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COMO APRENDER FRANCÊS

EM 30 DIAS

Alice Zanzottera
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RESUMO

TABELAS FONÉTICAS
PREFÁCIO
DIA 1. É tudo uma questão de orientation e prononciation
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 2. COMMENT SE BOUGER
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 3. JE SUIS JE
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 4. ÊTRE OU NE PAS ÊTRE
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 5. A MENTE MATEMÁTICA DOS FRANCESES
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 6. COMMENT ACHETER
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 7. LA CUISINE BIZARRE
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 8. LES QUESTIONS
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 9. ALLER FAIRE LES COURSES
(BIZARRES)
9.1. Les verbes aller et venir
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 10. AUX FOURNEAUX (PARTE 1)
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 11. AUX FORNEAUX (PARTE II)
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 12. Supermarché, bonjour à toi (à nouveau)
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 13. FLÂNER À PARIS (PARTE I)
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 14. FLÂNFER À PARIS (PARTE II)
14.1. Les Articles
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 15. L’ESPRIT DU CAMPING
15.1. Les Articles Contractés
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 16. LYON BY DAY
16.1. IL Y A
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 17. LYON BY NIGHT
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 18. LES QUESTIONS (parte II)
18.1. Inversion Sujet-Verbe
EXERCÍCIO
18.2. Interrogation Partielle
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 19. LE CHÂTEAU DE VERSAILLES
19.1. La Negation
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 20. SHOPPING À LA FRANÇAIS
20.1. Os Galicismos
20.2. Passé Récent
20.3. Présent Progressif
20.4. Futur Proche
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 21. AUJOURD’HUI
21.1. Adverbios de Intensidade e de Quantidade
21.2. Très
21.3. Beaucoup
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 22. LE FOLIES BERGÈRE (parte I)
22.1. Os Plurais Dos Nomes
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 23. LE FOLIES BERGÈRE (parte II)
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 24. UM MONDE DE FEMMES
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 25. OS NÃO LUGARES
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 26. A impolitesse
26.1. O Participio Passado
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 27. LE MARCHÉ AUX PUCES
27.1. Les Pronoms Relatifs
EXERCÍCIO
Os segredos relevados neste capítulo
DIA 28. LA FÊTE
EXERCÍCIO
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 29. A FRANCOPHONIE E O FRANGLAIS
Os segredos revelados neste capítulo
DIA 30. FAUX AMIS E FAMÍLIAS FALSAS
Os segredos revelados neste capítulo
SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
CONCLUSÕES
TABELAS FONÉTICAS
PREFÁCIO
O objetivo deste volume é garantir-te os princípios básicos a seguir em
situações de “ordinária fúria”, quando estás num país francófono. Talvez,
para ser exata, deva dizer francês, do momento que a francofonia engloba
muito países diferentes uns dos outros por variações linguísticas e
culturais…, mas este é um assunto que trataremos mais tarde.
Quantas vezes aconteceu-te de improvisar uma palavra enquanto estavas a
comer num restaurante no estrangeiro? Talvez, sem sequer saberes o que
estavas a pedir…
Acontece também aos melhores. Então, vamos ver como podemos libertar a
nossa criatividade com um pouco mais de conhecimento.
O funcionamento deste curso é simples. A única coisa que tens de ler é uma
lição por dia. Como podes ver no índice, os temas estão distribuídos por 30
unidades e o comprimento que escolhi para tratar estes tópicos segue apenas
esta disposição para não te sobrecarregar com muitas informações
desnecessárias.
Vamos abordar os principais tópicos gramaticais com um método divertido
baseado em situações de comunicação do dia-a-dia.
À medida que vais avançando neste caminho, sente-te livre de voltar atrás e
rever os temas que te parecerão menos claros. Para mais informações e
esclarecimentos, a Internet oferece gratuitamente uma miríade de recursos:
aconselho-te a escolheres as fontes mais fiáveis, algum dicionário
renomado, por exemplo, graças ao qual podes aprender o uso específico de
uma palavra e o seu contexto de utilização: podes consultar o larousse.fr em
linha que oferece tanto o dicionário monolingue quanto o bilingue; ou o
Trésor de la Langue Francaise Informatisé (atilf.atilf.fr), monolingue muito
rico, talvez o mais credenciado na web. No que concerne os dicionários
bilingues podes consultar o Dicionário da Porto Editora.
Ou então qual seria o melhor modo para aprender a pronuncia sem ouvir
uma conversa em francês? Há numerosos site para ouvires e oferecem
também a possibilidade de baixar o texto transcrito para te facilitar na
compreensão de cada noção. Postcastfrancaisfacile.com é um site rico de
podcasts para todos os níveis. Para os vídeos de atualidade podes consultar
também YouTube ou Lemonde.fr.
Sugiro-te também que faças, em paralelo, algum exercício de áudio tout
court, nem que seja só para veres, de vez em quando, um episódio do
journal télevisé dos jornais franceses mais influentes. Se quiseres
aprofundar o aspeto gramatical, francais.facile.com, apesar da aparência
jocosa e quase infantil, e das cores berrantes, é conciso e preciso.
Aconselho-te a dares uma volta.
Queres pedir um café sem hesitações a um café parisien? Ou encomendar
um prato num típico bistrot sem incorreres em desagradáveis
inconvenientes? Ou ainda perguntar onde é que fica a toilette?
Aqui está! Escolheste o libro indicado para ti!
DIA 1. É tudo uma questão de
orientation e prononciation
Quantas vezes, assim que tiraste a cabeça fora da cabina do avião ou
atravessaste como um turbilhão a fronteira a bordo da tua voiture, pensaste:
“Ó Deus, NUNCA MAIS vou conseguir voltar para casa”?
O desespero que nos assalta quando ouvimos falar outra língua é, por vezes,
incomensurável e esmagador, mas eu aconselho-te a enfrentares sempre a
estadia no estrangeiro com um sourire aux lèvres (sorriso nos lábios,
pronúncia suʁiʁ o lɛvʁ).
A primeira vez que pus os pés no solo parisiense nem sequer consegui
descobrir o caminho para sair do aeroporto Charles de Gaulle. Toda aquela
confusão de siglas… RATP, RER, SNFC, mas o que é que são?
E esta outra palavra muito longa…arrondissement, o que é que significa?
Deixa-me partilhar contigo o que aprendi…e que varias vezes aprendi
exatamente com erros: os arrondissement são os bairros de Paris. Existem
20, pequenas e acolhedoras mini-cidades. Isto é o que mais aprecio da Ville
Lumière: debaixo da casa há sempre a boulangerie de confiança, um
minimercado, uma crepêrie ou pâtisserie…Para mim, são estas as
características que tornam esses arrondissement uma espécie de mini-
cidade, porque a estrutura é quase repetitiva, embora sempre multiforme e
multifacetada na aparência, com novos contrastes de cor, fragrâncias que
aquecem o coração e muitas pessoas novas, embora muitas vezes
antipáticas. No entanto, é um andaime que, de certa forma, dá segurança e
faz-nos sentir bem aceites porque, onde quer que se vá, sabe-se que é
possível encontrar o que se procura. Sempre uma loja a mais ou a menos, os
essenciais estão todos lá e parecem estar à nossa espera. Isto, obviamente,
fora do centro. O centro, que não é bem central, um centro extenso que,
com o passar do tempo, engloba sempre mais atrações. É megalómano,
metropolitano, mas romantique. É como um castelo imponente, visto de
perto com olhos ternamente pequenos de uma menina: como se tudo
estivesse ao nosso alcance e, ao mesmo tempo, tremendamente insondável.
É também o cheiro das flores que se espalha pelar rues, que colide com o
fedor de xixi da noturna Gare du Nord e que, de repente, leva-nos de volta à
terra firme e reaviva a lucidez própria de um viajante que não quer sentir-se
completamente perdido.
Plan em main, armei-me de paciência e de algumas referências
indispensáveis para me orientar. Repéré (localizei) o aeroporto e o meu
destino no mapa, fornecido gratuitamente no balcão de informações do
aeroporto, e tentei seguir a cabeça da meada naquele emaranhado de linhas.
Descobri que em Paris se sobrepunham muitas linhas de superfícies e três
linhas subterrâneas, precisamente RATP, RER e SNFC.
Uma maravilha para os meus olhos de menina não-metropolitana. RATP
significa Régie Autonome des Transports Parisiens. Em 1948 substituiu o
antigo Chemin de Fer métropolitain de Paris (CFM), mais simplesmente
conhecido como metro. RER (Réseau Express Régional) é, pelo contrário,
uma verdadeira rede ferroviária quer sobrelevada, quer enterrada que liga,
em distâncias mais longas, pontos de interesse en dehors de Paris.
Por exemplo, se quiseres ir visitar o Château de Versailles tens de apanhar o
RER, se quiseres ir a Disneyland tens de apanhar o RER. E assim, descobri
que também para ir do aeroporto Charles de Gaulle para o centro da cidade,
tinha de apanhar o RER. Esta é, exatamente, uma linha separada da RATP
[ɛʁatepe]. Por isso, precisa-se de um bilhete separado. Os distributeurs
automatiques de billets não são de fácil compreensão, mas podes pedir
ajuda às pessoas responsáveis pelas informações.
Podes perguntar:
“Comment puis-je atteindre la gare de…?” e colocas o nome da estação
aonde queres chegar. Ou: “Bonjour monsieur, pouvez-vous m’aider, s’il
vout plaît? Je dois arriver à…”.
Deixa-te indicar como chegar
cais: este é muitas vezes chamado quai. O amável senhor de serviço dar-te-
á indicações através das seguintes frases:
- Tournez /prenez à gauche (Vire à esquerda) [tuʁne a
ɡoʃ]
- Tournez / prenez à droite (Vire à direita) [tuʁne a
dʁwat]
- Allez tout droit (Siga sempre em frente) [ale tu
dʁwa]
- Au fond du couloir, il y a … ( no fundo do corredor está …) le train, o
comboio, por exemplo.
[O fɔ̃ dy kulwaːʁ il j a lə tʁɛ̃]

Talvez te rias ao me imaginares sozinha e errante com duas malas enormes


cheias de roupas e massa Barilla, no meio da estação do RER.
Imagina uma conversação comigo mesma. Está ligeiramente exagerada, e,
por vezes, certamente não é uma prova de acentuada saúde mental. Com
todo o respeito, é preciso também um pouco de fantasia para entrar no
esprit francais.
- Nous sommes où, chérie?
- Je ne le sais pas.
- Qu’est-ce qu’on va faire donc?
- On va demander. Si on ne parvient pas à s’orienter, on pourra prendre un
bahut.
[nu sɔm u, ʃeʁi]
[ʒə nə lә sɛ pa]
[kɛ-s kɔ̃ va fɛʁ dɔ̃ːk]
[ɔ̃ va dәmɑ̃de. si ɔ̃ nә paʁvjɛ̃ pa a sɔʁjɑ̃te, ɔ̃ puʁa pʁɑ̃dʁ oẽ bay]
(Querida, onde estamos? Não sei. Então o que fazemos? Perguntamos. Se
não conseguirmos orientar-nos, podemos apanhar um táxi)
Pergunto a um passante:
- Bonjour Monsieur. Pardonnez-moi, je dois atteindre Rue de Rochechouart.
Est-ce que vous savez m’indiquer comment y arriver?
- Désolé mademoiselle, je ne le sais pas. Demandeze-le au chauffeur!
- Bien sûr, Monsieur, merci beaucoup!
[bɔ̃ʒuʁ məsjø. paʁdɔne-mwa, ʒə dwa atɛ̃dʁə ʁy də ʁɔʃʃuaːʁ. ɛ-s kə vu save
kɔmɑ̃ j aʁive]
[dezɔle, madmwazɛl, ʒə nə lə sɛ pa. dəәmɑ̃de-lə o ʃoføʁ]
[bjɛ̃ syːʁ, məsjø, mɛʁsi boku]
(Bom dia senhor, desculpe. Tenho de chegar à Rue de Rochechouart. Podia
dizer-me como é que vou para lá? Lamento menina, mas não sei. Pergunta
ao taxista! Com certeza, senhor. Muito obrigada!)

Pergunto ao taxista:
– Bonjour, Monsieur.
– Pouvez-vous m’emmener au 25 Rue de Rochechouart, s’il vous plaît?
– Ouais, bien sûr.
– Merci.
[bɔ̃ʒuʁ məsjø]
[puve vu mɑ̃mne o vɛ̃t-sɛ̃k ry dә ʁɔʃʃuaːʁ, sil vu plɛ]
[wɛ, bjɛ̃ syːʁ]
[mɛʁsi]
(Bom dia senhor. Por favor, pode levar-me à Rue de Rochechouart n°25?
Com certeza. Obrigada.)
Dois minutos depois, o táxi para em frente do número que lhe tinha dito.
Por causa do módico preço de vingt-cinq euros [vɛ̃t-sɛ̃k øʁo], 25 malditos
euros, por não conseguir ler um mapa, chego ao apartamento onde me
espera uma senhora americana idosa muito simpática.
Estava a reentrar no metro, quando na paragem Cadet, veio-me à cabeça
esta frase:
Doukipudonktan, se demanda Gabriel...
(Zazie dans le métro, Raymond Queneau)
O que é que este Gabriel estava a perguntar-se?
Inacreditável, mas verdadeiro. Naquela frase, proferida duma só vez, estão
contidas muitas palavras “D'où qu'ils puent donc tant?”. Talvez estejas a
perguntar-te porque é que a estou a citar. Se não estiveres a pensar isso, de
qualquer forma, vou explicar-te.
Este é o incipit de um romance que me é muito caro. O vozear no cais do
metro poderá ser um ruido ensurdecedor, no qual, conseguirás perceber
distintamente apenas algumas palavras. Mas, como aponta Gabriel,
sobretudo, o mau cheiro. Seja como for, para além disso, dir-te-ia que à
primeira vista a fonética francês pode parecer complicada, mas só porque,
como na maioria das línguas, não se escreve da mesma maneira como se
fala. É obvio que todas as línguas estrangeiras nos parecem demasiado
rápidas e incompreensíveis se nem sequer conhecemos uma palavra para
usar como ponto de referência para descodificar e decifrar.
O livro que acebei de mencionar é particularmente precioso porque inclui
uma “técnica” que na minha tese de mestrado defini “grafismo fonético”. O
autor, grande expoente do OuLiPo, usou a forma escrita de algumas
palavras tentando reproduzir a oralidade, ou seja, basicamente escreveu
como falava. Na altura, no final dos anos 50, havia um movimento artístico
e literário novo e inovador, que na minha opinião, ainda hoje, permanece tal
e atual.
Encerrando esse parêntese literário, citei o incipit para te demonstrar que as
frases pronunciadas podem parecer, por vezes, incompreensíveis: o que
temos de fazer é simplesmente dividi-las em subcategorias, sílabas, palavras
para que sejam mais fáceis de entender. Et voilà, les jeux sont faits!
Olha à tua volta!
Certamente, haverá uma senhora a usar um chapeau. Verás um homem
agarrado à sua pasta e que naturalmente faz deslocações pendulares e,
algures, verás também um grupo de turistas. Encontrarás, necessariamente,
algum português. O mundo é grande e, como tu sabes, os portugueses estão
em todos os lados. E o espírito português, no estrangeiro, tende a ser ainda
mais exuberante. Portanto, se estiveres em dificuldade, fala com eles. Mas,
tem em mente que estamos a aprender francês. Isto não quer ser uma lição
de vida.
Voltando à nossa pronúncia francesa, a regra básica diz que as consoantes
finais contidas na palavra portuguesa DEPÓSITO mais as letras “x”, “z” e
“r” final dos verbos não se pronunciam. As vogais são nasalizadas e por
isso têm um som nasal como apontam as tabelas fonéticas. Para leres as
transcrições, remeto-te para as tabelas no início do livro, com o alfabeto
utilizado internacionalmente.
Je parle = eu falo, pronunciado “j parl” [ʒə paʁl]
Ils parlent = eles falam, pronunciado “il parl” [il paʁl]
Como podes ver, a desinência do verbo no plural praticamente não se
pronuncia. Esta é uma das razões pelas quais em francês é fundamental
mencionar sempre os sujeitos, porque muitos verbos (em particular os do
primeiro grupo com desinência -ER) ao mudarem as pessoas mantêm, de
qualquer modo, a mesma pronúncia.
Antes de aprender francês, estava sempre a pensar como podia pronunciar
três vogais próximas como na palavra água (eau) o como no nome da
cidade Bordeaux pudesse nascer um som como bordò. Vamos ver os
ditongos ou tritongos horríveis típicos da língua francesa.
Vamos reagrupá-los em:
- ai e ei: são pronunciados como “e”.
- ou: é pronunciado como “u” português, como em fou, mou, tous, nous.
Este grupo vocálico é transcrito foneticamente com “u” [fu, mu, tu, nu].
Tem cuidado. Não confundas tous com a segunda pessoa singular
portuguesa, tu. Tous em francês é um adjetivo indefinido que significa
todos, tudo.
- au e eau: são pronunciados com “o” fechado, como em beau, chaud,
cadeau. Tenta ouvir alguns vídeos de pronunciação ou se consultares os
melhores dicionários em linha (mencionei-te alguns no prefácio) poderás
clicar sobre a palavra e ouvir o som.
- eu é pronunciado como “e” fechado, como em bleu, feu, ceux, e é
transcrito foneticamente como “ø”.
- oi é pronunciado “ua”, como em toi, moi, soir e é transcrito foneticamente
com [twa, swa, swaʁ].
No que diz respeito às vogais:
- “U” é pronunciada como “u” fechado. Aperta os lábios e estende-os para a
frente como se tivesses de uivar. Bem, este é o som da “u” francesa,
transcrita com “y”.
- “a”, “i”, “o” e “u” são pronunciadas acentuadas no final da palavra.
- No que concerne o som “e”:
se não tem acento, é pronunciado ә, como em je [ʒə].
se tem acento agudo (é), a pronuncia é fechada, como na palavra “mês”.
se tem acento grave (è), a pronuncia é aberta, como na palavra “terra”.

Os sinais diacríticos em francês são principalmente três.


Naturalmente este manual pretende ser um manual de conversação, mas,
para esse fim, acho que é essencial mencionar apenas alguns para te ajudar
na leitura, por exemplo, dos affiche ou das brochure.
O acento circunflexo (ˆ), filologicamente e linguisticamente falando,
simboliza a queda de uma consoante (principalmente “s” e “t”) na passagem
do francês antigo ao francês moderno.
Por exemplo,
Fenestre fenêtre (janela) [fənɛtʁ]
Isle île (ilha) [il]
Hospital hôpital (hospital) [ɔpital]
Asne âne (asno) [an]

A diérese (tréma em francês) serve para separar foneticamente duas vogais


que, de outra forma, deviam ser pronunciadas em conjunto (por exemplo
num ditongo). Vê o caso de mais (mas, conjunção adversativa pronunciada
mɛ) e maïs (pronunciada mais, o milho).
A cedilha (cédille em francês) serve para tornar suave o som do “c” que,
sendo seguido pelas vogais a,o, u devia ser duro, como em português. Em
francês é pronunciado como “s”.
Os segredos revelados neste
capítulo
. Em francês aprender as direções é muito importante, mas é ainda mais
importante ser capaz de ler um mapa. Não sigas o meu exemplo.
. Não peças indicações aos chauffeurs a menos que queiras pagar a viagem.
. Pardonnez-moi, s’il vous plaît e merci estão na ordem do dia e das
obrigações para atraíres a atenção dos franceses mais hautains (arrogantes)
. Todos os caminhos levam ao RER, mas é o RATP que leva a todos os
caminhos.
. Os franceses não rabiscam de propósito sobre as palavras: é a fonética que
o exige.
. Aprender a pronunciar os ditongos franceses pode dar a entender que tu
estejas a reproduzir a língua de Neanderthal. No entanto, não te esqueças de
dar murros ao peito. Vai certamente facilitar o movimento da casa de
ressonância torácica.
DIA 2. COMMENT SE BOUGER
Como mover-se.
Obviamente, como em qualquer outro lugar do mundo, também na França
tens ao teu dispor vários moyens de transport (meios de transporte) para ir
do ponto A ao ponto B, com mil peripécias anexas e conexas, e para visitar
todas as atrações que desejas.
On peut se déplacer à vélo (pode-se andar de bicicleta): como em Lisboa,
também em Paris, em Lyon e noutras cidades francesas está disponível um
serviço de aluguer de bicicletas que é fornecido diretamente pela empresa
de transportes urbanos (a esse respeito, mais tarde vou contar-te uma
experiência minha de ciclista em Lyon).
Podes optar por un voyage en train (uma viagem de comboio): como vimos
antes, le réseau (a rede) das ferrovias na França funciona muito bem, com
preços e comfort bem equilibrados. Também o metro é muito eficiente.
Paris tem 16 lignes facilmente distinguíveis graças a cores brilhantes e
características. Se quiseres fazer um tour de alguns dias, não deixas de ver
no site da RATP os preços dos bilhetes diários, bilhetes por dois dias e
semanais. No site dos transportes locais, podes consultar também a Paris
visite que te permite obter descontos na entrada nos principais museus da
cidade. Descontos que, numa cidade eufemisticamente riche (rica, ʁiʃ)
como Paris, não metem nojo.
Podes descolocar-te à pied (a pé) para apreciares o belíssimo panorama de
algumas zonas da França, especialmente se estiveres na Costa Azul. Se
deres um saltinho à Nice, a Promenadade des Anglais, tristemente
conhecida pelos recentes incidentes terroristas, oferecer-te-á um vislumbre
de rara beleza da França.
Mas também os passeios pelo centro de Paris, o mercado das flores (marché
aux fleurs) ou o Bairro Latino nas proximidades de Saint-Germain-des-
Près; vale realmente a pena suportar o clima instável e imprevisível da
cidade. Assim como os Champs Elysées, com a miríade de boutiques de
luxo e kiosques à journaux (são quiosques pequenos no meio do passeio,
kjɔsk a ʒuʁno), roubarão o vosso coração (e também a vossa carteira). Já
para não falar dos passeios à beira da Sena.
É claro que se gostas de conduire (conduzir) podes viajar en voiture (de
carro). Em Paris, como em todas as metrópoles, há muito trânsito e está
cheia zonas de tráfego limitado. Para evitar qualquer equívoco, eu
escolheria os meios de transporte, cuja rede é a mais bem implementada de
todas as cidades que visitei.
Para pedires informações sobre o melhor meio de transporte para chegar a
um sítio qualquer, podes dizer:
Quel moyen de transport est le meilleur pour atteindre l'Opéra?
[kel mwajɛ̃ de tʁɑ̃spɔʁ ɛ lə mɛjoeʁ puʁ atɛ̃dʁə lɔpeʁa]

Ou se não souberes mesmo por onde começar:


Pouvez-vous m'indiquer comment me rendre au Louvre, s’il vous plaît?
[puve-vu mɛ̃dike kɔmɑ̃ mə ʁɑ̃dʁ o luːvʁ sil vu plɛ]
Recorda que, falando francês, l’Hexagone, c’est encore plus magnifique!
Os segredos revelados neste
capítulo
. De vez em quando tenta esquecer que és turista e perde-te entre as belezas
segredas do mundo francês.
. Se não quiseres ficar bloqueado nos bouchons do trânsito, opta pelos
meios de transporte.
. Repito. Excusez-moi, s’il vous plaît e merci são frases passe-partout para
atraíres a atenção dos franceses, notoriamente dos hautains (arrogantes).
. Mesmo que te percas, mais cedo ou mais tarde, chegarás a algum lugar
que guarda belezas recônditas.
DIA 3. JE SUIS JE
Eu sou eu.
Entretiens d’embauche (entrevistas de trabalho, ɑ̃tʁətjɛ̃ dɑ̃boʃ),
apresentações entre amigos ou conhecidos, pessoas que te param na rua em
contextos mais absurdos ou reflexões filosóficas: a pergunta “quem és?” (ou
talvez, qui suis-je?, ki sɥiz-ʒ, quem sou eu) é uma das questões mais
antigas, e atrevo-me a acrescentar nunca resolvida, que todos – todos os
povos, em todas as épocas, ou seja, o mundo desde que existe o homem –
sempre se fez. Filósofos, poetas, gente comum e também gens du monde
(gente do mundo, ʒɑ̃ dy mɔ̃d), na vida normal de pessoas histéricas que
fazem deslocações pendulares, trabalhadores aborrecidos e caixeiros-
viajantes, têm uma grande coragem a questionar as suas próprias
identidades.
E tu, como responderias?
Eu, para ter a certeza de que não estou a errar, para evitar mal-entendidos e
para ter um point de repère (ponto de referência, pwɛ̃ də ʁәpɛʁ), começaria
por um bom sujeito: JE.
Volto a citar o soberbo Queneau que assenta sempre como uma luva: ele,
através da voz de Aroun Arachide de Zazie dans le metro, dizia: «Je suis je»
(eu sono eu, ʒə sɥi ʒə).
A minha mente muito menos brilhante ficaria limitada a um simples “je suis
ce que je suis” (eu sou o que sou, ʒə sɥi sə kə ʒə sɥi), mas talvez, mesmo
esta referência bíblica, não seja da minha cabeça.
Vou acabar com as conversas e com as digressões meio-filosóficas o
místico-religiosas. Agora vou explicar-te a teoria gramatical dos pronomes
pessoais sujeito do francês.
Tem cuidado: em francês é OBRIGATÓRIO colocar o sujeito. Não é
implícito como em português. A única forma verbal em que não aparece o
sujeito é o imperativo. O sujeito precede sempre o verbo, exceto nas frases
interrogativas que se constroem com a inversão sujeito-verbo (remeto-te
para o capítulo 18), e expressa a coisa ou a pessoa que realiza uma ação.
Primeiro, temos de distinguir os pronomes pessoais sujeito tónicos dos
pronomes pessoais sujeito átonos.
A forma átona é sempre usada com os verbos conjugados.
Eu: Je (J’*) [ʒə]
*Apostrafa-se em frente da vogal a, h e dos pronomes en e y.
Tu: Tu [ty]
Ele/ela/nós, a gente Il/elle/on [il/ɛl/ɔ̃]
Nós: Nous [nu]
Vocês: Vous [vu]
Eles/elas: Ils/elles [il/ɛl]

O pronome de tratamento formal em francês é vous, como o antigo “vós”


português.
Por exemplo:
Voulez-vous un apéro? [vule vu oẽ- apeʁo?] Quer um aperitivo?
Pouvez-vous m’aider, s’il vous plaît? [puve-vu mede, sil vu plɛ?]
Pode ajudar-me por favor?
Neste caso, os adjetivos e particípios passados que se referem ao sujeito
vous concordam com o género da pessoa, no masculino e no feminino.
Por exemplo:
Monsieur, êtes-vous fatigué?
[məsjø, ɛt-vu fatiɡe?]
Senhor, está cansado?

Mademoiselle, êtes-vous endormie?


[madmwazɛl, ɛt-vu ɑ̃dɔʁmi?]
Menina, está cansada?

Compreenderemos melhor esta parte no capítulo 28.

A terceira pessoa do singular é composta por il e elle que correspondem a


ele e ela.
A par destas formas, existe e é muito usado, o pronome on que, por vezes
tem valor impessoal e outras vezes corresponde à primeira pessoa plural
nós. Representa sempre pessoas, nunca coisas e pode ser traduzido para o
português com “a gente”.
Por exemplo:
On va au restaurant?
[ɔ̃ va o ʁɛstɔʁɑ?]
A gente vai ao restaurante?

On y va?
[ɔ̃n- i va?]
Vamos?

On dit que la France est charmante.


[ɔ̃ di kə la fʁɑ̃s ɛ ʃaʁmɑ̃t]
Dizem que a França é encantadora.

A forma tónica é:
Moi [mwa]
Toi [twa]
Lui/elle [lɥI/ɛl]
Nous [nu]
Vous [vu]
Eux/elles [ø/ ɛl]

Esta forma é usada quando o pronome é utilizado para enfatizar ou para


destacar a oposição entre dois sujeitos (1), quando existem mais sujeitos
que se referem ao mesmo verbo (2) e com aussi e non plus (3):

Aqui vão os exemplos:


(1) Moi, je suis toujours en retard!
[mwa, ʒə sɥi tuʒuʁ ɑ̃ ʁәtaːʁ!]
Eu estou sempre atrasado!

