tomada de declarações a residentes fora da comarca
e no domicílio – art.º318º n.º2 e 319º n.º2
• A realização de atos urgentes ou cuja demora possa acarretar perigo para a aquisição ou a
conservação da prova, ou para a descoberta da verdade, é comunicada ao advogado – art.º 318º
n.º2 ex vi art.º 320º n.º2

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• Se o advogado nas suas alegações ou requerimentos se afastar do respeito ao tribunal, procurar
manifesta e abusivamente protelar ou embaçará o decurso nos trabalhos, é advertido pelo tribunal
sendo aplicável o art.º 326ºCPC
• Em caso de falta, a audiência prossegue (sendo crime público e semipúblico), sendo o faltoso
admitido a intervir logo que comparecer – art.º 330º n.º2
• Em caso de falta de assistente ou parte civil, não dá lugar ao seu adiamento, sendo representados
pelo advogado – art.º 331º n.º1
• O advogado pode, no âmbito exposições introdutórias, indicar sumariamente e no prazo de 10min,
os factos que se propõe a provar – art.º 339º n.º2
• Ao advogado não é permitido interferências nas declarações do arguido, nomeadamente sugestões
quanto ao modo a declarar – art.º 343º n.º5
• O advogado pode solicitar que sejam tomadas declarações ao assistente, responsável civil e lesado
na audiência – art.º 364º n.º1 e 347º n.º1
• O advogado pode pedir ao presidente que formule perguntas a testemunhas menores de 16 anos –
art.º 349º
• A testemunha deve ser inquirida por quem a indicou, sendo depois sujeita a contrainterrogatório
• O advogado pode sugerir quaisquer pedidos de esclarecimento ou perguntas úteis para a boa
decisão da causa, relativamente a declarações de peritos e técnicos – art.º 350º n.º1
• Finda a produção de prova, o presidente concede a palavra ao advogado para alegações orais nas
quais exponha as conclusões de facto e de direito extraídas das provas – art.º 360º n.º1

Nos processos especiais:


• No processo sumário, finda a produção de prova, a palavra é concedida, por uma só vez, entre
outros, ao representante do assistente e das partes civis, pelo prazo máximo de 30min – art.º 389º
n.º6
• No processo abreviado, finda a produção de prova, é concedida a palavra, por uma só vez, ao
representante do assistente o qual pode usar dela por 30min, prorrogáveis esse necessário e assim
for requerido, sendo admitida réplica por 10min – art.º 319º-E n.º2

Nos recursos:
• O advogado é sempre convocado – art.º 421º n.º2
• Em audiência, o advogado pode alegar por um período não superior a 30min, prorrogável em caso
de especial complexidade – art.º 423º n.º3

Os preceitos são comuns às intervenções dos advogados dos assistentes e das partes civis, no entanto,
apenas para o assistente temos:
• A queixa, nos crimes semipúblicos e particulares, pode ser apresentada por mandatário judicial –
art.º 49º n.º3 e 50º n.º3
• Se o mandato de comparência em ato de inquérito se referir ao assistente ou denunciante com
faculdade de se constituir assistente representado por advogado, este deve ser informado da
realização da diligência para estar presente – art.º 273º n.º3, 70º n.º3, 20º nº2 CRP e 26º n.º2 LOSJ

Na instrução:
• O assistente e o seu advogado podem assistir aos atos de instrução requeridos e suscitar pedidos
de esclarecimento ou requerer que sejam formuladas as perguntas que entenderem relevantes –
art.º 289º n.º2
• O juiz, depois de abrir o debate, concede a palavra, entre outros, ao advogado do assistente para
que este querendo, requeira a produção de provas indiciárias suplementares que se propõe a
apresentar durante o debate – art.º 302º n.º2
• Antes de encerrar o debate, o juiz concede novamente a palavra para que, querendo, formule em
síntese as suas conclusões sobre a suficiência ou insuficiência dos indícios e sobre questões de
direito – art.º 302º n.º4
• É admissível réplica, sendo o defensor o último a falar – art.º 302º n.º5

No julgamento:
• Em caso de falta de advogado em procedimento dependente de acusação particular, a audiência é
adiada por apenas uma vez; a falta não justificada ou a segunda falta valem como desistência –
art.º 330º n.º2

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• O advogado pode solicitar ao presidente que formule ao arguido apenas perguntas sobre os factos
– art.º 345º n.º2
• No âmbito da reabertura da audiência para a determinação de sanção, o advogado pode sugerir ao
presidente quaisquer pedidos de esclarecimentos ou perguntas úteis à decisão e ainda, finda a
produção de prova suplementar, alegar até ao máximo de 20min – art.º 371º n.º3 e n.º4

Prazo
Crimes particulares
A constituição de assistente é obrigatória – art.º 50º n.º1 devendo o requerimento ter lugar no prazo de 10
dias a contar do momento em que o denunciante declara, na denúncia, que seja constituir-se como tal – art.º
246º n.º4 + 68º n.º2. Esta declaração é obrigatória. O prazo de 10 dias para a constituição de assistente
conta-se a partir da advertência das autoridades relativamente à declaração, ou seja, a partir da apresentação
da queixa – art.º 115º CP.

Crimes públicos e semipúblicos


O ofendido tem direito a intervir no processo – art.º 32º n.º7 CRP
A constituição de assistente é facultativa, podendo a sua intervenção dar-se em qualquer altura do processo,
aceitando-o no estado em que se encontre, desde que o requeira ao juiz – art.º 68º n.º3:
a) Até 5 dias antes do debate instrutório – art.º 297º, 312º, 213º art.º 139º n.º5/6
b) Nas situações do art.º 284º/287º n.º1 b)
c) No prazo para interposição de recurso da sentença – art.º 411º

Custas processuais
A constituição de assistente dá lugar a pagamento da taxa de justiça, sendo autoliquidada no montante de
1UC.

A decisão
É da competência de um juiz e nunca do MP. O pedido de constituição que tenha sido formulado depois de
declarada encerrada a fase do inquérito e ainda não aberta a fase de julgamento deve ser submetido ao juiz
de instrução, o competente nessa fase para a prática de atos jurisdicionais.

O juiz, depois de dar ao MP e ao arguido a possibilidade de se pronunciarem sobre o requerimento, decide


por despacho, que é logo notificado àqueles – art.º 68º n.º4. No despacho o juiz deve verificar a legitimidade
do requerente, se foi interposto dentro do prazo, se está representado por advogado e se pagou a taxa de
justiça. O despacho deve ser fundamentado – art.º 97º n.º5; 24º n.º1 LOSJ; 205º n.º1 CRP

Os recursos interpostos de despacho que não admita a constituição de assistente sobem imediatamente –
art.º 407º n.º2 g), em separado – art.º 406º n.º2 e com efeito meramente devolutivo – art.º 408º a contrario

Durante o inquérito, a constituição de assistente e os incidentes a ele respeitantes podem correr em separado,
com junção dos elementos necessários à decisão – art.º 68º n.º5 – evitando-se demoras.

A posição processual
Os assistentes são colaboradores do MP, cuja atividade subordinam a sua intervenção no processo, salvo as
exceções da lei – art.º 69º e outras:
• A possibilidade de o assistente requerer a intervenção do tribunal de júri – art.º 13º
• A possibilidade de deduzir a incompetência do tribunal e de requerer a declaração de impedimento
de um juiz – art.º 32º n.º1 e 41º n.º2
• No âmbito do processo sumário – art.º 384º n.º1 – o assistente pode requerer a aplicação das
medidas previstas nos art.º 280º e 281º

As atribuições do assistente
Compete aos assistentes intervir no inquérito e na instrução, oferecendo provas e requerer diligencias que
se afigurem necessárias.

Na fase de inquérito:
• Consultar autos e obter certidões – art.º 89º
• Requerer a sujeição do processo a segredo de justiça ou o reverso – art.º 86º n.º2/4 e 5
• Ser ouvido a propósito da declaração de excecional complexidade do art.º 215º n.º4

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• Requerer a cessação da conexão e a consequente separação de alguns ou de todos os processos –
art.º 30º n.º1. b)
• Examinar, a partir do encerramento do inquérito, os suportes técnicos das conversações ou
comunicações – art.º 188º n.º1 e n.º8
• Requerer ao juiz de instrução que pratique algum, ou alguns, dos atos do art.º 268º n.º1/2
• Requerer ao juiz de instrução que ordene ou autorize a prática de atos do art.º 269º n.º1
• Requerer ao juiz de instrução a tomada de declarações de uma testemunha para memória futura –
art.º 271º n.º1/7
• Requerer a suspensão provisória do processo, no âmbito de processos comuns e sumários – art.º
281º n.º1, 384º
• Concordar (ou não) com a decisão do MP sobre a suspensão provisória do processo – art.º 281º
n.º1 a)
• Ser notificado do despacho que ordena a perícia com antecedência mínima de 3 dias sobre a data
indicada para a sua realização – art.º 154º n.º4 e n.º5 a)
• Designar, para assistir à realização da perícia, um consultor técnico da sua confiança – art.º 155º
n.º1 e 157º n.º1
• Ser informado por superior hierárquico do MP, da violação dos prazos de duração do inquérito e
do período necessário para o concluir – art.º 276º n.º7
• Ser notificado dos despachos de arquivamento do inquérito e da acusação – art.º 277º n.º3 e 283º
n.º5
• Requerer o incidente de aceleração processual quando tiverem sido excedidos os prazos de
duração do inquérito – art.º 276º n.º8 e 108º n.º8 a 110º
• Suscitar a intervenção hierárquica – art.º 278º
• Requerer a reabertura do inquérito – art.º 279º

Na fase de instrução:
• Se o crime em causa for público ou semipúblico, requerer a sua abertura, relativamente a factos
pelos quais o MP não tiver deduzido acusação – art.º 287º n.º1 b)
• Requerer que o prazo para a abertura da instrução seja aumentado nos termos e nas condições
consignados no art.º 107º n.º6
• Após a acusação ou requerimento para abertura da instrução, requerer a suspensão do processo,
quando for necessário julgar não penal que não possa ser conveniente resolvida no processo penal
– art.º 7º
• Requerer a cessação da conexão e a consequente separação de alguns ou de todos os processos –
art.º 30º n.º1. b)
• Deduzir a incompetência territorial do tribunal até ao início do debate instrutório – art.º 32º n.º2
a)
• Suscitar o conflito de competência, bem como ser notificado de respetiva decisão – art.º 35º n.º2
e 36º n.º3
• Requerer a declaração de impedimento do juiz – art.º 41º n.º2
• Consultar os autos e obter certidões nos termos e condições – art.º 89º n.º6
• Requerer ao juiz a tomada de declarações para memória futura – art.º 271º e 294º
• Participar no debate instrutório, devendo ser notificado para esse efeito – art.º 289º e 297º n.º3
• Requerer o incidente da aceleração processual, quando tiverem sido excedidos os prazos de
duração da instrução – art.º 306º, 108º e 110º
• Requerer ao tribunal que a prestação de declarações ou de depoimento que deva ter lugar em ato
processual público ou sujeito a contraditório decorra com ocultação da imagem ou distorção de
voz – art.º 4 n.º1 Lei n.º93/99

Dedução de acusação
Encerrado o inquérito, a atitude do assistente perante o processo varia consoante a natureza do crime em
causa. O assistente pode deduzir acusação independente da apresentada pelo MP e, no caso de procedimento
dependente de acusação particular, ainda que aquele não a deduza – art.º 69º n.º2 b). O PIC pode ser
deduzido na acusação ou em requerimento articulado – art.º 77º

Crimes públicos e semipúblicos


Até 10 dias após a notificação da acusação do MP, o assistente pode também deduzir acusação pelos factos
acusados pelo MP, por parte deles, ou por outros que não importem uma alteração substancial-art.º 284º
n.º1/2 a), 49º e 113º do CP.

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O assistente só pode deduzir acusação se o MP o tiver feito previamente. A acusação do assistente, para
além de ser facultativa, é sempre subordinada e complementar à do MP.

Se o MP não acusar, o assistente tem o direito de requerer a abertura da instrução, oferecendo provas e
requerendo diligências, bem como, conhecer os despachos que sobre tais iniciativas recaírem – art.º 69ºº
n.º2 a) e 287º n.º1 b).

Crimes particulares
Findo o inquérito, o MP deve notificar o assistente para que este deduza em 10 dias acusação particular. O
MP pode, nos 5 dias posteriores à apresentação de acusação particular, acusar pelos mesmos factos, por
parte deles ou por outros que não importem uma alteração substancial daqueles – art.º 285º n.º1 e 4º e 50º

Nos crimes particulares, o assistente tem o direito de acusar independentemente da posição que o MP venha
a assumir no processo. Se o assistente não deduzir acusação, o MP não tem legitimidade para continuar
com o processo, arquivando o processo.

Interposição de recurso
Os assistentes podem interpor recurso das decisões que os afetam, mesmo que o MP não o tenha efeito.
Para esse efeito, os assistentes dispõe de acesso aos elementos processuais imprescindíveis, sem prejuízo
do regime aplicável ao segredo de justiça – art.º 69º n.º2 c). é irrelevante o tipo de crime.

• O assistente, tendo interesse em agir, tem legitimidade para recorrer de decisões contra ele
proferidas – art.º 401º n.º1 b) e n.º2.
• Sobem imediatamente os recursos interpostos do despacho que não admita a constituição de
assistente – art.º 407º n.º2 g)
• O requerimento de interposição ou a motivação são notificados aos restantes sujeitos processuais
afetados pelo recurso – art.º 411º n.º6, podendo responder no prazo de 30 dias – art.º 413º
• O assistente pode desistir do recurso interposto, até ao momento do processo ser concluso ao
relator para exame preliminar – art.º 415º n.º1
• Se o recurso for rejeitado, o tribunal condena o recorrente entre 3 e 10 UC – art.º 420º n.º3 (Ao
MP não)
• O representante do assistente é sempre convocado – art.º 421º n.º2 - + art.º 423º n.3
• O acórdão é notificado aos recorrentes, aos recorridos e ao MP – art.º 425º n.º6
• O assistente tem legitimidade:
o para interpor recurso extraordinário de fixação de jurisprudência – art.º 437º n.º5
o para interpor recurso de decisão proferida contra jurisprudência fixada pelo STJ – art.º
446º n.º2
o para requerer a revisão relativamente a sentenças absolutórias ou a despachos de não
pronúncia – art.º 450º n.1 b)
• Se o STJ negar a revisão pedida pelo assistente, condena-o em custas e se considerar o pedido
manifestamente infundado entre 6UC a 30UC – art.º 456º
• Se a decisão revista tiver sido absolutória, mas no juízo a sentença for condenatória, as custas são
restituídas ao assistente – art.º 463º n.º3 b)

Declarações, notificações e consulta dos autos


Declarações
Ao assistente (+ partes civis) podem ser tomadas declarações a requerimento seu ou do arguido ou sempre
que os OPC o entendam conveniente – art.º 145º n.º1. A ausência, por falta de notificação, do assistente nos
casos em que a sua presença seja exigida, constitui nulidade do despacho de arguição, a qual deve ser
arguida até 5 dias após notificação do despacho que designar dia para a audiência – art.º 120º n.º2 b) e n.º3
b). A declaração é feita oralmente – art.º 96º n.º1

As partes civis que se tiverem constituído assistentes, a partir do momento da constituição, estão impedidas
de depor como testemunhas – art.º 133º n.º1 b) e c).

As declarações (assistente e partes civis):


• Podem ser tomadas para memória futura – art.º 271º n.º7, 294º e 320º
• Podem ser tomadas perante o juiz de outra comarca se residirem fora do município onde se situa
o juízo em causa, não houver razões para crer que a sua presença na audiência é essencial à

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descoberta da verdade e forem previsíveis graves dificuldades ou inconvenientes funcionais ou
pessoais – art.º 318º n.º1 a),b) e c), n.º8
• Podem ser tomadas no lugar em que estes se encontrem, havendo fundadas razões que
impossibilitem a sua comparência na audiência – art.º 319º n.º1
• Ficam sujeitas ao regime de prestação da prova testemunhal – art.º 128º - salvo no que lhe for
manifestamente inaplicável – art.º 145º n.º3
• Podem ser tomadas na audiência de julgamento, a solicitação do MP, defensor, ou dos advogados
do assistente ou das partes civis – art.º 346º e 347º
• Não são precedidas de juramento – art.º 145º n.º4 – apesar de estar sujeito ao dever de verdade
• A leitura em audiência é permitida – art.º 356º n.º2/3/4

Notificações e prática de atos processuais


Para ser notificado via postal simples, o denunciante com faculdade de se constituir assistente, indica a sua
residência, local de trabalho ou outro domicílio – art.º 113º n.º1 c); 145º n.º5/6

As notificações do assistente (+ partes civis) podem ser feitas ao respetivo advogado- art.º 113º n.º 10. A
prática do ato conta-se a partir da data da notificação efetuada em último.
Havendo vários assistentes, quando o prazo termine em dias diferentes, o ato pode ser praticado por todos
até ao termo do prazo que começou a correr em último lugar – art.º 113º n.º12

Os atos praticam-se nos dias úteis e fora do período de férias judiciais – art.º 103º n.º1 CPP + 137º n.º1
CPC. Aplicam-se as disposições do art.º 104º n.º1 CPC.

Consulta dos autos e obtenção de certidões


Durante o inquérito, as partes podem mediante requerimento, consultar o processo ou os elementos dele
constantes – art.º 89º n.º1
No entanto, se o processo se encontrar em segredo de justiça – art.º 86º n.º2 – o MP pode opor-se a tal
consulta se considerar que a mesma pode prejudicar a investigação ou os direitos dos participantes ou das
vítimas – art.º 89º n.º1 – sendo que aqui o requerimento é presente ao juiz que decide por despacho
irrecorrível – art.º 89º n.º2.

Não obstante o processo se encontrar em segredo de justiça, a autoridade judiciária pode autorizar a
passagem de certidão que seja dado conhecimento do conteúdo de ato ou de documento em segredo de
justiça, desde que necessária, designadamente, à dedução de pedido civil – art.º 86º n.º11 + 12º

Findos os prazos de inquérito – art.º 276º - a consulta dos elementos do processo realiza-se nos termos e
com as limitações constantes do art.º 89º n.º6
Quando o processo se tornar público, as partes podem requerer à autoridade judiciária o exame gratuito dos
autos fora da secretaria, devendo o despacho que o autorizar fixar prazo para o efeito – art.º 89º n.º4 CPP,
165º e 166º CPC

Nas fases de instrução e julgamento, vigora o princípio da publicidade, implicando, os direitos do art.º 86º
n.º6. A vítima tem direito a consultar o processo e a obter cópias das peças processuais – art.º 5º, 11º e 8º
EV.

O julgamento
O assistente (+ partes civis) podem ainda intervir na fase de julgamento.
• Se um processo for ofendido pessoa com a faculdade de constituir assistente ou parte civil um
magistrado, a competência do tribunal está prevista no art.º 23º
• O assistente pode:
o pedir a atribuição de competência a outro tribunal da mesma espécie e hierarquia nos
casos de obstrução ao exercício da jurisdição pelo tribunal competente – art.º 37,38, 11º
n.º4
o requerer a exclusão como jurado de pessoa que se encontre numa situação que ponha
objetivamente em causa a imparcialidade – art.º 6º n.º2 DL n.º 387-A/87
o requerer a declaração de impedimento de um juiz no processo, devendo logo juntar os
respetivos elementos comprovativos – art.º 41º n.º2
o requerer a recusa de intervenção de um juiz no processo – art.º 43º n.º3 e 44º

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• Se o processo tiver sido remetido para julgamento sem instrução, o presidente pode despachar no
sentido de não aceitar a acusação do assistente, na parte em que ela representar uma alteração
substancial dos factos – art.º 311º nº2 b)
• O lesado, demandados e intervenientes são obrigados a comparecer no julgamento apenas quando
tiverem de prestar declarações que não podem recusar-se – art.º 80º, 74º n.º2/3
• Oficiosamente ou a requerimento do lesado ou do assistente, o tribunal faz cessar a conexão e
ordena a separação de processos – art.º 30º n.º1 b), c) e d)
• O assistente e as partes civis podem adicionar ou alterar o rol de testemunhas
• É admissível a prova por acareação entre co-arguidos, entre arguido e assistente, entre testemunhas
ou entre estas e o arguido, sempre que houver contradição entre as declarações e a diligência se
afigurar útil – art.º 146º n.º1/2
• O assistente pode recusar o perito, ser notificado do despacho que a ordena e designar consultor
técnico – art.º 153º n.º2, 154º n.º3, 155º n.º1 e 157º n.º1
• Podem ser tomadas de declaração – art.º 318º-320º
• O assistente e as partes civis devem ser ouvidos quanto às questões incidentes e meios de prova
apresentados no decurso da audiência – art.º 327º
• Aquando das exposições introdutórias, o advogado do assistente tem 10min para expor os factos
que quer provar – art.º 339º n.º2
• A produção de prova deve respeitar a ordem do art.º 34º
• Só podem abandonar o local da audiência com autorização do presidente, sendo para tal ouvidos
os advogados – art.º 353º
• É permitida a leitura de declarações do assistente e das partes civis – art.º 356º n.º2
• Se no decurso da audiência surgirem factos novos que impliquem uma alteração substancial dos
factos descritos na acusação ou na pronúncia á necessário acordo entre o MI, o arguido e o
assistente para continuação do julgamento pelos novos factos, se estes não determinarem a
incompetência do tribunal (cfr. o art. 359°, n° 3);
• Finda a produção da prova os advogados do assistente e das partes civis têm a palavra para
alegações orais nas quais expõem as conclusões, de facto e de direito, que hajam extraído da prova
produzida (cfr. o art. 360°)
• No julgamento do processo sumário, se faltarem testemunhas de que o assistente não prescinda, a
audiência não é adiada, sendo inquiridas as testemunhas de acordo com o estipulado no art. 387°,
n° 3;
• É sempre entregue ao assistente, cópia da gravação da sentença em processo sumário e abreviado
(cfr. os arts. 389°-A, n° 4, e 391°-F);
• O assistente e as partes civis podem requerer a conferência, na sua presença, da transcrição de
registo fonográfico (cfr. o art. 166, n° 3);
• Para a questão de saber se se verificaram os pressupostos de que depende o arbitramento da
indemnização civil, o presidente submete a deliberação e votação os factos alegados pela acusação
e pela defesa, e bem assim os que resultarem da discussão da causa (cfr. o art. 368°, n° 2, al. f));
• A sentença começa por um relatório que deverá conter, entre outras, as indicações tendentes à
identificação do assistente e das partes civis (cfr. o art. 374, n° 1, al. b));
• Para que o tribunal ordene a publicação da sentença absolutória em jornal é necessário que exista
assistente constituído no processo, correndo essas despesas a seu cargo (cfr. o art. 378°, n's 1 e 2).

CAPÍTULO V – PARTES CIVIS/PEDIDO DE INDEMNIZAÇÃO CÍVEL

Este capítulo encontra-se consignado nos art.º 71º a 84º CPP, estando também regulado no art.º 129º CP,
483º C.C.

O PIC subordina-se, na dimensão quantitativa e respetivos pressupostos à lei civil, embora processualmente
seja regulado pela lei processual penal. A prática de um ilícito criminal pode consistir num facto
constitutivo de responsabilidade civil, caso viole interesses suscetíveis de reparação patrimonial nos
termos da lei civil.

O PIC deduzido na ação penal é uma verdadeira ação civil transferida para o processo civil. Para alem de
ir ao encontro dos princípios de economia e celeridade processuais, pretende-se ainda alcançar uma
uniformidade de critérios de decisão, evitando que surgissem decisões contraditórias caso fossem julgadas

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separadamente. As partes na ação civil conexa com a criminal são todas aquelas que deduziram ou contra
quem foi deduzida o PIC.

Direitos e obrigações: art.º 14º n.º1 PIDCP e art.º 6º n.º1 CEDH

Princípio da adesão
De acordo com o art.º 71º, o PIC é deduzido no processo penal respetivo, só podendo ser em separado,
perante o tribunal civil, nos casos previstos na lei – art.º 72º n.º1. Desta forma, o juiz penal é também
competente para decidir a ação cível e assim, no mesmo processo julgam-se dois pedidos: criminal e civil.

Estamos perante o princípio da adesão obrigatória da ação civil à ação penal, e nessa medida, excetuando
os casos em que a lei permite que o PIC seja feito em separado, o direito à indemnização pelos prejuízos
materiais e morais resultantes do ilícito só pode ser exercido no próprio processo penal.

Não se formulando PIC, quando a lei o obriga, fica-se impossibilitado de usar os meios civis no futuro para
obter um ressarcimento dos prejuízos.

Pedido em separado
Conforme sabemos, o PIC pode ser deduzido em separado, estando perante o princípio da opção, segundo
o qual, o lesado, ao formular o PIC pode optar livremente entre a jurisdição civil ou penal.

Dedução do PIC em separado


Ao abrigo do art.º 72 o PIC pode ser deduzido em separado, no tribunal civil, nas situações seguintes:
a) O processo penal não tiver conduzido à acusação dentro de oito meses a contar da notícia do crime,
ou estiver sem andamento durante esse lapso de tempo; 86º n.º12 a)
b) O processo penal tiver sido arquivado ou suspenso provisoriamente, ou o procedimento se tiver
extinguido antes do julgamento; 277º n.º3
c) O procedimento depender de queixa ou de acusação particular; 49º 50º, 72º n.º2 CPP, 116º n.º1 e
117º CP
d) Não houver ainda danos ao tempo da acusação, estes não forem conhecidos ou não forem
conhecidos em toda a sua extensão; 77º n.º1
e) A sentença penal não se tiver pronunciado sobre o pedido de indemnização civil, nos termos do
artigo 82.º, n.º 3;
f) For deduzido contra o arguido e outras pessoas com responsabilidade meramente civil, ou somente
contra estas haja sido provocada, nessa acção, a intervenção principal do arguido; 316º CPC
g) O valor do pedido permitir a intervenção civil do tribunal coletivo, devendo o processo penal
correr perante tribunal singular;
h) O processo penal correr sob a forma sumária ou sumaríssima; 363, 364,388,389ºn.º4; 393º n.º2,
394º n.º2 b)
i) O lesado não tiver sido informado da possibilidade de deduzir o pedido civil no processo penal ou
notificado para o fazer, nos termos dos artigos 75.º, n.º 1, e 77.º, n.º 2.; 75º n.º1 120º

Legitimidade ativa
Lesado e MP
O PIC é deduzido pelo lesado, entende-se como a pessoa que sofreu os danos, ainda que não tenha ou não
se possa constituir assistente – art.º 74º n.º1 CPP + 30º CPC.

O momento para este formular o PIC varia consoante tenha, ou não, manifestado o propósito de o fazer, até
ao encerramento do inquérito – art.º 75º n.º2, 77º n.º2/3.

Para além do lesado, o MP pode também deduzir o PIC em representação do Estado e de outras pessoas
cuja representação lhe seja atribuída por lei – art.º 76º n.º3

Distinção entre lesado e ofendido


O lesado é todo aquele que tenha sofrido, em consequência de crime, prejuízos no seu património material
ou moral e que, de acordo com a lei civil, mereça a proteção do direito. Art.º 74º n.º1 CPP, 483º CC

O ofendido é o titular dos interesses que a lei quis especialmente proteger com a incriminação – art.º 68º
n.º1 a) CPP, 32º n.º7 CRP

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Se nem sempre as figuras são coincidentes, existem situações em que tal acontece: se o lesado sofrer, além
da violação dos interesses protegidos pela incriminação, danos indemnizáveis segundo a lei civil.

Poderes processuais do lesado


A intervenção do lesado restringe-se à sustentação e à prova do PIC, competindo-lhe correspondentemente,
os direitos que a lei confere aos assistentes – art.º 74º n.º2 69º - apenas relativamente ao PIC

Apesar de o lesado dever alegar e provar os danos sofridos e o nexo de causalidade existente entre o facto
e o dano, não se lhe deve exigir a prova dos elementos constitutivos do crime. Só reveste a qualidade de
parte civil o lesado que tiver já deduzido PIC.

Importa reter que o lesado e o responsável civil podem consultar, mediante requerimento, o processo ou
elementos dele constantes.

Ademais, por força do art.º 521º n.º2, quando se trata de atos praticados por pessoa que não for sujeito
processual penal e estejam em causa condutas que entorpeçam o andamento do processo ou impliquem a
disposição substancial de meios o juiz pode condenar o visado ao pagamento de uma taxa.

Legitimidade passiva
Para além do arguido, o PIC pode ser deduzido contra pessoas com responsabilidade meramente civil e
estas podem intervir voluntariamente no processo penal – art.º 73º n.º1

O responsável civil é aquele que está obrigado ao ressarcimento do dano, mas que não teve qualquer
intervenção no cometimento do crime. Os demandados são aqueles contra quem é deduzido o PIC e os
intervenientes são as pessoas com responsabilidade meramente civil que intervêm no processo sem que
tenha sido formulado um pedido contra eles – art.º 311º e seguintes CPC.

A intervenção voluntaria impede as pessoas com responsabilidade meramente civil de praticarem atos que
o arguido tiver perdido o direito de praticar – cfr. Art.º 73º n.º2 CP e 313º n.º3 CPC, de forma a evitar que
renasçam direitos que o arguido tenha perdido.

Representação judiciária
O lesado pode fazer-se representar por advogado, sendo obrigatória a representação sempre que, em razão
do valor do pedido, se deduzido em separado, fosse obrigatória a constituição de advogado – art.º 76º n.º1.

Se o lesado for simultaneamente assistente, deverá ser sempre representado por advogado – art.º 70º n.º1

Se a parte não constituir advogado, sendo obrigatório, o tribunal, oficiosamente ou a requerimento da parte
contrária, fá-la-á notificar para o constituir dentro de prazo certo, sob pena de o réu ser absolvido da
instância, de não ter seguimento o recurso ou de ficar sem efeito a defesa – art.º 41º CPC + art.º 4º CPP

No recurso é sempre obrigatório – art.º 40º n.º1 c) CPC


Os demandados e os intervenientes devem fazer-se representar por advogado – art.º 76º n.º2
A vítima tem direito a consulta jurídica e ao apoio judiciário.

Tramitação
Dever de informação
Logo que, no decurso do inquérito, tomarem conhecimento da existência de eventuais lesados, devem estes
ser informados, pelas autoridades judiciárias ou pelos OPC, da possibilidade de deduzirem PIC em processo
penal e das formalidades a observar – art.º 75º n.º1.

A omissão deste dever de informação integra uma irregularidade processual – art.º 123º, constituindo
fundamento para que o lesado deduza PIC em separado – art.º 72º n.º1 i).

Manifestação do propósito de deduzir o PIC


Quem tiver sido informado de que pode deduzir PIC – art.º 75º n.º1 – ou não o tenha sido e se considere
lesado, pode manifestar no processo, até ao encerramento do inquérito, o propósito de o fazer – art.º 75º
n.º2 – de forma a garantir.

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Prazo para formulação do pedido
Pelo MP e assistente
Quando o PIC é apresentado pelo MP ou o assistente, o pedido é deduzido na acusação ou no prazo em que
esta deve ser formulada – art.º 77º n.º1, sob pena da caducidade do direito de exercer a ação conjuntamente.

Se o pedido não for deduzido na acusação, deve ser apresentado requerimento articulado – cfr – art.º 552º
- para além disso, o PIC é acompanhado de duplicados para os demandados e para a secretaria – art.º 77º
n.º5 + 152º CPC.

Ainda a propósito da oportunidade de apresentar PIC, importa considerar o momento da constituição de


assistente – crimes públicos e semipúblicos:
• Quando a constituição é anterior à acusação deduzida pelo MP, o assistente é notificado da
acusação pública – art.º 277º n.º3 ex vi art.º 283º nº.5 – podendo, se assim desejar, deduzir
acusação no prazo de 10 dias e na mesma peça, formular o PIC – art.º 77º n.º1, 284º n.º1. Se o
assistente decidir não acusar, pode, no mesmo prazo deduzir apenas o PIC em requerimento
articulado.
• Quando a constituição ainda não tenha sido requerida, é deduzida acusação pública, sendo
notificado o denunciante com a faculdade de se constituir assistente – art.º 277º n.º3 ex vi art.º
283º n.º5. no decurso do prazo de 10 dias subsequentes à notificação da acusação pública, o
denunciante pode requerer a sua constituição como assistente nos termos do art.º 284º e deduzir
PIC

Pelo lesado que tiver manifestado o propósito de deduzir PIC


Quem tiver sido informado de que pode deduzir PIC nos termos do art.º 75º n.º1, ou não o sendo, se
considerado lesado, pode manifestar no processo, até ao encerramento do inquérito, o propósito de o fazer
– art.º 75º n.º2.

Manifestando esse propósito, o lesado deverá ser notificado do despacho de acusação, ou não o havendo,
do despacho de pronúncia, para querendo, deduzir o pedido no prazo de 20 dias – art.º 77º n.º2.
Não sendo notificado nos termos ora referidos, o lesado poderá:
• Deduzir o PIC até 20 dias depois do arguido ser notificado do despacho da acusação ou ,se não o
houver, de pronúncia – art.º 77º n.º3
• Deduzir o PIC em separado, perante o tribunal civil – art.º 72º n.º1 f)

O lesado que tiver manifestado de deduzir PIC deve fazê-lo em requerimento articulado – art.º 77º n.º2

Pelo lesado que não tiver manifestado o propósito de deduzir PIC


Se não tiver manifestado ou não tiver sido notificado – art.º 77º n.º2 – o lesado pode deduzir o PIC até 20
dias depois do arguido ser notificado do despacho – art.º 77º n.º3.

Pedido de arbitramento de indemnização civil


Quanto ao valor do PIC, se deduzido em separado, não fosse obrigatória a constituição de advogado, o
lesado pode requerer que lhe seja arbitrada a indemnização civil – art.º 77º n.º1,2,3. Estando aqui em ucas
a reparação de danos de valor reduzido, o requerimento não está sujeito a formalidades especiais e pode
consistir em declaração em auto, com indicação do prejuízo – art.º 77º n.º4/5.

Contestação
De acordo com o art.º 78º n.º1, a pessoa contra quem for deduzido PIC é notificada para, querendo, contestar
no prazo de 20 dias. Contudo, quando o procedimento se revelar de excecional complexidade, devido
nomeadamente ao número de arguidos ou ofendidos, o prazo pode ser aumentado para 30 dias – art.º 107º
n.º6, 215º n.º3

Efeitos da falta de contestação


A falta de contestação não implica a confissão dos factos – art.º 78º n.º3. Este regime, sendo excecional em
relação ao do processo civil sobre os efeitos da falta de contestação, beneficia tanto o arguido como a pessoa
contra quem for deduzido o PIC.

Formalidades
Diversamente da contestação criminal que não se encontra sujeita a formalidades especiais – art.º 311º-B –
a contestação do PIC deve ser deduzida por artigos – art.º 78º n.º2 duplicados – art.º 77º n.º5 + 148º CPC.

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Quanto ao convite de aperfeiçoamento dos articulados – art.º 590º n.º2 b), n.º3 e n.º4 CPC

Quanto ao processo especial sumário , o PIC e a sua contestação, quando verbalmente apresentados, são
documentados na ata – art.º 363º e 364º cfr. Art.º 389º n.º4

Declarações, notificações e consulta dos autos


A portaria 280/2013 regulamenta vários aspetos da tramitação eletrónica dos processos nos tribunais. Os
processos penais passaram a ser abrangidos pela tramitação eletrónica a partir da fase de julgamento.

Provas
As provas são requeridas com os articulados – art.º 79º n.º1. Se tiver lugar a PIC, constituem objeto de
prova os factos relevantes para a determinação da responsabilidade civil – art.º 124º n.º2

Os meios de proa devem ser requeridos pelo lesado na dedução do PIC, pelo demandado na sua contestação
e pelo interveniente no respetivo requerimento de intervenção. Não obstante, o tribunal ordena,
oficiosamente ou a requerimento a produção de todos os meios de prova cujo conhecimento se lhe afigure
necessário à descoberta da verdade e à boa decisão da causa – art.º 340ºn.º1

É admissível a prova por acareação entre co-arguidos, entre o arguido e o assistente, entre testemunhas ou
entre estas, o arguido e o assistente sempre que houver contradição entre as suas declarações e a diligencia
se afigurar útil à descoberta da boa verdade – art.º 146º n.º1/2.

Cada requerente, demandado, ou interveniente pode arrolar testemunhas em número não superior a 10 ou
a 5, consoante o pedido do valor exceda ou não a alçada da relação em matéria cível – art.º 79º n.º2 CPP,
44º n.º1 LOSJ. Assim, se o valor do pedido ultrapassar os 30.000€ pode ir até 10 testemunhas, se for inferior,
são apenas 5.

Se o pedido exceder os 30.000€, as partes só podem arrolar até 5 testemunhas por facto, sempre dentro do
limite de 10 – art.º 79º n.º3

Convém destacar que, em processo penal, vigoram os princípios da investigação e da livre apreciação de
prova. As partes civis podem adicionar ou alterar o rol de testemunhas e estão impedidas de depor como tal
– art.º 316º e 133º n.º1 c). Para efeito de dedução de PIC, a autoridade judiciária pode autorizar a certidão
em que seja dado o conhecimento do conteúdo de ato ou de documento em segredo de justiça – art.º 86º
n.º11

Julgamento
O lesado, demandados e os intervenientes são obrigados a comparecer no julgamento apenas quando
tiverem de prestar declarações a que não puderem recusar-se – art.º 80º

O lesado tem, em relação ao PIC, os mesmos direitos que a lei confere aos assistentes. Nesta conformidade,
pode intervir na audiência de julgamento fazendo prova do respetivo pedido – art.º 74º n.º2.

Renúncia, desistência e conversão do pedido


Art.º 81: o lesado pode em qualquer altura, enquanto a decisão não transitar em julgado:
a) Renunciar ao direito de indemnização civil e desistir do PIC – art.º 129º CP
b) Requerer que o objeto da prestação indemnizatória seja convertido em diferente atribuição
patrimonial, desde que prevista na lei – art.º 130º n.º2/3 CP, art.º 566º, 567º CC

Medidas de garantia patrimonial


Havendo fundado receio que faltem ou diminuam substancialmente as garantias de pagamento da
indemnização ou de outras obrigações civis derivadas do crime, o lesado pode requerer que o arguido ou o
civilmente responsável prestem caução económica – art.º 227º e 228º.

A caução económica subsiste até à decisão final absolutória ou até à extinção das obrigações. Em caso de
condenação, são pagas pelo seu valor, sucessivamente, a multa, a taxa de justiça, as custas do processo, a
indenização e as obrigações civis e, ainda,, o valor correspondente aos instrumentos, produtos e vantagens
do crime – art.º 227º n.º5

Decisões sobre o PIC

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Condenação no pedido cível
Tendo, por base razões de economia processual o art.º 377º n.º1, preceitua que a sentença, ainda que
absolutória, condena o arguido quanto ao PIC – art.º 82º n.º3.

