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SUBMARINO NUCLEAR:

PODER DE DISSUASÃO NO MAR


“Os submarinos de propulsão nuclear são
fundamentais para a defesa das águas oceânicas.
Por possuírem fonte inesgotável de energia
e desenvolver altas velocidades são empregados segundo
uma estratégia de movimento. Em face dessas características,
podem chegar a qualquer lugar em pouco tempo,
o que, na equação do oponente, significa poder
estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
O submarino nuclear é simplesmente o senhor dos mares.”
Almirante-de-Esquadra Júlio Soares de Moura Neto
Comandante da Marinha

Aspirante Daniel Theberge de Viveiros


Aspirante Diego da Silva Cespes

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INTRODUÇÃO um consenso de que se tratava de um assunto de suma
importância para a defesa do País.
Desde 1979, quando se iniciou o Programa Nu-
clear da Marinha (PNM), a Marinha do Brasil (MB) Em 2008, os cofres públicos puderam realimentar
nutre o sonho de construir submarinos de propul- as expectativas com a aprovação do Programa Nacio-
são nuclear. De acordo com o planejamento inicial, nal de Defesa assim como o anúncio da parceria tecno-
o projeto seria constituído de duas partes: uma em lógica e estratégica com a França, na qual este país se
que o objetivo seria dominar o ciclo do combustível comprometeria a fabricar quatro submarinos de tipo
e outra que diz respeito à construção de uma planta “Scorpène” e a dar auxílio no desenvolvimento no que
geradora de energia nuclear, na qual se inclui um se refere à parte não nuclear do projeto de submarino
reator. Vale ressaltar, desde já, que a MB domina a propulsão nuclear brasileiro.
o ciclo do combustível nuclear e vem buscando co-
O objetivo deste artigo é apresentar informações
nhecimento técnico para, também, obter sucesso na
sobre submarinos nucleares, com enfoque no futuro
segunda fase do projeto.
submarino brasileiro, enfatizando o valor agregado
O PNM, desde sua criação, enfrentou períodos de que tal empreitada bem-sucedida concederia ao Brasil
estagnação devido a contenções orçamentárias feitas no cenário mundial.
por governos sucessivos, fazendo com que a verba para
financiar o projeto viesse exclusivamente da cota reser- Dessa forma, primeiramente será apresentado um
vada anualmente à Marinha. Entretanto, é importante breve histórico sobre o submarino de propulsão nuclear.
ressaltar que, mesmo com todas as dificuldades enfren- Em seguida, será descrito o funcionamento da
tadas até o momento para levar este projeto adiante, as planta nuclear e serão relacionadas as vantagens dos
autoridades navais não hesitaram na manutenção da submarinos de propulsão nuclear em relação aos con-
essência do projeto original, visto que sempre houve vencionais.

Fonte: http://www.defenseindustrydaily.com/Scorpenes-Sting-Liberation-Publishes-Expose-re-Malaysias-Bribery-Murder-Scandal-05347/

