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As razões de uma derrota - Midway

O relato do Comandante Fuchida sobre as


primeiras levas de ataque a Midway e a fraca
oposição das aeronaves baseadas em terra :

A 4 de julho, às 3 horas da madrugada, fui


acordado pelo barulho dos motores. Levantei-
me, mas custava-me a agüentar sobre as
pernas. O Akagi preparava-se para lançar os
seus aviões sobre Midway.

Incapaz de resistir ao desejo de assistir a


partida, deslizei para fora da enfermaria. Toda a
tripulação ocupava já seus postos de combate.
Os aparelhos que iam constituir a primeira onda
de ataque estavam alinhados sobre a coberta,
com os motores ligados. O Capitão-de-Fragata
Masuda, que comandava a aviação do Akagi,
dirigia os últimos preparativos.

Os meus camaradas mostravam-se preocupados


comigo, ao me verem abandonar a enfermaria
no estado em que me encontrava. "Impossível
ficar lá dentro - respondi - enquanto escuto o
barulho dos motores." Examinei o céu. O tempo
estava mau, mas não impedia o vôo. O mar, em
troca, estava tranqüilo.

- A que horas nasce o sol? - perguntei ao


tenente Furukawa.
- Às cinco horas, comandante.
- Já foram enviados aviões de
reconhecimento?
- Ainda não, partirão ao mesmo tempo que o
primeiro grupo de ataque.
- Farão, portanto, o reconhecimento na altura da
largada para o ataque?
- Sim, comandante, como de costume.
- E que reconhecimentos foram previstos?

Furukawa conduziu-me diante do mapa.

- Haverá sete, entre o sul e o leste, centrado


sobre Midway. Utilizamos um avião do Akagi,
um do Kaga, dois hidroaviões do Tone, outros
dois do Chikuma e um último do Haruna. O raio
de ação será de quinhentos quilômetros para
todos, exceto para o aparelho do Haruna, que é
do modelo 95, e só pode percorrer metade desta
distância.

Eu teria preferido realizar o reconhecimento em


duas fases. Um só reconhecimento era
suficiente para confirmar a não existência de
qualquer força inimiga nas proximidades. Mas,
se o resultado deixasse qualquer dúvida, seria
necessário um segundo reconhecimento para
descobrir a posição exata do inimigo e permitir-
nos tomar a iniciativa do ataque.

Mas o Almirante Nagumo desejava empregar


todos os meios disponíveis na operação contra
Midway e só o indispensável nas explorações
preliminares, embora tivesse sido advertido.
Como não desconfiava da presença de forças
inimigas naquelas paragens, calculou ser
suficiente um simples reconhecimento.

Os aviões, a que se encomendou esta missão,


partiram do Akagi e do Kaga às 4h 30min, ao
mesmo tempo que a primeira onda de ataque
contra Midway.

O tempo estava ideal para o ataque: brisa de


sudeste e calmaria no mar. Quarenta minutos
antes de nascer o sol, os alto-falantes gritaram:
"Aviadores, para a formatura!" Os pilotos
precipitaram-se até a sala de operações, sob a
ponte. Demasiado cansado para os seguir,
fiquei no posto de controle. Daí a pouco tempo,
vi os homens correndo para os aviões. O
comandante de aviação voltou para o meu lado
e principiou a dar ordens:

- Preparem-se para a decolagem! Liguem os


motores. Capitão, coloque a proa contra o
vento, com velocidade relativa de 14 metros por
segundo.

Jorraram chamas dos tubos de escape e a


ponte encheu-se de ruídos. Era um inferno.

- Tudo pronto para a decolagem, capitão! -


avisou o comandante da aviação.

O Akagi navegava agora de proa ao vento e


aumentara sua velocidade. Quando o anômetro
indiciou que a velocidade era conveniente, deu-
se a ordem para a decolagem. O comandante da
aviação traçou um grande círculo no ar, com
uma lanterna verde.

Um caça Zero deslizou com o motor a toda a


força sobre a coberta e elevou-se, saudado por
uma vibrante aclamação da tripulação do Akagi,
que agitava loucamente bonés e braços. Outros
oito Zeros o seguiram, depois coube a vez aos
bombardeiros de mergulho, cada um dos quais
transportava uma bomba de 250 Kg.

