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Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto

Situada na Praia de Itaorna, Município de Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro, a Central Nuclear de
Angra está próxima dos principais centros consumidores de energia do país. A escolha do local envolveu
uma série de condicionantes, ligadas às características do sistema de geração nuclear, tais como
abundância de água de refrigeração e facilidade de transporte e montagem de equipamentos pesados,
sendo precedida de inúmeros estudos desenvolvidos com o apoio de empresas de consultoria
internacionais, com ampla experiência em seleção de sítios para a construção de usinas nucleares. A
proximidade dos grandes centros de consumo evita a construção de dispendiosos sistemas de linhas de
transmissão e a conseqüente elevação do custo da energia produzida.
A Central Nuclear de Angra recebeu o nome de Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto em homenagem
a este pioneiro pesquisador do campo da tecnologia nuclear no Brasil. Álvaro Alberto da Motta e Silva
(1889–1976) impôs-se como o principal articulador de uma política nacional de energia nuclear, sendo um
dos incentivadores da criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear, em 1956. Foi também liderança
incansável na criação do Conselho Nacional de Pesquisas, cuja presidência exerceu de 1951 até 1955.
Membro de sociedades científicas nacionais e internacionais, presidiu a Academia Brasileira de Ciências
de 1935 a 1937.

A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto é constituída pelas Usinas Angra 1, Angra 2 e Angra 3 e suas
instalações de apoio, dentre as quais destacam-se o Laboratório de Monitoração Ambiental, um
Simulador para o treinamento dos operadores de Angra 2 e também de outras instituições nacionais e
estrangeiras e um Centro de Informações.

Segurança acima de tudo


Procedimentos rigorosos de acompanhamento, verificação e controle, consolidados através de um
Programa de Garantia da Qualidade, abrangendo o projeto básico, as diversas etapas de fabricação dos
componentes, a construção civil e a montagem e a realização de testes funcionais de desempenho de
equipamentos e sistemas, bem como, de testes periódicos de rotina, fazem parte das medidas adotadas
para impedir a ocorrência de acidentes com liberação de radioatividade.

ANGRA 1
Em 1968, o Governo Brasileiro decidiu ingressar no campo da produção da energia nucleoelétrica, com o
objetivo primordial de propiciar ao setor elétrico a oportunidade de conhecer esta moderna tecnologia e
adquirir experiência para fazer frente às possíveis necessidades futuras. Como àquela época já estava
prevista uma complementação termelétrica na área do Rio de Janeiro, foi decidido que este aumento se
fizesse mediante a construção de uma usina nuclear de cerca de 600MW. Esta incumbência foi, então,
confiada pela ELETROBRÁS à FURNAS Centrais Elétricas S.A., que realizou uma concorrência
internacional, vencida pela empresa norte-americana Westinghouse.
A construção de Angra 1 foi iniciada em 1972 , a primeira reação em cadeia foi estabelecida em 1982 e a
usina entrou em operação comercial em 1985. Desde então já gerou mais de 40 milhões de MWh,
energia equivalente ao consumo aproximado de 20 milhões de habitantes ao longo de um ano, ou de um
milhão de habitantes ao longo dos seus 20 anos de operação. Após a solução de alguns problemas
surgidos nos primeiros anos de sua operação, Angra 1 apresenta um excelente desempenho, tendo
operado em 2001 com um fator de disponibilidade de 83%. Isto a coloca dentro dos padrões mundiais de
desempenho, de acordo com os critérios da WANO e do INPO. 
Angra 1, com 657 MW de potência, é constituída pelos edifícios do Reator, de Segurança, do
Combustível, do Turbogerador, Auxiliares Norte e Sul e da Administração.

