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Fig.2 – Jack-Up ENSCO 102 e Semi-sub. Ancorada ENSCO 5004.
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A principal vantagem do advento desta tecnologia está II.2 – Modelo de Controle Dinâmico
relacionado à sua flexibilidade quando à mudança ou manu-
tenção da posição. Além disso, o fato de não depender do Para que o navio se mantenha dentro de limites específi-
uso de âncoras possibilitou a operação em águas ultra pro- cos de posição e aproamento, e que a resposta na atuação
fundas. As desvantagens estão relacionadas ao maior custo dos propulsores seja rápida, precisa e estável, a concepção
do DP em relação aos sistemas fixos, pois o investimento do DP foi estruturada sobre o princípio do controle em ma-
inicial, consumo de combustível e o custo das instalações lha fechada. A principal característica desse controle retroa-
são maiores. Outro ponto desfavorável do DP é a vulnerabi- tivo é fazer com que um sistema reaja de forma a corrigir o
lidade em relação à falhas e blackouts, exigindo nos navios desvio entre o sinal de saída e os sinais de referência e en-
sistemas complexos de propulsores, controladores e gerado- trada.
res de emergência e investimentos em manutenção. Tam- Basicamente os elementos da malha de entrada do Sis-
bém, as operações subaquáticas com mergulhadores e ROVs tema DP são provenientes dos sensores; os elementos de
(Remotely Operated Vehicles) ficaram limitadas devido ao saída são os propulsores; e os elementos de controle são os
uso contínuo dos propulsores. controladores das estações de trabalho. A Fig. 6[7] apresen-
ta de forma resumida a localização física destes três elemen-
II.1 – Eixos de liberdade de movimento dos navios tos que compõem a malha de controle do DP.
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Fig.9 – Comparação entre desvios de posição e propulsão para os mo-
dos de operação de Alta e Baixa Precisão.
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Fig.15 – Notações de classe das Sociedades Classificadoras. Fig.16 – Redundância das bombas centrífugas do sistema de resfria-
mento do conjunto VFD-Propulsor.
Para obter notação de classe de DP em determinadas so-
ciedades classificadoras, pode ser necessário realizar consi- Todos os modos de falhas dos subsistemas do DP e os
derações adicionais na configuração do DP, como um joys- efeitos dessas falhas podem ser considerados em um estudo
tick independente nas Classes 2 ou 3[3]. formal de FMEA (Failure Modes & Effect Analysis). A
apresentação de um documento FMEA é muitas vezes uma
exigência nos processos contratuais e de auditorias, além de
IV – FILOSOFIAS DE REDUNDÂNCIA NOS SUBSIS- ser um requisito das Sociedades Classificadoras para a nota-
TEMAS DO DP ção de classe[7].
O termo “modo de falha” é usado para indicar a maneira
Como abordado anteriormente, as notações de classe em que um ou subsistema falha, e o termo “efeitos da falha”
DP2 e DP3 exigem que as unidades marítimas tenham a se refere ao impacto do modo de falha no sistema ou naque-
capacidade de manter a integridade do Sistema DP mesmo les conectados ao componente. Um componente defeituoso
na ocorrência de falhas em alguns de seus componentes. Nas pode possuir vários modos de falha, e seus efeitos podem ser
concepções dos seus projetos, para satisfazer ao requisito de relativamente simples ou podem causar até mesmo a perda
“tolerância às falhas” a teoria da redundância é amplamente do posicionamento dinâmico. É por esse motivo que esse
aplicada. A alocação de componentes equivalentes em para- estudo é extremamente necessário, pois os modos de falha
lelo para realização da mesma tarefa requer, em termos prá- podem ser utilizados como guias para tomadas de decisões
ticos, que estes componentes tenham os mesmos desempe- estratégicas de manutenção, de projetos e de política de so-
nhos, proteções e predições[2]. bressalentes.