No espaço de um quarto de hora, 108 aparelhos


decolaram dos quatro porta-aviões: o Akagi, o
Kaga, o Soryu e o Hiryu. Descreveram um
grande círculo por cima da esquadra e puseram-
se em formação, subindo quatro mil metros;
depois rumaram para sudeste, às 4h 45min.

Alguns marinheiros, arrumando o material,


circulavam pela coberta de vôo do Akagi, tão
ruidosa momentos antes, e na qual reinava
agora o silêncio. Mas os alto-falantes não
tardaram rompê-lo, gritando: "Preparem a saída
do segundo grupo!"

Depressa apareceram novos aparelhos, trazidos


para cima pelos elevadores; foram postos em
posição de decolagem. Marinheiros colocavam
os torpedos sob as fuselagens. Toda a gente
trabalhava febrilmente. Não havia tempo a
perder, pois viam-se já os primeiros clarões da
madrugada.

Aproximadamente a 240 Km dos seus objetivos,


os aparelhos do primeiro grupo foram avistados
por um hidroavião inimigo, que passou
despercebido e os seguiu até menos de 50 Km
da ilha. Aí, tomando altura, lançou um foguete
luminoso para dar sinal de alarme à aviação de
caça, que estava, aliás, de sobreaviso.

Entre as 6h 45min e 7h 10min, travaram-se


encarniçados combates aéreos, mas a
superioridade de manobras do Zero acabou por
se impor. Os caças norte-americanos não
conseguiram impedir o primeiro ataque contra
Midway.

Apesar disso, esta operação não produziu os


resultados que se esperavam. O inimigo
avisado, pôs no ar todos os seus aviões, uns
para atacarem o assaltante, outros para evitar
que fossem bombardeados em terra. Tomonaga,
que comandava este primeiro grupo, destruiu
facilmente os hangares, estrago de bem pouca
importância; mas não dispunha de aparelhos
suficientes para inutilizar por completo o campo
de aviação. Sabia perfeitamente que o objetivo
principal do reide era neutralizar a aviação de
Midway. Como se tornava evidente que esse
objetivo não fôra alcançado, decidiu realizar um
novo ataque para destruir as instalações e base
inimigas. Voltou, pois, até o ponto de partida,
assinalando previamente: "Necessário segundo
ataque: Hora 0700."

As nossas baixas foram insignificantes. As


baterias antiaéreas derrubaram três
bombardeiros de grande altitude e um de
mergulho, Só dois caças não regressaram.

A bordo do Akagi, depois da largada da primeira


vaga, esperávamos ansiosamente as notícias. A
mensagem do Tenente Tomonaga, reclamando
um segundo ataque sobre Midway, fez
compreender que a aviação norte-americana
não fôra destruída.

Às 7h 15min soou o alarme. Consegui


aproximar-me o suficiente da vigia para
verificar que o dia estava bom, com um teto de
nuvens a uns 1.800 m; abaixo delas a
visibilidade era excelente. Um dos destróieres
que tínhamos à proa, içou de repente uma
bandeira: "Aviões inimigos à vista!"

- Seis aviões procedentes de terra, a vinte graus


a estibordo no horizonte. Aproximam-se! - gritou
um vigia.

Os cruzadores abriram fogo, logo depois os


destróieres. E logo o couraçado Kirishima, a
estibordo do Akagi, disparou sua artilharia
principal. Os atacantes continuaram a avançar
sobre nós, voando muito baixo, a rasar a água,
rodeados pela fumaça dos projéteis ao explodir.
Por sua vez, o Akagi disparou. Três aviões Zero,
desafiando nossa própria cortina de fogo,
caíram então sobre os americanos.

O ataque foi repelido. Daqueles aviões todos,


que tinham decolado de Midway transportando
torpedos, sem escolta, às 6h 15min, só um TBF
e dois B-26 regressaram a ilha, segundo o
comunicado norte-americano. Todos soltamos
um suspiro de alívio.

O Almirante Nagumo não precisava de mais


provas para se convencer da necessidade de
bombardear novamente Midway. Em
conseqüência, às 7h 15min, mal terminado o
ataque, ordenou que fossem preparados para o
bombardeio os aparelhos do segundo grupo,
mantidos até então em situação de alerta. Para
isto era indispensável trocar os torpedos por
bombas nos bombardeiros do Akagi e do Kaga.
Os que já se encontravam na coberta de vôo
foram de novo baixados ao hangar, um por um,
trabalhando-se febrilmente para realizar a
mudança.

