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Situada na Praia de Itaorna, Município de Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro, a Central Nuclear de
Angra está próxima dos principais centros consumidores de energia do país. A escolha do local envolveu
uma série de condicionantes, ligadas às características do sistema de geração nuclear, tais como
abundância de água de refrigeração e facilidade de transporte e montagem de equipamentos pesados,
sendo precedida de inúmeros estudos desenvolvidos com o apoio de empresas de consultoria
internacionais, com ampla experiência em seleção de sítios para a construção de usinas nucleares. A
proximidade dos grandes centros de consumo evita a construção de dispendiosos sistemas de linhas de
transmissão e a conseqüente elevação do custo da energia produzida.
A Central Nuclear de Angra recebeu o nome de Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto em homenagem
a este pioneiro pesquisador do campo da tecnologia nuclear no Brasil. Álvaro Alberto da Motta e Silva
(1889–1976) impôs-se como o principal articulador de uma política nacional de energia nuclear, sendo um
dos incentivadores da criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear, em 1956. Foi também liderança
incansável na criação do Conselho Nacional de Pesquisas, cuja presidência exerceu de 1951 até 1955.
Membro de sociedades científicas nacionais e internacionais, presidiu a Academia Brasileira de Ciências
de 1935 a 1937.
A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto é constituída pelas Usinas Angra 1, Angra 2 e Angra 3 e suas
instalações de apoio, dentre as quais destacam-se o Laboratório de Monitoração Ambiental, um
Simulador para o treinamento dos operadores de Angra 2 e também de outras instituições nacionais e
estrangeiras e um Centro de Informações.
ANGRA 1
Em 1968, o Governo Brasileiro decidiu ingressar no campo da produção da energia nucleoelétrica, com o
objetivo primordial de propiciar ao setor elétrico a oportunidade de conhecer esta moderna tecnologia e
adquirir experiência para fazer frente às possíveis necessidades futuras. Como àquela época já estava
prevista uma complementação termelétrica na área do Rio de Janeiro, foi decidido que este aumento se
fizesse mediante a construção de uma usina nuclear de cerca de 600MW. Esta incumbência foi, então,
confiada pela ELETROBRÁS à FURNAS Centrais Elétricas S.A., que realizou uma concorrência
internacional, vencida pela empresa norte-americana Westinghouse.
A construção de Angra 1 foi iniciada em 1972 , a primeira reação em cadeia foi estabelecida em 1982 e a
usina entrou em operação comercial em 1985. Desde então já gerou mais de 40 milhões de MWh,
energia equivalente ao consumo aproximado de 20 milhões de habitantes ao longo de um ano, ou de um
milhão de habitantes ao longo dos seus 20 anos de operação. Após a solução de alguns problemas
surgidos nos primeiros anos de sua operação, Angra 1 apresenta um excelente desempenho, tendo
operado em 2001 com um fator de disponibilidade de 83%. Isto a coloca dentro dos padrões mundiais de
desempenho, de acordo com os critérios da WANO e do INPO.
Angra 1, com 657 MW de potência, é constituída pelos edifícios do Reator, de Segurança, do
Combustível, do Turbogerador, Auxiliares Norte e Sul e da Administração.
Edifício do Reator: o principal deles, pelas características especiais de sua construção, pois é em seu
interior que ocorre a fissão nuclear. Repousando diretamente sobre a rocha, é de forma cilíndrica e tem
58 m de altura e 36 m de diâmetro. Sua estrutura de concreto tem 75 cm de espessura. Em seu interior
há um envoltório de contenção em aço, de 30 mm de espessura. Internamente ao envoltório estão
localizados os componentes principais do sistema nuclear gerador de vapor, tais como o vaso de pressão
do reator dentro do qual está o núcleo do reator, geradores de vapor, e pressurizador.
Edifício de Segurança: nele, localiza-se a maioria dos componentes dos sistemas destinados a garantir a
segurança da usina, como o de Injeção de Segurança e o de Remoção de Calor Residual.