Tu es énervant, toi!
[tɥ ɛ enɛʁvɑ̃, twa!]
Tu, és irritante!

Moi, j’aime la mer, toi, tu préfères la montagne


[mwa, ʒɛm la mɛːʁ, twa, ty pʁefɛʁ la mɔ̃taɲ]
Eu gosto do mar, tu gostas da montanha

(2) Mme. Blanche et eux, ils pensent toujours aux vacances


[madam blɑ̃ʃe ø, il pɑ̃s tuʒuʁ o vakɑ̃ːs!]
Eles e a Dona Blanche pensam sempre nas ferias.

Elle ne sort pas. Moi non plus, je ne sors pas.


[ɛl nə sɔʁ pa. mwa nɔ̃ ply, ʒə nə sɔʁ pa]
Ela não sai. Nem eu saio.
Elles travaillent beaucoup, toi aussi, tu travailles fort.
[ɛl tʁavaj boku, twa osi, ty tʁavaj fɔːʁ]
Elas trabalham muito, tu também trabalhas tanto.

Vejamos agora os pronomes pessoais complemento direto. O complemento


direto é a coisa ou a pessoa sobre a qual recai a ação.
Je me regarde [ʒə mə ʁәɡaʁd]
Eu olho-me
Je te regarde [ʒə tə ʁәɡaʁd]
Eu olho-te
Je le regarde/Je la regarde [ʒə lə/la ʁәɡaʁd
Eu olho-o/Eu olho-a
Tu nous regardes [ty nu ʁәɡaʁd]
Tu olhas-nos
Je vous regarde [ʒə vu ʁәɡaʁd]
Eu olho-vos
Je les regarde [ʒə le ʁәɡaʁd]
Eu olho-os

Repara que a terceira pessoa singular tem dua formas diferentes para o
masculino e para o feminino. A terceira pessoa plural utiliza les para os
dois.
EXERCÍCIO
Agora tenta completar este:
1. J’aime beaucoup ce groupe. Et _____?
2. Pendant les vacances _______ allons visiter Cannes.
3. As-tu étudié l’allemand? Oui, je _____ai étudié.
4. On _____ a vus à la mer.
5. C’est la fête que/qu’ ________ a organisée.
Os segredos revelados neste
capítulo
. Os sujeitos devem recordar-te como tudo é subjetivo.
. Tu es ce que tu es.
. Reescrevendo Feuerbach, nós somos o que dizemos.
. Vais parecer francês, toi aussi.
. Vamos fazer uma revisão da análise sintática para distinguir o sujeito do
complemento direto
. Voulez-vous coucher avec moi, ce soir?, agora vais cantá-la com mais
consciência.
DIA 4. ÊTRE OU NE PAS ÊTRE
Ser ou não ser.
Être, ou ne pas être, c’est là la question. Todos nos lembramos do
famoso incipit do terceiro ato da tragedia de Shakespeare que
conserva todo o seu encanto apesar de as atividades de tradução
terem arriscado distorcer o seu conteúdo. Aqui está uma frase muito
simples: uma frase composta apenas de dois verbos, ser e não ser.
Deve haver alguma razão se o nosso caro William quis dar tanta
importância a estas duas palavrinhas, conferindo-lhes o peso da
abertura de um monólogo. Talvez, Amleto não soubesse que a
abertura do solilóquio ia dar água pela barba aos filólogos de todas
as épocas. Esta é outra história. Agradeço-o porque me sugeriu o
começo de um novo capítulo sobre os auxiliares.
Talvez, ninguém saiba porque foram os escolhidos, porque eles
mesmos foram nobilitados para serem auxiliares (palavra que, com
base na etimologia latina, indica a função de auxilium, socorro). No
entanto, todos sabemos que não podemos passar sem eles. Ser e
ter são verbos imprescindíveis que permitem a construção de uma
frase qualquer que, embora seja simples, é significativa. Por
exemplo, normalmente, funcionam como verbos de apresentação.
Um dia, em Paris, estava à espera de um amigo à porta de uma
escola de línguas, na paragem Poissonnière. Fumava um clope
(termo coloquial para chamar o cigarro, pronunciado klɔp) sentada
placidamente num banco com as pernas para o ar, quando a minha
extrema loquacidade e necessidade de falar francês me levou a
travar conversa com um clochard que tinha vindo sentar-se à coté
de moi (ao meu lado, a kɔte də mwa). A situação tinha um certo tom
surreal, mas o panorama pitoresco que estava à volta, fez com que
a cena parecesse incrivelmente vivida e real. Que assuntos em
comum podes com um clochard parisiense? estava a perguntar
comigo mesma, esforçando-me em silencio de encontrar um tema
que me permitisse prolongar a conversação o suficiente para ocupar
o tempo e praticar a minha língua francesa. Enquanto estava a tirar
outro cigarro do paquet (pacote, pakɛ), disse a mim mesma que
talvez pudesse pedir um briquet (isqueiro, bʁikɛ). No final, trata-se de
uma frase passe-partout, que em qualquer canto do planeta, traz sempre
conhecimentos interessantes.
Et donc:
– Excusez-moi, monsieur, pourriez-vous me prêter votre briquet, s’il
vous plaît?
– Bien sûr! Tiens.
– Merci beaucoup.
– Pas de quoi, mademoiselle.
– C’est incroyable ! On a toujours le briquet vide juste au
moment où on est tout seul.
– Ah ouais, c’est paradoxal et normal quand même. Tu viens d’où?
– Je suis italienni. Je suis ici à Paris pour étudier la langue française.
– Super. Qu’est-ce que tu fais en Italie?
– J’étudie à l’université, fac de traduction.
– Et qu’est-ce que tu traduis?
– Tout ce qui m’arrive. Bon, pour revenir au sujet… Et donc,
combien coûtent les cigarettes ici en France?
– Ah bon, c’est cher. Ça coûte vraiment trop. Ça fait...cinq euros
cinquante au paquet, je crois.
– Ouh là là, en Italie, maintenant ça fait trois euros quatre-vingts.
– Ah! Les Italiens, vous êtes des salauds!

[ɛkskyze-mwa, məsjø, puʁje-vu mə pʁete vɔtʁə bʁikɛ, sil vu plɛ?]


[bjɛ̃ syːʁ! tjɛ̃]
[mɛʁsi boku]
[pa də kwa, madmwazɛl]
[sɛt- ɛ̃kʁwajabl. ɔ̃n- a tuʒuʁ lə bʁikɛ vid ʒyst o mɔmɑ̃ u ɔ̃n- ɛ tu soel]
[a wɛ, sɛ paʁadɔksal e nɔʁmal kɑ̃ mɛm. ty vjɛ̃ du?]
[ʒə sɥiz- italjɛn. ʒə sɥiz- isi a paʁi puʁ etydje la lɑ̃ɡ fʁɑ̃sɛːz]
[sypɛːʁ. kɛ-s kə ty fɛ ɑ̃n- itali?]
[ʒetydi a lynivɛʁsite, fak də tʁadyksjɔ̃]
[e kɛ-s kə ty tʁadɥi?]
[tu sə ki maʁiːv. bɔ̃, puʁ ʁәvəniʁ o syʒɛ… e dɔ̃ːk, kɔ̃bjɛ̃ kut le
siɡaʁɛt isi ɑ̃ fʁɑ̃ːs?]
[a bɔ̃, sɛ ʃɛːʁ. sa kut vʁɛmɑ̃ tʁo. sa fɛ… sɛ̃k øʁo sɛ̃kɑ̃t o pakɛ, ʒə
kʁwa]
[u la la, ɑ̃n- Itali, mɛ̃tnɑ̃ sa fɛ tʁwaz- øʁo katʁә-vɛ̃]
[a! lez- italjɛ̃, vuz- ɛt de salo!]

(Desculpe senhor, podia emprestar-me o seu isqueiro, se faz favor? Com


certeza. Aqui está. Muito obrigada. De nada, menina. É incrível! Temos
sempre o isqueiro vazio mesmo quando estamos sozinhos. Pois, é
paradoxal, mas ao mesmo tempo normal. De onde és? Sou italiana. Estou
em Paris para estudar francês. Boa. O que fazes em Itália? Ando na
universidade, na faculdade de tradução. E o que é que traduzes? O que quer
que seja. Bem, para voltar ao assunto…. Então, quanto custam os cigarros
em França? São caros. Custam realmente demasiado. Isso é… cinco euros e
meio por um pacote, penso eu. Uau, em Itália agora custam três euros e
oitenta cêntimos. Vocês Italianos são uns sacanas!
Ah, muito simpático o senhor, pensei eu! Insultos gratuitos porque os
cigarros são mais baratos em Itália? Bom, por precaução e dado o
andamento das coisas, e na esperança de que a minha amiga se apressasse,
decidi concluir com muita cortesia e condescendência:
– D’accord, merci beaucoup pour votre briquet. Bonne journée!
[dakɔːʁ, mɛʁsi boku puʁ vɔtʁə bʁikɛ. bɔn ʒuʁne!]
(Bem, muito obrigada pelo isqueiro. Tenha um bom dia!)
Uma conversa cíclica, repleta de sentido. Heureusement (felizmente,
øʁøzmɑ̃), a minha amiga voltou porque a conversa estava seguindo um
caminho ligeiramente difícil. É sabido que os franceses não têm muita
estima pelos estrangeiros e decerto não pelos italianos. Porém, pelo que vi e
ouvi, parece ser verdade também o contrário. De qualquer forma, se
souberes lidar com eles, são pessoas espleeeendidas!
Talvez tenha sido minha culpa, posso não ter parecido interessante com a
apresentação escassa que fiz. Obviamos o problema e vamos ver como
fazer apresentações corretas.
Primeiro, vejamos doi verbos indispensáveis para qualquer conversa: ser e
ter.

ÊTRE
Je suis [ʒə sɥi]
Eu sou
Tu es [tɥ ɛ]
Tu és
Il – elle – on est [il – ɛl – ɔ̃n- ɛ]
Ele - ela - a gente é
Nous sommes [nu sɔm]
Nós somos
Vous êtes [vu ɛt]
Vocês são
Ils – elles sont [il – ɛl sɔ̃]
Eles - elas são

AVOIR
J’ai [ʒe]
Eu tenho
Tu as [ty a]
Tu tens
Il/elle/on a [il/ɛl/ɔ̃n a]
Ele - ela- a gente tem
Nous avons [nuz- avɔ̃]
Nós temos
Vous avez [vuz- ave]
Vocês têm
Ils/elles ont [ilz/ɛlz- ɔ̃]
Eles – elas têm

Na distinção entre os verbos ser e ter é fundamental fazer a liaison. O que é


a liaison? Não, não se trata da liaison amoureuse entre os verbos ser e ter.
Literalmente significa “ligação” e consiste em pronunciar a consoante final
de uma palavra, se a próxima for uma vogal. Bem, se for melhor para ti (por
vezes, quando estamos a aprender a collocation linguística, é mais fácil
lembrarmos da regra se a associarmos a anedotas divertidas ou a
gestos) podes imaginar que a consoante e a vogal juntas formam
um casal vinculado por uma liaison sentimental! Tomemos como
exemplo a terceira pessoa plural de ambos os auxiliares. Com o
verbo ser a pronuncia é separada, ou seja [il sɔ̃]. Com o verbo ter a
liaison é obrigatória e implica a transformação do som s para um
som mais parecido com z, cuja fonação será então [ilzɔ̃]. Nas
transcrições fonéticas destas páginas vou indicar sempre a liaison com um
hífen (-).
Bem, agora que temos elementos suficientes para criar uma breve
apresentação, vamos lá experimentar!
Imagino que vás para um país francófono com o teu namorado ou com a tua
namorada, marido ou mulher, filhos e assim de seguida, e certamente não
vais ter sorte quando tens de dirigir a palavra a desconhecidos. Mas pode
acontecer - e acrescento, eventualmente em qualquer altura – de ter de dizer
quem és ou que fazes. Podemos tentar?
Por exemplo, queres dizer que idade tens, que tipo de trabalho fazes, de
onde és? Se tens cães, gatos, irmãos e irmãs? Pode parecer uma
apresentação algo redutiva e por vezes infantil, mas por algum lado tens de
começar, não achas?
Dou-te algumas frases, digamos “modelo”. Tenta criar a combinação que te
dê mais jeito!
Je suis un étudiant / employée / entrepreendedor
[ʒə sɥiz- oẽ- etydjɑ̃ / ɑ̃plwaje / ɑ̃tʁəpʁənoeʁ]
(Sou estudante / empregado / empreendedor)

Je suis italien / français / anglais / allemand / espagnol


[ʒə sɥiz- italjɛ̃ / fʁɑ̃sɛ / ɑ̃ɡlɛ / almɑ̃ / ɛspaɲɔl]
(Sou italiano / francês / inglês/ alemão / espanhol)

J’ai vingt ans / trente ans / quarante ans / cinquante ans


[ʒe vɛ̃ ɑ̃ / tʁɑ̃t ɑ̃ / kaʁɑ̃t ɑ̃ / sɛ̃kɑ̃t ɑ̃]
(Tenho vinte anos / trinta anos / quarenta anos / cinquenta anos)
J’ai un chien / deux chiens / un chat / deux chats / un poisson / deux
poissons
[ʒe oẽ ʃjɛ̃ / dø ʃjɛ̃ / oẽ ʃa / dø ʃa / oẽ pwasɔ̃ / dø pwasɔ̃]
(Tenho um cão / dois cães / um gato / dois gatos / um peixe / dois peixes)

J’ai une soeur / deux soeurs / un frère / deux frères


[ʒe yn soeʁ / dø soeʁ / oẽ fʁɛʁ / dø fʁɛʁ]
(Tenho uma irmã / duas irmãs / um irmão / dois irmãos)

Je suis enfant unique ( fils unique / fille unique)


[ʒə sɥiz- ɑ̃fɑ̃ ynik (fis ynik / fij ynik)]
(Sou filho único (filho único / filha única)

Vejamos também algumas formas de abertura e encerramento de conversas,


formas para agradecer e pedir desculpa.
Bonjour [bɔ̃ʒuʁ] Bom dia
Bonsoir [bɔ̃swaʁ] Boa
tarde
Bonne journée [bɔn ʒuʁne] Bom dia
Bonne soirée [bɔn swaʁe] Boa
noite
Bonne nuit [bɔn nɥi] Boa
noite
Salut [saly] Olá
Au revoir [o ʁәvwaʁ] Até
logo
Adieu [adjø] Adeus
À bientôt [a bjɛ̃to] Até
logo
À tout à l’heure [a tut- a loeʁ] Até já
Excusez-moi [ɛkskyze-mwa]
Desculpe-me
(para pedir
informações)
Pardon [paʁdɔ̃]
Desculpa / Desculpe
Merci [mɛʁsi]
Obrigado
Merci beaucoup [mɛʁsi boku]
Muito obrigado
Merci bien [mɛʁsi bjɛ̃]
Muito obrigado
Merci mille fois [mɛʁsi mil fwa]
Muito obrigado
(Il n’y a) Pas de quoi [(il nj- a) pa dә kwa]
De nada
De rien [də ʁjɛ̃] De
nada
Je t’en prie [ʒə tɑ̃ pʁi] De
nada
(forma
informal, tu)
Je vous en prie [ʒә vuz- ɑ̃ pʁi] De
nada
(forma
formal, você)
Bienvenu/Bienvenue [bjɛ̃vny / bjɛ̃vәny]
Bem-vindo/

/Bem-vinda
Je suis enchanté/enchantée [ʒә sɥiz- ɑ̃ʃɑ̃te/ɑ̃ʃɑ̃te]
Muito prazer
(falante homem, falante
mulher)
Je suis désolé / désolée [ʒә sɥi dezɔle / dezɔle]
Lamento
(falante homem, falante
mulher)
Quando te dirigires a alguém que não sabes como se chama ou com quem
não estás familiarizado, a étiquette quer que te dirijas à pessoa em questão
com os seguintes títulos (entre parenteses as abreviações):
Monsieur (M) [məәsjø]
Senhor
Madame (Mme) [madam]
Senhora
Mademoiselle (Mlle) [madmwazɛl]
Menina
Messieurs (MM) [mesjø]
Senhores
Mesdames (Mmes) [medam]
Senhoras
Mesdemoiselles (Mlles) [medmwazɛl]
Meninas
Os segredos revelados neste
capítulo
. Os franceses nem sempre têm boa consideração para com os italianos.
. Os cigarros em França custam muito. Se quiseres mudar-te, para de fumar.
. Shakespeare é um grande mestre, também de gramática.
. Se te disserem merci, já deves saber que te estão a agradecer e não pensas
que querem entregar-te mercadorias.
. Se disseres que és enchanté, não estás sob o feitiço de um conto de fadas,
apenas estás a conhecer uma pessoa.
. No próximo episódio vais descobrir as consequências da liaison entre
consoante e vogal!
DIA 5. A MENTE MATEMÁTICA
DOS FRANCESES

Vagueava candidamente pelas rues (ruas) de Paris; dentro e fora das gares
do métro; entro em Cadet, saio em Blanche; uma promendade em solitaire
em frente do Moulin Rouge; uma conversação bizarra aqui e ali com
alguma senhora antipática habillée de fourrure ((abije də fuʁyʁ, usando
pele). A crêpe à la confiture (com doce) derramava, enquanto eu olhava
para os pintores profissionais e amadores da Place du Tertre que arriscavam
fazer retratos improvisados de algum turista desgraçado. Depois subia as
escadas até ao infinito e além do Sacré Coeur. E depois para baixo, para a
escadaria de Montmartre. Havia ruelas e cheiro a doces. Ouve-se, ao longe,
uma senhora com um ar gentil, embora um pouco bizarre (curioso), que
vestia um par colorido de calças largas e de cintura alta e uma camisola a
xadrez, tocando um realejo que produz um som suave e agudo próprio de
um carillon. Alice, agora põe em prática o teu francês e começa a compter
(contar).
Como eu, tu também tens à tua disposição duas alternativas.
Opção A: Não sofres de vertigens e apanhas a funiculaire. O funicular
cambaleante e vacilante, e, no entanto, fascinante, priva-te do panorama
magnifico para degustar em cada passo em direção ao céu.
Opção B: Sofres de vertigens e contas os degraus para que a escalada
pareça menos extenuante. Pouco arrependimento, muito esforço, um bom
exercício para o corpo e a mente.

Seja como for, optaria pela segunda opção. Podes juntar o útil ao agradável
e imaginar, os milhares, não, os milhões de pessoas que pisaram aqueles
degraus em mármore, ao fim e ao cabo, ainda intactos. Ali podes sentir o
cheiro do verdadeiro passado e do presente nítido de Paris.
Os cheiros suaves das pâtisseries que se derramam nas ruas, as embalagens
dos crepes que volteiam nos trottoirs (tʁɔtwaʁ, passeios), aquela brisa leve,
tipicamente parisiense, que te faz levantar a saia, eletrizar o cabelo e te
força a tirar para baixo do céu todos os santos. Não sei se acreditar que os
coiffeurs (kwafoeʁ, cabeleireiros), o as coiffeuses (kwaføz) têm uma vida
curta em “Foi Lutécia” ou se caíram do céu para todas as dames que têm
um pouco de loisirs (lwaziʁ, tempo livre) para passar fora de casa ou noutro
lugar, e especialmente que têm argent (aʁʒɑ̃, dinheiro) para verem
dissolvido em fumo, logo que saírem da boutique.
O clima é mutável como as pessoas: por vezes é abafante, corta a respiração
e seca a alma, mas uns segundos depois podes estar arrastado por águas
torrenciais que nem têm a nada a ver com as Cataratas do Niágara. Pensa
que passei um verão em Paris e tive de refazer quase completamente o
guarda-roupa porque não tinha casacos nem roupas quentes. Durante o dia
estavam 13 graus e parti 3 guarda-chuvas. Tu, sê previdente, por favor.
Eis como podes fazer passar em segundo plano a fadiga pela escadaria de
Montmartre.
Os números cardinais, de 0 a 20, são os seguintes:
0 zéro [zeʁo] 11 onze [ɔ̃z]
1 un [ɛ̃] 12 douze [duz]
2 deux [dø] 13 treize [tʁɛz]
3 trois [tʁwa] 14 quatorze [katɔʁz]
4 quatre [katʁ] 15 quinze [kɛ̃z]
5 cinq [sɛ̃k] 16 seize [sɛz]
6 six [sis] 17 dix-sept [dis-sɛt]
7 sept [sɛt] 18 dix-huit [diz-ɥit]
8 huit [ɥit] 19 dix-neuf [diz-noef]
9 neuf [noef] 20 vingt [vɛ̃]
10 dix [dis]

Vou fazer um breve comentário sobre a pronúncia de huit, six, diz e neuf:
- em huit, six e dix as consoantes finais são pronunciadas só se estas
palavras forem seguidas por um nome que começa por vogal ou h mudo
(neste caso faz-se a liaison) ou se forem usadas isoladas (se depois destas
palavras não houver outro substantivo).
- em neuf, o f é sempre pronunciado exceto nas expressões “neuf ans” e
“neuf heures”, em que o som se transforma em v [noev- ɑ̃, noev- oeʁ].

A partir de dezassete, os números são compostos pela dezena (20 por


exemplo) e pela unidade: 21
vingt et un, 22 vingt-deux, 23 vingt-trois, 34 trente-quatre, 58 cinquante-
huit, 69 soixante-neuf….

No entanto, desde o número 60 as coisas tornam-se mais complicadas.

Os números em francês são sempre vistos como um grande espantalho.


Quantas pessoas terão pensado “ó pá, os franceses são loucos, fazem somas
e multiplicações”. Pois é. A partir do número sessenta, tens de fazer
operações matemáticas que na realidade são muito elementares. Mas
existem regras férreas porque com o passar do tempo essas operações se
tornaram fórmulas fixas.

Portanto:

- 70 = 60 + 10 (swasɑ̃t-dis, soixante-dix)
- 80 = 4 * 20 (katʁə-vɛ̃, quatre-vingts)
N.B.: nos números sucessivos a 80, o s de vingt cai.
- 90 = 4 * 20 + 10 (katʁә-vɛ̃-dis, quatre-vingt-dix)
- 100, felizmente, volta-se à normalidade com cem (sɑ̃, cent).

Cent fica no plural só se for precedido por um número que o multiplica, ma


se for seguido por um algarismo permanece inalterado.
Para ser mais clara:

100 cent 202 deux-cent-deux


200 deux cents 586 cinq-cent-quatre-vingt-six
500 cinq cents 708 sept-cent-huit

- 1000 é invariável. Portanto, é sempre mille (pronunciado mil), quer


isolado, quer acompanhado por outros números.
- Million (miljɔ̃, milhão) e milliard (miljaʁ, mil milhões) funcionam como
cent. Por isso, acrescentam s do plural, se forem precedidos por um número
que os multiplica.
No fundo, são apenas trinta os números que podem resultar um pouco
difíceis, mas bien sûr (bjɛ̃ syʁ, com certeza), não é preciso estar a quebrar a
cabeça. Tem em mente que noutros países francófonos, por exemplo, na
Bélgica e na Suíça alguns números são chamados de outra forma. Na Suíça
os algarismos a partir do sessenta são septante (70), octante ou huitante
(80) e nonante (90). Também na Belgica, utilizam septante e nonante.

HORAS, MÊS, ANO


Ao falar do clima sinto que tenho necessariamente de relacionar o tema que
vou expor a seguir. Parecerá banal, mas se quiseres reservar algo quando
estiveres no solo francófono é essencial fazer-te entender. Neste caso, é
necessário dizer com a maior precisão possível quais são os teus pedidos. E
para o fazeres corretamente, para evitares obstáculos, recomendo que leias e
aprendas as expressões que te reporto a seguir.
HEURES, HORAS
Para indicar as horas usa-se a forma impessoal “il est” acompanhada pelo
número e por heure/heures.
Il est trois heures [il ɛ tʁwaz- oeʁ]
São três horas
Il est treize heures [il ɛ tʁɛz oeʁ]
São treze horas
Il est midi [il ɛ midi]
É meio-dia
Il est minuit [il ɛ minɥi]
É meia-noite
Il est seize heures trente [il ɛ sɛz oeʁ tʁɑ̃t]
São dezasseis horas e trinta
Il est dix-huit heures moins le quart [il ɛ diz-ɥit oeʁ mwɛ̃ lә kaʁ]
É um quarto para as seis
Il est vingt heures et demie [il ɛ vɛ̃ oeʁ e dəmi]
São vinte horas e meia
Il est vingt-deux heures et quart [il ɛ vɛ̃t-dø oeʁ e kaʁ]
São dez horas e um quarto

MOIS, MESES
Utilizamos sempre a preposição en ou au mois de (literalmente no mês de)
Janvier [ʒɑ̃vje]
Février [fevʁije]
Mars [maʁs]
Avril [avʁil]
Mai [mɛ]
Juin [ʒɥɛ̃]
Juillet [ʒɥijɛ]
Août [u(t)]
Septembre [sɛptɑ̃bʁ]
Octobre [ɔktɔbʁ]
Novembre [nɔvɑ̃bʁ]
Décembre [desɑ̃bʁ]

SAISONS, ESTAÇOES DO ANO


As estaçoes do ano são masculinas e usa-se a preposição en
en été [ɑ̃n- ete] (no verão )
en hiver [ɑn- ivɛʁ] (no
inverno)
en automne [ɑ̃n- ɔtɔn] (no outono)
exceto: au printemps [o pʁɛ̃tɑ̃] (na
primavera)
ANS, ANOS
Não se usa o artigo com os anos, NUNCA. No caso de haver preposições
contraídas com os artigos, estas ficarão à, en e de.
A palavra “ano” tem duas traduções diferentes: an ou année. A diferença,
embora subtil, difícil para explicar e muitas vezes até para aprender, está na
ideia subjacente: geralmente an é acompanhado por números e quase nunca
por adjetivos; com année salienta-se a duração.
Vejamos algum exemplo:
Je suis né en 1980
Nasci em 1980
[ʒə sɥi ne ɑ̃ mmil noef sɑ̃ katʁә-vɛ̃]

1968 a été une année formidable


1968 foi um ano formidável
[mil noef sɑ̃ swasɑ̃t-ɥit a ete yn ane fɔʁmidabl]

Je vais travailler en France d’ici à 2017


Vou trabalhar em França até 2017
[ʒә vɛ tʁavaje ɑ̃ fʁɑ̃s disi a dø mil dis-sɛt]

J’habiterai ici à partir de 2018


Vou viver aqui desde 2018
[ʒabitʁe isi a paʁtiʁ də dø mil diz-ɥit]

Il a quitté l’Italie il y a deux ans.


