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‘Homens de ferro em navios de madeira’ – Parte 1


Por Alexandre Galante 17 de maio de 2010  2324  29

Alexandre Galante

Entre os dias 10 e 12 de maio de 2010, o Poder Naval visitou a Força de Minagem e Varredura (ForMinVar) da
Marinha do Brasil, sediada na Base Naval de Aratu, Salvador-BA.

Nossa visita teve como objetivo conhecer de perto o trabalho desta unidade de elite da Marinha, responsável por
manter os portos e vias marítimas brasileiras livres da ameaça de minas submarinas.

As minas, consideradas o meio mais barato de negação do uso do mar, podem ser adquiridas praticamente por
qualquer nação ou grupo armado, podendo ser lançadas por embarcações e aeronaves. Por isso é mister que o
Brasil, como nação marítima, que depende do mar para sua sobrevivência, tenha capacidade de se contrapor a
esse tipo de ameaça.

A mina naval pode ser classificada como arma de emprego estratégico, primordialmente. Porém, pode também
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ser empregada com objetivos táticos.

Como exemplos estratégicos, temos os campos de proteção de Defesa de Porto, os campos ofensivos da Operação
Starvation contra o Japão na Segunda Guerra e as barragens no Mar do Norte, nas duas Guerras Mundiais.
Na 1a. Guerra Mundial, os alemães tentaram limitar a liberdade de ação da Grand Fleet britânica, através do
plantio de campos minados no Mar do Norte, com o lançamento de 43.000 minas. Apesar do estrago causados
pelas minas, os ingleses conseguiram evitar o bloqueio, com o emprego de 700 navios varredores.

Como exemplos táticos, temos as minas derivantes na Guerra do Paraguai, o lançamento de minas derivantes
para cobrir a retirada de forças ou o lançamento de minas para evitar um desembarque, como em Wonsan, na
Coreia.

Na Guerra da Coreia, 3.000 minas de modelo soviético do princípio do século XX, em sua maioria lançadas por
juncos norte-coreanos e chineses em Wonsan, barraram o desembarque de uma divisão de Marines.

Foi feito um esforço formidável para a abertura de canais varridos, sendo varridas 228 minas em 15 dias, com
grande impacto moral e prejuízos táticos. Na foto abaixo, o navio varredor sul-coreano YMS-516 sendo atingido
pela explosão de uma mina magnética, em outubro de 1950.

Como exemplos mais recentes de vítimas de minas, temos a fragata da classe “Oliver Hazard Perry”, USS Samuel
B. Roberts, e o USS Tripoli (LPH-10).

A Samuel B. Roberts foi atingida por uma mina M-08 iraniana, em 14 de abril de 1988. A explosão do artefato
quebrou a quilha do navio e abriu um buraco no casco, não causando seu afundamento por pouco, graças ao
competente trabalho de controle de avarias da tripulação.

Na foto abaixo, o USS Tripoli (LPH-10), atingido por uma mina iraquiana, em 1991, durante a Operação Desert
Storm.

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‘NAVALEX’ com os navios-varredores da classe “Aratu”

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No dia 10, suspendemos às 8h30 da manhã para uma operação de varredura na Baía de Todos os Santos,
navegando cerca de 50 milhas, indo até a Ilha de Itaparica e retornando para a Base Naval de Aratu por volta das
16h30.

Embarcamos em dois navios-varredores da classe “Aratu”, de projeto e construção alemã, o NV Albardão (M20) e
o NV Araçatuba (M18).

Os navios-varredores navegaram até o local denominado pré-ponto, onde foi realizada a preparação
(estrimagem) de todo o equipamento de varredura.

Abaixo as fases que precedem a varredura:

Fase 1 – Formatura preliminar ×

Fase 2 – Velocidade reduzida para lançamento dos equipamentos n’água

Fase 3 – Velocidade de varredura

Fase 4 – Energização do equipamento


A velocidade de varredura é feita entre 9 a 12 nós, quando é do tipo combinada. Na varredura mecânica, a
velocidade é de 9 nós.