Edifício do Combustível: onde estão as áreas de armazenagem dos elementos combustíveis novos e
usados, bem como os equipamentos que possibilitam a sua movimentação na operação de recarga do
reator nuclear, recebimento do combustível novo e remessa do combustível usado.
Edifício do Turbogerador: abriga o grupo Turbogerador , seus acessórios, os condensadores e a maioria
dos componentes dos sistemas auxiliares convencionais. A potência elétrica instalada em Angra 1 está
concentrada em um único turbogerador.
Edifícios Auxiliares Sul e Norte: neles está a maioria dos componentes auxiliares do Sistema Nuclear de
Geração de Vapor. Também se localizam os painéis auxiliares de controle, a Sala de Controle de Angra
1, a maioria dos sistemas de ventilação, o ar condicionado e o grupo gerador diesel de emergência.
Próximo ao Edifício Auxiliar Sul, localiza-se o Edifício da Administração, onde são realizados serviços de
apoio à operação da usina.
Angra 1 possui ainda uma estrutura independente que abriga o circuito de captação e de descarga de
água do mar. Esta água é utilizada para refrigeração do condensador de vapor.
ANGRA 2
Em junho de 1975, o Governo Brasileiro assinou com a República Federal da Alemanha o Acordo sobre
Cooperação para Uso Pacífico da Energia Nuclear. Dentro do âmbito deste acordo, em julho de 1975 foi
concretizada a aquisição das usinas Angra 2 e 3 à empresa alemã Kraftwerk Union A.G. - KWU,
subsidiária da SIEMENS.
As obras civis de Angra 2 foram contratadas à Construtora Norberto Odebrecht e iniciadas em 1976.
Entretanto, a partir de 1983, o empreendimento teve o seu ritmo progressivamente desacelerado devido à
redução dos recursos financeiros disponíveis.
Em 1991, o Governo decidiu retomar as obras de Angra 2 e a composição dos recursos financeiros
necessários à conclusão do empreendimento foi definida ao final de 1994, sendo então realizada em 1995
a concorrência para a contratação da montagem eletromecânica da usina. As empresas vencedoras
associaram-se formando o consórcio UNAMON, o qual iniciou as suas atividades no canteiro em janeiro
de 1996.
A primeira reação em cadeia ocorreu em 14 de julho de 2000. A "trial operation" (fase de teste em que a
usina opera continuamente a 100%) foi concluída em 21 de dezembro de 2000. Durante o período de
comissionamento e de testes (até 31 de dezembro de 2000), Angra 2 produziu 2.622,65 GWh.
Angra 2 foi projetada com uma potência de 1309 MW mas, graças à adoção de melhorias tecnológicas e
ao excelente desempenho de seus sistemas e operadores, seu valor nominal foi revisto, passando para
1350MW disponíveis para operação em regime contínuo, valor este homologado pela ANEEL e
incorporado aos processos de planejamento e programação do Operador Nacional do Sistema Elétrico
(ONS).
Em 2001, durante seu primeiro ano completo de operação, Angra 2 apresentou um excepcional
desempenho, alcançando um fator de disponibilidade de 94% e gerando 10,5 milhões MWh, o que a
colocou em 16º lugar no ranking mundial das usinas nucleares com maior volume de geração de energia.
Em março de 2002, foi realizada a primeira troca de combustível de Angra 2. Durante a parada, foram
substituídos 60 elementos e o desligamento do reator foi aproveitado para a execução de diversos testes
periódicos nas áreas mecânica, elétrica, e de instrumentação. Foi realizada também a revisão de diversas
válvulas e de outros equipamentos, a inspeção das bombas de refrigeração do reator e implementadas
algumas modificações de projeto.
Em sua primeira parada, Angra 2 bateu um recorde pois todas as ações planejadas foram executadas em
28 dias - menos do que o prazo previsto, o que permitiu à usina atingir as suas metas de desempenho
pré-estabelecidas, ultrapassando inclusive a média mundial da WANO para o fator de disponibilidade.