Saiu da Italia há dois anos
[il a kite litali il j- a døz- ɑ̃]
Os segredos revelados neste
capítulo
. Cansa a tua mente a contar para ficares menos cansado fisicamente!
. Os franceses têm uma excelente mente matemática. Não é por acaso que
Descartes, Pascal e Carnot eram franceses.
. Quando estiveres a arranjar a mala para ir à França, lembra-te do K-Way.
Se tiveres uma bagagem grande, lembra-te também de fazer abastecimento
de guarda-chuvas e de um casaco.
. Com os anos e com os números em geral, tem cuidado: não há artigo.
. Prova a crêpe à la crème de marrons na Place du Tertre. Desde que chegas
lá.
. Os Suíços são muito mais pontuais e mais simples do que os franceses.
DIA 6. COMMENT ACHETER
Como comprar.
Acontece que todos trazem algumas lembranças a amigos e familiares.
Sabemos muito bem que – na realidade isto se aplica em todo o lado – se
pareceres um estrangeiro tonto e ingénuo, os comerciantes tentarão
enganar-te. Não estou aqui para te abrir os olhos, mas para te pedir apenas a
observar os falantes franceses e o modo de gesticular deles. Muitas vezes,
embora se conheça perfeitamente uma língua, o que prova que somos
estrangeiros é precisamente a linguagem não verbal. Agora vamos focar-nos
no aspeto linguístico e vejamos um típico negociante vigarista em ação.
Imagina que a cena se passe numa loja de souvenir.
− Bonjour!
− Bonjour, Madame!
− Ça coûte combien?
− Vingt-cinq euros.
− Il est hors de prix!
− C’est un bon prix, mais comme vous parlez bien la langue
française, je vous ferai une réduction. Vingt euros, c’est
d’accord?
− Oui, mais c’est exagéré pour ce stylo-là.
− Qui a parlé de stylo?
− Moi, j’en ai parlé!
− Donc, ça fait un euro.
− Bon, je le prends.
− Merci.
− Merci à vous. Au revoir!
− [bɔ̃ʒuʁ]
− [bɔ̃ʒuʁ, madam]
− [sa kut kɔ̃bjɛ̃?]
− [vɛ̃t-sɛ̃k øʁo]
− [il ɛ ɔʁ də pʁi!]
− [sɛt-ɛ̃ bɔ̃ pʁi, mɛ kɔm vu paʁle bjɛ̃ la lɑ̃ɡ fʁɑ̃sɛːz, ʒә vu fәʁe yn ʁedyksjɔ̃.
vɛ̃ øʁo, sɛ dakɔʁ?]
− [wi, mɛ sɛt- ɛɡzaʒeʁe puʁ sə stilo-la]
− [ki a paʁle də stilo?]
− [mwa, ʒɑ̃n- e paʁle!]
− [dɔ̃ːk, sa fɛ ɛ̃n- øʁ]
− [bɔ̃, ʒә lә pʁɑ̃]
− [mɛʁsi]
− [mɛʁsi a vu. o ʁəvwaʁ]

(Bom dia! Bom dia, minha senhora! Quanto é que custa? Vinte e cinco
euros. Mas é muito cara! É um preço justo, mas como a senhora fala bem
francês vou fazer-lhe um desconto. Vinte euros, está bem? Sim, mas é
exagerado para aquela caneta. Quem é que falou de caneta? Eu falei. Então,
é um euro. Está bem, vou comprá-la. Obrigada. Obrigado eu. Adeu!)
N.B.: stylo é um substantivo masculino em francês.
Quando comprares e indicares um objeito, podes expressar proximidade e
distancia do mesmo com as formas enclíticas -ci e -là. Estas devem ser
precedidas por ce (no masculino, cet no masculino se precede um
substantivo que começa por vogal) ou cette (para o feminino) e ces (para o
plural) e são chamados adjetivos demostrativos.
Em francês não há outra forma de distinguir entre “este” e “esse ou aquele”.
Em suma, temos:
- (m. sing) Ce livre-ci; ce livre-là
[sә livʁә-si; sә livʁə-la]
este livro; aquele livro

- (m. sing. com vogal inicial) Cet arc-ci; cet arc-là


[sɛt aʁk-si; sɛt aʁk-la]
este arco; aquele arco

- (f. sing) Cette fleur-ci; cette fleur-là;


[sɛt floeʁ-si; sɛt floeʁ-la]
esta flor; aquela flor [fleur em francês é uma palavra feminina)

- (m. plur.) Ces chiens-ci; ces chiens-là


[se ʃjɛ̃-si; se ʃjɛ̃-la]
estes cães; aqueles cães

- (f. plur.) Ces amies-ci; ces amies-là


[sez- ami-si; sez- ami-la]
estas amigas; aquelas amigas
Os segredos revelados neste
capítulo
. Fica sabendo que também em Lisboa podes encontrar os souvenirs que se
vendem em Paris.
. Este ou esse/aquele? É sempre melhor apontares!
. Os franceses dizem: «à Rome, fais comme les Romains»; os portugueses
dizem: «cada terra com seu uso». Um cosa é certa. As intrujices são
internacionais.
. Supõe uma escrita imaginaria fora dos magasins: Aqui se aplicam
réductions apenas para quem falar francês”. Se não falares francês, os
franceses podem fingir não te ouvir.
. Tem cuidado com o género do substantivo para poderes concordar
corretamente.
. A minha lei de Murphy diz que quando comprares um souvenir, na loja ao
lado, há um que é igual e é mais barato.
DIA 7. LA CUISINE BIZARRE
Uma cozinha esquisita.
A Bélgica não é só moules frites e a Suíça não é só fromage et chocolat. A
França não é só entrecôte frites (ɑ̃tʁәkot fʁit) porque, afinal, os franceses
são denegridos sob o apelido de homens-sapos; nem sequer é só baguettes
(baguetes). Se pensares nisso, o nome não é, de modo algum, charmant. E a
França também não é só jambon que no supermercado custa os olhos da
cara e parece mais um bife do que tranche. Restaurantes e supermarché
abundam nestes alimentos, mas felizmente não são os únicos. Se não
quiserem hipotecar a casa, esqueçam a massa e os molhos já prontos. O
meu humilde conselho é de vos empanturrar de doces. Nas pâtisserie há
uma miríade de friandides (fʁijɑ̃diz, gulodices), da tarte à la confiture,
passando pelo pain au chocolat, aos gâteaux, sem esquecer a crêpe aux
marrons; mas existem também os famosíssimos macarons.
Bem, gostava de dizer mais algumas palavras sobre estas maravilhosas
obras-primas da arte culinária. Nos últimos tempos, a propagação das
mesmas tem sido uma epidemia crescente, não só em bares e restaurantes,
mas também nas lojas de roupas e malas, com cada vez mais marcas que
fizeram destes doces uma verdadeira marca de fábrica posta em carteiras,
sapatos, capas e assim por diante. Contudo, poucas pessoas reconhecem
que, afinal das contas, são o emblema do requinte parisiense. A receita mais
famosa é a da maison Ladurée. O solo francês é salpicado com as boutiques
de macarons. Em França há cerca de trinta lojas, das quais sete em Paris
com superfícies mais ou menos extensas. A loja mais bonita que já vi é a
que fica nos Champs Elysées (75, avenue de Champs Elysées): uma
belíssima sala de chá, com pirâmides de macarons variegados e com um
cheiro que diria mesmo a bonbon, a rebuçado. Uma fragrância que não é
enjoativa, mas capaz de fazer voar a imaginação e exultar os sentidos. Não
estou a exagerar, juro. Estava a dizer que a sua preparação é difícil e
delicada, suponho eu. Mesmo quando tentei fazê-los com um produto em
lata (infelizmente, não sou uma boa chef cuisinier) o tempo necessário era
escasso e o resultado foi insatisfatório. Saíram do forno inteiros, o que me
pareceu uma ótima conquista, mas nada a ver com os inigualáveis macarons
de Ladurée ou de Fauchon.
Estes bolos vendidos a peso de ouro, são feitos de pequenos merengues e
crème ganache, existente em praticamente todos os sabores. Há para cada
paladar; doces e também salgados. Se não pensares que estás a comer,
talvez duma só vez, bastante dinheiro, a explosão do seu sabor extasiará as
tuas papilas gustativas!
Seja como for, não desesperes. Para te empanturrares de macarons, não é
necessário ires à França. Vais encontrar lojas de Ladurée também em
Portugal, mas além dos salons de thé originais, há muitos sítios que vendem
os seus produtos.
E para sublinhar que estes doces não são coisas de pobrezinhos, digo-te
que, em ocasião da Vogue Fashion Night Out, Ladurée da rua Spadari em
Milão produziu uma verdadeira gourmandise celebrando o evento com uma
limited edition: macarons cobertos de folhas de ouro comestíveis.

No entanto, para além dos doces, existem também as famosas omelettes.


Por falar nisso, quero contar-te uma história engraçada. Ora bem, estava
num típico bistrot parisiense, daqueles d’antan, que dantes, talvez
exibissem todo o seu fascínio dando para ruas com pouco transito, mas que
hoje têm nas montras só cadeirinhas apertadas, amontoadas uma sobre as
outras durante as horas em que há muita afluência de pessoas nos passeios.
Enfim, se não quiseres gastar muito dinheiro, podes optar pelo baixo custo
de une omelete para matar a fome, tendo, no entanto, a preocupação de
escolheres uma dieta mais saudável quando vais estar de volta a casa, para o
bem-estar do teu fígado. Os franceses, apesar de todas as falhas da nouvelle
cuisine (que se pronuncia kɥizin e não kɥzin) conseguem tornar especial
também este plano que é, em tudo e por tudo, uma fritada muito simples.
Recheiam-na com jambon, fromage, oignon (é uma exceção mesmo que o
ditongo oi seja pronunciado ɔɲɔ̃) e assim por diante. Aquela noite, depois
de toda la vadrouille (vadʁuj, vagabundear) do dia anterior, pareceu-me que
a melhor combinação para este prato fosse o chá, um chá de limão.
- Bonsoir mesdames, avez-vous choisi?
- Oui, bien sûr. (J’ai une faim de loup, pensai-je)
- Donc, que désirez-vous?
- Mon amie voudrait une omelette au fromage, et moi, je vais
prendre une omelette au jambon.
- Et que désirez-vous boire?
- Elle prend une bouteille d’eau pétillante, et pour moi, ça sera un
thé au citron, s’il vous plaît.
- D’accord. C’est noté. Je reviens tout de suite.

[bɔ̃swaʁ medam, ave-vu ʃwazi?]


[wi, bjɛ̃ syːʁ. (ʒe yn fɛ̃ dә lu, pɑ̃se-ʒ)]
[dɔ̃ːk, kə deziʁe-vu?]
[mɔ̃n-ami vudʁɛ yn ɔmlɛt o fʁɔmaːʒ, e mwa, ʒə vɛ pʁɑ̃dʁ yn ɔmlɛt o ʒɑ̃bɔ̃]
[e kә deziʁe-vu bwaʁ?]
[ɛl pʁɑ̃ yn butɛj do petijɑ̃ːt, e puʁ mwa, sa sәʁa ɛ̃ tɛ o sitʁɔ̃, sil vu plɛ]
[dakɔːʁ. sɛ nɔte ʒə ʁəvjɛ̃ tu dә sɥit]
(Boa tarde senhoras, já escolheram? Sim, escolhemos. (Tenho uma fome de
lobo, pensei). Bem, o que desejam? A minha amiga queria uma omelette
com queijo e para mim uma omelette com fiambre. E o que desejam para
beber? Para ela uma garrafa de água com gás, para mim é um chá de limão,
se faz favor. Com certeza. Volto já.)
Le garçon (lə ɡaʁsɔ̃, o empregado de mesa), vem completamente ofegante e
compreendo a hâte (at, pressa) por causa do local muito cheio. Voilà! Bon
appétit!, diz-nos, enquanto poisava em cima da mesa uma garrafa de Perrier
(desaconselho vivamente dado o preço astronómico) e uma clássica chaleira
branca com uma bela chávena decorada e uma rodela de limão anexa. E
agora apetece-me abrir uma digressão. A Académie francaise, instituição
suprema de controlo linguístico e lexical – como se, mesmo que esta
academia possa cassar as palavras, estas não fossem usadas igualmente na
língua – ter-me-ia dado que fazer com a justificação deste mal-entendido. O
meu erro, que até hoje persiste bastante envolto no mistério e na
perplexidade, foi de não ter especificado a temperatura desejada para o chá.
Tinha de acrescentar glasé (ɡlase, gelado) ao meu pedido. Pois, estou
convencida que mesmo que o tivesse feito, a mensagem não teria passada,
porque apesar dos esforços para nos fazer entender melhor do que as nossas
possibilidades, por vezes, até os franceses admitem emprunts (ɑ̃pʁɛ̃,
empréstimos) linguísticos. Sem dúvida há traduções esquisitas na esteira do
ordinateur (ɔʁdinatoeʁ, computador). Em suma, tê-lo-iam chamado
simplesmente ice tea, não pronunciado como em inglês, mas tipo aisete.
Assim se explica também o olhar de carneiro mal morto do empregado de
mesa quando, com a sua mãozinha delicada, pousou a chaleira e disse-me
“et voilà”.
E já agora que estamos em contexto culinário e de gloutonnerie (ɡlutɔnʁi,
glutonaria) – com certeza percebeste que são setores muitos queridos para
mim – vou falar-te de um almoço nos Champs Elysées (ʃɑ̃- әlize). A minha
amiga acabava de sair do estágio e eu fui ter com ela durante a pausa do
almoço. Ignorando o facto que ainda fica gravado na memória o nome do
restaurante ao lado (Vesuvio) do qual fugimos como da peste, optámos por
um simples restaurante que tinha uma marquise no exterior, quase no início
do boulevard, na parte do Arc de Triomphe. Pedimos uma salada niçoise,
não bem contextualizada geograficamente em Paris, mas que se adaptava
bem ao tempo daquele dia extremamente abafado.
Há um mundo na niçoise. Talvez não o saibas, mas é como se fosse um pot
pourri de comida, atrever-me-ia a até a acrescentar enogastronómica, de
várias proveniências. As pessoas alérgicas faziam bem a pedirem o que esta
ali dentro, com uma frase simples:
Quels sont les ingrédients de la salade niçoise?
[kɛl sɔ̃ lez- ɛ̃ɡʁedjɑ̃ dә la salad niswaːz?]
(Quais são os ingredientes da salada niçoise?)

Qu’est-ce qu’il y a dans ce plat?


[kɛ-s kil j- a dɑ̃ sə pla?]
(O que está no prato?)
Espero que, chegados a este ponto, tenhas já aberto uma janela no teu
browser favorito e tenhas procurado os ingredientes, estragando assim todo
o suspense que criei. Trata-se de sabores contrastantes e depende muito dos
gostos da pessoa. Achei que a combinação de jambon cru cortado em fatias
de 1 cm, junto aos ovos cozidos, vinagre balsâmico, atum e anchovas em
vinagre; tudo isto temperado com aquele molho enjoativo de alho, era um
bocado, digamos, demasiado. É sabido: o que é de mais aborrece.
Mas não era etsa a questão. É que este prato tinha de ser regado com muita
água. Já tínhamos pedido uma bouteille de um litro e estávamos hesitantes
em pedir outra, dado que o custo era desproporcionado (digo eu, não há
montanhas, fontes na França? Ou, no estrangeiro a água é mais cara do que
a cerveja?). No final decidimos e pedimos outra garrafa de água. E depois,
com ouvido superfino, ouvimos le couple (casal em francês é masculino)
sentado no mesmo ao lado, pedir uma carafe. O que é que será esta carafe?
A fantástica garrafa já estava na nossa mesa avermelhada e já estava suja de
molho de alho. Vemos o empregado de mesa colocar, com grande vigor, um
jarro com água na mesa dos vizinhos. Uma ideia genial levou-me a olhar
para o fundo do menu, e em carateres muito pequenos, estava escrito:
Carafe €1. Maldição!
Isto distingue o turista descuidado do francês metropolitano. Foi um
mistério para mim. Não havia água depurada que se vê hoje em dia nos
restaurantes.
Vejamos agora a parte puramente gramatical que diz respeito às perguntas.
Como deves ter notado pelo diálogo no restaurante, estas são
indispensáveis.
Em francês há, por simplicidade, três maneiras de fazer perguntas. Acima,
referi duas das três modalidades, mais especificamente, para pedires quais
eram os ingredientes da salada niçoise. Agora, vamos analisá-las
separadamente (remeto-te para o capítulo 18 para as outras duas maneiras
de formular perguntas).
Como em português, também em francês existem os advérbios
interrogativos:
Combien [kɔ̃bjɛ̃]
(Quanto)
Combien de [kɔ̃bjɛ̃ də]
(Quanto, quantos, quantas)
Quand [kɑ̃]
(Quando)
Où [u]
(Onde)
Comment [kɔmɑ̃]
(Como)
Pourquoi [puʁkwa]
(Porque)

A diferenca entre combien e combien de reside no facto de o primeiro ser


traduzido simplesmente com “quanto”.
Por exemplo,
Combien est-ce que tu paies?
[kɔ̃bjɛ̃ ɛ-s kəә ty pɛ]
(Quanto pagas?)

O segunda usa-se para acompanhar substantivos:


Combien d’enfants est-ce que tu as?
[kɔ̃bjɛ̃ dɑ̃fɑ̃ ɛ-s kә ty a?]
(Quantos filhos tens?)

Lembra-te que a uma pergunta feita com pourquoi tens de responder com
parce que.
Pourquoi est-ce que tu ne manges pas? – Parce que je n’ai pas faim.
[puʁkwa ɛ-s kә ty nә mɑ̃ʒ pa? – paʁsә kə ʒə ne pa fɛ̃]
(Porque é que não comes? Porque não tenho fome.)
Os segredos revelados neste
capítulo
. Quand tu vas au restaurant, tenta perceber como é que funcionam as
coisas.
. O espírito de conservadorismo linguístico dos franceses aplica-se a uma
quantidade bastante incalculável de palavras e os poucos anglicismos que
chegam aos lábios dos franceses são pronunciados à francesa. Portanto:
. Se viajares para um país francófono convencido de que podes exibir o teu
inglês, entendeste mal. Memento: o meu chá frio.
. A sorte das línguas! Os ingleses têm as wh- words e os franceses
CCQOCP.
. Como “os caminhos do Senhor são infinitos”, também as astúcias dos
franceses são infinitas.
. Macarons et omelettes, le couple parfait!
DIA 8. LES QUESTIONS
As perguntas.
Depois do capítulo anterior que foi principalmente discursivo, dou-te as
boas vindas neste novo começo de episodio com uma digressão puramente
gramatical. Sei que me vais perdoar, mas na aprendizagem das línguas,
como em muitas outras coisas, a meu ver, é necessário ter numa mão o pão
e noutra o pau. A formulação das perguntas com est-ce que é a forma mais
usada na linguagem familiar. Faz parte de um registo baixo e informal.
Acho que é a forma mais simples porque não requer nada mais do que
colocar est-ce que (não significa nada. É intraduzível) antes da frase
afirmativa.
Eis alguns exemplos:
1. J’ai soif. Est-ce que tu as soif?
[ɛ-s kә ty a swaf]
(Tens sede?)
ou Pourquoi est-ce que tu as soif?
[puʁkwa ɛ-s kә ty a swaf]
(Porque é que tens sede?)

2. Il est sorti. Est-ce qu’il est sorti?


[ɛ-s kil ɛ sɔʁti]
(Saiu?)

3. Ils ont acheté des cadeaux. Est-ce qu’ils ont acheté des cadeaux?
[ɛ-s kilz- ɔ̃ aʃte de kado]
(Compraram uns presentes?)
ou Quand est-ce qu’ils ont acheté des cadeaux?
[kɑ̃ ɛ-s kilz- ɔ̃ aʃte de kado]
(Quando é que compraram uns presentes?)

4. Je veux un chien Est-ce que tu veux un chien?


[ɛ-s kә ty vø ɛ̃ ʃjɛ̃]
(Queres um cão?)

5. Pourquoi est-ce qu’il est tombé?


[puʁkwa ɛ-s kil ɛ tɔ̃be]
(porque é que caiu?)

À esta fórmula pode-se acrescentar que e qui, que indicam respetivamente


complemento direto/coisa e sujeito/pessoa. Dou-te uns exemplos para
esclarecer melhor esta parte que requer um pequeno esforço de
compreensão.
N.B.: Os qu’ com apóstrofo são sempre e só que, porque qui não se pode
elidir.
Qu’est-ce que tu veux?
[kɛ-s kə ty vø]
(O que queres?)
– o primeiro que indica que a resposta indicará a coisa e o segundo que que
é um complemento direto. Tu é o sujeito da frase.

Qui est-ce que tu vois?


[ki ɛ-s kә ty vwa]
(Quem vês?)
- o primeiro qui indica que a resposta indicará uma pessoa e o sucessivo que
que é um complemento direto. Tu é sempre o sujeito da frase.
Qu’est-ce qui se passe?
[kә ɛ-s ki sә pas]
(O que se está a passar?)
- o primeiro que indica que a resposta indicará uma coisa e o qui que é o
sujeito.

Qui est-ce qui est arrivé?


[ki ɛ-s ki ɛ aʁive]
(quem chegou?)
– o primeiro qui indica que a resposta indicará uma pessoa e o segundo qui
que é o sujeito.

MAS:
Qu’est-ce qui est arrivé? significa “o que é que aconteceu”.
Se não tiveres ignorado tudo o que disse, espero que não te tenha
aborrecido.
Vou resumir pela última vez a última coisa que expliquei:
O primeiro que / qui diz-te se a resposta à tua pergunta será uma pessoa
(qui) ou uma coisa (que).
O segundo que / qui diz-te se a resposta será o sujeito (qui) ou o
complemento direto (que).
EXERCÍCIO
Agora tenta criar perguntas com est-ce que, com base nas seguintes frases
afirmativas:
1. Je comprends le français. (Compreendo o francês)
2. J’aime aller au cinéma. (Gosto de ir o cinema)
3. Il aime beaucoup voyager. (Ele gosta de viajar)
4. Elle chante dans un groupe de rock. (Ela canta num grupo rock)
5. Ils vont à la plage/Quand. (Vão à praia/ Quando)
6. Nous achetons de la viande/Où. (Compramos a carne/ Onde)
7. Tu dors/Combien. (Dormes/Quando)
8. Tu vas au bureau/Comment. (Vais ao escritório/Como)
Os segredos revelados neste
capítulo
. Como te aconselhei no capítulo 3, tenta lembrar-te perfeitamente da
diferença entre sujeito e complemento direito.
. Como “os caminhos do Senhor são infinitos”, também as regras do francês
são infinitas.
. Agora, tenta entrar no jogo!
. Pensa na incrível diferença de apenas uma letra, entre qui e que. Só um
som altera da cabeça aos pés um conceito.
. Grammaire grammaire, grammaire…
. Qui quo e qua têm um qui pro quo com que e qui. Gostas do trava-língua?
DIA 9. ALLER FAIRE LES
COURSES
(BIZARRES)
Ir às compras (bizarras).
Voltemos ao discurso da carafe do capítulo anterior e agora, por falar em
água, quero recordar esta história com um pouco mais de espanto na minha
alma. Viro a esquina da rue do meu apartamento e entro num Carrefour.
Sabias que Carrefour significa cruzamento? Algumas simples ligações, às
vezes, escapam-nos. Era a hora das compras. É um momento que eu vivo
sempre com grande prazer e relax. Sou esquisita, eu sei. Quando se está
noutra cidade, em contacto com uma língua diferente, e sobretudo, noutro
supermercado as coisas podem mudar. Não falemos em carte de fidélité.
Não a tinha de mondo nenhum. É difícil compreender a razão pela qual, só
por isso, olham para ti com ar esquisito. Senti-me como se alguém estivesse
a apontar-me e a dizer-me num tom depreciativo: “tu és estrangeira”.
Enfim, chego à caixa com seis garrafas d’eau (da famosa marca Volvic que
eu vi sempre, mas da qual nunca tinha compreendido a origem) e coloco-a
no rolo.
Um coro de vozes ergue-se à minha volta.
Madame, l’étiquette!!
[madam, letikɛt!!]
(Senhora, a etiqueta!!)
Viro-me um bocadinho perplexa, tentando perceber qual era a etiqueta de
que estavam a falar.
La plaquette sur la caisse!
[la plakɛt syʁ la kɛs]
(A placa na caxa)
Eh? O que é que eles me estavam a tentar dizer?
Caisse, como em português, pode ter sentidos diferentes e com efeito…
Aproxima-se uma senhora gentil com um ar extremamente bondoso que me
tira as mãos da água e a água da caixa do supermercado e me indica uma
etiqueta que estava sobre da água. Tira-a e entrega-a à caixeira.
Depois acrescenta:
Voilà, c’est fait! Tu sais, il y a de gens qui ne sont pas aussi puissant que toi.
C’est simple: tu décolles l’étiquette et les bouteilles ne sont plus un poids.
[vwala, sɛ fɛ! ty sɛ, il j- a də ʒɑ̃ ki nә sɔ̃ pa osi pɥisɑ̃ kә twa. sɛ sɛ̃pl: ty
dekɔl letikɛt e le butɛj nә sɔ̃ ply ɛ̃ pwa]
(Está feito! Sabe, há pessoas que não são tão fortes como tu. É simples: tira
a etiqueta e as garrafas já não vão ser um peso).
MARAVILHOSO. Fiquei sem palavras. Les Français, vous êtes à la pointe!
(Franceses, vocês estão na vanguarda!).
9.1. Les verbes aller et venir
E por falar em ir às compras, enquanto estava a escrever as perguntas para o
exercício do capítulo anterior, que te servirá para fixares a regra gramatical,
dei-me conta que ainda não tinha explicado dois verbos fundamentais: “ir”
e “vir”.

A conjugação no presente é a seguinte e é irregular:


ALLER [ale] (Ir)
Je vais [ʒә vɛ] (Eu vou)
Tu vas [ty va] (Tu vais)
Il/elle/on va [il/ɛl/ɔ̃ va] (Ele, ela, a gente vai)
Nous allons [nuz- alɔ̃] (Nós vamos)
Vous allez [vuz- ale] (Vocês vão)
Ils/elles vont [il/ɛl vɔ̃] (Eles, elas vão)

Lembra-te que a expressão exortativa “vamos embora” (do inglês let’s go)
normalmente é traduzida em francês “On y va?”

VENIR [vəniʁ] (Vir)


Je viens [ʒә vjɛ̃] (Eu venho)
Tu viens [ty vjɛ̃] (Tu vens)
Il/elle/on vient [il - ɛl - ɔ̃ vjɛ̃] (Ele, ela, a gente vem)
Nous venons [nu vәnɔ̃] (Nós vimos)
Vous venez [vu vәne] (Vocês vão)
Ils/elles viennent [il/ɛl vjɛn] (Eles/elas vêm)

Esses dois verbos também são utilizados para formar galicismos dos quais
vou falar no capítulo 20.

Em relação a aller faire les courses, visto que a expressão inclui também
este verbo, reporto-te a conjugação do verbo faire (fazer) que é irregular.

FAIRE [fɛʁ] (Fazer)


Je fais [ʒə fɛ] (Eu faço)
Tu fais [ty fɛ] (Tu fazes)
Il/elle/on fait [il/ɛl/ɔ̃ fɛ] (Ele/ela, a gente faz)
Nous faisons [nu fәzɔ̃] (Nós fazemos)
Vous faites [vu fɛt] (Vocês fazem)
Ils/elles font [il/ɛl fɔ̃] (Eles/elas fazem)

O verbo fazer, tal como em português, usa-se numa infinidade de


expressões.
Mostro-te aquelas que, a meu ver, são as mais originais e que retirei do
eminente Boch:

- Tu t’en fais donc pas pour lui!


[ty tɑ̃ fɛ dɔ̃k pa puʁ lɥi]
(Não te rales por ele!)
- Ce n’est ni fait ni à faire
[sә nɛ ni fɛ ni a fɛʁ]
(Depressa e bem, há pouco quem)
- Ça fait encore loin?
[sa fɛ ɑ̃kɔʁ lwɛ̃]
(Ainda está longe?)

- Ne faire ni une ni deux


[nә fɛʁ ni yn ni dø]
(Não estar com meias medidas)

- Rien n’y fait


[ʁjɛ̃ ni fɛ]
(Não há nada a fazer)
- Faire les poches
[fɛʁ le pɔʃ]
(Procurar nos bolsos)

- Faire la noce, faire la bombe


[fɛʁ la nɔs, fɛʁ la bɔ̃b]
(Fazer uma farra)

- Faire la grasse matinée


[fɛʁ la ɡʁas matine]
(Levantar-se tarde)

- Faire un enfant dans le dos


[fɛʁ ɛ̃n ɑ̃fɑ̃ dɑ lә do]
(Enganar alguém)

- Faire une montagne


[fɛʁ yn mɔ̃taɲ]
(Fazer uma tempestade num copo de água)

- Faire la tête
[fɛʁ la tɛt]
(Amuar)
Os segredos revelados neste
capítulo
. Aller faire les courses não é simples. Vou utilizar esta afirmação no
capítulo seguinte.
. A palavra caisse tem 4 significados (caixa em todos os sentidos, carro e
escota) e é uma palavra pouco ambígua em comparação com…
. Faire que, no site do Trésor de la Langue Francaise, inclui CENTO E
SESSENTA E OITO definições.
. Se ainda não entenderes o que te estou a escrever em francês, ne fais pas
la tête!

. Repitamos o conceito: Como “os caminhos do Senhor são infinitos”,


também as astúcias dos franceses são infinitas.