O art.º 377º n.º1 não pode funcionar quando se configure um caso de responsabilidade civil contratual, mas
apenas quando esteja em causa uma situação de responsabilidade civil extracontratual.

Se o tribunal não se pronunciar sobre o PIC, a sentença é nula, porque deixou de pronunciar-se sobre
questões que devia apreciar – art.º 379º n.º1 c) – o mesmo se diz quando se condene em quantidade superior
ou em objeto diverso do pedido – art.º 609º n.º1 e 615º n.º1 e) CPC.

Se o responsável civil tiver intervindo no processo penal, a condenação e a indemnização civil é proferida
contra ele ou contra ele e o arguido solidariamente sempre que a sua responsabilidade vier a ser reconhecida
– art.º 377º n.º2

Para que possa haver condenação no PIC é necessário:


• Que tenha havido julgamento e sentença. Se não houve julgamento por extinção da
responsabilidade criminal em momento anterior, não pode condenar-se na indemnização aqui em
causa – nesse caso, o lesado tem o direito de deduzir PIC perante o tribunal civil – art.º 72º n.º1 b)
• Que se esteja perante um ilícito civil que produza o dever de indemnizar – art.º 483º, 562º,
496º CC

Caso julgado
A lei processual civil diz que a “decisão se considera transitada em julgado logo que não seja suscetível de
recurso ordinário ou de reclamação” – art.º 628º CPC + art.º 400º n.º2/3

A decisão penal, condenatória ou absolutória, que conhecer do PIC constitui caso julgado nos termos em
que a lei atribui eficácia de caso julgado às sentenças civis – art.º 84º CPP + 129º CP

Se se pretender propor uma causa para obter o ressarcimento dos prejuízos advindos de um crime, tendo
havido já uma decisão em processo crime sobre essa, não se pode, uma vez que fez caso julgado – art.º 580º
n.º1 CPC
Para que haja caso julgado é necessário que se verifique entre duas causas identidade de sujeitos,
de pedido e de causa de pedir – art.º 581º CPC

Liquidação em execução de sentença


Apesar de ter elementos suficientes para conhecer o PIC, se não dispuser de elementos para fixar o seu
montante, o tribunal condena no que se liquidar em execução de sentença. Neste caso, a execução ocorre
perante o tribunal civil, servindo de título executivo a sentença penal – art.º 82º n.º1 – em sentido
semelhante temos o art.º 609º n.º2 CPC

Assim, estando já decidido que existe direito à indemnização, o tribunal oficiosamente, pode remeter para
os tribunais civis a liquidação do seu montante – art.º 716º CPC. Trata-se de uma medida que tem em vista
impedir que o apuramento do quantitativo da indemnização retarde excessivamente o andamento da ação
penal.

Com efeito, as execuções que digam respeito a condenação em quantia certa não devem decorrer perante o
tribunal civil, mas sim perante o tribunal criminal. A competência dos juízos de execução consta do art.º
129º LOSJ.

Reenvio para os tribunais civis


O tribunal pode, oficiosamente ou a requerimento, remeter as partes para os tribunais civis quando as
questões suscitadas pelo PIC inviabilizarem uma decisão rigorosa ou forem suscetíveis de gerar incidentes
que retardem intoleravelmente o processo penal – art.º 82º n.º3; 72º n.º1 e)

Neste caso, é a apreciação global do PIC que é remetida para os tribunais civis. Saliente-se que o tribunal
penal não chega a conhecer do pedido, ficando-se tão-só pela avaliação das questões que o mesmo suscitou.

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Exequibilidade provisória
A requerimento do lesado, o tribunal pode declarar a condenação em indemnização civil, no todo ou em
parte, provisoriamente executiva, nomeadamente sob a forma de pensão – art.º 83º - visando-se, desta
forma, facilitar a execução da indemnização nos casos em que o lesado tem carências económicas.

A aplicação desta regra pressupõe que tenha havido decisão condenatória em pedido cível, mesmo que em
quantia a fixar em sentença. De notar que só o lesado tem legitimidade para pedir em condenação em
indemnização civil seja declarada provisoriamente executiva, podendo fazê-lo em qualquer momento, até
à sentença – art.º 85º CPC

Reparação da vítima em casos especiais


Não tendo sido deduzido PIC no processo penal, o tribunal, em caso de condenação do arguido, pode
arbitrar uma quantia a título de reparação pelos prejuízos sofridos quando particulares exigências de
proteção da vítima que o imponham, sendo este caso, assegurado o respeito pelo contraditório – art.º 82º-
A n.º1/2.

O obrigado ao pagamento da quantia arbitrada a título de reparação pelos prejuízos sofridos é o responsável
penal pelo crime e não o responsável civil – art.º 82º-A n.º3.

Ao abrigo do art.º 247º n.º3, sem prejuízo do art.º 82º-A, o MP deve informar o ofendido sobre o regime e
serviços responsáveis pela instrução de pedidos de indemnização a vítimas de crimes violentos e os pedidos
de adiantamento às vítimas de violência doméstica.

Custas processuais
À responsabilidade por custas relativas ao PIC são aplicáveis as normas do processo civil – art.º 523º

No que diz respeito à regra geral de matéria de custas, o art.º 527º n.º1 e n.º2 CPC, estatui que a decisão
que julgue a ação ou algum dos seus incidentes ou recursos condena em custas a parte que a elas houver
dado causa, ou, não havendo vencimento da ação, quem do processo tirou proveito.

Quanto ao valor da ação cível enxertada do processo penal – art.º 297º n.º1 CPC.

A base tributável para os efeitos da taxa consta do art.º 11º RCP. Quanto à responsabilidade passiva pelo
pagamento da taxa de justiça, o art.º 13º n.º1 RCP estabelece que a mesma é paga nos termos fixados no
CPC, aplicando-se as respetivas normas subsidiariamente, entre outros, aos processos criminais.

Recursos
O demandante cível não tem legitimidade para interpor recurso da parte criminal, nem, quando recorre em
sede de matéria cível, para pôr em causa, ainda que, indiretamente, a parte penal da sentença.

• O lesado tem, em relação ao pedido cível, os mesmos direitos processuais que a lei confere aos
assistentes, onde se inclui o direito a recorrer das decisões que o afetem (cfr. os arts. 74º, n° 2 e
69º, n° 2, al. c));
• Por sua vez, os demandados e os intervenientes têm, em relação ao pedido cível, a mesma posição
processual que têm os arguidos, onde se inclui também o direito a recorrer das decisões que lhes
forem desfavoráveis (cfr. Os arts. 74°,n°3 e61°,n°,1al. 1);
• Nos recursos é obrigatória a constituição de advogado (art. 40º, n° 1, a.l c), do CPC);
• Sem prejuízo do disposto nos arts. 427 (Recurso para a relação) e 432º (Recurso para o Supremo
Tribunal de Justiça), o recurso da parte da sentença relativa a indemnização civil só é admissível
desde que o valor do pedido seja superior à alçada do tribunal recorrido e a decisão impugnada
seja desfavorável para o recorrente em valor superior a metade dessa alçada" (art. 400º, n° 2), 629º
n.º1 CPC;
• Desde que tenham interesse em agir, as partes civis têm legitimidade para recorrer da parte das
decisões contra cada uma proferida, relativamente ao pedido de indemnização civil (art. 401º, n°s
1, al. c) e 2);
• Salvo se for fundado em motivos estritamente pessoais, o recurso interposto pelo arguido,
aproveita ao responsável civil e o recurso interposto pelo responsável civil, aproveita ao arguido,
mesmo para efeitos penais (art. 4029, n° 2, als. b) e c));

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• É admissível a limitação do recurso a uma parte da decisão quando a parte recorrida puder ser
separada da parte não recorrida, por forma a tornar possível uma apreciação e uma decisão
autónomas. Para esse efeito, é autónoma, nomeadamente, aparte da decisão que se referir a matéria
civil (art. 403°, n°s 1e 2, al. b));
• Mesmo que não seja admissível recurso quanto à matéria penal, pode ser interposto recurso da
parte da sentença relativa à indemnização civil (art. 400°, n° 3);
• Em caso de recurso interposto por uma das partes civis, a parte contrária pode interpor recurso
subordinado, no prazo de 20 dias contado nos ter- mos previstos no n° 2, do art. 404;
• A proibição da reformatio in pejus, prevista no art. 409º, é aplicável em caso de recurso interposto
pelo arguido demandado;
• O requerimento de interposição ou a motivação são notificados aos respetivos sujeitos processuais
afetados pelo recurso, nos termos e condições do n° 6, do art. 411º;
• Os sujeitos processuais afetados pela interposição do recurso podem responder no prazo de 30 dias
(art. 413º, n° 1);
• As partes civis podem desistir do recurso interposto, até ao momento do processo ser concluso ao
relator para exame preliminar. Se tal acontecer o recurso subordinado fica sem efeito (arts. 415º,
n° 1e 404°, n° 3);
• Se o recurso for rejeitado, o tribunal condena o recorrente, se não for o MP, ao pagamento de uma
importância entre 3 e 10 UC (art. 420°, n° 3);
• O representante das partes civis é sempre convocado para a audiência, na qual pode alegar por um
período não superior a 30 minutos, prorrogável em caso de especial complexidade (arts. 421°, n°
2 e 423°, n° 3);
• O acórdão é notificado aos recorrentes, aos recorridos e ao MP (art. 425° n.º6);
• As partes civis têm legitimidade para interpor recurso extraordinário de fixação de jurisprudência
e de decisão proferida contra jurisprudência fixada pelo STJ (arts. 437º, n° 5 e 446°, n° 2).

CAPÍTULO VI – INQUÉRITO
Finalidade e âmbito
O inquérito é a fase processual destinada à investigação da existência de um crime, ao apuramento dos seus
agentes e respetivas responsabilidades, bem como à descoberta e recolha de provas relevantes que
sustentem a decisão sobre a acusação – art.º 262º n.º1

Finalidades acessórias:
• Apuramento do valor dos danos causados pelo crime e dos responsáveis pela indemnização
• Fundamentação da aplicação de medias de coação e de garantia patrimonial – art.º 196º
• Decisão sobre a competência em razão da matéria ou do território e sobre a legitimidade e
tempestividade da denúncia
• Verificar se ocorreu algum facto impeditivo do procedimento criminal
• Recorrer

A notícia de um crime dá sempre lugar à abertura do inquérito – art.º 262º n.º2, 48º, 241º - com as seguintes
exceções:
• Crimes semipúblicos, dependentes de participação e particulares – art.º 49º e 50º - em que a
promoção do processo, por parte do MP, está dependente do exercício do direito de queixa pelos
titulares – art.º 113º e 117º CP.
• Processos sumários – art.º 382º n.º2 – e sumaríssimos – art.º 392º e seguintes
• Se, perante a notícia do crime – art.º 53º n.º2 a) – o MP obtiver a certeza que o crime não pode ser
já punível.

No âmbito do inquérito destaca-se o princípio da oficialidade, da legalidade, acusação, inquisitório,


contraditório, vinculação temática e da publicidade.

Aspetos gerais sobre a prova


A descoberta e a recolha de provas relevantes com vista a sustentar a decisão sobre acusação, é uma das
finalidades desta primeira fase do processo penal. Com efeito, o legislador optou pela legalidade. Ademais,
salvo quando a lei dispuser diferentemente, por exemplo, no âmbito da prova pericial – art.º 163º n.º1, a
prova deve ser apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção da entidade competente –
art.º 127º. Segundo o art.º 341º CC as provas têm por função demonstrar a realidade dos factos.

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O MP é a entidade competente para praticar atos e assegurar os meios de prova necessários à realização da
fase de inquérito – art.º 268º

Constituem objeto de prova todos os factos juridicamente relevantes para a existência – ou inexistência –
do crime, a punibilidade – ou não – do arguido e a determinação da pena ou medida de segurança aplicável
ao caso – art.º 124º n.º1

Os meios de prova expressamente consagrados são:


• Prova testemunhal – art.º 128-139
• Declarações do arguido, assistente e partes civis – art.º 140º a 145º
• Prova por acareação – art.º 146º
• Prova por reconhecimento – art.º 147º a 149º
• Reconstituição do facto – art.º 150º
• Prova pericial – art.º 151º a 163º
• Prova documental – art.º 164º a 170º

Os meios de obtenção de prova são:


• Exames – art. º 171º a 173º
• Revistas e buscas – art.º 174º a 177º
• Apreensões – art.º 1178º a 186º
• Escutas telefónicas – art.º 187º a 190º

As provas obtidas mediante métodos proibidos de prova são nulas – art.º 126º - não podendo ser utilizadas
por qualquer autoridade judiciária – art.º 32º n.º8 CRP, 34º n.º4 CRP, art.º 5 e 12º DUDH; art.º 3º e 8º n.º1
CEDH.

A prova proibida é nula, sendo certo que as nulidades tornam inválido o ato que se verificarem, bem como
os que dele dependerem e aquelas puderem afetar – art.º 122º n.º1. a prova proibida pode ser conhecida em
qualquer fase do processo – art.º 119º.

Direção e competência
A direção do inquérito é da competência do MP assistido pelos OPC que atuam sob a sua direta orientação
e na sua dependência funcional – art.º 263º, 53º n.º2 b), 56º e 270º n.º1. Os OPC são todas as entidades e
agentes policias a quem caiba levar a cabo quaisquer atos ordenados por uma autoridade judiciária ou
determinados pelo CPP – art.º 1 b) e c).

Ao MP compete representar o Estado e defender os interesses que a lei determinar, bem como participar na
execução da política criminal definida pelos órgãos de soberania, exercer a ação penal orientada pelo
princípio da legalidade e defender a legalidade democrática – art.º 219, 220º n.º1 CRP e art.º 2º e 4º EMP.

Compete ainda ao MP, entre outros atribuições, a de dirigir a investigação e as ações de prevenção criminal
que, no âmbito das suas competências, lhe incumba realizar ou promover, assistido, sempre que necessário,
pelos OPC – art.º 4º n.º1 e).

No que respeita às regras da competência por conexão valem as normas contidas nos art.º 24º a 30º por
remissão do art.º 264º n.º5. A este propósito, realçamos que, nos termos do art.º 24º n.º2, a conexão só opera
relativamente aos processos que se encontrem simultaneamente na fase de inquérito.

Sempre que, no decurso do inquérito, se apurar que a competência pertence a diferente magistrado ou agente
do MP, os autos deverão ser transmitidos ao magistrado ou agente competente – cfr. art. 266º n.º1 e 34º.
Nesse caso, e de harmonia com os princípios da celeridade e economia processuais, os atos de inquérito
realizados antes da transmissão só serão repetidos na impossibilidade de aproveitamento – art.º 266º n.º2.
Em sentido diverso pugna o art.º 33º nº.1.

Compete a cada juiz das secções criminais do STJ e das Relações, em matéria penal, enre outros, praticar
os atos jurisdicionais relativos ao inquérito – art.º 11º n.º7 e 12º n.º6 respetivamente. Cfr. Art.º 55º h), 73º
g); 119º,120º.

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Nulidades
Constitui nulidade insanável, que deve ser oficiosamente declarada em qualquer fase do procedimento, a
falta de promoção do processo pelo MP – art.º 48º - bem como a falta de inquérito, nos casos em que a lei
determinar a sua obrigatoriedade – art.º 119º b), 1ª parte e d).

Já a insuficiência do inquérito por não terem sido praticados atos legalmente obrigatórios – e não por
ausência de indícios suficientes para acusar – e a omissão posterior de diligências que pudessem reputar-se
essenciais para a descoberta da verdade, constitui nulidade dependente de arguição – art.º 120º n.º2 d).

Neste caso, a nulidade pode ser arguida até ao encerramento do debate instrutório ou, não havendo lugar a
instrução, até 5 dias após a notificação do despacho que tiver encerrado o inquérito – art.º 120º n.º3 c). A
falta de arguição da nulidade pelos respetivos interessados implica a sua sanação – art.º 121º, 122º

A não abertura do inquérito pode ainda constituir a prática do crime de denegação de justiça e prevaricação
– art.º 369º CP.

Atos de inquérito
Atos do MP
O MP pratica os atos e assegura os meios de prova necessários à investigação da existência de um crime,
à determinação dos seus agentes e apuramento da responsabilidade deles e à descoberta e recolha das provas
em ordem da decisão final – acusação ou arquivamento – nos termos e com as restrições constantes do art.º
268º a 271º- art.º 267º e 262º n.º1.

Para além de dirigir o inquérito – art.º 263º n.º1 – o MP possui ainda as funções previstas nos art.º 50º e
53º n.º2. Não obstante o MP ser livre de promover as diligências que entender necessárias ou convenientes
à realização das finalidades do inquérito, existem determinados atos que são obrigatórios, nesta fase, como
sejam, nomeadamente, o interrogatório do arguido – art.º 272º - a notificação do despacho de arquivamento
ou de acusação – art.º 277º n.º3, 283º n.º5 – e a junção aos autos das exposições, memoriais e requerimentos
quando apresentados pelo arguido – art.º 98º n.º1.

De resto, qualquer magistrado ou agente do MP, mesmo sendo territorialmente incompetente para a
realização do inquérito, em caso de urgência ou perigo na demora, deve proceder a determinados atos de
inquérito, como sejam, por exemplo, os relativos à detenção, ao interrogatório e, em geral à aquisição e
conservação de meios de prova – art.º 264º n.º4

Importa destacar que, para além dos atos que são da competência exclusiva do JIC durante a fase de
inquérito - art.º 268º e 269º - existem outros atos que o MP não pode delegar nos OPC, designadamente –
art.º 270º n.º2:
a) Receber depoimentos ajuramentados, nos termos da segunda parte do n.º 3 do artigo 138
b) Ordenar a efetivação de perícia, nos termos do artigo 154.º ; 270º n.º3
c) Assistir a exame suscetível de ofender o pudor da pessoa, nos termos da segunda parte do n.º 3 do
artigo 172.º;
d) Ordenar ou autorizar revistas e buscas, nos termos e limites dos n.ºs 3 e 5 do artigo 174.º;
e) Quaisquer outros atos que a lei expressamente determinar que sejam presididos ou praticados pelo
Ministério Público.

No decurso do inquérito, o MP, com vista à prova dos factos, pode requerer e juntar aos autos as certidões
e certificados de registo que se afigurem previsivelmente necessários ao inquérito ou à instrução ou ao
julgamento que venham a ter lugar e à determinação da competência do tribunal – art.º 274º. Aliás, os
documentos devem ser juntos no decurso do inquérito ou da instrução e, não sendo isso possível, deve ser
feito até ao encerramento da audiência – art.º 164º e art.º 165º. O registo criminal do arguido é
primordial.

Delegados nos OPC


O MP pode conferir aos OPC o encargo de procederem a quaisquer diligências e investigações relativas ao
inquérito – p.e.: art.º 144º

Compete aos OPC, entre outros, coadjuvar as autoridades judiciárias na investigação. Quanto à GNR, PSP
e PJ, em matéria de investigação criminal, para além dos art.º 3º n.º1 a) a c), 6º e 7º da Lei n.º49/2008,
consideramos os diplomas: Lei 63/2007; Lei 53/2007, Lei 73/2021; DL n.º 137/2019

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Tratando-se de crime tributário, o art.º 40º n.º2 da Lei n.º15/2001, prevê que aos órgãos da administração
tributária e aos da segurança social, cabe, durante o inquérito, os poderes e funções que o CPP atribui aos
OPC, presumindo-se-lhes delegada a prática de atos que o MP pode atribuir àquelas entidades,
independentemente do valor da vantagem patrimonial ilegítima.

Atos do JIC
Compete ao JIC, entre outros, exercer todas as funções jurisdicionais até à remessa do processo para
julgamento, nos termos do art.º 17º. Com efeito, apesar de o MP ser o órgão competente para realizar e
dirigir o inquérito, é o juiz de instrução que intervém nessa fase processual sempre que haja possível
afetação dos direitos fundamentais do arguido.

De acordo com o art.º120º n.º6 LOSJ, o disposto nos restantes números dessa norma não prejudica a
competência do JIC da área onde os atos jurisdicionais, de caráter urgente, relativos ao inquérito devem ser
realizados.
De realçar que só os atos judicias são suscetíveis de recurso, dos atos do MP cabe reclamação,
recurso hierárquico ou impugnação contenciosa, mas não o recurso.

Os atos praticados, ordenados ou autorizados pelo JIC durante o inquérito – art.º 268º,269º e 271º - tem de
ser obrigatoriamente reduzidos a auto – art.º 275º n.º2 e 99º. O mesmo se diga da denuncia, quando feita
oralmente – art.º 246º n.º2

A redação é efetuada pelo funcionário de justiça ou pelo funcionário da polícia criminal durante o inquérito
– art.º 100º n.º1

Atos praticados diretamente pelo JIC


De acordo com o art.º 268º n.º1, durante o inquérito compete exclusivamente ao JIC (exemplificativo):
a. Proceder ao primeiro interrogatório judicial de arguido detido; art.º 64º n.º1 a)/b); art.º 144º nº2
b. Proceder à aplicação de uma medida de coação ou de garantia patrimonial, à exceção da prevista
no artigo 196.º, a qual pode ser aplicada pelo Ministério Público; art.º 194º n.º1, 196º n.º1; 204º
n.º1 a) e c); b); 194º n.º3
c. Proceder a buscas e apreensões em escritório de advogado, consultório médico ou estabelecimento
bancário, nos termos do n.º 5 do artigo 177.º, do n.º 1 do artigo 180.º e do artigo 181.º; art.º 177º
n.º5, 180º n.º1 e 181º
d. Tomar conhecimento, em primeiro lugar, do conteúdo da correspondência apreendida, nos termos
do n.º 3 do artigo 179.º; art.º 179º nº3;
e. Declarar a perda a favor do Estado de bens apreendidos, com expressa menção das disposições
legais aplicadas, quando o Ministério Público proceder ao arquivamento do inquérito nos termos
dos artigos 277.º, 280.º e 282.º; 109º a 112º-A CP
f. Praticar quaisquer outros atos que a lei expressamente reservar ao juiz de instrução.

Existem outros atos para além dos previstos no art.º 268º n.º1, como por exemplo:
1. Admissão de assistente – art.º 68º n.º4
2. Sujeição a segredo de justiça – art.º 86º n.º2
3. Aplicação do segredo decidido pelo MP – art.º 86º n.º3
4. Pedido de consulta do processo – art.º 89º n.º2
5. Condenação em multa por faltas injustificadas – art.º 116º n.º1
6. Detenção para comparência em diligência - art.º 27º n.º3 f) CRP + 116º n.º2
7. Validação da busca domiciliária – art.º 177º n.º4
8. Autorização da interceção e da gravação de conversações ou comunicações telefónicas – art.º 187º
9. Medidas de coação ou garantia patrimonial – art.º 191º e ss.
10. Detenção fora do flagrante delito – art.º 257º n.º1
11. Recolha de declarações para memória futura – art.º 271º
12. Arquivamento do inquérito – art.º 280º
13. Suspensão provisória – art.º 281º
14. Decisão de habeas corpus em virtude de detenção ilegal – art.º 220º

Quem pode requerer


O JIC não intervém na fase de inquérito espontaneamente. De acordo como art.º 268º n.º2 e n.º3, o juiz
pratica os atos mencionados a requerimento:

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• Do MP
o Durante o inquérito, as medidas de coação e de garantia patrimonial são aplicadas por
despacho do JIC a requerimento do MP. Nas fases processuais posteriores ao inquérito, o
juiz já pode aplicar estas medidas oficiosamente neste caso ouvido o MP, sob pena de
nulidade – art.º 194º n.º1
• Da autoridade de policia criminal, em caso de urgência ou perigo de demora. Art.º 1º d)
• Do arguido
o O requerimento deve ser escrito e fundamentado – art.º 61º n.º1 g) + 62º
• Do assistente
o o requerimento deve ser escrito e fundamentado – art.º 70º, 98º

O juiz deve decidir no prazo máximo de 24h com base na informação que, juntamente e com o
requerimento, lhe for prestada, dispensado a apresentação dos autos sempre que não a considerar
imprescindível – art.º 268º n.º4

Atos a ordenar pelo JIC


De acordo com o art.º 269º n.º1 durante o inquérito compete exclusivamente ao JIC ordenar ou autorizar:
a. A efetivação de perícias, nos termos do n.º 3 do artigo 154.º;
b. A efetivação de exames, nos termos do n.º 2 do artigo 172.º;
c. Buscas domiciliárias, nos termos e com os limites do artigo 177.º;
d. Apreensões de correspondência, nos termos do n.º 1 do artigo 179.º;
e. Interceção, gravação ou registo de conversações ou comunicações, nos termos dos artigos 187.º e
189.º;
f. A prática de quaisquer outros atos que a lei expressamente fizer depender de ordem ou autorização
do juiz de instrução.

Declarações para memória futura


Admissibilidade
O art.º 271º n.º1 admite a possibilidade de prestação de declarações para memória futura, podendo JIC –
art. 17º - proceder à inquirição no decurso do inquérito, a fim de que o depoimento seja, se necessário,
tomado em conta no julgamento, nas situações seguintes:
a) Deslocação para o estrangeiro - art.º 318º n.º8
b) Doença grave de uma testemunha – art.º 271º n.º8
c) Vítima de crime de tráfico de órgãos humanos – art.º 144º-B

O regime jurídico supra exposto é extensível às declarações do assistente, partes civis, peritos e consultores
técnicos e acareações – art.º 271º n.º7

A leitura de declarações do assistente, partes civis e de testemunhas só é permitida tendo sido prestadas
perante o juiz.

Quem pode requerer


O MP, o arguido, o assistente ou as partes civis – art.º 271º n.º1 2ª parte.

Ao contrário da instrução e do julgamento – art.º 294º e 320º - no inquérito o juiz não pode promover
oficiosamente este incidente de produção de prova antecipada.

Notificação e realização
O dia, a hora e o local de prestação de depoimento são comunicados ao MP, ao arguido, ao defensor e aos
advogados do assistente e das partes civis para que possam estar presentes – art.º 271º n.º3 – apesar de esta
ser facultativa, à exceção do MP e do defensor sob pena de nulidade insanável – art.º 271º n.º3, 64º n.º1 f)
e 119º c).

A inquirição é feita pelo juiz, podendo de segunda o MP, os advogados e o defensor, por esta ordem,
formular perguntas adicionais – art.º 271º n.º5. O juiz não esta vinculado a qualquer limitação do objeto
feito pelo MP, mas sim a factos fornecidos pelos autos a investigar, que se indiciam e que constituem o
objeto da investigação.

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Se o arguido comparecer, pode ser afastado durante a prestação das mesmas se se observar alguma das
circunstâncias previstas no art.º 352º + 271º n.º6:
• Houver situações para crer que a presença do arguido inibiria o declarante de dizer a verdade;
• O declarante for menor de 16 anos e houver razões para crer que a sua audição na presença pode
prejudicá-lo gravemente;
• Dever ser ouvido um perito e houver razão para crer que a presença do arguido pode prejudicar a
integridade deste.

O conteúdo das declarações para memória futura é reduzido a auto, sob pena de nulidade – cfr. Art.º 271º
n.º6, 363º, 275º n.º2. Quanto à forma de documentação – art.º 271º n.º6

Procedimento em caso de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual de menor


Estando em causa processo por crime contra a libertação e autodeterminação sexual de menor, procede-se
sempre à inquirição do ofendido no decurso do inquérito, desde que a vítima não seja ainda maior – art.º
271º n.º2. Dada a especial natureza dos direitos em causa, a tomada de declarações, neste caso:
a) Realizada em ambiente informal e reservado, com vista a garantir a espontaneidade e sinceridade
das respostas – art.º 271º n.º4
b) O menor deve ser assistido no decurso do ato por um técnico especialmente habilitado para o seu
acompanhamento – art.º 271º n.º4

Primeiro interrogatório do arguido


Constituição obrigatória de arguido
Correndo inquérito contra pessoa determinada em relação à qual haja suspeita fundada da prática de crime,
é obrigatório interrogá-la como arguido, cessando tal obrigatoriedade quando não for possível a sua
notificação – art.º 272º n.º1
Cfr. Art.º 120º n. º2 d) e n. º3 c); 121º 122º

Assume a qualidade de arguido todo aquele contra quem for deduzida acusação ou requerida instrução
num processo penal. Ademais, essa qualidade conserva-se durante todo o processo – art.º 57º n.º1 e n.º2.
Sem prejuízo de acordo com o art.º 58º1 n.º1, é obrigatória a constituição de arguido logo que:
a) Correndo inquérito contra pessoa determinada em relação à qual haja suspeita fundada da prática
de crime, esta prestar declarações perante qualquer autoridade judiciária ou órgão de polícia
criminal; art.º 1 b) e c)
b) Tenha de ser aplicada a qualquer pessoa uma medida de coação ou de garantia patrimonial,
ressalvado o disposto no n.º 3 a 5 do artigo 192.º; art.º 61º n.º6 c) e d)
c) Um suspeito for detido, nos termos e para os efeitos previstos nos artigos 254.º a 261.º; art.º 1 e)
d) For levantado auto de notícia que dê uma pessoa como agente de um crime e aquele lhe for
comunicado, salvo se a notícia for manifestamente infundada. Art.º 243º

A constituição de arguido opera-se através do acatamento das formalidades previstas no art.º 58º n.º2, sendo
que a omissão ou violação dessa formalidade tem como consequência a inutilização como prova das
declarações prestas pela pessoa visada – art.º 58º n.º6

A constituição feita por OPC é comunicada à autoridade judiciária – juiz, JIC ou MP – no prazo de 10 dias
e por esta apreciada, em ordem à sua validação. A não validação não prejudica as provas anteriormente
obtidas – art.º 58º n.º4 e 7.

Logo que assuma este estatuto, o arguido deve prestar TIR – art.º 61º n.º6 c) – cumprida essa exigência,
em caso de falta de arguido à audiência de julgamento, esta pode realizar-se com a sua ausência – art.º 196º
n.º3 e 333º

Comunicação
De acordo com o art.º 272º n.º2 e 3º, o MP, quando proceder a interrogatório de um arguido ou a acareação
ou reconhecimento – art.º 146º e 147º em que aquele deva participar, comunica-lhe pelo menos com 24h
de antecedência, o dia, a hora e o local da diligência. De sublinhar que este período de antecedência:
a) É facultativo se o arguido estiver preso
b) Não tem lugar relativamente ao 1º interrogatório não judicial de arguido detido – art.º 143º - ou
nos casos de extrema urgência ou ainda quando o arguido dele prescindir

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Salvo nestas situações, quando haja defensor, este é notificado para a diligência com pelo menos 24h de
antecedência – art.º 272º n.º 3 b) e n.º4

Realização
Em regra, sempre que o arguido prestar declarações, e ainda que se encontre detido ou preso, deve
encontrar-se livre na sua pessoa. Ademais, o arguido não presta juramento em caso algum – art.º 140º n.º1
e 3º.

O interrogatório não pode ser efetuado entre as 0h e as 7h, salvo em ato seguido à detenção:
a) Nos casos de terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada – art.º 1 i), j) m) – quando
haja fundados indícios da prática iminente de crime que ponha em grave risco a vida ou a
integridade de qualquer pessoa – art.º 103º n.º1 a), 174º n.º5 a)
b) Quando o próprio arguido o solicite – art.º 103º n.º3 b)

O interrogatório deve ter duração máxima de 4h, podendo ser retomado, em cada dia, por uma só vez e
idêntico prazo máximo, após um intervalo de 60min. O desrespeito pelos limites temporais acima
enunciados tem como consequência a nulidade das declarações prestadas pelo arguido, não podendo ser
utilizadas como prova – art.º 103º n.º4 e n.º5.

Lembramos que o primeiro interrogatório judicial de arguido detido, durante o inquérito, é sempre
realizado pelo JIC -art.º 141º n.º1 e 268º n.º1 a) – sendo, para esse efeito, obrigatória a assistência de
defensor – art.º 61º n.º1 f); 64º n.º1 a) e b), 119º c) CPP e 32º n.º3 CRP.

Mandado de comparência
Sempre que for necessário assegurar a presença de qualquer pessoa em ato de inquérito, o MP ou o OPC
em que tenha sido delegado a diligência emitem mandato de comparência, do qual conste a identificação
da pessoa, a indicação do dia, do local e da hora a que deve apresentar-se a menção das sanções em que
incorre no caso de falta injustificada – art.º 273º n.º1

Notificação
O mandado de comparência é notificado ao interessado com pelo menos 3 dias de antecedência, salvo em
caso de urgência devidamente fundamentada, em que pode ser deixado ao notificando apenas o tempo
necessário à comparência – art.º 273º n.º2 + 106º

Se o mandado se referir ao assistente ou ao denunciante com a faculdade de se constituir como tal,


representado por advogado, este deve ser informado da realização da diligencia para estar presente se assim
o entender – art.º 273º n.º3 e 70º n.º3 CPP + 20º n.º2 CRP. Cfr ainda art.º 132º n.º4, 145º n.º5/6

A notificação para a comparência é efetuada nos termos do art.º 113º, 114º e 115º. As regras relativas estão
no art.º 293º

Efeitos da falta de comparência


Em caso de falta durante o inquérito, esta pode ser justificada de acordo com o art.º 117º, cabendo ao MP
julgar justificada a falta a diligencia por si ordenada ou efetuada pelos OPC a quem tenha sido delegada a
competência.

Em caso de falta, só o JIC pode condenar o faltoso a uma multa entre as 2UC e as 10UC.

A detenção a que se refere o art.º 255º é efetuada para assegurar a presença imediata, ou não sendo possível,
no mais curto prazo.

Prática de atos processuais


Os atos processuais praticam-se nos dias úteis, às horas de expediente dos serviços de justiça e fora do
período de férias. Ficam de fora deste regime os atos processuais relativos a arguidos detidos ou presos,
relativos a processos em que intervenham arguidos menores, ainda que não haja arguidos presos, bem como
os atos de inquérito, relativamente aos quais for reconhecida vantagem em que ocorra sem essas limitações
– art.º 103º n.º1/2 a) b) c).

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Sobre a prática de atos fora do prazo, o art.º 107º e 107º-A CPP + 139º n.º5 e 104º e ss CPC, regulam esta
matéria. Optando o sujeito processual pelo pagamento da multa correspondente, cfr art.º 25º n.º3 Portaria
419º-A/2009.

A data da prática corresponde a data de expedição do correio eletrónico independentemente da hora de


abertura e do encerramento dos tribunais – art.º 144º n.º1, 137º n.º3 CPP

Havendo vários arguidos ou assistentes, quando o prazo para a prática de atos subsequentes à notificação
termine em dias diferentes, o ato pode ser praticado por todos ou por cada um deles até ao termo do prazo
que começou a correr em último lugar – art.º 113º n.º13

Acesso ao conteúdo dos atos


Sendo o inquérito a fase processual onde normalmente se aplicam as medidas de coação, o acesso ao
conteúdo nesta fase assume particular relevo.

O arguido, assistente ou o ofendido podem requerer ao JIC a sujeição do processo a segredo de justiça
quando entenderem que a publicidade prejudica os seus direitos – art.º 86º n.º1 e n.º2

Ademais, sempre que o MP entender que os interesses da investigação ou os direitos dos sujeitos o
justifiquem, pode determinar a aplicação ao processo, durante a fase de inquérito, do segredo de justiça,
ficando essa decisão sujeita a validação do juiz no prazo de 72h – art.º 86º n.º3, n.º4 e n.º5.

O segredo de justiça não impede a prestação de esclarecimentos públicos pela autoridade judiciária,
quando forem necessários ao restabelecimento da verdade e não prejudicarem a investigação. Esta prestação
de esclarecimentos depende de pedido daqueles que forem publicamente visados ou da necessidade de
garantir a segurança de pessoas e bens ou a tranquilidade pública – art.º 86º n.º 13 a) e b).

Segundo o art.º 86º n.º14, através dos esclarecimentos públicos prestados pela autoridade judiciária, a
determinada pessoa, se esta assumir a qualidade de suspeito, esta pessoa tem o direito a ser ouvida no
processo, a seu pedido, num prazo razoável com salvaguarda dos interesses da investigação.

Sendo o inquérito a fase processual onde normalmente são aplicadas as medidas de coação, o acesso ao
conteúdo dos autos nessa fase assume particular relevo sobretudo no que toca à possibilidade de o arguido
reagir contra o despacho que decretou ou manteve essas medidas – art.º 194º; 67º-A n.º8.

Quem, independentemente de ter tomado contacto com o processo, ilegitimamente der conhecimento, no
todo ou em parte, do teor de ato de processo que se encontre coberto por segredo de justiça, ou a cujo
decurso não for permitida assistência do público em geral, é punido nos termos do art.º 371º CP.

O arguido e o seu defensor podem consultar os elementos do processo determinantes da aplicação da


medida de coação ou de garantia patrimonial, à exceção do TIR, durante o interrogatório judicial e no prazo
previsto para a interposição de recuso – art.º 194º n.º8, 196º,141º,143º,144º.

A publicidade do processo encontra-se espelhada nos direitos de assistência pelo público em geral, à
realização do debate instrutório e dos atos processuais na fase de julgamento – art.º 61º n.º1 a), 86º n.º6 a),
87º e 321º CPP; art.º 6º n.º1 CEDH – na narração dos atos processuais, ou reprodução dos seus termos,
pelos meios de comunicação social – art.º 86º n.º6 b) e 88º - e na consulta do auto e obtenção de cópias,
extratos e certidões de quais prazos dele – art.º 86º n.º6 c), 89º e 90º.

Quando o processo não se encontrar em segredo de justiça – art.º 86º n.º1 – ou quando o mesmo for
levantado – art.º 86º n.º4 e 5 – o arguido, assistente, ofendido, lesado e o responsável civil podem requerer
à autoridade judiciaria competente o exame gratuito dos autos fora da secretaria – art.º 89º n.º4 e 5º CPP,
165º e 166º CPC.

Durante o inquérito, os requerimentos para exame dos autos fora da secretaria devem ser dirigidos ao MP,
que tem competência para decidir, por despacho fundamentado, considerando o dever geral de
fundamentação – art.º 97º n.º3 e 5º CPP.

No que diz respeito à obtenção de extratos, cópias ou certidões – art.º 9 RCP. O custo dos atos avulsos é
pago imediatamente ou 10 dias após notificação para o efeito – n.º6.

29
Encerramento do inquérito
Prazos de duração máxima
Por imperativo constitucional, todos os cidadãos têm direito a que uma causa em que intervenham seja
objeto de decisão em prazo razoável – art.º 20º n.º4 CRP – e para além disso, devem ser julgados no mais
curto prazo possível compatível com as garantias de dessa – art.º 32º n.º2 CRP. Cfr. Ainda o art. º 6 CEDH,
art.º 47º CDFUE, art.º 14º n.º2 c) PIDCP, art.º 26º n.º3 LOSJ

Concomitantemente, o MP deve encerrar o inquérito, arquivando-o ou deduzindo acusação nos prazos:


• De 6 meses, salvo se houver arguidos presos ou sob obrigação de permanência de habitação – art.º
201º,202º
• Ou de 8 meses, se não os houver.