ANGRA 3
A usina Angra 3, com 1309 MW, foi contratada em 1976, juntamente com Angra 2, visando uma redução
de custos, devido a terem o mesmo projeto. Por serem usinas similares, a potência de Angra 3 também
deverá ser elevada para 1350 MW, a exemplo do que ocorreu com Angra 2.
Em 1984, deu-se início à mobilização do canteiro de obras, no mesmo sítio de Angra 1 e Angra 2. Foram
executados os serviços de cortes de rocha e de abertura de cavas para os blocos de fundação, porém, as
obras foram paralisadas por falta de recursos, em 1986. Grande parte do suprimento de equipamentos
importados, entretanto, já está concluída. Os equipamentos estão armazenados no local e a Eletronuclear
mantém um sistema de preservação e inspeções técnicas que garantem as perfeitas condições de sua
utilização.
Em agosto de 2001, a Eletronuclear submeteu ao CNPE (Conselho Nacional de Política Energética),
proposta de retomada do empreendimento, cujo progresso atual é de 30 %. Em dezembro, a
Eletronuclear foi autorizada pelo CNPE a seguir com as ações relativas ao empreendimento levando em
conta a Moção 31 do CONAMA, de novembro de 2001, que recomenda a realização dos procedimentos
relativos ao processo de licenciamento ambiental de Angra 3.
Em agosto de 2002, a Eletronuclear fez a apresentação da situação do empreendimento ao CNPE
propondo o equacionamento econômico, financeiro e orçamentário, bem como ambiental e solução para
armazenamento de rejeitos radioativos.
Para atender ao Plano Decenal de Expansão do Sistema Elétrico 2002-2011, o CNPE, através da
resolução n° 8, de 17 de setembro de 2002,estabeleceu as condições para a retomada do
empreendimento, autorizando a Eletronuclear a adotar as medidas necessárias, tendo novembro de 2008
como data de referência para entrada em operação da usina. O andamento dessas medidas, bem como o
atendimento às disposições da Moção CONAMA n° 31, de novembro de 2001 e demais questões
referentes ao licenciamento ambiental, serão objeto de avaliação a ser realizada pelo CNPE em maio de
2003,com vistas à decisão sobre a continuidade do empreendimento
Fonte: www.eletronuclear.gov.br
ANGRA II
Já em 1986, durante o Governo José Sarney foi estabelecida uma Comissão de Alto Nível para a
Avaliação do Programa Nuclear (Comissão Vargas), sendo uma de suas recomendações " -9. Quanto aos
aspectos institucionais... j. Criar uma subsidiária da ELETROBRÁS para tratar da construção e operação
de centrais nucleares." Isto tiraria de FURNAS a administração e operação da Central Nuclear Almte.
Álvaro Alberto nalgum dia. Devido a intenção do Governo federal em privatizar suas empresas elétricas e
energia nuclear ser uma área de monopólio da União (artigo 21 da Constituição Federal), foram
necessários vários trâmites burocráticos e jurídicos para se conseguir a separação, abrindo o caminho
para a venda de FURNAS e manutenção do monopólio da energia nuclear pela União.
Partida
Em 30.03.2000, a CNEN concedeu a Autorização de Operação Inicial, com isto a ELETRONUCLEAR
iniciou o carregamento do núcleo com o combustível nuclear, passando para o status de instalação
nuclear. Às 09:34 do dia 02.04.2000, após 3 dias, o reator de Angra II foi finalmente carregado com os
193 elementos combustíveis.