O alívio não durou muito tempo, porém. Às 8


horas foi assinalada a presença de aviões que
atacavam o Hiryu. Vimos esguichos d´água
jorrarem a volta deste porta-aviões e, pouco
depois, outros idênticos surgiram ao redor do
Soryu. Não se divisou entretanto qualquer
fumaça negra, indicando que tivessem acertado
no alvo. Os dois continuaram a sua rota,
aparentemente incólumes.
Nesse momento, todos os Zeros do segundo
grupo se elevaram no espaço, para aumentar os
efetivos da patrulha de combate. Às 8h 5min,
um vigia anunciou a chegada de um grupo de
aviões pequenos que procediam de Midway. Os
destróieres abriram fogo sobre eles.
Perguntávamos a nós próprios o que pretendiam
fazer, pois voavam excessivamente alto para
atacar com torpedos e demasiado baixo para
atacar em vôo picado. Eram 16, muito dispersos
e dirigiam-se para o Hiryu. Uns dez Zeros
precipitaram-se sobre eles e derrubaram
rapidamente metade. Impressionou-me que os
nossos adversários não tivessem empregado,
naquela circunstância, a sua técnica de ataque
em vôo picado que costuma ser tão eficaz.

Encontrei a explicação nos comunicados norte-


americanos. Tratava-se de 16 bombardeiros do
Marine Corps que haviam decolado de Midway
uma hora antes. O comandante sabia que seus
pilotos não estavam treinados no ataque de vôo
picado; ao avistar os porta-aviões japoneses
recorreu, por isso, à única tática de ataque que
lhe era possível adotar.

Sofremos, pois, todos os gêneros de ataques:


com torpedos, com bombardeiros de grande
altitude e de mergulho, sem termos registrado
qualquer dano. Tirei a conclusão de que os
aviadores inimigos não davam prova de grande
habilidade e esta também foi a opinião do
Almirante Nagumo e do seu Estado-Maior.
Deduzimos que uma ofensiva deste tipo não era
muito de temer, o que, paradoxalmente, iria
contribuir, de maneira considerável, para a
nossa derrota posterior.
Naqueles instantes, a nossa formação era
incorreta. Deveríamos ter nos reagrupado; mas
o regresso de Tomonaga impunha uma tarefa
mais urgente. Tínhamos, não obstante, nessa
altura, pilotos tão bem treinados que, para eles,
era uma brincadeira de crianças pousar sobre a
coberta durante o combate. Um quarto de hora
depois do porta-aviões se colocar com a proa
para o vento, todos os seus aparelhos estavam
de novo a bordo. Passava pouco das 9h quando
os quatro porta-aviões terminaram o
reembarque.

Quase uma hora antes do regresso de


Tomonaga produziu-se, entretanto, um
acontecimento que mudou por completo a
situação. Um dos nossos aviões enviou esta
mensagem:

"À popa, grupo inimigo, acompanhado pelo que


parece ser um porta-aviões."

A notícia nos eletrizou. Era essencial, segundo


resolveu o Almirante Nagumo, atacar este grupo
antes de efetuar um novo bombardeio sobre
Midway. Mas tal operação esbarrava em
numerosos obstáculos, pois todos os Zeros do
segundo grupo tinham decolado para reforçar a
patrulha de caça destacada contra os aviões de
Midway. Na realidade, apenas os 36
bombardeiros de mergulho do Hiryu e do Soryu
estavam prontos para serem lançados contra os
navios do inimigo. O dilema se tornava difícil de
resolver. Se Nagumo enviasse os bombardeiros,
não podia dar-lhes uma escolta de caças e
expunha-se a graves perdas. Por outro lado, que
fazer dos aviões torpedeiros já alinhados nas
cobertas do Akagi e do Kaga e armados com
bombas de 800 quilos?

Segundo a opinião de Nagumo, o envio de


bombardeiros sem escolta implicava riscos
enormes. Era mais prudente recolher primeiro
os aviões que regressavam de Midway e os
caças de patrulha de combate, reorganizar logo
depois as forças e fazer um deslocamento para
o norte, subtraindo desse modo a nossa
esquadra a novos ataques aéreos. Uma vez
terminados estes preparativos, daria meia volta
e se lançaria ao ataque da esquadra inimiga,
com todos os meios de combate ao seu dispor.