Convém registar que os prazos para o decurso de inquérito de 6 e 8 meses podem ser dilatados nos
termos e limites determinados no art.º 276º n.º2/3.

Sendo o prazo de 6 meses:


• É elevado para 8 meses – quando o inquérito tiver por objeto um dos crimes referidos no art.º 215º
n.º2
• Para 8 meses – quando, independentemente do tipo de crime, o procedimento se revelar de
excecional complexidade de acordo com o art.º 215º n.º3
• Para 12 meses – nos casos do art.º 215º n.º3

Sendo o prazo de 8 meses:


• É elevado para 14 meses – quando o inquérito tiver por objeto um dos crimes do art.º 215º n.º2
• Para 16 meses – quando, independentemente do tipo de crime, o procedimento se revelar de
excecional complexidade de acordo com o art.º 215º n.º3
• Para 18 meses – nos casos previstos no art.º 215º n.º3

Neste âmbito, o prazo conta-se a partir do momento em que o inquérito tiver passado a correr contra pessoa
determinada ou em que se tiver verificado a constituição de arguido".(art. 276°, n° 4).

Suspensão dos prazos máximos de duração do inquérito


O n° 5, do art. 276º, estabelece que em caso de expedição de carta rogatória, o decurso dos prazos acima
mencionados suspende-se até à respetiva devolução. Para além disso, o período total de suspensão, em cada
processo, não pode ser superior a metade do prazo máximo que corresponder ao inquérito. Ao contrário do
que se verifica no processo comum, no domínio do processo especial abreviado, o inquérito, existindo, é
sumariamente realizado (cfr. o art. 391-A, n° 1).

Violação dos prazos de duração máxima do inquérito


Recordamos que, quando o processo penal não tiver conduzido à acusação dentro de 8 meses a contar da
notícia do crime, o pedido de indemnização civil pode ser deduzido em separado, perante o tribunal civil
(art. 72º, n° 1, al. a), 1parte).

Por outro lado, a prisão preventiva extingue-se quando, desde o seu início, tiverem decorrido 4 meses sem
que tenha sido deduzida acusação (art. 215° n.º1 a).

Por força do art.º 89º n.º6, terminado os prazos de duração máxima do inquérito, o arguido, ofendido e
assistente podem consultar todos os elementos do processo que se encontre em segredo de justiça. Só não
será assim se o JIC o determinar a requerimento do MP, que o acesso aos autos seja adiado por um período
máximo de meses apenas por uma vez, em casos específicos: terrorismo, criminalidade violenta,
criminalidade especialmente violenta e altamente organizada.

Violando-se o art.º 89º n.º6 ou qualquer prazo do art.º 276º n.º1 a 3º, o magistrado titular do processo deve
comunicar ao superior hierárquico de imediato, indicando as razões que explicam o atraso e o período
necessário para concluir o inquérito. Neste caso, o superior hierárquico dá conhecimento ao PGR, arguido
e ao assistente da violação do prazo e do período necessário.

Recebida a comunicação, o PGR pode determinar oficiosamente, ou a requerimento do arguido ou do


assistente, o desencadeamento do incidente da aceleração processual – art.º 276º n.º8 e 109º.

30
Tratando-se de um atraso considerável ,os sujeitos podem propor ação de responsabilidade civil contra o
Estado – art.º 22º CRP.

Despachos de encerramento do inquérito


Qualquer despacho de encerramento do inquérito, como ato decisório, deve ser fundamentado com uma
exposição das razões de facto e de direito que levaram o MP a decidir-se, de acordo com a prova recolhida
durante toda a fase – art.º 97º n.º3 a 5º CPP; 205º n.º1 CRP; art.º 24º n.º1 LOSJ.
A falta de fundamentação é uma mera irregularidade – art.º 123º

Sendo o disposto do art.º 380º relativo à correção da sentença, aplicável aos atos decisórios do MP,
conforme o n.º3, naturalmente que abrange, entre outros, os despachos de encerramento.

As nulidades relativas à insuficiência do inquérito de acordo com o art.º 120º n.º2 d) podem ser arguidas
até ao encerramento do debate instrutório ou, não havendo lugar a instrução, até 5 dias após a notícia do
despacho que tiver encerrado o inquérito – art.º 121º c); 122º

Arquivamento do inquérito
Fundamentos
De acordo com o art.º 277º n.º1/2, o MP procede por despacho ao arquivamento do inquérito quando:
• Tiver recolhido prova bastante que demonstre não se ter verificado crime, de o arguido não ter
praticado a qualquer título ou de ser legalmente inadmissível o procedimento – art.º 49º50/115º-
116º CP/ 118º/127º

Sempre que se verificar que existiu por parte de quem denunciou ou exerceu um alegado direito de queixa
abusiva, o juiz condena-o ao pagamento de uma multa entre 6 a 20 UC- art.º 277º n.º5/520º CPP e 365º/366º
CP.
• No final do inquérito não lhe tiver sido possível obter indícios suficientes da verificação de
crime ou de quem foram os agentes – art.º 283º n.º2

O processo deve ainda ser arquivado se, para conhecer de um crime, não forem competentes os tribunais
portugueses – art.º 33º n.º4

O MP só pode proferir despacho de arquivamento se o processo decorrer por um crime semipúblico ou


público. Se for um crime particular, o MP deve cumprir com o disposto no art.º 285º n.º1 – ou seja, se o
assistente não deduzir acusação particular ou pelos factos que não constem dessa acusação.

Efeitos do arquivamento:
• Se tal for requerido, o JIC pode declarar a perda a favor do Estado, de bens apreendidos durante o
inquérito – art.º 268º n.º1 e) e n.º2
• Extinção de imediato das medidas de coação – art.º 214º n.º1 a)
• O lesado pode deduzir PIC em separado perante o tribunal civil – art.º 72º n.º1 b) + 277º n.º3
• Cessação do estatuto de vítima de violência doméstica

Comunicação
O despacho de arquivamento é comunicado ao arguido, assistente, denunciante com faculdade de se
constituir como assistente, e a quem tenha manifestado o propósito de deduzir PIC – art.º 75º - bem
como o respetivo advogado – artº. 277º n.º3.

Sempre que a vítima – art.º 67º-A – solicite junto da entidade competente para o efeito, deve ser-lhe
assegurada informação, sem atrasos injustificados – art.º 11º n.º6 a) subalínea i) EV.

A comunicação do despacho efetua-se da seguinte forma:


a) Quanto ao assistente e arguido: por notificação mediante contacto pessoal ou via postal registada
– art.º 145º n.º5, art.º 196º n.º5/6, n.º2 e n.º3 c), art.º 277º n.º4 a)
a. Se o arguido não tiver defensor nomeado ou advogado constituído e não for possível a
sua notificação mediante contacto pessoal, via postal simples ou registada, a
comunicação do despacho de arquivamento efetua-se por editais – art.º 277º n.º4 b)
b. A notificação edital é feita mediante afixação de um edital na porta da última residência
– art.º 113º n.º1 d) e 13
c. Tratando-se de pessoa coletiva ou entidade equiparada – art.º 113º n.º16º e 17º

31
b) Quanto ao denunciante com a faculdade de se constituir assistente e que tenha manifestado o
propósito de deduzir PIC: por notificação mediante via postal simples – art.º 277º n.º4 c); 145º
n.º5,6 e 113º n.º1 c) e n.º3/4
c) Sempre que o inquérito não corra contra pessoa determinada: a comunicação faz-se por notificação
mediante via postal simples – art.º 277º n.º4 d), 113º n.º5
d) As notificações ao advogado ou defensor nomeado: quando outra forma não resultar da lei,
efetuam-se por via eletrónica -art.º 113º n.º11 e n.º1 a),b) e c), presumindo-se feitas no terceiro dia
posterior ao seu envio, quando seja útil

As notificações via postal registada consideram-se feitas no terceiro dia posterior – art.º 113º n.º12 e 2º

Consulta dos autos após o despacho de arquivamento


A Lei n.º48/2007 alterou significativamente os regimes jurídicos relativos ao segredo de justiça, na fase de
inquérito, e à consulta dos autos e obtenção de certidão e informação por sujeitos ou participantes
processuais – art.º 86º e 89º

O art.º 89º n.º1 prescreve que, durante o inquérito, o arguido, assistente, ofendido, lesado e o responsável
civil podem, mediante requerimento, consultar o processo ou os elementos dele constantes, podendo obter
em formato de papel ou digital, os correspondentes extratos, cópias ou certidões, bem como aceder ou obter
cópia das gravações áudio + 72º n.º1 b). O assistente, ou ofendido, pode ter acesso aos autos após o despacho
de arquivamento.

Reações possíveis ao despacho de arquivamento


• Requerimento para abertura de instrução
Se o MP proferir despacho de arquivamento, ao assistente fica vedada a possibilidade de deduzir acusação
de acordo com o art.º 284º, restando-lhe a faculdade de requerer a abertura da instrução no prazo de 20 dias
a contar da notificação do arquivamento – art.º 287º n.º1 b) com vista a obter a pronúncia do arguido.

O denunciante com faculdade de se constituir assistente pode requerer simultaneamente a sua constituição
e a abertura da instrução – art.º 68º n.º3.

Tenhamos em atenção que o assistente só pode requerer a abertura da instrução quando estejam em causa
crimes públicos e semipúblicos, apenas relativamente aos factos pelos quais o MP não tiver deduzido
acusação.

• Intervenção hierárquica
Conforme o art.º 278º n.º1, no prazo de 20 dias a contar da data em que a abertura da instrução já não puder
ser requerida, o imediato superior hierárquico do magistrado do MP – que proferiu o despacho de
arquivamento – pode determinar que seja formulada acusação ou que as investigações prossigam.

A intervenção pode ser oficiosa ou provocada. Com efeito, este procedimento pode ocorrer:
a) Por iniciativa do próprio superior hierárquico – art.º 12º,13º,14º e 97º EMP
b) A requerimento do assistente ou do denunciante com a faculdade de se constituir assistente

O art.º 278º n.º2 estipula que o assistente e o denunciante podem opar por não requerer a abertura da
instrução – art.º 287º n.º1 b), e suscitar a intervenção hierárquica.

Quando se tratar de um processo de especial complexidade, o prazo previsto para requerer a abertura da
instrução é aumentado em 30 das, sendo que, quando a excecional complexidade o justifique, o juiz, a
requerimento pode fixar um prazo superior – art.º 107º n.º6, 215º n.º3

• Reabertura do inquérito
Esgotado o prazo do art.º 278º, o inquérito só pode ser reaberto se surgirem novos elementos de prova que
invalidem os fundamentos invocados pelo MP no despacho de arquivamento – art.º 277º n.º1/2. Do
despacho do MP que deferir ou recusar a abertura do inquérito, há reclamação – no prazo de 10 dias
conforme o art.º 105º n.º1 – para o superior hierárquico imediato – art.º 279º n.º1/2

A reabertura do inquérito pode ser determinada oficiosamente pelo MP ou a requerimento de qualquer


interessado.

32
Arquivamento em caso de dispensa de pena
Os casos em que admitem dispensa de pena são casos de culpa muito diminuta, em que não se justifica a
aplicação de qualquer sanção criminal, podendo o MP decidir arquivar o processo.

O regime previsto no art.º 280º é aplicável aos processos especiais sumário e abreviado – art.º 384º n.º1
e 391º-B n.º4 respetivamente.

A decisão de dispensa de pena pode ser tomada no decurso do inquérito ou da instrução, sendo certo que
em ambas as fases processuais, conduz ao arquivamento do processo impondo-se, nesses casos, a garantia
constitucional da presunção de inocência do arguido – art.º 32º n.º2 CRP

O arquivamento em caso de dispensa de pena, dado o caráter da decisão, não é suscetível de impugnação –
art.º 280º n.º3 – não implica o pagamento de taxa de justiça – art.º 516º - nem está sujeita a registo criminal.

Se a decisão de dispensa de pena for tomada pelo tribunal de julgamento, trata-se de uma verdadeira
sentença condenatória, na medida em que declara o arguido culpado, sendo que não obstante não existir
qualquer pena a cumprir após o trânsito em julgado, faz cessar a presunção de inocência – art.º 32º n.º2.
neste caso, o arguido tem de pagar as custas e os encargos a que a sua atividade tiver dado lugar – art.º 375º
n.º3, 513º n.º4, 514º n.º1 – estando a decisão de dispensa sujeita a inscrição no registo criminal – art.º 6º
da Lei n.º 37/2015.

O PIC pode ser deduzido em separado, perante o tribunal civil, quando, entre outros motivos, o processo
penal tiver sido arquivado – art.º 72º n.º1 b) e n.º2

Durante o inquérito
Segundo o disposto no art.º 280º n.º1, com a concordância do juiz de instrução, pode decidir-se pelo
arquivamento do processo:
• Se o processo for por crime relativamente ao qual se encontre expressamente prevista na lei penal
a possibilidade de dispensa da pena
o A dispensa de pena é admissível quando o crime em causa for punível com pena de prisão
não superior a 6 meses, ou só com multa não superior a 120 dias.
• Se verificarem os respetivos pressupostos:
o A ilicitude do facto e a culpa do agente forem diminutas
o O dano tiver sido reparado
o Não se opuserem razões de prevenção à dispensa de pena – art.º 74º n.º1 a), b), c) CP

Para que o MP possa colocar fim ao processo utilizando este expediente legal, é necessário que existam
indícios da prática do crime e da responsabilidade do arguido, todavia, verificados os pressupostos de
dispensa de pena, a lei concede a possibilidade de arquivar o processo. Se, pelo contrário o crime e a
responsabilidade não estiverem suficientemente indiciadas, a decisão do MP há-de ser tomada no âmbito
do art.º 277º e não do art.º 280º.

O MP não pode arquivar se não obtiver a concordância do juiz – art.º 268º n.º1 f) e n.º2

Durante a instrução
Se a acusação já tiver sido deduzida, o juiz de instrução pode, enquanto esta está a decorrer, arquivar o
processo com a concordância do MP – art.º 219º n.º1 CRP – e do arguido, se se verificarem os requisitos
do art.º 280º n.º2.

Neste caso, é o JIC que profere o despacho de arquivamento com a concordância do MP e do arguido. Tal
como no inquérito, para que o JIC possa arquivar, é fundamental que estejam reunidas as condições
para que confirme a decisão de deduzir acusação em ordem a submeter a causa em julgamento.
Portanto, o juiz deve averiguar esse existem indícios suficientes – art.º 283º n.º2 – dos pressupostos de
aplicação ao arguido de uma pena ou medida de segurança e se se verificam os pressupostos de dispensa
de pena – art.º 286º n.º1, 307º n.º2, 308º n.º1.

Suspensão provisória do processo


De acordo com o art.º 281º n.º1, se o crime for punível com pena de prisão não superior a 5 anos o com
sanção diferente de prisão, o MP determina, com a concordância do JIC, a suspensão do processo, mediante
a imposição ao arguido de injunções e regras de conduta, se se verificarem os seguintes pressupostos:

33
a) Concordância do arguido e do assistente
A concordância é um ato pessoal e como tal não pode ser exercido por intermédio de defensor – art.º 63º.
Deve ser resultado de uma vontade livre e esclarecida – art.º 126º, 64º

b) Ausência de condenação anterior por crime da mesma natureza


c) Ausência de aplicação anterior de suspensão provisória de processo por crime da mesma
natureza
d) Não haver lugar a medida de segurança de internamento
e) Ausência de um grau de culpa elevado. Cfr comas devidas adaptações ao art.º 71 n.º2 e 72º
CP
f) Ser de prever que o cumprimento das injunções e regras de conduta respondam
suficientemente às exigências de prevenção que no caso se façam sentir

Tal como no arquivamento em caso de dispensa de pena, é necessário que o MP tenha reunido indícios
suficientes da prática do crime e de quem foram os seus agentes. Se tal se verificar, mas não for possível
reunir as condições para aplicação da suspensão provisória do processo, deve ponderar-se a dedução de
acusação em processo sumaríssimo.

De referir que a instrução pode ser requerida com vista a obter uma decisão instrutória de suspensão
provisória do processo, mas nesse caso, com a concordância do MP: art.º 307º n.º2, 287º n.º1 a).

Impugnação
À semelhança do arquivamento em caso de dispensa de pena, também a decisão de suspensão por se tratar
de uma decisão consensual de todas as partes processuais, não é suscetível de impugnação – art.º 280º
n.º3 e 281º n.º7

Por um lado, porque esta decisão é proferida no âmbito de um poder discricionário e por outro lado, não
consubstanciando um despacho judicial, não é suscetível de recurso nos termos do art.º 399º e 97º sendo
apenas impugnável pelo interessado através de reclamação hierárquica – art.º 278º

Faltando a concordância do JIC, tudo se passa como se o MP não tivesse suspendido o processo devendo
este seguir os seus trâmites normais.

Injunções e regras de conduta


São oponíveis ao arguido as várias alíneas do art.º 281º n.º2, cumulativa ou separadamente:
a) Indemnizar o lesado
b) Dar ao lesado satisfação moral adequada
c) Entregar ao Estado, a instituições privadas de solidariedade social, associação de utilidade pública
ou associações zoófilas legalmente constituídas certa quantia

Duração e efeitos
A suspensão pode ir até 2 anos, com exceção dos processos por crime de violência doméstica e contra a
liberdade e autodeterminação sexual de menor. Nestes dois casos, a duração da suspensão pode ir até 5 anos
– art.º 282º n.º1 e 5º, 281º n.º 8 e 9 CPP, 178´n.º5 CP

O legislador não estabeleceu nenhum prazo mínimo de duração da suspensão, sendo certo que esta pode
ser imediata – art.º 281º n.º2 a).

A prescrição do procedimento criminal não corre no decurso do prazo de suspensão do processo – art.º
282º n.º2 CPP e 118º e ss do CP – voltando a correr a partir do dia em que cessar a suspensão.

Se o arguido cumprir as injunções e as regras de conduta, o MP arquiva o processo, não podendo este ser
reaberto – art.º 282º n.º3

Se o arguido não cumprir as injunções e regras de conduta, ou se durante o prazo de suspensão cometer
outro crime da mesma natureza, o processo prossegue e as prestações feitas não podem ser repetidas – art.º
282º n.º4 a) b).;

Se o processo tiver sido suspenso não há pagamento de taxa de justiça – art.º 516º

34
Durante o inquérito compete exclusivamente ao JIC: declarar a perda, a favor do Estado, de bens
aprendidos, quando o MP proceder ao arquivamento do inquérito – art.º 268º n.º1 e) e n.º2 CPP; 109º a
112º-A CP

O PIC pode ser deduzido em separado – art.º 72º n.º1 b) n.º2

Acusação pelo MP
Compete em especial ao MP deduzir acusação e sustentá-la efetivamente na instrução e no julgamento –
art.º 53 n.º2 c). Se durante o inquérito tiverem sido recolhidos indícios suficientes de se ter verificado crime
e de quem foi o seu agente, o MP, no prazo de 10 dias, após a conclusão do inquérito deduz acusação contra
aquele – art.º 283º n.º1 Pressupõe que seja um crime público e semipúblico

Se o crime for particular o MP deve notificar o assistente do encerramento do inquérito de acordo com o
art.º 285º n.º1, sendo que este no prazo de 5 dias tem de apresentar acusação particular, podendo o MP
também acusar dentro dos condicionalismos do art.º 285º n.º4.

Após realizar inquérito sumário o MP pode deduzir acusação para julgamento em processo abreviado,
quando verificados todos os requisitos do art.º 391º-A. Neste caso, a acusação deve ser deduzida no prazo
de 90 dias a contar da aquisição do crime – art.º 241º - ou da apresentação da queixa – art.º 391º-B n.º2 a)
e b)

Para deduzir acusação, para além dos indícios suficientes, o MP tem de ter legitimidade para o fazer – art.º
48º.

Em caso de conexão de processos é deduzida uma só acusação – art.º 283º n.º4 e 24º e ss. Cfr. Ainda art.º
16º n.º3 e n.º4

A acusação é um pressuposto indispensável da fase de julgamento, já que serve como instrumento de


fixação do objeto do processo. Nos crimes públicos e semipúblicos, quem tem o domínio da determinação
do objeto do processo é o MP.

Quando for proferido despacho de acusação, o juiz deve proceder ao reexame dos pressupostos da prisão
preventiva ou da obrigação de permanência na habitação, decidindo se essas medidas devem ou não ser
mantidas – art.º 213º n.º1 b).

Após a acusação, o MP, assistente ou arguido podem requerer a suspensão do processo nos termos e para
os efeitos indicados no art.º 7

Indícios suficientes
Consideram-se suficientes os indícios sempre que deles resultar uma possibilidade razoável de ao arguido
vir a ser aplicada por força deles, em julgamento, uma pena ou uma medida de segurança – art.º 283º n.º2.
Assim, se o MP não tiver recolhido indícios suficientes deve proferir despacho de arquivamento.

As provas obtidas durante a fase de inquérito e de instrução, têm o mesmo valor – art.º 291º n.º3, 298º e
302º n.º2/4. Na fase de julgamento, para a formação da convicção do tribunal, só valem as provas que
tiverem sido produzidas ou examinadas em audiência – art.º 355º n.º1.

Consulta do processo após despacho de acusação


De acordo com o art.º 89º n.º1 o arguido, ofendido, assistente, lesado ou responsável civil podem ter cesso
ao conteúdo dos autos, para consulta, bem como para obter cópias do processo. A vítima, segundo o art.º
11º n.º5 EV também tem esse direito.

Quanto à possibilidade de exame do processo fora de secretaria, rege o n.º4 e 5º do art.º 89º, que nos diz
que após este se tornar público as partes podem requerer o exame gratuito fora do tribunal.

Elementos
De acordo com o art.º 283º n.º3, a acusação do MP contém, sob pena de nulidade – art.º 120º, 121º:
a) As indicações tendentes à identificação do arguido; art.º 11 CP, 311º n.º2, a) e n.º3 a); 141º n.º3;
342º n.º1 e 3º CPP

35
b) A narração, ainda que sintética, dos factos que fundamentam a aplicação ao arguido de uma pena
ou de uma medida de segurança, incluindo, se possível, o lugar, o tempo e a motivação da sua
prática, o grau de participação que o agente neles teve e quaisquer circunstâncias relevantes para
a determinação da sanção que lhe deve ser aplicada; art.º 311º n.º2 a) e n.º3 b)
c) As circunstâncias relevantes para a atenuação especial da pena que deve ser aplicada ao arguido
ou para a dispensa da pena em que este deve ser condenado;
d) A indicação das disposições legais aplicáveis; art.º 32º n.º1 Constituição Política; art.º 311º n.º2 a)
e n.º3 c)
e) O rol com o máximo de 20 testemunhas, com a respetiva identificação, discriminando-se as que
só devam depor sobre os aspetos referidos no n.º 2 do artigo 128.º, as quais não podem exceder o
número de cinco; art.º 215º n.º2, 283º n.º3 e), n.º7 e 128º n.º2; 340º n.º4 d), 283º n.º8; 133º; 316º
e 311º n.º2 a) e 3 c)
f) A indicação dos peritos e consultores técnicos a serem ouvidos em julgamento, com a respetiva
identificação; art.º 151º, 316º n.º3, 311º n.º2 a) n.º3 c)
g) A indicação de outras provas a produzir ou a requerer; art.º 311º n.º2 a) n.º3 c); 340º n.º1/2
h) A indicação do relatório social ou de informação dos serviços de reinserção social, quando o
arguido seja menor, salvo quando não se mostre ainda junto e seja prescindível em função do
superior interesse do menor; art.º 1 g) e h), art.´58º n.º8, 61º n.º1 i), n.º3, 4,5; 87º n.º3; 90º n.º2;
103º n.º2 e b), 194º n.º11
i) A data e assinatura. Art.º 94º n.º3 CPP; 19º n.º2 Portaria n.º280/2013

Do despacho de acusação do MP deve ainda constar, sendo caso disso:


• O PIC – art.º 76º n.º3 e 77º n.º1; 72º n.º1 d)
• O pedido de intervenção de intervenção do tribunal do júri – art.º 13º n.º3
• O pedido de intervenção do tribunal singular – art.º 16º

Compete a este tribunal julgar os processos previstos no art.º 14º n.º2 b), mesmo em caso de concurso de
infrações, quando o MP, na acusação entender que não deve ser aplicada, em concreto, pena de prisão
superiora. 5 anos. Nesse caso, o tribunal não pode aplicar pena de prisão superior a essa – art.º 16º n.º3 e
n.º4

• A nomeação de defensor – se o arguido não tiver constituído nem advogado nem defensor. O MP
deve informar o arguido de que, caso seja condenado, é obrigado a pagar os honorários do defensor
oficioso – art.º 64º n.º4
• A pronúncia sobre a necessidade – ou não – de aplicação ou alteração da medida de coação
– art.º 191º, 213º n.º1 b). O mesmo para as medidas de garantia patrimonial – art.º 227º, 228º.
• A requisição do certificado de registo criminal do arguido se ainda não estiver junto – art.º 274º
• A liquidação do montante apurado como devendo ser perdido a favor do Estado – art.º 8º n.º1
Lei 5/2002
• Tratando-se de crime de violência doméstica, o MP obrigatoriamente promove a reavaliação de
risco nas subsequentes fases do processo designadamente aquando da prolação do despacho que
designa dia para o julgamento – art.º 34º-A Lei 112/2009
• Em todas as ações penais por atos que tenham determinado incapacidade para o exercício
da atividade profissional, ou morte, o MP, quando deduza a acusação ou se pronuncie sobre
acusação particular, deve indicar a qualidade de beneficiário da Segurança Social do fendido e
identificar a instituição que o abranja – art.º 2 n.º1 DL .º 59/89

Comunicação
O despacho de acusação deve ser comunicado ao arguido, assistente, denunciante e a quem tiver
manifestado intenção de deduzir PIC – art.º 75º - bem como ao advogado/defensor, prosseguindo o processo
quando os procedimentos de notificação se tenham revelado ineficazes – art.º 277º n.º3 + 283º n.º5

Estas comunicações efetuam-se mediante contacto pessoal ou via postal registada. É o MP competente
para proceder ao despacho – art.º 283º n.º6 e 113º n.º1 c). 196º n.º3; 145º n.º5/6

A notificação da acusação tem grande importância designadamente para efeitos de suspensão e interrupção
do procedimento criminal. A prescrição do procedimento criminal suspende-se, nomeadamente durante o
tempo em que o procedimento criminal estiver pendente a partir da notificação da acusação.

36
A suspensão não pode ultrapassar os 3 anos, sendo que a partir do dia em que cessar a suspensão, a
prescrição volta a correr.

Para além disso, com a notificação de acusação, a prescrição do procedimento criminal interrompe-se sendo
que depois de cada interrupção o prazo começa a correr de novo – art.º 121º n.º1 b) e n.º2 CP. O limite
máximo consta do art.º 121º n.º3

A falta de notificação constitui nulidade dependente de arguição – art.º 120º n.º2 d)

Reações possíveis ao despacho


• Arguido: pode pedir RAI, no prazo de 20 dias a contar da acusação – art.º 287º n.º1 a) qualquer
que seja a natureza do crime em causa
• Assistente: após 10 dias a contar da acusação do MP pode também deduzir acusação nos termos
do art.º 284º e/ou, no prazo de 20 dias pedir RAI – art.º 287º n.º1 b) se o crime em causa for
público o semipúblico, quanto aos factos que o MP não tenha apresentado acusação.
• Quem tiver manifestado intenção de deduzir PIC – art.º 75º: se quem foi informado de que
podia deduzir PIC – art.º 75º n.º1 – ou, não o tendo sido, se considere lesado e o manifestou no
processo, até ao encerramento do inquérito, o propósito de o fazer, após a notificação do despacho
de acusação pelo MP – art.º 377º n.º3, 283º n.º5 – pode deduzi-lo em requerimento articulado em
20 dias – art.º 75ºn.º2, 77º n.º2. se não tiver manifestado – art.º 77º n.º3
• Possível nulidade da própria acusação: conforme o art.º 283º n.º3, se faltar algum dos
elementos, a acusação é nula. Art.º 311º n.º2 a) e n.º3

Acusação pelo assistente


Nos crimes públicos e semipúblicos
Até 10 dias após a notificação da acusação do MP, o assistente pode também deduzir acusação pelos factos
acusados pelo MP, por parte deles ou por outros que não importem uma alteração substancial daqueles –
art.º 284º n.º1.

Ou seja, a acusação do assistente pode restringir ou ampliar os factos em que assentou a acusação do MP,
desde que tais alterações não alterem substancialmente o processo.

Se o assistente pretender introduzir factos novos que alterem substancialmente o objeto do processo –
delimitado na acusação do MP – deve pedir RAI – art.º 287º n.º1 b).

A acusação do assistente prevista no art.º 284º é facultativa, no entanto, quando é deduzida é sempre
subordinada e complementar à do MP – art.º 69º n.º2 a) e b).

Elementos
De acordo com o art.º 284º n.º2, resulta que a acusação do assistente por crimes públicos e semipúblicos
deve abranger os elementos constantes da acusação pública, previstos no art.º 283º n.º3,7 e 8 sob pena de
nulidade com as seguintes modificações:
a) A acusação do assistente pode limitar-se a mera adesão à acusação do Ministério Público;
b) Só são indicadas provas a produzir ou a requerer que não constem da acusação do Ministério
Público. Art.º 340º n.º1/2

Conjuntamente com a apresentação da acusação o assistente:


a) Pode pedir a sua constituição como tal – art.º 68º n.º3 b)
b) Pode deduzir PIC – art.º 74º n.º1, 77º n.º1. no entanto, se não houver ainda danos ao tempo da
acusação, estes não forem conhecidos ou não forem conhecidos em toda a sua extensão, o pedido
pode ser deduzido perante o tribunal civil, em separado – art.º 72º n.º1 d)
c) Pode requerer a intervenção do tribunal do júri – art.º 13º n.º3
d) Se for lesado, pode requerer uma medida de garantia patrimonial – art.º 227º/228º

Nos crimes particulares


Findo o inquérito, o MP notifica o assistente para que este deduza em 10 dias, querendo, a acusação
particular – art.º 285º n.º1

A omissão da notificação ao assistente do encerramento do inquérito constitui nulidade dependente de


arguição – art.º 120º n.º2 d) e 122º n.º1/2

37
Se o assistente deduzir a sua acusação em momento anterior à notificação MP, gera uma irregularidade
processual por força do art.º 285º n.º1 a ser declarada pelo MP.

Nos crimes particulares, é o assistente quem tem de promover o andamento dos autos, deduzindo acusação
particular – art.º 50º n.º1. Se não o fizer, o MP terá que arquivar o processo por falta de legitimidade para
prosseguir com o mesmo – art.º 69º n.º2 a) e b).

Mesmo tratando-se de crimes particulares, o MP deve proceder oficiosamente a quaisquer diligências que
julgar indispensáveis à descoberta da verdade e couberem na sua competência – art.º 219º CRP
O MP deve participar em todos os atos processuais em que intervier a acusação particular, acusar
conjuntamente com esta e recorrer autonomamente das decisões judiciais – art.º 50º n.º2 e 53º n.º2 c).

Consulta dos autos


Art.º 89º n.º1 – o assistente pode agora solicitar em formato papel ou digital os autos, de forma a ter
conhecimento do desenvolvimento da atividade investigatória levada a cabo durante o inquérito – art.º 285º
n.º2.Se o MP recolher indícios suficientes, o assistente deve deduzir acusação particular em virtude de
ser condenado em custas – art.º 283º n.º2, 515º n.º1 d).

Elementos
A acusação deve conter os elementos constantes da acusação pública – art.º 283º n.º7 e 8º sob pena de
nulidade – art.º 120º 121º

Se o assistente sofreu danos ocasionados poderá deduzir PIC conjuntamente com a acusação ou mais tarde
– art.º 74º n.º1, 77º n.º1, 72º n.º1 d).

O assistente pode ainda requerer uma medida de garantia patrimonial nos termos do art.º 227º e 228º se for
lesado.

Posição do MP quanto à acusação particular


O MP pode, nos 5 dias posteriores à apresentação da AP, acusar pelos mesmos factos, por parte deles ou
por outros que não importem uma alteração substancial daqueles – art.º 285º n.º4.

Nos crimes particulares, a determinação do objeto do processo cabe ao assistente, assim, a acusação do MP
encontra-se condicionada aos factos constantes da acusação do assistente. Desta feita, quando o processo
é remetido para julgamento, o presidente deve rejeitar a acusação do MP, na parte em que esta representar
uma alteração substancial dos factos – art.º 311º n.º2 b).

O MP deve informar o assistente se, durante a fase de investigação, foram recolhidos indícios suficientes
da verificação do crime e de quem foram os seus agentes – art.º 285º n.º2

Desistência de acusação particular


O assistente pode deduzir da queixa e da acusação por si formulada – art.º 116º e 117º CP, art.º 51º CPP.

Custas processuais
A responsabilidade do assistente pelo pagamento de taxa de justiça emerge do art.º 515º, o qual determina
que é devida taxa de justiça:
a) No caso de o arguido ser absolvido ou não pronunciado por todos ou por alguns crimes constantes
da acusação que haja deduzido ou com que se haja conformado
b) Se decair, total ou parcialmente, em recurso que houver interposto ou em que tenha feito oposição;
c) Revogado
d) Se fizer terminar o processo por desistência ou abstenção injustificada de acusar;
e) Revogado
f) Se for rejeitada, total ou parcialmente, acusação que houver deduzido.

Destino dos autos


De acordo com o art.º 275º n.º3, concluído o inquérito o auto:
a) Fica à guarda do MP: art.º 277º,280º,281º, 282º n.º4
b) É remetido para o tribunal competente para a instrução ou para o julgamento – art.º 287º n.º1

38
CAPÍTULO VII – INSTRUÇÃO
Finalidade e âmbito
A instrução é uma fase processual que ocorre entre o inquérito e julgamento – regulada entre os art.º 286º
e 310º

Consoante o resultado da atividade investigatória, o MP encerra a fase de inquérito arquivando o processo


– art.º 277º - deduzindo acusação – art.º 283º ou proferindo um dos despachos do art.º 280º e 281º. O MP
pode ainda promover a remessa para a mediação penal – Lei n.º21/2007.

Tratando-se de um crime particular o assistente pode, findo o inquérito, deduzir acusação particular,
determinante para efeitos de prosseguimento do processo. Nesse caso, fica vedada a possibilidade do
assistente requerer abertura de instrução – art.º 285º + 287º n.º1 b).

Ou o arguido e assistente se conformam com a decisão de arquivamento ou de acusação e, nesse caso, o


processo passa à fase de julgamento, ou não se conformam e pedem RAI.

A instrução visa a comprovação judicial da decisão de deduzir acusação ou de arquivar o inquérito, devendo
o juiz praticar todos os atos necessários à realização dessa finalidade – art.º 286º n.º1 e 290º n.º1. assim, na
decisão instrutória, não se decide sobre a (ir)responsabilidade do arguido, mas apenas sobre a
admissibilidade da sua sujeição a julgamento.

A instrução tem caráter facultativo – art.º 286º n.º2. Termina com um despacho de pronúncia ou não
pronúncia. O JIC pode decidir no sentido de arquivamento em caso de dispensa de pena – art.º 280º n.º2
CPP + 74º CP – ou suspensão provisória do processo – art.º 307º n.º2 e 281º. Destaca-se o princípio do
juiz natural, da vinculação temática, contraditório e publicidade.

Processos especiais
Nos processos sumários, uma vez que são rápidos, não há instrução – art.º 286º n.º3.

No processo sumário não há instrução uma vez que o arguido é detido e é submetido a julgamento em
pouco tempo.
O processo sumaríssimo respeita apenas ao momento da aplicação da sanção. Se o arguido não aceitar, o
processo segue para outra forma que lhe caiba.
No processo abreviado, sendo pressuposto para a sua aplicabilidade a existência de provas simples e
evidentes, a instrução iria tornar o processo muito demoroso.

Conteúdo
É formada pelo conjunto dos atos de instrução que o juiz entenda dever levar a cabo e, obrigatoriamente,
por um debate instrutório, oral e contraditório, no qual pode participar o MP, o arguido, defensor, assistente
e o seu advogado – art.º 289º n.º1.

De acordo com o art.º 289º n.º2 e com o intuito de ampliar o princípio do contraditório dos sujeitos, as
pessoas supramencionadas têm a possibilidade de:
• Assistir aos atos de instrução por qualquer deles requeridos e suscitar pedidos de esclarecimento
• Requerer que sejam formuladas as perguntas que entenderem relevantes

As partes civis são excluídas do debate instrutório – art.º 289º n.º1.

A instrução pode ser apenas o debate e a decisão final. Assim acontecerá quando o juiz decidir que não se
devem realizar diligências.

Direção e competência
A direção cabe ao JIC – art.º 17º, 288º n.º1 CPP + 32º n.º4 CRP – ao qual compete a prática de todos os
atos necessários com vista à comprovação da decisão de deduzir acusação ou arquivar o inquérito, em
ordem a submeter, ou não, a causa de julgamento – art.º 290º n.º1, 286º n.º1.

No entanto, no decorrer da instrução, o JIC pode ser assistido pelos OPC, a quem pode conferir o encargo
de procederem a quaisquer diligências e investigações relativas à instrução, salvo tratando-se de
interrogatório do arguido, inquirição de testemunhas, e de atos que sejam exclusivos da competência do
juiz – art.º 268º n.º1, 270º n.º2 (+ 288º n.º1; 290º n.º2 + 9º n.2

39
As regras da competência relativas ao tribunal são aplicáveis ao JIC – art.º 288º n.º2 e 10º.

O despacho que declara a incompetência do tribunal é irrecorrível e determina a remessa para outro tribunal
que seja competente – art.º 34º, 35º e 36º CPP.

Nenhum juiz pode intervir em julgamento, recurso ou pedido de revisão relativo a processos em que tiver,
designadamente, dirigido a instrução, e ainda, quando tiver proferido ou participado em decisão de recurso
anterior que tenha conhecido, a final, do objeto do processo, entre outros, a decisão instrutória – art.º 40º
n.º1 b) e d).

Nulidades
Constitui nulidade insanável que deve ser oficiosamente declarada em qualquer fase do procedimento a
falta de instrução, nos casos em que a lei determina a sua obrigatoriedade – art.º 119º d). não obstante a
instrução ter caráter facultativo, a falta da mesma reporta-se por exemplo à omissão do debate instrutório.

A instrução é obrigatória quando requerida por sujeito com legitimidade para tal, dentro do prazo
legal.