"Angra II atingirá a fase de criticalidade (momento em que o reator entra numa reação em cadeia) já em
abril. A operação a plena carga está prevista para fim de maio ou início de junho." A expectativa passou
para o dia 15 de junho, com 30% de carga. Devido a defeito nos mancais de 3 bombas do Sistema de
Resfriamento, Angra II teve mais um atraso e prejuízo na venda de energia contratada. Em 13.07.2000 às
23:50 a Comissão Nacional de Energia Nuclear liberou o início do processo de fissão nuclear, que se
refere apenas à operação para atingir 30% da capacidade de geração da usina, ou seja, 390 MW. A usina
entrou em criticalidade - processo em que se atinge uma reação nuclear em cadeia auto-sustentada - em
14.07.2000. As etapas seguintes, com o aumento da geração da usina, teriam que receber novos
licenciamentos da CNEN.
Às 22:16 do dia 21.07. 2000, Angra II foi sincronizada, pela primeira vez, na rede elétrica. Começou com
potência de 150 MW, atingindo 270 MW. O reator havia entrado em criticalidade às 23:50 do dia
14.07.2000. Angra II encontrava-se em testes e durante essa fase dependia de mais duas autorizações
da CNEN, até atingir 100% de sua capacidade. Desde 18 de agosto de 2000 Angra II tinha autorização da
CNEN para realizar os testes até a potência de 80%. Em 28.08.2000 atingiu 80% de carga.
Em 26.09.2000 a CNEN autorizou a subida de carga para 100%. Às 14:30 de 28 de setembro com 98%
da capacidade, seu gerador produzia 1.350 MW, potência acima da esperada (1.309 MW). O teste de
aumento de potência, que aconteceu em setembro de 2002 demonstrou que Angra II pode atingir uma
potência de 1.436 MWe. A central é uma das tábuas de salvação com que o país conta para enfrentar a
demanda de energia elétrica no momento em que o governo diz temer o "blackout". Em 17.10.2001
atingiu 1.374 MW.
Até fins de dezembro de 2000 a unidade esteve em pré-operação (try-operation) e já apresentou algumas
falhas operacionais, implicando na sua retirada do sistema. Mas com Angra II aumentaram as
preocupações quanto ao Plano de Emergência e a destinação dos rejeitos radioativos.
Angra II foi sincronizada no sistema elétrico às 9h 06 min do dia 21 de janeiro de 2001, adiantando-se ao
cronograma previsto para o dia 23, para a instalação de um novo transformador, danificado em outubro
de 2000. Num horizonte de escassez energética, a contribuição de Angra II foi significativa e deu força à
construção da unidade III. Angra II poderá funcionar até 2040, podendo ser estendida até 2060.
Construída com tecnologia alemã, Angra II custou cerca de R$ 12 bilhões. Pelos cálculos de especialistas
do setor vale R$ 2,5 bilhões. Concorreu como a unidade termonuclear com a mais alta performance
mundial no ano de 2001
Fonte: www.energiatomica.hpg.ig.com.br
ANGRA iii
Angra III ainda é um buraco escavado na rocha a 200 m de Angra II, mas 43% de seus equipamentos já
foram comprados e estão guardados em 24 galpões na Central Nuclear e em Itaguaí, na NUCLEP. São
cerca de 10 mil t de equipamentos comprados da Alemanha, que chegaram ao Brasil a partir de 1986.
O atraso do projeto impôs uma série de desafios aos construtores de Angra II. Depois de 23 anos de
paredes pichadas por trabalhadores, uma Comissão Parlamentar de Inquérito e um interminável confronto
entre os a favor e os contra, ficamos conhecidos na comunidade nuclear internacional como exímios
armazenadores de US$ 750 milhões (equipamentos e início das obras civis). Tanto que Cuba solicitou
ajuda para cuidar do que sobrou de sua Central Nuclear de Juragua em Cienfuegos, interrompida pelo
esfacelamento do parceiro, a União Soviética.