. Tendo em conta as minhas experiências com a água, três perguntas surgem


espontaneamente: porque na França não bebem água engarrafada? Porque
na França vendem a água “Panna”? E porque a única “água”, vendida a um
preço aceitável é aromatisée com framboesa ou ananás?
DIA 10. AUX FOURNEAUX
(PARTE 1)
Na cozinha.

Eis a minha colega de quarto parisiense de volta de uma das suas


journée fatigante au bureau (ʒuʁne fatiɡɑ̃t o byʁo, dia cansativo no
escritório). O pacto implícito de convivência era que, noites sim e
noites não, tínhamos de cozinhar e lavar a louça. Isto aplicava-se na
França, mas creio que se aplica como regra comum de boa
convivência também em Portugal. MAS… depois de um infeliz
incidente doméstico devido a uma pequena desatenção, pela qual
liguei a lave-vaisselle (lavvɛsɛl, máquina de lavar a loiça) sem
colocar as pastilhas), assustada com o caso acima referido eu tinha
despoticamente optado por cozinhar todas as noites o no máximo
faire la vaisselle (fɛʁ la vɛsɛl, lavar a loiça) à mão.
Naquela noite, a minha colega de quarto, que era suposto sair para uma
comissão, propõe-me de preparar frango ao curry:

Donc, il te faut de l’oignon, une carotte, des blancs de poulet.


Il faut du curry en poudre, sel, poivre, un verre de vin blanc.
Enfin, il faut de la crème fraîche allégée.

[dɔ̃ːk, il tə fo dә lɔɲɔ̃, yn kaʁɔt, de blɑ̃ dә pulɛ. il fo dy kyʁi ɑ̃ pudʁ, sɛl,


pwavʁ, ɛ̃ vɛʁ dә vɛ̃ blɑ̃. ɑ̃fɛ̃, il fo ə la kʁɛm fʁɛʃ aleʒe]

(Portanto, é preciso cebola, cenoura e peito de frango. É preciso também


caril em pó, sal, pimenta, um copo de vinho branco. Finalmente, precisa-se
do “crème fraîche light”).

Bem, acho que dans le réfrigérateur (ʁefʁiʒeʁatoeʁ, frigorífico) há tudo.


Mas, estava errada e ainda não sabia.
No limiar da porta, pergunto à minha companha de desventuras culinárias
para me escrever gentilmente a receita. Ela toma nota numa post-it
desbotado.
Donc, tu vas éplucher l’oignon et le couper en petits morceaux. Tu mets une
poêle à chauffer avec de l’huile. Tu fais revenir l’oignon à feu très vif et,
entretemps,
tu coupes la carotte en dés. Tu dois émincer les blancs de poulet en
lamelles.
Ajoute la carotte et le poulet en arrosant d’un verre de vin blanc. Enfin,
on ajoute le curry et deux cuillères à soupe de crème fraîche.
Remue le tout et le voilà, ton poulet au curry.
Si tu veux, on peut l’accompagner du riz.

[dɔ̃ːk, ty va eplyʃe lɔɲɔ̃ e lə kupe ɑ̃ pәti mɔʁso. ty mɛ yn pwal a ʃofe avɛk


də lɥil. ty fɛ ʁәvәniʁ lɔɲɔ̃ a fø tʁɛ vif e, ɑ̃tʁətɑ̃, ty kup la kaʁɔt ɑ̃ de. ty dwa
emɛ̃se le blɑ̃ dә pulɛ ɑ̃ lamɛl. aʒut la kaʁɔt e lә pulɛ ɑ̃n-aʁozɑ̃ dɛ̃ vɛʁ dә vɛ̃
blɑ̃. ɑ̃fɛ̃, ɔ̃n- aʒut lә kyʁi e dø kɥijɛʁ a sup dә kʁɛm fʁɛʃ. ʁәmɥ lә tu e lә
vwala, tɔ̃ pulɛ o kyʁi. si ty vø, ɔ̃ pø lakɔ̃paɲe dy ʁi]

(Então, descasca a cebola e cortá-la em pequenos pedaços. Coloca no fogão


uma frigideira com um pouco óleo. Deixa a cebola murchar numa chama
alta e, entretanto, corta a cenoura em cubos. É preciso picares os peitos de
frango. Acrescenta a cenoura e o frango e deita um copo de vinho branco.
No final, acrescenta-se o curry e dois colheres de crème fraîche. Mistura
tudo e o frango ao curry está feito. Se quiseres, podemos acompanhá-lo
com um pouco de arroz.)

Muito bem, vamos lá. Concha numa mão e couteau (kuto, faca) na outra.
Vou seguir as instruções. Ao abrir o frigorifico, todo o deserto do Sahara sai
dos compartimentos e lembra-me que, talvez, na divisão das tarefas
domésticas não houvesse ninguém encarregado de ir às compras. Assim,
com pouca vontade, tiro o tablier (tablije, avental) e visto o casaco. Estava
pronta para outra aventura!
Mas antes de contar o resto da história, gostaria de te explicar duas coisas
de gramática que apareceram nas conversações mencionadas acima.
Primeiro é il faut.
Esta expressão impessoal deriva do verbo falloir e é usada para traduzir “é
necessário”, “é preciso”, “convém”. É invariável. Por isso, é usada com
substantivos quer no singular, quer no plural.
Por exemplo:

1. Il faut des oeufs pour faire une omelette.


[il fo dez-ø puʁ fɛʁ yn ɔmlɛt]
(Precisa-se de dois ovos para fazer uma omeleta.)

2. Il faut le permis de conduire pour rouler en voiture.


[il fo lə pɛʁmi də kɔ̃dɥiʁ puʁ ʁule ɑ̃ vwatyʁ]
(É preciso a carta de condução para conduzir o carro.)
A expressão il faut pode ser usada também com verbos.

3. Il faut être chanceux afin de se débrouiller.


[il fo ɛtʁә ʃɑ̃sø afɛ̃ də sə debʁuje]
(É preciso ter sorte para se safar.)

4. Il faut que tu parles plus fort.


[il fo kə ty paʁl ply fɔʁ]
(É necessário que fales mais alto.)
Tem em conta que, como em português, quando a expressão é seguida por
uma frase (como no último exemplo), a mesma terá o verbo no conjuntivo.

Il faut está no presente. Pode ser usado também noutros tempos verbais,
mas sempre e só, na terceira pessoa.

Os tempos mais comuns são:


- o futuro: il faudra [il fodʁa], será preciso
- o condicional: il faudrait [il fodʁɛ], seria preciso
- o passé composé (preterito perfeito simples): il a fallu [il a faly], foi
preciso.

Em suma as construções possíveis são:


Il faut + substantivo (exemplos 1 e 2)
Il faut + verbo no infinitivo (exemplo 3)
Il faut + que + conjuntivo (exemplo 4)
Os segredos revelados neste
capítulo
. Para poderes cozinhar, Bien sûr, il faut les ingrédients.

. Pour manger, il faut une fourchette et un couteau, (Para comeres


servem garfo e faca).

. Se as tarefas domésticas forem três, assegura-te que haja três


pessoas disponíveis.

. Se tu, como eu, não souberes ligar a lava-louça, não te ofereças


sempre para cozinhares.
. Não peças conselhos sobre a receita à tua colega de quarto, mas
choisit toi-même!
. Se tu também fores um pouco como eu, dans la vie il faut avoir de la
chance (na vida, é preciso sorte).
DIA 11. AUX FORNEAUX
(PARTE II)
Na cozinha.

O segundo tema que encontrámos no capítulo anterior, escondido entre as


indicações culinárias da minha colega de quarto, é o tempo presente dos
verbos do primeiro grupo (que terminam em – ER).
No primeiro capítulo disse que a pronuncia das desinências dos verbos do
primeiro grupo (- ER) não muda. Esse é o maior grupo dos verbos em
francês. Vejamos qual é a raiz e quais são as desinências da declinação, e
como se pronunciam.

Tomemos como exemplo o verbo parler (falar).

PARLER [paʁle] (Falar)


Je parle [ʒə paʁl] (Eu falo)
Tu parles [ty paʁl] (Tu fales)
Il/elle/on parle [il/ɛl/ɔ̃ paʁl] (Ele/ela/ a gente fala)
Nous parlons [nu paʁlɔ̃] (Nós falamos)
Vous parlez [vu paʁle] (Vocês falam)
Ils/Elles parlent [il/ɛl paʁl] (Eles/Elas falam)

Voltemos a salientar que a pronúncia das primeiras três pessoas singulares e


da última pessoa plural são idênticas. Não é por acaso que a língua francesa
falada é bastante difícil de entender. Por vezes, é necessário prestar atenção
a cada elemento da frase para perceber se o sujeito é singular ou plural. No
primeiro grupo existem muitas exceções ortográficas. Vamos dividi-las em
três subcategorias que estão representados, digamos, pelos seguintes
verbos: appeler, manger/commencer, payer.

APPELER [aple] (Chamar)


J'appelle [ʒapɛl] (Eu chamo)
Tu appelles [ty apɛl] (Tu chamas)
Il/elle/on appelle [i/ɛl/ɔ̃n-apɛl] (Ele/ela a gente chama)
Nous appelons [nu aplɔ̃] Nós chamamos)
Vous appelez [vu aple] (Vocês chamam)
Ils/elles appellent [ilz/ɛlz- apɛl] (Eles/elas chamam)

Os verbos que terminam em -eler o -eter, o l ou o t duplicam na 1ª, 2ª, e 3ª


pessoa do singular e na 3ª pessoa do plural.

A segunda subcategoria é a dos verbos que terminam em -ger e -cer. Esses


verbos por razões fonéticas devem mudar a grafia na primeira pessoa do
plural. No que respeita aos verbos como manger, acrescenta-se uma e em
frente da desinência -ons para tornar o som do g suave. Eis a conjugação:

MANGER [mɑ̃ʒe] (Comer)


Je mange [ʒə mɑ̃ʒ] (Eu como)
Tu mange [ty mɑ̃ʒ] (Tu comes)
Il/elle/on mange [il/ɛl/ ɔ̃ mɑ̃ʒ] (Ele/ela/a gente come)
Nous mangeons [nu mɑ̃ʒɔ̃] (Nós comemos)
Vous mangez [vu mɑ̃ʒe] (Vocês comem)
Ils/elles mangent [il/ ɛl mɑ̃ʒ] (Eles/elas comem)
Os verbos que terminam em -cer, como commencer, acrescentam a cédille à
primeira pessoa do plural para tornar o c suave. Caso contrário, a pronúncia
do verbo seria [nukomenkon].

COMMENCER [kɔmɑ̃se] (Começar)


Je commence [ʒə kɔmɑ̃s] (Eu começo)
Tu commences [ty kɔmɑ̃s] (Tu comeces)
Il/elle/on commence [il/ɛl/ɔ̃ kɔmɑ̃s] (Ele/ela
a gente começa)
Nous commençons [nu kɔmɑ̃sɔ̃] (Nós começamos)
Vous commencez [vu kɔmɑ̃se] (Vocês começam)
Ils/elles commencent [il - ɛl kɔmɑ̃s] (Eles/elas começam)
A última categoria dos verbos é a dos verbos em -ayer, -oyer, -uyer.
Digamos que não tens de te preocupar com os verbos em -ayer, porque a
modificação é facultativa. Mas para os outros dois grupos, a transformação
da y em i, é obrigatória.

Tomemos como exemplo o verbo envoyer.

ENVOYER [ɑ̃vwaje] (Enviar)


J’envoie [ʒɑ̃vwa] (Eu envio)
Tu envoies [ty ɑ̃vwa] (Tu envias)
Il/elle/on envoie [ilz/ɛlz/ɔ̃n- ɑ̃vwa] (Ele/ela
a gente envia)
Nous envoyons [nuz-ɑ̃vwajɔ̃] (Nós enviamos)
Vous envoyez [vuz-ɑ̃vwaje] (Vocês enviam)
Ils/Elles envoient [ilz/ɛlz-ɑ̃vwa] (Eles/elas enviam)

Como deves ter notado, a modificação tem lugar em todas as pessoas,


exceto na 1ª e na 2ª plural, tal como na primeira subcategoria de que te
falei. Já que estamos a falar de verbos no presente, reporto-te também a
declinação dos verbos que terminam em -IR.

FINIR [finiːʁ] (Acabar)


Je finis [ʒə fini] (Eu acabo)
Tu finis [ty fini] (Tu acabas)
Il/elle/on finit [il/ɛl/ɔ̃ fini] (Ele/ela/a gente acaba)
Nous finissons [nu finisɔ̃] (Nós acabamos)
Vous finissez [vu finise] (Vocês acabam)
Ils/elles finissent [il/ɛl finis] (Eles/elas acabam)

No diálogo, vimos também a utilização de alguns verbos que têm uma


conjugação própria. De facto, quase todos são irregulares. Vejamos, por
exemplo, poder (pouvoir), querer (vouloir), dever (devoir). São verbos que
vais usar muitas vezes. Tenta lembrá-los bem!

POUVOIR [puvwaʁ] (Poder)


Je peux [ʒə pø] (Eu posso)
Tu peux [ty pø] (Tu podes)
Il/elle/on peut [il/ɛl/ɔ̃ pø] (Ele/ela/ a gente pode)
Nous pouvons [nu puvɔ̃] (Nós podemos)
Vous pouvez [vu puve] (Vocês podem)
Ils/elles peuvent [il/ɛl poev] (Eles/elas podem)

VOULOIR [vulwaʁ] (Queres)


Je veux [ʒә vø] (Eu quero)
Tu veux [ty vø] (Tu queres)
Il/elle/on veut [il - ɛl - ɔ̃ vø] (Ele/ela a gente quer)
Nous voulons [nu vulɔ̃] (Nós queremos)
Vous voulez [vu vule] (Vocês querem)
Ils/elles veulent [il/ɛl voel] (Eles/elas querem)

DEVOIR [dəvwaʁ] (Dever)


Je dois [ʒə dwa] (Eu devo)
Tu dois [ty dwa] (Tu deves)
Il/elle/on doit [il/ɛl/ɔ̃ dwa] (Ele/ela/a gente deve)
Nous devons [nu dәvɔ̃] (Nós devemos)
Vous devez [vu dәve] (Vocês devem)
Ils/elles doivent [il/ɛl dwav] (Eles/ elas devem)

Saiba que, enquanto tu estavas a declamar em voz alta todas as


conjugações, eu preparava o frango.
Bon appétit!
EXERCÍCIO
Para teres a certeza de teres aprendido esta parte e para a gravares bem no
teu tecido nervoso, tenta completar o seguinte exercício:

1. Michelle et moi ______ à la corde à sauter. (jouer)


2. Tu n' _______ pas de pleurer. (arrêter)
3. Elle _____ le café au lait le matin. (aimer)
4. Nous _____ à faire du sport. (commencer)
5. Les enfants _____ des bonbons. (manger)
6. Les examinateurs ________ les étudiants un à un. (interroger)
7. Je _____ que tu sortes le chien chaque soir. (vouloir)
8. Nous _______ nous rencontrer dans la salle des fêtes. (pouvoir)
9. Vous ______ terminer ce travail avant de sortir. (devoir)
10.______ -vous des légumes et des fruits? (vouloir)
Os segredos revelados neste
capítulo
. Se tu dois cozinhar, assegura-te de pouvoir le faire.

. Se commencer à manger naquela noite foi uma ilusão, pelo menos agora
sabemos como se escrevem.

. Parler c’est simple! E essa é a base.


. Não significa, como este evento nos ensina, que se nous commençons,
nous finissons.
. Quand on veut, on peut. Em alternativa, como se costuma dizer, vouloir
c’est pouvoir.

. Se a tua colega de quarto ainda estiver furiosa, tu peux appeler au secours


(podes pedir ajuda)!
DIA 12. Supermarché, bonjour à
toi (à nouveau)
Supermercado, bom dia (novamente).

Das minhas mémoires parisiennes guardo uma recordação um pouco


desfocada. Como todas as coisas que entram na nossa mente e que depois se
tornam lembranças, assim as lembranças transformam-se em volutas de
fumo evanescente de que, talvez, retemos apenas sensações ou contornos.
No entanto, das minhas aventuras lembro-me muito bem disto: o tempo
todo que passei no supermercado.
Estava na porta do apartamento pronta para correr para conseguir pôr os pés
no supermercado, pelo menos 5 minutos antes de horário de encerramento.
Vamos lá!
Abro a porta. Desço as escadas. Uma mão sobre o corrimão para fazer a
curva com mais velocidade. Abro o portão. O interruptor não funciona.
Abro a mala, procuro as chaves, abro o portão. Ok, estou fora.
Temps écoulé: 40 secondes (tɑ̃ ekule: kaʁɑ̃t sәɡɔ̃d, tempo gasto: 40
segundos). A palavra “segundo” assim como “minuto” (minute, minuto) são
palavras femininas.

Viro à droite, no caminho cheio de transeuntes volumosos com sacos


volumosos esquivo um par de vélo estacionadas sur le trottoir (syʁ lә
tʁɔtwaʁ, no passeio). Tropeço num pé, agarro uma mão, digo umas, duas
vezes: “Pardonnez-moi”, “Pardon, je suis pressée!” (paʁdɔ̃, ʒә sɥi pʁese,
desculpe, estou com pressa). É tudo um refrão de pardon et excusez-moi e
empurrões e, ao mesmo tempo, pensava na cara furiosa da minha colega de
quarto porque não preparei o jantar a tempo. Finalmente, chego à frente das
portas que me pareciam as portas do Paraíso, sinónimo de salvação eterna
depois daquela course à perdre haleine (kuʁs a pɛʁdʁ alɛn, correr até
perder o fôlego).
Agora podemos desacelerar? Dirijo-me para a entrada obrigatória à direita.
Passo pela “massa enlatada” e não queria parar por causa de uma certa
repulsa só de pensar naquilo. Entro na secção mais orgânica, a dos legumes.
Mas, seguimos em frente. Estou na secção da charcuterie (ʃaʁkytʁi,
charcutaria). Tem só barquetes (baʁkɛt, recipientes) embalados em vácuo
dos quais já descrevi aspeto e preço. É incrível como as palavras criam
ligações mentais abstrusos que, por vezes, me fazem rebentar a rir. Não
estás a pensar, tu também, num barquinho simpático ondulando sobre as
águas – para ser sincera, um pouco turvas e que conservam muito pouco da
primitiva aura bucólica – coberto com fatias de presunto? Como o famoso,
ou melhor, famigerado vestido que Lady Gaga usou em ocasião dos vídeos
da MTV Video Music Awards 2010… Bioarquitetos e construtores de todo
o mundo, fiquem atentos porque isso pode ser o futuro!
Voltando ao nosso querido francês, sem divagar muito em disciplinas que
não são do meu domínio, gostava de abrir um parêntese imaginaria sobre as
preposições de lugar. Estás a perguntar-te porquê? É simples.

São essentielles, para mim, bien sûr. Porque eu poderia viver dans un
supermarché, mas a maioria das vezes corro jusqu’ausupermarché, e
depois vou comprar o pão chez le boucher, e la crème fraîche chez le
lattier. Pondo de lado o facto de a crème fraîche ser um problema
cultural, quando a minha mente ponderou este pensamento,
percebeu que tout à coup (tutaku, de repente) o assunto estava
inclinado para as preposições.

Portanto, reporto-te uma lista - que claramente não é exaustiva - das


principais preposições de lugar em francês.

Sur (sobre, em cima de) Le papier est sur la table

Sous (debaixo de) Le chat est sous la chaise


Jusqu’à (até) Je cours jusqu’au supermarché
En/dans (em/dentro de) Nous sommes en avion
Nous sommes dans le palace
Entre/parmi (entre) Le chien est assis entre maman
et moi
Il y a un chirurgien parmi nous
Chez (em casa/na casa de) Je rentre chez moi
Je suis chez le coiffeur
Vers (para) Il marche vers Versailles
À côté de (ao lado de) Il est debout à côté de la
voiture.

en face de (em frente de) Il habite en face de mes parents.


par (por) Je regarde par la fenêtre.
près de (perto de) Je travaille près de l’hôpital.
hors de (fora de) Il habite hors de la ville.
derrière (atrás de) Le chien est derrière la porte.
devant (em frente de) Paul est devant l’armoire.

Repara na diferença entre entre e parmi. Parmi é usado para isolar


um elemento do grupo, enquanto entre indica o espaço entre duas
pessoas ou duas coisas. Serve para assinalar uma relação de
reciprocidade.
EXERCÍCIO
Agora é a tua vez!
1. Demain, je vais ______ le coiffeur, j’en ai besoin.
2. David, veux-tu venir ________ marché avec moi?
3. L'enfant est ____________ le tapis.
4. La salade est ____________ le saladier.
5. Ils sont _____________ la palissade.
6. Ne te cache pas ___________ton frère.
7. Si tu passes ______ les champs, tu vas salir tes chaussures!
8. Vous pourrez aller jouer ______ le jardin.
9. Je te conseille de ne pas passer _____ cette rue.
10. Il roule _______ l’Espagne.
Os segredos revelados neste
capítulo
. O supermercado é o teu melhor amigo. Não só te fornece os meios
de subsistência, mas é também uma excelente solução para
aumentar o teu vocabulário. Não te esqueças de ler as étiquettes.

. Lembra-te também de respeitar sempre a étiquette francaise.


. Informação de serviço: fica descansado, os famosos bateaux
mouche não são feitos de charcuterie.
. Se alguém te disser «Viens chez moi!» [vjɛ̃ ʃemwa], não está a
dizer-te que és “burra”, mas está a convidar-te para ir à casa dele.
DIA 13. FLÂNER À PARIS
(PARTE I)
Vagabundeando por Paris.

Entre as várias preposições do capítulo anterior, deves ter reparado (por


exemplo na terceira frase) que a preposição jusqu’à tornou-se, depois,
jusqu’au. Trata-se de uma preposição contraída.
Mas, por falar nisso, vou contar-te o que me aconteceu um dia às três da
tarde na paragem métropolitaine de Les Halles. Para os meus ouvidos é um
nome famoso porque é o nome do local de nascimento de Queneau, que já
te mencionei diversas vezes.
Ouvem-se muitos boatos acerca da pronúncia desta paragem.
Há quem faça a liaison, obtendo assim um som como [lez-al].
e há quem, como os parisienses, não a faça obtendo assim [le al]. E depois
há os estrageiros que pronunciam [lesalles].

A verdade sobre esta palavra muito simples que indica o mercado geral de
Paris, localizado no I arrondissement é que, em francês, existem dois tipos
de agá. Já me referi, ao longo dos capítulos, ao agá mudo.
Antes de falar das preposições contraídas, terei de te explicar primeiro o
artigo.

L’H MUET OU ASPIRÉ


O agá é um tema um pouco difícil em todas as línguas. É uma presença
constante, visível, mas nem sempre percetível.
O agá em português não é pronunciado e, portanto, é como se fosse um
“nada”. Há línguas, como o inglês que o aspiram, mas outras como o
francês que não o aspiram. Em termo de fonação não há diferença
nenhuma, mas o agá existe e distingue-se em dois tipos. Essa distinção vai
ser propedêutica para a compreensão do capítulo sucessivo.
O que se costuma chamar agá “aspirado” impede a liaison e a elisão. Pelo
contrário, com o agá “mudo” faz-se a elisão e por isso, aparecerão um
apostrofo e a liaison.
Dou-te alguns exemplos:

H ASPIRÉ
la haine [la ɛn] o ódio (repara que em francês
é feminino)
le haricot [lә aʁiko] o feijão
le hasard [lə azaʁ] o caso, a sorte
le hérisson [lə eʁisɔ̃] o ouriço-do-mar
le héros [lə eʁo] o herói
le hibou [lə ibu] o mocho
le hors-d'oeuvre [lә ɔʁsdoevʁ] o aperitivo

H MUET
l'hirondelle [liʁɔ̃dɛl] a andorinha
l'habitude [labityd] o hábito
l'hilarité [lilaʁite] a hilaridade
l'hiver [livɛʁ] o inverno
l'histoire [listwaʁ] a história
l'horreur [lɔʁoeʁ] o horror
(em francês é feminino)
l'harmonie [laʁmɔni] a harmonia
Os segredos revelados neste
capítulo
. O agá, quer aspirado, quer mudo, é foneticamente mudo.

. Como se isso não fosse suficiente, em francês o agá é masculino.


. Independentemente da pronúncia, Les Halles fica sempre no I
arrondissement, bairro de Les Halles, linha 4 do metro, paragem Les
Halles. Não podes enganar-te.

. Em francês o agá é muito difundido porque vai formar alguns grupos


consoantes como ch [pronunciado ʃ]
ou ph [pronunciado f].

. Os exaltados da língua francesa divertem-se com jogos fonéticos. Por


exemplo, o lipograma sternocléido-
occipito-mastoïdien (esternoclidomastóideo) é uma palavra de 30 letras que
não contem nenhum agá. Phosphohedyphane contem 4 vezes o agá.
DIA 14. FLÂNFER À PARIS
(PARTE II)
(Vagabundeando por Paris)

Quando fizeres o itinerário para o voyage na França – estou a falar de Paris


porque, a meu ver, é o emblema da “francesidade” – durante a tua pesquisa
vais encontrar os monumentos mais famosos, as atrações mais populares e
vais tomar nota:

Dia 1: La Tour Eiffel, l’Hôtel de Ville, l’Opéra…


Dia 2: Le Moulin Rouge, la Conciergerie, la Place des
Vosges…
Dia 3: Le Louvre, le Musée d’Orsay, le quartier latin…

E assim por diante.


Como podes ver todas essas atrações são seguidas por um artigo. Antes de
te explicar os artigos, vou dar-te algumas informações turísticas sobre usos
e costumes.
-Há algum tempo estava a ler um guia sobre o que fazer e o que não fazer
em Paris e li uma sacrossanta verdade: não começar uma conversão falando
inglês. Vou contar-te a minha tragicómica experiência no capítulo 26.

-O metro funciona como em Portugal e tem regras. Podemos chamá-las


normas implicitamente fixadas. Nas escadas roulantes, mantém- se a droite
e deixa-se sortir antes de entrar na carruagem.

-A Tour Eiffel, símbolo universalmente reconhecido e invejado pelos


estrangeiros, foi construída em ocasião da Expo de 1889. Na internet, sobre
a quantidade de degraus há muita titubeação: fala-se de um número entre
1665 e 1792. Nunca os contei. É cansativo, realmente cansativo. Existem os
elevadores que, pelos vistos, percorrem uma distância de cem mil
quilómetros. Se sofreres de vertigens, sugiro-te que a admires de longe e de
baixo.

-Se fores ver o Arc de Triomphe, vai de metro. O cruzamento perto do arco
é a pior construção urbanística da história: um conjunto de acidentes e
investimentos.

-Para visitares os museus eu, pessoalmente, não iria no primeiro domingo


do mês. Como bem sabes, muitos museus na Europa têm entrada gratuita
nesse dia.
Quanto ao Louvre, se optares por fazer um fim de semana longo até terça-
feira, não saias na paragem Palais Royal (linha 1 e 7) com a intenção de
visitar o museu. Não vais encontrar muita gente porque, claramente, está
fechado.
14.1. Les Articles
Os artigos podem ser divididos em três categorias:

- Definidos (définis), usam-se para falar de coisas ou pessoas já


anteriormente mencionadas, facilmente identificáveis ou para designar uma
categoria geral;
- Indefinidos (indéfinis) indicam coisas ou pessoas que não se podem
identificar facilmente ou que são intencionalmente vagas;

- Partitivos (partitifs), são utilizados com nomes que não se podem


quantificar ou com coisas abstratas.

Os articles définis são:


Le/l’ [lə] o antes de substantivos masculinos
singulares.
Exemplo
Le père [lə pɛʁo o pai
Le héro [lə eʁo] o herói
L’hameçon [lamsɔ̃] o anzol
L’avion [lavjɔ̃] o avião
La/l’ [la] a antes de substantivos femininos
plurais.
Exemplo
la mère [la mɛʁ] a mãe
La hauteur [la otoeʁ] a altura
L’herbe [lɛʁb] a erva
L’entrée [lɑ̃tʁe] a entrada

Les [le] os/as antes substantivos masculinos


e femininos plurais.

