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FARO
L
Sumário
Agradecimentos 415
P.S. Você vai notar que alguns dos contos não parecem nem
soam "norte-americanos". Por quê? Porque seus autores não
o são. Para mim, faz sentido manter as coisas em sua
linguagem "natural", inclusive o estilo e a grafia. Além disso,
assim é mais divertido.
NOTA DA AUTORA
Tal como Célia, fiz meu début na sociedade em 1969. Foi
idéia de minha mãe, e eu não curti muito a coisa, à exceção
do meu vestido, cuja barra tinha pétalas de organdi branco.
A experiência toda pareceu meio irreal, como se estivesse
ocorrendo num universo paralelo àquele em que eu ia à
escola e assistia à Guerra do Vietnã sendo travada na tevê
toda noite. Então, achei que poderia ser interessante levar
essa sensação de irrealidade mais adiante, para dentro de
uma Nova York mágica que eu sempre sinto à minha volta
quando ando pelo Village, pelo Central Park ou pela New
York Public Library.
Megan Whalen Turner
O bebê no caixa de depósitos noturnos
NOTA DA AUTORA
Às vezes a idéia para um conto se desenrola sozinha na
minha cabeça e tudo o que preciso fazer é segui-la do
começo, passando pelo meio até chegar ao fim. A ideia para
"O bebê no caixa de depósitos noturnos" surgiu do nada,
como uma semente, e ficou guardada por dez anos, até que
finalmente se tornou uma história.
Sherwood Smith
Beleza
Devia haver uma lei dizendo que as princesas têm de ser belas.
Quero dizer: de que servem os magos e suas artes se não conse guem
fazer um feitiço para corrigir os erros da natureza?
Nota da Autora
Embora esta história se sustente sozinha, ela foi escrita para
todos os leitores do meu livro Crown Duel que me
perguntaram: "Como são os filhos de Meliara e Shevraeth?" e
"O que aconteceu com Flauvic?"
Nancy Springer
Mariposa
Nota da Autora
Todos nós temos momentos em que desmoronamos e
precisamos "lembrar" quem somos para poder nos manter
íntegros. Na minha própria vida, uma coisa da infância que
esqueci e só fui me lembrar quarenta anos depois foi quão
importante é passar as tardes de verão na companhia dos
peixes-sol. Se eu fosse poeta, talvez conseguisse explicar
como é um lago de água fresca com peixinhos-sol se
insinuando atrás das sombras como sonhos visíveis, porém
intangíveis... Ah, bem. Talvez um dia eu me lembre de
como ser poeta, mas, por enquanto, estou mais para palhaça.
Por isso escrevi este conto.
Lloyd Alexander
Max Mondriseh
Nota do Autor:
Este conto sobre Max Mondrosch é diferente de tudo que já
escrevi antes ou depois, e é o mais sombrio. Um pesadelo
cômico? Uma comédia em forma de pesadelo? De qualquer
modo, é fantasia. Max não é um típico herói da fantasia. No
entanto, aqui está ele: eternamente ansioso, resoluto, dando
o melhor de si. O heroísmo do dia-a-dia.
Pintores, assim como escritores, sempre tiveram um
impacto na minha ecologia emocional, principalmente Goya
e suas gravuras. Reconheço sombras dessas imagens
perturbadoras no meu trabalho atual. Contudo, há algo de
bom nos pesadelos: acordamos deles, e quem sabe mais
fortes do que quando fomos dormir.
Meredith Ann Pierce
A Queda de Ys
Nota da Autora
Para mim, o momento seminal na fantasmagórica mitologia
celta da queda de Ys é quando o rei Gralon, fugindo da
destruição da cidade, joga a filha na água para que ela se
afogue. Ao fazê-lo, ele se salva, pois o peso carregado por seu
cavalo é aliviado, e ele consegue escapar das águas agitadas
que lhe tomaram o reino e o levaram à ruína.
Nas várias versões que li dessa memorável lenda bretã —
Margaret Hodges reconta uma muito boa em The Other
World: Myths of the Celts —, Gralon é sempre caracterizado
como um herói, uma figura trágica amaldiçoada pelo destino,
que faz um sacrifício nobre.
Sempre nos pedem para acreditar que a motivação dele para o
assassinato é que, no exato instante em que seu cavalo de
batalha, montado por duas pessoas, está prestes a ser
derrubado, ele, como que por milagre, intui que sua amada
filha na verdade é um monstro desumano, um ser
sobrenatural responsável pela inundação e pela morte de
diversas pessoas da cidade. A queda de Ys seria culpa dela.