A solução encontrada foi criar uma embalagem especial, que evitasse a entrada de ar e protegesse os
equipamentos da corrosão. Cada equipamento foi embalado em uma capa de alumínio hermeticamente
fechada por costura eletrônica. Dentro da embalagem, foram colocados absorventes de umidade. Cerca
de 50 operários a cada dois anos, os pacotes são abertos e os equipamentos examinados e de novo,
embalados. A manutenção das peças já levou mais cerca de R$ 900 milhões em 18 anos, ou R$ 50
milhões por ano.
Infelizmente, o estator (carcaça do gerador onde ficam as bobinas) de Angra II ficou comprometido
durante o passar dos anos e utilizou-se na montagem o estator reservado à Angra III. Para Angra III, só
há o rotor do gerador.
Também foi necessário proteger o material empregado na concretagem da usina. Foi preciso preservar
toda a ferragem que não iria ser concretada a curto prazo, para evitar que se enferrujasse.
Apesar da resistência do Partido Verde alemão, o Acordo Nuclear Brasil - Alemanha foi renovado (2000)
pelos dois países. Ele é confirmado a cada 5 anos e seu texto diz ser necessário que uma das partes o
rompa com pelo menos 12 meses de antecedência, o que não foi feito. Segundo o documento assinado
pelos governantes brasileiro e alemão, o acordo "prorrogar-se-á tacitamente" se não for denunciado por
uma das partes no prazo estipulado.
Com a quebra do contrato, caberá uma compensação indenizatória pelos equipamentos comprados há
mais de 20 anos; algo que será levado avante se os alemães oficializarem a posição do seu Partido
Verde.
Por sua vez, a empresa Siemens começou a alinhavar sua fusão com a francesa FRAMATOME e do
outro lado da fronteira, não haveria problema ético em ajudar o Brasil. A empresa comprou em 2000 a
KWU, em nota oficial, informou estar pronta a retomar o projeto de Angra III, agora que se tornou
responsável pelo cumprimento dos acordos de cooperação nuclear entre o Brasil e a Alemanha, com
vigência até 2005.
Pela análise realizada pela EdF, pelo Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (CEPEL) e pela Iberdrola, a
usina de Angra III teria uma vida útil de 40 anos e o empreendimento seria pago em 10 anos. Se o
governo autorizar, Angra III poderá ser construída em cinco anos e meio.
Em julho de 1999 foi publicado na imprensa que a unidade III é viável ao custo de mais US$ 1,7 bilhão, e
poderá ficar pronta em 2006, se o presidente da República der autorização com base nos estudos.
(Entrevista com diretor da ELETRONUCLEAR, entrevista com o ministro de Minas e Energia)
A construção de Angra III foi muito mais avaliada pela iniciativa privada do que pelo Governo federal. O
Crédit Agricole francês, associado à EdF, empresa controladora da Light fluminense esteve interessado
em estabelecer uma cadeia de geração, futuramente transmissão, e distribuição bastante vantajosa para
a Light, o que asseguraria a conclusão da usina em tempo hábil.
A EdF, Siemens, Westinghouse e GE estariam interessadas na instalação também de uma unidade no
Estado de Minas Gerais, motivados pela escassez de encomendas no setor e compensação dadas por lei
no Brasil à opção nuclear. A operação de usinas nucleares é prerrogativa do Estado, mas a lei é omissa
quanto à participação societária de empresas privadas.
Caso se opte por não construir e montar Angra III, a venda de seus equipamentos no mercado atingiria
somente US$ 60 milhões.
Num seminário na FIRJAN em janeiro de 2001, o presidente da ELETROBRÁS/ELETRONUCLEAR
(Firmino Sampaio) informou que o estudo de avaliação será passado para a área econômica do governo
e submetido ao Congresso Nacional para debate. Cada consumidor de eletricidade das regiões Sul e
Sudeste do País tem contribuído com 0,3% do valor de suas contas mensais de luz desde julho de 2003
para cobrir o déficit da ELETRONUCLEAR, só para manter as usinas, são torrados cerca de R$ 1 milhão
por dia dos cofres públicos.