Exemplo
Les parents [le paʁɑ̃] os pais
Les hublots [le yblo] as vigias
Les harmonies [lez- aʁmɔni] as harmonias
Les étudiants [lez- etydjɑ̃] os estudantes

Repara na diferença de pronúncia de le (masculino singular) e des (plural):


o e quando não tem acento tem uma pronúncia fechada ao contrário de les
que tem uma pronúncia mais aberta. Relativamente à elisão vê o que disse
no capítulo anterior sobre o agá.

Os articles indefinis são:

Un [ɛ̃] um antes de substantivos masculinos


singulares.
Exemplo
Un verre [ɛ̃ vɛʁ] um copo
Un homme [ɛ̃n- ɔm] um homem
Une [yn] uma antes de substantivos femininos
singulares.
Exemplo
Une femme [yn fam] uma mulher
Une tasse [yn tas] uma chávena

Des [de] uns/umas antes de substantivos masculinos


e femininos plurais.

Exemplo
Des livres [de livʁ] uns libros
Des élèves [dez- elɛv] uns alunos
Des huguenots [de yɡno] uns huguenotes
Des hologrammes [dez- ɔlɔɡʁam] uns hologramas

Repara na diferença de pronuncia de un e une. O primeiro som é nasalizado


e, portanto, parecerá quase a pronuncia de a. Quanto ao segundo som,
aperta os lábios como se quisesses dar um beijo, resmunga um bocadinho e
tenta a pronunciar u. Este som muito fechado é o que corresponde à vogal
francesa u.
Repara também nas diferenças de pronúncia do artigo masculino singular
de e da forma plural des. Vê a distinção entre le e les. A diferença é a
mesma.

Os articles partitifs são:


Du/de l’ [dy] antes de substantivos masculinos

Exemplo
Du café [dy kafe] um pouco café

De l'ail [dә l’aj] um pouco de alho

De la/de l’ [də la] della antes de substantivos femininos


singulares.

Exemplo
De la salade [də la salad] um pouco de salada
De l’orangeade [də lɔʁɑ̃ʒad] um pouco de laranjada

Des [de] antes de substantivos masculinos


e femininos plurais.

Exemplo
Des pâtes [de pat] um pouco de massa
Os segredos revelados neste
capítulo
. Se sofreres de vertigens e tiveres dificuldades em respirar, esquece a Tour
Eiffel.
. Se sofreres de ansiedade antecipada, esquece o Arc de Triomphe.

. Se sofres de demofobia, não vás ao museu no primeiro domingo do mês.


. Tem cuidado para não confundir o artigo indefinido plural com o partitivo!

. Mais uma vez, lembra-te que em português e em francês muitos


substantivos mudam de género. Vais ter de escolher o artigo correto.

. Treina os músculos faciais para pronunciares os sons franceses. Gargareja


para gravares a pronuncia correta dos artigos.
DIA 15. L’ESPRIT DU CAMPING
O espírito do acampamento.

Vamos por uns instantes para outras landas. Nas minhas memórias da
França aparecem outras tapas que não são parisienses. Durante um verão,
dei um passeio na Côte d’Azur. Uma breve visita por Nice fez-me descobrir
milhares de mercados nas ruelas estreitas da cidade que fazem lembrar os
caruggi de Genova. Se te afastares cerca de trinta quilómetros, vais
encontrar outras vilas com uma vocação ultra turística que, no entanto,
mantêm uma aparência selvática.

Ainda me lembro com prazer da experiência a bordo de dois jipes


escangalhados e compridos nos bancos de trás (até parecíamos caixotes)
com provisões que davam para um exército e com contentores que nem
sequer uma mudança de casa teria exigido. Estávamos a transportar
principalmente massa e água por medo de não a encontrarmos nos
supermercados de Antibes e de Juan-les-Pins e, caso estivesse presente, a
nossa sagacidade de jovens desprovidos previa custos exorbitantes. Logo
que passámos o limiar de Antibes, fomos à procura de um camping.
Já tínhamos uma experiência de campeurs (kɑ̃poeʁ, campistas) na Toscana,
durante a qual, sem corrente nem fogão elétrico e inclusive sem cadeiras,
fomos obrigadas a comer conservas sentadas no porta-bagagens do carro.
Aqui, na Costa Azul, os parques de campismo são superluxuosos de 5
étoiles (etwal, estrelas) e as portas das casas de banhos até fecham!
Bem, agora, não quero estar a generalizar. Na verdade, no parque de
campismo que escolhemos, que aliás foi o último que restou com dois
espaços suficientes grandes para colocarmos todos os gadgets de escuteiros
de alguns amigos meus, correu tudo bem.

Seja como for, não me perguntes como é que acabei por ficar envolvida
numas férias desse tipo (com todo os respeito por quem adora o campismo).
Sempre preferi planear ferias que se possam considerar tais. Não me
debruçarei sobre as vantagens e desvantagens de acampar, de ficar num
apartamento ou num hotel – é sabido que as mulheres são um pouco
exigentes – mas, no final, foi uma experiência realmente emocionante.

Enfim, um dia fomos fazer uma fogueira/ churrasco/ tentativa de incêndio.


Um churrasco na praia, o clássico mergulho da meia-noite tendo ainda as
costeletas no estomago (Durante os churrascos é preciso calcular o tempo).
Enquanto a carne chamuscava no fogo, aproximou-se um homem. Um
pouco assustados e com medo que fosse um polícia começamos a ficar
alerta. Não. Era um homem belo, robusto, que nos cumprimenta com um
sotaque estranho.

Salut! Je m’appelle James.


Salut!,
(respondemos todos juntos)

Puis-je vous aider?


[saly! ʒə mapɛl ʒam]
[saly!]
[pɥi-ʒ vuz- ede?]
(Olá! Chamo-me James)
(Olá!)
(Posso ajudar-vos?)
De facto, notava-se que os nossos fogueiros não eram competentes. Faz
uma cauda com os seus rastas enquanto se vira para olhar a figura de uma
mulher que avança com passos inseguros. James domina a situação e
reacende o fogo que os fogueiros estavam a sufocar de todas as formas
possíveis e imagináveis.

Collectez les ordures, après!


[kɔlɛkte lez- ɔʁdyːʁ, apʁɛ!]
(Depois, recolham o lixo!)

Os meus amigos escuteiros, como é óbvio, já tinham pensado nisso. Tinham


guardado as caixas para recolher todos os restos das paletas que arrancaram
de trás de um supermercado para não poluir a praia.

Oui, bien sûr!..

Entretanto, James tinha tirado uma garrafa de rum, uma daquelas garrafas
clássicas que não se podem achar em nenhum lugar. Senta-se junto ao fogo
e começa a contar-nos uma história, a história dele e não uma história de
fantasmas como o cenário podia pressagiar.

Je travaillait comme top model, quand je vivais en Jamaïque. Ma femme,


aussi, elle était une modèle. Puis nous avons déménagé et maintenant nous
vivons
en Suisse, dans le canton français. Voici ma fille. C’est Jane. Elle va à
l’école, mais n’a pas trop envie d’étudier. Elle n’a que quinze ans et elle
veut
s’amuser. Et donc nous sommes partis faire un tour de la France en moto.
On
voyage, on a seulement un sac à dos et notre tente. Et nous voici.
Nous aussi, nous avons grillé ce soir. Mais nous avons tenu compte des
temps
de cuisson!

[ʒә tʁavajɛ kɔm tɔp mɔdɛl, kɑ̃ ʒә vivɛ ɑ̃ ʒamaik. ma fam, osi, ɛl
etɛ yn mɔdɛl. pɥi nuz-avɔ̃ demenaʒe e mɛ̃tnɑ̃ nu vivɔ̃ ɑ̃ sɥis, dɑ̃ lә
kɑ̃tɔ̃ fʁɑ̃sɛ. vwasi ma fij. sɛ ʒan. ɛl va a lekɔl, mɛ na pa tʁo ɑ̃vi detydje.
ɛl na kə kɛ̃z ɑ̃ e ɛl vø samyze. e dɔ̃k nu sɔm paʁti fɛʁ
ɛ̃ tuʁ dә la fʁɑ̃s ɑ̃ mɔto. ɔ̃ vwajaːʒ, ɔ̃n-a soelmɑ̃ ɛ̃ sak a do e nɔtʁə
tɑ̃ːt. e nu vwasi.
nuz- aussi, nuz- avɔ̃ ɡʁije sә swaːʁ. mɛ nuz- avɔ̃ tәny kɔ̃t de tɑ̃ dә
kɥisɔ̃!]
(Quando vivia na Jamaica, trabalhava como modelo. Também a minha
mulher era um modelo. Depois mudámo-nos e agora estamos a viver na
Suíça, no cantão francês. Esta é a minha filha. Chama-se Jane. Vai para a
escola, mas não tem muita vontade de estudar. Tem apenas quinze anos e
quer divertir-se. E assim partimos para fazer de moto um tour pela França.
Temos só uma mochila e a tenda.

Também nos fizemos um churrasco, mas tivemos em conta os tempos de


cozedura.

Riem-se.

A noite à la plage (a la plaʒ, na praia) foi útil em todos os sentidos. Novos


conhecimentos e um pouco de prática da língua francesa, especialmente
para os meus amigos não francófonos que experimentaram um pouco de
francês macarrónico.

Durante as várias atividades da soirée (swaʁe, noite) (James ajudava os


nossos escuteiros inexperientes a grelhar. Jane ao falar da sua adolescência
suíça permitiu-nos saborear a cultura xenófila e rios de bière (bjɛʁ, cerveja)
molhavam as gargantas secas pela fuligem das fogueiras) todos nós
aprendemos algo novo, nomeadamente, a utilização das preposições
contraídas.
15.1. Les Articles Contractés
Em francês, apenas as preposições de e à (com o acento, para não confundir
com o verbo avoir) se forem seguidas pelos artigos definidos (em particular
por le ou les), permitem a formação das preposições contraídas.

A preposições contraídas, em francês articles contractés, são as seguintes:


Com a preposição à:
Masculino à+le= au
Feminino à+les=aux
A forma feminina não muda: a+la = à la.
Se o substantivo começar com uma vogal, vai haver a elisão do artigo la o
le e, portanto, a preposição será à l’.
Exemplos:

Je vais au restaurant
[ʒə vɛ o ʁɛstɔʁɑ̃]
(Vou ao restaurante)
Tu cours à l’aéroport
ty kuʁ a laeʁɔpɔʁ]
(Correr para o aeroporto)

Il parle à l’infirmière
[il paʁl a lɛ̃fiʁmjɛʁ]
(Ele fala com a enfermeira)

Nous allons aux jardins


[nuz- alɔ̃o ʒaʁdɛ̃]
(Vamos aos jardins)

Com a preposição de:


Masculino de + le = du
Plural de + les = des
A forma feminina não muda: de+la= de la
Se o substantivo começar com uma vogal, vai haver a elisão do artigo la o
le e, portanto, a preposição será à l’.

Exemplos:
Je viens du cinéma
[ʒә vjɛ̃dy sinema]
(Chego do cinema)

Tu sors de l’ hôtel
[ty sɔʁ dә lotɛl]
(Sais do hotel)

Il arrive de l’ école
[il aʁiv də lekɔl]
(Ele chega da escola)

Nous parlons des animaux


[nuz- paʁlɔ̃ dez- animo]
(Falamos dos animais)
EXERCÍCIO
Agora tenta completar este exercício. Lembra-te de ver no dicionário o
género dos substantivos.

1. Je joue _____ football depuis 7 ans.


[ʒә ʒu _____ futbol dәpɥi sɛt ɑ̃]
(Jogo futebol há 7 anos.)

2. Paul aime beaucoup le gâteau ____ chocolat.


[pɔl ɛm boku lә ɡato____ ʃɔkɔla]
(O Paul gosta muito do bolo de chocolate)

3. Le départ _____ avion est prévu à 17 heures.


[lә depaʁ _____ avjɔ̃ ɛ pʁevy a dis-sɛt oeʁ]
(A partida do avião está programada para 17 horas)
4. J'ai vu un beau film ______ télé.
[ʒe vy ɛ̃ bo film ______ tele]
(Vi um belo filme na televisão)
5. Je suis ____ bureau.
[ʒә sɥi ____ byʁo]
(Estou no escritório)

6. Il téléphone _____ clients.


[il telefɔn _____ klijɑ̃]
(Ele telefona aos clientes)
7. Ils habitent ______ Pays-Bas.
[ilz- abit ______ peisba]
(Eles moram nos Países Baixos)

8. Monique étudie ______ université.


[mɔnik etydi ______ ynivɛʁsite]
(Monica estuda na universidade)
9. David va ________ gare.
[david va ______ ɡaʁ]
(David vai à estacão)

10. Elles parlent ____ médecins.


[ɛl paʁl ______ medsɛ̃]
(Elas falam dos médicos)
Os segredos revelados neste
capítulo
. Regra comum em todos os cantos do mundo: para fazeres a grillade, vai
cedo.
. Caso contrário, uns desconhecidos podem se moquer de toi (gozar
contigo)
. Sim ao campismo, não aos campistas inveterados.

. Tem cuidado porque quando pedires uma cerveja, alguém pode dizer
piadas. Bière significa também caixão!
. Por mim, a Casta Azul é toda bonita. Pelo menos, uma vez na vida, vale a
pena visitá-la.
. Lembra que em francês não se lê como se escreve. As preposições au/aux
pronunciam-se [o], du [d] e des [de].
DIA 16. LYON BY DAY
Depois das recordações das férias na Costa Azul dou um pulo para frente.
Levo-te a descobrir comigo o fascínio de Lyon.
Naquela altura em que a neve dá vontade de ficar debaixo dos cobertores e
não te alenta a conhecer novas cidades, estava a morar fora de Lyon. Bom
gré mal gré (bɔ̃ ɡʁe mal ɡʁe, quer queira, quer não) estava em Saint-
Étienne para uma negociação durante a qual tinha de ser intérprete. Num
hotel extraordinaire (ɛkstʁaɔʁdinɛʁ, extraordinário), realmente fabuleux
(fabylø) com vista para o rio (acho eu) e toda a paisagem à volta de onde
pingava a neve que o sol fraco tinha derretido. Apesar do forte desejo de
ficar no quente, antes de iniciar a conferência acima mencionada carrego-
me de malas e vou para Lyon.

Os parques de estacionamento ça va sans dire (sa va sɑ̃ diʁ, é escusado


dizer) são caros como em todas as grandes cidades e, em particular, em
todas as grandes cidades francesas. Depois de sair do carro, opto por um
passeio de bicicleta. Paro numa esta estação de bicicletas e alugo un vélo.
Este serviço chama-se Vélo’v. Introduzo la carte e tento a bicicleta. Estava
completamente desajeitada e encapuzada. Aproximo-me. Ponho as mãos no
guiador. A bicicleta não se desengata.
Deuxième tentative (døzjɛm tɑ̃tativ): introduzo novamente o cartão.
Transação executada. Aproximo-me ao ratelier à velo (parqueamento para
bicicletas) tento décrocher (dekʁɔʃe, desengatar) a bicicleta, mas não há
nada a fazer. Na terceira tentativa (poupo-vos as vicissitudes detalhadas)
decidi continuar a pé. E, com todo aquele frio de rachar, vou à descoberta
lyonnaise.

A minha memória visiva mostra-me claramente todas as imagens em frente


do yeux (jø, olhos), mas a memória toponomástica não consegue lembrar-se
dos nomes. Passeei por algumas ruas famosas pelo shopping, como Rue du
Président Edouard Herriot. Depois fui à Place Bellecour e depois parei para
tomar um café.

Bonjour, monsieur! Je voudrais un café, s’il vous plaît.


Oui, mademoiselle, je vous le prépare tout de suite!

[bɔ̃ʒuːʁ, məәsjø! ʒə vudʁɛ ɛ̃ kafe, sil vu plɛ.]


[wi, madmwazɛl, ʒə vu ləә pʁepaʁ tu də sɥit!]

(Bom dia senhor! Queria um café, por favor.


Com certeza. Vou já prepará-lo.)

Entretanto, vou ao comptoir (kɔ̃twaʁ, balcão) e o senhor que estava ao meu


lado cumprimenta-me. Eram quatro da tarde e ele começa a gozar comigo:
Il fait froid de canard, et, du moins, vous devriez commander une bière pour
vous réchauffer !
La vérité c’est que je ne bois jamais d’alcool, rispondo io.
Eh bien, donc, régalez-vous d’un café arrosé !

(Está um frio de rachar e devia, pelo menos, pedir uma cerveja para se
aquecer!)
(Na realidade, nunca bebo álcool).
(Então desfruta de um café pingado!)

Tratava-se de um homem que, provavelmente ou sans aucune doute (sɑ̃z-


okyn dut, sem dúvida) não conhecia o significado de café arrosé. É um café
com bagaço. Apesar do frio e embora as condições me tenham levado a
considerá-la uma boa opção, agradeço pela proposta e saio. Com a mente
bastante vazia e provavelmente au ralenti (o ʁalɑ̃ti, em marcha moderada)
pelo frio e pela pressa de voltar à conferência de trabalho, lembro-me de ter
prometido a mim própria de não fazer demasiadas viagens mentais, mas
simplesmente de anotar mentalmente o que os meus olhos podiam
compreender. E lembro-me perfeitamente que, a minha voz interior não
utilizou outra coisa senão uma simples, mas essencial, estrutura francesa.
16.1. IL Y A
Il y a indica “há” ou “não há” e é invariável como em português. Isto
significa que, mesmo que o substantivo que segue seja plural, il y a vai ficar
no singular.
A construção negativa, il n’y a pas, será seguida pelo de, que é a
transformação do artigo indefinido do singular para o plural.
Lê os exemplos abaixo que, com certeza, vão tornar a compreensão mais
simples.

Il y a un livre sur ton lit


[il j- a ɛ̃ livʁə syʁ tɔ̃ li]
(Há um livro na cama)
Dans ce texte-ci, il y a des fautes
[dɑ̃ sə tɛkstә-si, il j- a de fot]
(Neste texto há erros.)
Il n’y que deux choses à faire
[il ni kə dø ʃoz a fɛːʁ]
(Há apenas duas coisas a fazer)

Il y a quelqu'un à la porte
[il j- a kɛlkɛ̃ a la pɔʁt]
(Há alguém à porta)
Il n'y a pas de fleurs dans les plates-bandes
[il nj- a pa də floeʁ dɑ̃ le platbɑ̃d]
(Não há flores no canteiro)

J’ai vu le film il y a deux semaines


[ʒe vy lə film il j- a dø sәmɛn]
(Vi o filme há duas semanas)

Il y a 5 ans que nous sommes partis.


[il j- a sɛ̃k ɑ̃ kә nu sɔm paʁti]
(Já faz cinco anos que partimos/partimos há cinco anos)
Os segredos revelados neste
capítulo
. Claro que é esquisito ter um sujeito em francês, mas il é impessoal.

. Construção passe-partout que tantas vezes me safou de situações de


terrível incompreensão. Memoriza-a. Il y a, il y a, il y a.

. Cada terra com o seu uso e com as suas bicicletas.


. E naturalmente, cada terra com o seu uso e com o seu café arrosé. Na
nossa casa encontrarás bagaço, na casa deles, provavelmente, Grand
Marnier ou Chartreuse.
. Além disso, ainda bem que não consegui alugar a bicicleta. Aquelas zonas
são um sobe-e-desce.
. Sabias que a Place Bellecour faz parte do património da UNESCO?
DIA 17. LYON BY NIGHT
Vamos deixar de lado o grande parêntese da conferência e com uma omissis
na narração cronológica, passo direitamente ao jantar. Aqui está algo de
interessante para se falar.

Os meus amáveis clientes tinham decidido levar-me ao restaurante. E que


restaurante! Um jantar num restaurante com duas estrelas Michelin mesmo
em Lyon. Um início tranquilo e descontraído até a ementa chegar.
Simplesmente não creio que esta haute cuisine seja para mim. As
descrições dos pratos faziam concorrência às grandes narrações dos
clássicos da literatura com aquela linguagem fumosa que, aprecio muito e,
que, ao mesmo tempo detesto. Creio que me esteja a vir à mente o famoso
dicton (diktɔ̃, ditado, provérbio) “fala como comes” que evidentemente na
França não tem o equivalente nem linguístico, nem cultural. Em suma,
sempre as mesmas escargot e outros pratos assim. A escolha era limitada e
quase obrigatória: escolhia-se o menu e os pratos que ali estavam. Não eram
admitidas variantes, variações e outras coisas. Tirei proveito da minha
experiência e percebi que, embora isso possa ser talvez ignorado, a comida
ocupa uma parte substancial da nossa vida. Um cálculo aproximativo leva-
ma a concluir que duas horas e trezentos e sessenta e cinco dias por ano
fazem setecentos e trinta horas, que equivalem a cerca trinta dias.

Isso significa que, durante um ano solar, empregamos um mês só para


comer. Incrível, não é? Não me atrevo a calcular quantos meses dormimos.
De facto, atrevi-me a fazê-lo na mesma. As horas que dormimos, pelo
menos para mim que tento, digamos, maximizar os tempos da minha vida,
são cerca de quatro horas por noite. Duplamente incrível, não é?
De qualquer forma, o tempo gasto a comer é muito e é isso. Por
conseguinte, acho que pode ser útil saber o que comes. Talvez não chegues
a banquetear-te com pratos refinados no restaurante de que já falei, mas
graças a esta pequena lista de termos vais estar no bom caminho para
descobrires o que estás a enfiar com o garfo.
Pode parecer que a minha lista seja tendenciosa. Sinceramente, não sou
particularmente carnívora. É preciso dizer que, felizmente, tantos pratos que
eu chamaria “locais” têm o mesmo nome em todas as línguas.

Se bem me lembro, o restaurante em questão era Mère Brazier. Descrevê-


lo-ia com um sítio belo, propre (pʁɔpʁ, limpo), uma luz charmante (ʃaʁmɑ̃t,
encantador) e très faim (tʁɛ fɛ̃, muita fome). Não vou falar sobre a má
figura de quando deixei cair a colher (cuiller ou cuillère, kyje/kɥijɛʁ) e o
único casal que ali estava virou-se, atraindo a atenção da grande équipe de
maîtres na entrada do salão. Bela experiência para além do desconforto. Se
estivéssemos num programa de televisão, eu diria: “Para mim, é não!”
Os segredos revelados neste
capítulo
. Haute cuisine e faim não andam de mãos dadas.

. Se não quiseres sentir-te observado não optes por esse tipo de restaurante.
. Parece-me importante saber o que é que tu vas manger (o que vais comer).
No capítulo 20 explico-te esta construção.
. Lyon, em certos aspetos, parece quase mais chic do que Paris.

. Se estiveres em apuros, pensa nalgumas palavras passe-partout.


. Talvez tenhas dificuldades para com a comida, mas quanto ao vin (vɛ̃,
vinho) podes ficar descansado em toda a França.
DIA 18. LES QUESTIONS (parte
II)
As perguntas.

No “dia 8” quando estava a falar das questions avec est-ce que tinha
mencionado três maneiras para fazer perguntas. Resumindo, temos os
pronomes interrogativos e est-ce que, a inversão e a pergunta parcial.
Vejamos agora as últimas duas formulações.
18.1. Inversion Sujet-Verbe
Esta segunda opção implica, simplesmente, a inversão do sujeito e do
verbo. Na forma afirmativa o sujeito (lembra que em francês deve ser
sempre especificado) precede sempre o verbo. Tratando-se da pergunta,
temos de inverter a ordem como em inglês. Se for mais fácil para ti, faz
referências a outras línguas.
Se houver pronomes pessoais vamos ter estas frases:

As-tu faim? [a-ty fɛ̃?] (Tens fome?)


Est-il sorti? [ɛ-til sɔʁti?] (Saiu?)
Ont-ils acheté des cadeaux? [ɔ̃-til aʃte de kado?] (Compraram presentes?)
Veux-tu un chien? [vø-ty ɛ̃ ʃjɛ̃?] (Queres um cão?)
Quando a inversão provoca um choque de vogais é necessário acrescentar a
consoante t chamada eufónica separada pelo hífen.
A-t-elle un frère? [a-tɛl ɛ̃ fʁɛːʁ?] (Ela tem um irmão?)
Parle-t-il anglais? [paʁlә-til ɑ̃ɡlɛ?] (Fala inglês?)
Isso acontece só quando duas vogais estão próximas. Por exemplo, na
seguinte frase não há razão para inserir a t eufónica.

Habitent-ils à Paris? [abit-til a paʁi?] (Moram em Paris?)

Se o sujeito da frase interrogativa não for um pronome, mas um


substantivo, o nome permanecerá em primeira posição e o pronome
correspondente será acrescentado depois do verbo:
Pierre a-t-il une voiture?
[pjɛʁ a-til yn vwatyːʁ?]
(Pierre, tens um carro?)

Les étudiants sont-ils fatigués?


[lez- etydjɑ̃ sɔ̃-til fatiɡe]
(Os estudantes são cansados?)
Com os verbos compostos, em particular com o passé composé (capítulo 26
e 28) o verbo deve ser separado assim:

1. A-t-il mangé de la viande?


[a-til mɑ̃ʒe də la vjɑ̃ːd?]
(Comeste carne?)

2. Êtes-vous allés chez lui?


[ɛt-vu ale ʃe lɥi?]
(Foram à casa dele?)
3. Avez-vous lu ce livre?
[ave-vu ly sә liːvʁ?]
(Leram este livro?)
EXERCÍCIO
Agora tenta praticar.

Tens de transformar a frase afirmativa na respetiva pergunta.


1. Tu as soif
2. Vous ressemblez à vos parents
3. Elle est rentrée tôt
4. Le film commence à 17 h
5. Les filles aiment les chiens
6. Tu veux acheter cette maison
7. Ils ont loué une nouvelle voiture
8. Elles ne peuvent pas partir ce weekend
9. Mes parents n’ont pas étudié à l’université
10. Ma tante et mon oncle ont deux enfants
18.2. Interrogation Partielle
Esta forma pode ser usada com os advérbios interrogativos. Simplesmente
basta manter a frase na forma afirmativa e acrescentar o advérbio
interrogativo quase sempre no final da frase antes do ponto de interrogação.

Ils sont où? [ty a di kwa?] (onde estão?)


Ça coûte combien? [ka kut kɔ̃bjɛ̃?] (quanto custa?)
Tu as dit quoi? [il sɔ̃ u?] (que disseste?)

Esta forma de pergunta é bastante coloquial. Lembra-te que pode ser


construída assim só se houver um adverbio interrogativo. A distinção entre
interrogation totale e partielle é que à primeira pergunta pode-se responder
com sim ou não, a segunda requer uma resposta exaustiva.
Tenta traduzir as seguintes frases question:

1. Onde comemos?
2. Que querem?
3. Quanto correm?
4. Quando vais de férias?
5. Que bebes?
Finalmente, experimenta este exercício. Tens de criar perguntas. Escolhe a
forma que preferes e que tenham como resposta a parte sublinhada.
1. Les enfants aiment les animaux
2. Maman est sortie avec son frère
3. Ces fleurs sont à toi
4. Le train part à 7h30
5. Le coiffeur coupe les cheveux
Os segredos revelados neste
capítulo
. Em francês há muitas formas de fazer perguntas.

. Cada modalidade interrogativa corresponde a um diferente registo


linguístico.

. Aconselho-te a usar a inversão sujeito-verbo com as pessoas que não


conheces. É mais formal.

. A minha observação é que, dadas as muitas formas de interrogar e de se


interrogar, os franceses são esquisitos.
. A curiosidade é mulher? Principalmente, mulher francesa.