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Será apresentado também um resumido histórico do zasse o oxigênio para gerar calor como acontecia com
PNM, no qual serão apontados os estágios necessários os combustíveis de origem fóssil (diesel, gás). Então, a
para que a construção do submarino nuclear se concre- linha de ação encontrada foi utilizar a energia nuclear.
tize assim como as etapas concluídas até os dias atuais. Os EUA foi o primeiro país a alcançar tal sonho,
Serão expostos, ainda, os benefícios de um submari- com o USS “Nautilus”, o precursor de uma linhagem
no nuclear no âmbito político, tecnológico e econômico. vitoriosa, que foi lançado dia 21 de janeiro de 1954.
Finalmente, concluiremos com argumentos que Seus tripulantes foram os primeiros a atravessar o mar
indicam a importância da incorporação à Força de Ártico por sob a calota de gelo, e também os primeiros
Submarinos (ForSub) do primeiro submarino nuclear a se postarem sob o polo norte geográfico.
brasileiro assim como reforçam a ideia de que se trata Como pode-se observar no quadro ao lado, outros
de um programa não da Marinha do Brasil, mas de países seguiram os EUA e envidaram esforços de modo
toda nação. a obter a tecnologia necessária para poder lançar os
seus próprios submarinos nucleares. A história dos
submarinos nucleares é, portanto, recente e não está
HISTÓRICO
ao alcance de todos, mas a tendência é que cada vez
Devido à necessidade de se reduzir a exposição dos mais nações invistam nesse tipo de meio militar, visto
submarinos a possíveis ameaças enquanto carregam que os países que já os possuem provaram que se trata
suas baterias, pesquisas foram desenvolvidas a fim de de uma arma de enorme poderio e uma flexibilidade
manter o navio a maior quantidade de tempo possível extremamente útil a qualquer Marinha do mundo.
submergido, diminuindo sua vulnerabilidade e tornan- Hoje, a Marinha dos EUA possui quatro tipos de
do o submarino uma arma ainda mais letal. Isso só seria submarinos: Classe “Los Angeles”, Classe “Seawolf” e
possível através de uma fonte de energia que não utili- Classe “Virginia”, e ainda o submarino lançador de mís-
seis balísticos Classe “Ohio”. Já a Marinha russa conta
com o submarino de caça “Shchuka”, o submarino lan-
Países que dominam a tecnologia de çador de mísseis balísticos da Classe “Akula” e o mais
construção de submarinos nucleares recente, o da Classei “Borei”. Na França, o represen-
(Posição, Primeira embarcação e Data tante é o “Triomphant”; e na Inglaterra, o “Vanguard”.
A China, por sua vez, possui os 09-I, 09-II, 09-III e o
de lançamento)
09-IV e, em 2009, a Índia lançou o “INS Arihand”.
1) USS Nautilus 21 de janeiro de 1954
FUNCIONAMENTO DA PLANTA DE PROPULSÃO E
2) K-3 Leninsky Komsomol 9 de agosto VANTAGENS EM RELAÇÃO AOS CONVENCIONAIS
de 1957
Uma pergunta natural que provavelmente pode
surgir na mente de uma grande parte da população
3) HMS Dreadnought (S101) 21 de outu-
é: quais são as diferenças entre o submarino nuclear
bro de 1960 para o convencional que justifique tanto entusiasmo
despendido num projeto tão oneroso para os cofres
4) Redoutable (S 611) 29 de março de
públicos? É justamente essa questão que iremos tratar
1967 nesta seção deste artigo.
De acordo com a definição1, o termo submarino
5) Changzheng 1 (401) 1970
nuclear significa “embarcação movida pela energia
6) INS Arihant 26 de julho de 2009 gerada por um reator nuclear capaz de emergir e sub-
mergir quando desejado”. Como se pode perceber, a
Primeiros Submarinos Nucleares diferença principal reside no sistema de propulsão dos
submarinos. Enquanto no submarino nuclear há a pre-
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Submarino_nuclear

1
http://pt.wikipedia.org/wiki/Submarino_nuclear

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Fonte:http://www.portalsaofran-
cisco.com.br/alfa/submarino/
submarino-5.php

sença de motores dotados de PWR2, no convencional em cadeia, que produz calor em grande quantidade,
os motores usados são a diesel. sem fazer uso do oxigênio. Uma vez que não carece de
Na figura esquemática acima, está representada uma oxigênio, não necessita emergir em busca do ar atmos-
planta de propulsão que seria implantada no primeiro férico para que possa passar mais tempo imerso. Além
submarino nuclear brasileiro. Ela é composta de dois cir- disso, esse calor gerado em abundância permite que o
cuitos: primário e secundário. O processo de obtenção de submarino possa cumprir suas tarefas em velocidades
energia para os fins da embarcação começam no circuito mais altas, possibilitando o rastreamento e cobertura
primário, com a fissão do combustível formado por isó- de uma larga extensão de área. Portanto, percebe-se
topos do Urânio-235 nos reatores, provocando o aqueci- a importância para a Marinha do Brasil, responsável
mento da água que entra na rede. Após isso, essa água é pela Amazônia Azul 3, da existência de um meio mili-
mantida pressurizada para não vaporizar até passar pelo tar desta natureza.
trocador de calor, que nada mais é do que o gerador do Desta forma, é fácil notar que o uso da energia nu-
vapor que é encaminhado para o circuito secundário. A clear para a propulsão do submarino faz uma grande
parte secundária é uma instalação de propulsão de turbi- diferença porque permite um maior tempo de submer-
na a vapor, na qual o vapor faz as turbinas girarem pro- são, maiores velocidades, melhor qualidade de vida a
duzindo a energia elétrica para que os motores elétricos bordo, além de outros benefícios que, agregados, per-
funcionem assim como toda a aparelhagem eletrônica mitem uma melhor contribuição da MB para a segu-
que está instalada a bordo. rança e defesa nacionais.
É importante fazer um esclarecimento pertinente
neste momento que diz respeito à verdadeira capaci- PROGRAMA NUCLEAR DA MARINHA (PNM)
dade de submersão do submarino nuclear, sob o ponto
de vista do tempo. A mídia divulgou em várias opor- O PNM teve início em 1979 com o programa Cha-
tunidades que esse tipo de meio de guerra só precisaria lana, com o objetivo de construir um submarino de
emergir após períodos maiores que um ano, o que não ataque de propulsão nuclear. Este projeto foi dividido
é verdade. De fato, o submarino nuclear tem um adi- em dois: Projeto Ciclone e Projeto Remo. O primeiro
cional de tempo submerso em relação aos submarinos tinha como objetivo desenvolver ultracentrífugas para
convencionais; porém, em virtude da saúde psicológica o ciclo do combustível nuclear enquanto o segundo vi-
dos tripulantes, eles ficam no máximo cinco ou seis sava desenvolver o reator nuclear e os seus sistemas
meses em comissão. complementares.