Resumo da Ópera
O Conselho Nacional de Política Energética não aprovou a retomada do projeto na reunião de
31.07.2001. Houve resistências por parte de membros do Conselho (presidente da Agência Nacional de
Petróleo e o ministro de Meio-Ambiente), além de que o orçamento não tem verba prevista para a obra no
ano de 2001 (aparece apenas uma rubrica de R$ 10 milhões), diplomaticamente pediram mais um estudo
(o que levará 6 a 12 meses) e empurraram o assunto com a barriga.
Em 26.09.2001 a Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados realizou audiência pública
para implantação da unidade III num péssimo momento quando a revista Época denunciou que houve em
28.05.2001 um acidente envolvendo o vazamento de 22.000 l de água do circuito primário e que não foi
informado à sociedade, à ELETROBRÁS, Ministério de Minas e Energia, Ministério do Meio Ambiente e
prefeituras de Angra dos Reis e Paraty. O debate em torno da falta de transparência e promiscuidade dos
tratos entre a ELETRONUCLEAR e a CNEN comprometem mais uma vez a aceitação de uma terceira
unidade. O novo diretor-presidente, Flávio Decat, fez profissão de dar transparência e não deixar que um
fato coloque desconfiança sobre o setor.
O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou em 05.12.2001 a realização de estudos para
a continuação das obras de Angra III. Não haverá prazo para a conclusão desse levantamento. A
proposta que foi apresentada pelo Ministério de Minas e Energia previa o prazo de um ano para a
conclusão dos estudos, o que não foi aceito pelo CNPE.
Outra decisão do CNPE foi desaconselhar a implantação de novas usinas nucleares no País. De acordo
com a resolução, a implantação de novas usinas nucleares para integrar o sistema elétrico nacional após
a construção de Angra III deve ser "postergada e condicionada à realização de uma ampla avaliação
quanto ao uso futuro da tecnologia nuclear para a geração de eletricidade no País".
Este estudo seria feito por um grupo de representantes de universidades e institutos de pesquisa,
entidades empresariais e representantes dos ministérios de Minas e Energia, Meio Ambiente e do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, sob a coordenação do Ministério de Ciência e
Tecnologia.
Segundo o ministro de Minas e Energia, José Jorge, as obras de Angra III só serão retomadas caso os
estudos concluam que ela é técnica e economicamente viável em termos de prazos, custos e atendimento
aos requisitos ambientais. A resolução do CNPE determinou que seja feito estudo de revisão
orçamentária, através de avaliações que serão acompanhados por uma equipe de especialistas da FUSP
- Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo; elaboração do EIA/RIMA e obtenção da Licença de
Instalação junto ao IBAMA; preparação do Relatório Preliminar de Análise de Segurança (PSAR) e
obtenção da Licença de Construção junto à CNEN; equacionamento do modelo financeiro; renegociação
dos contratos; manutenção das fundações. Este estudo deverá ser aprovado pelos Ministérios da
Fazenda, Planejamento e Minas e Energia.
O estudo de impacto ambiental deverá passar pela aprovação do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), ligado ao Ministério do Meio Ambiente. A decisão tomada pelo CNPE também determina que
seja encontrada uma solução para a armazenagem de longo prazo dos rejeitos radioativos de média e
baixa atividades. Por fim, o projeto será decidido por outro governo, permanecendo uma incógnita mesmo
após a realização de cinco estudos de viabilidade.
Com a visita do chanceler alemão Gerhard Schroeder (13-14.02.2002) a Siemens, que participou desta
comitiva, tem interesse em fazer lobby na continuidade do projeto de Angra III, paralisado por
divergências na coalizão que governa a Alemanha (com participação do Partido Verde).
Em 2003 ascendeu o PT ao Governo federal e subiram também os críticos do passado, como o prof.