A insuficiência da instrução, por não terem sido praticados atos legalmente obrigatórios e a omissão
posterior de diligências que pudessem reputar-se essenciais par aa descoberta da verdade, constitui nulidade
dependente de arguição que pode ser arguida até ao encerramento do debate instrutório – art.º 120º
n.º2 d) e n.º3 c), 121º, 122º.

Abertura da instrução
Arguido
Pode ser requerida no prazo de 20 dias a contar da notificação da acusação relativamente a factos pelos
quais o MP ou o assistente, em caso de procedimento dependente de acusação particular, tiverem deduzido
acusação – art.º 287º n.º1 a).

No entanto, quando o procedimento se revelar de excecional complexidade, devido nomeadamente, ao


número de arguidos ou ofendidos ou ao caráter altamente organizado do crime, o juiz, a requerimento,
pode prorrogar o prazo superior – art.º 107º n.º6 + 215º n.º3.

A presença do defensor é obrigatória sob pena de nulidade insanável – art.º 64º n.º1 c) e 119º c).

No prazo de RAI, o arguido pode requerer a intervenção do tribunal de júri – art.º 13º n.º3

Com a abertura da instrução, o arguido tem como propósito demonstrar a sua discordância relativamente à
acusação, por razões de facto ou de direito visando a sua rejeição. Nestes termos, o arguido pretende que o
juiz profira despacho de não pronúncia, de modo a evitar a sua submissão a julgamento.

Para ver satisfeita a sua pretensão, o arguido pode, ser for caso disso, indicar os atos de instrução que
pretende que o juiz leve a cabo, os meios de prova que não tenham sido considerados no inquérito e os
factos que, através de uns e de outros, espera provar – art.º. 287º n.º2.

A abertura da instrução pode ainda ter em vista a suspensão provisória do processo, obtida a concordância
do MP – art.º 307º n.º2 + 281º.

Os factos que o arguido quer tratar na instrução serão os constantes da acusação do MP. Quando o crime
for público e semipúblico – art.º 283º. Tratando-se de crime particular, a abertura da instrução assenta em
factos constantes da acusação do assistente – art.º 285º. Portanto, só em relação às acusações principais
é que é permitido ao arguido fazer RAI.

Após o RAI, o arguido apresenta a suspensão do processo – art.º 7.

Se o processo prosseguir para a fase de julgamento sem que o arguido tenha sido notificado da acusação,
por ineficácia dos procedimentos de notificação – art.º 283º n.º5 – logo que se apresente ou seja detido,
deve ser notificado da acusação, podendo requerer a abertura da instrução no prazo de 20 dias – art.º 336º
n.º3 + 287º n.º1 a).

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Assistente
Pode ser requerida no prazo de 20 dias a contar da notificação da acusação ou arquivamento, pelos factos
pelos quais o MP não tiver deduzido acusação – art.º 287º n.º1 b). No entanto, quando o procedimento se
revelar de excecional complexidade, devido nomeadamente, ao número de arguidos ou ofendidos ou ao
caráter altamente organizado do crime, o juiz, a requerimento, pode prorrogar o prazo superior – art.º 107º
n.º6 + 215º n.º3.

Se o assistente optar por não requerer a abertura da instrução, pode ainda suscitar a intervenção hierárquica
ou a reabertura do inquérito – art.º 278º e 279º. Assume a qualidade de arguido todo aquele contra quem
for deduzida acusação ou requerida instrução num processo penal – art.º 57º n.º1

O ofendido – e qualquer um dos interessados elencados no art.º 68º - só pode pedir RAI se se constituir
assistente no processo, sob pena do requerimento ser rejeitado – art.º 287º n.º3

Tendo em conta o despacho de arquivamento e de acusação – art.º 277º n.º3 e 283º n.º5 – são comunicados
ao denunciante com a faculdade de se constituir assistente, nada impede que, no termo do inquérito, o
ofendido venha requerer simultaneamente requerer a sua constituição como assistente e a abertura da
instrução – art.º 68º n.º3 b). O JIC só apreciará o RAI depois de admitir a intervenção do ofendido como
assistente.

Na fase de instrução o ofendido pode ainda constituir-se assistente no processo – tratando-se de crimes
públicos e semipúblicos – até 5 dias antes do debate instrutório – art.º 68º n.º3 a).

Com o requerimento instrutório, o assistente promove o controle judicial do despacho do MP, visando a
pronúncia do arguido. O assistente só pode fazer RAI se o processo por um crime público ou semipúblico,
relativamente a factos pelos quais o MP não tiver acusação. O mesmo não acontece se o crime for particular,
visto que, nesse caso, a acusação é a predominante – art.º 285º n.º1 + 287º

Devemos ter em atenção que o art.º 287º n.º1 b), deve ser articulada com o art.º 284º n.º1. Na verdade, uma
vez que o assistente não pode deduzir acusação por factos que alterem substancialmente os descritos na
acusação do MP, os mesmos só poderão ser carreados para o processo através do RAI.

O assistente ao requerer a abertura da instrução com base no arquivamento do processo pelo MP, deve
carrear factos novos que não tenham sido considerados na fase de inquérito.

Ainda de referir que o requerimento do assistente para abertura de instrução constitui


substancialmente a acusação condicionando os poderes de cognição do juiz – art.º 309º. Ou seja, os
elementos constantes do requerimento é que vão orientar e direcionar a atividade comprobatória do JIC.
Após o RAI, o assistente apresenta a suspensão do processo – art.º 7.

Consulta dos autos e obtenção de certidões


O processo é público – art.º 86º n.º1
A partir do encerramento do inquérito, o assistente e o arguido podem examinar os suportes técnicos das
conversões e comunicações e obter, à sua custa, cópias das partes que pretendam transcrever para juntar ao
processo – art.º 188º n.º1 e n.º8.

Requerimento
Elementos
Segundo o art.º 287º n.º2, o RAI não está sujeito a formalidades especiais, mas deve conter:
a) Em súmula, as razões de facto e de direito de discordância relativamente à acusação ou não
acusação
b) Sempre que for disso caso, a indicação dos atos de instrução que o requerente pretende que o
juiz leve a cabo. Para esse efeito, deve justificar a relevância para as finalidades da instrução dos
atos de instrução requeridos, quer sejam diligências de investigação novas, quer se trate de
repetição de atos de inquérito.
o Saliente-se que os atos de instrução se efetuam pela ordem que o juiz reputar mais
conveniente para a descoberta da verdade. Para além disso, o juiz indefere os atos
requeridos que entenda não interessarem à instrução ou servirem apenas para protelar o
andamento do processo e pratica ou ordena oficiosamente aqueles atos que considerar
úteis – art.º 291º n.º1

41
o A prática de atos tanto se pode dar a requerimento do MP, do arguido ou do assistente –
art.º 61º n.º1 g) e 69º n.º2 a), como por iniciativa do juiz
c) Os meios de prova que não tenham sido considerados no inquérito.
o Os atos e as diligências de prova praticados no inquérito só são repetidos no caso de não
terem sido observadas as formalidades legais ou quando a repetição se revelar
indispensável à realização das finalidades da instrução – art.º 291º n.º3
d) Os factos que através de uns e de outros se espera provar
e) O número de testemunhas, sendo que não podem ser indicadas mais de 20 – art.º 128º e ss.

Elementos do requerimento apresentado pelo assistente


Não obstante o paralelismo entre a acusação e o RAI, existe uma diferença significativa entre estas duas
peças. Enquanto a acusação contém factos que se revelam já indiciados, naquele requerimento podem ser
vertidos factos conjeturais que irão ser averiguados em sede instrutória.

Nos termos do art.º 283º n.º3 b) e d), o RAI por parte do assistente, para além dos elementos acima
mencionados, deve ainda conter sob pena de nulidade:

f) A narração, ainda que sintética, dos factos que fundamentam a aplicação ao arguido de uma pena
ou de uma medida de segurança, incluindo se possível, lugar, o tempo e a motivação da sua prática,
o grau da participação que o agente neles teve e quaisquer circunstâncias relevantes para a
determinação da sanção que lhe deve ser aplicada
g) A indicação das disposições legais aplicáveis

Provas
Dentro dos limites do art.º 303º, o juiz investiga autonomamente o caso submetido a instrução, não obstante
ter em conta a indicação constante do RAI, a que se refere o art.º 287º n.º 2, designadamente os atos de
instrução que o arguido ou o assistente pretendam que o juiz leve a cabo – art.º 288º n.º4

Ao contrário do que se verifica na audiência de julgamento – art.º 341º - os atos de instrução efetuam-se
pela ordem que o juiz reputar mais conveniente para o apuramento da verdade. Para além disso, não se
encontrando vinculado ao requerido, o JIC indefere os atos requeridos que entenda não interessarem à
instrução ou servirem apenas para protelar o andamento do processo e pratica ou ordena oficiosamente
aqueles que considera úteis – art.º 291º.

Convém salientar que os atos de instrução não se encontram subordinados ao princípio do contraditório,
apenas o debate instrutório – art.º 289º n.º1

Em virtude do princípio da verdade material e da legalidade da prova, na instrução, são admissíveis


todas as provas que não forem proibidas por lei – art.º 292º n.º1, 125º, 126º, 340º.

O juiz interroga o arguido e ouve a vítima, mesmo que não se tenha constituído assistente, quando o julgar
necessário e sempre que estes o solicitarem – art.º 61º n.º1 b), 144º n.º1 e 292º n.º2. A omissão do
interrogatório do arguido, por ele requerido, constitui nulidade que deve ser arguida até ao encerramento
do debate instrutório – art.º 120º n.º2 d) e n.º3 c).

Entre outros atos, o interrogatório do arguido e a inquirição de testemunhas, são realizados obrigatoriamente
pelo JIC, que não pode delegar nos OPC – art.º 290º n.º2 + 144º n.º1 + 138º. Os atos que não podem ser
delegados estão no art.º 268º, 270 n.º2.

Com vista a evitar a realização de diligências inúteis, os atos e diligências de prova praticados no
inquérito só são repetidos no caso de não terem sido observadas as formalidades legais ou não tendo sido
requeridos, quando a sua repetição se revelar indispensável à realização das finalidades da instrução – art.º
291º n.º3

O art.º 294º consagra que o juiz, oficiosamente ou a requerimento, pode proceder, durante a instrução, à
inquirição de testemunhas, à tomada de declarações do assistente, das partes civis, de peritos e de
consultores técnicos e a acareações, nos termos e com as finalidades do art.º 271º.

A assistência do defensor é obrigatória sob pena de nulidade insanável – art.º 64º n.º1 f) + 119º c).
Ao contrário da recolha antecipada de declarações na fase de inquérito, o. JIC pode ordenar oficiosamente.

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As diligências de prova realizadas na instrução são documentadas mediante gravação ou redução a auto,
sendo juntos ao processo os requerimentos apresentados pela acusação e pela defesa nesta fase, bem como
quaisquer outro documento relevantes para apreciação da causa – art.º 296º e 99º e ss.
Os documentos devem ser juntos ao processo no decurso do inquérito ou da instrução, e não sendo isso
possível, até ao encerramento da audiência – art.º 165º n.º1.

Só é permitida a leitura ou reprodução em audiência de julgamento de autos, nomeadamente de instrução


que não contenham declarações do arguido, assistente, partes civis ou de testemunhas – art.º 356º n.º1 b).
aliás, a leitura só é permitida nas hipóteses mencionadas – art.º 356º n.º2 e a 5.

É proibida a leitura de depoimento prestado em instrução por testemunha, que, em audiência, se tenha
validamente recusado a depor – art.º 356º n.º6

Só pode valer como prova as conversações ou comunicações que, designadamente, o arguido transcrever
a partir das cópias – art.º 188º n.º8 – e junte ao requerimento de instrução ou contestação.

Tratando-se de assistente, essas provas só podem valer se ele as transcrever a partir das cópias – art.º 188º
n.º8 – e juntar ao processo no prazo previsto para RAI, ainda que não a requeira ou não tenha legitimidade
para o efeito – art.º 188º n.º9 c)

Rejeição
Sendo um afloramento do princípio da economia processual, o art.º 287º n.º3, estabelece que o RAI só pode
ser rejeitado:
• Por extemporâneo – art.º 107º n.º6, 287º n.º1.
o O prazo para requerer é perentório, sendo que o seu decurso extingue o direito de praticar
o ato – art.º 139º n.º3 CPC
• Por incompetência do juiz – art.º 10 e ss + 288º n.º2; 17º, 55º h); 73º g)
• Por inadmissibilidade legal da instrução

Se o RAI apresentado pelo arguido não tiver em vista evitar o julgamento por todos os crimes que lhe são
imputados, nem mencionar as concretas razões da sua discordância, o mesmo deve ser rejeitado.

Do despacho que indeferir o RAI, cabe recurso para a Relação, o qual sobe imediatamente – art.º 400º n.º1
a contrario + 407º n.º2 h).

Notificações
O despacho de abertura de instrução é notificado ao MP, assistente, arguido e o seu defensor – art.º 287º
n.º5 – de forma a permitir que todos intervenham na instrução, nomeadamente oferecendo provas e
requerendo atos e diligencias que se afigurem necessárias – art.º 61º n.º1 g), 69º n.º2 a).

Neste despacho, o Juiz deve nomear defensor ao arguido que não tenha constituído advogado nem defensor
– art.º 287º n.º4

O lesado que tiver manifestado o propósito de deduzir PIC deve ser notificado da decisão instrutória – art.º
307º n.º5

Caso tenha deduzido acusação o MP tem o dever de tentar sustentá-la na instrução – art.º 53º n.º2 c).

Mandado de comparência
Sempre que for necessário assegura a presença de qualquer pessoa em ato de instrução, o juiz emite
mandado de comparência do qual constam a identificação da pessoa, do dia, local e da hora a que dee
apresentar-se e a menção das sanções em que incorre no caso de falta injustificada – art.º 293º n.º1 + 116º
e 117º

O mandado de comparência é notificado ao interessado com pelo menos 3 dias de antecedência, salvo em
caso de urgência devidamente fundamentada é que o juiz pode deixar ao notificado apenas o tempo
necessário à comparência – art.º 293º n.º2

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A notificação para comparência é efetuada de acordo com o art.º 113º, 114º e 115º. O mandado é emitido
pelo JIC. No inquérito pode ser emitido pelo MP ou OPC a quem tenha sido delegada a diligência – art.º
273º. Cfr. Art.º 27º n.º3 f), 254º n.º1 b), 258º e 259º CPP.

Prática de atos processuais


O despacho de acusação deve ser notificado às pessoas acima referidas, constando neste o prazo para RAI
a partir da notificação efetuada em último lugar – art.º 113º n.º10.

Havendo vários arguidos ou assistentes, o ato pode ser praticado por todos até ao termo do prazo que
começou a correr em último lugar – art.º 113º n.º14 ex vi 287º n.º6

Aplicam-se à contagem dos prazos para a prática de atos as disposições na lei civil – art.º 104º n.º1 –
nomeadamente o art.º 138º CPC. Apesar do prazo ser contínuo, suspende-se nas férias judiciais – art.º 28º
LOSJ. O art.º 279º CC diz que o dia da notificação não conta. Os atos processuais praticam-se nos dias
úteis, à hora de expediente dos serviços e fora das férias, com exceção dos atos de instrução e debates
instrutórios, relativamente aos quais for reconhecida vantagem em que ocorram sem essas limitações.

Custas processuais
Assistente
A taxa de justiça devida pela abertura da instrução é autoliquidada no montante de 1UC, podendo esta ser
corrigida por um valor entre 1 e 10UC, dependendo da utilidade prática da mesma – art.º 8º n.º2 RCP. Se o
RAI for recusado a correção não se verifica

O assistente deve pagar taxa de justiça – no final – se o arguido não for pronunciado por todos ou alguns
crimes constantes da acusação que haja deduzido ou com que haja conformado. Sendo vários assistentes,
cada um paga a sua taxa – art.º 8º n.º9 RCP + 515º n.º1 a) e n.º2 CPP

Por outro lado, o assistente é isento de pagar quando por razões supervenientes à acusação que houver
deduzido ou co que se tiver conformado e que lhe não sejam imputáveis, p.e. prescrição, o arguido não for
pronunciado ou for absolvido – art.º 517º.

Nos prazos previstos para pagamento no RPC não se aplica o art.º 139º n.º5 do CPC, ou seja, tem de ser
praticados no prazo nele fixados, não podendo beneficiar dos 3 dias.

Estão isentas as vítimas de violência doméstica, mutilação genital feminina, escravidão, tráfico, coação
sexual e violação – art.º 4º RCP.

Arguido
Apresentando o RAI, a taxa de justiça varia entre 1 a 3UC, paga no final do processo, sendo fixada pelo
juiz tendo em conta a complexidade da causa. Se o juiz não fixar a taxa, considera-se a mesma fixada no
dobro do seu limite mínimo – art.º 8º n.º 9 e 10 RCP.

Se o arguido se encontrar deito ou sujeito a prisão preventiva está isento de custas – art.º 3º n.º1 RCP – nos
termos e condições estabelecidas no art.º 4º n.º1 j) RCP.

Debate instrutório
Finalidade
A instrução é formada pelo conjunto de atos que o juiz entenda levar a cabo para justificar a submissão do
arguido a julgamento – art.º 289º e 298º.

A instrução é facultativa – art.º 286º n.º2 – mas se tiver lugar, o debate instrutório é obrigatório sob pena
de nulidade insanável – art.º 119º d). Estão adjacentes os princípios da oralidade, contraditório,
continuidade e publicidade - art.º 304º

Direção e organização
Compete ao JIC, detendo este, no necessário poderes correspondentes aos conferidos pelo CPP ao
presidente na audiência – art.º 301º n.º1 e 288º n.º1

Nenhum juiz pode intervir em julgamento, recurso ou pedido de revisão relativo a processos que já tiver
dirigido a instrução – art.º 40 b). Compete a cada juiz das secções criminais do STJ e das Relações, em

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matéria penal, presidir ao debate instrutório e proferir despacho de pronúncia ou não nos processos
mencionados no art.º 11º n.º7 e 12º n.º6

De acordo com o art.º 301º n.º2/3, o debate instrutório ocorre sem sujeição a formalidades especiais. No
entanto, o JIC deve:
• Assegurar o contraditório na produção de prova e possibilidade de o arguido ou o seu defensor se
pronunciarem sobre a mesma em último luar
• Recusar qualquer requerimento ou diligência de prova que ultrapasse a natureza indiciária – art.º
302º n.º2

Para a acusação, como na pronúncia, basta a prova indiciária – art.º 283º n.º1 e 308º n.º1 – situação que
não se verifica na sentença. Art.º 355º n.º1

Designação de data
Quando o juiz considerar que não há lugar a prática de atos de instrução, ou em 5 dias a contar da prática
do último ato, o juiz designa dia, hora e local para o debate instrutório, sendo fixada a data mais próxima
possível para que o limite máximo da instrução – art.º 306º - possa ser respeitado – art.º 297º n.º1

O tribunal marca a data do debate de modo que não ocorra sobreposição com outros atos judiciais – art.º
151º CPC O despacho que designa a realização do debate, equivale, no fundo, ao deferimento do RAI.

Sempre que o arguido se encontrar em prisão preventiva ou com obrigação de permanência na habitação –
art.º 201º e 202º - a data do debate deve ser fixada com precedência sobre qualquer outro – art.º 312º n.º3
ex vi art.º 297º n.º2. o mesmo quanto ao julgamento.

Da designação para a realização não prejudica o dever de o juiz levar a cabo, antes ou durante o debate, os
atos de instrução cujo interesse se tenha mostrado relevante. A realização de tais atos processa-se com
observância do art.º 290º e ss – art.º 299º n.º1 e 2

A marcação tem uma elevada importância, porque:


• A incompetência territorial pode ser deduzida até ao seu início – art.º 32º n.º2 a)
• O requerimento de recusa de intervenção de um juiz e o pedido de escusa são admissíveis até ao
início – art.º 44º
• Até 5 dias antes, o assistente pode intervir no processo requerendo a sua constituição como tal, se
até aí não o fez – art.º 68º n.º3 a).

Notificação
A designação para o debate é notificada:
• Ao MP, arguido e ao assistente pelo menos 5 dias antes – art.º 297º n.º3 e 289º. Cfr. Art.º 54º n.º2
c), 61º n.º1 a) e 69º n.º2 a)
• Aos arguidos que não tenham requerido a instrução nas seguintes circunstâncias:
o Se o mesmo crime tiver sido cometido por vários agentes em comparticipação
o Se vários agentes tiverem cometido vários crimes em comparticipação na mesma ocasião
ou lugar, sendo uns causa ou efeito de outros, ou destinando-se uns a continuar ou a
ocultar os outros
o Se vários agentes tiverem cometido diversos crimes reciprocamente na mesma ocasião
ou lugar – art.º 24º n.º1 c) d) e) + 297º n.º3
• A quaisquer testemunhas, peritos e consultores técnicos cuja presença no debate o juiz considere
indispensável pelo menos 3 dias antes – art.º 297º n.º4
• Ao defensor do arguido, visto que a sua assistência é obrigatória no debate – art.º 302º n.º2 – sob
pena de nulidade insanável – art.º 64º n.º1 c) e 119º c). O advogado do assistente também pode
participar- art.º 70º 2 89º

De forma a garantir a presença das pessoas, ao abrigo do art.º 297º n.º5, é correspondentemente aplicável o
disposto nos art.º 116º n.º1/2 e 254ºº e 293º.

A falta de notificação do arguido para o debate instrutório, ainda que não tenha requerido, constitui
nulidade insanável – art.º 297º n.º3, 119º, 122º

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A falta de notificação do arguido dos atos e diligencias a realizar, para que possa aparecer querendo
constitui irregularidade processual – art.º 289º n.º2 – a qual, se tempestivamente arguida, determina a
invalidade doa to praticado – art.º 118ºn.º2 e 123º n.º1

A ausência do assistente por falta de notificação, quando a sua presença é exigida, constitui uma nulidade
dependente de arguição – art.º 120º n.º2 b).

Adiamento
O debate só pode ser adiado por absoluta impossibilidade de ter lugar, designadamente por grave e legítimo
impedimento de o arguido estar presente – art.º 300º n.º1

O arguido pode justificar a sua falta conforme o art.º 117º. A renúncia ao direito de estar presente não
implica o adiamento do debate com fundamento na sua falta, sendo representado pelo defensor – art.º 300º
n.º3.

Se o defensor, relativamente a um ato em que a assistência for necessário, não comparecer, se ausentar antes
de terminado ou recusar/abandonar a defesa, deve ser nomeado logo outro defensor. No entanto, quando a
nomeação imediata se revelar impossível ou inconveniente, pode ser decidido interromper o debate – art.º
116º n.º3. Já se o defensor for substituído durante o debate, o tribunal pode conceder oficiosamente ou a
requerimento, uma interrupção para que aquele possa conferenciar com o arguido e examinar os autos –
art.º 67º n.º1/2. Se no mesmo processo existam vários arguidos e os interesses em causa forem
compatíveis, a assistência de todos pode caber a 1 nomeado.

Em caso de adiamento, o juiz designa imediatamente nova data, a qual não pode exceder 10 dias. A nova
data é comunicada aos presentes, mandando o juiz proceder à notificação dos ausentes cuja presença seja
necessária – art.º 300º n.º2.

O debate pode ainda ser adiado devido a uma alteração dos factos – art.º 303º n.º1.

Só pode ser adiado uma vez, se o arguido faltar, é representado pelo defensor – art.º 300º n.º 4, 64º n.º1 c)
e 119º c).

Realização
Princípio da concertação temporal
De forma a garantir a celeridade processual, o debate deve ser contínuo, decorrendo sem qualquer
interrupção ou adiamento até ao seu encerramento. Porém, são admissíveis, no mesmo debate, as
interrupções estritamente necessárias, em especial para alimentação e repouso dos participantes. Se o debate
não puder ser concluído no dia em que se tiver iniciado, é interrompido, para continuar no dia útil
imediatamente posterior (art. 328º n°s 1 e 2 ex vi 304º n° 1). Cfr., ainda, o art. 103 n.º1/2 c)

Para além disso, o juiz interrompe o debate sempre que, no decurso dele, se aperceber de que é indispensável
a prática de novos atos de instrução que não possam ser levados a cabo no próprio debate (cfr. os arts. 304º,
n° 2 e 299º, n° 1).

Decurso
O juiz abre o debate com uma exposição sumária sobre os atos de instrução a que tiver procedido e
sobre as questões de prova relevantes para a decisão instrutória e que, em sua opinião, apresentem
carácter controverso (art. 302º, n° 1).

Em seguida concede a palavra ao MP, ao advogado do assistente e ao defensor para que estes, querendo,
requeiram a produção de provas indiciárias suplementares que se proponham apresentar, durante o debate,
sobre questões concretas controversas (art. 302º, n° 2). Note-se que se trata aqui de provas indiciárias
suplementares, porquanto as diligências de prova a realizar durante a instrução terão já sido
efetuadas antes do debate (cfr. o art. 291º). Por outro lado, convém lembrar que o juiz deverá recusar
qualquer requerimento ou diligência de prova que ultrapasse a natureza indiciária exigida nesta fase
(art. 301°, n° 3).

Segue-se a produção da prova sob a direta orientação do juiz, o qual decide, sem formalidades,
quaisquer questões que a propósito se suscitarem. O juiz pode dirigir-se diretamente aos presentes,

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formulando-lhes as perguntas que entender necessárias à realização das finalidades do debate (arts. 302º,
n° 3e 298º).
Antes de encerrar o debate, o juiz concede de novo apalavra ao MP, ao advogado do assistente e ao defensor
para que estes, querendo, formulem em síntese as suas conclusões sobre a suficiência ou insuficiência dos
indícios recolhidos e sobre questões de direito de que dependa o sentido da decisão instrutória (art. 302º,
n° 4).

Devemos ainda acrescentar que é admissível réplica sucinta, a exercer uma só vez, sendo, porém, sempre
o defensor, se pedir apalavra, o último a falar (art.302º, n° 5).

Ata
Encerrado o debate instrutório, o juiz profere despacho de pronúncia (ou de não pronúncia), o qual deve ser
logo ditado para a ata (art. 307%, n° 1, 1a parte). Convém destacar que o auto respeitante ao debate
instrutório denomina-se ata'" (cfr. o art. 99%, n° 2), sendo que o mesmo deve conter, além dos requisitos
gerais para os atos escritos previstos nos arts. 94° (Forma escrita dos autos) e 95° (Assinatura), menção dos
elementos seguintes:
• Identificação das pessoas que intervieram no ato (art. 99, n° 3, al. a)); - Causas, se conhecidas,
da ausência das pessoas cuja intervenção no ato estava prevista (cfr. os arts. 99º, n° 3, a.l b) e 297º,
n°s 3e4);
• Descrição especificada das operações praticadas, da intervenção de cada um dos
participantes processuais, das declarações prestadas, do modo como o foram e das
circunstâncias em que o foram, incluindo, quando hou- ver lugar a registo áudio ou audiovisual, à
consignação do início e termo de cada declaração, dos documentos apresentados ou recebidos e
dos resultados alcançados, de modo a garantir a genuína expressão da ocorrência (art. 99, n° 3, al.
c),
• Qualquer ocorrência relevante para apreciação da prova ou da regularidade do ato (art. 99°, n° 3,
al. d))
Sem prejuízo do supra descrito, a ata do debate instrutório é redigida por súmula em tudo o que se referir a
declarações orais (art. 305º). Concomitantemente, a entidade que presidir ao ato tem o encargo de velar por
que a súmula corresponda ao essencial do que se tiver passado ou das declarações prestadas, podendo para
o efeito ditar o conteúdo do auto ou delegar, oficiosamente ou a requerimento, nos participantes processuais
ou nos seus representantes – art.º 100º n.º2 por remissão do art.º 305º n.º1 in fine

As diligências são documentadas mediante gravação ou redução a auto – art.º 296º n.º1. A audiência é
sempre gravada – art.º 364º, 101º.

Alteração dos factos


Alteração não substancial
O JIC encontra-se vinculado ao princípio da vinculação temática, no entanto, pode livremente investigar
o caso submetido a instrução – art.º 288º n.º4 – e daí descobrir novos factos relacionados com o objeto do
processo.

O art.º 303º n.º1 estipula que se dos atos de instrução ou do debate resultar uma alteração não substancial
dos factos na acusação, o juiz, oficiosamente ou a requerimento:
• Comunica ao defensor
• Interroga o arguido sobre essa alteração
• Concede-lhe, a requerimento, um prazo para preparação de defesa não superior a 8 dias, com o
consequente adiamento do debate.

Se estas exigências forem respeitadas, os novos factos podem ser levados em conta pelo juiz na
decisão instrutória.

O art.º 303º n.º2 faz a ressalva de que este regime não se aplica a alteração determinar a incompetência do
JIC, caso em que o processo deve ser remetido para o tribunal competente – art.º 119º e), 32º n.º2º a) e 288º
n.º2

Alteração substancial
O legislador classifica como substancial a alteração que tiver por efeito a imputação ao arguido de um crime
diverso ou a agravação dos limites máximos das sanções aplicáveis – art.º 1 f).

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Uma alteração substancial dos factos não é tomada em conta para o efeito de pronuncia no processo em
curso, nem implica a extinção da instância– art.º 303º n.º3

Se dos atos de instrução resultar uma alteração substancial dos factos descritos na acusação, o JIC
não os pode incluir na decisão instrutória de pronuncia, sob pena de nulidade – art.º 309º n.º1.

A alteração é comunicada ao MP, valendo como denúncia para que este proceda pelos novos factos – isto
é, abrindo inquérito quanto aos mesmos. A lei exige que esses factos sejam autonomizáveis em relação ao
objeto do processo – art.º 303º n.º4. O mesmo acontece quando decorre na audiência de julgamento – art.º
359º n.º2

O juiz pode decidir que os factos não são autonomizáveis, determinando que estes não podem ser tomados
em conta, sendo esta decisão recorrível – art.º 399º - subindo nos próprios autos e com o recurso que
tiver posto termo à causa – art.º 406º n.º1, 407º n.º3. A decisão que considera os factos autonomizáveis
também é recorrível, subindo o recurso em separado, de imediato e com efeito suspensivo – art.º 406º
n.º2, 407º n.º1 e 408º n.º3

Encerramento da instrução
Prazo de duração máxima
O juiz deve encerrar a instrução no prazo de 2 meses, se houver arguidos presos ou sob obrigação de
permanência na habitação, ou 4 meses, se não os houver, contando-se o prazo a partir da data de recebimento
do requerimento – art.º 306º n.º1 e 3. Os prazos encontra-se indicados no art.º 276º.

A prisão preventiva, extingue-se, quando desde o seu inicio tiverem decorrido 8 meses, sem que, havendo
lugar a instrução, tenha sido proferida decisão instrutória – art.º 215º n.º1 b).

Quando tiverem sido excedidos os prazos previstos para a duração da fase processual em análise, o juiz de
instrução pode estar sujeito ao controle que resulta do mecanismo de aceleração processual (cfr. os arts.
108°, 109° e 110º.

Decisão instrutória e notificação


A decisão instrutória põe simultaneamente termo ao debate instrutório e à fase da instrução e reveste a
forma de despacho (e não de sentença). Como ato decisório que é, deve ser sempre fundamentado,
devendo ser especificados os motivos de facto e de direito da decisão (cfr. o art. 97º, n°s 1, al. b) e 5 e o art.
205°, n° 1, da CRP). Cfr. o art. 380° n° 3 art. 616º , n° ,1 al. a), do CPC.

Encerrado o debate, o juiz profere despacho de pronuncia ou não pronuncia – art.º 307º n.º1 e 96º n.º4 –
que é logo ditado para a ata. O juiz pode fundamentar a decisão por remissão para as razoes de facto e de
direito enunciadas na acusação ou no requerimento.

Quando a complexidade da causa o aconselhar, o juiz, no ato de encerramento do debate, ordena que
os autos lhe sejam conclusos a fim de proferir, no prazo máximo de 10 dias, o despacho. Art.º 307º
n.º1/3

As notificações respeitantes, designadamente, à decisão instrutória, devem feitas ao arguido, ao assistente


e às partes civis, bem como ao advogado ou defensor nomeado. Neste caso, o prazo para a prática de ato
processual subsequente conta-se a partir da data da notificação efetuada em último lugar (art. 113º, n° 10).
Cfr., ainda, o n.º 13, do art. 113°.

A lei impõe a notificação:


• Ao lesado que tiver manifestado PIC, quando não for assistente – art.º 77º n.º2, deve ser notificado
do despacho de pronuncia
• Ao denúncia com a faculdade de se constituir assistente – art.º 307º n.º5, 283º n.º5, 277º n.º3
• Aos coarguidos que não tenham requerido a instrução – art.º 307º n.º4/5

A prescrição do procedimento criminal suspende-se, nomeadamente, durante o tempo em que este


estiver pendente a partir da notificação da decisão instrutória que pronunciar o arguido (no caso de
não ter sido deduzida acusação).
Neste cenário, a suspensão não pode ultrapassar 3 anos, sendo que, a partir do dia em que cessar a
causa da suspensão, a prescrição volta a correr (art. 120º, n°s 1, al. b), 2 e 6, do CP). Para além disso,

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com a notificação da decisão instrutória que pronunciar o arguido, a prescrição do procedimento criminal
interrompe-se, sendo que depois de cada interrupção começa a correr novo prazo de prescrição (art.
121º, n°s 1, al. b) e 2, do CP). O limite máximo para o alargamento do prazo da prescrição consta do n° 3,
do art. 121°, do CP.

A incompetência do tribunal pode ser deduzida pelo MP, pelo arguido e pelo assistente até ao trânsito
em julgado da decisão instrutória (art. 32º, n° 1).

Tratando-se de nulidade respeitante à instrução, a mesma deve ser arguida até ao encerramento do debate
instrutório o (art. 120º, n°s 2, al. d) e 3, al. c)

Fundamentos do despacho de pronúncia e de não pronúncia


Se até ao encerramento da instrução, tiverem sido recolhidos indícios suficientes de se ter verificado os
pressupostos de que depende a aplicação ao arguido de uma pena ou medida de segurança, o juiz, por
despacho, pronuncia o arguido pelos factos respetivos, caso contrário, profere despacho de não
pronúncia. Em qualquer um dos casos, o juiz começa por decidir das nulidades e outras questões prévias
ou incidentais de que possa conhecer – art.º 308º n.º1 e 3.

O objeto do despacho de pronuncia há-de ser substancialmente o mesmo da acusação formal ou implícita
no requerimento de instrução, uma vez que está limitada aos factos da acusação. O art.º 309º n.º1 diz-nos
que a decisão é nula na parte em que se pronunciar sobre factos que constituem alteração substancial dos
factos na acusação do MP ou do assistente. O juiz deve proceder ao reexame dos pressupostos da prisão
preventiva e da obrigação de permanência na habitação – art.º 213º n.º b).

O despacho de não pronúncia não está sujeito às formalidades de exigência de fundamentação das
sentenças – art.º 374º - mas apenas ao seu dever genérico – art.º 97º n.º5. a falta de fundamentação constitui
uma irregularidade – art.º 123º. O despacho de não pronuncia extingue as medidas de coação – art.º 214º
n.º1 b)

Para além de pronúncia ou não pronúncia, pode ainda a decisão ser de suspender provisoriamente o
processo se o MP concordar – art.º 307º n.º2, 281º, 282º.

Se a acusação já tiver sido deduzida, o JIC pode arquivar o processo com a concordância do MP e do
arguido, se se verificarem os pressupostos de dispensa de pena – art.º 280º n.º2

Havendo instrução, o requerimento para intervenção do tribunal do júri devem ter lugar no prazo de 8 dias
– art.º 13º n.º3.

A decisão fixa e delimita o objeto quanto à decisão de mérito.

Elementos do despacho instrutório


Sem prejuízo de poder fundamentar por remissão para as razões de facto e de direito enunciadas na acusação
ou no requerimento de abertura da instrução, ao despacho (de pronúncia ou de não pronúncia) é
correspondentemente aplicável os elementos da acusação pública, de acordo com o disposto no art. 283°,
n°s 23(cfr., conjugadamente, os arts. 308°, n° 2 e 307º, n° 1, 2º parte).

Recursos
Tendo como finalidade assegurar a celeridade do processo, o n° 1, do art. 310º, estabelece que a decisão
instrutória que pronunciar o arguido pelos factos constantes da acusação do MP (formulada nos
termos dos arts. 283° ou 285°, n° 4, ou seja, relativa a crimes públicos ou semipúblicos e particulares):
• É irrecorrível (mesmo na parte em que apreciar nulidades e outras questões prévias ou incidentais
– art.º 308º
• Determina a remessa imediata dos autos ao tribunal competente para o julgamento

A decisão instrutória é suscetível de recurso quando – art.º 399º:


• Não pronunciar o arguido
• Pronunciar o arguido pelos factos constantes exclusivamente da acusação do assistente – crimes
particulares – ou pelos factos que o MP se absteve de acusar e que o assistente incluiu no seu RAI.

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O despacho que indeferir a nulidade arguida da decisão instrutória relativa à pronúncia do arguido pelos
factos que constituam alteração substancial na acusação do MP, assistente ou no RAI – art.º 310º n.º3 e 309º

O assistente tem legitimidade para requerer o recurso – art.º 450º n.º1 b) – para despachos de não
pronúncia.

Os recursos sobem imediatamente do despacho que indeferir o RAI e a da decisão instrutória – art.º 407º
n.º2 h) e i)

Para exercer o direito de recurso, o assistente e o arguido têm de estar obrigatoriamente representados por
advogado/defensor – art.º 61º n.º1 f) e ) + 69º n.º2 c) e 70º n.º1.

A taxa de justiça fixa-se entre 1 e 5 UC quando é de pronúncia, se for de não pronúncia entre 3 a 6UC.

CAPÍTULO VIII – JULGAMENTO


A matéria de julgamento em processo comum encontra-se regulada nos art.º 311º a 380º.
Concluído o inquérito, o auto fica à guarda do MP ou é remetido ao tribunal competente para a instrução
ou para o julgamento – art.º 275º n.º3. O julgamento, sendo a fase nuclear do processo penal, tem lugar
logo após a dedução da acusação do MP (Crimes públicos e semipúblicos) ou pelo assistente (crimes
particulares), ou após o despacho de pronúncia (se houver instrução).

O julgamento contém 3 fases:


• A instrução, na qual se produz a prova destinada a comprovar os factos alegados
• A discussão, que consiste, especialmente na apreciação crítica da prova sobre a matéria de facto
que interessa à decisão da causa
• O julgamento propriamente dito, que tem por objeto a decisão final da causa.

Na fase do julgamento vigoram diversos princípios que norteiam e definem o seu regime dos quais
destacamos os do juiz natural, da vinculação temática, da investigação ou da verdade material, da igualdade
de oportunidades, do contraditório, da concentração, da livre apreciação da prova, da publicidade, da
oralidade, da imediação e in dubio pro reo.