Nunca engoli essa história. Um homem mata a filha e depois
alega que ela merecia. Que era nada mais nada menos que um
demônio. Todas as evidências de seus supostos crimes haviam,
obviamente, sido destruídas com a cidade. Foi mera
coincidência o fato de a morte dela ter resultado na
sobrevivência do pai. Conveniente demais para o meu gosto.
Portanto, comecei a revirar a história na minha cabeça,
perguntando-me: e se a versão de Gralon não tivesse sido da
forma como aconteceu? E se seu álibi egoísta não tivesse sido
aceito? E se forças sobrenaturais realmente tivessem agido,
mas a serviço da justiça, da inocência e da verdade? E se tudo
tivesse acontecido de outra forma?
Sim, eu acho que as almas de Ys ainda assombram o litoral da
Britânia e os sinos fantasmas ainda tocam, mas eles contam
uma história bem diferente daquela que nos foi relatada a
respeito do que aconteceu ali há muitos anos e do que causou
a queda de Ys.
Michael Cadnum
Medusa
Nota do Autor:
Quando garoto, perto do rio Santa Ana, no sul da Califórnia,
e u costumava passar por uma estranha formação rochosa —
uma ribanceira de arenito que parecia um elefante lutando
para escapar da beira do penhasco. Sabia que não era um
animal de verdade, mas, à medida que as chuvas de inverno
iam e vinham com os anos, o formato de elefante se atenuou
— modificando-se e escapando, por fim. Alguma parte de
mim ficou atraída pela visão daquele ser vivo paralisado na
pedra — completamente transformado em xisto vivo —,
enquanto ele desaparecia aos poucos.
Muitas vezes, somos pouco mais que pedras — criaturas de
hábitos empedrados, impassíveis e sem coração. Porém de
vez em quando algo maravilhoso — um poema ou uma
canção, um sorriso ou o cumprimento de alguém que passa
por nós
— nos toca, e mais uma vez escapamos para a vida. Por que
não dar tal esperança à Medusa, um ser vivo condenado a
permanecer eternamente sem amor? Na minha versão desta
história mitológica, tive de lembrar a mim mesmo que
talvez Medusa não tivesse sido sempre uma criatura terrível
e que mesmo um monstro pode arrebatar a esperança de
uma deusa tão sábia e com tamanha crença na vida como a
Atena de olhos cinzentos.
A Raposa Negra
Nota da Autora
Amo música folclórica desde a 3 a série, especialmente as
baladas antigas e as histórias que elas narram. Há alguns
anos, Charles Vess recrutou alguns amigos escritores - eu
estou entre eles - para ajudarem-no a transformar algumas
dessas baladas antigas em histórias em quadrinhos.
Eu havia aprendido esta balada, "A raposa negra", numa
gravação feita por uma dupla folclórica chamada The Pratie
Heads. Ela me fez pensar nas religiões pré-cristãs da Europa,
dos tempos em que um caçador podia encontrar criaturas
com cornos que mudavam de forma e ver não o diabo, mas,
sim, Cernunnos, o deus dos caçadores. Não havia o crédito
do autor da letra, mas as palavras tinham aquele
maravilhoso sentimento que todas as boas antigas baladas
possuem - de terem sido buriladas durante séculos até
chegarem à sua essência. Então pensei que suas origens
estariam perdidas nas brumas do tempo.
Graças à internet, descobri o contrário. Que "A raposa
negra" foi escrita pelo compositor de Shefíield, Graham
Pratt, com base no fragmento de um conto folclórico de
Yorkshire encontrado no Dicionário de contos
folclóricos britânicos, de Katharine Briggs. Sua canção é
a prova de que a tradição das baladas continua viva e ainda é
uma inspiração para escritores, artistas e músicos em toda
parte.
Mais informações sobre Graham e Eileen Pratt e suas
gravações estão disponíveis em:
www.folkmusic.net/grahamandeileenpratt/pratgr_set.htm.
Nota do Ilustrador
Tenho ouvido baladas inglesas, escocesas e irlandesas por
muitos e muitos anos. Mas foi só quando percebi que
poderia desenhar as narrativas que há nessas canções e,
assim, participar da tradição centenária de divulgar essas
histórias por meio da cultura popular que teve início o que
viria a se tornar uma obsessão para toda a vida. Com a ajuda
de diversos escritores (Jane Yolen, Charles de Lint, Neil
Gaiman, Sharyn McGrumb etc.), já adaptei bem mais de
uma centena de páginas desse material e em breve vou
reuni-los em uma edição em capa dura.