Em termos de desempenho, os elementos redundantes São apresentadas nos itens a seguir, uma visão geral das
devem possuir a mesma capacidade técnica para realizar configurações em paralelo simples e as técnicas de tolerân-
funções similares. Além disso, precisam ser independentes, cia às falhas aplicadas aos três subsistemas do DP, como
mesmo operando em paralelo, o que significa dizer que, estratégia de aumento da disponibilidade do Sistema de Po-
deve existir uma filosofia de proteção para que uma falha sicionamento Dinâmico e de atendimento à classe.
em um componente não afete o desempenho dos outros e
evite um desarme geral do sistema. As predições se referem IV.1 – Configurações Redundantes no Subsistema Energia
ao monitoramento dos status dos componentes – alarmes e do DP
tomadas de decisões inteligentes, o que é relevante para sis-
temas redundantes que utilizam componentes em “espera” Esquematicamente, o Subsistema Energia pode ser divi-
(standby) ou de backup, onde existe intrinsecamente a incer- dido em três grupos de equipamentos principais: moto-
teza se este componente estará disponível ou não quando ele geradores, alternadores e sistemas auxiliares; distribuição de
for requisitado. energia; e inversores de frequência e propulsores.
Práticas comuns em inspeções periódicas de componen- A geração de energia de uma sonda DP é provida por al-
tes standby são a verificação do histórico de alarmes; da ternadores síncronos trifásicos acoplados e acionados por
integridade de válvulas de passagem e baterias; e a realiza- moto-geradores a diesel. O funcionamento adequado dos
ção de testes funcionais em dispositivos de proteção, como moto-geradores é suportado pelos seus sistemas auxiliares,
por exemplo, relés, sensores de fumaça & gás e válvulas de tais como os sistemas de refrigeração forçada à base de
alívio de pressão. água, ventilação, armazenagem e transferência do óleo com-
Para ilustrar a concepção de redundância aplicada em bustível, sistemas de lubrificação, compressores de ar para
sondas de perfuração, a Fig.16[5] apresenta o sistema de partida do motor etc. Os alternadores convertem a energia
refrigeração dos VFDs e propulsores. Criteriosamente, as mecânica proveniente da combustão interna dos moto-
bombas centrífugas devem possuir a mesma capacidade de geradores em energia elétrica com potência em torno de
bombeamento, modelo e fabricante; deve haver lógica de 6500kW cada, e operam em paralelo sobre a mesma tensão e
troca entre elas em função do horímetro, para evitar que haja frequência elétrica.
desgaste desproporcional das partes mecânicas; e em caso Os alternadores são conectados aos barramentos de
de falhas na linha hidráulica, que é o ponto em comum, a 11kV/6.6kV e aos quadros de distribuição, que por sua vez,
proteção deve retirar o VFD de operação (para manter a possuem disjuntores que permitem o seccionamento e ma-
integridade dos seus tiristores), alertar o operador e acionar nobras entre os circuitos e cargas. Topologias típicas de
um propulsor redundante para manutenção da posição. sondas possuem de seis a oito alternadores conectados a dois
ou três quadros de distribuição de alta tensão, separados
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entre si por disjuntores de interligação[2]. Os transformado- No evento de uma falha inesperada em um gerador ou
res abaixadores permitem a operação em níveis de tensão propulsor, a concepção de projeto deve utilizar de mecanis-
industrial como 690V/440V/380V e alimentam os Centros mos para isolar o elemento danificado e inserir o componen-
de Controle de Motores (CCMs); as cargas menores são te em redundância de forma que se evite a falta de forneci-
alimentadas em 220V/127V. O fornecimento em corrente mento de energia ou propulsão. Esta substituição deverá
contínua a partir de baterias e UPS em 120Vdc/24Vdc e são ocorrer em tempo hábil para que a embarcação não perca
utilizados como backup para cargas essenciais e de emer- posição além dos limites operacionais de segurança.
gência. A configuração em paralelo simples é observada também
Os Drilling VFDs alimentados em tensão industrial con- em todos os serviços auxiliares dos moto-geradores, pois
trolam os motores do piso de perfuração enquanto que cada estes atuam sinergicamente na geração de energia. A
propulsor é acionado por um Thruster VFD dedicado. As Fig.18[5] apresenta como exemplo, o sistema de captação
unidades impulsoras são independentes, de forma que o ris- de água salgada utilizado para a refrigeração dos moto-
co de perda de mais de uma delas seja o menor possível. geradores, propulsores e casario. São dois sistemas comple-
Possuem potência máxima em torno de 5500kW cada, e tamente independentes que podem ser operados individual-
foram projetados de forma que a indisponibilidade de uma mente. As quatro bombas centrífugas operam paralelamente,
unidade não prejudique substancialmente a manutenção do cada uma é capaz de fornecer 100% dos suprimentos de
DP – dependendo obviamente das condições de mar e modo água salgada da unidade[5]; as válvulas permitem manobra-
de operação. bilidade para troca de filtros (sea strainers) e manutenção
A Fig.17[5] correlaciona os elementos principais do sub- planejada.