Os tribunais de 1ª instância funcionam, consoante os casos, como tribunal singular, coletivo ou de júri –
art.º 85º n.º1, 132º ao 137º LOSJ; art.º 13º, 14º, 15º e 16º. Para além disso, os tribunais incluem os da
competência territorial alargada e os de comarca. Os tribunais de 1ª instância são, em regra, os tribunais de
comarca – art.º 79º LOSJ.

De acordo com o art.º 118ºº n.º1 compete aos juízos centrais criminais proferir despacho nos termos dos
art.º 311º a 313º CPP e proceder ao julgamento e aos termos subsequentes nos processos de natureza
criminal da competência do tribunal coletivo ou de júri.

As audiências de julgamento dos processos de natureza criminal da competência do tribunal singular, são
realizadas no juízo territorialmente competente de acordo com as regras fixadas – art.º 82º n.º3 e 4º LOSJ.

ATOS PRELIMINARES À AUDIÊNCIA


Saneamento do processo
Independentemente de ter havido instrução, remetido o processo para julga- mento e recebidos os autos no
tribunal, o presidente pronuncia-se sobre nulidades e outras questões prévias ou incidentais que obstem à
apreciação do mérito da causa, de que possa desde logo conhecer (art. 319, n° 1º)

De acordo com o art.º 595º n.º1 a) e n.º3 CPC, o despacho saneador destina-se a conhecer das exceções e
nulidades. As nulidades no âmbito do processo penal estão taxativas na lei – art.º 118º n.º1/2 e 123º. Na
fase de julgamento só o juiz tem competência para declarar um ato processual inexistente, nulo ou irregular
ou uma prova proibida, mesmo se esse ato tiver sido realizado por outros sujeitos processuais.

Nesta conformidade, deverá apreciar, designadamente:


• A competência do tribunal sendo que, se este não for competente, não deverá sequer entrar no
conhecimento de quaisquer outras questões pré- vias ou incidentais. As regras de competência dos
tribunais encontram-se previstas nos arts. 10º e segts. E art.º 37º LOSJ ;

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• A legitimidade daquele que deduziu a acusação: MP (nos crimes públicos e semipúblicos) ou
assistente (nos crimes particulares). Art.º 48º ss e 68º ;
• A existência de alguma causa de extinção da responsabilidade criminal: amnistia, perdão genérico
e indulto, morte do arguido (arts. 127º, n° 1/2 e 128º, do CP). prescrição (arts. 118' e segts., do
CP):
• A existência de nulidades insanáveis ou arguidas e irregularidades – art.º 119º, 120º e 123º
• Se o arguido tem advogado constituído ou defensor nomeado art. 62º, 64º n.º2
• A tempestividade e a legitimidade do pedido de indemnização civil;
• A exceção dilatória de caso julgado – art.º 576º n.º1 e 577º i) CPP ex vi art.º 4º CPP
• Se houve desistência da queixa ou da acusação particular – art.º 116º, 117º CP + 51º CPP;
• A medida de coação aplicada (se deve mantê-la ou substituí-la por outra mais ou menos grave) –
art.º 212º e 213º, 196º n.º4, 204º n.º2/3, 227º n.º6, 228º n.º7
• Se já foram juntos aos autos o certificado de registo criminal – art.º 274º e 295º
• A identificação do arguido – art.º 283º n.º3 a), 285º n.º3, 342º n.º1/3, 374º n.º1 a); art.º 5º n.º2 Lei
n.º 37/2015
• Se o relatório social do arguido já consta dos atos – art.º 1 g), 370º

Saneamento do processo no caso de não ter havido instrução


Numa notória manifestação do princípio da economia processual, se o processo tiver sido remetido para
julgamento sem ter havido instrução, o presidente deve pronunciar-se no sentido de rejeitar a acusação,
se a considerar manifestamente infundada (art. 311º, n° ,2 al. a). De notar que as medidas de coação
se extinguem de imediato, nomeadamente, com a prolação do despacho que rejeitar a acusação nestes
termos (art. 214º, n° 1, al. c)).

O presidente também não deve aceitar a acusação do assistente ou do MP na parte em que represente uma
alteração substancial dos factos – art.º 284º n.º1, 285º n.º4 – por forma a controlar a legalidade da acusação
subsidiária, uma vez que não houve lugar a instrução – art.º 311º n.º2 b).

Tratando-se de processo sumaríssimo, quando o requerimento for manifestamente infundado – art.º 311º
n.º3, o juiz deve rejeitá-lo e reenviar para os autos para outra forma processual que lhe caiba – art.º 395º
n.º1 b).

Havendo rejeição da acusação, por manifestamente infundada, ou não aceitação da acusação há


possibilidade de intervenção de recurso, já que os referentes despachos põem termo ao processo – art.º 399º

O despacho que rejeita a acusação por manifesta improcedência não constitui caso julgado material, mas
sim formal – art.º 620º n.º1, atendendo a que não se debruça sobre o mérito da causa e apenas tem força
probatória no processo e nos precisos termos que foi lavrado.

Contestação
O tribunal deve ordenar a produção de todos os meios de prova cujo conhecimento se lhe afigure necessário
à descoberta da verdade e à boa decisão da causa e, se considerar necessária, a produção de meios não
constantes da acusação, pronúncia ou da contestação, dá disso conhecimento com a antecedência possível
– art.º 340º n.º1/2

Despacho para apresentação de contestação


Depois de resolvidas as questões do art.º 311º, o presidente, antes de designar dia, hora e local, ordena, por
despacho a notificação do arguido para contestar. O despacho contém sob pena de nulidade – art.º 311-A
n.º1,2,5.

Para além do arguido, o despacho também é notificado ao defensor – art.º 311º-A n.º3 e 113º.

Prazos e custas
O arguido, em 20 dias a contar da notificação do despacho que designa dia para a audiência apresenta,
querendo, a contestação, acompanhada do rol de testemunhas (art. 311º-B). Porém, quando o procedimento
se revelar de excecional complexidade, devido nomeadamente, o número de arguidos ou de ofendidos ou
ao carácter altamente organizado do crime, o juiz, a requerimento, pode prorrogar tal prazo até ao limite
máximo de 30 dias – art.º 107º n.º6 e 215º n.º3.

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Havendo vários arguidos, quando o prazo para a prática de atos subsequentes à notificação termine em dias
diferentes, o ato pode ser praticado por todos ou por cada um deles até ao termo do prazo que começou a
correr em último lugar (art. 113º n.º14 ex vi art.º 311º-B n.º1). a contestação pode ser apresentada em
conjunto - art.º 24º n.º1 c) a e) e n.º2.

Nos termos estabelecidos na tabela III, do RCP (por remissão do n° 9, do art. 8°, do RCP), a taxa de justiça
devida pela apresentação de contestação, em processo comum, é fixada pelo juiz entre 2 UC a 6 UC, de
acordo com a complexidade da causa.
Este pagamento é feito no final do processo, sendo que, se o juiz não fixar a taxa de justiça nos termos
descritos, esta é fixada no dobro do seu limite mínimo – art.º 8º n.º10 RCP.

Não sendo apresentada a contestação no devido prazo (que é perentório), o arguido poderá ainda
assim:
• Na pessoa do defensor, logo no início da audiência de julgamento, indicar, sumariamente e no
prazo de 10 minutos, os factos que se propõe provar (art. 339º, n° 2);
• Apresentar exposições, memoriais e requerimentos em qualquer fase do processo, embora não
assinados pelo defensor, desde que se contenham dentro do objeto do processo ou tenham por
finalidade a salvaguarda dos seus direitos fundamentais. As exposições, memoriais e
requerimentos do arguido são sempre integrados nos autos (art. 98°, n° 1 CPP e art.º 32º n.º1 CRP
• Defender-se durante a audiência, de acordo com o art.º 355º n.º1, 356º e 357º.

Formalidades
A contestação não está sujeita a formalidades especiais (art. 311º-B nº.2), não tendo, por isso, que ser
articulada. Contudo, deve ser elaborada com clareza, contendo os factos relevantes que o arguido pretende
que sejam tidos em conta no decurso da audiência de julgamento.

Ao invés, a contestação do pedido de indemnização civil deve ser deduzida por artigos (art. 78º, n° 2) e,
sendo substancialmente autónoma da contestação da acusação, nada impede que seja deduzida na mesma
peça processual (desde que os prazos para a contestação da acusação e do pedido cível coincidam).

No domínio dos processos especiais sumário e abreviado, a contestação (incluindo a do pedido de


indemnização civil), quando verbalmente apresentada, é documentada na ata, nos termos dos arts. 363° e
364° (arts. 389º, n° 4 e 391°-F).

A falta de junção da contestação aos autos ou a falta de comunicação da contestação ao MP e ao assistente


constitui nulidade sanável – art.º 120º n.º2 d).

Prova
No prazo para contestar, o arguido pode apresentar apenas o rol de testemunhas (ou outras provas).

Para além da prova testemunhal, o arguido pode requerer e apresentar outros meios de prova,
designadamente, peritos e consultores técnicos (os quais devem ser notificados para a audiência, a não ser
que na contestação declare que se compromete a apresentá-los, cfr. os arts. 311º-B, n° 3 e 317º, n° 1) e
documental (art. 165°, n° 1.). A acareação só tem lugar oficiosamente u a requerimento – art.º 146º n.º2

Tenhamos em atenção que, fora da possibilidade de adicionamento ou alteração do rol de testemunhas


concedida pelo art. 316°, quaisquer requerimentos de prova que o arguido apresente posteriormente
dependerão da apreciação do juiz que decidirá de acordo com o interesse dessa prova para a descoberta da
verdade material e para a boa decisão da causa (art. 340°).

No âmbito da contestação do pedido de indemnização civil, as provas são requeridas com os articulados e
cada requerente, demandado ou interveniente pode arrolar testemunhas em número não superior a 10 ou a
5, consoante o valor do pedido exceda ou não a alçada da relação em matéria cível (art. 79°).

Só podem valer como prova as conversações ou comunicações que, designadamente, o arguido transcrever
a partir das cópias do art.º 188º n.º8 e juntar ao RAI ou à instrução – art.º 188º n.º 9 b).

Despacho que determina a realização da audiência

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Findo o prazo previsto do art.º 311º-B, o presidente despacha designando data hora e lugar. Neste mesmo
despacho é fixada uma segunda data em caso de adiamento – art.º 333º n.º1, ou para a audição do arguido
a requerimento do seu advogado ou defensor – art.º 333º n.º3

A marcação de duas datas para a audiência de julgamento tem em vista promover a celeridade e
economia processuais, nomeadamente quanto aos procedimentos de notificação. Sempre que o arguido se
encontrar privado da sua liberdade (sujeito a prisão preventiva ou a obrigação de permanência na habitação,
arts. 201° e 202º), a data da audiência deve ser fixada com precedência sobre qualquer outro julgamento
(art. 312º, n° 3).

Também a audiência relativa a processos que corram sob a forma abreviada deve ter precedência
sobre os julgamentos em processo comum, sem prejuízo da prioridade a conferir aos processos urgentes
(art. 391°-C, n° 2).

Ao abrigo do n.º4 do art.º 312º, o tribunal marca a audiência de julgamento de modo a evitar a
sobreposição com outros atos judiciais a que os advogados ou defensores tenham a obrigação de
comparecer, aplicando-se o disposto no art. 151° (Marcação e adiamento de diligências), do CPC. Do
despacho que designa dia para a audiência não há recurso (art. 313º n.º4).

Quando e quem deve ser notificado


O despacho que designa dia para a audiência, acompanhado de cópia da acusação ou da pronúncia, é
notificado pelo menos 20 dias antes da data fixada para a audiência ao MP, bem como ao arguido e seu
defensor, ao assistente, às partes civis e aos seus representantes (art. 313º, n° 2), devendo ainda ser
imediatamente comunicado aos juízes que fazem parte do tribunal (art. 314º, n° 1).

O art.º 313º n.º2 prescreve agora que o regime mencionado é aplicável à pessoa coletiva ou entidade
equiparada arguida.

O denunciante com faculdade de se constituir assistente é notificado do despacho de acusação (art.


277º, n°3 ex vi art. 283°, n° 5), mas não do despacho que designa dia para a audiência. No entanto,
requerendo ao juiz, até 5 dias antes da audiência de julgamento, a sua constituição como assistente (art.
68°, n° 3, al. a)), poderá intervir no processo nessa qualidade devendo aceitá-lo, porém, no estado em que
se encontrar - este procedimento só é possível no âmbito dos crimes públicos e semipúblicos.

As testemunhas, peritos e consultores técnicos indicados por quem se não tiver comprometido a
apresentá-los na audiência são também notificados para comparência – art.º 317º n.º1 e n.º7.

Como se efetua a notificação


Para o efeito de serem notificados por via postal simples ou por meio de carta ou aviso, o assistente e as
partes civis indicam a sua residência, local de trabalho ou outro domicílio à escolha – art.º 113º n.º1 c) e
145º n.º5 e 6º

O arguido que presta TIR indica a sua residência para o efeito de ser notificado por via postal simples –
art.º 196º n.º2 e 113º n.º1 c); art.º 196º n.º3 c)

Notificação por editais


Caso se frustre a notificação do despacho que designa o dia para a audiência, o juiz deve ordenar as
diligências necessárias. Para esse efeito, caso se revele necessário, deve ordenar a detenção do arguido
para que o referido despacho lhe seja notificado. Para além do mais, se ao arguido tiver sido aplicada
a prisão preventiva (no despacho que ordena a detenção), a notificação deve ser realizada após a prisão
deste. Esta regra aplica-se igualmente no caso de evasão da prisão (cfr., articuladamente, os arts. 116°, n°
2, 254° e 335º, n° 1)

Declaração de contumácia
A contumácia é o instituto processual que, através dos seus vários efeitos, visa compelir o arguido a vir ao
processo, interessar-se pelo seu andamento e rápida resolução do caso.

O regime da contumácia pressupõe que o arguido nunca tenha tido qualquer intervenção no processo e que
o seu paradeiro seja desconhecido (nesse caso a falta à audiência não lhe é imputável). Se, pelo contrário,

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tiver prestado termo de identidade e residência, o arguido não pode ser declarado contumaz, realizando-se
a audiência na sua ausência (cfr. art. 196º, n° 3, al. d).

Portanto, o arguido deve ser declarado contumaz se, não tendo prestado termo de identidade e residência
nem requerido ou consentido na realização da audiência na sua ausência (nos termos dos n°s 1e 2, do art.
334°), não for possível notificá-lo do despacho que designa dia para a audiência. Sublinhamos que a
prévia marcação de uma data para a audiência de julgamento é pressuposto da declaração de
contumácia.

A declaração de contumácia é da competência do presidente e implica a suspensão dos termos ulteriores do


processo até à apresentação ou à detenção do arguido, sem prejuízo da realização de atos urgentes (v. g.
tomada de declarações para memória futura), nos termos do art. 320° (art. 335º, n° 3 e 4).

A prescrição do procedimento criminal suspende-se durante o tempo em que vigorar a declaração de


contumácia – art.º 120º n.º1 c) e n.º3, 118º CP. A partir do momento em que a suspensão cessa, a
prescrição volta a correr – art.º 120º n.º6 CP.

Notificação da contumácia e os seus efeitos


De acordo com o art.º 337º n.º1,2 e 5º e 336º n.º2, o despacho que declarar a contumácia é notificado ao
defensor e a parente ou pessoa da confiança do arguido:
• A passagem imediata de mandado de detenção para efeitos de sujeição a termo de identidade e
residência, ou outras medidas de coação, designadamente para aplicação da medida de prisão
preventiva", se for caso disso (cfr. os arts. 196° e segts.),
• A anulabilidade dos negócios jurídicos de natureza patrimonial celebrados após a declaração (a
anulabilidade é deduzida perante o tribunal competente, pelo MP até à cessação da contumácia) –
art.º 287º, 289º CC.

Quando a medida se mostrar necessária para desmotivar a situação de contumácia, o tribunal pode
decretar a proibição de obter determinados documentos, certidões ou registos junto de autoridades públicas,
bem como o arresto, na totalidade ou em parte, dos bens do arguido (art. 337º, n° 3).

Caducidade
A declaração de contumácia caduca logo que o arguido se apresente ou for detido, sem prejuízo da separação
de processos que tenha sido efetuada, que poderão continuar separados (ver, conjugadamente, os arts. 336º,
n° 1 e 335°, n 4.) Cfr., ainda, o art. 30° (Separação dos processos), n° ,1 al e), 1° parte.

Logo que se apresente ou for detido, o arguido é sujeito a termo de identidade e residência, sem prejuízo
de outras medidas de coação (cfr. os arts. 196° e segts.), devendo respeitar-se as formalidades previstas nos
n°s ,2 4 e ,5 do art. 58°, quanto à constituição de arguido (art. 336°, n° 2).

Notificação da acusação
O processo pode prosseguir para julgamento sem que o arguido tenha sido notificado da acusação, pelo
facto de os procedimentos de notificação se terem revelado ineficazes – art.º 283º n.º5

Assim, logo que o arguido se apresente ou for detido, para além de sujeição a TIR, o arguido deve ser
notificado da acusação, podendo requerer a abertura da instrução no prazo de 20 dias a contar da notificação,
seguindo-se os demais previstos para o processo comum – art.º 336º e 287º n.º1 a).

Prática de atos processuais


As notificações do arguido, assistente e das partes civis podem ser feitas ao respetivo defensor ou advogado.
Ressalvam-se as notificações respeitantes à designação do dia para julgamento e sentença, as quais devem
igualmente ser notificadas ao advogado ou defensor – art.º 113º n.º10.

Nos casos expressamente previstos, havendo vários arguidos ou assistentes, quando o prazo para a prática
de atos subsequentes à notificação termine em dias diferentes, o ato pode ser praticado por todos ou por
cada um deles até ao termo do prazo que começou a correr em último lugar (art. 113°, n° 14º)

Prática de atos fora do prazo: art.º 107º, 107º-A, 145º, 146º CPC.

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Adicionamento ou alteração do rol de testemunhas
O MP, o assistente, o arguido ou as partes civis podem alterar o rol de testemunhas (bem como o rol de
peritos e consultores técnicos), contanto que o adicionamento ou a alteração requeridos possam ser
comunicados aos outros até 3 dias antes da data fixada para a audiência. Estes sujeitos processuais podem
inclusivamente requerer a inquirição para além do limite legal desde que tal se afigure necessário
para a descoberta da verdade material, designadamente, quando tiver sido praticado algum dos crimes
referidos no n° 2, do art. 215° ou se o processo se revelar de excecional complexidade, devido ao número
de arguidos ou ofendidos ou ao carácter altamente organizado do crime. O requerimento de
adicionamento de testemunhas é indeferido caso se verifiquem as circunstâncias do art.º 340º n.º4 b), c) e
d) e 316º n°s 1e 3 e 283°, n° 7.

Depois de apresentado o rol não podem oferecer-se novas testemunhas (peritos e consultores técnicos) de
fora da comarca, salvo se quem as oferecer se prontificar a apresentá-las na audiência (art. 316º, n°s 2 e 3).
Nessa conformidade, o tribunal não tem de proceder à notificação para comparência.

Produção de prova antecipada à audiência de julgamento


Residentes fora da comarca – art.º 318º
A tomada de declarações ao assistente, às partes civis, às testemunhas, a peritos ou a consultores técnicos
pode, oficiosamente ou a requerimento, não ser prestada presencialmente, podendo ser solicitada pelo
presidente ao juiz de outra comarca, por meio adequado de comunicação, se:
a) Aquelas pessoas residirem fora do círculo judicial;
b) Não houver razões para crer que a sua presença na audiência é essencial à descoberta da verdade
e
c) Forem previsíveis graves dificuldades ou inconvenientes, funcionais ou pessoais, na sua
deslocação (v. g., se a pessoa residir no estrangeiro).

A solicitação é de imediato comunicada ao MP, bem como aos representantes do arguido, do assistente e
das partes civis – art.º 318º n.º2.

Quem tiver requerido a tomada de declarações deve informar, no mesmo ato, quais os factos ou as
circunstâncias sobre que aquelas devem versar – art.º 318º n.º3

A tomada de declarações realiza-se em simultâneo com a audiência de julga- mento, com recurso a meios
de telecomunicação em tempo real, com recurso a equipamento tecnológico.

Se o referido procedimento não for possível, o conteúdo das declarações é reduzido a auto, sendo aquelas
reproduzidas integralmente ou por súmula, conforme o juiz determinar, tendo em atenção os meios
disponíveis de registo e transcrição, conforme o disposto no art. 101º. Nesta conformidade, devemos
sublinhar que o juiz deprecado se limita tão só a recolher a prova, prova essa que será apreciada e
valorada através da sua leitura em audiências, nos termos dos arts. 355° n.º2 e 356º n.º1 a) e n.º2 c).

Tomada de declarações no domicílio – art.º 319º


Se, por fundadas razões (v. g., doença), o assistente, uma parte civil, uma teste- munha, um perito ou um
consultor técnico se encontrarem impossibilitados de comparecer na audiência, pode o presidente ordenar,
oficiosamente ou a requerimento, que lhe sejam tomadas declarações no lugar em que se encontrarem, em
dia e hora que lhes comunicará – art.º 319º n.º1 + 117º n.º2

A prova produzida nestes termos é oportunamente apreciada e valorada pelo juiz na audiência de julgamento
através da leitura – art.º 355º n.º2, 356º n.º1 a) e n.º8

O artº 319º não se aplica à fase de inquérito e instrução – art.º 273º e 293º

A tomada de declarações processa-se com observância das formalidades estabelecidas para a audiência,
salvo no que respeita à publicidade, atentos os valores em causa.

Realização de atos urgentes – art.º 320º


O presidente, oficiosamente ou a requerimento, procede à realização dos atos urgentes (cfr. o n° 2, do art.
103°) ou cuja demora possa acarretar perigo para a aquisição ou a conservação da prova, ou para a
descoberta da verdade, nomeadamente, à tomada de declarações para memória futura, nos termos dos arts.
271° e 294º (quando tomadas no decurso do inquérito e da instrução, respetivamente).

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A decisão sobre os atos urgentes deve ser fundamentada, sendo recorrível – art.º 97º n.º5 e 399º.

Prevê o n° 3, do art. 335°, que a declaração de contumácia (pese embora implicar a suspensão dos termos
ulteriores do processo até à apresentação ou à detenção do arguido), não prejudica a realização de atos
urgentes, nos termos enunciados no art. 320°. A leitura em audiência de autos relativos à realização de atos
urgentes é permitida, nos termos do art. 355º n.º2, 356º n.º1 a) e n.º8.

DISPOSIÇÕES GERAIS RELATIVAS À AUDIÊNCIA


Deveres de conduta durante a audiência
• Para quem assiste: art.º 324º, 85º, 87º, 323º e)
• Arguido: art.º 325º, 332º n.º6 e 7, 343º n.º3
• Advogados e defensores: art.º 326º CPP, 150º CPC, 72º, 80º e 88º, 114º EOA

Publicidade
A audiência de julgamento é pública, sob pena de nulidade insanável, salvo nos casos em que o presidente
decidir, em despacho fundamentado, a exclusão ou a restrição da publicidade para salvaguarda da dignidade
das pessoas e da moral pública ou para garantir o seu normal funcionamento – art.º 321º n.º1 CPP, 206º
CRP, 25º LOSJ, art.º 10º DUDH; 6º n.º1 CEDH, 14º PIDCP e 47º CDFUE.

Assim, às audiências, pode assistir qualquer pessoa, salvo se o juiz, oficiosamente ou a requerimento do
MP, arguido ou do assistente, decidir por despacho restringir a livre assistência do público.

Contraditoriedade
As questões incidentais sobrevindas no decurso da audiência são decididas pelo tribunal, ouvidos os sujeitos
processuais que nelas forem interessados. Por outro lado, os meios de prova apresentados no decurso da
audiência são submetidos ao princípio do contraditório, mesmo que tenham sido oficiosamente produzidos
pelo tribunal (ver os arts. 327º n°s 1e 2 340 º, n° 2). Esta regra impõe-se por força das garantias do processo
criminal ( art. 32º, n° 5, da CRP).

No exercício dos poderes de disciplina e de direção dos trabalhos, o presidente deve garantir o contraditório
e impedir a formulação de perguntas legalmente inadmissíveis – art.º323º f).

Continuidade
A audiência deve decorrer de forma contínua até ao seu encerramento (art. 328º , n° 1), obedecendo, assim,
ao princípio da concentração temporal, o qual tem como corolário os princípios da oralidade e da mediação.
Não obstante , existem situações em que tal não é possível, impondo-se a necessidade de o presidente
interromper e, em último caso, adiar a realização da audiência.

Todavia, esta regra comporta exceções, designadamente, no que diz respeito aos atos processuais relativos
às audiências, desde que a entidade que presidir à audiência, por despacho fundamentado (art. 97, n° 5 CPP,
art.º 24º n.º1 LOSJ e 205º n.º1 CRP), reconheça vantagem em que o seu início, prosseguimento ou
conclusão ocorra sem aquelas limitações temporais (art. 103°, n° 2, al. c)).

Esta exceção ao n° 1, do art. 103°, funciona ope judicis, ou seja, é necessário. conforme se disse, despacho
que reconheça vantagem, por exemplo, na continuação da audiência para além do horário de funcionamento
das secretarias.

Interrupção
São admissíveis, na mesma audiência, as interrupções estritamente necessárias, em especial para
alimentação e repouso dos participantes. Se a audiência não puder ser concluída no dia em que se tiver
iniciado, é interrompida, continuar no dia útil imediatamente posterior. Em caso de interrupção, a audiência
retoma-se a partir do último ato processual praticado – art.º 328º n.º2 e 4º.

A interrupção pressupõe que a audiência tenha sido formalmente aberta – art.º 329º n.º3. Depende sempre
de despacho fundamentado, que é notificado a todos os sujeitos – art.º 328º n.º5, 97º n.º5 CPP, 24º n.º1
LOSJ e art.º 205º CRP. O anúncio público do dia e da hora vale como notificação – art.º 328º n.º8.

Adiamento
O número 3do art. 328°, consagra que o adiamento da audiência só é admissível, sem prejuízo dos demais
casos previstos no CPP, quando, não sendo a simples interrupção bastante para remover o obstáculo.

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Outros casos consagrados no CPP pressupõe o adiamento da audiência: art.º 67º n.º3, 93º n.º2, 330º n.º2,
331º n.º2 e 3º, art.º 333º n.º1, 334º n.º3, 351º n.º4, 359º n.º4.

O adiamento da audiência depende sempre de despacho fundamentado que é notificado a todos os


sujeitos - art.º 328º n.º5, 97º n.º5 CPP, 24º n.º1 LOSJ e art.º 205º CRP.

Não pode exceder os 30 dias por força dos princípios da concentração, imediação, oralidade, continuidade
e celeridade processual. Não é considerado o período de férias judiciais nem o período em que, por
motivo estranho ao tribunal os autos aguardem a realização de diligencias de prova, prolação de sentenças
ou que, em via de recurso, o julgamento seja anulado parcialmente e nomeadamente para repetição da prova
ou produção de prova suplementar – art.º 328º n.º 6 e 7º; art.º 606º n.º3 e 4 CPC.

Em caso de adiamento, a audiência retoma-se a partir do último ato processual praticado. O anúncio público
em audiência vale como notificação para continuação ou recomeço – art.º 328º n.º4 e 8º.

Ao contrário da interrupção, o adiamento pode dar-se antes de a audiência ser iniciada – art.º 330º n.º2
– ou depois – art.º 359º n.º4

Princípio da plenitude da assistência dos juízes


Art.º 328-A – só pode intervir em sentença os juízes que tenham assistido a todos os atos de instrução e
discussão praticados na audiência de julgamento. Se um dos juízes ficar permanentemente impossibilitado
(ou falecer), os atos já praticados terão de se repetir – art.º 605º n.º1 CPC ex vi art.º 4º.

No entanto, há exceções previstas no art.º 328-A n.º1 parte final.

ATOS INTRODUTÓRIOS À AUDIÊNCIA


Abertura da audiência
Chamada
Na hora a que deva realizar-se a audiência, o funcionário de justiça, de viva voz e publicamente, começa
por identificar o processo e chama, em seguida, as pessoas que nele devam intervir. Faltando alguma dessas
pessoas (ou melhor, faltando à primeira chamada), o funcionário de justiça faz nova chamada, após o que
comunica verbalmente ao presidente o rol dos presentes e dos faltosos (art. 329º, n°s 1e 2).

Regime de falta de comparência


Para além de mencionar o rol dos presentes e faltosos, o funcionário de justiça deve ainda comunicar ao
presidente a impossibilidade de comparência à audiência de pessoa que nela deva intervir (se tal lhe tiver
sido transmitido previamente).

Por força do art. 117º, n°2 se a impossibilidade de comparência for previsível deve ser comunicada ao
tribunal com 5 dias de antecedência à realização da audiência. Ao invés, se a falta for imprevisível, deve
ser comunicada no dia e hora designados para a sua realização. Da comunicação deve constar, sob pena de
não justificação da falta:
• A indicação do respetivo motivo (se for alegada doença, deve ter-se em conta o art.º 117º n.º4);
• O local onde o faltoso pode ser encontrado;
• A duração previsível do impedimento.

Quem não compareça a um ato judicial deve ser sancionado ainda que esse ato não se realize.

A falta motivada por facto não imputável ao faltoso que o impeça de comparecer considera-se justificada.
A falsidade de justificação é punida – art.º 260º, 360º CP + art.º 117º n.º1 e 7º

Em caso de falta injustificada de comparência o juiz, para além de condenar o faltoso ao pagamento de uma
soma entre 2 e 10 UC, pode também ordenar a sua detenção pelo tempo indispensável à realização da
audiência, bem como condená-lo ao pagamento das despesas ocasionadas pela sua não comparência (art.
116º, n°s 1 e 2)

Declaração de abertura da audiência


Após a chamada, o tribunal entra na sala e o presidente declara aberta a audiência – art.º 329º n.º3. importa
mencionar que há atos processuais que só podem ser praticados até esse momento - dedução de

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incompetência territorial (art.º 32º n.º2º b); constituição de assistente e dedução de PIC em processo sumário
– art.º 388º.

• De acordo com o art.º 44º, o requerimento de recusa de intervenção do juiz e o pedido de escusa
também são admissíveis até ao início da audiência.
• Constituição de assistente – pode requerer ao juiz a sua constituição até 5 dias antes do início da
audiência – art.º 68º n.º3 a)
• Se o conhecimento dos resultados da perícia não for indispensável para o juízo sobre acusação, a
autoridade judiciária pode autorizar que o relatório seja apresentado até à abertura da audiência –
art.º 157º n.º4
• Desistência de queixa ou de acusação de particular, cabendo a sua homologação ao presidente –
art.º 51º n.º2 CPP e art.º 116º e 117º CP.

Efeitos da falta de comparência à audiência


Falta do MP e do defensor
Se, no início da audiência, não estiver presente o MP ou o defensor, o presidente procede, sob pena de
nulidade insanável, à substituição do MP pelo substituto legal, e do defensor por outro advogado ou
advogado estagiário, aos quais pode conceder, se assim o requererem, algum tempo para examinarem o
processo e prepararem a intervenção (art. 330°, n° 1 + 1149º b) e c)).

Relativamente ao defensor, cfr. os arts. 61, n°,1als.e) e f )e segts. e o art. 32,n° 3 da CRP, art.º 6º n.º3 c)
CEDH, art.º 47º CDFUE; art.º 14º n.º3 b) e d) PIDCP

É obrigatória a assistência de defensor na audiência de julgamento (mesmo que seja realizada na ausência
do arguido), sob pena de nulidade insanável (cfr. os arts. 64, n° 1, als. c) e g); 119°, a.l c) e 334°, n° 4).

A presença do MP justifica-se na medida em que lhe compete deduzir acusação e sustentá-la no


julgamento – art.º 53º n.º2 c).

Falta do representante do assistente e das partes civis


• Nos crimes públicos e semipúblicos
Em caso de falta do representante do assistente ou das partes civis a audiência prossegue, sendo o faltoso
admitido a intervir logo que comparecer (art. 330°,n° 2 ).

A acusação do assistente por crime público e semipúblico é sempre subordinada à do MP (art. 284%, n°
1). Assim, em caso de falta do representante do assistente não se justifica o adiamento da audiência,
uma vez que está presente órgão que proferiu a acusação principal.

Também a falta do representante das partes civis não implica o adiamento, podendo a ação civil correr
à inteira revelia das partes – art.º 82º, art.º 72º n.º1 e).

• Crimes particulares
Tratando-se de falta do representante do assistente em procedimento dependente de acusação particular, a
audiência é adiada por uma só vez. Porém, a falta não justificada ou a segunda falta valem como desistência
da acusação, salvo se houver oposição do arguido (art. 330°, n° 2)

Falta do assistente, testemunhas, peritos, consultores técnicos ou partes civis


Em regra, a falta do assistente, de testemunhas, peritos ou consultores técnicos ou das partes civis não dá
lugar ao adiamento da audiência. O assistente e as partes civis são, nesse caso, representados para todos
os efeitos legais pelos respetivos advogados constituídos (art.º 331º n.º1).

O n° 2, do art. 331°, consagra que, se o presidente, oficiosamente ou a requerimento, decidir, poer despacho,
que a presença de alguma das pessoas supra referidas é indispensável à boa decisão da causa e não for
previsível a obtenção do seu comparecimento com a simples interrupção da audiência, são inquiridas as
testemunhas e ouvido o assistente, perito ou consultores ou partes civis, mesmo que tal implique a alteração
da ordem de produção de prova – art.º 341º

A lei só exige a comparência do assistente e das partes civis na audiência de julgamento, constituindo
nulidade dependente de arguição a sua ausência, por falta de notificação (art. 120º, n° 2, al. b)). Assim

58
sendo, se o assistente ou as partes civis não forem notificadas para a audiência e, não comparecendo, mesmo
assim, ela for realizada, o ato é nulo. Cfr., ainda, os arts. 121° e 122

O auto (que no caso da audiência denomina-se ata) contém, entre outras menções, as causas, se conhecidas,
da ausência das pessoas cuja intervenção no ato estava prevista (cf.. os arts. 99°, n° 3, a.l b) e 362°).

Presença e falta de comparência do arguido


• Obrigatoriedade da presença
A presença do arguido em audiência não pode ser encarada, de forma alguma, como um mero requisito
formal a cumprir.

A obrigatoriedade de presença do arguido é uma regra que se destina a consagrar a garantia constitucional
de um processo penal equitativo, o qual deve assegurar todas as garantias de defesa ao arguido – art.º 20º
n.º4 e 32º n.º1 e 5º CRP.

Se o arguido se encontrar preso em comarca diferente pela prática de outro crime, deve ser requisitado à
entidade que o tiver à sua ordem – art.º 332º n.º2 e 3º e art.º 114º

A audiência de julgamento só pode realizar-se na ausência do arguido (não estando presente em qualquer
sessão) se este:
• Tiver anteriormente prestado termo de identidade e residência (art. 196°, n° 3, al. d)) e não
comparecer na data designada, tendo sido notificado do despacho que designa dia para a audiência
(art. 313°, n° 1) com a cominação de que, faltando, a audiência terá lugar na sua ausência (cfr. os
n°s 1 e 2, do art. 333°);
• Se encontrar numa das situações descritas nos n°s 1 do art. 334º
• Tiver pedido ou dado consentimento para esse efeito – art.º 333º n.º4 e 334º n.º2

Tratando-se de ausência a uma das sessões, antes de a mesma se ter iniciado (v. g., se o arguido se encontrar
impedido de comparecer na audiência por motivo de doença) pode sempre justificar a falta, de acordo com
o disposto no art. 117º. Em caso de falta injustificada, o arguido é condenado ao pagamento de uma multa
(entre 2 e 10 UC) e/ou detido para comparência (arts. 116°, n°s 1e 2 e 254º xe vi art. 332º, n° 8 e 27º n.º3
f) CRP).
• Afastamento do arguido durante a audiência
O arguido que tiver comparecido à audiência não pode afastar-se dela até ao seu termo, devendo o
presidente tomar as medidas necessárias e adequadas para evitar o afastamento, incluída a detenção (cfr. o
art. 254°, n° ,1 al. b)) durante as interrupções da audiência, se isso se revelar indispensável.

Não obstante, se o arguido se afastar da sala de audiência, pode esta prosseguir até final se ele já tiver sido
interrogado e o tribunal não considerar indispensável a sua presença, sendo para todos os efeitos
representado pelo defensor. Este regime vale para o caso em que o arguido, por dolo ou negligência, se tiver
colocado numa situação de incapacidade para continuar a participar na audiência (art. 332°, n°s 4,5 e 6).

O tribunal pode ordenar o afastamento do arguido da sala se:


• No decurso faltar ao respeito devido ao tribunal – art.º 325º n.º4
• Entender que a sua presença poe em causa a liberdade de prestação de declarações – art.º 352º

Voltando o arguido à sala, é sob pena de nulidade, resumidamente instruído pelo presidente do que se tiver
passado na sua ausência – art.º 332º n.º7 e 352º n.º2. O mesmo se diga quando respondendo vários
coarguidos, o juiz determinar a audição separada uns dos outros – art.º 343º n.º4

• Julgamento na ausência do arguido notificado para a audiência


Tendo o arguido sido regularmente notificado do despacho que designa dia para a audiência de julgamento
(de acordo com o n° 3, do art. 313), devemos considerar os seguintes cenários:
• Se não estiver presente na hora designada para o seu início, o presidente toma as medidas
necessárias e legalmente admissíveis para obter a sua comparência, e a audiência só é adiada se
o tribunal considerar que é absolutamente indispensável para a descoberta da verdade
material a sua presença desde o início da mesma (art. 333º, n° 1). Note-se que a segunda data
para a realização da audiência aí se encontra designada nos termos do art. 312°, n° .1
• Se o tribunal considerar que a audiência pode começar sem a presença do arguido ou se a
falta do arguido tiver como causa os impedimentos enunciados nos n°s 2 a 4, do art. 117, a

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audiência não é adiada, sendo inquiridas ou ouvidas as pessoas presentes indicadas pelo MP, pelo
assistente e pelo lesado ,e posteriormente, as indicadas pelo arguido e pelo responsável civil (sem
prejuízo da alteração que seja necessária efetuar no rol apresentado), sendo tais declarações
documentadas. Havendo impossibilidade de comparência, mas não de prestação de depoimento,
esta realizar-se-á no dia, hora e local que o juiz designar, se tal for necessário (ver, articuladamente,
os arts. 333º, n° 2, 341°, als. b) e c) e 117°, n° 6).
Se o juiz ordenar a realização da audiência nestas circunstâncias, o arguido mantém o direito de prestar
declarações até ao encerramento – art.º 312º n.º2 + 333º n.º3

A prescrição do procedimento criminal suspende-se, nomeadamente, durante o tempo em que a sentença


não puder ser notificada ao arguido julgado na ausência (art. 120º, n° 1, d), do CP).