O raciocínio tinha lógica. A esquadra de


Nagumo estava distribuída e parecia possuir
grande superioridade. Seria assim fácil destruir
o adversário, ao lançar-se em um ataque
maciço. Isto era exato, mas não contava com o
fator tempo. Num combate, a vitória não
corresponde sempre ao mais forte, mas também
ao que atua mais rapidamente e com a audácia
necessária à resolução de qualquer conjuntura
imprevista.

Nos quatro porta-aviões da esquadra de


Nagumo (que já se dirigia para o norte)
trabalhava-se febrilmente na preparação da
força de ataque. Esta devia ser composta por 36
bombardeiros de mergulho e 54 aviões
torpedeiros. Foi impossível escoltá-la
adequadamente porque os ataques inimigos não
tardaram a repetir-se; limitou-se a escolta a
doze aviões Zero. Estes 102 aparelhos deviam
estar preparados para decolar às 10h 30min.

Logo que o avião do Tone assinalou a presença


de um porta-aviões, esperamos o ataque de um
momento para o outro e até nos admiramos que
demorassem tanto. Depois de finda a guerra,
soubemos que o adversário aguardava a
ocasião mais favorável, pois os hidroaviões de
Midway mantinham-no perfeitamente a par de
nossos movimentos. O Almirante Spruance
calculava que essa oportunidade se
apresentaria quando regressassem os
aparelhos que bombardeavam a ilha. E esperou
pacientemente. A caça estava a descoberto e o
caçador dispunha de todas as vantagens.

Entre 7h 2min e 9h 2min, os norte-americanos


lançaram sobre nós 131 bombardeiros de
mergulho e aviões torpedeiros.

Os atacantes chegavam por ambos os lados,


voando em fila, em vôo rasante sobre a água;
estavam a menos de 8 Km e pareciam dirigir-se
para o Akagi. Tive a impressão que não
poderíamos escapar aos seus torpedos. Mas já
os nossos caças os metralhavam, pois também
eles não traziam escolta. Acompanhamos com
paixão os dramáticos combates, lançando
aclamações cada vez que um avião americano
era derrubado.

Dos 14 aviões inimigos que se apresentaram por


boreste, 7 foram destruídos e dos 12 de
bombordo, não ficaram mais que 5. O Akagi
abriu fogo sobre eles.

Os restantes conseguiram colocar-se em


posição de tiro e vigiamos com ansiedade o
instante em que os torpedos caíram na água.
Surpreendeu-nos que não tivessem atirado
nenhum contra nós.

Entretanto, 7 aviões inimigos lançaram suas


bombas sobre o Hiryu, 5 por boreste e 2 por
bombordo. Os nossos caças os perseguiram o
mais distante possível. O Hiryu girou
completamente sobre boreste, para evitar as
bombas. Ao verificarmos que não se dava
nenhuma explosão, todos respiramos fundo.

Este brilhante êxito foi devido aos pilotos dos


caças de nosso navio-capitânia, cuja audácia e
habilidade admiramos. Também nos
impressionou, porém, a valentia dos pilotos
americanos que, mesmo em face das suas
baixas, não retrocediam. Sempre que os Zeros
esgotavam suas munições, pousavam sobre a
coberta para reabastecerem. Os homens de
serviço aclamavam os pilotos, davam-lhes
palmadas nas costas e diziam-lhes palavras de
estímulo. Quando um avião voltava a estar
pronto (pouco precisaram de gasolina) o piloto
fazia um aceno com a cabeça, acelerava e
decolava de novo. A cena repetia-se
indefinidamente enquanto a luta continuava.

No intervalo, os preparativos prosseguiam. Os


elevadores traziam os aparelhos para a coberta,
onde eram gradualmente alinhados. Às 10h
20min, o Almirante Nagumo ordenou que
partissem para o ataque o mais depressa
possível. Na coberta do Akagi, os motores
aqueciam. Dentro de cinco minutos, os
aparelhos decolariam. Cinco minutos! Quem
teria podido pensar que a sorte da batalha ia
ser jogada neste breve lapso de tempo?

