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Maria de Melo
Comunicação
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Vida a Dois
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tocar, em um nível de paridade. Algo muito diferente, como se vê, de agredir o outro,
“atirando-lhe” umas verdades sem levar em conta sua sensibilidade, seu momento.
Tomando emprestada a metáfora latina, não é difícil perceber o quanto
gostamos de colocar nosso presente por cima do presente que o outro põe sobre a
mesa. Na maioria das vezes o outro, tão neurótico quando nós mesmos, parte logo
para a revanche. Por exemplo, afastando nosso presente e colocamos o dele no centro
da mesa. Reagimos com raiva porque nosso narcisismo nos autoriza a achar nosso
presente muito superior e nos convence de que ele é ignorante ou imbecil e, ocupados
em preparar-lhes o troco, perdemos a chance de avaliar o que se passou. Isto, sim,
seria um passo para melhor comunicação.
Mesmo que meu presente seja de altíssima qualidade, meu gesto arrogante e
minha falta de consideração serão interpretados como uma provocação. Na melhor
das hipóteses, se meu interlocutor tiver maturidade e bom humor o suficiente, poderá
desistir de trocar limitando-se a ouvir meu palavreado. Mas nem um santo estaria
sempre disposto a ouvir monólogos e ver rejeitadas suas contribuições. Até porque, ao
contrário do que se pensa, muitas vezes é mais fácil dar que receber. Dar nos faz sentir
ricos, poderosos. Receber é reconhecer a potencia do outro, coisas que requer
generosidade e humildade.
Para desqualificar as mensagens do outro, lançamos mão de uma
impressionante quantidade de técnicas – jogamos com as palavras, modificamos seu
significado pela forma de pronunciá-las, negamos com gestos aquilo que afirmamos
verbalmente, chamamos de comunicação essa guerra mal disfarçada, em que atiramos
na cara dos outros nossos “presentes”, destinados a minar sua autoestima. Veja um
exemplo: um casal sai do cinema e ela diz: “Que filme inteligente e bonito, que direção
sensível”. “É, mas...” responde ele. Este frequentíssimo “é, mas...” serve nas mais
variadas circunstâncias, para disfarçar nossa má vontade em admitir, aceitar ou
agradecer a contribuição do outro. Em geral acompanhada de um arcar de
sobrancelhas e um sorriso benevolente, é um dos tantos “truquezinhos” para
demostrar que o que acabamos de ouvir não foi tão grande coisa assim.
O pior é que o fracasso da comunicação costuma acontecer justo com as
pessoas que mais amamos. Mais ainda com nosso parceiro. É notável, no entanto, a
pouca consciência que as pessoas têm de sua dificuldade. É raro encontrar alguém que
não se considere perito em comunicações, desinibido, bem falante, rápido no
raciocínio, capaz de ganhar uma discussão. O outro é quem não entende... Quando
alguém procura terapia por dificuldades de comunicação, em geral é para dominar
melhor as técnicas de vender ou empurrar um peixe qualquer para o freguês. Bem
dentro daquele modelo de “comunicação” que a mídia vende.
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normais, ou simplesmente neuróticas, como a maioria de nós, também podem ter algo
mal resolvido nessa fase. Em geral elas mantêm seu “bebê” no fundo da alma e do
corpo, fazendo o possível para ignorá-lo.
Se o reconhecessem estariam criando um problema com seu aspecto adulto e
narcisista, que só quer saber daquilo que é forte e poderoso. Só que, por não entrar
em contato com esse aspecto frágil e ameaçado, perde-se contato com o próprio
cerne. A pessoa passa a se identificar apenas com seus aspectos mais desenvolvidos,
corticais, que sugiram quando já podia agir, depois de um ano de idade.
É importante entender o que aconteceu na fase anterior, reptiliana e límbica,
no útero e na amamentação, porque ela pode marcar nossa personalidade,
especialmente na capacidade de contato. Ao perder contato consigo mesmo perde-se
também com o outro. Muitas pessoas falam bem, de um jeito bonito e espirituoso,
mas jamais tocando o outro em sua profundeza. A inteligência, a verbalização e
mesmo certa arrogância ou desprezo nesse tipo de “comunicação”, não passam de
uma bolha protetora da própria fragilidade.