Importa ainda reter o seguinte:


• O regime supra mencionado não prejudica que a audiência tenha lugar na ausência do arguido com
o seu consentimento, nos termos do art. 3349, n° 2(art. 333°, n° 4);
• Havendo conexão de processos, os arguidos presentes e ausentes são julgados conjuntamente,
salvo se o tribunal tiver como mais conveniente a separação de processos (art. 334°, n° 5 ex vi art.
333º, n° 7)
o O tribunal faz cessar a conexão e ordena a separação de algum, alguns ou de todos os
processos sempre que, entre outros motivos, a conexão afetar gravemente e de forma
desproporcionada a posição de qualquer arguido ou houver na separação um interesse
ponderoso e atendível de qualquer um deles. Art.º 30º n.º1 a) c) d) e e)
• Sempre que audiência tiver lugar na ausência do arguido , este é representado para todos os efeitos
possíveis, pelo defensor (art. 334°, n °4 ex vi art. 333°. n° 7)
• Em caso de falta injustificada de comparência para notificação da sentença, o arguido deve ser
condenado ao pagamento de uma soma entre 2 e 10 UC e/ou detido para comparência (arts. 116,
n°s 1e 2 e 254º ex vi art. 333º n° 7, 27º n.º3 f) CRP).

Audiência na ausência do arguido em casos especiais


O tribunal pode determinar que a audiência tenha lugar na ausência do arguido:
• Se ao caso couber processo sumaríssimo mas o procedimento tiver sido reenviado para a forma
comum e o arguido não puder ser notificado do despacho que designa dia para a audiência ou faltar
a esta injustificadamente (art. 334º. n° 1). Estamos perante ocaso em que não é aplicável o processo
sumaríssimo. porque o arguido não aceitou as sanções propostas pelo MP ou não compareceu nem
se fez representar.
• Sempre que este se encontrar praticamente impossibilitado de nela com- parecer. nomeadamente
por idade, doença grave ou residência no estrangeiro. Neste caso, o arguido pode requerer ou
consentir que a audiência tenha lugar na sua ausência (art. 334º, n° 2)

Em ambas as situações. se o tribunal vier a considerar absolutamente indispensável a presença do


arguido, ordena-a, interrompendo ou adiando a audiência, se isso for necessário (art. 334. n° 3). Sempre
que a audiência tiver lugar na ausência do arguido, este é representado para todos os efeitos possíveis, pelo
defensor – art.º 334º n.º4, 64º n.º1 g) e 119º c), 32º n.º3 CRP.

Havendo conexão de processos – art.º 24º e ss - os arguidos presentes e ausentes sã o julgados


conjuntamente. Salvo se o tribunal tiver como mais conveniente a separação de processos – art.º 334º n.º5
e 30º n.º1 e). Fora dos casos mencionados nos n°s 1e 2. do art. 334. a sentença é notificada ao arguido que
foi julgado como ausente logo que seja detido ou se apresente voluntariamente (art. 334° n° 6).

Prazo de interposição do recurso pelo arguido conta- se a partir da notificação da sentença. Ademais, nessa
notificação, o arguido é expressamente informado do direito a recorrer da sentença e do respetivo prazo –
art.º 334º n.º6 e 7º

Em caso de falta injustificada de comparência para notificação da sentença. O arguido deve ser condenado
ao pagamento de uma soma entre 2 e 10UC e/ou detido para comparência (art.º 116º n.º1/2 e 254º ex vi art.º
334º n.º8 e 27º n.º3 f) CRP.

Questões prévias ou incidentais


Aberta a audiência, o tribunal conhece e decide das nulidades e de quaisquer outras questões prévias ou
incidentais, suscetíveis de obstar à apreciação do mérito da causa acerca das quais não tenha ainda havido

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decisão e que possa desde logo apreciar (por exemplo, prescrição, amnistia. desistência de queixa,
impedimentos. etc.). A discussão destas questões deve conter-se nos limites de tempo estritamente
necessários, não ultrapassando, em regra, 1h. a decisão pode ser proferida oralmente com transcrição na
ata – art.º 338º n.º1/2.

Há questões que se podem revelar de tal forma complexas que podem levar ao adiamento da audiência –
art.º 328º n.º3 c).

Exposições introdutórias
O presidente realiza os atos previstos no art.º 339º n.º1/2/3:
1. Ordena a retirada das pessoas que vão testemunhar da sala
2. Faz uma exposição sucinta sobre o caso
3. Dá a palavra ao MP, advogados do assistente, lesado e do responsável civil e ao defensor, para que
cada um fale em 10min

Objeto da discussão da causa


O art. 339º dispõe que a discussão da causa tem por objeto:
• Os factos alegados pela acusação e pela defesa, considerando as partes civis
• Os factos que resultaram da prova produzida
• As soluções jurídicas pertinentes, independentemente da qualificação jurídica dos factos
resultantes da acusação ou da pronúncia – art.º 368º e 369º

PRODUÇÃO DE PROVA EM AUDIÊNCIA


Princípios gerais
O tribunal ordena, oficiosamente ou mediante requerimento, a produção de todos os meios de prova cujo
conhecimento se lhe afigure necessário à descoberta da verdade e à boa decisão da causa (cfr. os arts. 340°,
n° 1 e 323° , als. a) e b)). Se o não fizer, incorre na nulidade prevista no art. 120a n° ,2 al d), parte final, a
qual se enquadra na omissão de diligências que possam reportar-se essenciais para a descoberta da verdade.

Estamos na presença do princípio da verdade material ou da investigação oficiosa no processo penal,


segundo o qual é ao tribunal que compete investigar os factos sujeitos a julgamento e construir por si os
alicerces da sua decisão, independentemente das contribuições dadas pelas partes – art.º 20º n.º1 e 32º n.º1
e 7º CRP.

Constituem objeto da prova todos os factos juridicamente relevantes para a existência ou inexistência do
crime, a punibilidade ou não punibilidade do arguido e a determinação da pena ou da medida de segurança
aplicáveis. Se tiver lugar pedido de indemnização civil, constituem igualmente objeto da prova os factos
relevantes para a determinação da responsabilidade civil (art.124º, n°s1e2). Para além do mais, o art. 125°
consubstancia o princípio da legalidade da prova, estabelecendo que, não sendo proibidas por lei, todas as
provas são admissíveis.

Os meios de prova expressamente consagrados CPP são: prova testemunhal (art.º 128º a 139º),
declarações do arguido, assistente e partes civis (art.º 140º a 145º), prova por acareação (art.º 146º), prova
por reconhecimento (art.º 147º a 149º), reconstituição do facto (art.º 150º), prova pericial (art.º 151º a 163º)
e prova documental (art.º 164º a 170º).

Em princípio, a prova a produzir em julgamento reconduz-se à oferecida nos instrumentos processuais


adequados, seja na acusação, pronúncia e contestação, seja a requerida com os articulados cíveis.

No entanto, se o tribunal considerar necessário a produção de outros meios de prova, dá disso conhecimento,
com a antecedência possível, aos sujeitos processuais e fá-lo constar da ata (art. 340°, n° 2). Devemos ainda
sublinhar que os meios de prova apresentados no decurso da audiência são submetidos ao princípio do
contraditório, mesmo que tenham sido oficiosamente produzidos pelo tribunal (art. 327º, n° 2).

Indeferimento dos requerimentos de prova


Sem prejuízo do art.º 328º n.º3, os requerimentos de prova são indeferidos por despacho:
a) Quando a prova ou o respetivo meio forem legalmente inadmissíveis – art.º 340º n.º3
b) Se for notório que (art.º 340º n.º4 b), c) e d)):
a. As provas requeridas são irrelevantes ou supérfluas
b. O meio de prova é inadequado, de obtenção impossível ou muito duvidosa

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c. O requerimento tem finalidade meramente dilatória

Proibição de valoração de provas


Por determinação dos n°s 1e ,2 do art. 355°, não valem em julgamento, nomeadamente para o efeito de
formação da convicção do tribunal, quaisquer provas que não tiverem sido produzidas ou examinadas em
audiência. Ressalvam-se, no entanto, as provas contidas em atos processuais cuja reprodução, leitura,
visualização ou audição em audiência sejam permitidas, nos termos dos arts. 356º e 357º.

Não se pode obliterar que o tribunal pode, em qualquer altura do julgamento, logo que, em função da prova
para o efeito produzida em audiência, o considerar necessário à correta determinação da sanção que
eventualmente possa vir a ser aplicada, solicitar a elaboração de relatório social ou de informação dos
serviços de reinserção social (cfr. o art. 1°, als. g) e h), ou a respetiva atualização quando aqueles já
constarem do processo (art. 213, n° 4). Refira-se que a leitura em audiência deste relatório ou desta
informação, porque atinge a esfera privada do arguido, só é permitida a requerimento, nos termos e para
os efeitos de reabertura da audiência com vista à determinação da sanção (cfr. os arts. 370%, n°s 1e 4; e
371º). Por outro lado, uma vez que estamos perante uma prova que não é produzida ou examinada em
audiência, a mesma não tem valor para a formação da convicção do tribunal – art.º 370º n.º5

Salvo quando a lei dispuser diferentemente (art.º 163º n.º1) a prova é apreciada segundo as regras da
experiência e a livre convicção da entidade competente (art, 127°).

O MP e o juiz de instrução só podem acusar ou pronunciar o arguido se a prova produzida (nas fases
do inquérito e da instrução, respetivamente), demonstrarem a existência de indícios suficientes da prática
de um crime – art.º 283º n.º1/2 e 308º). O tribunal só pode proferir sentença condenatória se, com base
na prova produzida tiver plena convicção de que o arguido praticou o crime.

Não podemos confundir proibição de valoração de prova com proibição de prova, estando a última
prevista no art.º 32º n.º8 CRP e nos art.º 126º e 118º n.º3 CPP. Se no decurso da fase de instrução o juiz
não reconheceu uma prova proibida, a mesma pode ser reapreciada pelo juiz de julgamento – art.º 310º n.º2.

Ordem de produção de prova


De acordo como art.º 341º:
1. Declarações do arguido – art.º 342º a 345º. Começa e termina com a audição do arguido
2. Apresentação dos meios de prova indicados pelo MP, assistente e lesado.
a. Relativamente ao PIC, o princípio do ónus da prova impõe que sejam produzidas em
primeiro lugar as provas requeridas ou apresentadas pelo lesado – art.º 342º CC
3. Apresentação dos meios de prova indicados pelo arguido e pelo responsável civil.

De acrescentar que pode haver lugar à produção de outros meios de prova admitidos nos termos do n° 2 do
art. 340º. Em tal caso, seguir-se-á a ordem por que foram admitidos.

A ordem pode ser alterada pelo presidente nos casos previstos no art.º 323º a), 328º n.º3 a), 331º n.º3, 333º
n.º2, 348º n.º2.

Declarações do arguido
Identificação
O juiz (presidente) começa por perguntar ao arguido pelo seu nome, filiação, freguesia e concelho de
naturalidade, data de nascimento, estado civil, profissão, local de trabalho e residência e, se necessário,
pede-lhe a exibição de documento oficial bastante de identificação, advertindo-o, desde logo, de que a falta
de resposta as perguntas feitas ou a falsidade da mesma o pode fazer incorrer em responsabilidade penal –
art.º 342º n.º1/2 CPP, art.º 348º n.º1 b) e 359º n.º2 CP.

Declarações durante a audiência


O presidente deve informar o arguido de que tem direito a prestar declarações em qualquer momento da
audiência, desde que elas se refiram ao objeto do processo, sem que no entanto a tal seja obrigado e sem
que o seu silêncio possa desfavorecê-lo (cfr. os arts. 343°, n° 1; 58°, n° 5 e 61°, n° 1, als. c), d), f) e h) e o
art. 14°, n° 3, al. g), do PIDCP). No âmbito de primeiro interrogatório judicial (e não) – art.º 141º n.º4 b) e
n.º5, art.º 143º n.º2

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Com efeito, o arguido pode tomar uma das seguintes atitudes: não prestar declarações (art.º 61º n.º1 d)),
ou prestar declarações (art.º 345º), nesse caso podendo confessar os factos em que assenta a acusação (art.
344°) ou negar a factualidade constante da acusação.

O direito ao silêncio e de não se incriminar são aspetos importantes da presunção de inocência.

Decidindo o arguido prestar declarações, devemos ter presente o seguinte:


• Deverá fazê-lo pessoalmente, isto é, em caso algum podem ser feitas por intermédio de procurador
(art. 138°, n° 1ex vi art. 140°, n° 2);
• Deve encontrar-se livre na sua pessoa (ainda que se encontre detido ou preso), salvo se houver
necessidade de acautelar eventuais fugas ou atos de violência (art. 140º, n° 1);
• Não presta juramento em caso algum (art. 140°, n° 3);
• Tratando-se de pessoa coletiva, os direitos e deveres são exercidos e cumpridos através do
representante – art.º 57º n.º4 a 9º, 61º n.º9 e 64º n.º5
• Em regra aprestação de qualquer declaração processa-se de forma oral (art. 96º, n° 1). Todavia,
tratando-se, por exemplo, de surdo, deficiente auditivo ou mudo, rege o disposto no art. 92 e 93º.
• Se não conhecer ou não dominar a língua portuguesa deve ser nomeado intérprete, caso não seja
estamos perante uma nulidade dependente e arguição – art.º 120º n.º2 c);
• O tribunal ouve-o em tudo quanto disser, desde que elas se refiram ao objeto do processo, sem
manifestar qualquer opinião ou tecer quaisquer comentários donde possa inferir se um juízo sobre
a culpabilidade (art. 343°, n° 2);
• Se, no seu decurso, se afastar do objeto do processo, reportando-se a matéria irrelevante para a
boa decisão da causa, o presidente adverte--o e, se aquele persistir, retira-lhe a palavra (cfr. os arts.
343º, n° 3 e 323º, al. g));
• Respondendo vários coarguidos, o juiz determina se devem ser ouvidos na presença uns dos
outros. Em caso de audição separada, o presidente, uma vez ouvidos todos os arguidos e
regressados à audiência, dá-lhes resumidamente conhecimento, sob pena de nulidade, do que se
tiver passado na sua ausência (art. 343º, n° 4);
• Cada um dos juízes e dos jurados pode fazer-lhe perguntas sobre os factos que lhe sejam imputados
e solicitar-lhe esclarecimentos sobre as declarações prestadas. O arguido pode, espontaneamente
ou a recomendação do defensor, recusar responder a alguma ou a todas as perguntas, sem que isso
o possa desfavorecer (ver os arts. 345°, n° 1e 61°, n° 1, al. d)).
• O MP, o advogado do assistente e o defensor podem solicitar ao presidente que lhe formule
perguntas (art. 345°, n° 2), bem como o advogado das partes civis no que toca à prova do objeto
do pedido de indemnização civil (art. 74º, n° 2);
• Ao MP , ao defensor, aos representantes do assistente e das partes civis não são permitidas
interferências nas sua declarações, nomeadamente sugestões quanto ao modo de declarar, não
obstante a faculdade do defensor – art.º 345º n.º1 e 343º n.º5
• Podem ser mostrados ao arguido quaisquer pessoas, documentos ou objetos relacionados com o
tema da prova, bem como peças anteriores do pro- cesso, sem prejuízo do disposto nos arts. 356º
e 357º, relativos à reprodução ou leitura permitidas de autos e declarações e de declarações do
arguido, respetivamente – art.º 345º n.º3, 138º n.º4 ex vi art.º 140º n.º2
• Não podem valer como meio de prova as declarações de um coarguido em prejuízo de outro
coarguido quando o declarante se recusar a responder às perguntas sobre os factos que lhe são
imputados (art. 345°, n° 4);
• Quando na audiência se suscitar fundadamente a questão da inimputabilidade do arguido (ou a
imputabilidade diminuída), o presidente (oficiosamente ou a requerimento) deve ordenar a
comparência de um perito para se pronunciar sobre o estado psíquico daquele (art. 351º, n°s 1e 2);
• O arguido pode solicitar a reprodução ou leitura de declarações anterior- mente feitas por si no
processo (art. 357º, n° ,1 al. a). Cf., ainda, os n°s 7, 8 e 9, do art. 141º, quanto à forma da
documentação, aquando do 1° interrogatório do arguido;
• As declarações prestadas oralmente na audiência são documentadas na ata (cfr. os arts. 363°, 364º,
99º, n° 3 e 100°);
• As declarações são livremente apreciadas pelo tribunal (art. 127º).

Confissão
No caso de o arguido declarar que pretende confessar os factos que lhe são imputados, o presidente, sob
pena de nulidade, pergunta-lhe se o faz de livre vontade e fora de qualquer coação, bem como se se propõe

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fazer uma confissão integral e sem reservas (art. 344º, n° 1). A confissão é, no fundo, o reconhecimento
que o arguido faz dos factos constantes da acusação ou da pronúncia que lhe são desfavoráveis.

A confissão do arguido tem de ser prestada presencialmente em audiência de julgamento, deve ser livre,
integral (isto é, deve reportar-se a todos os factos de que vem acusado ou pronunciado) e sem reservas
(não pode invocar causas dirimentes da responsabilidade criminal, v. g,. confissão de ofensas à integridade
física, mas acrescentando factos configurativos de uma legítima defesa).

Se, aquando da confissão, mostrar arrependimento, o juiz deverá considerar tal circunstância para efeitos
de atenuação da pena (arts. 72º n° 2, a.l c) e 73°, do CP).

Verificando-se confissão integral e sem reservas ou a confissão parcial ou com reservas, o tribunal decide,
em livre convicção, se deve ter lugar e em que medida, a produção da restante prova, quanto aos factos
confessados – art.º 344º n.º4
Efeitos da confissão:
• Renúncia à produção da prova relativa aos factos e consequente consideração destes como
provados – art.º 344º n.º2 a)
• Passagem de imediato às alegações orais – art.º 360º - e se o arguido não dever ser absolvido por
outros motivos, à determinação da sanção aplicável – art.º 344º n.º2 b)
• Redução da taxa de justiça para metade – art.º 344º n.º2 c) se for feita no início da audiência
• Havendo PIC, redução das provas a produzir apenas sobre a determinação da responsabilidade do
demandado que não seja arguido
• Havendo condenação no pedido, à liquidação do montante indemnizatório

Os efeitos não se aplicam nas seguintes circunstâncias – art.º 344º n.º3:


a) Houver coarguidos – art.º 24º - e não se verificar a confissão integral, sem reservas e coerente de
todos eles.
b) O tribunal, na sua convicção, suspeitar do caráter livre da confissão, nomeadamente por dúvidas
sobre a imputabilidade plena do arguido ou da veracidade dos factos confessados
c) O crime for punível com pena superior a 5 anos.

Assistente e partes civis


Quanto à tomada de declarações ao assistente e às partes civis, na audiência:
• O lesado, os demandados e os intervenientes são obrigados a comparecer no julgamento apenas
quando tiverem de prestar declarações a que não puderem recusar-se (art. 80°);
• Podem ser tomadas perante o juiz de outro tribunal ou juízo se residirem fora do município onde
se situa o tribunal ou juízo da causa, não houver razões para crer que a sua presença é essencial à
descoberta da verdade e forem previsíveis graves dificuldades ou inconvenientes, funcionais ou
pessoais, na sua deslocação – art.º 318º n.º1 a) b) e c)
• Se residirem no estrangeiro – art.º 318º n.º8
• Podem ser tomadas declarações mediante perguntas formuladas por qualquer dos juízes e dos
jurados ou pelo presidente, a solicitação do MP, defensor/advogados das partes civis ou do
assistente – art.º 346º n.º1 e 347º n.º1
• A prestação de declarações não é precedida de juramento – art.º 145º n.º4 + 346º n.º2 e 347º n.º2
• Podem-lhes ser mostradas quaisquer pessoas, documentos ou objetos relacionados com o tema da
prova, bem como peças anteriores do pro- cesso, sem prejuízo do disposto nos arts. 356º e 357°
(art. 345º, n° 3 ex vi art. 346°, n° 2 e 347º, n° 2);
• A reprodução ou leitura em audiência das suas declarações só é permitida nas situações do art.º
356º. N.º2 a 5
• O arguido pode ser afastado da sala se houver razões para crer que a sua presença inibiria o
declarante de dizer a verdade – art.º 352º n.º1 a) e n.º2
• É admissível a acareação nos termos e condições do art.º 146º n.º1 e 2
• Só podem abandonar o local da audiência por ordem ou com autorização do presidente, sendo a
autorização denegada sempre que houver razões para crer que a presença pode ser útil à descoberta
da verdade. O MP, o defensor e os advogados do assistente e das partes civis são ouvidos sobre a
ordem ou a autorização – art.º 353º

Testemunhas
É inquirida sobre factos que possua conhecimento direto e sejam objeto da prova – art.º 128º

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O rol de testemunhas de defesa deve ser indicado na contestação ou no prazo em que esta deve ser
apresentada – art.º 311º-B. O rol pode ser alterado ou adicionado nos termos do art.º 316º n.º1 e 3

Recusa – art.º 134º; Escusa – art.º 135º; Segredo de funcionário – art.º 136º; Segredo de Estado – art.º 137º.
Impedimentos – art.º 133º

Inquirição de testemunhas
• Qualquer pessoa tem capacidade para ser testemunha desde que tenha aptidão mental para depor
sobre os factos que constituam objeto da prova e só pode recusar-se nos casos previstos da lei
• Estão impedidos de depor como testemunha o arguido ou coarguidos do mesmo processo ou
processos conexos enquanto mantiverem essa qualidade, pessoas que se tiverem constituído como
assistentes, partes civis, peritos e o representante da pessoa coletiva – art.º 133º n.º1 a) a e)
• Em caso de separação de processos, os arguidos de um mesmo crime ou de crime conexo, mesmo
que já condenados por sentença transitada em julgado, só podem depor se nisso expressamente
consentirem – art.º 133º n.º2 e 30º
• Podem recusar-se a depor como testemunhas os descendentes, ascendentes, irmãos, afins até 2º
grau, adotantes, adotados e o cônjuge do arguido. Bem com o ex-cônjuge ou pessoa que com ele
conviver – art.º 134º n.º1 a) b) e c)
• Os ministros de religião ou confissão religiosa, advogados, médicos, jornalistas e membros de
instituições de crédito – pessoas que a lei permite segredo – podem escusar-se a depor – art.º 135º
n.º1, 136º, 137º
• As declarações podem ser tomadas perante juiz de outro tribunal ou juízo art.º 318º n.º1 a) b) e c)
• Se residirem no estrangeiro – art.º 318º n.º8
• Prova testemunhal – art.º 348º n.º1 e 128º e segts CPP + 495º CPC
• O depoimento, sendo um ato pessoal, não pode ser feito por intermédio – art.º 138º n.º1
• Podem ser prestadas oralmente – art.º 96º n.º1 – se for pessoa surda ou muda – art.º 93º
• Se não nomear a língua portuguesa – art.º 92º
• O presidente pergunta à testemunha pela sua identificação, relações pessoais, familiares e
profissionais com os participantes e interesse na causa – art.º 348º n.º3 e 138º n.º3
• Imediatamente a seguir prestam juramento – art.º 132º n.º1 b), 138º, 232º d) e 91º
o A testemunha tem o dever de responder com a verdade às perguntas que forem dirigidas
– art.º 132º n.º1 d).
• Os juízes e os jurados podem, a qualquer momento, formular à testemunha as perguntas que
entenderem necessárias para esclarecimento do depoimento prestado e para boa decisão da causa
– art.º 348º n.º5.
• Mediante autorização do presidente, podem as testemunhas indicadas por um coarguido ser
inquiridas pelo defensor de outro coarguido (art. 348°, n° 6);
• Podem ser mostrados às testemunhas quaisquer pessoas, documentos ou objetos relacionados com
o tema da prova, bem como peças anteriores do processo, sem prejuízo do disposto nos arts. 356°
e 357º (art. 345°, n° 3 ex vi art. 348º, n° 7). De igual forma dispõe o art. 138º n.º4
• A leitura em audiência só é permitida conforme o art.º 356º n.º2 a 6
• A acareação é admissível – art.º 146º n.º1
• O arguido pode ser afastado da sala se houver razões para crer que a sua presença inibiria o
declarante de dizer a verdade – art.º 352º n.º1 a) e n.º2
• Os OPC que tenham recebido declarações cuja leitura não foi permitida, bem como quaisquer
pessoas que, a qualquer título, tiverem participado da sua recolha, não podem ser inquiridas sobre
essa matéria– art.º 356º n.º7
• Os reclusos podem prestar depoimento em qualquer processo judicial – art.º 82º-B
• Aplicam-se todas as imunidades e prerrogativas estabelecidas na lei quanto ao dever de
testemunhar e ao modo e local – art.º 139º n.º1
• Em relação à proteção de testemunhas em processo penal – art.º 139º

Compensação de testemunhas
Depois de apresentado o rol, não podem oferecer-se novas testemunhas de fora da comarca, salvo se quem
as oferecer se prontificar a apresentá-las na audiência. Com efeito, as testemunhas convocadas que se
apresentaram à audiência de julgamento, podem requerer que o juiz lhes arbitre uma quantia, calculada em
função das tabelas, a titulo de compensação das despesas realizadas – art.º 316º n.º2 e 317º n.º4.

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Valor da prova testemunhal
A prova testemunhal é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção da entidade
competente – art.º 127º CPP e o art.º 396º CC. O art.º 374º estabelece que para além do relatório e do
dispositivo, da sentença deve ainda fazer parte a fundamentação.

Peritos e consultores técnicos


As perícias são meios de prova utilizados quando a perceção ou a apreciação dos factos exigem especiais
conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos (art. 151°).

A prova pericial encontra-se regulada nos art.º 151º e ss. No âmbito do processo civil, regem os art.º 467º
e ss. CPC

O perito é obrigado a desempenhar com diligência a função para que tiver sido nomeado,
correspondendo, assim, a um dever de colaboração com o tribunal – art.º 469º CPC n.º1 CPC. Em regra, a
perícia pode ser ordenada por qualquer autoridade judiciária (cfr. os arts. 154º, n° 1 1º, al. b)). Na fase
do inquérito, tratando-se do MP, esta competência está prevista no art. 270°, n° 2, al. b), a qual não é
delegável nos órgãos de polícia criminal (com exceção da situação prevista no n° 3, do art. 270. Já se a
perícia tiver por objeto caraterísticas físicas ou psíquicas da pessoa que não haja prestado consentimento,
tal competência, nessa fase processual, cabe, em exclusivo, ao juiz de instrução (cfr., articuladamente, os
arts. 269º n°1 al. a) e 154°, n° 3.

Se as declarações aos peritos e consultores técnicos tiverem sido tomadas nos termos dos arts 318º, 319º e
320º, os autos podem ser lidos na audiência – art.º 356º n.º1 a).

Os peritos e consultores indicados por quem se não tiver comprometido a apresentá-los na audiência de
julgamento são notificados para comparência, podendo o juiz, a requerimento, arbitrar-lhes uma quantia
calculada em função de tabelas aprovadas pelo MP – art.º 317º n.º1 e n.º4.

Valor da prova pericial


É apreciada segundo as regras do art.º 127º. Com efeito, o juízo técnico, científico ou artístico inerente à
prova pericial presume-se subtraído à livre apreciação do julgador. Neste seguimento, sempre que a
convicção do julgador divergir do juízo contido no parecer dos peritos, uma vez que trata de entidade
devidamente qualificada – art.º 163º n.º1 e 2.

Ao invés do processo civil, a prova pericial é apreciada livremente pelo tribunal – art.º 388º e 389º CC.

Exame no local
Numa clara manifestação do princípio da investigação na fase do julgamento, o art. 354º, consagra que o
tribunal pode, quando o considerar necessário à boa decisão da causa deslocar-se ao local onde tiver
ocorrido qualquer facto cuja prova se mostre essencial para a descoberta da verdade material e convocar
para o efeito os participantes processuais cuja presença entender conveniente. Decisão discricionária,
sendo insuscetível de recurso – art.º 400º n.º1 b). O exame é um meio de obtenção de prova previsto nos
art.º 171º a 173º, art.º 490º e ss do CPC.

Prova documental
O regime da prova documental está previsto nos art.º 164º a 170º. O art.º 164º n.º1 define documento. O
documento deve ser junto aos autos no decurso do inquérito ou da instrução ou, não sendo até aí possível,
até ao encerramento da audiência - art.º 340º n.º1. Em qualquer caso, o cumprimento do princípio do
contraditório deve ser sempre assegurado, podendo o tribunal conceder um prazo não superior a 8 dias –
art.º 165º n.º1/2

Lembramos que os requerimentos de prova, na fase de julgamento, são indeferidos se for notório,
nomeadamente, que as provas requeridas já podiam ter sido juntas ou arroladas com a acusação ou a
contestação, exceto se o tribunal entender que são indispensáveis à descoberta da verdade e boa decisão da
causa – art.º 340º n.º2 e art.º 436º CPC

Em relação a cada um dos sujeitos processuais, a prova documental deve ser apresentada:
• Pelo MP e pelo assistente, nas respetivas acusações – art.º 283º n.º3 f); 284º n.º2 e 285º n.º3
• Pelo arguido, no decurso do inquérito ou da instrução – art.º 61º n.º1 g), 287º n.º2 e 296º - e na sua
contestação – art.º 311º-B

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• Pelas partes civis com os articulados – art.º 79º n.º1

Desde que observados os restantes requisitos previstos no art. 391º-A, se a prova for essencialmente
documental e poder ser recolhida no prazo previsto para a dedução da acusação, o julgamento pode realizar-
se sob a forma abreviada – art.º 391º-A n.º3 b).

Valor da prova documental


O valor probatório dos documentos autênticos e autenticados consta do art. 169º, nos termos do qual devem
considerar-se provados os factos materiais neles constantes (enquanto a autenticidade do documento ou a
veracidade do seu conteúdo não forem fundadamente postas em causa).

Tratando-se de documento particular o seu valor probatório é livremente apreciado pelo tribunal, nos termos
do art. 127º. A força probatória dos documentos autênticos e particulares, no foro civil, consta dos arts.
371º, 376º e 377º CC.

Quanto ao valor probatório das reproduções mecânicas e reprodução mecânica de documentos, cfr. os arts.
Art.º 167º e 168º. No âmbito civil vale o art.º 368º CC.

Reprodução ou leitura permitidas em audiência


De autos e declarações
Em regra, não valem em julgamento, nomeadamente para o efeito de formação da convicção do tribunal,
quaisquer provas que não tiverem sido produzidas ou examinadas em audiência (manifestação dos
princípios do contraditório, da oralidade e da imediação).

Lista de permissão de leitura de autos: art.º 356º

Declarações do arguido Art.º 357º n.º1

Alteração dos factos descritos na acusação ou na pronúncia


Alteração não substancial
Se, no decurso da audiência, se verificar uma alteração não substancial dos factos descritos na acusação ou
na pronúncia, se a houver, com relevo para a decisão da causa, o presidente, oficiosamente ou a
requerimento, comunica a alteração ao arguido e concede-lhe, se ele o requerer, o tempo estritamente
necessário para a preparação da defesa (só não será assim se a alteração tiver derivado de factos alegados
pela defesa). De igual forma se deve proceder quando o tribunal alterar a qualificação jurídica dos factos
descritos na acusação ou na pronúncia (art. 358º n°s1/2/3).

Em nome dos princípios da economia processual e da segurança, o tribunal pode conhecer dos factos novos
– art.º 358º n.º1.

Alteração não substancial é aquela que, embora representando uma modificação dos factos que constam
da acusação ou da pronúncia, não tem por efeito a imputação ao arguido de um crime diverso ou a agravação
dos limites máximos – art.º 1 f) a contrario.

Alteração substancial
Uma alteração substancial dos factos descritos na acusação ou na pronúncia, para além de não poder ser
tomada em conta pelo tribunal para o efeito de condenação no processo em curso, não implica a extinção
da instância (art. 359º, n° 1).

Alteração substancial é aquela que tiver por efeito a imputação ao arguido de um crime diverso ou a
agravação dos limites máximos das sanções aplicáveis – 1º f) e art.º 1º a).

A comunicação da alteração substancial dos factos ao MP vale como denúncia para que ele proceda pelos
novos factos (isto é, para que abra inquérito quanto a eles e os investigue, cfr. os arts. 241° e segts. e 262º
e segts.), sendo, contudo, exigível que esses factos novos sejam autonomizáveis em relação ao objeto do
processo (art. 359º n° 2).

Ressalvam-se os casos em que o MP, o arguido e o assistente estiverem de acordo quanto à continuação do
julgamento pelos novos factos. Neste caso, o presidente concede ao arguido, a requerimento deste, prazo
para preparação da defesa não superior a 10 dias, com o consequente adiamento da audiência, se necessário

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(art. 359º n°s 3 e 4). Porém, devemos sublinhar que, se o tribunal for incompetente para conhecer da nova
infração o acordo é irrelevante (cfr. os arts. 10º e 119º e)).

Ainda de realçar que é nula a sentença que condenar por factos diversos dos descritos na acusação ou na
pronúncia, se a houver, fora dos casos e das condições previstos no art. 359° (art. 379º, n° 1, al. b).

Alegações orais
Finda a produção da prova, o presidente concede a palavra, sucessivamente, ao MP, aos advogados do
assistente e das partes civis e ao defensor, para alegações orais nas quais exponham as conclusões, de facto
e de direito, que hajam extraído da prova produzida (cfr. os arts. 360º, n° 1 e 323º g)). As alegações não
podem exceder os 20min.

É admissível réplica, a exercer um só vez, sendo, porém, sempre o defensor, se pedir a palavra, o último a
falar, sob pena de nulidade – art.º 360º n.º2, 120º e 121º

Últimas declarações do arguido e encerramento da discussão


Findas as alegações orais, o presidente pergunta ao arguido se tem mais alguma coisa a alegar em sua
defesa, ouvindo-o em tudo oque declarar abem dela (art. 361º, n° 1). Trata-se da última oportunidade do
exercício do direito de defesa, antes da deliberação.

O arguido poderá, designadamente, reafirmar a sua inocência ou o seu arrependimento, realçar o facto de
ter adotado uma nova postura de vida desde a prática dos factos, as eventuais diligências que tenha
desenvolvido para reparar as consequências do crime, etc.

Em seguida, o presidente declara encerrada a discussão, sem prejuízo de poder ser reaberta para
determinação de sanção – art.º 371º - e o tribunal retira-se para deliberar – art.º 361º n.º2 e 365º.

DOCUMENTAÇÃO DA AUDIÊNCIA
Ata
O auto, de harmonia com o n° 1, do art. 99, é o instrumento destinado a fazer fé quanto aos termos em que
se desenrolaram os atos processuais a cuja documentação a lei obrigar e aos quais tiver assistido quem os
redige, bem como a recolher as declarações, requerimentos, promoções e atos decisórios orais que tiverem
ocorrido perante aquele – art.º 94º, 95º, 100º, 101º.

Art.º 99º n.º3 + 362º n.º1conteúdo da ata


O presidente pode ordenar que a transcrição dos requerimentos e protestos verbais seja feita somente depois
da sentença, se os considerar dilatórios – art.º 362º n.2

Documentação de declarações orais


Regra geral
A audiência de julgamento é sempre gravada sob pena de nulidade – art.º 364º n.º1. estão aqui em causa as
declarações orais prestadas pelo arguido – art.º 342º a 345º - pelo assistente e pelas partes civis – art.º 346º,
347º, 145º - testemunhas – art.º 348º e 349º - e pelos peritos e consultores técnicos – art.º 350º e 351º

REABERTURA DA AUDIÊNCIA
Quando se torne necessária a produção de prova suplementar para determinação da espécie e da medida de
sanção a aplicar ao arguido, o tribunal volta à sala de audiência e declara esta reaberta – art.º 371º n.º1 e
369º n.º2

CAPÍTULO IX – SENTENÇA
Depois de produzida a prova, feitas as alegações orais e prestadas as últimas declarações do arguido (art.
360°), o presidente declara encerrada a discussão e o tribunal retira-se para deliberar (art. 361°, n° 2.) Com
efeito, pretende-se que a deliberação seja tomada tão cedo quanto possível enquanto as provas produzidas
oralmente na audiência estão presentes na memória dos membros do tribunal. A deliberação só não tem
lugar logo após o encerramento da discussão, nos casos de absoluta impossibilidade, fundadamente
declarada em despacho (art. 365º, n° 1). Esta regra é uma consequência do princípio da concentração da
fase da audiência.

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Estão aqui em causa tanto as decisões do juiz singular quer as decisões do tribunal coletivo. Na deliberação
participam todos os juízes que constituem o tribunal sob direção do presidente – art.º 365º n.º2/366º. A
decisão é tomada por maioria simples – art.º 365º n.º5

De notar que o tribunal não pode abster-se de julgar, invocando falta ou obscuridade da lei ou alegando
dúvida insanável acerca dos factos em litígio, nem violar o dever de obediência à lei, sob pretexto de ser
injusto ou imoral o conteúdo do preceito legislativo – art.º 8º n.º1 e n.º2 CC.

OBJETO DA DELIBERAÇÃO E VOTAÇÃO


Questão da culpabilidade
Questões prévias ou incidentais
O tribunal começa por decidir separadamente as questões prévias ou incidentais sobre as quais ainda não
tiver recaído decisão – art.º 368º n.º1.
Sendo as questões prévias todas aquelas que obstam ao conhecimento do mérito da causa, a competência
do tribunal deve ser a primeira questão a ser verificada, uma vez que se for incompetente, não deve apreciar
quaisquer outras questões – art.º 32º n.º1 CPP + 608 CPC.

Momento do conhecimento: art.º 308º n.º3, 311º n.º1 e 338º

Questões de facto e de direito


Enumeração – art.º 368º n.º2 e n.º3. O presidente enumera discriminada e especificamente e submete a
deliberação e votação os factos alegados pela acusação e pela defesa

Os factos que constituem objeto de prova são todos aqueles juridicamente relevantes para a existência ou
inexistência de crime – art.º 124º n.º1/2

Depois de resolvidas as questões de facto, o presidente enumera discriminadamente e submete para votação
toda das questões de direito bem como os resultantes da discussão da causa – art.º 368º n.º3

Questão da determinação da sanção


Art.º 369º n.º1: se das deliberações e votações realizadas do art.º 368º resultar que deve ser aplicada uma
pena ou medida de segurança, o presidente lê ou manda ler toda a documentação existente nos autos relativa
a antecedentes criminais, à perícia sobre a sua personalidade e ao relatório social.