sistema energia com o diagrama unifilar de geração e distri- Existem ainda neste sistema, transdutores de pressão re-
buição de uma embarcação. Percebe-se que a concepção de dundantes que informam quando a pressão das linhas está
redundância do subsistema energia do navio da Fig.17, está abaixo dos limites de projeto e, transdutores de pressão dife-
primariamente na divisão dos quatro moto-geradores em rencial para alertarem a necessidade de troca das bombas
duas praças de máquinas e salas de alta tensão distintas; e no centrífugas. Esse tipo de filosofia é costumeiramente aplica-
fato dos propulsores de proa e popa serem supridos por am- da a todo e qualquer sistema que pode influenciar no funci-
bos os sistemas de distribuição de boreste e bombordo[5]. onamento do DP. Como requisito de classe, os dois sistemas
As linhas pontilhadas representam barreiras de proteção de captação de água estão separados por barreiras A60.
contra incêndio e inundações.
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controle deve ser redundante para equipamentos classe Para cada grupo de sensores, o operador poderá configu-
DP3[3]. rar e estabelecer um sensor principal e os demais como re-
Para ilustrar a filosofia básica de redundância em siste- dundantes, desta forma, as leituras dos sensores escravos
mas de distribuição, a Fig.19[13] mostra que ao detectar um serão desconsideradas para o modelo dinâmico; esse tipo de
curto-circuito fase-terra no barramento de bombordo B1, a função é muito útil para manutenções planejadas ou quando
unidade bloqueou o fechamento dos disjuntores de interliga- a sonda opera em estado degradado, porém não é o padrão
ção para evitar que a falta se propagasse, e aumentou a ati- em modo automático.
vidade dos propulsores ativos no intuito de evitar perda de Um sensor estará disponível como principal, apenas
posição. Devido ao aumento da demanda, os geradores ati- quando ele tiver passado por vários testes de qualificação
vos G4 e G5 intensificaram a geração para compensar a per- das suas leituras. A Fig.20[6] apresenta a gestão e monito-
da de G1; neste caso, não foi necessário adicionar nenhum ramento de instrumentos a partir da estação do operador de
gerador que estava em stand-by por não atingir nenhum li- DP.
mite operacional de sobrecarga. A unidade ficou em
blackout parcial apenas no barramento B1 e preservou o
Sistema DP.
V – CONCLUSÕES
A escassez dos poços e o aumento da demanda pelos de-
rivados do petróleo são os agentes geopolíticos que impulsi-
onam a indústria de óleo & gás para exploração em ambien-
tes remotos e em águas cada vez mais profundas. Neste con-
texto, os Sistemas de Posicionamento Dinâmico de plata-
formas marítimas se tornaram as tecnologias essenciais para
Fig.23 – Exemplos de redundâncias nas cabines dos controladores e o processo de perfuração, onde a sua indisponibilidade está
estações do operador – supervisório.
intrinsecamente relacionada às perdas de receita e altos ris-
cos de segurança operacional para a tripulação.
Concepção de hardware similar ocorre nos sistemas de
Através do estudo das redundâncias dos Subsistemas de
gerenciamento de energia (PMS). O objetivo do PMS é ga-
Energia, Controle e Referência, conclui-se que a alocação
rantir que a geração de energia sempre será capaz de supor-
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estratégica de componentes em paralelo permite maior tole- [10] PEREIRA, Mário Jorge. Engenharia de Manutenção –
rância do sistema às falhas. Sobre o aspecto de regulamenta- Teoria e Prática. 2.ed. Rio de Janeiro: Ciência Moder-
ção, satisfatoriamente, a notação de Classe da embarcação na, 2011.
está diretamente relacionada à redundância dos subsistemas [11] RELIASOFT – System Analysis Reference: Reliability,
do DP. A revisão literária mostrou ainda diferentes filosofias Availability & Optimization. Tucson: ReliaSoft Corpo-
de proteção, seletividade, tratamento inteligente de dados de ration, 2014.
entrada e resposta dinâmica como estratégia de melhoria de [12] EMÍLIO, João. Regulamentos e Direito Marítimo:
precisão e garantia de funcionamento mínimo do Sistema Classificação de Navios. Notas de Aula. Lisboa: Escola
DP mesmo quando a unidade se encontra em estado degra- Superior de Náutica Infante D. Henrique, 2013.