Réptil não faz contato. Para ele a questão é sobreviver, defender-se, defender
seu território. Isso lembra certo tipo de competição da vida adulta? Sinal de que está
diretamente ligada ao nível reptiliano, de que a pessoa sente-se excessivamente
ameaçada por ainda não ter equilibrado a questão com respostas da sobrevivência –
como um bebê, que só consegue reagir com resposta tudo ou nada, sem as nuanças
que o desenvolvimento posterior lhe permitiria. Mal comparado, essa pessoa tem
dentro de si um jacaré, sempre escondido no canto e pronto para morder
desconhecidos, sem flexibilidade nas relações. Situações novas são sentidas como
ameaças. A tendência é buscar situações conhecidas, a compulsão é repetir. Claro que
um adulto tem recursos para disfarçar seu bicho, mas ninguém segura um jacaré o
tempo todo. Porém, se o aceita como parte da casa, poderá avalia-lo e administrá-lo
com objetividade. Jacaré tranquilo e bem alimentado é uma coisa. Jacaré sofrido e
ameaçado é outra bem diferente.
Como não poderia deixar de ser, nessa situação as trocas se dão em clima de
ansiedade, como se a cada passo a existência estivesse sendo ameaçada.
Inesperadamente, o bebê (ou o jacaré) entra na conversa. Esse é o problema de não
aceitarmos nossos aspectos regredidos: se não nos responsabilizamos por eles, ficam
descontrolados como crianças abandonadas e indisciplinadas que de repente
invadissem a sala de estar onde conversamos civilizadamente. Podemos pedir
desculpas às visitas – “estava fora de mim” -, como se aquelas fossem as crianças do
vizinho. Mas o melhor é cuidarmos de nosso pobres bebês, que há muito esperam por
isso. Como está fazendo um amigo, que teve o seguinte sonho: “Tentava fazer amor
com a minha mulher, mas éramos interrompidos e tempo todo pelas crianças que
entravam no quarto. Além disso, estávamos numa casa que não era a nossa, o que nos
tirava a liberdade e a espontaneidade”.
As crianças representam aspectos infantis dele próprio e da mulher. Só
contando com elas – contando mais fundo consigo mesmo – ele poderá fazer amor, ou
seja, relacionar-se em nível adulto com uma mulher também madura, recuperar a
genitalidade, a potência genital. Porque cada aspecto infantil mal administrado leva
embora um pouco de potência genital, da maturidade emocional. No sonho, estar em
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casa alheia significa a falta de contato consigo mesmo. A casa representa o próprio
corpo e, mais do que isto, o próprio cerne; de fato, quem perde contato com seu eu
mais profundo, com seu cerne, quem perde a conexão mais sutil com seus sentidos,
fica fora de si, desencorpado e superficial.
Não é nada desprezível, como se vê, nosso parentesco com os répteis. O
cérebro reptiliano regula o ritmo biológico, a função hormonal; funciona em defesa da
vida, do território e da espécie, regendo o acasalamento; corresponde a um
comportamento rígido e estereotipado, eficiente na organização da rotina. Seu
equilíbrio é a base da saúde mental e física. Se de alguma forma ficarmos estacionados
nessa fase, é claro que teremos problemas de comunicação. Um exemplo: João volta
para casa depois de um dia de trabalho em que foi eficiente e objetivo. Assim que vê
sua mulher, Ester, sente-se exausto, com necessidade de ser cuidado e atendido. Mas
não expressa isso nem com palavras nem com sinais. Limita-se a ficar quieto, calado,
embotado, jogado num canto. Explica-se: João, que não teve boa estadia no útero,
agora quer receber tudo aquilo de que precisa, sem mesmo ter de mostrar a cara,
como o faz um feto...