A visibilidade era boa. Contudo, as nuvens


tornavam-se mais espessas próximo dos 1.000
metros e, apesar dos intervalos descobertos,
ofereciam boa proteção para os atacantes. Às
10h 24min, a ponte de comando ordenou a
decolagem. O primeiro Zero ganhou velocidade,
atirou-se na direção da proa. Neste mesmo
instante, um vigia gritou:

- Bombardeiros, mergulhando!
Ergui o olhar e avistei três aparelhos inimigos
que se arremessavam contra o nosso navio. A
silhueta do Dauntless aumentou rapidamente e,
de súbito, alguns objetos negros desprenderam-
se das asas. Bombas! Caíam em linha reta sobre
mim! Instintivamente, deitei-me de barriga para
baixo. Varreu-me uma lufada de ar quente. Fez-
se um estranho silêncio. Levantei-me e olhei
para o céu. Os aviões já tinham desaparecido.

Não haviam encontrado oposição, pois os


nossos caças, ocupados até então em repelir o
ataque dos torpedeiros, não conseguiram
recuperar altura a tempo. Pode-se portanto
dizer que o êxito dos bombardeiros norte-
americanos deve-se ao sacrifício dos seus
camaradas dos torpedeiros. Fôramos
surpreendidos nas piores condições possíveis:
com a coberta atulhada de aparelhos (incluindo
as suas correspondentes bombas e torpedos) e
os depósitos cheios de gasolina.

Fiquei horrorizado ao ver as destruições


causadas em tão pouco tempo. Havia um
grande buraco na coberta de decolagem e
precisamente por detrás do elevador central.

- A coberta - gritou Masuda - Abriguem-se todos


que não têm missões a cumprir!

Como eu não podia ser útil, desci cambaleando


por uma escada e fui dar à sala de operações,
que estava cheia de homens com queimaduras.
Tornei a subir à ponte e vi então grandes
colunas de fumaça negra que se elevavam do
Kaga e do Soryu, igualmente atingidos, horrível
espetáculo.

O Akagi estava fora de combate; e como, além


disso, perdera todos os meios de comunicação
com o exterior, o Contra-Almirante Kusaka,
chefe do Estado-Maior, declarou ser necessário
transferir, sem perda de tempo, a insígnia de
comando para o cruzador ligeiro Nagara.

O Capitão-de-Fragata Nishibayashi, ajudante de


ordens do almirante, chegou naquele
momento.

- Todas as passagens estão pegando fogo, lá


embaixo - disse ele a Kusaka - Há só uma forma
de sair daqui: descer ao longo de um cabo, pela
proa da ponte de comando, e depois tentar
alcançar a câmara da popa. O bote vindo do
Nagara atracará a bombordo. Os senhores
poderão embarcar utilizando uma escada.

- Fuchida - disse-me o comandante da aviação -


não podemos continuar aqui. É melhor que você
desça, antes que seja tarde demais.

Mas, no meu estado, a descida não se tornava


fácil. Ajudado por alguns marinheiros, consegui
sair da ponte e deixei-me deslizar ao longo do
cabo que principiava a fumegar. Encontrava-me
ainda a três metros acima da coberta de
decolagem. A escada de ligação estava rubro
vivo, assim como a chapa sobre a qual me
sustentava. Não tinha outra alternativa senão
saltar, e assim fiz. Nesse instante, a onda
expansiva de outra explosão no hangar atirou-
me sobre a coberta, felizmente para um lugar
onde as chamas ainda não atingiam; em razão
do choque perdi os sentidos durante algum
tempo. Quando voltei a mim, tentei, em vão, me
levantar: tinha fraturado os tornozelos.

Às 11h 30min, a transferência do Estado-Maior e


dos feridos terminara. O cruzador pôs-se de
novo em marcha, com o pavilhão do Almirante
Nagumo tremulando no mastro.

A 5 de junho, às 3h 50min, Yamamoto enviou a


ordem de torpedear os restos do Akagi.

No Soryu, terceira vítima dos bombardeiros, os


estragos foram consideráveis. No momento do
ataque, os grupos que trabalhavam na coberta
preparavam a decolagem dos aviões.