De qualquer forma, impressiona pelo tempo que Em 1982, a primeira vitória foi alcançada com o su-
fica operativo. Isso se deve a um fator preponderante cesso no enriquecimento de urânio através da ultracen-
justamente no reator nuclear, o qual cria uma reação trifugação, que demonstrou ser mais eficiente do que o

3
Os espaços marítimos brasileiros atingem aproximadamente 3,5
2
Pressurized Water Reactor milhões de km², sendo denominado de Amazônia Azul.

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Fonte:http://www.mar.mil.br/menu_h/noticias/dia_marinheiro/13dez2005/
exposicoes.htm

A primeira etapa está concluída e consistiu no con-


trole completo do ciclo do combustível extremamente
instável como o em questão. O ciclo de combustível se
inicia com a prospecção da matéria-prima, urânio. O
concentrado de urânio, conhecido como yellow cake,
sofre a conversão para o gás hexafluoreto de urânio,
que é o insumo utilizado nas ultracentrífugas. Uma vez
método a jato centrífugo. Devido a esse primeiro suces-
enriquecido, ou seja, tendo atingido a marca de 4% de
so, a CNEN (Confederação Nacional de Energia Nu-
U235, o gás é reconvertido ao estado sólido em forma
clear) passou a apoiar o projeto, que ganhou mais força
de pastilhas que serão introduzidas em varetas chama-
com a fundação do que viria a se tornar o atual Centro
das de zircalloy. Estas varetas formarão o elemento
Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP). Nessa
combustível que será queimado no reator, finalizando
época também foram construídas usinas de enriqueci-
a etapa do ciclo combustível. É importante comentar
mento isotópico de urânio e traçado um cronograma
sobre a instalação da Unidade Piloto para Produção de
para desenvolvimento do primeiro reator.
Hexafluoreto de Urânio (USEXA), mostrado na figura
Mas não bastava apenas uma expansão do projeto abaixo, que permite produzir 40 toneladas do hexaflu-
da edificação de uma usina nuclear, mas também um oreto de urânio necessário para abastecer as usinas e
local em que fosse possível a produção do combustí- o reator.
vel nuclear, o teste de protótipos e equipamentos e a
capacitação das futuras guarnições. No âmbito dessa
questão, surge o Centro Experimental Aramar (CEA),
situado no município de Iperó, SP.
A expressão Programa Nuclear da Marinha surge
nessa época, pela primeira vez, para substituir o nome
anterior Chalana, sendo dividido em dois projetos:
Projeto do Ciclo do Combustível e Projeto do Labo-
ratório de Geração Núcleo-Elétrica (LABGENE). Se-
gundo o Vice-Almirante (EN) Carlos Passos Bezerril, o
objetivo do recém-batizado PNM seria “o desenvolvi-
mento de capacitação tecnológica nacional na produ-
ção de combustível nuclear e no projeto, construção,
comissionamento, operação e manutenção de reatores
núcleo-elétricos tipo PWR”.4

Fonte: Palestra Inaugural do Grêmio de Engenharia da EN (03/08/2010) do diretor


do CTMSP, o Vice-Almirante (EN) Carlos Passos Bezerril

A segunda etapa busca o desenvolvimento e a cons-


trução, com tecnologia própria, de uma planta nuclear
de geração de energia elétrica, incluindo um reator nu-
clear. Essa instalação servirá para a formação de cen-
trais energéticas espalhadas pelo país, além de suprir
as demandas estratégicas na área de defesa.
É importante enfatizar que esse projeto é caro e
exige, para a sua finalização, constante fluxo de cai-
4
Apresentado nos slides da palestra ministrada pelo próprio xa. O acordo Brasil-França trouxe novas expectativas
Vice-Almirante na inauguração do Grêmio de Engenharia, na devido ao fato da interrupção de recursos financeiros,
ESCOLA NAVAL, em 03/08/2010.