dado. [13] PETROBRAS – Alerta Técnico Blackout Total com
A abordagem em Diagrama de Blocos possibilitou a aná- Dificuldade de Recuperação. Macaé: SOECS-DPPS,
lise aprofundada do modelo de controle do Sistema DP, bem Emitido em 30 de Dezembro de 2014.
como a identificação dos itens críticos para o seu funciona- [14] Drilling Contractor. Disponível na Internet: URL:
mento. Este estudo apresentou todas as variáveis de entrada, http://www.drillingcontractor.org/wp-
saída e elementos de controle do modelo dinâmico e que, content/uploads/2011/09/ElectricalSystems-01.jpg,
numa escala de prioridade, são os componentes elementares 2014.
para a manutenção de posição de uma unidade DP. [15] MSC/Circ.645 – Guidelines for Vessels with Dynamic
Numa análise de probabilidade, foi possível verificar Positioning Systems. Londres: IMO - International Mar-
que, a medida que se aumenta o número de componentes em itime Organization, 1994.
paralelo têm-se que a confiabilidade de um sistema crítico
torna-se mais efetiva. Desta forma, foi possível vislumbrar BIOGRAFIA:
em trabalhos futuros, modelos matemáticos a partir das ta-
xas de falha dos componentes do DP, e estimar quantos itens Thales Moran
precisariam ser colocados em paralelo para assegurar a con- Engenheiro Eletricista pela Universidade Fe-
fiabilidade requerida do sistema, além de quantificar o risco deral de Itajubá (2011) e Pós Graduando em
quando ocorre a retirada de um destes componentes redun- Automação Industrial pelo Inatel (2012-2015).
dantes – para execução de manutenção preventiva, por Desde 2014 atua como Engenheiro de Manu-
exemplo. tenção & Confiabilidade pela Odebrecht Óleo
e Gás em Macaé/RJ. Anteriormente atuou em
Como oportunidade de garantir a máxima disponibilida- campo pela Ensco plc (2012-2014), Siemens
de da operação de perfuração, espera-se que a Engenharia de (2011) e Alcoa Alumínio (2010).
Confiabilidade seja o drive para as decisões estratégias de
manutenção, concepção de projetos e políticas de sobressa-
lentes do Sistema de Posicionamento Dinâmico de sondas Júlio Arlindo Pinto Azevedo
offshore. Engenheiro Eletricista (Inatel, 1994) e Mestre
em Engenharia Elétrica (UNIFEI, 2001). Ex-
VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS periência em campo, na docência e engenharia
de produtos para automação industrial. Atua
como Professor e Coordenador da Comissão
[1] INTERNATIONAL MARINE CONTRACTORS AS- de Estudos do COBEI na criação de normas
SOCIATION-IMCA – Introduction to Dynamic Posi- ABNT NBR IEC para equipamentos em áreas
tioning. Londres: IMCA, 2006. classificadas.
[2] IMCAM206 – A Guide to DP Electrical Power and
Control Systems. Londres: IMCA, 2010.
[3] IMCAM103 Rev1.PT – Orientações para Projeto e
Operação de Embarcações com Posicionamento Dinâ-
mico. Londres: IMCA, 2007.
[4] KONGSBERG – Dynamic Positioning (DP) Book Ref-
erence I. Rio de Janeiro: K-Pos Maintenance Course,
2008.
[5] IMCAM225 – Example Redundancy Concept and An-
nual DP Trials for a DP Class 3 Construction Vessel.
Londres: IMCA, 2014.
[6] KONGSBERG – Product Description K-Pos Dynamic
Positioning System. Oslo: Kongsberg Maritime AS, Fe-
vereiro 2006.
[7] GE POWER CONVERSION – Dynamic Positioning
System Maintenance Course Notes. Houston: 2014.
[8] LEITE, Paulo C.; LEITE, Roberto T.; PEREIRA, Dou-
glas R.; CONCER, Gustavo M. Módulo de Controle
Automático do Pitch e do Azimuth de Thrusters utiliza-
dos em Sistema de Posicionamento Dinâmico. Rio de
Janeiro: IEEE – PCIC BR, 2008.
[9] THOMAS, José Eduardo. Fundamentos de Engenharia
de Petróleo. 2.ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2004.
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