Na primeira etapa do exercício, foi realizada a varredura combinada de influência, que tem por objetivo provocar
a explosão de minas que funcionam por assinatura acústica e/ou magnética dos navios.

Para isso, a guarnição do navio lança ao mar uma série de flutuantes (pintados de amarelo), que sustentam um
martelo acústico mecânico GBT-3 (pintado de branco).

Esse martelo gera ruído semelhante aos hélices de um navio bem maior. Entre os equipamentos existem mais
dois tipos de martelos acústicos, o MT (Médio Tom) e o BT (Baixo Tom), que têm assinaturas acústicas diferentes
e são acionados eletricamente.

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Os diferentes tipos de martelos são usados conforme o tipo de mina se espera encontrar em determinado local,
por isso os navios operam conforme dados da Inteligência Naval.

Depois que o equipamento acústico é lançado, um flutuante denominado “defletor” empurra os cabos e
flutuantes que sustentam o martelo para uma linha à boreste do navio-varredor, para que a cauda magnética
possa ser lançada pela popa.

Após a estrimagem do equipamento de varredura acústica, é hora de lançar a cauda magnética, que é composta
por cabos elétricos blindados, com comprimento total de 450m. Depois de estrimado, o cabo é energizado por
um gerador especial, que cria um campo magnético semelhante ao de um navio.

A preparação para a varredura de influência tomou todo o período da manhã e parte do horário do almoço. Para
ajudar o pessoal que trabalha debaixo de sol forte e sem almoço, foi servido o tradicional caldinho de feijão dos
navios-varredores.

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Após a varredura de influência, a guarnição do navio recolheu os equipamentos, almoçou e deu início à
preparação da segunda etapa, que é a varredura mecânica.

Essa modalidade tem por objetivo varrer minas de fundeio e contato, que ficam presas a uma poita no fundo por
um cabo de aço. Na varredura mecânica, o navio lança cabos com tesouras que cortam os cabos das minas,
fazendo com que as mesmas cheguem à superfície, para serem destruídas com o canhão do navio.

Terminada a varredura mecânica e recolhidos os equipamentos, é o momento de lançar as bóias refletoras de


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radar, para definir o canal varrido por onde os demais navios podem passar em segurança.
‘Onde a Esquadra for, nós estivemos’
Durante a realização das fainas de varredura, pudemos atestar o preparo das tripulações na execução das
complexas tarefas, que exigem coordenação e esforço físico. As manobras com cabos tensionados e o
lançamento de flutuantes são arriscadas e demandam máxima atenção.

Ficou patente a extrema importância do mestre do navio, coordenando as ações dos homens como um maestro.
Desejamos sorte ao sargento Dante que está aprendendo com o mestre De Andrade a arte da estrimagem a bordo
do NV Albardão.

Encerrada a operação de varredura e o recolhimento das boias refletoras, o Albardão içou sua bandeira de faina e
a bandeira do ComForMinVar, vistas abaixo:

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De volta à Base Naval de Aratu, o Poder Naval fez fotos com as tripulações do NV Araçatuba e o NV Albardão,
para o registro desse dia especial.

Nas próximas partes desta reportagem: História da ForMinVar, entrevista com o Comandante e o futuro da
Força e as minas nacionais.

AGRADECIMENTOS: Ao Centro de Comunicação Social da Marinha, ao Comandante da ForMinVar, CF Telmo,


ao CF Castro Loureiro (GAAGueM), CC Velasques (CEM), pela atenção com que nos trataram e aos CTs
Braslavsky, Rogério e Marcio Oliveira, pela hospitalidade e às tripulações dos navios-varredores, pelo excelente
tratamento que recebemos.

APOIO: MARLOG (MARINE LOGISTIK GmbH). A especialidade da MARLOG é logística para submarinos e navios
militares, fornecendo serviços para Marinhas de 25 países, tanto sobressalentes quanto equipamentos completos
para projetos de modernização. A MARLOG apóia os submarinos da Marinha do Brasil e possibilitou a realização
desta matéria.
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