Situações estressantes para a mãe na gravidez, oriundas do mundo externo ou
interno (pressões, sofrimentos, carências, conflitos emocionais), podem atingir a
criança no útero, perturbando seu paraíso cósmico, a paz de seu momento de
aprontar-se para ver a luz. Mais tarde, essa pessoa pode buscar no casamento, de
maneira mais ou menos clara, uma relação do tipo fusional como a uterina. João, que
usa muito de sua energia para preservar em um bom nível a vida social e profissional,
em casa, com a mulher, espera finalmente encontrar o bom útero de que tanto
necessita.
É possível que no início do relacionamento, consciente ou inconscientemente,
Ester tenha “prometido” a João que seria tal útero por vários motivos presumíveis.
Talvez por sedução, para conquistá-lo. Ou por achar que alimentando com jeito sua
esperança de ser cuidado como bebê, em algum momento a situação se inverteria e
chegaria a vez de ela ganhar um pouco de útero, ou de colo. Acontece que ilusão é
ilusão, e para mantê-la a qualquer custo é preciso desconsiderar a realidade. Se tivesse
encarado a realidade, Ester teria percebido que João não é nada bom de útero ou de
colo e João teria avaliado melhor as bases do negocio que fazia com Ester. Daí virá
muita descomunicação, muita falta de contato. Ambos se sentirão traídos, enganados,
como se tivessem comprado gato por lebre: casaram com a mãe e encontraram no
outro o filho, ou a filha.
Após algum tempo de mutismo ou passividade, no qual na verdade João abre
sua maior ferida, à espera de afinal ser cuidado e resgatado - sem ter mais uma vez a
resposta esperada-, poderá reagir de vários modos. Frustrado, cairá em um mutismo e
isolamento ainda maiores, cheios de ressentimento e mágoa e recusando-se, ou não
conseguindo, contatar e comunicar-se. Ou reorganizará depressa uma defesa
agressiva para proteger seu núcleo de fragilidade exposto, de forma implícita, quando
pedia ajuda. Ele chama então de dentro de si o João narcisista e cabeça dura, incapaz
de reconhecer um erro próprio ou um acerto alheio. Quem diria que, por baixo dessa
arrogância há um bebê ameaçado, medroso, e que João ataca para não ser atacado?
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Seja qual for a reação, fica clara a dificuldade de João em fazer contato – o
outro não existe para ele, a não ser como aquilo de que precisa para sobreviver. Não é
muito provável que na vida a dois ele consiga o necessário para resgatar seu bebê.
Talvez no início tenha algo parecido com o esperado. Depois, a vida irá exigindo sua
energia de adulto nas trocas com a mulher e filhos. E mesmo que consiga alguma
ajuda, ele próprio acabará tendo de assumir seus aspectos regredidos. Em uma relação
a dois, é saudável e até necessária uma certa dose de colo, especialmente se for
mútuo. Mas receber uma atitude maternal é muito diferente de ter uma mãe à
disposição. Quem casa quer um companheiro, aquele com quem repartir o pão, como
a etiologia da palavra indica, e não um eterno dependente. Não uma eterna situação
de desigualdade.
Nascemos e perdemos o útero que nos envolvia por inteiro todo o tempo. É
nossa primeira separação, e pode ou não ser traumática. É o ponto em que algo muda
muito: o tipo de relação com a mãe. Com a mãe-útero vivo uma relação de fusão.
Ainda não identifico meu Eu. Não identifico o outro, o não-eu. Somos um. Estou
fundido nela, não me distingo e por isso não conheço a solidão de ser Eu, único e
diferente. Sou tudo, já que não me identifiquei com algo especifico e portanto
excludente do resto. Se minha permanência no útero foi boa, se fui acolhido com calor
e energia e pude me deixar ficar, receptivo, absorvendo aquilo que chega e que é o
necessário para o meu crescimento, terminando o prazo de nove meses estarei pronto
para nascer, para passar pelo túnel que leva ao mundo externo, a vagina materna.