O tribunal pode a todo o tempo solicitar a elaboração ou de informação dos serviços de reinserção social
ou a sua atualização se já constarem do processo – art. º 370º n.º1. Caso do art.º 213º n.º4 e 281º n.º6

O tribunal, depois de produzida a prova suplementar para determinar a espécie e medida da sanção – art.º
371º - ou depois de verificação que esta não é necessária, delibera e vota sobre a mesma – art.º 369º n.º2

Podemos concluir que, se os elementos apurados forem suficientes para determinação da espécie e da
medida da sanção a aplicar ao arguido entra-se logo na escolha da pena, da medida de segurança e da
indemnização. Mas se tais elementos forem insuficientes e for indispensável prova suplementar, reabre-se
a audiência nos termos do art. 371º. Se for requerido, proceder-se-á também à leitura do relatório social ou
da informação dos serviços de reinserção social, sendo aplicável o art.º 355º quanto à proibição de valoração
de provas (art. 370°, n° 4º e 5º).

De salientar que aprova suplementar a produzir incidirá apenas sobre a personalidade e as condições de
vida do arguido e não sobre os pressupostos de que depende a aplicação de uma pena ou medida de
segurança.

Em termos de recurso, com vista a tornar possível uma apreciação e uma decisão autónomas e sendo
possível separar a parte recorrida da parte não recorrida, é admissível a limitação do recurso a um segmento
da decisão. Para este efeito, considera-se autónoma, nomeadamente, a parte da decisão que se referir, em
caso de unidade criminosa, à questão da culpabilidade, relativamente àquela que trata da determinação da
sanção, bem como, dentro da questão da determinação da sanção, a cada uma das penas ou medidas de
segurança – art.º 403º n.º1 e n.º2 d) e f)

O júri intervém na decisão das questões da culpabilidade e da determinação de sanção – art.º 2º n.º3 DL n.º
387º-A/87

69
Escolha e medida da pena
A aplicação de penas e de medidas de segurança tem como finalidade a proteção de bens jurídicos e a
reintegração do agente na sociedade, sendo certo que, em algum caso a pena pode ultrapassar a medida da
culpa. Só podem ser aplicadas nos precisos termos do CPP – art.º 40º n.º1/2 , art.º 2º CPP e art.º 29º CRP.

Se ao crime forem aplicáveis, em alternativa, pena privativa e pena não privativa da liberdade, o tribunal
dá preferência à segunda, sempre que esta realizar de forma adequada e suficiente as finalidades da punição,
quais sejam de prevenção geral e especial – art.º 70º CP

As exigências de prevenção a considerar na escolha da pena alternativa adequada são as existentes no


momento da decisão e não na data da prática dos factos. Na determinação concreta da pena o tribunal deve
atender a todas as circunstâncias que depuserem a favor do agente ou contra ele, considerando,
nomeadamente, as previstas nas alíneas do art.º 71º n.º2 CP.

O tribunal deve atenuar especialmente a pena quando existirem circunstâncias contemporâneas ou


posteriores ao crime, que diminuam por forma acentuada a ilicitude do facto, da culpa do agente ou a
necessidade da pena – art.º 72º n.º1 CP. Na sentença são expressamente referidos os fundamentos da
medida da pena – art.º 71º n.º3 CP.

SENTENÇA/ACÓRDÃO
• Os atos decisórios do tribunal singular que conheçam a final do objeto do processo tomam a forma
de sentenças.
• Quando os atos conhecem de qualquer questão interlocutória ou quando puserem termo ao
processo (desde que não conheçam a final do objeto do processo) tomam a forma de despachos.
• Os atos de tribunal colegial designam-se acórdãos – art.º 97º n.º1/2
• Os atos decisórios do MP tomam a forma de despachos – art.º 97º n.º3

Elaboração e assinatura
Concluída a deliberação e votação, o presidente, ou o juiz mais antigo, elaboram a sentença de acordo com
as posições que tiverem feito vencimento. Em seguida, a sentença é assinada por todos os juízes e se algum
dos juízes assinar vencido, declara com precisão os motivos do seu voto – art.º 372º n.º1 e n.º2. Cfr. art.º
425º n.º1 e 2

No processo comum a sentença é sempre um ato processual escrito. Por sua vez, nos processos especiais
sumário e abreviado, a sentença é logo proferida oralmente, sendo o dispositivo sempre ditado para a ata.
Se for aplicada pena privativa da liberdade o juiz, logo após a discussão, elabora a sentença por escrito e
procede à sua leitura – art.º 389º-A n.º1 e 2 e 5, 391º-F.

É ditado para a ata o despacho de pronúncia ou não pronúncia – art.º 307º n.º1 De acordo com o art.º 374º
n.º3 e), a sentença termina pelo dispositivo que contém, entre outros, a data e as assinaturas dos membros
– art.º 615º n.º1 a) CPC.

Requisitos
Relatório
A sentença começa por um relatório (que consiste basicamente na descrição dos elementos objetivos
constantes do processo), que deve conter:
• As indicações tendentes à identificação do arguido, do assistente e das partes civis (art. 145º, 342º,
374º, n° ,1 als. a) e b));
• A indicação do crime ou dos crimes imputados ao arguido, segundo a acusação, ou pronúncia, se
ativer havido (art. 374, n° ,1 als. c)
• A indicação sumária das conclusões contidas na contestação, se tiver sido apresentada (art. 311º-
B, 374, n° 1, als. d)) ;
• O pedido de indemnização civil (se tiver sido formulado) – 71º e ss.

A omissão destes elementos constitui mera irregularidade, podendo ser suprida – art.º 380º n.º1 a).

Fundamentação
A fundamentação das decisões judiciais pretende, designadamente, permitir às partes o recurso da decisão
com pleno conhecimento do seu conteúdo e ainda colocar o tribunal superior em posição de avaliar, em
termos mais seguros, a decisão recorrida – art.º 410º n.º2

70
Dever constitucional de fundamentação de decisões judiciais – art.º 205º CRP, 24º n.º1 LOSJ, 97º n.º5 CPP,
154º CPC.

De acordo com o art.º 374º n.º2, 379p n.º1 a), ao relatório segue-se a fundamentação, de onde deverá
constar, sob pena de nulidade:
• Enumeração de factos provados e não provados
• Exposição tanto quanto possível completa, ainda que concisa, dos motivos de facto e de direito
que fundamentam a decisão
• Indicação e exame crítico das provas que serviram para formar a a convicção do tribunal

Dispositivo
A sentença (ou acórdão) termina pelo dispositivo, o qual, no fundo, corresponde à conclusão e decisão do
caso, que deve conter o enumerado no art.º 374º n.º3

A falta de menção da decisão, absolutória ou condenatória, consubstancia uma nulidade – art.º 379º n.º1 a)
e 374º n.º3 b) – a qual pode ser suprida nos termos do art.º 379º n.º2. A omissão dos restantes pode ser
suprida pelo tribunal, já que são meras irregularidades – art.º 380º

Quando o considerar justificado, o tribunal ordena no dispositivo a publicação integral ou por extrato da
sentença absolutória em jornal, de acordo com o n° 1, do art. 378º.

De harmonia com a al. d), do n° 1, do art. 389º-A, a sentença proferida no processo sumário deve conter,
designadamente, o dispositivo (que é sempre ditado para a ata), nos termos previstos nas als. a) a d), do n°
3, do art. 374º. O mesmo se diga quanto ao processo abreviado (por remissão do art. 391°-F).

O tribunal pode ainda declarar no dispositivo da sentença (mesmo que seja absolutória) um documento
junto aos autos como falso. Ademais, do dispositivo relativo à falsidade de um documento pode recorrer-
se autonomamente, nos mesmos termos em que poderia recorrer-se da parte restante da sentença (art. 170°,
n°s 1e 2).

Publicação
Leitura de sentença
Depois de ser elaborada e assinada, o tribunal regressa à sala e publicamente, o presidente ou outro juiz,
procede à sua leitura. A leitura do relatório pode ser omitida. A leitura da fundamentação, ou se esta for
muito extensa, de uma súmula, bem como do dispositivo, é obrigatória sob pena de nulidade – art.º 372º
n.º3

A exclusão da publicidade não abrange, em caso algum, a leitura da sentença – art.º 87º n.1 e 321º CPP,
art.º 25º LOSJ e art.º 206º CRP

Notificação
A leitura da sentença equivale à sua notificação aos sujeitos processuais que deverem considerar-se
presentes na audiência (art. 372º, n° 4.) Assim, o MP, o assistente, as partes civis e o arguido, face à leitura
da sentença em audiência, devem considerar-se dela notificados, não tendo a secretaria do tribunal,
posteriormente, que proceder a qualquer ato para esse efeito.

Havendo lugar a audiência na ausência do arguido (tendo sido regularmente notificado), a sentença deve
ser-lhe notificada logo que seja detido ou se apresente voluntariamente. Neste caso, o prazo para a
interposição de recurso (pelo arguido) conta-se a partir da notificação da sentença. Sublinhamos que, na
notificação referida, o arguido é expressamente informado do direito a recorrer da sentença e do respetivo
prazo – art.º 333º n.º5 e 6º e 334º n.º6 e 7º. O prazo conta-se a partir da data da notificação efetuada
em último – art.º 113º n.º10

Leitura da sentença em caso de complexidade da causa


Quando, atenta a especial complexidade da causa, não for possível proceder imediatamente à elaboração
da sentença, o presidente fixa publicamente a data dentro dos 10 dias seguintes para a respetiva leitura (art.
373°, n° 1). Estamos perante uma exceção ao princípio da concentração.

71
O n°,2 do art. 373º, prevê que na data fixada procede-se publicamente à leitura da sentença e ao seu depósito
na secretaria, nos termos do art. 372º. Note-se que o queixoso pode desistir da queixa, desde que não haja
oposição do arguido, até à publicação da sentença da 1a instância.

Depósito
Logo após a leitura da sentença, o presidente procede ao seu depósito na secretaria. O secretário apõe a
data, subscreve a declaração e entrega cópia aos sujeitos que o solicitem – art.º 372º n.º5 e 373º n.º2 –
permitindo uma análise detalhada. O depósito é um ato importante em termos de contagem de prazo para o
recurso – artº. 411º n.º1 b) e 101º n.º5

No que diz respeito ao processo sumário ou abreviado, é sempre entregue cópia da gravação ao arguido, ao
assistente e ao MP no prazo de 48 horas, salvo se aqueles expressamente declararem prescindir da entrega
(sem prejuízo de qualquer sujeito processual a poder requerer, nos termos do art. 101° (Registo e
transcrição), n° 4). É o regime que resulta do art.º 389º-A n.º4 e 391º-F.

Nulidade da sentença
Causas de nulidade – art.º 379º n.º1
A sentença também pode apresentar vícios meramente formais (por exemplo, indicar os elementos da
fundamentação (art. 374º, n° 2) noutra parte da sentença).

Para além de nulas, as decisões podem também ser inexequíveis (ver o art. 468° a) b) e c)). As nulidades
da sentença devem ser arguidas ou conhecidas em recurso devendo o tribunal supri-las, antes de ordenar a
remessa do processo ao tribunal superior – art.º 379º n.º2 e 414º n.º4

O disposto no art.º 379 é aplicável aos acórdãos proferidos pelos tribunais superiores em sede de recurso –
art.º 425º n.º4

Correção da sentença
Art.º 380º - é aplicável aos restantes atos decisórios previstos no art.º 97º - art.º 380º n.º3 – assim como a
acórdãos proferidos em sede de recurso – art.º 425º n.º4.

Se já tiver subido recurso de sentença, a correção é feita pelo tribunal competente para conhecer do recurso
– art.º 380º n.º2

A sentença absolutória
É absolutória quando não considera aplicável ao arguido qualquer pena ou medida de segurança – art.º 369º
n.º1
Requisitos da sentença absolutória – art.º 376º n.º1 + 374º. A falta destes elementos constitui mera
irregularidade – art.º 118º n.º2. Deve ser fundamentada – art.º 205º CRP

A caução económica é uma medida de garantia patrimonial (distinta e autónoma da caução como medida
de coação prevista no art. 197°) que subsiste até à decisão final absolutória ou até à extinção das obrigações
(art.º 227º n.º5)

Note-se que a sentença pode ser absolutória quanto ao procedimento criminal, mas condenatória quanto ao
pedido de indemnização civil (cfr. os n°s 1e 2, do art. 377º).

Também o tribunal pode declarar no dispositivo da sentença, mesmo que esta seja absolutória, a falsidade
de um documento (cfr. o art. 170º, n° 1), bem como, a perda de objetos relacionados com o crime (cfr. os
arts. 374º, n° 3, al. c) e 109°, n°s 2 e 110º n.º5 do CP).

A decisão penal, transitada em julgado, que haja absolvido o arguido com fundamento em não ter praticado
os factos que lhe eram imputados, constitui, em quaisquer ações de natureza civil, simples presunção legal
da inexistência desses factos (ilidível mediante prova em contrário). Esta presunção prevalece sobre
quaisquer presunções de culpa estabelecidas na lei civil – art.º 624º n.º1/2 CPC + 29º n.º5 CRP

Crime praticado por inimputável


Se o crime tiver sido cometido por inimputável, a sentença é absolutória (por falta de juízo de censura).
Todavia, se nela for aplicada medida de segurança, vale como sentença condenatória devendo especificar
os fundamentos que presidiram à escolha dessa medida (indicando, nomeadamente, se for caso disso, o

72
início e regime do seu cumprimento e outros deveres que sejam impostos e a sua duração). Para além disso,
vale ainda como sentença condenatória para efeitos de recurso do arguido (ver, conjugadamente, os arts.
376º n.º 3 e 375° n.º1).

Publicação de sentença absolutória


Quando o considerar justificado, o tribunal ordena, no dispositivo, a publicação integral ou por extrato da
sentença absolutória em jornal indicado pelo arguido, desde que este o requeira até ao encerramento da
audiência e haja assistente constituído no processo (art. 378°, n° 1).

Condenação em custas
A sentença absolutória condena o assistente em custas, nos termos previstos no CPP e no RCP (art. 376°,
n° 1.) Em consonância, al. a), do n° 1, do art. 515°, consagra que é devida taxa de justiça pelo assistente,
designadamente, no caso de o arguido ser absolvido por todos ou por alguns crimes constantes da acusação
que haja deduzido ou com que se haja conformado. Isenção de custas – art.º 517º

Sentença condenatória
Art.º 27º n.º2 CRP: ninguém pode ser total ou parcialmente privado da liberdade, a não ser em consequência
de sentença judicial condenatória pela prática de ato punido com pena de prisão ou aplicação de medida de
segurança. Art.º 29º n.º5: ne bis in idem, ninguém pode ser julgado mais do que 1x pela prática do mesmo
crime.

Normas internacionais: art.º 9º e 11º DUDH; art.º 5º n.º1 a), 6º n.º2, 7º CEDH, art.º 9º, 14º n.º2 e 7º e 15º
PIDCP. Disposições: art.º 9º a 122º CP

Se uma decisão não for objeto de recurso ou reclamação dentro do prazo – art.º 411º n.º1 CPP e art.º 628º
CPC – a mesma transita em julgado.

Após a leitura da sentença condenatória, o presidente, quando o julgar conveniente, dirige ao arguido breve
alocução, exortando-o a corrigir-se (art. 375º, nº 2).

Concurso de crimes/ cúmulo jurídico


Quando alguém tiver praticado vários crimes, antes de transitar em julgado a condenação por qualquer
deles, é condenado numa pena única, determinada nos termos e condições do art.º 77º CP, sendo que são
considerados em conjunto os factos e a personalidade.

Elementos
O art.º 375º define que a sentença para além de conter o exigido pelo art.º 374º, deve especificar os
fundamentos que presidiram à escolha e à medida da sanção aplicada (art.º 369º)
A falta destes constitui mera irregularidade – art.º 118º n.º2 e 123º

Extensão da sentença condenatória


Vale como sentença condenatória:
1. A que tiver decretado dispensa da pena – art.º 375º n.º3
a. Quando o crime for punível com pena de prisão não superior a 6 meses, ou só com multa
não superior a 120 dias, o tribunal pode declarar o arguido culpado, mas não aplicar
qualquer pena. É necessário que a ilicitude do facto e a culpa do agente sejam diminutos
– art.º 74º n.º1 a) b) e c) n.º3 CP
b. O instituto da dispensa de pena está previsto no art.º 74º e o da atenuação especial de
pena nos art.º 72º e 73º CP.
2. A sentença que aplicar medida de segurança a inimputável – art.º 376º n.º3
3. O despacho do juiz que aplique sanção ao arguido, no âmbito de processo especial sumaríssimo.
Nesse caso, o despacho não admite recurso ordinário – art.º 397º n.º2

Condenação em multa
Art.º 90º-A n.º1 CP – condenação de penas principais de multa e dissolução
No que concerne à pena de multa aplicável às pessoas coletivas – art.º 90º-B, 118º n.º3 e 122º n.º3 CP.

Execução da pena de multa – o tribunal deve considerar:


• A requerimento do condenado, pode o tribunal ordenar que a pena seja, total ou parcialmente,
substituída por dias de trabalho – art.º 48º n.º1 e 49º n.º4 CP + art.º 490º CPP

73
• Sempre que a situação económica e financeira do condenado o justificar, o tribunal pode autorizar
o pagamento da multa dentro de um prazo que não exceda 1 ano, ou permitir o pagamento em
prestações, não podendo a última delas ir além dos 2 anos subsequentes à data do trânsito em
julgado da condenação (art. 47º, n° 3,4 e 5 do CP)
• Se o pagamento não tiver sido diferido ou autorizado pelo sistema de prestações, a multa deve ser
paga após o trânsito em julgado da decisão, no prazo de 15 dias – art.º 489º n.º1/2/3
• Findo o prazo de pagamento voluntário de multa sem que o mesmo seja efetuado, procede-se à
execução patrimonial – art.º 491º, 131º LOJS, art.º 227, 228º n.º1, 469º e 470
• Se a multa, que não tenha sido substituída por trabalho, não for paga voluntariamente ou
coercivamente, é cumprida prisão subsidiária, nos termos do disposto no art. 49º, do CP.

Reexame da situação do arguido


Sempre que necessário, o tribunal procede ao reexame da situação do arguido, sujeitando-o às medidas de
coação admissíveis e adequadas às exigências cautelares que o caso requerer (art. 375°, n° 4)

Se o arguido se encontrar sujeito a medidas de coação as mesmas extinguem- se, de imediato, com o trânsito
me julgado da sentença condenatória, com exceção do termo de identidade e residência que só extinguirá
com a extinção da pena – art.º 214º n.º1 e), 196º n.º3 e).

Tratando-se das medidas de prisão preventiva e de obrigação de permanência na habitação, as mesmas


extinguem-se igualmente de imediato quando for proferida sentença condenatória (ainda que dela tenha
sido interposto recurso), se apena aplicada não for superior à prisão ou à obrigação de permanência já
sofridas (cfr. os arts. 214°, n° 2, 201° e 202°).

Se o arguido tiver sido sujeito à medida de caução e vier a ser condenado em prisão, aquela só se extingue
com o início da execução da pena – art.º 214º n.º3 e 197º

Conhecimento público da sentença condenatória


Em caso de condenação, ainda que com dispensa de pena, o tribunal ordena, a expensas do agente, o
conhecimento público adequado da sentença, se tal for requerido, até ao encerramento da audiência em 1a
instância, em caso de condenação pelos crimes de publicidade e calúnia (art. 183%, do CP), ofensa à
memória de pessoa falecida (art. 185°, n° ,2 al b), do CP), ofensa a pessoa coletiva, organismo ou serviço
(art. 187º, n° ,2 al .a), do CP) e denúncia caluniosa (art. 365°, n° 5, do CP).

Ao abrigo da al. f), do n° ,2 do art. 90º-A, podem ser aplicadas às pessoas coletivas e entidades equiparadas,
entre outras, a pena acessória de publicidade da decisão condenatória a( este propósito cfr., ainda, os arts.
11º e 90°-M, do CP).

Condenação em custas
Há lugar ao pagamento de taxa de justiça por parte do arguido quando for condenado em 1a instância.
Note-se que a taxa de justiça é sempre individual e o respetivo quantitativo é fixado pelo juiz, a final, nos
termos previstos no RCP (art. 513°, n°s 1e 3)

O art.º 374º n.º4, 513º n.º1 e 514º n.º1 obrigam o juiz a tomar posição na sentença sobre a responsabilidade
de custas do processo. A confissão integral e sem reserva implica a redução da taxa para metade – art.º
344º n.º2 c)

Suspensão da pena de prisão


Em crimes de pena de prisão não superior a 5 anos (pressuposto formal) e se concluir que a simples censura
do facto e a ameaça da prisão realizam de forma adequada e suficiente as finalidades da punição
(pressuposto material), mais precisamente a proteção de bens jurídicos – art.º 40º n.º1 CP – pode ser
suspensa a pena.

Suspensão de execução da pena – art.º 50º a 57º CP; 492º a 495º CPP

Revogação da suspensão de pena de prisão


Sempre que o condenado infringir de forma grosseira ou repetidamente os deveres ou revgras de conduta
impostos ou o plano de reinserção social, ou cometer o crime pleo qual venha a ser condenado, e revelar
que as finalidades que estavam na base de suspensão não foram alcançadas, a suspensão é revogada.

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Crime praticado por jovem adulto
Quando o agente for maior de 16 anos e menor de 21 são aplicáveis as disposições do DL n.º401/82 por
remissão do art.º 9 CP

Responsabilidade por erro judiciário


A responsabilidade das entidades públicas encontra-se consagrada constitucionalmente no art. 22, da CRP.

Perda de instrumentos, produtos e vantagens


Art.º 109º, 110º, 111º e 112º CP

CAPÍTULO X – PROCESSOS ESPECIAIS


Quando o caso não se enquadra em nenhuma forma especial, é aplicada a forma comum.
O processo sumário traduz uma forma de processo especial vocacionada para a média criminalidade e onde
estão subjacentes os princípios da economia e da celeridade processuais, designadamente porque o detido
deve ser julgado no prazo máximo de 48 horas após a detenção, sendo os atos e termos do julgamento
reduzidos ao mínimo indispensável ao conhecimento e boa decisão da causa (cfr. os arts. 386º, n° 2 e 387º,
n° 1). Nessa medida, não existe propriamente uma fase de inquérito neste tipo de processos.

Importa referir que só os processos que corram por crimes públicos e semipúblicos podem ser julgados sob
esta forma processual especial.

O PROCESSO SUMÁRIO
Quando tem lugar
São julgados em processo sumário:
1. Os detidos em flagrante delito – art.º 255º e 256º (Cfr.º art.º 381º n.º1)
2. Quando à detenção tiver procedido qualquer autoridade judiciária ou entidade policial – art.º 381º
n.º1 a)
3. Os detidos em flagrante delito, por crime punível com pena de prisão cujo limite máximo não seja
superior a 5 anos, mesmo em caso de concurso – art.º 381º n.º1
4. A detenção pode ser feita por outra pessoa que não seja autoridade judiciária ou policial – art.º
381º n.º1 b)

Os requisitos 2 e 3 são alternativos. Se não se cumprirem cumulativamente os requisitos 1 e 2 ou 1 2 e 4, o


tribunal pode remeter os autos ao MP para tramitação sob outra processual, uma vez que não pode ser o
sumário – art.º 390º n.º1 a) e n.º2

Apresentação do detido ao MP
A autoridade judiciária (se não for o MP) ou a entidade policial que tiverem procedido à detenção ou a
quem tenha sido efetuada a entrega do detido apresentam-no imediatamente, ou no mais curto prazo
possível, sem exceder as 48 horas, ao MP junto do tribunal competente para julgamento sob a forma
sumária, que assegura a nomeação do defensor ao arguido – art.º 382º n.º1.

De sublinhar que a referida autoridade judiciária ou a entidade policial, no ato de detenção, devem notificar
verbalmente as testemunhas presentes e o ofendido para comparecerem igualmente junto do MP (art. 383°,
n° 1).
Logo que o detido seja presente ao MP, este deve:
• Apreciar da admissibilidade e da legalidade da detenção em flagrante delito;
• Confirmar se o detido foi constituído arguido (constituição esta obrigatória). Em caso negativo, o
MP deve proceder à referida constituição, sob pena de impossibilidade de utilização, como meio
de prova, das declarações prestadas pela pessoa visada (art. 58°, n°s 1, al. c), 4 e 5);
• Verificar se estão preenchidos todos os pressupostos de aplicação da forma de processo sumário
(previstos no art. 381°);
• Se o crime em causa for semipúblico, verificar através do auto, se foi exercido o direito de queixa
pelo respetivo titular. Se tal não aconteceu, o MP deve libertar o detido, uma vez que, nesse caso,
a detenção se torna legal- mente inadmissível (arts. 255°, n° 3, 1a parte e 261°).

A decisão do arguido sobre o exercício deste direito tem implicações no seguimento a dar ao processo.
Vejamos as várias possibilidades:

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• Se o arguido não exercer o direito ao prazo para preparação da sua defesa, o MP, depois de o
interrogar sumariamente (se o julgar conveniente), apresenta-o imediatamente, ou no mais curto
prazo possível, ao tribunal competente para julgamento (art. 382º, n° 2,)
• Se o arguido tiver exercido o direito ao prazo para a preparação da sua defesa, o MP pode interrogá-
lo nos termos do art. 143° (Primeiro interrogatório não judicial de arguido detido), para efeitos de
validação da detenção e libertação do arguido.
• Se o MP tiver razões para crer que a audiência de julgamento não se pode iniciar até 48 horas após
a detenção (cfr. art. 387º, n° 1) ou até ao limite do 5a dia posterior à detenção (art. 387º n° 2, al.
a)), designadamente, por considerar necessárias diligências de prova essenciais à descoberta da
verdade, o MP profere despacho em que ordena de imediato a realização das diligências em falta.
Para efeitos de validação da detenção e libertação, o MP pode interrogá-lo – art.º 143º
• Nos casos em que se verifiquem os respetivos pressupostos, o MP determina, oficiosamente, com
a concordância do juiz de instrução, o arquiva- mento (em caso de dispensa da pena, art. 280°) ou
a suspensão provisória do processo (art. 281º, Sublinhamos que estas medidas, no domínio do
processo sumário, também podem ser requeridas pelo arguido ou pelo assistente (art. 384º, n° 1).
• Arquivar, sem mais, o processo. Com efeito, e apesar de a lei não prever expressamente esta
possibilidade, o arquivamento não poderá ser excluído se se verificar a inexistência de matéria
criminal

Libertação de arguido
Sempre que a autoridade de polícia criminal tiver fundadas razões para crer que o arguido não poderá ser
apresentado no prazo máximo de 48 horas após a detenção ao MP, procede à sua imediata libertação,
sujeitando-o a termo de identidade e residência e fazendo relatório fundamentado da ocorrência, o qual
transmite, de imediato e conjuntamente com o auto, ao MP (cfr., articuladamente, o art. 382°, n° 1 e 385°,
n° 3).

Fora deste caso, se a apresentação ao juiz não tiver lugar em ato seguido à detenção em flagrante delito (v.
g., o MP entendeu serem necessárias diligências de prova essenciais à descoberta da verdade, protelando a
realização do julgamento para os 20 dias seguintes à detenção), em caso de crime punível com pena de
prisão cujo limite máximo não seja superior a 5 anos, ou em caso de concurso de infrações cujo limite
máximo não seja superior a 5 anos de prisão, o arguido só continua detido:
• Se houver razões para crer que não se apresentará voluntariamente perante a autoridade judiciária
na data e hora que lhe forem fixadas (cfr. os arts. 385°, n° 1, al. a) e b));
• Quando se verificar, em concreto, alguma das circunstâncias previstas no art. 204 a que apenas a
manutenção da detenção permita acautelar (art. 385°, n° 1, al. b)); ou
• Se tal se mostrar imprescindível para a proteção da vítima (art. 385º, n° 1, al. c).

Se o arguido for libertado de acordo com as situações mencionadas, o OPC sujeita-o a TIR e notifica-o para
comparecer perante o MP, no dia e hora em que forem designados, para ser submetido:
a) A audiência de julgamento em processo sumário, com a advertência de que esta se realizará,
mesmo que não compareça*°, sendo representado por defensor (cfr. os arts. 385°, n'º2, .al a); 64º,
n° ,1 als. c) e g) e 19°, a.l c); e o art. 32º, n° 6, da CRP). Nesta hipótese, o legislador fez apenas
referência à notificação do arguido. Contudo, entendemos que também as testemunhas presentes
e o ofendido devem ser notificados para com- parecerem para apresentação a julgamento, à
semelhança do que dispõe o art. 382°, n° 5, para as situações aí previstas;
b) A 1ª interrogatório e aplicação de medida de coação ou garantia patrimonial – art.º 385º n.º2 b),
141º, 61º n.º6 d) e 191º e ss.

Prática de atos processuais


Os atos relativos a processos sumários são considerados urgentes, devendo os prazos correr em férias –
art.º 104º n.º2.
O interrogatório do arguido não pode ser efetuado entre as 0 e as 7 horas e tem a duração máxima de 4horas,
podendo ser retomado, em cada dia, por uma só vez e idêntico prazo máximo, após um intervalo mínimo
de 60 minutos. Sublinhe-se que as declarações prestadas para além destes limites são nulas, não podendo
ser utilizadas como prova (n°s 3, 4 e 5, do art. 103°).

Audiência de julgamento
O julgamento em processo sumário regula-se pelas disposições do CPP relativas ao processo comum – art.º
338º a 380º. Atendendo ao caráter célere desta forma processual, os atos e termos do julgamento são
reduzidos ao mínimo indispensável ao conhecimento e boa decisão da causa – art.º 386º n.º1/2

76
• Ficam sujeitos a tramitação eletrónica – art.º 311º e 286º n.º1
• O MP deve assegurar nomeação de defensor
• Compete ao tribunal singular julgar os processos nomeadamente que respeitarem a crimes cuja
pena máxima seja igual ou inferior a 5 anos – art.º 16º n.º2 b)

Prazo
O início da audiência deve ter lugar no prazo máximo de 48h após a detenção – art.º 387º n.º1 e 382º n.º1
Outras situações – art.º 387º

Adiamento
Em processo sumário, devemos ter em consideração:
• Se faltarem testemunhas de que o MP, o assistente ou o arguido não prescindam, a audiência não
é adiada, sendo inquiridas as testemunhas presentes indicadas pelo MP, pelo assistente e pelo
lesado e posteriormente as indicadas pelo arguido e responsável civil – art.º 387º n.º3 e 341º b) e
c)
• Se o arguido tiver exercido o direito ao prazo para a preparação da sua defesa ou se o MP
considerar necessárias diligências de prova essenciais à descoberta da verdade, este deve notificar
as testemunhas para comparecerem para apresentação a julgamento em processo sumário. No
entanto, se as testemunhas não forem notificadas nestes termos, são sempre a apresentar, sendo
que a sua falta só dará lugar ao adiamento da audiência se o juiz, oficiosamente ou a requerimento,
considerar o seu depoimento indispensável para a descoberta da verdade e para a boa decisão da
causa, caso em que ordenará a sua imediata notificação (cfr., articuladamente, os arts. 387º, n° 4,
382º, n°s 3, 4 e 5).
• Se a factualidade constante do auto de notícia for insuficiente, o MP pode completá-la por
despacho proferido antes da apresentação a julgamento (sendo tal despacho lido em audiência).
Nesta hipótese, o arguido, com vista ao exercício do contraditório, pode requerer o adiamento da
audiência, pelo prazo máximo de 10 dias. De salientar que tal não obsta à tomada das suas
declarações e à inquirição do assistente, da parte civil, dos peritos e das testemunhas presentes
(cfr., articuladamente, os arts. 387°, n° 6 e 389°, n° 2).
• A audiência pode ser adiada, pelo prazo máximo de 20 dias, para obter a comparência de
testemunhas devidamente notificadas ou para a junção de exames, relatórios periciais ou
documentos, cujo depoimento ou junção o juiz considere imprescindíveis para a boa decisão da
causa (art. 387º, n° 7).
• Na notificação do MP para comparecer a julgamento em processo sumário, o arguido (que não se
encontre sujeito a prisão preventiva) é advertido de que, caso falte, a mesma realizar-se-á, sendo
aí representado por defensor para todos os efeitos legais – art.º 382º n.º5 e 6º. Art.º 64º n.º1 c) e g
e 119) c) CPP + art.º 32º n.º6 CRP

Prova
Neste seguimento, o n° 8, do art. 387º, determina que os exames, relatórios periciais e documentos que se
destinem a instruir processo sumário revestem, para as entidades a quem são requisitados, carácter urgente,
devendo o MP ou juiz requisitá-los ou insistir pelo seu envio, consoante os casos, com essa menção. Ade-
mais, como já se disse, se o juiz considerar a junção daqueles meios de prova imprescindíveis para a boa
decisão da causa, pode adiar a audiência pelo prazo máximo de 20 dias .

Prova testemunhal – art.º 382º n.º5 e 383º

Não tendo sido possível realizar-se as diligências de prova necessárias nos prazos necessários do art.º 387º,
o tribunal remete os autos ao MP para tramitação – art.º 390º n.º1 c).

Assistente e partes civis


Em processo sumário, as pessoas com legitimidade para tal, podem constituir-se assistentes ou intervir
como partes civis se assim o solicitarem, mesmo que só verbalmente, no início da audiência (art. 388º),
mais precisamente entre a declaração da sua abertura e o interrogatório do arguido – art.º 329º n.º3 e 342º
+ 98º n.º2

Quem tiver legitimidade para deduzir PIC pode fazê-lo:


• Em separado perante tribunal civil – art.º 72º n.º1 h)
• No próprio processo penal, se assim o solicitar, mesmo que só verbalmente, no inicio da audiência,
sendo documentado na ata – art.º 363º e 364º + 389º n.º4

77
Tramitação
• O início da audiência é um momento importante designadamente para efeitos de arguição de
nulidades do art.º 120º n.º1 e n.º2 (art.º 120º n.º3 d) e para a constituição como assistente e
intervenção como parte civil.
• Quanto à falta do MP na audiência de julgamento, cfr. os arts. 119º al. b),, e 116°, n° 3.
Relativamente ao defensor regem os arts. 61°, n° ,1 als. a) e f); 64°, n° 1, al. c); 199º, al. c) e o art.
32º n°s 3e 6, da CRP.
• Em substituição da apresentação da acusação, o MP pode limitar-se a ler o auto de notícia da
autoridade que tiver procedido à detenção – art.º 389º n.º1 e 243º
• A factualidade constante do auto de notícia que se revele insuficiente pode ser completada por
despacho do MP proferido antes da apresentação a julga- mento, sendo tal despacho igualmente
lido em audiência (art. 389º, n° 2).
• Nos casos em que tiver considerado necessária a realização de diligências e não tiver apresentado
acusação, o MP deve juntar requerimento donde conste, consoante o caso, a indicação das
testemunhas a apresentar, ou a descrição de qualquer outra prova que junte, ou protesta juntar (art.
389°, n° 3).
• A acusação, a contestação, o PIC e a respetiva contestação, quando verbalmente apresentados, são
documentados na ata, sob pena de nulidade – art.º389º n.º4 e 363º
• Gravação da audiência – art.º 364º n.º1 ex vi art.º 389º n.º4
• A apresentação de contestação substitui as exposições introdutórias – art.º 339º e 389º n.º5
• Finda a produção de prova é dada a palavra pelo prazo máximo de 30min ao MP, representantes
de assistente, defensor, partes civis – art.º 389º n.º6 e 360º

Sentença
Nesta perspetiva, a sentença, em processo sumário, é logo proferida oral- mente e deve incluir os elementos
seguintes:
• A indicação sumária dos factos provados e não provados, que pode ser feita por remissão para a
acusação e contestação, com indicação e exame crítico sucintos das provas (art. 389-A, n° 1, al.
a));
• A exposição concisa dos motivos de facto e de direito que fundamentam a decisão (art. 389 -A, n°
1, al. b));
• Em caso de condenação, os fundamentos sucintos que presidiram à escolha e medida da sanção
aplicada – art.º 389º-A n.º1 c)
• O dispositivo, do qual constem as disposições legais aplicáveis, a decisão condenatória ou
absolutória, a indicação do destino a dar a coisas ou objetos relacionados com o crime e a ordem
de remessa de boletins ao registo criminal – art.º 389-A n.º1 d), 374º n.º3 a) a d)

Se a sentença não contiver a decisão condenatória ou absolutória ou as menções referidas nas alíneas a) a
d) do art.º 389º-A n.º1 é nula.

De acordo com o art.º 389º-A n.º5 o juiz deve elaborar por escrito a sentença e proceder à sua leitura, se:
• For aplicada pena privativa da liberdade
• Excecionalmente, se as circunstâncias o tornarem necessário

Recurso
• Só é admissível recurso da sentença/despacho que puser termo ao processo – art.º 391º n.º1
• Sobe imediatamente os recursos que ponham termo à causa – art.º 407º n.º2 a)
• O prazo é de 30 dias e conta-se a partir da entrega da cópia da gravação da sentença – art.º 411º
n.º1 e 391º n.º2
o No entanto, o art.º 391º n.º2 + o art.º 389º-A n.º4 + art.º 411º n.º1 c) diz que nos casos em
que o arguido, assistente ou o MP prescindam da entrega, o prazo para a interposição de
recurso conta-se a partir da data em que a decisão oral foi proferida
o Sendo a sentença elaborada por escrito e feita a sua leitura – art.º 389º-A n.º5, o prazo
para recorrer conta-se a partir do seu depósito na secretaria – art.º 411º n.º1 b)

Reenvio para outra forma de processo – art.º 390º

78
PROCESSO ABREVIADO
São julgados sob a forma de processo abreviado os crimes de média gravidade (públicos, semipúblicos e
particulares).

Não obstante verificar-se uma substancial aceleração da tramitação nas fases preliminares, o julgamento
obedece às mesmas formalidades do processo comum (ressalvadas as alterações resultantes dos
pressupostos inerentes a esta forma de processo especial, art. 391°-E). É possível a constituição de assistente
e a intervenção de partes civis – art.º 391º-B n.º3 e 391º-E
• Processos urgentes – artº 104º n.º2

Quando tem lugar


Art.º 391º-A – O MP em face do auto de notícia ou após realizar inquérito, pode deduzir acusação para
processo abreviado, quando:
a) O crime for punível com pena de multa ou com pena de prisão não superior a 5 anos – art.º 391º-
A n.º2 e 16º
b) Existirem provas simples e evidentes de que resultem indícios suficientes de se ter verificado o
crime e de quem foi o seu agente. Há provas simples e evidentes quando:
a. Tenha sido em flagrante delito e o julgamento não puder efetuar-se em processo sumário
– art.º 391º-A n.º3 a) + 256º
b. A prova for essencialmente documental e possa ser recolhida no prazo previsto para a
acusação – art.º 391º-A n.º3 b) + 164º e ss
c. A prova assentar em testemunhas presenciais com versão uniforme dos factos – art.º 391º-
A n.º3 c) + 128º e ss

Acusação, arquivamento e suspensão do processo


Decisão do MP
O MP pode:
• Arquivar o processo (em caso de dispensa de pena) – art.º 280, 391º-B n.º4 + 516º
• Suspender provisoriamente o processo mediante a imposição ao arguido de injunções e regras de
conduta, nos termos dos arts. 281° e 282º (art. 391°-B, n° 4 + 516º)
• Deduzir acusação no prazo de 90 dias a contar da:
o Verificação do incumprimento ou da condenação, nos casos previstos no art. 384º, n° 4
(corpo do n° 2, do art. 391º-B);
o Aquisição da notícia do crime, tratando-se de crime público (art. 391º- B°, n° 2, al. a))
o Apresentação de queixa, tratando-se de crimes semipúblicos e particulares (art. 391º-B°,
n° 2, a.l b).