. Eufónico pode soar como um palavrão, mas a mesma etimologia da


palavra (eu, em grego, significa “bem”) ensina-nos que tem exatamente a
função de tornar o som mais bonito.
DIA 19. LE CHÂTEAU DE
VERSAILLES
Sempre pensei que o nome do castelo derivava de um nome próprio. Até
alguns anos atrás, na minha imaginação existia uma personagem esquisita
que se chamava Versailles. Santa ignorância! Ao fim e ao cabo não estava
errada. De facto, não é um nome próprio de pessoas, mas de cidade: a
alegre vila de Versailles. Tem oitenta e cinco mil habitantes como a cidade
da área metropolitana de Milão onde eu moro, e um palácio enorme. É tudo.
Não me parece de modo nenhum pouco. Etimologicamente, o nome da
cidade deriva do latim versare e referia-se às terras “versadas”, ou seja,
trabalhadas.
Quantas vezes imaginámos as cidades estrangeiras como um conjunto de
casas e palácios, condomínios e estradas que se intersetam, mas sempre tão
próximas entre si? Talvez seja apenas uma minha impressão. Mesmo assim,
vi tantas pessoas admiradas quando expliquei aos meus amigos e aos meus
pais que para chegar ao palácio é preciso apanhar o comboio e atravessar
cidades e vilas, deixando Paris para trás.
Como para os estrangeiros Lisboa e Porto parecem estar perto, também para
nós a Bretanha (que não é Grã-Bretanha, mas não há riscos de “passar a
fronteira” sem se aperceber disso visto que ali se fala uma língua diferente
do francês e no meio fica o mar e o Canal da Mancha) e a Costa Azul
parecem estar a dois passos só porque se fala français.
Seja como for, estava a dizer que Versailles me permite fazer uma digressão
fonológica a propósito do duplo l. Esse, em geral, produz um som
semelhante ao lh português.
Por exemplo:
Famille [famij] (Família )
Chantilly [ʃɑ̃tiji] (Chantilly)
Billet [bijɛ] (Bilhete)
Tal como o português, também o francês é uma língua rica de exceções e,
por isso, em muitas outra palavras o duplo l pronuncia-se simplesmente
como um único l, como em
Tranquille [tʁɑ̃kil (Tranquilo)
Ville [vil] (Cidade)
Vaisselle [vɛsɛl] (Louça)

Como se costuma dizer, feita a lei, inventada a malícia. E a língua francesa


é, sem dúvida, mestre nisso. Estavas à espera de um capítulo histórico? Se
calhar ainda não te tenha falado disso, mas o meu lanche favorito em Paris
juntamente com os macarons era o frappuccino do Starbucks. Não, não é
único indicador de modernidade uma vez que sai da estação RER em
Versailles. Os segway enlouquecem. Vão a toda a pressa. Saltam para o teu
colo. Estava sempre a perguntar-me qual era o sistema diabólico que os
mantém direitos.
Os anos de fasto cobrem a vida de três regentes Bourbon, Luís XIV, XV e
XVI, evidentemente os mais vaidosos da história da França visto que
pensaram que era necessário aquele espaço todo para a corte real. Uma
corte que, dado o tamanho dos famosos jardins, abrangia a zona do exterior.
Quando visitei o castelo senti o peso todo da história em cima dos meus
ombros magrinhos. Imaginei como se podia dormir naquelas camas
pequenas e os piolhos escondidos sob o pouf aux sentiments de Maria
Antonieta. Estás a pensar na absurdidade da moda? Hoje em dia tentamos
mostrar sempre mais o nosso corpo. Naquela época não só usavam
espartilhos e crinolinas, mas também tinham barquetas empoleiradas nas
cabeças. Para que isso? Não foi suficiente ter construído aquele colossal,
gigantesco castelo residencial? E para se admirarem com uma certa
facilidade, os franceses roubaram aos venezianos o ingrediente segredo para
produzirem diretamente in loco os 357 espelhos da Galerie des Glaces. A
família Bourbon é absolutamente louvável.
Le roi est mort, vive le roi!
Todo o luxo dos reflexos e do ouro de Versailles levam-me a concluir: le
kitsch c’est chic, com uma música de fundo dessa expressão passe-partout.
A minha mente negacionista faz-me acreditar que, no fundo, tudo isto foi
demais e embora de gustibus non disputandum est, eu digo NÃO. E com
esse não, apresento-te o uso da negação em francês.
19.1. La Negation
A negação em francês é formada por duas pequenas palavras. Normalmente
ne et pas.
Por exemplo:
Il n’aime pas fumer
[il nɛm pa fyme]
(Não gosta de fumar)

Tu ne veux pas sortir


[ty nә vø pa sɔʁtiʁ]
(Não queres sair)
A posição das duas palavras é: ne + verbo + pas ou, com os verbos
compostos, ne + auxiliar/verbo + particípio passado.
Muitas vezes, a segunda parte da negação pode ser substituída por uma
série de variantes que modificam, atenuam ou diminuem a intensidade da
negação.
As alternativas são as seguintes:
- Jamais [ʒamɛ ] (nunca)
Je n’ai jamais fumé
[ʒә ne ʒamɛ fyme]
(nunca fumei)

- Rien [ʁjɛ̃] (nada)


Il n’y a rien de plus beau
[il nj- a ʁjɛ̃ də ply bo]
(não há nada mais bonito)

- Personne [pɛʁsɔn] (ninguém)


Je ne vois personne dans la maison
[ʒә nә vwa pɛʁsɔn dɑ̃ la mɛzɔ̃]
(não vejo ninguém em casa)

- Plus [ply] (mais)


Elle ne travaille plus
[ɛl nә tʁavaj ply]
(ela não trabalha mais)

- Guère [ɡɛʁ] (não muito)


Je n’ai guère envie de…
[ʒə ne ɡɛʁ ɑ̃vi dә…]
(não tenho muita vontade de…)

- Aucun/aucune/aucuns/aucunes…
[okɛ̃/okyn/okɛ̃/okyn]
(nenhum /nenhum / nenhuns / nenhumas)
Nous ne connaissons aucun bon avocat
[nu nә kɔnɛsɔ̃ okɛ̃ bɔ̃n- avɔka]
(não conhecemos nenhum bom avogado)

No primeiro termo de negação:


- Personne
Personne ne veut sortir
[pɛʁsɔn nә vø sɔʁtiʁ]
(Ninguém quer sair)

- Rien
Rien ne me plaît
[ʁjɛ̃ nə mə plɛ]
(Nada me agrada)

Duas outras construções para a negação são ni…ni…


Por exemplo:
Je ne bois ni bière ni vin
[ʒә nә bwa ni bjɛʁ ni vɛ̃]
(não bebo nem cerveja nem vinho)

E ne…que:
Je ne dors que le jour
[ʒə nə dɔʁ kә lə ʒuʁ]
(Durmo só durante o dia)

Je ne bois que de l’eau


[ʒə nә bwa kә dә lo]
(bebo só água)
Atenção: na forma negativa se o complemente for introduzido por um
artigo indefinido (un, une, des) ou por um artigo partitivo (du, de la, de l’) o
artigo é substituído por de
Je mange des baguettes Je ne mange pas de baguettes
J’ai un chien Je n’ai pas de chien.
Tenta pôr em prática o que aprendemos neste capítulo.
EXERCÍCIO
Transforma as frases afirmativas em frases negativas com a negação mais
apropriada.
1. L’arbre a encore des feuilles
2. Maman aime les bonbons
3. Je bois du lait et du café le matin
4. Elle va toujours à l’école
5. Tout le monde est là
Os segredos revelados neste
capítulo
. Lembras que uma palavras pode ter mais do que um significado? A
Galerie des Glaces poderia ser também uma galeria de gelados. Glace, além
de significar “espelho” significa também gelado.
. Em francês o duplo éle tem duas fonações possíveis.
. Atualmente, segway e pouf aux sentiments convivem pacificamente em
Versailles.
. Versailles não é Paris. Podes desfrutar de uma viagem sugestiva no RER
até ao château.
. A politesse francesa quer que haja pelo menos 8 maneiras de negar.
. Para Versailles, salvo raras exceções, o s final não é pronunciado. Aplica-
se a regra de “deposito” de que te falei no primeiro capítulo.
DIA 20. SHOPPING À LA
FRANÇAIS
Shopping à francesa.
Cada terra com o seu uso e com o seu shopping mall. Milão tem a brilhante
“Rinascente”, um nome, aliás, que considero eufemístico porque se todos os
renascimentos, coias e/ou situações fossem tão luxuosos, então seria
necessário desejar tal condição com mais frequência. Em Londres (lɔ̃dʁ,
Londres) considero como emblema do shopping inglês “Harrods” com as
duzentos secções repartidas em sete andares e as caríssimas malas que têm
dimensões que mal se adaptam as exigências da vie de tous les jours (vi dә
tu le ʒuʁ, vida quotidiana). Berlim tem, a meu ver, o insignificante KaDeWe
que não cheguei a conhecer por não ter tido tempo suficiente. E finalmente,
a Ville Lumière que tem a “Galerie Lafayette”.

Muitas entrées (ɑ̃tʁe, ingressos, recorda que significa também entrada


servida no início de uma refeição) e muitas secções que nem me lembro o
número e as compras que fiz. Andava à deriva em busca da alma deste
centre commercial de luxo (sɑ̃tʁə kɔmɛʁsjal, centro comercial). Na verdade,
penso que estava à espera de que a alma do centro comercial me dissesse
para fugir, guardar a carteira no meu bolso e pensar noutras coisas. Há mais
na vida do que a força demoníaca que atrai as mulheres dentro das lojas.
Mas o seu encanto era tão sublime que nem sequer me senti esmagada pelo
peso do clarão do dôme (domo, cúpula, repara que em francês é um
substantivo masculino). Uma cúpula que teria causado inveja aos reis
franceses de Versailles.
Entre um omnipresente macaron e a Art Nouveau da estrutura, o achat (aʃa,
compra) de um par, ou talvez mais de um par, de chaussures (ʃosyʁ,
sapatos) tomava corpo e espaço nas minhas mãos. A sorte quis que eu
tivesse um appel manqué (apɛl mɑ̃ke, chamada perdida, em francês é
masculino) no portable (pɔʁtabl, telemóvel). Alguns colegas Erasmus da
Universidade propuseram-me um lanche num café na Place de l’Opéra
onde se cruzam muitos boulevards (bulvaʁ, avenidas). Dirigi-me para a
única paragem de metro que me separava da paragem Chaussée d’Antin –
La Fayette a l’Opéra (linha 7 – cor-de-rosa pálido) embora não fosse um
grande esforço andar desde Boulevard Hausmann até à praça. Hausmann é
um nome que não deve soar novo para os teus ouvidos. Provavelmente,
temos de lhe agradecer se Paris é tão bela porque foi mesmo este barão que
reviu o planeamento urbanístico da cidade e tornou bonitas as avenidas
francesas, especialmente os Champs Elysées (ʃɑ̃zəәlize).
Entro no café preestabelecido. Um café expresso, não tipicamente expresso
à l’italienne e um cheesecake de fruta avermelhada e encarangada.
E assim bavards (bavaʁ, faladores) e paresseux (paʁesø, preguiçosos), a
conversa foca-se sobre os meus achats.
Qu’est-ce que tu as acheté, donc? Pas grand chose, je viens d’acheter
seulement des chaussures et des vêtements. Ah, oui, je suis très excité pour
un pantalon à la garçonne !! C’est super! Je vais l’acheter demain peut-être
[kɛ-s kə ty a aʃte, dɔ̃k?
pa ɡʁɑ̃ ʃoːz, ʒe vjɛ̃ daʃte soelmɑ̃ de ʃosyʁ e de vɛtmɑ̃. a, wi, ʒә sɥi tʁɛz-
ɛksite puʁ ɛ̃ pɑ̃talɔ̃ a la ɡaʁsɔn !! sɛ sypɛʁ! ʒә vɛ laʃte dәmɛ̃ pøtɛtʁ]
(Então, que compraste? Nada de especial. Acabei de comprar sapatos e
roupas. Estou muito entusiasmada por um par de calças à la garçonne. São
espetaculares! Se calhar, amanhã compro-as)
Bem, agora vamos pôr de lado a análise das compras e concentramo-nos no
francês. Poucas frases, muitas regras. Nessa troca de palavras aparece o
seguinte tópico.
20.1. Os Galicismos
Ingredientes:

- verbo venir
- verbo aller
- verbo être
- esforço de abstração q.b.
Em primeiro lugar, pega numa tigela mental e põe os primeiros três
ingredientes. Mistura bem para criar uma massa maneável e e põe-na de
lado. Vamos utilizar três diferentes formas de galicismos. Estes servem para
suprirem a falta de certos tempos verbais do francês.
20.2. Passé Récent
O passé récent serve para indicar una ação que acabou de ter lugar.
Constrói-se na seguinte maneira:
Sujeito + VENIR (conjugado) DE + infinitivo.
Exemplos:
- Il vient de sortir [il vjɛ̃ də sɔʁtiʁ] (Acabou de sair)
- Je viens de le dire [ʒә vjɛ̃ də lə diʁ] (Acabei de o dizer)
20.3. Présent Progressif
O présent progressif indica uma ação que está a acontecer neste momento.
Constrói-se na seguinte maneira:
Sujeito+ ÊTRE (conjugado) EN TRAIN DE + infinitivo.
Exemplos :
- Ils sont en train de jouer
[il sɔ̃ ɑ̃ tʁɛ̃ dә ʒwe]
(Estão a brincar)
- Vous êtes en train d’étudier
[vuz- ɛt ɑ̃ tʁɛ̃]
(Estão a estudar)
20.4. Futur Proche
O futur proche indica futuro próximo.
Constrói-se na seguinte maneira:
Sujeito + ALLER (conjugado) + infinitivo.
- Elle va partir [ɛl va paʁtiʁ] (Ela vai partir)
- Je vais acheter un chapeau [ʒəә vɛ aʃte ɛ̃ ʃapo] (Vou comprar um chapéu)
EXERCÍCIO
Tenta transformar as seguintes frases usando os galicismos:
1. Demain, je vais à l’école en bus.
2. Maintenant, j’écoute de la musique.
3. Caroline a parlé au téléphone.
4. Demain, je promène mon chien.
5. Le professeur a lu l’exercice.
Os segredos revelados neste
capítulo
. Quando entrares na Galeries, deixa a carteira em casa.
. Para ser mais exato, creio que se considera um grand magasin (ɡʁɑ̃
maɡazɛ̃), e não um centre commercial.
. É inútil que te diga que magasin ( maɡazɛ̃) significa “loja” e não magazine
(maɡazin, revista)

. Os galicismos são muito comuns. Creio que, juntamente com o presente,


são as construções mais utilizadas.
DIA 21. AUJOURD’HUI
Hoje.

Os idiomas conseguem ser sempre mistificadores.


Os nossos ouvidos ligam naturalmente o som de uma palavra a um conceito
impresso na nossa mente. Deixo de lado o debate sobre a linguagem como
habilidade inata ou adquirida e, limitar-me-ei a citar um par de amigos
linguistas. Jakobson e as cinco funções da linguagem têm realmente pouco
a ver com o que estou a dizer. Tenho a certeza de que ele teria umas
palavrinhas para se opor às minhas simples observações. Ferdinand de
Saussure ia ficar horrorizado.
Estava a dizer que, muitas vezes, o nosso aparelho auditivo liga o som a
uma noção. Tenhamos em mente que, por muito que a linguagem possa ser
espontânea, simples, curada, direta ou fantasiosa, é sempre um sistema
arbitrário. Um sistema de referência no qual o triangulo semiótico é mestre.
Um sinal, um significante e um significado, fundamentalmente
inseparáveis. E, no entanto, quantas vezes ouvimos, ou dissemos
insensatamente, que “para falar espanhol, basta acrescentar alguns s no final
das palavras”?
É uma espécie de sabedoria popular que às vezes acerta…e outras vezes
engana-se.
Vou contar-te uma história bastante engraçada. A primeira vez que estive
em Paris por um fim de semana foi com uma amiga minha querida. Uma
querida amiga que estava cheia de entusiasmo e decidiu aprender algumas
palavras em francês. Depois de ter obtido uma brochure, durante a viagem
do aéroport (aeʁɔpɔʁ, aeroporto) ao hôtel, aventurou-se numa tradução
muito divertida. Por exemplo, dans (dɑ̃, em) tornou-se “dança”; tête,
obviamente, tornou-se “teta” (tɛt, cabeça). Deixemos de lado a motivação
absurda pela qual essas duas palavras devem aparecer no texto de um
dépliant (deplijɑ̃) turístico.

Há outras situações em que, uma vez que aprendemos cinco palavras de


base de uma língua estrangeira, tentamos capturá-las em todas as conversas.
Tomemos como exemplo aujourd’hui.
Eu e a minha amiga estávamos a sair do Hotel Ibis e ela estava toda
entusiasmada por ter aprendido algumas palavras novas como déjeuner
(deʒoene, que não significa jejuar, mas almoçar ou tomar o pequeno
almoço) e aujourd’hui (oʒuʁdɥi, hoje).
Depois de termos dado voltas pelas várias praças e pelos museus de Paris
apinhados de pessoas, parámos em frente da montra de uma boutique que
vendia gadget de Le petit prince. Quem é que não conhece este romance? É
uma obra tardia do aviador Saint-Exupéry, escritor claro e por vezes manso
como um cordeiro, especialmente quando fala das frentes de guerra. Creio
que empregou todas as energias e todos os esforços necessários para
simplificar o estilo. Trata-se de um estilo seco, mas ao mesmo tempo
evocativo que, durante o primeiro ano da faculdade, quando estava a
estudar o herdeiro da língua d’oil, decidi traduzir para praticar. Tenta ler o
texto em francês. É curto e pode ser útil para ti.
Seja como for, há quem o ame e quem o odeie, talvez como todas as obras
literárias ou cinematográficas que tenham sido instrumentalizadas pelo
comércio. A minha amiga tem o hábito de comprar o Principezinho em
todas as línguas dos países que visita. Já o tinha em francês, mas quis
comprar uma caneta muito fofinha para a sua amiga. Entrámos na loja e
uma senhora adorável e pançuda com cabelos finos e gordurosos, acolhe-
nos assim:
Bonjour, comment puis-je vous aider?
[bɔ̃ʒuːʁ,kɔmɑ̃ pɥi-ʒ vuz- ede]
(Bom dia, como posso ajudar-vos?

A minha amiga vira-se para mim com os olhos cheios de pânico.


Evidentemente não tinha captado nada, exceto bonjour. Eu, por uma
questão de princípio, tinha decidido que não a teria ajudado. Assim, cometi
o terrível erro de falar inglês. Os franceses odeiam os ingleses. É sabido, a
França e a Inglaterra lutaram uma contra a outra por cem anos e mais. Duas
hegemonias à conquista do mesmo número dos tanques de RISK.
Pede o preço com um simples “how much”. A senhora responde: ui(t).
Desta vez, a minha amiga vira-se com os olhos cheios de perplexidade.
Estava a perguntar-me com o seu olhar o que é que a senhora tinha dito. A
senhora volta a responder: uit.
Vi passar no seu olhar um monte de perguntas como figuras a rodar numa
slot machine. A última pergunta era: Mas chiou?!
Após quatro minutos de silencio incómodo, decidi salvar a situação e
também a cara. Disse à minha amiga que aquela coisa custava 8 euros. Ela
responde: “antes entendi oui, depois pensei que talvez ela não tivesse
entendido o que eu queria. Depois, entendi aujourd’hui e pensei que talvez
eu não tivesse entendido o que ela queria.
Resumindo: se disser três (tʁɛ) o que é que a minha amiga vai pensar? E tu?
21.1. Adverbios de Intensidade e de
Quantidade
Começamos pelos advérbios. Os advérbios são palavras invariáveis que
modificam um verbo, um adjetivo ou outro advérbio. Neste capítulo, iremos
examinar os advérbios de intensidade de qualidade e de quantidade.

Os advérbios de intensidade e de qualidade são:


assez (ase, bastante), très (tʁɛ, muito), presque (pʁɛsk, quase),
bien (bjɛ̃, bem), mal (mal, mal) …

Os advérbios de quantidade são: assez, beaucoup (boku, muito), trop (tʁo,


muito,demasiado, peu (ɛ̃ pø, pouco).
A principal distinção que temos de ver é aquela sobre a tradução de
“muito”. Vamos analisar a diferença entre très e
beaucoup.
21.2. Très
Modifica os adjetivos ou a maioria dos advérbios, mas nunca os nomes.

Es: Cette maison est très jolie.


[sɛt mɛzɔ̃ ɛ tʁɛ ʒɔli]
(Esta casa é muito linda ou lindíssima)
Ce chien est très mignon.
[sә ʃjɛ̃ ɛ tʁɛ miɲɔ̃]
(Este cão é muito fofo)
Exceções: nas expressões avoir faim, soif, envie, peur, chaud, froid, mal não
se pode usar beaucoup. Deve-se sempre dizer très faim, très soif, …
21.3. Beaucoup
Usa-se beaucoup com verbos e substantivos. Com os substantivos usa-se
beaucoup de. Mesmo que de seja seguido por substantivos plurais, fica no
singular.

Je mange beaucoup
[ʒə mɑ̃ʒ boku]
(Como muito)

Je mange beaucoup de viande


[ʒә mɑ̃ʒ boku dә vjɑ̃d]
(Como muita carne)
Il y a beaucoup de vélos ici
[il j- a boku dә velo isi]
(Aqui há muitas bicicletas)
Vamos ver alguns exemplos com os outros advérbios.

Il fait trop froid


[il fɛ tʁo fʁwa]
(Faz muito frio)

Il fume trop de cigarettes


[il fym tʁo dә siɡaʁɛt]
(Fuma demasiados cigarros)

Il parle trop
[il paʁlә tʁo]
(Fala muito)

Mon père est peu intelligent


[mɔ̃ pɛʁ ɛ pø ɛ̃teliʒɑ̃]
(O meu pai é pouco inteligente)

Elle écoute peu de musique


[ɛl ekut pø də myzik]
(Ela ouça pouca música)

Ils ne font pas assez de sport


[il nə fɔ̃pa ase dә spɔʁ]
(Não fazem desporto suficiente)

Tu as raté ton examen parce que tu n’as pas étudié assez


[ty a ʁate tɔ̃n- ɛɡzamɛ̃ paʁsə kә ty na pa etydje ase]
(Chumbaste porque não estudaste bastante)
EXERCÍCIO
Agora tenta completar este:
1.Tu vas tomber malade: tu manges ______ légumes.
2. Les gens pauvres ont _______ argent.
3. Nicole a _______ amis. Je ne me souviens pas de leurs noms.
4. Les étudiants ont toujours _______ de devoirs.
5. Stop, arrête-toi! J’en ai _____!
6. Paul est ____ sympa.
7. Vous parlez ________ de vos amours?
8. Nous avançons pas à pas, _______ prudemment.
Os segredos revelados neste
capítulo
. Uma negociante respeitável não chia. Se for assim, reflete um bocadinho.

. É claro que não é como costumava cantar Ricky Martin, un dos tres un
pasito pa'lante…

. Não confies no som das palavras.


. O Principezinho é como se fosse uma Bíblia para os aspirantes que falam
francês.
. Para não errares, analisa bem as funções daquilo que está dentro da frase:
adjetivos, advérbios e nomes.

. A escrita de beaucoup fascina-me. Ao contrário, a pronúncia faz-me


lembrar Goku de Dragonball.
DIA 22. LE FOLIES BERGÈRE
(parte I)
Traduzo sempre Saint-Exupéry e as suas imagens bucólicas ligadas à paz da
alma pastoral e não posso deixar de pensar nas Folies Bergère. Numa noite,
eu e a minha colega de quarto passámos pela entrada vermelha flamejante
da sua casa e a minha mente não conseguiu limitar-se a saborear a
contextualização moderna daquela entrada fechada. Senti materializar-se no
ar a atmosfera dos cartazes de Toulouse-Lautrec e vi o suor cobrir as roupas
de criança das danseuses (dɑ̃søz, bailarinas) de Degas, grande e principal
tema tratado pelo artista nas suas pinturas. Não é por acaso que o tutu que
ele representou seja chamado “tutu Degas”.

Ah… la Belle Époque. Período de invenções e revoluções, e um ponto de


viragem na conceição dos loisirs (lwaziʁ, tempo livre). Desenvolve-se o
mercado das férias, e, por conseguinte, nasce também o fato de banho. Tudo
relacionado com um sentimento de nostalgia numa époque (epɔk, epoca)
que afinal não era bela porque precedeu a Primeira Guerra Mundial. Nasce
a sociedade do consumismo e, in nuce, a publicidade. De resto, os pósteres
de Toulouse-Lautrec, em sentido lato, não passavam de cartazes de
publicidade para os mais importantes music-hall de Paris: ambientes
coloridos e vividos, quase todos individualmente identificados pelo
vermelho e nos quais tomava forma os espetáculos de variedades, filho do
café-chantant francês.

Outro símbolo da Belle Époque é o celebre Le Chat Noir, desenhado por


Steinlein para dar uma imagem ao símbolo do cabaret, lugar de encontro da
bohème daqueles anos, aos pés de Montmartre, área de florescimento
intelectual e artístico.

Vamos deixar a história de lado e concentramo-nos no nome Folies. É um


nome estranho porque o adjetivo não concorda em número com o nome.
Para compreenderes o que estou a dizer, vou ter de explicar como se
constrói o plural.
22.1. Os Plurais Dos Nomes
A regra geral da formação do plural diz que se deve acrescentar um -s ao
singular. Regra geral que tem mil exceções.
Dividiremos os nomes em categorias de acordo com as letras finais da
palavra para compreendermos como mudam do singular para o plural.

Folie Folies (loucuras) [fɔli]


Fenêtre Fenêtres (janelas) [fәnɛtʁ]
Clo Clous (pregos) [klu]

Para este grupo que termina em ou, há 7 palavras que, em vez de


acrescentarem o s, acrescentam o x.

Bijou bijoux (joias)


Caillou cailloux (pedras)
Genou genoux (joelhos)
Joujou joujoux (brinquedos)
Pou poux (piolhos)
Chou choux (couves)
Hibou hiboux (mochos)
Há uma lengalenga simpática que te ajuda a recordá-los:

Viens mon chou, mon bijou, mon joujou, sur mes genoux, et jette des
cailloux à ce hibou plein de poux
[vjɛ̃ mɔ̃ ʃu, mɔ̃ biʒu, mɔ̃ ʒuʒu, syʁ me ʒәnu, e ʒɛt de kaju a sә ibu plɛ̃ dә pu]
Anda cá meu querido, minha joia, meu brinquedo, em cima dos meus
joelhos e atira pedras àquele mocho cheio de piolhos.

Chou significa também “querido”. É uma palavra terna que usamos com
alguém de quem gostamos.

As palavras que terminam em ail seguem a regra básica. Por isso,


acrescenta-se o s, exceto:

Travail travaux (trabalhos) [tʁavo]


Email émaux (esmaltes) [emo]
Corail coraux (corales) [kɔʁo]
Vitrail vitraux (vetrales) [vitʁo]

As palavras que terminam com s, x, z restam inalteradas no plural


Bus bus (autocarro) [bys]
Prix prix (preço) [pʁi]
Gaz gaz (gaz) [ɡaz]

O grupo que termina em al forma o plural acrescentando aux. No entanto há


algumas exceções.
Journal journaux (jornais) [ʒuʁno]
Cheval chevaux (cavalos) [ʃәvo]
Exceto

Bal bals (bailes) [bal]


Festivalfestivals (festivais) [fɛstival]

As palavras que terminam com os ditongos au, eu, eau acrescentam x no


plural.

Feu feux (fogos) [fø]


Tuyau tuyaux (tubos) [tɥijo]
Gâteau gâteaux (bolos) [ɡato]
Exceção: pneu pneus (pnø, pneumáticos)

Há também palavras que são totalmente irregulares como….

Oeil yeux (olho olhos) [oej, jø]


Madame mesdames (senhora, senhor) [madam, medam]
Monsieur messieurs (senhoras, senhores) [mәsjø, mesjø]
Mademoiselle mesdemoiselles (menina, meninas)
[madmwazɛl, medmwazɛl]
Os segredos revelados neste
capítulo
. Os ditongos au, eu e eau formam o plural acrescentando um x. Lembra
que a pronúncia é diferente.
Adoramos incondicionalmente nomes que terminam em s, x e z porque não
dão nenhum problema.
. Digo-te uma curiosidade sobre os acentos em “la Belle Époque”: quando a
letra acentuada é maiúscula, o acento é opcional.
. Para visitar Paris, deve-se conhecer a sua história!
. Para apreciarmos o que temos hoje, acho que é essencial saber o que não
tínhamos antes. Como o fato de banho.
. Paris significa também can can, a famosa dança que foi representada no
Moulin Rouge de la Galette, o salão de baile de um antigo moinho na
esteira do qual, mais tarde, nasceu o famoso Moulin Rouge.
DIA 23. LE FOLIES BERGÈRE
(parte II)
Para não te sobrecarregares de informações, decidi dividir o conteúdo do
plural em dois capítulos. Na realidade, nomes e adjetivos seguem as
mesmas regras.
OS PLURAIS DOS ADJETIVOS

Vou mostra-te mais duas exceções do grupo das palavras que terminam em
al :

Fatal fatals (fatal) [fatal]


Naval navals (naval) [naval]

e do grupo eu, bleu bleus (blø, blu).