Patrícia A. McKillip
Byndley
Nota da Autora
Eu estava tentando escrever um romance quando "Byndley"
surgiu. Algumas histórias são assim. Você acha que está
criando um dragão e no final você obtém uma borboleta. A
ideia da Terra das Fadas me fascina por se tratar de uma
daquelas coisas, como as sereias e os dragões, que não
existem de verdade, mas que todo mundo conhece. A Terra
das Fadas só existe aos olhos de quem a vê — e que, em
geral, é o criador de fantasias. Então o que há de bom nessa
terra encantada e instável, que em alguns contos não faz
nada bem aos humanos e, em outros, é a terra da paz e do
verão eterno, onde todo mundo quer viver? Talvez seja só
um lampejo dos nossos desejos mais profundos e dos nossos
maiores medos, dos limites mais distantes da nossa
imaginação. Visitamos a Terra das Fadas porque podemos;
voltamos ao mundo real porque precisamos. O que vemos lá
se transforma nas nossas histórias.
Kara Dalkey
Nota da Autora
"A Dama do Jardim de Gelo" é a minha visão da famosa
história "A Rainha da Neve", de Hans Christian Andersen.
Estudiosos da história de Andersen já disseram que "A
Rainha da Neve" trata do fim da infância e do começo da
indiferença da idade adulta. Declaram que Andersen estava
censurando o modo como a inocência de olhos arregalados e
a franqueza das crianças se perdem quando elas abraçam as
atitudes sedutoras, mas frias, dos adultos.
A centelha para que eu escrevesse minha própria versão de
"A Rainha da Neve" aconteceu enquanto eu ministrava um
curso sobre escrita de literatura fantástica no Western State
College, em Gunnison, Colorado. Eu explicava à turma
como é possível pegar uma história antiga e adaptar ou o
mesmo enredo a novos lemas ou os mesmos temas a um
novo cenário. Na época, meu livro mais recente era
Genpei, fantasia histórica que se passava no final da era
Heian, período em que a cultura pacífica, artística e
aristocrática estava sendo substituída pelas guerras civis e
pela cultura dos guerreiros samurais que viria no período
Kamakura.
Pesquisando sobre essa época, fiquei chocada ao descobrir
que garotos muito jovens, com 12, 14 anos, deveriam
acompanhar os pais e tios nas batalhas, até para participar
das matanças, e que isso era um rito de passagem para a fase
adulta. O caminho dos samurais é aceitar a morte e
considerar-se morto, para que a morte não seja temida
durante a vida e, na hora em que chegar, não seja uma
surpresa. Parecia-me bastante estranho esperar que as
crianças da época lutassem para alcançar a frieza dos
adultos. A ressonância com a temática de "A Rainha da
Neve" de repente parecia ser bem mais adequada do que o
próprio Andersen poderia ter imaginado.
Outros escritores, especialmente Kelly Link, com sua histó-
ria "Viagens com a Rainha da Neve", lidam com temáticas
feministas que viram no conto de Andersen. Afinal de
contas, é um garoto quem vai embora e uma garota quem
vai atrás dele, perguntando por quê. Em virtude da
transição, no final da era Heian, de uma cultura artística
mais "feminina" para uma cultura masculina de guerreiros
samurais, essa referência à guerra dos sexos também entrou
na minha versão.
As melhores narrativas são aquelas que transcendem épocas
e culturas, aquelas que têm significados e transcedem eras
depois de terem sido escritas — ainda que os novos
significados encontrados sejam bem diferentes daqueles
desejados pelo autor original. Espero que "A Dama do
Jardim de Gelo" possa ser vista como uma homenagem à
obra de Hans Christian Andersen, um dos melhores
contadores de histórias de todos os tempos.
Garth Nix
O Baú da Esperança
Elizabeth E. Wein
Perseguindo o Vento
"Por favor, entregue à Dra. Alden o bilhete anexo, escrito por mim,
dizendo-lhe quanto gostei de seu irmão. Ele falou muito sobre ela,
sempre coisas boas (Sally só reclama de quanto ela é rígida!). Eu
gostaria de conhecê-la um dia; talvez a senhora possa nos
apresentar quando eu voltar para casa?
Desculpe-me por fazê-la de mensageira, mas me esqueci de pedir ao
Capitão Alden o endereço dela.
Chegar até aqui foi muito mais assustador do que permanecer aqui.
Acho que algum tipo de guerra civil não está muito longe de
começar, mas me sinto segura. Vejo vocês em setembro.
Sua amiga, Martha."
Ela começou a segunda carta. Esta seria bem mais difícil. Mas
mesmo que não funcionasse, ainda haveria Sally, a mãe de
Sally e a exposição de flores da Filadélfia. O raio de Martha
acabaria por deixar sua marca. Os raios se movem mais rápido
que o vento.