Pinguelli Rosa, responsável pelo conteúdo programático e levado à presidência da ELETROBRÁS. Com
tantos contratos assinados envolvendo empresas e governos o mais simples a decidir é pagar a conta da
megalomania e encerrar o caso com mais 1.300 MW. Se a Central Nuclear de Angra for concluída com as
3 unidades terão sido gastos 14 bilhões de dólares, o mesmo que Itaipu, apenas com 1/3 daquela
energia.
O físico Luiz Pinguelli diz que um grave problema é a receita da ELETRONUCLEAR. A empresa espera
reajuste em suas tarifas. Enquanto isso, deve ter prejuízo de R$ 400 milhões em 2004.
— Como construir Angra III, se a ELETRONUCLEAR não tem recursos para pagar as outras duas? —
pergunta Pinguelli, ressaltando que a participação de recursos privados é fundamental para a obra.
A obra geraria cerca de 5 mil empregos diretos e 15 mil indiretos. Edson Kuramoto, diretor da Associação
Brasileira de Energia Nuclear (ABEN) — que faz parte do Fórum Pró-Angra III, um grupo que reúne da
Federação das Indústrias do Estado do Rio (FIRJAN) ao governo do estado e o Clube de Engenharia —
acrescenta que já há no local subestação e linhas de transmissão.
O deputado estadual Carlos Minc (PT-RJ), que é contra a construção de Angra III, diz que 70% dos
equipamentos armazenados podem ser aproveitados em termelétricas movidas a gás, dado contestado
por outros especialistas.
Minc alerta que não há um plano de escoamento na região. O deputado lembra que em 18 anos houve 34
pequenos e médios acidentes e incidentes em Angra I, como vazamento de água e defeito no gerador de
vapor.
Em setembro de 2004 o jornal O Globo publicou que está praticamente acertada pelo governo a retomada
da construção da usina nuclear Angra III. A avaliação é de um integrante do grupo interministerial que
analisa a viabilidade da usina, orçada em R$ 7,5 bilhões. O grupo deve concluir os estudos até dezembro
de 2004.
O financiamento terá que ser majoritariamente externo e já há instituições financeiras da França
interessadas. O BNDES também deve participar, como avalista da ELETROBRÁS, responsável pelas
obras. A decisão deve ser tomada no máximo no início de 2005. A usina ficaria pronta de cinco anos e
meio a seis anos depois.
O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, disse que a decisão será
do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e o problema é o custo da energia a ser produzida,
devido ao valor salgado da obra.
Em 21.10.2004 foi publicado que o Brasil prepara a reforma de seu programa nuclear com a adição de
mais quatro usinas, além de Angra III, duas para 2010 e outras em 2016. Seriam unidades de 300 MW
com custo de US$ 2,8 bilhões a serem construídas em Manaus e na região Nordeste com tecnologia
nacional, com o fim de abastecimento de energia e filtragem de água salobra. Também está previsto a
construção de unidades de 40 MW a 60 MW. Aumento da produção de rádio-fármacos e irradiação de
alimentos para exportação. É fissão ou ficção nuclear? A TV Globo apresentou em seu telejornal de fim
de noite a série de reportagens "Desafio Nuclear".
Como Surgiu ANGRA I
CNEN
Angra I
Em janeiro de 1971, FURNAS recebeu as propostas dos pré-qualificados e em 18.05.1971 o relatório
apontando o vencedor (Westinghouse) foi levado ao ministro Antônio Dias Leite-MME por uma comissão
de FURNAS, CNEN e ELETROBRÁS. A compra seria financiada pelo EXIMBANK, contrato que foi
assinado em 27.01.1972. O contrato "turnkey" híbrido, porque em parte da obra houve participação de
componentes fornecidos pela indústria nacional, foi assinado em Brasília em 07.04.1972 -um contrato
para construção e outro para fornecimento de elementos combustíveis, e as obras começaram em
01.10.1972. Este acordo encerrou a fase diplomática - em que foram criados os principais institutos de
pesquisa e órgãos estatais para assuntos nucleares e iniciou a fase do desenvolvimento dependente.