Edifício do Reator: o principal deles, pelas características especiais de sua construção, pois é em seu
interior que ocorre a fissão nuclear. Repousando diretamente sobre a rocha, é de forma cilíndrica e tem
58 m de altura e 36 m de diâmetro. Sua estrutura de concreto tem 75 cm de espessura. Em seu interior
há um envoltório de contenção em aço, de 30 mm de espessura. Internamente ao envoltório estão
localizados os componentes principais do sistema nuclear gerador de vapor, tais como o vaso de pressão
do reator dentro do qual está o núcleo do reator, geradores de vapor, e pressurizador.
Edifício de Segurança: nele, localiza-se a maioria dos componentes dos sistemas destinados a garantir a
segurança da usina, como o de Injeção de Segurança e o de Remoção de Calor Residual.
Edifício do Combustível: onde estão as áreas de armazenagem dos elementos combustíveis novos e
usados, bem como os equipamentos que possibilitam a sua movimentação na operação de recarga do
reator nuclear, recebimento do combustível novo e remessa do combustível usado.
Edifício do Turbogerador: abriga o grupo Turbogerador , seus acessórios, os condensadores e a maioria
dos componentes dos sistemas auxiliares convencionais. A potência elétrica instalada em Angra 1 está
concentrada em um único turbogerador.
Edifícios Auxiliares Sul e Norte: neles está a maioria dos componentes auxiliares do Sistema Nuclear de
Geração de Vapor. Também se localizam os painéis auxiliares de controle, a Sala de Controle de Angra
1, a maioria dos sistemas de ventilação, o ar condicionado e o grupo gerador diesel de emergência.
Próximo ao Edifício Auxiliar Sul, localiza-se o Edifício da Administração, onde são realizados serviços de
apoio à operação da usina.
Angra 1 possui ainda uma estrutura independente que abriga o circuito de captação e de descarga de
água do mar. Esta água é utilizada para refrigeração do condensador de vapor.

ANGRA 2
Em junho de 1975, o Governo Brasileiro assinou com a República Federal da Alemanha o Acordo sobre
Cooperação para Uso Pacífico da Energia Nuclear. Dentro do âmbito deste acordo, em julho de 1975 foi
concretizada a aquisição das usinas Angra 2 e 3 à empresa alemã Kraftwerk Union A.G. - KWU,
subsidiária da SIEMENS.
As obras civis de Angra 2 foram contratadas à Construtora Norberto Odebrecht e iniciadas em 1976.
Entretanto, a partir de 1983, o empreendimento teve o seu ritmo progressivamente desacelerado devido à
redução dos recursos financeiros disponíveis.
Em 1991, o Governo decidiu retomar as obras de Angra 2 e a composição dos recursos financeiros
necessários à conclusão do empreendimento foi definida ao final de 1994, sendo então realizada em 1995
a concorrência para a contratação da montagem eletromecânica da usina. As empresas vencedoras
associaram-se formando o consórcio UNAMON, o qual iniciou as suas atividades no canteiro em janeiro
de 1996.
A primeira reação em cadeia ocorreu em 14 de julho de 2000. A "trial operation" (fase de teste em que a
usina opera continuamente a 100%) foi concluída em 21 de dezembro de 2000. Durante o período de
comissionamento e de testes (até 31 de dezembro de 2000), Angra 2 produziu 2.622,65 GWh.
Angra 2 foi projetada com uma potência de 1309 MW mas, graças à adoção de melhorias tecnológicas e
ao excelente desempenho de seus sistemas e operadores, seu valor nominal foi revisto, passando para
1350MW disponíveis para operação em regime contínuo, valor este homologado pela ANEEL e
incorporado aos processos de planejamento e programação do Operador Nacional do Sistema Elétrico
(ONS).
Em 2001, durante seu primeiro ano completo de operação, Angra 2 apresentou um excepcional
desempenho, alcançando um fator de disponibilidade de 94% e gerando 10,5 milhões MWh, o que a
colocou em 16º lugar no ranking mundial das usinas nucleares com maior volume de geração de energia.
Em março de 2002, foi realizada a primeira troca de combustível de Angra 2. Durante a parada, foram
substituídos 60 elementos e o desligamento do reator foi aproveitado para a execução de diversos testes
periódicos nas áreas mecânica, elétrica, e de instrumentação. Foi realizada também a revisão de diversas
válvulas e de outros equipamentos, a inspeção das bombas de refrigeração do reator e implementadas
algumas modificações de projeto.
Em sua primeira parada, Angra 2 bateu um recorde pois todas as ações planejadas foram executadas em
28 dias - menos do que o prazo previsto, o que permitiu à usina atingir as suas metas de desempenho
pré-estabelecidas, ultrapassando inclusive a média mundial da WANO para o fator de disponibilidade.