"Cara Dra. Alden..."
Nota da Autora
Minha idéia inicial para este conto era localizá-lo no universo
semi-histórico da Etiópia do século VI. Ele seria sobre a
infância isolada do rei de Himyar, e talvez sobre dragões.
Depois de seis páginas, parei de escrever. A folha seguinte do
meu caderno está rabiscada com as palavras: "Não, não, não.
Na verdade, eu quero escrever um conto sobre AVIÕES."
"Perseguindo o vento" foi o resultado. Os personagens do
conto são inteiramente ficcionais, assim como a interação
deles e suas confusões emocionais. Fiz alguns ajustes nos
lugares reais e nos acontecimentos pelo bem da ficção. Porém
todos os incidentes da jornada de Martha pelo Quênia em um
avião monomotor são baseados nas minhas próprias
experiências como passageira e nas vivências de meu marido
como piloto. Não aconteceu tudo durante o mesmo vôo, mas
tudo aconteceu de fato, desde ter gatos como passageiros
extras até o louco passeio em meio à escuridão para a ilha de
Manda a fim de amarrar o avião.
Orville e Wilbur Wright fizeram o primeiro grande voo
motorizado com uma aeronave de asas fixas e mais pesada que
o ar no dia 17 de dezembro de 1903. Meu conto se passa em
1950, mas os vôos descritos nele se parecem muito mais com
o tipo de vôo que vivenciamos em 2003 do que com o que os
irmãos Wright vivenciavam em 1903. Isso é simplesmente
incrível para mim. Em 1933, Charles e Anne Lindbergh
passaram meses solitários explorando as possíveis rotas da
travessia do Oceano Atlântico; vinte e cinco anos depois,
aviões transportavam mais passageiros em viagens
transatlânticas do que navios a vapor. Como tanta coisa pode
ter mudado tão rápido? Eu acho que as viagens aéreas são a
inovação mais fantástica do século XX.
Este conto é minha pequena homenagem ao centésimo
aniversário daquele "primeiro vôo".
Diana Wynne Jones
Manchinha
Nota da Autora
Esse conto começou, como era de se esperar, com a nossa
gata, Dorabella, que tem várias cores e personalidade forte.
Assim que chegou, ainda um filhote minúsculo, ela
revolucionou nossa vida. Ela nos põe na cama toda noite e nos
acorda de manhã. E, assim como a Manchinha do conto, seu
maior talento é desaparecer. Quando quer, ela consegue
sumir no meio de uma sala vazia.
Um dia, a escritora Greer Gilman veio nos vistar e me contou
a respeito de uma amiga dela de Yorkshire que patrulha o
esgoto da área, colecionando gatos que as pessoas tentaram
afogar. A tal amiga tem uma tribo inteira de felinos, todos
com histórias infelizes.
E outra amiga me relatou a história do Sr. Williams original,
que estava sendo tratado com tanta falta de consideração que
uma tia dela simplesmente levou o gato embora.
Juntei todas essas coisas e o conto mais ou menos se fez
sozinho.
Nancy Farmer
Lembre-se de Mim
Nota da Autora
Quando criança, eu era viciada em contos de fadas. Li
milhares de histórias sobre elfos, bruxas, animais falantes e
crianças substituídas por outras por obra de fadas. É provável
que as mais tristes tenham sido as das crianças trocadas. Elas
sofriam não pelo mal que tinham feito, mas pelo que eram:
bebês feios que as fadas colocavam no lugar de bebês bonitos.
Percebi logo cedo que essas histórias falavam de crianças com
deficiências. Os adultos tentaram explicar a existência desses
seres incomuns colocando a culpa em outra pessoa. Mas
naquelas histórias também havia a crença de que essas
crianças trocadas pertenciam a algum outro lugar. Portanto,
escrevi um conto sobre esse outro lugar onde as crianças
trocadas são bem-vindas e nós somos os seres anormais.
Destroços
Nota da Autora
"Destroços" é um fragmento de uma obra maior. Há muito
tempo que venho contando a mim mesma histórias sobre
Papoula e seus pais no mundo em que eles nasceram. Há
dragões, princesas perdidas, seres que mudam de forma,
campos e cidades tomados por magia negra e pedaços da
terra das fadas em outras partes da história, mas eu sabia que
em algum ponto Papoula acabaria na Terra, e eu adoro
histórias de estrangeiros que chegam aqui de alguma forma,
como eles veem a nossa cultura e como resolvem lidar com
ela.
Gosto muito de Becky, e me pergunto como esse contato
com magia vai mudar sua vida.
Laurel Winter
A Mulher Voadora
Agradecimentos