Em três minutos, três bombas acertaram-lhe em


cheio: a primeira rebentou a coberta diante do
elevador da proa; as outras duas caíram ao
redor do elevador central, devastando a coberta
e incendiando depósitos de combustível e
munições. Às 10h 30min, o barco convertera-se
em um inferno de fumaça e chamas, onde as
explosões se sucediam ininterruptamente.
Não tardaram, entretanto, a verificar que o
capitão do navio, Yanagimoto, permanecera na
ponte de comando. Comandante algum era tão
admirado como ele, em toda a frota. Gozava de
tal popularidade que, quando se anunciavam
palavras suas dirigidas à tripulação, os
marinheiros se reuniam com uma hora de
antecedência para garantir lugares nas
primeiras filas. Portanto, nada tem de estranho
o fato de quererem salvá-lo a todo o custo.

O primeiro contramestre, Abé, campeão de luta


na marinha, foi encarregado de ir buscar o
capitão e trazê-lo pela força, se necessário. Ao
subir à ponte do Soryu, Abé viu o Capitão
Yanagimoto, imóvel, com o sabre na mão e os
olhos cravados na proa. Abé avançou.

- Capitão - disse - venho da parte de sua


tripulação para o conduzir a um lugar seguro.
Esperam-no. Faça o favor de me acompanhar
até o destróier.

Como não obtivesse qualquer resposta, avançou


de novo, com a intenção de agarrar o capitão
pela cintura e levá-lo. Mas Yanagimoto voltou-
se então para ele. O seu rosto mostrava tal
determinação que o contramestre parou e,
depois, com lágrimas nos olhos, retirou-se. No
momento que deixava a ponte, ouviu o capitão
cantar o Kimigayo, o hino nacional.

Às 19h 30min, o Soryu mergulhou no seu túmulo


líquido, arrastando para a morte 728 homens,
entre os quais o seu capitão, aos 30º 38' de
latitude norte e 179º 13' de longitude oeste.

Nenhuma das testemunhas que assistiram ao


seu desaparecimento perceberam o menor sinal
de presença de submarino, nem viram qualquer
rastro de torpedo. Antes do barco afundar,
produziram-se explosões; mas provinham
indiscutivelmente das munições de bordo. Os
arquivos americanos atribuíram ao submarino
Nautilus a honra de haver assestado o golpe de
misericórdia no Soryu. Erro evidente, por que,
como vimos, os torpedos não contribuíram para
a destruição do Soryu.

Se bem que a derrota agora fosse provável,


devíamos continuar a luta enquanto
dispuséssemos de recursos ofensivos. O Contra-
Almirante Sunumu Kimura, chefe da 10ª
Esquadra de Destróieres, recebeu ordens de
ficar junto ao porta-aviões à deriva, com o
Nagara e seis de suas unidades, já que o
cruzador tinha a missão de recolher o Almirante
Nagumo e seu Estado-Maior. O resto da
esquadra - centrada ao redor do Hiryu -
prosseguiu a sua rota na direção norte. Mas
quando, por sua vez, o Hiryu foi posto fora de
combate, os oficiais de Nagumo
compreenderam que a batalha estava perdida e
que a única coisa importante era evitar novas
destruições. Mas, como cada qual sentia a
responsabilidade da decisão a tomar, ninguém
propunha a retirada.

A situação, contudo, era clara. As nossas forças


aéreas haviam sido aniquiladas, o inimigo
contava ainda, pelo menos, com um porta-
aviões intacto. Não tínhamos inutilizado os
aeródromos de Midway e os nossos navios
permaneciam dentro do raio de ação da aviação
inimiga com base em terra firme. O resultado
fatal já não oferecia qualquer dúvida. Nagumo
compreendeu-o e resolveu retirar-se para salvar
as forças que lhe restavam. Os destróieres
receberam ordem de regresso.

A esquadra rumou para noroeste. O Hiryu, a


arder, tentou seguí-la durante algum tempo,
mas logo se atrasou. Os destróieres Kasagumo
e Yugumo ficaram junto dele.

Em Tóquio, o Alto-Comando do Estado-Maior


seguira o desenrolar da batalha com
inquietação crescente. Ao tomar conhecimento
de que o Hiryu sofrera a mesma sorte do Akagi
e do Soryu, compreendeu que a operação
finalizara em uma derrota.

Perdêramos os nossos quatro melhores porta-


aviões. A aviação de Midway não fora
aniquilada. O inimigo possuía ainda, pelo menos
um, possivelmente dois porta-aviões incólumes.
Em vista disso, os estrategistas de Tóquio
decidiram que seria loucura continuar a
operação.

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