ANGRA 3

A usina Angra 3, com 1309 MW, foi contratada em 1976, juntamente com Angra 2, visando uma redução
de custos, devido a terem o mesmo projeto. Por serem usinas similares, a potência de Angra 3 também
deverá ser elevada para 1350 MW, a exemplo do que ocorreu com Angra 2.
Em 1984, deu-se início à mobilização do canteiro de obras, no mesmo sítio de Angra 1 e Angra 2. Foram
executados os serviços de cortes de rocha e de abertura de cavas para os blocos de fundação, porém, as
obras foram paralisadas por falta de recursos, em 1986. Grande parte do suprimento de equipamentos
importados, entretanto, já está concluída. Os equipamentos estão armazenados no local e a Eletronuclear
mantém um sistema de preservação e inspeções técnicas que garantem as perfeitas condições de sua
utilização.
Em agosto de 2001, a Eletronuclear submeteu ao CNPE (Conselho Nacional de Política Energética),
proposta de retomada do empreendimento, cujo progresso atual é de 30 %. Em dezembro, a
Eletronuclear foi autorizada pelo CNPE a seguir com as ações relativas ao empreendimento levando em
conta a Moção 31 do CONAMA, de novembro de 2001, que recomenda a realização dos procedimentos
relativos ao processo de licenciamento ambiental de Angra 3.
Em agosto de 2002, a Eletronuclear fez a apresentação da situação do empreendimento ao CNPE
propondo o equacionamento econômico, financeiro e orçamentário, bem como ambiental e solução para
armazenamento de rejeitos radioativos.
Para atender ao Plano Decenal de Expansão do Sistema Elétrico 2002-2011, o CNPE, através da
resolução n° 8, de 17 de setembro de 2002,estabeleceu as condições para a retomada do
empreendimento, autorizando a Eletronuclear a adotar as medidas necessárias, tendo novembro de 2008
como data de referência para entrada em operação da usina. O andamento dessas medidas, bem como o
atendimento às disposições da Moção CONAMA n° 31, de novembro de 2001 e demais questões
referentes ao licenciamento ambiental, serão objeto de avaliação a ser realizada pelo CNPE em maio de
2003,com vistas à decisão sobre a continuidade do empreendimento

Fonte: www.eletronuclear.gov.br

ANGRA II
Já em 1986, durante o Governo José Sarney foi estabelecida uma Comissão de Alto Nível para a
Avaliação do Programa Nuclear (Comissão Vargas), sendo uma de suas recomendações " -9. Quanto aos
aspectos institucionais... j. Criar uma subsidiária da ELETROBRÁS para tratar da construção e operação
de centrais nucleares." Isto tiraria de FURNAS a administração e operação da Central Nuclear Almte.
Álvaro Alberto nalgum dia. Devido a intenção do Governo federal em privatizar suas empresas elétricas e
energia nuclear ser uma área de monopólio da União (artigo 21 da Constituição Federal), foram
necessários vários trâmites burocráticos e jurídicos para se conseguir a separação, abrindo o caminho
para a venda de FURNAS e manutenção do monopólio da energia nuclear pela União.

Através de uma cisão empresarial ocorrida em 01.08.1997 surgiu a ELETRONUCLEAR (ELETROBRÁS


Termonuclear S.A.), que vem a ser a consolidação da área nuclear de FURNAS (Diretoria de Produção
Termonuclear) com a NUCLEN. A CNEN já estava com a Portaria pronta para transferir a Autorização
para Operação Permanente.
Em junho de 1999, a Justiça Federal no Rio de Janeiro deu 45 dias, após a publicação da sentença
(ocorrida no final de agosto de 1999), para a ELETRONUCLEAR retornar para FURNAS, reconhecendo
que a cisão deveria ser resolvida no Congresso Nacional.
Normalmente o pessoal de operação de Angra I é levado para serem avaliados nos EUA (Ginna) ou
Espanha (Tecnatom) em um simulador idêntico às características de controle da usina. Os operadores de
Angra II contam desde 1985 com um simulador da unidade II na praia de Mambucaba, que tem gerado
recursos próprios com a venda de serviços para operadores de usinas idênticas à Angra II da Alemanha,
Suiça, Espanha e também Argentina.
Nos piores anos de Angra I, dizia-se que o simulador para aquela unidade estava situado na própria sala
de controle de Angra I. Não se precisava ir lá fora para fazer testes de emergência e segurança, segundo
a piada que se contava. Em setembro de 2001, a ELETRONUCLEAR resolveu contratar serviços para
montar também um simulador para a unidade I.
Em 23.05.1997 o Governo já tinha preparado a minuta do decreto.
O Presidente do Supremo Tribunal Federal, Carlos Velloso, suspendeu os efeitos desta sentença em 26
de outubro, permanecendo as empresas como definido na cisão das atividades e evitando maior estrago.
Em 1999, terminada a montagem, com indice de 30% de nacionalização, começaram os testes de
comissionamento da unidade II e o trabalho de convencimento da opinião pública. Quando um sistema
era concluído, era avaliado e testado por técnicos estrangeiros e brasileiros, enquanto seus operadores
estavam sendo avaliados pela CNEN.