Poderei fazer a passagem de forma fisiológica, natural, e entrar sem ambivalência no
canal da vida aqui fora. Poderei aguentar perder meu primeiro mundo em busca do
novo. A curiosidade e excitação, a ampliação que o novo trás, tem força maior do que
a falta do que deixamos para trás.
É fundamental também que a mãe se abra, que deixe o filho ir para o mundo
sem tentar retê-lo. Dessa forma, terá condições de esperá-lo fora, como outro ser
diferente de si mesma, para ajudá-lo a começar a reconhecer sua identidade individual
na nova fase; não mais na relação fusional, mas na simbiótica: dois seres que podem
fazer contato e trocar sensações e emoções. Dois eus, dois indivíduos, porque a criança
já se diferenciou da mãe e “aceitou” perder a situação de totalidade do útero.
Ao primeiro contato pele a pele somam-se os outros sentidos, começa-se a
experienciar o mundo. A criança já não é mais tão passiva. Embora, na verdade, nem
no útero a crianção era passiva; já fazia movimentos em busca de seu equilíbrio e bem
estar. Mas esta busca se amplia após o nascimento. Busca seu alimento sugando o
seio. Está mais ativa. Olhando alternadamente para o seio e para a mãe, para seu
próprio nariz e para o rosto materno, vai distinguindo a Si mesma e à mãe. Assim se
inicia a formação do eu. É portanto na relação que a criança encontra sua identidade,
e esta terá mais vitalidade, ou menos, conforme tiver sido essa primeira relação.
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Exemplos
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da mãe para elaborar suas experiências, tanto as frustrantes como as positivas, com as
quais ainda não sabe lidar.
Tão grande é a ansiedade em receber que Maria terá dificuldade em trocar.
Acreditará estar dando, quando tudo o que quer é receber. “Dou a você um sorriso e
você me ouve, me acolhe e me faz carinho e me tranquiliza e me cuida. Quero você
exclusivo, inteiro para mim”, ela parece dizer: Maria é um saco sem fundo em sua
exigência de afeto. No instante em que marido se distrai um pouquinho ela se sente
ameaçada de abandono e a conversa desmorona. Como não tem muitos recursos para
lidar com a frustação, se atrapalha quando se depara com os limites que a realidade
impõe. Sua reação pode ser se desenergizar, ficar deprimida, ou ficar com muita raiva,
passando ao ataque com palavras destrutivas, mordazes. (Mordaz vem de morder,
atacar com os dentes.)
É por volta dos noves meses que a criança já tem dentes, sua primeira
possibilidade de defesa. Se tudo tiver corrido bem estará pronta para o desmame,
processo marcante que a prepara para a independência. Se a experiência for
traumática deixará na personalidade um traço de raiva, rancor e mágoa. O seio que
nega, que abandona no desmane precoce, deixa a criança insatisfeita e despreparada.
O seio que seduz e prende no desmame tardio adia a independência.
Quando o desmame é traumático, a criança usa os dentes para expressar a
raiva. A raiva lhe provoca medo de reação da mãe. Medo e culpa em geral a levam a
tornar inconsciente a raiva, que se transforma em outros impulsos e comportamentos,
entre os quais a mordacidade. Por conta dela, nossa protagonista terá uma grande
tensão nos músculos masseteres e no maxilar. Enquanto está tensa e com raiva, Maria
pode esquecer a menininha que quer chorar e assim negar seu núcleo depressivo, sua
necessidade do outro, sentindo-se mais forte. Mas ao negar sua dependência, não
aceitará ajuda. Algo como a criança que, diante do seio que se oferece depois de tê-la
frustrado, não sabe se mama ou se o morde.
Pode ser que o marido de Maria, por não ter sido “todo ouvidos”, procurando
agradá-la, entre em choque contra os seus dentes cerrados.
Admitir a dependência, a necessidade de ser nutrida, será a única forma de
Maria aceitar e procurar ajuda. Não há outro jeito de crescer, a não ser aceitar os
aspectos de nossa personalidade que nos amedrontam ou desagradam.