Se numa frase o substantivo e o adjetivo seguissem a mesma regra, seria
muito fácil. Na maioria das vezes tens de criar o plural seguindo no mínimo
duas regras e as respetivas exceções.
O PLURAL DOS NOMES COMPOSTOS

Os nomes compostos ou “palavras-valise” que, com o passar do tempo se


tornaram fixos na língua standard, podem ser compostos de nome + nome,
nome + adjetivo ou adjetivo + adjetivo.

NOME + NOME
Se o segundo elemento for adjetivo, ambos tomam a forma do plural. Por
exemplo, chou-fleur choux-fleurs (ʃuksfloeʁ, couves-flores).

Se o segundo elemento não for adjetivo, apenas o primeiro toma a forma do


plural como année-lumière années-lumière (aneɛslymjɛʁ, anos-luz).

NOME + ADJETIVO
Ambas as palavras concordam em número. Por exemplo, libre-service
libres-services (libʁesɛʁvis, self-service).

ADJETIVO + ADJETIVO
Normalmente, ambas as palavras concordam em número. Por exemplo,
aigre-douce aigres-douces (ɛɡʁɛsdus, agridoce).

VERBO + NOME
O verbo fica invariável e só o nome toma a forma do plural. Es.:
portemanteau portemanteaux (pɔʁtmɑ̃to, cabides).

VERBO + VERBO
Essa é categoria mais simples porque tudo permanece inalterado como,
laissez-passer laissez-passer (lesɛzpase, livre-trânsito).
EXERCÍCIO
Transforma as seguintes frases no plural
1. Un splendide château Des
2. Un cheveu court Des
3. Un hibou joyau Des
4. Un tapis gris Des
5. Un beau garçon Des
6. Un restaurant ouvert Des
7. Un coffre-fort résistant Des
8. Un porte-monnaie large Des
9. Une plate-bande fleurie Des
10. Un couteau pointu Des
Os segredos revelados neste
capítulo
. Como podes ver, há algumas diferenças entre o francês e o português.

. Também em português a palavra “euro” toma a forma do plural: euros.


. O francês, língua da Enciclopédia de Diderot e D’Alembert, e das
“palavras-valise”. Existe uma infinidade dessas palavras-valise” tanto que,
para alem do odio franco-britânico, os anglófonos empregam portemanteau
words.
. Em francês, são chamados com um nome que me suscita grandes
sensações de liberdade e ao mesmo tempo de plenitude. Nenhuma palavra
podia ser mais apropriada de mot-valise.
. O plural das cores é, na minha opinião, a coisa mais complicada. Algumas
tomam a forma do plural e outras não. Não faz mal. Quando se fala, não se
ouve a diferença.
. Assim, explicámos que folies é um substantivo plural, mas porque
bergère?
DIA 24. UM MONDE DE
FEMMES
Um mundo de mulheres.

Os music-hall estavam cheios de mulheres lindas. É por isso que, mantendo


como pano de fundo de narração o sítio de que já te falei, apresento-te o
próximo tema. Originariamente, folie designava uma casa de luxo, no
campo ou na periferia, utilizada pela nobreza para as festas. Do ponto de
vista gramatical, a palavra folie é feminina. Bergère (bɛʁʒɛʁ) que deriva da
palavra masculina berger (bɛʁʒe, pastor), concorda no feminino, mas não
concorda no plural. Em vez de ser um adjetivo, indica o nome da rua, a Rue
Bergère, o adresse (adʁɛs, morada) escolhido para substituir o nome
anterior, Folies Trévise.
Tendo isto em conta, vamos tentar descobrir como se teria chamado esse
lugar, se a gramática tivesse sido feita como manda a lei. Nesse sentido,
penso que é muito importante falar-te sobre a criação e a derivação dos
substantivos femininos.

É claro que nem todos os substantivos podem ter uma forma no feminino.
Em francês, o género é um pouco difícil. Muitas vezes erramos porque
fazemos uma comparação com a nossa língua mãe. Vou dar-te uma pequena
lista de termos de uso corrente.
Vejamos quais são os substantivos (e adjetivos. Aplica-se o que já disse nos
capítulos anteriores) que podem ser transformados do masculino para o
feminino e que regra seguem.

A regra geral indica que o plural se forma acrescentando um s. Por


exemplo:

Un français une française


Un ami une amie
Un étranger une étrangère
Un écolier une écolière

Por razoes de fonética, os nomes masculinos que terminam em er


acrescentam um acento grave na penúltima e. Os nomes masculinos que
terminam em e não sofrem nenhuma alteração.

Un touriste une touriste


Un élève une élève

Eis a categoria mais ampla, a das palavras que terminam em an, en, on, el,
et e os adjetivos em eil, duplicam a consoante final e acrescentam e.

Un paysan une paysanne


Un lion une lionne
Un criminel une criminelle
Ancien ancienne
Bon bonne
Pareil pareille
Traditionnel traditionnelle

Excecoes : complet (f. complète), secret (f. secrète), inquiet


(f. inquiète) e discret (f. discrète).

Outra grande categoria é a seguinte: Os nomes que terminam em:

f ve Exemplo: veuf veuve


x se Exemplo: heureux heureuse
eur euse Exemplo: danseur danseuse
teur trice Exemplo: observateur observatrice
EXERCÍCIO
Tenta transformar o género dessas palavras
1 Un jeune champion
2 Un riche polonais
3. Un cousin lointain
4. Un couturier bavard
5. Un chien jaloux
6. Un employé positif
7. Un commerçant mystérieux
8. Un directeur orgueilleux
9. Un pharmacien habituel
10. Un acteur célèbre
Os segredos revelados neste
capítulo
. Evidentemente, se bergère em Folies Bergère tivesse sido um adjetivo ou
substantivo, teríamos bergères.
. Lembra que o francês é uma língua de exceções.

. Por exemplo, inférieur, supérieur, antérieur, postérieur, ultérieur e


meilleur, acrescentam apenas um e (inférieure, supérieure, antérieure,
postérieure, ultérieure e meilleure).
. Normalmente, os adjetivos mais comuns são irregulares como por
exemplo, doce (doux douce), falso (faux fausse).

. Há também dois adjetivos que têm duas formas diferentes no masculino (o


primeiro é standard, o outro usa-se quando a palavra começa por vogal o h
mudo). É a partir da segunda forma que se cria o adjetivo feminino. Sou
bonito (beau,
bel, belle), velho (vieux, vieil, vieille), louco (fou, fol, folle), mole (mou,
mol, molle) e novo (nouveau, nouvel, nouvelle).
. Há outra série de exceções, mas vou poupá-las na esperança de que tu
tenhas vontade para ires procurar no dicionário.
DIA 25. OS NÃO LUGARES
Os não lugares. Foi um francês que cunhou este neologismo. Sabias? Em
1922 o antropólogo Marc Augé começou a falar de non-lieux. Caso estejas
interessado, podes encontrar facilmente na internet explicações sobre isso.
Trata-se de espaços que, contrariamente aos espaços antropológicos, são
anónimos. São produtos da sociedade moderna que desempenham um papel
importante; têm uma finalidade muito especifica, mas são desprovidos de
qualquer “sentimento” em termos de relação que se cria entre os indivíduos
e estes mesmos espaços.
Conheces a sensação que as estações do chemin de fer (ʃәmɛ̃ də fɛʁ,
caminho de ferro), o metro, os hotéis, as áreas de serviço oferecem? Passam
comboios, carros com passageiros com uma história que não podemos
perceber. Tudo é tao asséptico, igual…Muitas vezes temos aquela sensação
de termos estado lá antes, de termos vivido experiências que se agarraram
às nossas memórias e, em parte, ao nosso coração. Lembramo-nos da
companhia ou da solidão, das pessoas que nos enriqueceram mesmo que
tenha sido por pouco tempo. Um encontro de negócios, um namorico, uma
relação amigável, necessidades ou urgências; por mil razões já vivemos
tudo isso.

Para reviver esses sentiments (sɑ̃timɑ̃, sensações) comecei a vaguear de


noite e de dia. Será que isso me ajudava a pensar? Quem sabe se vou ser
capaz de descrever o imenso espanto, o desejo de possuir e englobar um
lugar não lugar; essa presunção de me apoderar de um sítio que é de todos e
ao mesmo tempo de ninguém.

Quantas coisas já viu a alma da Gare du Nord? Quantas discussões


esmagadas por uma névoa quase “milanesa”? Quantos beijos ao frio ou no
ar sufocante do verão? Terá dito a sua opinião? Terá pensado: “Estou a
olhar para vocês. Quero ajudar-vos porque sou sábia e solida”? Quantas
coisas já passaram; quantas malas, corridas e atrasos? Quantas pessoas já
tiveram a sorte de se atrasarem para desfrutar dessa vista?

Lembro que uma vez tive um ataque de asma para conseguir apanhar uma
ligação. O mundo à minha volta ofuscou-se e desejei olhar-me de fora.
Bloquear as minhas pernas num movimento de rotação, parar a imagem nos
meus braços que balançavam para a frente e para trás, rever au ralenti as
narinas abrir e fechar lentamente para deixarem entrar nos pulmões esse
instante. Muitas vezes desejo inalar, encher o meu peito de experiências.
Paris consegue satisfazer essa minha vontade. Presta-se um pouco manhosa.
Entrega-se a todos como uma mulher de costumes fáceis (comparação que
mutuei da bohème francesa), um pouco esquiva e tímida. Tem segredos
enterrados na profundidade da sua história; tem encanto e, simplesmente,
tem a sua vida. Vive da sua própria vida. Quantas vezes nos filmes o
realizador abrandou o enquadramento dos transeuntes de uma estação cheia
de gente? Estás a ver esta imagem que se destaca à tua frente?

Apanhei a ligação. Sai do comboio e comecei a andar pelos túneis do metro.


De repente, a poesia acabou:

Salut! Tu es italienne!
Sono Filippo! On va boire un verre?

[saly! ty ɛ italjɛn!
… ɔ̃ va bwaʁ ɛ̃ vɛʁ]

(Olá! És italiana! Sono Filippo! Vamos beber um copo?)


Estava sozinha. Não tinha roupas com escritas em italiano. Pode ser que a
“italianidade” se leia na cara. Quanta probabilidade havia de acertar a
minha nacionalidade? Quanta probabilidade havia de notar o meu corpo no
meio daquelas pessoas todas? Provavelmente aquele homem andava à
minha procura.

Je veux t'embrasser.
Et il m'a embrassée.

[ʒә vø tɑ̃bʁase
e il ma ɑ̃bʁase]

(Quero beijar-te.
E beijou-me)
Parecia que já nos conhecíamos, mas ele não era italiano. Nunca o tinha
visto antes. Foi, penso eu, um dos acontecimentos mais irreais, talvez
surreais da minha vida. Depois deste parêntese aparentemente romântico,
evidentemente irónico e muito pouco conforme com o livro, quero falar-te
de algumas coisas. Não me vou debruçar sobre as reflexões relacionadas
com este acontecimento. Pensando bem o único comentário seria: é
demasiado absurdo.

EMBRASSER

A língua francesa é uma língua cheia de ambiguidades sobretudo em âmbito


sentimental (e sexual). Embrasser (ɑ̃bʁase) palavra relacionada com bras
(bʁa, braço) significa “abraçar”, mas também “beijar”. A diferença não é
subtil. Se a interpretares de forma errada, podes comprometer uma relação
social à jamais (a ʒamɛ, para sempre). Para evitares mal-entendidos, podes
usar a expressão serrer dans les bras (seʁe dɑ̃ le bʁa).

BAISER

Da mesma forma, baiser (beze, parece que signifique “beijar”. O


substantivo baiser, na verdade, significa “beijo”, mas normalmente diz-se
donner un baiser (dɔne ɛ̃ beze). Baiser significa também “fazer sexo”.
Attention, s’il te plaît ao que propões.

É um verbo que não se pode confundir com baisser (bese), que significa
baixar. A pronúncia do s é mais alongada e mais parecida com z.
Os segredos revelados neste
capítulo
. Cuidado com os encontros no metro e com o que propões.
. Gare du Nord tem um lugar especial na minha memória. Mais tarde vou
falar-te de outra aventura estranha.
. Este acontecimento mostra que os não lugares não existem.
. Cuidado com a pronúncia das palavras. Podes deixar entender uma coisa
que não desejas.
. Por razões de segurança, limitar-me-ia a dar atenções apenas aos meus
compatriotas. Teria pelo menos a certeza de que nos entendemos sem
ambiguidades.
. Nós italianos, mesmo sem querermos, chamamos a atenção.
DIA 26. A impolitesse
A má-educação.
Uma noite, visto que começámos a ficar aborrecidas no nosso pequeno
studio parisiense, decidimos ir até ao bairro de Saint-Michel. Fomos a
Trinité e para enganar o tempo mudámos de metro mil vezes. Passeámos
pela zona de Notre Dame de Lorette e entrámos num bistrot que ficava na
esquina do cruzamento. Fazia-nos companhia o simpático homenzinho
verde do semáforo que era um bocadinho mais magro do famoso
ampelmann berlinense. Pedimos um frappé aux fraises (fʁape o fʁɛz,
frappé com morangos) e um Martini branco. Explica-me porquê é só no
estrangeiro que põem a azeitona no Martini, mesmo que nos filmes e no
imaginário comum pareça ser uma coisa refinada. Podiam ter-me
perguntado se preferia o limão ou a laranja, mas eu pedi a azeitona. Que
tipo de finesse é que esta azeitona verde como um espargo chupado ia dar?
Na realidade deixa um pouco de couleur (kuloeʁ, cor, em francês é um
substantivo feminino) e o Martini parece-se mais uma poção magica do que
um refrigerante.
Com passos lentos e oscilantes fomos em direção ao nosso destino. Espera
aí. A amiga minha não se estava a sentir bem. Diz que preferia sentar-se por
um momento porque estava a sentir uma tontura. O meu espírito que não
estava muito habituado a este tipo de emergência levou-me a pensar que era
melhor pedir a alguém que a vigiasse enquanto eu ia buscar açúcar.
Estou na primeira fase. Tento falar com um sotaque parisiense, esforçando
todos os nervos e os tendões do meu corpo. “Madame… pardon”. Vejo
passar à minha frente dezenas de pessoas sem que ninguém se dignasse
sequer parar.
Queira ou não, decido que chegou o momento de abandonar a minha amiga
e de calcular e gastar o menor tempo possível para:
1) localizar um café;
2) entrar e pedir;
3) voltar ao sítio onde estava ela, na esperança de que ninguém a tivesse
raptado.
Na realidade vi que havia um café a alguns metros atrás de onde estávamos.
Entro e faço o pedido em inglês. Lembras-te quando te disse “não começar
uma conversação falando inglês”. Construo uma frase em franglais que soa
estranho para um italiano, um francês e tendencialmente para um inglês. O
empregado responde-me:
S’il vous plaît, répétez-le en français.
[sil vu plɛ, ʁepete-lə-lә ɑ̃ fʁɑ̃sɛ.]
(Por favor, repita em francês.)
Se usei o inglês é porque, provavelmente, queria compreender bem a
situação e não parecer uma parasita que entra num bar só para pedir açúcar
e não toma nada. Nem sequer os tradutores tomam o pequeno-almoço com
páginas de dicionários trilingues. Evidentemente, o bom vinho do jantar
que, talvez seja a única paixão enogastronómica partilhada pelos franceses,
italianos, portugueses …, não tinha dissolvido suficientemente o meu
poliglotismo hesitante. Então não soube dizer em francês “desmaiar”. Com
um sorriso forçado nos meus lábios secos pela corrida que tinha feito, vou
tentar:
Monsieur, s’il vous plaît, puis-je prendre un sachet de sucre parce que mon
amie va… est malade. Elle est tombée dans la rue!?
Oui, bien sûr, mademoiselle
[məsjø, sil vu plɛ, pɥi-ʒ pʁɑ̃dʁ ɛ̃ saʃɛ dә sykʁə parce que mon
amie va… ɛ malad. ɛl ɛ tɔ̃be dɑ̃ la ʁy!? wi, bjɛ̃ syʁ madmwazɛl]
(Senhor, permite-me tomar uma saqueta de açúcar porque a minha amiga
não se está a sentir bem. Caiu na rua!?)
Invento, agradeço e saio.
E assim abriu-se um mundo de reflexões. Naturalmente antes das reflexões
fui dar-lhe o açúcar e acalmei-a. Embora eu também me tenha acalmado,
este acontecimento tem continuado a corroer-me a alma por dias e até por
meses. Tentei ponderar os valores exibidos por certos franceses nessa
ocasião.
Depois fechei o bloco mentais dos apontamentos dos quais resultou uma
nova matéria para outras disciplinas. Algum tempo depois, ao contar aos
meus amigos o que tinha acontecido percebi que não ia ser capaz de lho
contar sem utilizar o particípio passado.
26.1. O Participio Passado
O que é o participe passé? Forma-se a partir do verbo e é frequentemente
utilizado como adjetivo. Neste último caso tem de concordar em género e
número com o substantivo que acompanha.
Se o auxiliar for être, o particípio passado vai concordar com o sujeito do
verbo.
Tomemos como exemplo a famosa frase Les jeux sont faits (le ʒø sɔ̃ fɛ).
Nesta expressão que significa literalmente “os jogos estão feitos” o
particípio passado concorda no plural com jogos que o sujeito da frase.
Se o auxiliar for avoir é outro cantar. O particípio passado concorda com o
complemento direto só se o mesmo preceder o verbo. Normalmente, isso
acontece se o complemento direto for um pronome ou se houver uma frase
relativa.
Por exemplo, em nous avons joué des jeux (nuz-avɔ̃ ʒwe de ʒø, jogámos
jogos) o complemento direto é des jeux e aparece depois do verbo, então
não vai haver nenhum acordo. Em la fleur que j’ai choisie (la floeʁ kə ʒe
ʃwazi, a flor que escolhi), o complemento direto é la fleur e precede o
verbo. Como já vimos no capítulo 24, fleur é um substantivo feminino e,
por isso, o particípio passado concorda no feminino acrescentando apenas
um -e de acordo com a formação do feminino.
Além das muitas exceções, o particípio passado é formado da seguinte
forma:
- nos verbos do primeiro grupo que terminam em -ER, acrescenta-se o é;
- nos verbos do segundo grupo que terminam em -IR acrescenta-se o i;
- no terceiro grupo que inclui todas as outras desinências, acrescenta-se u, s,
ou t.
Vou dar-te alguns exemplos. Têm verbo no infinitivo, pronuncia, tradução,
particípio passado masculino e particípio passado feminino.
AIMER (eme, amar) aimé, aimée
DÉCIDER (deside, decidir) décidé, décidée
VÉHICULER (veikyle, transportar) véhiculé, véhiculée
SALIR (saliʁ, sujar) sali, salie
RÉJOUIR (ʁeʒwiʁ, alegrar-se) réjoui, réjouie
CONCEVOIR (kɔ̃səvwaʁ, conceber) conçu, conçue
BOIRE (bwaʁ,beber) bu, bue
PEINDRE (pɛ̃dʁ, pintar) peint, peinte
ABSOUDRE (apsudʁ, absolver) absous, absoute
No capítulo 28 veremos mais detalhadamente a utilização do particípio
passado.
EXERCÍCIO
Vê se agora está tudo claro.

1) Tu es une personne ______ (distraire).


2) Ma grand-mère est ____ (asseoir) sur son fauteil.
3) Ta voiture est ______ (polir).
4) Les planchers sont _____ (laver).
5) Les filles sont ________ (endormir) dans leurs chambres.
Os segredos revelados neste
capítulo
. Nunca falar inglês aos franceses.
. Mesmo para uma simples bebida é melhor especificar os próprios gostos.
. Na minha lista de desejos, coloquei “caixa de primeiros socorros”.
. Tenta desenvolver a capacidade de criar perífrases.
. Porque nem sempre as palavras têm uma tradução certa.
. E, acima de tudo, uma mente francesa não pensa como a de um português.
DIA 27. LE MARCHÉ AUX
PUCES
A feira da ladra.
Paris, d’après moi (dapʁɛ mwa, na minha opinião), significa também
marché aux puces. É uma bela expressão derivada do francês e literalmente
importada por outras línguas. Não tem uma etimologia particularmente
convincente e nem sequer as suas origens são claras. Contém certamente
um conceito sugestivo para a maioria das pessoas. No entanto, as fontes
mais fiáveis dizem que as puces erano pulgas que infestavam as
quinquilharias e o vestuário de segunda mão en vente (ɑ̃ vɑ̃t, à venda) e, ça
va sans dire, os próprios comerciantes. Com o passar do tempo houve
maiores controlos e o niveau de vie aumentou acentuadamente. Ainda bem
que os comerciantes ficaram e as pulgas não. Contudo, não vou pôr as mãos
no fogo, apesar de me lembrar claramente de não ter tido surpresas
desagradáveis quando terminei os achats (aʃa, compras).
Na Ville Lumière os mercados principais são dois: o de Saint-Ouen (não
quero ser repetitiva, mas representa o cenário de um capítulo muito
divertido de Zazie) e o de la Porte de Vanves.
Por definição e de acordo com os nossos conhecimentos, podes imaginar
que se encontra um pouco de tudo: bijoux (biʒu, joias), bugigangas, alfaias,
vêtements (vɛtmɑ̃, roupas), até o que em Zazie é chamado surplus,
uniformes militares. Tem de se andar à procura de la bonne affaire (la bɔn
afɛʁ, a boa ocasião). De facto, o mercado é descrito como o paradis des
bonnes affaires. Tudo é de seconde main (dә sәɡɔ̃d mɛ̃, de segunda mão).
Brocanteurs de todo o mundo, unam-se!
Esta última expressão permite-me falar um pouco sobre o uso da palavra
“second/e” (o primeiro adjetivo é masculino, o segundo é feminino). O
número ordinal mais comum inerente ao número deux é deuxième. Second
(səɡɔ̃) é usado apenas quando depois não há nada. Por exemplo, para os
franceses mais otimistas a Segunda guerra mundial é a “Seconde guerre
mondiale”, o que exclui uma terceira guerra mundial. Se houver uma
terceira guerra mundial, a guerra deixará de se chamar segunda e voltará a
ser deuxième? Logicamente, sim.
Entre bric-à-brac (bʁikabʁak) e étals (etal, bancadas), bibelots (biblo,
bibelô) colocados numa posição díspar e futurista, encontram-se marchands
ambulants (maʁʃɑ̃ ɑ̃bylɑ̃, vendedores ambulantes) de todas as idades e
religiões que gritam o prix (pʁi, preço) mais baixo possível. Eles sabem
realmente competir. Todos os fins de semana, de manhã até ao início da
tarde são realizadas as feiras das ladras. Trata-te de estruturas organizadas,
não muito abusivas por isso podes encontrar informações também na
internet.
Salut!
Bonjour, mesdemoiselles, qu’est-ce que vous voulez?
Je voudrais acheter des lunettes.
Des lunettes de vue? Êtes-vous myope ou quoi?
Non, je viens juste de les acheter. Je cherche des lunettes de soleil.
Comment les preféréz-vous?
Hmm, je sais pas, qu’est-ce que vous me proposez? Je n’ai pas vu beaucoup
de lunettes de soleil ici.
Attendez.
Il s’en va.
Il retourne avec une valise bourrée de lunettes. Elle était pleine à craquer.
Voici, mademoiselle. Choisissez, s’il vous plaît.
Pardonnez-moi, monsier, en realité, je suis en train de chercher des pince-
nez.
Les pince-nez, c’est quoi?
Des verres ronds, étroits sur le nez, sans branches.
Ah bin oui, j’ai compris. Les voilà!
[saly!
bɔ̃ʒuːʁ, medmwazɛl, kɛ-s kә vu vule?
ʒә vudʁɛ aʃte de lynɛt.
de lynɛt dә vy? ɛt-vu mjɔp u kwa?
nɔ̃, ʒә vjɛ̃ ʒystә dә lez- aʃte. ʒә ʃɛʁʃə de lynɛt dә sɔlɛj.
kɔmɑ̃ le pʁәfeʁe-vu?
m, ʒә sɛ pa, kɛ-s kә vu mə pʁɔpoze? ʒә ne pa vy boku də lynɛt də sɔlɛj isi.
atɑ̃de.
il sɑ̃ va.
il ʁәtuʁn avɛk yn valiz buʁe dә lynɛt. ɛl etɛ plɛn a kʁake.
vwasi, madmwazɛl. ʃwazise, sil vu plɛ.
paʁdɔne-mwa, mɔ̃sje, ɑ̃ ʁealite, ʒә sɥiz-ɑ̃ tʁɛ̃ də ʃɛʁʃə de pɛ̃sne.
le pɛ̃sne, sɛ kwa?
de vɛʁ ʁɔ̃, etʁwa syʁ ləә ne, sɑ̃ bʁɑ̃ːʃ.
a bɛ̃ wi, ʒe kɔ̃pʁi. le vwala!]

Olá!
Bom dia meninas. O que desejam?
Gostaria de comprar óculos. Você é míope ou algo parecido?
Não. Acabei de os comprar. Estou à procura de óculos de sol.
Como é que os prefere?
Hmm, não sei, o que é que me sugere? Não tenho visto muitos óculos de sol
aqui.
Já volto.
Tem uma mala cheia de óculos. Estava cheia até rebentar.
Aqui está menina. Escolha, por favor.
Desculpe senhor, na realidade estou à procura dos pince-nez.
O que é que são os pince-nez?
Óculos redondos, estreitos no nariz, sem hastes.
Ah, já percebi. Aqui estão!

Têm este aspeto. Como nesta pintura de Konrad von Soest. Associamo-los
mentalmente aos ratos de biblioteca.

O vendedor mostra-me um par de pince-nez (a um preço impensável) de


segunda mão brilhantes e cintilantes como se fossem completamente novos.
Na verdade, não tinha muitas opções. Não conheço maison de moda que
produzam pince-nez. De qualquer forma, é claro que estes pince-nez não
serviam para mim. Ne t’inquiète pas (nə nɛ̃kjɛt pa, não te preocupes)!
Qual é a reflexão anexa e conexa?
Tenta pensar o que é necessário para descrever uma coisa qualquer. Não te
vem à cabeça nada?
Penso que são essenciais os pronomes relativos.
27.1. Les Pronoms Relatifs
Antes de mais, os pronomes relativos são variáveis e invariáveis,
têm forma simples e forma complexa. Por razoes de brevidade e
complexidade vou explicar-te apenas os simples que aliás são mais
utilizados.

Em francês são cinco e são os seguintes:


- QUE [kә]
- QUI [ki]
- QUOI [kwa]
- DONT [dɔ̃]
- OÙ [u] (tem acento, para não ser confundido com ou que se escreve sem
acento)
Où é o pronome relativo que se refere a lugares ou ao tempo. Em português
é traduzido como “onde” ou “em que”.
C’est l’école où je suis allée.
[sɛ lekɔl u ʒə sɥiz- ale.]
(Essa é a escola onde andei.)

C’est la période où les bureaux sont fermés.


[sɛ la peʁjɔd u le byʁo sɔ̃ fɛʁme.]
(Esse é o período em que os escritórios estão fechados.)
Dont traduz “de que” ou “cujo/cuja”.
Cette jolie armoire dont je t’ai parlè est à vendre.
[sɛt ʒɔli aʁmwaʁ dɔ̃ ʒә te paʁlɛ ɛ a vɑ̃ːdʁ.]
(Esse belo armário de que te falei está à venda)

Je mange avec la famille dont le nom est Chevy.