Partida
Em 30.03.2000, a CNEN concedeu a Autorização de Operação Inicial, com isto a ELETRONUCLEAR
iniciou o carregamento do núcleo com o combustível nuclear, passando para o status de instalação
nuclear. Às 09:34 do dia 02.04.2000, após 3 dias, o reator de Angra II foi finalmente carregado com os
193 elementos combustíveis.
"Angra II atingirá a fase de criticalidade (momento em que o reator entra numa reação em cadeia) já em
abril. A operação a plena carga está prevista para fim de maio ou início de junho." A expectativa passou
para o dia 15 de junho, com 30% de carga. Devido a defeito nos mancais de 3 bombas do Sistema de
Resfriamento, Angra II teve mais um atraso e prejuízo na venda de energia contratada. Em 13.07.2000 às
23:50 a Comissão Nacional de Energia Nuclear liberou o início do processo de fissão nuclear, que se
refere apenas à operação para atingir 30% da capacidade de geração da usina, ou seja, 390 MW. A usina
entrou em criticalidade - processo em que se atinge uma reação nuclear em cadeia auto-sustentada - em
14.07.2000. As etapas seguintes, com o aumento da geração da usina, teriam que receber novos
licenciamentos da CNEN.
Às 22:16 do dia 21.07. 2000, Angra II foi sincronizada, pela primeira vez, na rede elétrica. Começou com
potência de 150 MW, atingindo 270 MW. O reator havia entrado em criticalidade às 23:50 do dia
14.07.2000. Angra II encontrava-se em testes e durante essa fase dependia de mais duas autorizações
da CNEN, até atingir 100% de sua capacidade. Desde 18 de agosto de 2000 Angra II tinha autorização da
CNEN para realizar os testes até a potência de 80%. Em 28.08.2000 atingiu 80% de carga.
Em 26.09.2000 a CNEN autorizou a subida de carga para 100%. Às 14:30 de 28 de setembro com 98%
da capacidade, seu gerador produzia 1.350 MW, potência acima da esperada (1.309 MW). O teste de
aumento de potência, que aconteceu em setembro de 2002 demonstrou que Angra II pode atingir uma
potência de 1.436 MWe. A central é uma das tábuas de salvação com que o país conta para enfrentar a
demanda de energia elétrica no momento em que o governo diz temer o "blackout". Em 17.10.2001
atingiu 1.374 MW.
Até fins de dezembro de 2000 a unidade esteve em pré-operação (try-operation) e já apresentou algumas
falhas operacionais, implicando na sua retirada do sistema. Mas com Angra II aumentaram as
preocupações quanto ao Plano de Emergência e a destinação dos rejeitos radioativos.
Angra II foi sincronizada no sistema elétrico às 9h 06 min do dia 21 de janeiro de 2001, adiantando-se ao
cronograma previsto para o dia 23, para a instalação de um novo transformador, danificado em outubro
de 2000. Num horizonte de escassez energética, a contribuição de Angra II foi significativa e deu força à
construção da unidade III. Angra II poderá funcionar até 2040, podendo ser estendida até 2060.
Construída com tecnologia alemã, Angra II custou cerca de R$ 12 bilhões. Pelos cálculos de especialistas
do setor vale R$ 2,5 bilhões. Concorreu como a unidade termonuclear com a mais alta performance
mundial no ano de 2001