Os EUA forneceram urânio enriquecido (numa quantidade que não ultrapassasse 2.300 kg em 30 anos)
em troca de urânio natural brasileiro. O urânio era da África do Sul, hexafluoretado na Inglaterra e
enriquecido nos EUA. Ficava a cargo da Comissão de Energia Atômica dos EUA o controle das
instalações brasileiras para que estas não fizessem uso militar. Neste acordo também ficou acertado que
o reator de potência a ser vendido para o Brasil seria um PWR (Reator de Água Pressurizada). Também o
financiamento do projeto gerou muitas suspeitas, pois foi feito por um banco que logo em seguida foi
comprado pelo então ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen.
"Em 1972, Angra era uma cidade ainda sem muitos recursos. FURNAS necessitou implantar uma
estrutura enorme, algo semelhante ao que aconteceu em Volta Redonda, desde os anos 40, quando lá se
construiu a Companhia Siderúrgica Nacional. Foram construídas vilas, hospedagens, hospital,
supermercado, escolas etc. A cidade cresceu e a próprias vilas do Frade e a de Mambucaba começaram
a oferecer algumas facilidades." Em 24.05.1974 chegaram o vaso do reator e os geradores de vapor.
Em 1974 a CNEN concedeu a Licença de Construção para algo que já estava em andamento. As
incongruências de etapas se explica no fato de que a legislação brasileira estava enfrentando um assunto
totalmente novo e os passos além foram dados numa época em que a sociedade não tinha meios
eficientes para questionar os tecnocratas e militares. Os EUA também passaram por problema similar.
Com o passar dos anos foram fortalecidas estruturas que implicam hoje em atender vários itens, como a
realização de um Estudo de Impacto Ambiental, autorização do IBAMA, ANEEL, FEEMA (no Estado do
Rio de Janeiro), e por fim a CNEN.
Em 29.04.1975 chegaram as turbinas de alta e baixa pressão, o pressurizador do sistema primário, o
gerador elétrico e o condensador. Em 27.10.1975 o presidente Geisel visitou as obras e em 20.12.1976
começou a montagem dos equipamentos pesados de Angra I. Em 23.11.1978 chegou o primeiro
carregamento de combustível nuclear fornecido pela Westinghouse.
Foi fixada a data de 31.03.1977 para o término das obras, devendo começar a operar em fins de 1978.
Angra I é do tempo que características de segurança não estavam no horizonte dos projetistas. Durante o
longo tempo para conclusão das etapas que por fim a colocaram em operação muitos detalhes tiveram
que ser revistos. Problemas financeiros também comprometeram o andamento das obras e algumas
surpresas técnicas, como a necessidade de melhorar o estaqueamento dos prédios, além de uma falha
de projeto nos geradores de vapor, os geradores de vapor são trocadores de calor verticais em usinas
nucleares que transferem calor do circuito primário para o circuito secundário, sendo que os adquiridos
para Angra I, fabricados com tubos de Liga 600, vêm apresentando corrosão sob tensão. Dessa forma, a
Usina poderia ter, a longo prazo, uma gradativa redução de sua capacidade de geração, sem
comprometimento da segurança. Das 128 usinas no mundo que possuem ou possuíam geradores de
vapor fabricados com tubos do mesmo material (Liga 600), 69 já substituíram esses trocadores de calor e
outras 20 estarão realizando essa substituição até 2007.
A Licença de Operação foi emitida em 20.09.1981 pela CNEN, quando também foi feito o primeiro
carregamento do núcleo. O defeito dos geradores de vapor foi constatado no reator de Angra I, o que
levou FURNAS a processar a Westinghouse. O assunto acabou numa Corte do Estado de Nova York a
favor da ré. A Empresa recorreu ao Tribunal Internacional e teve o mérito reconhecido. A troca dos
geradores está prevista para setembro de 2007.
Fonte: www.energiatomica.hpg.ig.com.br