Conteúdo da acusação do MP: art.º 283º n.º2 por remissão do art.º 391º-B n.º1

Saneamento do processo, julgamento e sentença


Depois de deduzida acusação pelo MP e recebidos os autos, o juiz pronuncia-se sobre as nulidades e outras
questões prévias ou incidentais que obstem a apreciação do mérito da causa, de que possa desde logo
conhecer (art. 311º n° 1, por remissão do art. 391°-C, n° 1).

Se não rejeitar a acusação (cfr. os n°s 2, al. a) e ,3 do art. 311°), o juiz designa dia para a realização da
audiência (cfr. os arts. 312º e 313°), a qual deve ter precedência sobre outros julgamentos em processo
comum, sem prejuízo da prioridade conferida aos processos urgentes (art. 391º-C, n° 2).

• Inicio da audiência – art.º 120º n.º3 d) – momento para arguir nulidades


• O julgamento segue os mesmos trâmites do processo comum
o Finda a produção de prova é dada a palavra ao MP, assistente, partes civis e defensor para
alegarem durante 30min.
§ É admitida a réplica por 10min – art.º 391º-E n.º1/2
• A sentença é logo proferida. Conteúdo – art.º 389º-A
o Nula se não tiver a decisão condenatória ou absolutória ou as menções do art.º 389º-A
n.º1 a a d) + 379º n.º1 a)
• Só é admissível recurso da sentença/despacho que puser termo ao processo – art.º 391º n.º1 + 391º-
G + 389º-A
• Só é urgente até à sentença de primeira instância – art.º 103º n.º2 c) + 104º n.º2
• Reenvio para outra forma de processo: art.º 391º-D

79
PROCESSO SUMARÍSSIMO
No processo sumaríssimo vigoram com especial intensidade os princípios da simplicidade, consensualidade
e economia processual, não havendo lugar a uma audiência formal e solene no sentido pleno do termo, já
que a decisão do tribunal é um despacho baseado no requerimento do MP e no acordo do arguido.
• Processo facultativo para o MP, porque apenas o promoverá se entender que ao caso só deve ser
aplicada medida de segurança, e para o arguido visto que pode recusar-se a aceitar as sanções
propostas pelo MP ou juiz – art.º 396º n.º1 b) + 398º
• A iniciativa a sujeição a este tipo de processo pode partir do arguido – art.º 392º n.º1

Quando tem lugar


Art.º 392º n. º1 e n.º2:
• O crime for punível com pena de prisão não superior a 5 anos ou só com pena de multa
• Entender que só devem ser aplicadas medidas de segurança e não de privação de liberdade
• Houver requerimento ou audição do arguido para esse efeito
• Tratando-se de procedimento dependente de acusação particular, se houver concordância do
assistente

O tribunal pode remeter os autos ao MP para tramitação sob outra forma processual, quando se verificar a
inadmissibilidade, no caso, do processo sumário ou abreviado – art.º 390º n.º1 + 391º-D n.º1

Desta feita, depois de recebidos os autos, se o MP requerer a aplicação de pena ou medida de segurança
não privativas da liberdade em processo sumaríssimo, a competência para o respetivo conhecimento
mantém-se no tribunal competente para julgamento sob aforma sumária ou abreviada, consoante a origem
do reenvio do processo – art.º 390º n.º2 + 391º-D n.º2

Requerimento
Elementos
Art.º 394º n.º1 e n.º2 a) e b)
• Se o juiz reenviar o processo, o requerimento do MP vale como acusação – art.º 395º n.º3 e 398º
n.º1
• A prescrição do procedimento criminal, suspende-se, nomeadamente, durante o tempo em que o
procedimento criminal estiver pendente a partir do requerimento. Não pode ultrapassar os 3 anos
– art.º 120º n.º1 b) e n.º2 e 6º CP
• Com a notificação do requerimento para aplicação da sanção em processo sumaríssimo, a
prescrição do procedimento criminal interrompe- se, sendo que depois de cada interrupção começa
a correr novo prazo de prescrição (art. 121°, n°s,1a.l b) e, 2do CP). O limite máximo para o
alargamento do prazo da prescrição consta do n 3, do art. 121°, do CP.

Rejeição do requerimento
Art.º 395º n.º1 e 4º - rejeição do requerimento e reenvio do processo para outra forma
• Se o juiz rejeitar o processo sumaríssimo, remete os autos novamente ao MP para que ele decida
se se observam os pressupostos para que o processo siga a forma abreviada ou se terá que seguir
a forma do processo

Notificação e oposição do arguido


• Se o juiz não aceitar o requerimento - art.º 396º n.º1 + 395º
• A oposição pode ser deduzida por simples declaração – art.º 396º n.º4
• O requerimento deve ser notificado ao arguido e defensor – art.º 396º n.º3, 61º CPP + 31º n.º3 CRP
+ 113º n.º1 a)
o A informação do direito a opor-se à sanção e como o faz
o O fim do prazo para oposição
o O esclarecimento dos efeitos da oposição e da não oposição – art.º 397º
Reparação civil
No processo sumaríssimo é permitida a constituição como assistente, mas não há partes civis – art.º 393º
n.º1 e 2º, 392º e 394º n.º2 b)

Decisão
Não havendo oposição do arguido
Art.º 397º n.º1: o juiz aplica-lhe a sanção e condena-o no pagamento da taxa de justiça
• Não é recorrível – art.º 397º n.º2 b) e 467º

80
• O prazo para o queixoso desistir da queixa termina quando o juiz lavra o despacho de concordância
com o requerimento do MP – art.º 116º n.º2 CP + art.º 51º CPP

Havendo oposição do arguido


Art.º 398º: o juiz ordena o reenvio do processo para outra forma que lhe caiba, equivalendo à acusação o
requerimento do MP (art.º 394º)

O processo segue outra forma se:


• O juiz rejeitar o requerimento do MP
• O arguido se opuser à sanção proposta – art.º 396º e 398º

CAPÍTULO XI – OS RECURSOS
O erro e a injustiça de uma decisão judicial assumem, no âmbito penal, extrema relevância, visto que podem
originar a privação da liberdade. Nesta medida, o recurso perfila-se como o mecanismo máximo de reação
perante tais situações, salvaguardando a realização da Justiça e a obtenção da verdade material.

Direito ao recurso – art.º 32º n.º1, 20º e 202º CRP


Princípio da recorribilidade das decisões – art.º 399º - e proibição da reformatio in pejus – art.º 409º

Modalidades de recursos
• Ordinários – art.º 399º a 436º
o Perante a Relação – art.º 427º a 431º
§ Conhecem de facto e de direito
o Perante o STJ – Art.º 432º a 436º
§ Visa exclusivamente o reexame da matéria de direito, sem prejuízo do art.º 410º
n.º2 e n.º3 + 428º e 434º CPP + art.º 46º LOSJ
• Extraordinários – art.º 437º a 466º
o Para fixação de jurisprudência – art.º 437º e ss
o De revisão – art.º 449º e ss

Uma decisão transita em julgado, ou seja, é insuscetível de impugnação ordinária, quando é irrecorrível
– art.º 400º - ou, sendo recorrível, se deixou esgotar, sem fazer dele aproveitamento, o prazo legal para
interpor recurso – art.º 411º n.º1.

Custas processuais
• Arguido: quando ocorra condenação em 1a instância e decaimento total em qualquer recurso.
• Assistente: é devida taxa de justiça, nomeadamente, se decair, total ou parcialmente, em recurso
que houver interposto, a que houver dado adesão ou em que tenha feito oposição
Só se paga no final do processo – art.º 8º n.º 9 e 10º RCP

O regime da responsabilidade do arguido e do assistente por encargos, encontra-se previsto nos arts. 514°
e 518º, respetivamente.

Convém ter presente que, quando o processo suba aos tribunais superiores, por via de recurso, as despesas
que surjam depois de aceite o recurso e até que o processo baixe de novo à 1ª instância, são processadas
pela secretaria do tribunal respetivo – art.º 29º n.º2 RCP

A interposição de recurso está sujeita a taxa de justiça, paga a final – art.º 8º n.º9 RCP:
• Para a Relação – 3 a 6 UC
o Quanto à renovação da prova do art.º 430º - 4 a 8UC
• Para o STJ – 5 a 10UC
• Para fixação de jurisprudência – art.º 437º e 446º - 1 a 5UC
• De revisão – 1 a 5UC

Os arguidos detidos ou sujeitos a prisão preventiva estão isentos de custas, assim como o MP.

Patrocínio judiciário
É obrigatório nos recursos ordinários e extraordinários – art.º 64º n.º1 e), 61º n.º1 e), 119º c) CPP, 32º n.º3
CRP, art.º 6º n.º3 c) CEDH

81
RECURSOS ORDINÁRIOS
Aqueles que têm por objeto decisões que ainda não transitaram em julgado e visam conseguir uma
renovação da discussão e nova decisão (cfr. os arts. 399° a 436º).
• Tais recursos são interpostos do tribunal aquo (tribunal recorrido) para o tribunal ad quem.
(tribunal superior)

Decisões recorríveis
Art.º 399º princípio geral da admissibilidade do recurso
• Dos despachos do MP só cabe recurso hierárquico ou reclamação para o superior hierárquico

O recurso da parte da sentença relativa ao PIC só é admissível se o valor for superior à laçada do tribunal
recorrido e a decisão impugnada seja desfavorável para o recorrente em valor superior a metade dessa
alçada – art.º 400º n.º2 + 44º n.º2 LOSJ.

Decisões irrecorríveis
Art.º 400º n.º1:
• Despachos de mero expediente
• Decisões que ordenam atos dependentes da livre resolução do tribunal
• Os acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações, que não conheçam, a final, do objeto do
processo – art.º 419º n.º3 b), 97º n.º1 a) e 432º n.º1 d)
• Os acórdãos absolutórios proferidos pelas Relações, exceto no caso de decisão condenatória em
1ª instância em pena superior a 5 anos – art.º 425º n.º5
• Os acórdãos proferidos em recurso, pelas Relações, que apliquem pena de prisão não superior a 5
anos – art.º 400º n.º1 e)
• Os acórdãos proferidos em recurso, pelas Relações, que confirmem a decisão da 1ª instância e
apliquem pena de prisão não superior a 8 anos – dupla conforme – art.º 400º e) e f) + 432º n.º1 c)
• Os demais casos previstos na lei: art.º 36º n.º2, 42º n.º1, 45º n.º6, 100º n.º3, 141º n.º6, 153º n.º3,
219º n.º3, 380º n.º3, 281º n.º7, 291º n.º2 (...)

Recorre-se para o STJ, entre outros, de decisões que não sejam irrecorríveis proferidas pelas relações, em
recurso – art.º 400+ 432º n.º1 b)

Legitimidade e interesse em agir


O direito de interpor recurso não depende só da legitimidade mas também do interesse em agir – art.º 401º
n.º2.
Legitimidade – art.º 401º n.º1

Âmbito do recurso
De acordo com o art.º 402º n.º1, o recurso interposto de uma sentença abrange toda a decisão – princípio
do conhecimento amplo

Porém, existem exceções a esta regra resultantes da possibilidade de limitação do recurso a uma parte da
decisão nos termos do art. 403°, n° 1; da existência de motivos estritamente pessoais, que impedem a sua
extensão (n° 2, do art. 402°); da proibição da reformatio ni pejus (art. 409°) e da restrição do objecto do
recurso subordinado à questão cível (art. 404°).

O âmbito do recurso é determinado pelas conclusões apresentadas pelo recorrente na respetiva motivação
– art.º 412º n.º1

Limitação do recurso
Não obstante o princípio do conhecimento amplo, o recurso pode apenas abranger parte da decisão. É
admissível a limitação do recurso a uma parte da decisão quando a parte recorrida puder ser
separada da não recorrida. Situações de parte de decisão autónoma: art.º 403º n.º1 e 2

Extensão do recurso – art.º 402º n.º2

Regime de subida
Subida nos próprios autos
Quando sobem nos próprios autos não é necessário requerer certidões das peças processuais para instruir
o recurso – art.º 414º n.º7. Recursos que sobem nos próprios autos – art.º 406º n.º1

82
Subida em separado
O recurso ganha autonomia física, sendo necessário instruir um novo auto que irá correr paralelamente ao
processo principal. Com efeito, o juiz deve averiguar se o recurso se mostra instruído com todos os
elementos necessários à boa decisão da causa, determinando, se for caso disso, a extração e junção de
certidão das pertinentes peças processuais – art.º 414º n.º6

Pela leitura conjugada do art.º 406º n.º2, 407º n.º1 e 2º als. B) a k, podemos concluir que sobem em separado
os recursos aí mencionados

Momento de subida
Art.º 407º n.º1 e n.º2 – os que sobem imediatamente
Se o recurso for retido (com atribuição de subida diferida, quando devia ser imediata), o recorrente pode
reclamar do despacho do juiz que proferiu a decisão, para o presidente do tribunal a que o recurso se dirige
(art. 405°, n° 1).

Havendo recursos retidos, o recorrente deve especificar obrigatoriamente, nas conclusões, quais os que
mantém interesse (art. 412º, n° 5).

Quando não deverem subir imediatamente (ou seja, quando a subida for diferida), os recursos sobem e são
instruídos e julgados conjuntamente com o recurso interposto da decisão que tiver posto termo à causa (art.
407º, n° 3).

De acordo com o CEPMPL – art.º 238º n.º2 – os recurso sobem todos imediatamente e apenas têm efeito
suspensivo da decisão nos casos expressamente previstos nesse diploma.

Efeitos
• Devolutivo – a aplicação da decisão recorrida e a tramitação do processo não são afetadas (tudo
se passa como se não tivesse havido recurso)
• Suspensivo – pode implicar a suspensão do processo (ou seja, o processo não prossegue no
tribunal onde foi proferida a decisão recorrida até se decidir o recurso) ou a suspensão da aplicação
da decisão recorrida (a suspensão só atinge a decisão recorrida, prosseguindo, assim, a tramitação
do processo).

Efeito suspensivo: Casos de efeito suspensivo – art.º 408º n.º1

Suspensão dos efeitos da decisão recorrida: Art.º. 408º n.º2

Recurso relativo à indemnização civil


• As partes civis, tendo interesse em agir, têm legitimidade para recorrer da parte das decisões contra
cada uma proferidas (art. 401º, n°s 1, al. c) e 2), relativamente ao pedido de indemnização civil
(mas não quanto à parte criminal). Cfr. os arts. 74º e 401º n.º1 c) e n.º2
• Obrigatoriedade de patrocínio judiciário – art.º 76º CPP + 40º n.º1 c) CPC + 70º CPP
• Art.º 400º n.º2 sem prejuízo do art.º 427º e 432º, o recurso da parte da sentença relativa ao PIC só
é admissível:
o O valor do pedido seja superior à alçada do tribunal recorrido (ou seja, 5000€)
o A decisão seja desfavorável para o recorrente em valor superior a metade desta alçada
(Regra da sucumbência) ou seja 2500€
• Mesmo que não seja admissível recurso quanto à matéria penal, pode ser interposto recurso da
parte da sentença relativa à indemnização civil (art. 400°, п° 3)
• É admissível a limitação do recurso a uma parte da decisão quando a parte recorrida puder ser
separada da parte não recorrida, por forma a tornar possível uma apreciação e uma decisão
autónomas. Para esse efeito, é autónoma, nomeadamente, a parte da decisão que se referir a matéria
civil – art.º 403º n.º1 e 2)
• Em caso de recurso interposto por uma das partes civis, a parte contrária pode interpor recurso
subordinado (art. 404°, n° 1), ou seja, o recurso subordinado só é admissível se houver recurso
independente interposto por uma das partes civis, abrangendo apenas a questão civil julgada no
processo penal.
o O art.º 404º n.º2 prevê que o recurso subordinado deve ser interposto no prazo de 30 dias
a contar da notificação do art.º 411º n.º6 e 7º
o O art.º 404º n.º2 determina que o recurso fica sem efeito se:

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§ O primeiro recorrente desistir – art.º 415º
§ O recurso independente ficar sem efeito ou o tribunal não tomar conhecimento
deste
• Salvo se for fundado em motivos estritamente pessoais, o recurso interposto pelo arguido,
aproveita ao responsável civil e o interposto pelo responsável civil, aproveita ao arguido, mesmo
para efeitos penais – art.º 402º n.º2 b) e c)
• À responsabilidade por custas relativas ao PIC são aplicáveis as normas do processo civil (art.
523°).
o O demandante e o arguido demandado estão isentos de custas se o valor for inferior a
20UC – art.º 4 n.º1 n) RCP
• Em caso de recurso interposto pelo arguido demandado, a proibição da reformatio in pejus,
prevista no art. 409º, é aplicável ao agravamento da condenação em indemnização civil – art.º 71º
- bem como à condenação oficiosa da reparação da vítima em casos especiais – art.º 82º-A

Fundamentos do recurso
O recurso pode ter como fundamente quaisquer questões de que pudesse conhecer a decisão recorrida, salvo
se a lei restringir a cognição do tribunal ou respetivos poderes – art.º 410º n.º1

Situações em que a lei restringe a cognição do tribunal de recurso da matéria de direito, o recurso pode ter
como fundamentos – art.º 410º n.º2

Prazo
Art.º 411º n.º1 é de 30 dias que se conta:
• A partir da notificação da decisão – art.º 97º n.º1 b) e 113º
• Tratando-se de sentença (ou acórdão) a partir do depósito e não da sua leitura – art.º 97º n.º1 a) e
n.º2
• Tratando-se de decisão oral e reproduzida em ata, a partir do momento que tiver sido proferida, se
o interessado estiver ou dever considerar-se presente

Requerimento
O requerimento de interposição e a motivação do recurso devem constituir uma única peça processual.
Todavia, em caso de interposição de recurso ditado para a ata, a motivação pode ser apresentada em
separado – art.º 411º n.º3

O requerimento é sempre motivado sob pena de não ser admitido pelo tribunal a quo – art.º 411º n.º3 e 414º
n.º2

No requerimento de interposição de recurso o recorrente pode requerer que se realize audiência,


especificando os pontos da motivação do recurso que pretende ver debatidos (n° 5, do art. 411°). Neste
caso, a vista ao MP destina-se apenas a tomar conhecimento do processo (n° 2, do art. 416°).

Se não tiver sido requerida a realização de audiência e não seja necessário proceder à renovação da prova
(cfr. o art. 430º), o recurso é julgado em conferência (al. c), do °n 3, do art. 419°).

Motivações e conclusões Art.º 412º


Tendo em vista evitar a prática de atos inúteis – art.º 417º n.º3

Impugnação da decisão proferida sobre matéria de facto


Art.º 412º n.º3: quando impugne a decisão proferida sobre matéria de facto, o recorrente deve especificar
a) Os concretos pontos de facto que considera incorretamente julgados;
b) b) As concretas provas que impõem decisão diversa da recorrida;
c) c) As provas que devem ser renovadas

Admissão e rejeição
Interposto o recurso e junta a motivação ou expirado o prazo para o efeito, o juiz profere despacho (de
admissão ou rejeição).
• Em caso de admissão, o juiz fixa logo o seu efeito e regime de subida
o Esta decisão não vincula o tribunal superior – art.º 414º n.º1/3

O despacho é notificado aos sujeitos processuais de acordo com o art.º 113º

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Havendo vários recursos da mesma decisão, dos quais alguns versem sobre matéria de facto e outros
exclusivamente sobre matéria de direito, são todos julgados conjuntamente pelo tribunal competente para
conhecer da matéria de facto (n° 8, do art. 414°)

Não admissão do recurso Art.º 414º n.º2


Do despacho que não admitir ou que retiver o recurso, o recorrente pode reclamar para o presidente do
tribunal a que o recurso se dirige, nos termos e condições do art. 405º n.º1/2.

Se o recurso não for interposto de decisão que conheça, a final, do objeto do processo (ou seja, quando a
decisão recorrida não for sentença ou acórdão final), o tribunal a quo, antes de ordenar a remessa do
processo ao tribunal superior, pode sustentar ou reparar aquela decisão – art.º 414º n.º4 e 105º n.º1

Rejeição do recurso - art.º 420º n.º1


Após exame preliminar, o relator profere decisão sumária sempre que, entre outros, o recurso dever ser
rejeitado. Desta decisão cabe reclamação para a conferência – art.º 417º n.º6 b), 8, 10 e art.º 419º n.º3 a)

Em caso de rejeição do recurso, a decisão limita-se a identificar o tribunal recorrido, o processo e os seus
sujeitos e a especificar sumariamente os fundamentos da decisão. Para além disso, o tribunal condena o
recorrente, se não for o MP, ao pagamento de uma soma entre 3 UC e 10 UC – art.º 97º n.º5 e 420º n.º2/3

Art.º 521º n.º1: o juiz pode decidir aplicar uma taxa sancionatória

Notificação
O requerimento de interposição ou a motivação são notificados aos restantes sujeitos processuais afetados
pelo recurso, devendo, para esse efeito, ser entregue o número de cópias necessário. Por razões de economia
processual, o art.º 411º n.º6 + 414º n.º1 impõe que tal notificação seja efetuada só após o despacho de
admissão do recurso.

Tratando-se de arguido julgado na ausência – art.º 333º n.º2 ; 417º n.º7 + 333º n.º5

Resposta
Os sujeitos processuais afetados pela interposição do recurso podem responder no prazo de 30 dias contados
da notificação do requerimento de interposição ou da motivação, notificação essa que só ocorre após o
respetivo despacho de admissão – art.º 413º n.º1, 411º n.º6 + 414º n.º1

De forma a garantir o equilíbrio processual, a resposta é, por sua vez, notificada aos sujeitos por ela afetados
– art.º 413º n.º3. Na resposta devem ser especificados os concretos pontos de facto que o sujeito afetado
pela interposição do recurso considera incorretamente julgados, as concretas provas que impõem decisão
diversa da recorrida e as provas que devem ser renovadas. Para além disso, quando as provas tiverem sido
gravadas, estas duas últimas especificações fazem-se por referência ao consignado na ata, devendo o sujeito
indicar concretamente as passagens em que se funda a impugnação. Havendo recurso retidos, o sujeito deve
especificar obrigatoriamente, nas conclusões, quais os que mantêm interesse – art.º 412º n.º4 e 5 ex vi art.º
413º n.º4

Desistência
Manifestação do princípio do dispositivo. Assim, o MP, o arguido, o assistente e as partes civis podem
desistir do recurso interposto, até ao momento de o processo ser concluso ao relator para exame preliminar
– art.º 417º.

A desistência faz-se por requerimento ou por termo no processo e é verificada por despacho do relator –
art.º 415º n.º1/2. Não tem lugar na conferência – art.º 419º

Vista ao MP, exame preliminar e conferência


O processo vai com vista ao MP junto do tribunal, ad quem, o qual pode emitir o seu parecer relativamente
ao recurso – art.º 416º e 417º

Audiência do recurso
Marcação da data e respetivas convocações
Nos termos do art. 421º, se o recurso não for rejeitado ou julgado em conferência, o presidente da secção:
• Designa a audiência para um dos 20 dias seguintes;

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• Determina as pessoas a convocar (são sempre convocados para a audiência o MP, o defensor e os
representantes do assistente e das partes civis)
• Manda completar os vistos, se for caso disso

Sempre que a natureza do processos e a disponibilidade de meios técnicos o permitirem, são retiradas cópias
para que os vistos sejam efetuados simultaneamente – art.º 418º n.º2 ex vi art.º 421º n.º4

As notificações são feitas por via postal – art.º 421º n.º3 e 113º - exceto para o MP.

Adiamento
Anão comparência de pessoas convocadas só determina o adiamento da audiência quando o tribunal o
considerar indispensável à realização da justiça. Porém, não é permitido mais de um adiamento da audiência
(art. 422°, n°s 1e 3). Cfr. art.º 330º, 331º e 423º n.º5

Tratando-se de recurso perante as Relações, havendo lugar a renovação da prova, o arguido e sempre
convocado para a audiência, mas, se tiver sido regularmente convocado, a sua falta não dá lugar a
adiamento, salvo decisão do tribunal em contrário (art. 430º, n° 4).

Composição do tribunal
A composição do tribunal da Relação e do STJ, na audiência, é idêntica: nela intervêm o presidente da
secção, o relator e um juiz-adjunto – art.º 429º n.º1 e 435º respetivamente

Nenhum juiz pode intervir em recurso relativo a processos em que tiver tomado alguma das decisões do
art.º 40º, 41º.

A falta de juízes ou a violação das regras de modo a determinar a respetiva composição constitui nulidade
insanável - art.º 119º a).

Tramitação
Após o presidente ter declarado aberta a audiência o relator introduz os debates com uma exposição sumária
sobre o objeto do recurso, no qual enuncia as questões que o tribunal entende merecerem exame especial,
seguindo-se a renovação da prova, quando a ela houver lugar – art.º 423º n.º1 e 2 e 430º

Não havendo lugar a renovação de prova, segue-se a fase das alegações – art.º 423º n.º3 e 4.

Deliberação e notificação
Encerrada a audiência, o tribunal reúne para deliberar, sendo correspondentemente aplicáveis as disposições
sobre deliberação e votação em julgamento, tendo em atenção a natureza das questões que constituem o
objeto do recurso (cfr. arts. 424°,n°s 1e 2 e 365°esegs.).

Concluída a deliberação e votação, é elaborado o acórdão o qual deve ser notificado aos recorrentes, aos
recorridos e ao MP (art. 425°, n° 6)

Art.º 424º n.º3: sempre que houver uma alteração não substancial dos factos descritos na decisão decorrida
ou da respetiva qualificação jurídica não conhecida do arguido, este é notificado para, querendo, se
pronunciar no prazo de 10 dias.

Nulidade do acórdão
É nulo quando:
• Que não contiver a fundamentação, mais precisamente a enumeração dos factos provados e não
provados e uma exposição, tanto quanto possível completa, ainda que concisa, dos motivos, de
facto e de direito, que fundamentam a decisão com indicação e exame crítico das provas que
serviram para formar a convicção do tribunal (art. 379º, n° 1, al. a) ex vi art. 425°, n 4 );
• Que não contiver decisão condenatória ou absolutória (art. 379°, n° 1, a.l a) ex vi art. 425°, n° 4);
• Que condene por factos diversos dos descritos na acusação ou na pronúncia (art. 379º, n° ,1 al. b)
ex vi art. 425°, n° 4);
• Que não se pronuncie sobre questões que devesse apreciar ou conheça de questões de que não
podia tomar conhecimento (art. 379°, n° 1, al. c) ex vi art. 425°, n° 4);
• Quando for lavrado contra o vencido, ou sem o necessário vencimento (art. 425°, n° 4, 2º parte).

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As nulidades devem ser arguidas ou conhecidas em recurso, sendo lícito ao tribunal supri-las – art.º 379º
n.º2 ex vi art.º 425º n.º4.
O acórdão pode ser corrigido – art.º 380º ex vi 425º n.º4

Reenvio do processo para novo julgamento


Sempre que a matéria de facto provada seja insuficiente para a decisão, quando exista contradição insanável
da fundamentação ou entre a fundamentação e a decisão e/ou o erro notório na apreciação da prova, que
impossibilitem a decisão da causa, o tribunal de recurso determina o reenvio do processo para novo
julgamento relativamente à totalidade do objeto do processo ou a questões concretamente identificadas na
decisão de reenvio (cfr., conjugadamente, os arts. 426°, n° 1 e 410°, n° 2).

No caso de haver processos conexos (cfr. os arts. 24º e segs.), o tribunal superior faz cessar a conexão e
ordena a separação de algum ou alguns deles para efeitos de novo julgamento quando o vício acima referido
recair apenas sobre eles (art. 426°, n° 3 + 30º).

O reenvio do processo para novo julgamento pode ser determinado quer pelas Relações, quer pelo STJ,
uma vez que a norma contida no art. 426° se encontra inserida no capítulo referente à tramitação unitária.

O reenvio decretado pelo ST], no âmbito de recurso interposto, em 2ª instância, de acórdão da Relação é
feito para este Tribunal, que admite a renovação da prova ou reenvia o processo para novo julgamento em
1ª instância – art.º 426º n.º2

O recurso perante as relações


Excetuando os casos em que há recurso direto para o STJ, o recurso é interposto na relação – art.º 427º:
• Das decisões finais (ou interlocutórias) proferidas pelo juiz singular;
• Dos acórdãos finais (ou interlocutórios) do tribunal coletivo ou do tribunal do júri, quando não
apliquem pena de prisão superior a 5 anos e não visem exclusivamente o reexame da matéria de
direito.

A competência das secções criminais das Relações, em matéria penal, para julgar recursos decorre do art.
12°, n° 3, al. b). As Relações conhecem em última instância das decisões previstas no art. 400º, n° 1, als.
c), d), e) e f).

Poderes de cognição
As Relações conhecem de facto e de direito (art. 428°). Cfr. o art. 410°, relativo aos fundamentos do recurso.

Renovação da prova – art.º 430º n.º1


A decisão da Relação que admitir ou recusar a renovação da prova é definitiva e fixa os termos e a extensão
com que a prova produzida em 1a instância pode ser renovada (art. 430o, n° 2).

Sendo admitida, a renovação da prova realiza-se em audiência, sendo o arguido sempre convocado para
estar presente. De salientar que, se o arguido tiver sido regularmente convocado, a sua falta não da lugar a
adiamento da audiência, salvo decisão do tribunal em contrário – art.º 430º n.º2

Modificabilidade da decisão recorrida – art.º 431º

Recurso perante o STJ


Recorre-se para o STJ:
• Das decisões das Relações proferidas em 1ª instância, visando exclusivamente o reexame da
matéria de direito ou com os fundamentos do art.º 410º n.º2/3 – art.º 432º n.º1 a)
• Decisões que não sejam irrecorríveis proferidas pelas Relações em recurso – art.º 400º, 432º n.º1
, 400ºn.º1 e) e f)
• De acórdãos finais proferidos pelo tribunal de júri ou pelo coletivo que apliquem pena de prisão
superior a 5 anos, visando exclusivamente o reexame de direito – art.º 432º n.º1 c)
• De decisões interlocutórias que devam subir com os recursos atrás referidos – art.º 432º n.º1 d) +
400º n.º1 c)
• Noutros casos que a lei o preveja – art.º 433º, 437º, 446, 447 e 449º

O recurso per saltum é o recurso interposto diretamente da 1ª instância para o STJ e verifica-se apenas nas
situações previstas nas als. a), c) e d), do n° 1, do art. 432°.

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Poderes de cognição – art.º 434º
O STJ apenas conhece da matéria de direito, com exceção dos factos que a lei lhe atribui competência para
conhecer – art.º 426º CPP e art.º 46º LOSJ

OS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS
Visam reparar um erro judiciário, devem ser requeridos ao mesmo tribunal que proferiu a decisão.

Os recursos de fixação de jurisprudência


Aplicam-se subsidiariamente as mesmas normas dos recursos ordinários -art.º 448º.

Fundamento, legitimidade e tribunal competente


Os recursos extraordinários para fixação de jurisprudência pretendem evitar contradições entre acórdãos
dos tribunais superiores, assegurando assim a uniformização da jurisprudência, sendo certo que o
fundamento do recurso tem que residir me vício do acórdão recorrido que tenha transitado em julgado –
art.º 437º n.º4

Admissibilidade – art.º 437º n.º1 e 2

Os recursos acima mencionados podem ser interpostos pelo arguido, pelo assistente ou pelas partes civis –
art.º 437º n.º5. 53º n.º1 e 2 d). Interesse em agir – art.º 401º n.º2 + 448º

Prazo para interposição, requerimento e efeito


O prazo de interposição do recurso é de 30 dias a contar do trânsito em julgado do acórdão proferido em
último lugar (art. 438º, n° 1.) Decorrido este prazo, o Procurador-Geral da República pode determinar que
seja interposto recurso no interesse da unidade do direito (art. 47º, n° 1).

Requerimento – art.º 438º n.º2


O recurso para a fixação de jurisprudência não tem efeito suspensivo (art. 438°, п° 3.)
Interposto o recurso, a secretaria, em cumprimento do princípio do contraditório, faculta o processo aos
sujeitos processuais interessados para efeito de resposta no prazo de 10 dias – art. 439º n.º1, 413º por
remissão do art.º 448º

Vista, exame preliminar e conferência


Recebido no STJ, o processo vai com vista para o MP por 10 dias, sendo depois concluso ao relator – art.º
440º n.º1/3

Apresentação
Se a conferência concluir pela oposição de julgados, o recurso prossegue e os sujeitos processuais
interessados são notificados para apresentarem, por escrito, no prazo de 15 dias, as suas alegações (porém,
a falta de alegações não impede que o processo prossiga). Nas alegações, os interessados formulam
conclusões em que indicam o sentido em que deve fixar-se a jurisprudência de alegações – art.º 442º n.º1/2

Julgamento e publicação do acórdão


• O julgamento é feito em conferência, pelo pleno das secções criminais – art.º 443º n.º1/2

Devemos ter em atenção que o princípio da proibição de reformatio ni pejus vigora neste tipo de recursos,
ainda que o mesmo tenha sido interposto pelo MP ou pelo assistente, salvo quando qualquer deles tiver
recorrido, em desfavor do arguido, no processo em que foi proferido o acórdão recorrido (ver, conjugada-
mente, os arts. 443º, n° 3e 409°). Cfr art.º 445º n.º1
• O acórdão é imediatamente publicado

Eficácia da decisão
Art.º 445º n.º1, 443º n.º3 e 441º n.º2, a decisão que resolver o conflito tem eficácia:
1. No processo em que o recurso foi interposto (ou seja, no processo em que foi proferida a decisão
recorrida) e
2. Nos processos cuja tramitação tiver sido suspensa (em virtude da oposição de julgados já ter sido
reconhecida).

O STJ conforme os casos, revê a decisão recorrida ou reenvia o processo – art.º 445º n.º2

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A decisão que resolver o conflito não constitui jurisprudência obrigatória para os tribunais judiciais, mas
estes devem fundamentar as divergências relativas à jurisprudência fixada naquela decisão (art. 445°, n° 3)

Recursos de decisão proferida contra jurisprudência fixada pelo STJ


Art.º 446º n.º1 – é admissível recurso direto para o STJ de qualquer decisão proferida contra jurisprudência
por ele fixada.

Deve ser proposto no prazo de 30 dias. Ao recurso em análise são correspondentemente aplicáveis as
disposições que regulam o recurso para fixação de jurisprudência – art.º 337º e ss.

Recursos no interesse da unidade de direito – Art.º 447º n.º1/2

RECURSOS DE REVISÃO
Fundamentos
Art.º 29º n.º6
A sentença transitada só pode ser revista quando exista motivo de tal forma grave que deva prevalecer sobre
a certeza e segurança jurídicas em que assenta o caso julgado (cfr. o art. 672° do CPC).

O instituto do caso julgado deve ser respeitado, salvo decisão em contrário do Tribunal Constitucional
quando a norma respeitar, nomeadamente, a matéria penal e for de conteúdo menos favorável ao arguido

O recurso extraordinário de revisão de sentença versa apenas sobre a questão de facto e tem como
finalidade, através da repetição do julgamento, obter uma nova decisão judicial.

Admissibilidade – art.º 449º

Prazo e legitimidade
A revisão é admissível ainda que o procedimento se encontre extinto ou a pena prescrita ou cumprida (art.
449º, n° 4). Podemos, assim, concluir que não existem limites temporais para a interposição do recurso de
revisão.

Legitimidade – art.º 450º

Requerimento e tramitação
Requerimento – art.º 451º

No prazo de 8 dias após ter expirado o prazo de resposta ou terem sido completadas as diligências, quando
a elas houver lugar, o juiz remete o processo ao STJ acompanhado de informação sobre o mérito do pedido
– 454º

Art.º 457º autorização ou rejeição de revisão

Se a revisão assentar na inconciliabilidade entre os factos que serviram de fundamento à condenação e os


dados como provados noutra sentença e da oposição resultarem graves dúvidas sobre a justiça da
condenação (por haver sentenças penais inconciliáveis que tenham condenado arguidos diversos pelos
mesmos factos), o STJ anula as sentenças e determina que se proceda a julgamento conjunto de todos os
arguidos, indicando o tribunal que, segunda a lei, é competente. Para este efeito, os processos são apensos,
seguindo-se os termos da revisão – art.º 458º n.º1 e 2 e 449º n.º1 c)

Realização de novo julgamento


Depois do processo baixar, o juiz deve proceder de acordo com o disposto no art. 459º e designar dia para
julgamento, observando-se em tudo os termos do respetivo processo (460°, n° 1).

Por força da articulação dos arts. 460°, n° 2 e 449º, n° ,1 als. a) ou b), não podem intervir no julgamento
pessoas condenadas ou acusadas pelo MP por factos que tenham sido determinantes para a decisão a rever,
se a revisão tiver sido autorizada com um dos seguintes fundamentos:
• Uma outra sentença transitada em julgado ter considerado falsos meios de prova que tenham sido
determinantes para a decisão ou
• Uma outra sentença transitada em julgado ter dado como provado crime cometido por juiz ou
jurado e relacionado com o exercício da sua função no processo.

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Decisão
Sentença absolutória no juízo de revisão e indemnização
Se a decisão revista tiver sido condenatória e o tribunal absolver o arguido, a decisão é anulada – art.º 461º
n.º1

A sentença que absolver o arguido no tribunal de revisão é – art.º 461º n.º2

Se o tribunal de revisão proferir decisão de absolvição, a sentença atribui ao arguido indemnização pelos
danos sofridos e manda restituir-lhe as quantias relativas a custas e multas que tiver suportado (ver,
conjugadamente, os arts. 462º, n° 1e 461º). Art.º 29º n.º6 e 27º n.º5 CRP

Sentença condenatória no juízo de revisão


Importa distinguir duas situações:
• Se o tribunal de revisão concluir pela condenação do arguido (tendo a decisão revista sido também
condenatória), aplica-lhe a sanção que considerar cabida ao caso, descontando-lhe a que já tiver
cumprido, valendo a proibição de reformatio in pejus (cfr., conjugadamente, os arts. 463°, n°s 1e2e
409°);
• Se a decisão revista tiver sido absolutória, mas no juízo de revisão a sentença for condenatória
(art. 463°, n° 3):
o O arguido que houver recebido indemnização é condenado a restituí-la
o Ao assistente são restituídas as custas que houver pago

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