[ʒә mɑ̃ʒ avɛk la famij dɔ̃ lә nɔ̃ ɛ ʃəvi.]
(Como com a família cujo nome é Chevy.)

Qui e que que indicam respetivamente o sujeito e complemento direto


podem ser traduzidos como “que”.
Le chien qui aboie est très petit. C’est un chihuahua.
[lә ʃjɛ̃ ki abwa ɛ tʁɛ pəti. sɛt- ɛ̃ ʃiɥaɥa.]
(O cão que ladra é muito pequeno. É um chihuahua)

La femme qui est en train de chanter a 28 ans.


[la fam ki ɛ ɑ̃ tʁɛ̃ də ʃɑ̃te a vɛ̃t-ɥit ɑ̃.]
(A mulher que está a cantar tem 28 anos.)

Je dois laver les tapis que j’ai tâchés.


[ʒə dwa lave le tapi kә ʒe taʃe.]
(Tenho de lavar os tapetes que manchei.)

La voiture que tu vois la-bas est toute neuve.


[la vwatyʁ kә ty vwa laba ɛ tut noeːv.]
(O carro que vês ali é novo em folha)

Quoi refere-se apenas a coisas e é sempre precedido por preposições.


C’est ce à quoi j’ai pensé toute la journée.
[sɛ sə a kwa ʒe pɑ̃se tut la ʒuʁne.]
(É nisso que tenho estado a pensar todo o dia)

Trouvez avec quoi il est fait.


[tʁuve avɛk kwa il ɛ fɛ.]
(Descubra de que é feito.)
EXERCÍCIO
Agora tenta completar este. Em alternativa podes treinar mentalmente para
construir frases relativas para descrever qualquer objeto à tua volta.
1) Ma soeur prend la robe _____ est dans l’armoire.
2) C’est la place _________ je t’ai rencontré pour la première fois.
3) Je vais dîner chez la famille ____ la fille est ma copine.
4) On va réserver l’hôtel ______ il m’a parlé.
5) Elles ont cassé le vase ____ leur mère avait acheté.
Os segredos relevados neste
capítulo
. Visitar a feira da ladra traz necessariamente de volta o fascinante espírito
de antan.
. Quando estiveres no meio das bancas de bric-à-bric não tenhas medo de
perguntar. Diz-se: “quem procura sempre encontra” e pode ser que consigas
encontrar algo.
. Os marchés aux puces de Paris têm coisas baratas e o mercado de Camden
Town tem coisas vintage a um preço elevado.
. Os pronomes relativos servem para a comunicação, como o alfabeto serve
para as palavras.
. Os pronomes relativos podem ser simples ou compostos. Os primeiros são
invariáveis e os segundos fazem-nos desesperar.
. Geralmente os pronomes simples usam-se num registo médio-baixo, os
pronomes compostos em situações mais formais.
DIA 28. LA FÊTE
A festa.
“Danse, t'inquiète pas tu vas danser”, canta-nos o brilhante e original
Stromae. Em Paris há muitas festas, mas nem sempre se consegue ir. Estou
a lembrar-me daquela vez que decidi ir dançar numa discoteca na zona dos
Champs Elysées. Nada de especial. Foi uma noite que serviu apenas para
quebrar a rotina dos últimos dias. Depois daquela cena da étiquette no
Carrefour, aprendi que os parisienses são um povo de etiquetadores e
bilheteiros. Quando estava a consultar o site do lugar em questão, baixei no
meu telemóvel o cupão para a entrada. Eu e a minha colega de quarto
dirigimo-nos assim para a boîte (bwat, termo em argot para chamar a
discoteca). Afinal, o cupão estava errado e não conseguimos entrar.
Na verdade, hoje gostava de te falar de outra festa, nomeadamente da festa
que se celebra por ocasião da Tomada da Bastilha. É, certamente, uma das
festividades mais populares na França. Durante o dia há, em todos os cantos
da capital do Hexágono, desfiles militares. Mas a festa começa muito mais
cedo. Na noite do dia 13 com a abertura de todos os quartéis dos bombeiros
da cidade que se transformam num formigueiro dançante de fardas e roupas
sucintas.
Quando deixei a Itália não tinha previsto esta eventualidade, por isso, o meu
guarda-roupa não continha nada de elegante que eu podia exibir para a
ocasião. Afinal, eu e a minha amiga vestimos um vestido preto e um par de
saltos desconfortáveis e optámos pelo Quartel de Marais. Comemos um
crepe num bistrot sujo e depois esperemos numa fila imensa para entrar no
quartel. Música alta e bombeiros a dançarem de tronco nu. As únicas
coitadas da noite eramos nós. Logo que entrámos no quartel, aproximou-se
um homem com cabelo oleoso e uma camisa desabotoada que deixava
entrever um peito peludo e encaracolado. Era acompanhado por um amigo,
mas foi ele que falou:
Bonsoir, mesdemoiselles,
voulez-vous danser avec moi et mon ami?
[bɔ̃swaːʁ, medmwazɛl,
vule-vu dɑ̃se avɛk mwa e mɔ̃n- ami?]
(Boa noite meninas,
querem dançar comigo e com o meu amigo?)
Olhámos uma para a outra. Um tipo de olhar que basicamente servia para
compreender quem ia dançar com um e quem ia dançar com o outro.
Começámos a dançar. Apos meia hora de dança um deles decidiu falar.
- Vous venez d’òù?
- Nous sommes italiennes.
- Oulala, spaghetti, mafia, mandolino!
Eu respondo: “Vous avez oublié la pizza!”.
- Bien, donc, comprenez-vous le français?
- Bien sûr.
- Et donc, voulez-vous coucher avec moi, ce soir?
[vu vəne du? nu sɔm italjɛn. ulala, spaɡeti, mafja, mɑ̃dɔlino!
“vuz-ave ublije la pidza!”.] bjɛ̃, dɔ̃ːk, kɔ̃pʁәne-vu lә fʁɑ̃sɛ?
bjɛ̃ syːʁ e dɔ̃ːk, vule-vu kuʃe avɛk mwa, sə swaːʁ?
(De onde são? Somos italianas. Ullallà, spaghetti, mafia, mandolino!
Esqueceste-te da pizza! Então percebem o francês? Claro que sim. Querem
dormir comigo hoje à noite?)
A banda sonora de Lady Marmalade tocou na minha cabeça, enquanto eu
perguntava a mim própria, se ele teve mesmo a coragem de dizer isso sem
um mínimo de vergonha.
Para além das considerações linguísticas (a frase poderia também aparecer
“Voulez vous coucher avec moi sexual”. A última palavra não é colocada
em nenhum dicionário francês, pois, devia ser sexuel (sɛksɥɛl)) recuso uma
proposta que, afinal, não tem nada de impuro ou lascivo. Estava a propor-
nos apenas de fazer uma sexta. Dez minutos depois fez outro pedido.
Donc, préfériez-vous de la neige?
[dɔ̃ːk, pʁefeʁje-vu dəә la nɛːʒ?]
(Então, preferem a neve?)
Estava a tentar fazer alguma ligação mental que tivesse sentido. Ora bem,
eu e a minha amiga pensámos que depois dessa última proposta, tinha
chegado o momento para levantarmos a âncora e navegar até a paragem
mais próxima. Começámos a procurar os horários do noctilien, mas não
conseguimos. Um telemóvel não tinha bateria e no outro só havia cinco por
cento. Com um pouco de sorte conseguimos encontrar o caminho. O
autocarro chegou vinte e cinco minutos depois. Vinte e cinco minutos de
ansiedade e de espera. Quer dentro, quer fora estava muito feio. Às quatro
da manhã é difícil encontrar pessoas recomendáveis. Depois de termos feito
um tour turístico pela cidade – as linhas noturnas passam pelos subúrbios da
cidade como se houvesse uma nova lei de Murphy – chegámos à Gare du
Nord. E ali abriu-se um mundo de homens inquietantes e clochard. Paris é
tanto romântica quanto imunda (em francês não se diz laid, lɛ porque laid
quer dizer “feio”). Não me parece honesto ignorar este aspeto. Um homem
a vomitar e outro a urinar numa montra iluminada. Avançámos à grande
velocidade até chegarmos sãos e salvos à casa. Home sweet home.
O que aprendi com esta experiência? Dei-me conta disso no dia seguinte
quando recebi uma chamada da minha mãe no Skype e falei-lhe daquela
noite. Assim, voltamos ao tema do capítulo 26 ou seja, o particípio passado.
Se te esqueceste do que expliquei, revê-lo porque é propedêutico ao que
vou dizer agora.
O passé composé é formado pelo verbo auxiliar (ter ou ser) no presente do
indicativo + o particípio passado.
Conjugam-se com o verbo auxiliar être:
- os tempos na forma passiva;
- os verbos de movimento intransitivos como: arriver (aʁive, chegar),
monter (mɔ̃te, subir), sortir (sɔʁtiːʁ, sair) rester (ʁɛste, ficar), venir (vәniʁ,
vir) e também naître (nɛtʁ, nascer) e mourir (muʁiʁ, morrer);
- os verbos reflexivos.
Conjugam-se com o verbo auxiliar avoir:
- os verbos transitivos;
- os verbos ser e ter;
- os verbos impessoais.
O acordo do particípio passado dependerá da escolha do verbo auxiliar
porque como já te disse no capítulo 26, com o verbo ser o particípio
passado concorda com o sujeito da frase; com o verbo ter o particípio
concorda com o complemente direto só se este preceder o verbo.
Tomemos como exemplo o verbo tomber. Sendo este um verbo de
movimento, o passé composé constrói-se com o auxiliar ser:
Je suis tombé
Tu es tombé
Il est tombé
Nous sommes tombés
Vous êtes tombés
Ils sont tombés

Vejamos estas frases:


Elle est tombée amoureuse de son ami (Ela apaixonou-se pelo amigo seu) e
Elles sont tombées amoureuses de leur ami (Elas apaixonaram-se pelo
amigo seu). Os sujeitos são femininos e visto que com o verbo être no passé
composé o particípio passado deve concordar com o sujeito, a concordância
da primeira frase é no feminino e a concordância da segunda frase é no
feminino plural. Usamos o verbo tomber porque “apaixonar-se” em francês
é “tomber amoureux” como fall in love em inglês.
Vejamos um exemplo com o verbo auxiliar avoir:
J’ai bu une boisson
[ʒe by yn bwasɔ̃]
(Tomei uma bebida)

La boisson que j’ai bue


[la bwasɔ̃ kә ʒe by]
(A bebida que tomei.
Visto que o complemento direto (boisson) precede o verbo, o particípio
passado concorda com o mesmo.
Há seis verbos que têm dois significados diferentes quando usados com
“ser”ou “ter”:
-Descendre [desɑ̃dʁ]. Com o verbo auxiliar ser significa “descer”, com o
verbo auxiliar ter “levar para baixo”
- Monter [mɔ̃te]. Com o verbo auxiliar ser “subir”, com ter “levar para
cima”.
- Passer [pase]. A mesma diferença que há em português: “passei pelo
supermercado” e “passei o exame”.
- Rentrer [ʁɑ̃tʁe]. Com o verbo auxiliar ser significa “regressar”, com o
verbo auxiliar ter “guardar”.
- Retourner [ʁәtuʁne]. Com o verbo auxiliar ser “regrassar”, com o verbo
auxiliar ter “revirar”.
- Sortir [sɔʁtiʁ]. Com o verbo auxiliar ser “sair”, com o verbo auxiliar ter
“trazer para fora”.
EXERCÍCIO
Agora tenta completar este:
1. Je/J’__________________ (repasser) ma robe jaune.
2. Ils ____________________ (partir) à la montagne.
3. Il ________________ (rencontrer) ses amis de l’école.
4. Je _____________ (chercher) la clef que tu _______ (perdre).
5. Ma mère ________________ (venir) chez mon bureau.
6. Il ____________ (habiter) dans une maison où tous les
hommes _______ (tuer) une femme.
7. Elle _________________ (étudier) toute la journée.
8. Nous _____________ (vendre) des légumes dans la rue.
9. Tu t’_________ (asseoir) à ma place.
10. Elles __________ (devenir) antipathiques.
Os segredos revelados neste
capítulo
. Os particípios passados concordam em género e número com o sujeito da
frase.
. Existem verbos que podem ser conjugados quer com o auxiliar ter, quer
com o auxiliar ser.
. Os franceses têm uma estranha conceição dos verbos “nascer” e “morrer”.
São considerados verbos de movimento como se se “entrasse” e se “saísse”
da vida. Conceito quase poético, não é?
. Cuidado com a escolha do verbo auxiliar.
. Cuidado com a festa dos bombeiros. Sim à diversão, não às loucuras.
. Também na França dão alcunhas às drogas.
DIA 29. A FRANCOPHONIE E O
FRANGLAIS
Como deve saber o francês é uma das línguas mais faladas no mundo. As
estatísticas que, à mon avis (a mɔ̃n- avi, na minha opinião) não são muito
confiáveis, dizem que em termos de número de falantes o chines domina.
Se olharmos para o espanhol, inglês e francês nota-se que o francês é falado
em 29 países como língua oficial. Nas colónias, nas ex-colónias e nas
organizações internacionais, o francês tem um papel de comunicação
interlinguística. As suas origens (d’oil e d’oc) levaram à difusão de poemas
cavalheirescos na Idade Média como a Chanson de Roland por volta dos
meados do século XI. É, por isso, que eu acho que o francês tem de ser
considerado uma língua ilustre como o latim e o florentino de Dante
Alighieri. Uma difusão e globalização linguística devida ao espírito
conquistador das dinastias franceses e talvez à doce sonoridade das antigas
variantes que bem se prestam à narração das gestes.
Não, não quero fazer demasiados elogios. Isto serve-me apenas para te
lembrar que a aprendizagem do francês te trará muitos benefícios.
Acabemos com as conservas. A realidade é que conhecer o francês abre as
portas do planeta inteiro e te permite débrouiller (tə débrouille, desenrascar)
numa boa percentagem de países. É uma questão puramente pratica em que
as probabilidades – das quais não sou certamente uma especialista- jogam a
teu favor.
As variantes linguísticas são um assunto bastante estranho que não tem
muito a ver com este livro. Também para mim foi estranho até o meu
momento em que a minha professora de linguística obrigou-me a estudar
um manual. Foi assim que descobri que em italiano existem muitas
variantes para uma palavra só.
Por uns instantes, senti-me privada de qualquer point de rèpere linguístico.
Não é preciso ir longe. Abre-se um outro mundo de palavras e culturas,
feitas de influências e empréstimos linguísticos que nos mostram que as
línguas não são completamente separadas.
Isto é o que os tradutores tentam mitigar quando têm de trabalhar com a
“localização”, termo que está em contraposição com os grandes
acontecimentos do século passado. A primeira e a segunda globalização
implicaram a quebra das fronteiras mentais e culturais, tal como aconteceu
com o tratado de Roma de 1957. No entanto, muitas coisas retêm um gosto
acentuado pelo exótico do seculo dezoito e dezanove.
Para compreender o significado de variante é necessário saber primeiro o
que é uma língua standard. Não é apenas uma questão de prestígio, tem a
ver com o facto de nomear bem as coisas. Existe o francês, dialetos,
sotaques, regionalismos e o argot. As diferenças incluem as locuções, as
frases feitas e constroem a identidade nacional de um país ou de uma
região.
Optei por te mostrar algumas expressões típicas de certos países
francófonos. É um assunto muito amplo que, naturalmente, não pode ser
tratado adequadamente nestas poucas páginas. Nem pretendo ter os
conhecimentos necessários para fazer uma digressão sociolinguística por
isso, receio que tenhas de te contentar com estas referências na esperança
que possam despertar a tua curiosidade.
A primeira expressão que te mostro é um ditado do Québec, “Avoir la face
comme un oeuf de dinde” (avwaʁ la faz kɔm ɛ̃n- oef dә dɛ̃d) que
literalmente significa “ter o rosto como um ovo de peru”. Quando me
deparei pela primeira vez com esta frase é evidente que me perguntei como
era um ovo de peru e não hesitei em abrir Google para descobrir a origem
do ditado. A frase corresponde à expressão francesa “être boutonneux”. O
adjetivo vem de bouton (butɔ̃) que significa “botão”, mas também
“furúnculo”. Depois de ter descoberto que este ovo está salpicado, a minha
curiosidade foi satisfeita e toda a expressão fazia sentido. Para mim é
reconfortante quando, linguisticamente falando, tudo se encaixa.
“Les chiens ne font pas des chats” (le ʃjɛ̃ nә fɔ̃ pa de ʃa) é uma expressão
francesa qui literalmente significa “os cães não fazem os gatos” que pode
ser traduzida para o português com “tal pai tal filho”.
Uma vez vi um desenho animado engraçado que representava um pacote de
leite e um limão acompanhado pela expressão de Haiti “être comme lait et
citron” (ɛtʁә kɔm lɛ e sitʁɔ̃, ser como leite e limão) e é evidente que se
trataria de uma explosão de acidez. De facto, significa “estar sempre a
discutir”.
Um verbo senegalês que eu acho muito engraçado é “camembérer”. Tenho a
sensação de que a expressão vem do queijo Camembert, mas talvez seja
apenas uma impressão minha. Seja como for, significa “os pés cheiram
mal”. Pensa tu noutras ligações.
Há muitas expressões como essas e são mesmas essas expressões que dão
cor e vivacidade à língua. Para a Académie française o franglais vai ser
muito “divertido”. Mas, na realidade, a língua existe, espalha-se, corrói
longas tradições linguísticas e potencialmente destrói a literatura passada e
futura. Ao aprender uma língua, por favor, não escolhas o caminho mais
fácil. Neste caso, saber o inglês significa matar dois coelhos duma cajadada,
mas não ias falar o verdadeiro francês. É um dado adquirido que as línguas
evoluem. Faz parte da natureza das coisas. É apenas uma questão de avaliar
se vale a pena ou não de fugir disso.
Os segredos revelados neste
capítulo
. Não há nada de errado na variante substandard. “Sub”não significa
inferior.
. Lembra que para cada pai francófono haverá uma miríade de expressões
novas para aprender. Acho que vou precisar de uma vida inteira para
satisfazer a minha curiosidade. Que achas?
. É evidente que os franceses ou francófonos têm tato. É tão elegante a frase
“tens a cara como um ovo de peru”. Poderia quase pensar que é um elogio
em vez de me ver como um adolescente acnoso.
. Falamos italiano, português, inglês, francês, poucos mélange a não ser que
tenham fins didáticos.
. Esta é a beleza dos nossos tempos: poucas barreiras, tanta comunicação,
mil novos mundos para descobrir através também de novos idiomas.
DIA 30. FAUX AMIS E FAMÍLIAS
FALSAS
Se eu disser “falsos amigo” o que é que te vem à cabeça? Apesar de tudo,
eles também nos formaram, assim como as desilusões que recebemos dos
nossos ex-amigos, os que deixámos para trás porque nos magoaram com
atitudes ambíguas, subterfúgios e meias frases. Quantas pessoas já tiveram
a oportunidade de não viver estas experiências?
Emoções da adolescência ou de uma idade já madura; todos nós temos em
comum um passado de alegrias e tristezas. Apresento-te os “falsos amigos”,
aquele Janus de duas caras que nos atormenta não só espiritualmente, mas
também gramaticalmente. Na minha opinião, a regra de ouro é:
DESCONFIAR.
Etimologicamente perfeitas, estas palavras tiveram uma história perturbada
por causa de empréstimos e estrangeirismos que os levou a assumir
significados diferentes daqueles que a nossa mente lhe associaria por
instinto. Temos de ter medo não só dos amigos, mas também dos parentes.
Há os “falsos cunhados” que nos perturbam menos dos amigos já que de
diferentes etimologias em ambas a língua deriva uma palavra semelhante.
Por exemplo:
- Appointements (apwɛ̃tmɑ̃): significa “salário”; encontro é rendez-vous
(ʁɑ̃de-vu).
- Attacher (ataʃe): significa “ligar” ou “anexar”; atacar é attacher (ataʃe).
- Atteindre (atɛ̃dʁ): significa “alcançar”; atender ou aguardar é attendre
(atɑ̃dʁ). Há pouca diferença e depende da pronúncia do ditongo.
- Déjeuner (deʒoene): significa “almocar”; jejuar é jeûner (ʒøne).
- Depuis (dəpɥi): significa “desde” e não “depois”; depois é après (apʁɛ) ou
ensuite (ɑ̃sɥit).
- Firme (fiʁm): significa “empresa”; firma é signature (siɲatyʁ).
- Lèpre (lɛpʁ): significa “lepra”; lebre é lièvre (ljɛvʁ).
Estes são apenas alguns exemplos, mas há muitos faux amis. Se os
conheceres, evitarás de fazer más figuras.
Os segredos revelados neste
capítulo
. Na realidade é uma vantagem que o português e o francês sejam muito
relacionadas, sendo ambas línguas neolatinas ou românicas.
. Quem encontrar um “verdadeiro amigo”, encontra uma tradução imediata.
. Se quiseres comprar uma lèpre, podes ser retido por terrorismo
bacteriológico.
. Existem os prós: o uso indevido de falsos amigos cria sempre situações
divertidas.
SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS
Capítulo 3
1. Toi; 2. Nous; 3. L’ (Le); 4. Les; 5. Il

Capítulo 8
1. Est-ce que tu comprends le français ?
2. Est-ce que tu aimes aller au cinéma ?
3. Est-ce qu’il aime voyager ?
4. Est-ce qu’elle chante dans un groupe de rock ?
5. Quand est-ce qu’ils vont à la plage ?
6. Où est-ce que vous achetez la viande ?
7. Combien est-ce que tu dors ?
8. Comment est-ce que tu vas au bureau ?

Capítulo 11
1. Michelle et moi jouons à la corde à sauter.
2. Tu n'arrêtes pas de pleurer.
3. Elle aime le café au lait le matin.
4. Nous commençons à faire du sport.
5. Les enfants mangent des bonbons.
6. Les examinateurs interrogent les étudiants un à un.
7. Je veux que tu sortes le chien chaque soir.
8. Nous pouvons nous rencontrer dans la salle des fêtes.
9. Vous devez terminer ce travail avant de sortir.
10. Voulez-vous des légumes et des fruits ?

Capítulo 12
1. Demain, je vais chez le coiffeur, j’en ai besoin.
2. David, veux-tu venir au marché avec moi ?
3. L'enfant est sur le tapis.
4. La salade est dans le saladier.
5. Ils sont devant la palissade.
6. Ne te cache pas derrière ton frère.
7. Si tu passes par champs, tu vas salir tes chaussures !
8. Vous pourrez aller jouer dans le jardin.
9. Je te conseille de ne pas passer par cette rue.
10. Il roule jusqu’à l’Espagne.

Capítulo 15
1. Je joue au football depuis 7 ans.
2. Paul aime beaucoup le gâteau au chocolat.
3. Le départ de l’avion est prévu à 17 heures.
4. J'ai vu un beau film à la télé.
5. Je suis au bureau.
6. Il téléphone aux clients.
7. Ils habitent aux Pays-Bas.
8. Monique étudie à l’université.
9. David va à la gare.
10. Elles parlent aux médecins.

Capítulo 18
1.Tu as soif As-tu soif ?
2. Ressemblez-vous à vos parents ?
3. Est-elle rentrée tôt ?
4. Le film commence-t-il à 17 h ?
5. Les filles aiment-elles les chiens ?
6. Veux-tu acheter cette maison ?
7. Ont-ils loué une nouvelle voiture ?
8. Ne peuvent-elles pas partir ce weekend ?
9. Mes parents n’ont-ils pas étudié à l’université ?
10. Ma tante et mon oncle ont-ils deux enfants ?

1. Qu’est-ce que les enfants aiment ?


2. Maman est sortie avec qui?
3. À qui les fleurs sont-elles ?
4. Quand est-ce que le train part ?
5. Qui est-ce qui coupe les cheveux ?

Capítulo 19
1. L’arbre n’a plus de feuilles
2. Maman n’aime pas les bonbons
3. Je ne bois ni lait ni café le matin
4. Elle ne va plus à l’école
5. Personne est là

Capítulo 20
1. Demain, je vais aller à l’école en bus.
2. Maintenant, je suis en train d’écouter de la musique.
3. Caroline vient de parler au téléphone.
4. Demain, je vais promener mon chien.
5. Le professeur vient de lire l’exercice.

Capítulo 21
1.Tu vas tomber malade: tu manges peu de légumes.
2. Les gens pauvres ont peu d’argent.
3. Nicole a trop d’amis. Je ne me souviens pas de leurs noms.
4. Les étudiants ont toujours beaucoup de devoirs.
5. Stop, arrête-toi! J’en ai assez!
6. Paul est trop sympa.
7. Vous parlez beaucoup de vos amours?
8. Nous avançons pas à pas, très prudemment.

Capítulo 23
1. Un splendide château Des splendides châteaux
2. Un cheveu court Des cheveux courts
3. Un hibou joyau Des hiboux joyaux
4. Un tapis gris Des tapis gris
5. Un beau garçon Des beaux garçons
6. Un restaurant ouvert Des restaurants ouverts
7. Un coffre-fort résistant Des coffres-forts résistants
8. Un porte-monnaie large Des porte-monnaie larges
9. Une plate-bande fleurie Des plates-bandes
10. Un couteau pointu Des couteaux pointus

Capítulo 24
1. Un jeune champion Une jeune championne
2. Un riche polonais Une riche polonaise
3. Un cousin lointain Une cousine lointaine
4. Un couturier bavard Une couturière bavarde
5. Un chien jaloux Une chienne jalouse
6. Un employé positif Une employée positive
7. Un commerçant mystérieux Une commerçante mystérieuse
8. Un directeur orgueilleux Une directrice oregueilleuse
9. Un pharmacien habituel Une pharmacienne habituelle
10. Un acteur célèbre Une actrice célèbre

Capítulo 26
1. Tu es une personne distraite.
2. Ma grand-mère est assise sur son fauteil.
3. Ta voiture est polie.
4. Les planchers sont lavés.
5. Les filles sont endormies dans leurs chambres.
Capítulo 27
1. Ma soeur prend la robe qui est dans l’armoire.
2. C’est la place où je t’ai rencontré pour la première fois.
3. Je vais dîner chez la famille dont la fille est ma copine.
4. On va réserver l’hôtel dont il m’a parlé.
5. Elles ont cassé le vase que leur mère avait acheté.

Capítulo 28
1. J’ai repassé ma robe jaune.
2. Ils sont partis à la montagne.
3. Il a rencontré ses amis de l’école.
4. Je ai cherché la clef que tu as perdue.
5. Ma mère est venue chez mon bureau.
6. Il a habité dans une maison où tous les hommes ont tué une
femme.
7. Elle a étudié toute la journée.
8. Nous avons vendu des légumes dans la rue.
9. Tu t’es assis à ma place.
10. Elles sont devenues antipathiques.
CONCLUSÕES
O que é que vais fazer quando fores para França? O que é que vais visitar?
Sentir-te-ás mas tranquilo visto que falas um pouco de francês? Quando eu
parti para a antiga Gália ainda não sabia que teria preferido ir vaguear junto
a uma verdadeira parisiense como se fosse uma turista. Quando o primeiro
domingo do mês fui ao Louvre, que é um lugar super atrativo graças às
intrigas do Código Da Vinci e à famosíssima Monna Lisa, refleti muito. O
fascínio das portas do metro foi maior do desejo de esperar na fila
interminável da entrada ao museu. Sabe-se que o Louve é lindo, caro e
muito popular. Fui-me embora sem arrependimentos.
Penso que este deveria ser o emblema das minhas viagens. Aconteça o que
acontecer. Para mim, o importante é saborear. Não pretendo que também
para ti seja assim, nem presumo que gostes de viajar e que seja errado criar
mapas detalhadas das atrações e das cidades. Mas, para mim, o mais
importante é vaguear, medir ao comprimento e à largura os passeios
estrangeiros à beira da Sena, os boulevards, levantar os olhos e ver novos
edifícios. Ter encontros surreais. Praticar a língua, mas acima de tudo
praticar os meus conhecimentos. A cada palavra ligamos uma emoção e a
cada emoção uma memória. Portanto, espero que para ti seja também assim.
E espero também que tenha conseguido fazer-te saborear um pouco da
fragrância francesa.
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