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como já ocorreu no passado, ser mais difícil, visto que minamos o ciclo de combustível, o que permite, por
isso acarretaria a quebra de uma espécie de contrato meio deste conhecimento técnico, sua aplicação como
internacional, trazendo uma imagem que nenhuma na- fonte alternativa de energia diversificando a matriz-
ção busca perante a comunidade internacional. Além -energética brasileira, extremamente dependente de
disso, as tecnologias que estão sendo ali desenvolvidas usinas hidrelétricas. O mais importante aqui é comen-
transcendem a aplicação puramente militar. tar os desenvolvimentos alcançados durante o projeto
que incorporam valor agregado, permitindo ao Brasil
obter uma crescente independência tecnológica em re-
BENEFÍCIOS
lação do exterior, abrindo novos espaços e perspecti-
Não há dúvida de que o submarino nuclear irá tra- vas para a indústria nacional.
zer benefícios, no âmbito militar, já que, além de outras Sob a égide econômica, auxilia começar apresen-
vantagens, serviria de inspiração para uma possível re- tando alguns dados importantes sobre a vasta área ma-
vitalização da indústria bélica no Brasil. Entretanto, é rítima brasileira. O Brasil possui jurisdição sobre uma
importante expor as consequências positivas que não extensão marítima de aproximadamente 4.451.766
dizem respeito somente ao setor militar, de modo que km², o que corresponde a 52 % do território brasilei-
o PNM ganhe um contexto de projeto nacional, que ro. Nesta região, encontra-se uma grande parte das ati-
sempre foi o intuito da MB. Portanto, serão apresen- vidades econômicas geradoras de divisas para o país,
tadas, nesta seção, as virtudes principais do PNM nos entre as quais podemos citar: o comércio exterior, a
campos da política, tecnologia e economia. pesca, a exploração de petróleo e o turismo. Para se
Atualmente, o poder político é exercido por aqueles ter uma noção do significado do comércio através do
com experiência em dissolução de conflitos, em nome mar, basta dizer que cerca de 95% de todo o montante
de um bem comum, através de sua força coercitiva. comercial que entra ou sai do país ocorre através do
Esta tem como um de seus componentes mais eficazes mar, e que o país lucra mais de 200 bilhões de dólares
o Poder Naval, o qual é de valia inimaginável para po- anualmente com essa atividade. O Brasil é extrema-
lítica internacional. Nenhum país do mundo poderá mente dependente do seu comércio exterior, exigindo
exercer posição de destaque no cenário mundial sem para que não entre em colapso, uma força naval à al-
ter uma Marinha forte, vide EUA, Inglaterra e outros. tura, uma vez que o meio em que atua é estratégico
Um submarino nuclear contribuiria de tal maneira para o país.
para a confirmação e eficácia desse Poder que se torna-
ria, consequentemente, meio de dissuasão para impor
os objetivos fundamentais do Estado Brasileiro.
O Brasil sempre foi um país pacífico, e sempre prio-
rizou bastante o uso do recurso diplomático, adotando
postura apenas dissuasória. Entretanto, não se pode
afirmar que isso permanecerá para dias vindouros.
Tanto na vertente preventiva quanto na ofensiva, o
submarino nuclear emana incerteza para seus inimigos
devido a sua capacidade de ocultação e superioridade
militar. Sua autonomia e velocidade o tornariam, den-
tre todos os nossos meios, inclusive o Navio Aeródro-
mo “São Paulo”, nosso maior poder de dissuasão e de
ataque, já que poderia permanecer operativo, defen-
dendo a nossa costa por longos períodos.
No âmbito tecnológico, podemos citar as parcerias
com instituições federais e privadas, que permitiram
ganho no que diz respeito à capacitação técnica, con-
tribuindo para o amadurecimento nuclear do Brasil,
Fonte:http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,submarinos-brasileiros-
tais como a USP, a COPPE - UFRJ, o IEN e tantas ou- -comecam-a-sair-do-papel,545654,0.htm
tras instituições. Além disso, vale ressaltar que já do-

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Portanto, torna-se claro que o Brasil deve dispor de
meios navais à altura dessa estatura econômica e dos
interesses marítimos que pretende preservar.