Graças à maturidade cortical, por volta de um ano a criança passa a ser capaz
de coordenar seus movimentos e assim dirigir-se a seus objetivos. Pode andar e pegar
o que desejar. No que diz respeito ao emocional, com o desmame começa a desfazer a
relação simbólica com a mãe. O campo se abre, para incluir um terceiro, o pai, a
família, o social.
A maturação neocortical possibilita pôr-se de pé. Na posição ereta, a visão é
tridimensional. A criança percebe seus arredores e se localiza. Começa a categorizar
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reptiliano e límbico, muitas vezes não são conscientes. A maioria apenas sente o
perigo; sabe que precisa se defender, mas não detecta bem do quê. E mais: se
perguntarmos a alguém qual é sua sensação naquele momento, é bem possível que
responda o que está pensando, por não conseguir descriminar sensação, sentimento e
pensamento. Mesmo assim, não deixará de ser atingindo pelas mensagens emocionais
da conversa, nem de reagir a elas. Só quem está bem integrado em seus três cérebros
e, portanto, em sua personalidade, consegue perceber sensações, discriminar
sentimentos e transforma-los em expressão verbal. Se um dos interlocutores puder
fazer isso, já será uma maravilha capaz de evitar uma guerra muito irracional.
Ninguém melhor para ilustrar mensagens contraditórias que o famoso João-
Sem-Braço. Bonzinho, não grita, nem dá soco, fala macio, não afronta diretamente,
negocia, aguenta. Mas é perito em destruir. Bate sem querer e esconde o braço, sem
perceber a dor do outro. Especialista em frustrar o companheiro nas pequenas coisas
do dia-a-dia, deixa de dizer o que o outro espera ouvir e fica com sono na hora de
namorar. Seus golpes, alias, são de preferencia para o parceiro amoroso. Com os
demais é prestativo, trabalhador. Bom no que diz respeito a certas ações, mas solapa o
prazer do outro nos gestos e palavras. O que tem mesmo é medo de expressar seus
sentimentos e, de novo, como lhe aconteceu na infância, não ser aceito. Continua
achando que só o aceitam se for bonzinho e prestativo, o que no fundo, lhe causa
muita raiva.
Comunicação madura implica, entre outras coisas, troca em nível de símbolos,
que são culturais e sociais. Implica linguagem. Se quero dizer maçã, preciso preocupar-
me em usar o símbolo sonoro correspondente nesta cultura, a tal fruta do paraíso. Não
posso usar as palavras a meu bel-prazer, supondo que o outro vá traduzir meu discurso
como se fosse a mamãe que atendia meus sinais e quando eu dizia ‘tá tá’ ela sabia que
era maçã...
Quanto mais madura for uma pessoa, maior sua chance de bem comunicar. Por
isso, casais com um modelo de relacionamento do tipo fusional ou simbiótico terão
com certeza mais dificuldade de se comunicar do que casais com um modelo mais
adulto e independente de relação. Neste último caso, haverá menos projeção, no
parceiro amoroso, de questões infantis, vividas com mãe, pai, família. Haverá mais
tolerância, objetividade e leveza na vida em comum.
É justo que se diga que a vida a dois realça nossas dificuldades emocionais.
Como diz o ditado, é comendo um saco de sal juntos que um conhece ao outro. No
social não é necessário expor certos aspectos da personalidade que ficam entre o
casal, sobretudo quando a relação é do tipo simbiótico, onde tudo é depositado no
outro, já que não é permitida nenhuma outra presença significativa. E é o social que dá
opções e saídas, enriquecendo a vida a dois.
Por outro lado, correr risco de ligar-se a alguém, de amar, mesmo que
possamos sofrer e sangrar nas velhas feridas, é o melhor remédio, para elas se
curarem. Quantas vezes descobrimos que nos casamos com uma edição melhorada
(ou piorada) de nossos pais? Uma vantagem de tal casamento é podermos entender
aspectos negativos da mãe e do pai que, por serem até então obscuros, nos
confundiam.
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