CONCLUSÃO
O submarino é um instrumento bélico que possui
uma grande vantagem estratégica em relação a outros
meios de combate devido a sua principal característi-
ca de submersão, que lhe confere o elemento surpresa,
imprescindível quando o assunto tratado é a guerra no
mar.
Atualmente a MB é dotada apenas de submarinos
convencionais que, embora desempenhem suas ati-
vidades de maneira eficaz, apresentam uma grande
Fonte:http://www.naval.com.br/blog/tag/submarino-nuclear/#axzz24yc5LRli
desvantagem no que diz respeito à dependência do ar
atmosférico, o que restringe a sua operabilidade, re-
duzindo a área por ele coberta e, em consequência, a
Com relação ao petróleo, sabemos que os navios defesa do país.
mercantes utilizam como combustível derivados do Em contrapartida, o submarino nuclear dispõe de
petróleo, e este produto é considerado um royalty do
um sistema de propulsão que não necessita de ar at-
qual muitos países usufruem. Portanto, considerando
mosférico para se movimentar, além de produzir um
as extensas áreas de extração de petróleo no Brasil e
adicional de energia, permitindo o desenvolvimento de
ainda unindo-se isso à descoberta do pré-sal, este pro-
maiores velocidades. Dessa forma, esse tipo de meio
duto coloca o país na condição de um grande produtor
pode permanecer um prolongado tempo submerso as-
de petróleo, além de gerar riquezas através das expor-
sim como percorrer grandes distâncias com rapidez.
tações. Para que o uso e a exploração ilegais de nosso
petróleo não ocorram, é imprescindível a sensação da Em busca deste sonho, a MB já conseguiu dominar
presença da Marinha do Brasil, algo que seria conse- o ciclo de combustível e não está longe de concluir a
guido com maior facilidade com uma força dotada de segunda etapa, a de construir a planta de um reator
um submarino nuclear. Sob um ponto de vista futuro, nuclear. Concluída esta etapa, faltarão apenas alguns
pode-se comentar que o petróleo eventualmente irá se detalhes para o lançamento do primeiro submarino
esgotar e se tornará muito caro mesmo antes deste fato nuclear do Brasil e sua inserção no rol dos países do-
chegar a se consumar; logo, novas alternativas de ob- tados de capacitação tecnológica invejável e respeitada
tenção de energia deverão ser estudadas. O projeto do em todo mundo.
submarino nuclear poderia proporcionar o domínio da Vale realçar, mais uma vez, as consequências be-
tecnologia nuclear, permitindo, caso fosse necessário, a néficas advindas da construção de um submarino de
adaptação da mesma para navios mercantes e também propulsão nuclear no país.
para o fornecimento básico civil no futuro.
Sob o aspecto político, citamos o maior poder de
Por fim, pode-se comentar a matéria “Superbélicas dissuasão. Nota-se que muitas disputas no âmbito inter-
verde-amarelas”, recentemente divulgada pelo jornal nacional acabaram em vitória para os países detentores
O Globo, a qual discorre sobre uma parceria, dentre de tecnologias vistas como reflexo de um país de primei-
muitas previstas por um projeto do governo, da MB ro mundo. O domínio da energia do tipo nuclear é uma
com grandes empresas da área de construção civil daquelas que eleva o status de nações perante a socieda-
(Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Odebrecht) na de mundial. Portanto, para que o Brasil consiga galgar
participação da construção da base de submarinos em voos mais altos, é importante que mostre ao mundo que
Itaguaí. Isso resulta em geração de empregos e é uma é capaz de construir um submarino nuclear.
demonstração do impulso resultante dos esforços para
Já sob a perspectiva tecnológica, podemos ressaltar
a construção do submarino nuclear.
o estímulo ao desenvolvimento de novas tecnologias

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assim como a instituições de pesquisa. O projeto, do rais exploráveis presentes no mar. Por isso, torna-se
submarino nuclear utilizou a atuação de várias empre- conveniente uma arma para defender essas riquezas, e
sas governamentais e particulares de modo a conseguir nada melhor do que o submarino a propulsão nuclear,
conquistar seus objetivos. Isso gerou empregos indire- cuja área de atuação impressiona até mesmo aqueles
ta e diretamente, fato observado, também, com a inser- adeptos de conceitos de meios submarinos futuristas.
ção cada vez maior de engenheiros na Marinha. Não há dúvidas que o PROSUB é um projeto na-
E, finalmente, sob o escopo econômico, é interes- cional que exige apoio de todos brasileiros, porque
sante comentar que o Brasil possui atualmente uma o submarino não representa apenas um meio extra-
economia altamente robusta, fruto, em grande parte, ordinário de guerra, mas também é uma amostra da
do vigoroso fluxo comercial que depende do mar. Além capacidade técnica do país. Ele é um símbolo, um es-
disso, foram descobertas novas jazidas de petróleo e tandarte de um país. Por isso, que venha o “Senhor
do pré-sal, aumentando ainda mais as riquezas natu- dos Mares”.

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