Fonte: www.energiatomica.hpg.ig.com.br

ANGRA iii
Angra III ainda é um buraco escavado na rocha a 200 m de Angra II, mas 43% de seus equipamentos já
foram comprados e estão guardados em 24 galpões na Central Nuclear e em Itaguaí, na NUCLEP. São
cerca de 10 mil t de equipamentos comprados da Alemanha, que chegaram ao Brasil a partir de 1986.
O atraso do projeto impôs uma série de desafios aos construtores de Angra II. Depois de 23 anos de
paredes pichadas por trabalhadores, uma Comissão Parlamentar de Inquérito e um interminável confronto
entre os a favor e os contra, ficamos conhecidos na comunidade nuclear internacional como exímios
armazenadores de US$ 750 milhões (equipamentos e início das obras civis). Tanto que Cuba solicitou
ajuda para cuidar do que sobrou de sua Central Nuclear de Juragua em Cienfuegos, interrompida pelo
esfacelamento do parceiro, a União Soviética.
A solução encontrada foi criar uma embalagem especial, que evitasse a entrada de ar e protegesse os
equipamentos da corrosão. Cada equipamento foi embalado em uma capa de alumínio hermeticamente
fechada por costura eletrônica. Dentro da embalagem, foram colocados absorventes de umidade. Cerca
de 50 operários a cada dois anos, os pacotes são abertos e os equipamentos examinados e de novo,
embalados. A manutenção das peças já levou mais cerca de R$ 900 milhões em 18 anos, ou R$ 50
milhões por ano.
Infelizmente, o estator (carcaça do gerador onde ficam as bobinas) de Angra II ficou comprometido
durante o passar dos anos e utilizou-se na montagem o estator reservado à Angra III. Para Angra III, só
há o rotor do gerador.
Também foi necessário proteger o material empregado na concretagem da usina. Foi preciso preservar
toda a ferragem que não iria ser concretada a curto prazo, para evitar que se enferrujasse.

Entraves Diplomáticos e Financeiros


Contratou-se os serviços de consultoria da empresa espanhola Iberdrola em julho de 1998, com objetivo
de realizar uma auditoria sobre as obras da usina nuclear de Angra III, que já consumiram US$ 1,4 bilhão.
O Governo reavaliará aqueles cálculos feitos antes da desvalorização cambial de 1999 e segundo o
resultado obtido na visita do presidente da República à Alemanha em outubro de 2000 se decidirá pelo
futuro da nova unidade. Com o fechamento das usinas alemãs num prazo de 20 anos, a Bundesregierung
alemã não incentiva novos projetos e com isto, a curto prazo, o suporte financeiro está comprometido e o
Governo brasileiro com um abacaxi na mão.

Apesar da resistência do Partido Verde alemão, o Acordo Nuclear Brasil - Alemanha foi renovado (2000)
pelos dois países. Ele é confirmado a cada 5 anos e seu texto diz ser necessário que uma das partes o
rompa com pelo menos 12 meses de antecedência, o que não foi feito. Segundo o documento assinado
pelos governantes brasileiro e alemão, o acordo "prorrogar-se-á tacitamente" se não for denunciado por
uma das partes no prazo estipulado.
Com a quebra do contrato, caberá uma compensação indenizatória pelos equipamentos comprados há
mais de 20 anos; algo que será levado avante se os alemães oficializarem a posição do seu Partido
Verde.
Por sua vez, a empresa Siemens começou a alinhavar sua fusão com a francesa FRAMATOME e do
outro lado da fronteira, não haveria problema ético em ajudar o Brasil. A empresa comprou em 2000 a
KWU, em nota oficial, informou estar pronta a retomar o projeto de Angra III, agora que se tornou
responsável pelo cumprimento dos acordos de cooperação nuclear entre o Brasil e a Alemanha, com
vigência até 2005.
Pela análise realizada pela EdF, pelo Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (CEPEL) e pela Iberdrola, a
usina de Angra III teria uma vida útil de 40 anos e o empreendimento seria pago em 10 anos. Se o
governo autorizar, Angra III poderá ser construída em cinco anos e meio.
Em julho de 1999 foi publicado na imprensa que a unidade III é viável ao custo de mais US$ 1,7 bilhão, e
poderá ficar pronta em 2006, se o presidente da República der autorização com base nos estudos.
(Entrevista com diretor da ELETRONUCLEAR, entrevista com o ministro de Minas e Energia)
A construção de Angra III foi muito mais avaliada pela iniciativa privada do que pelo Governo federal. O
Crédit Agricole francês, associado à EdF, empresa controladora da Light fluminense esteve interessado
em estabelecer uma cadeia de geração, futuramente transmissão, e distribuição bastante vantajosa para
a Light, o que asseguraria a conclusão da usina em tempo hábil.
A EdF, Siemens, Westinghouse e GE estariam interessadas na instalação também de uma unidade no
Estado de Minas Gerais, motivados pela escassez de encomendas no setor e compensação dadas por lei
no Brasil à opção nuclear. A operação de usinas nucleares é prerrogativa do Estado, mas a lei é omissa
quanto à participação societária de empresas privadas.
Caso se opte por não construir e montar Angra III, a venda de seus equipamentos no mercado atingiria
somente US$ 60 milhões.
Num seminário na FIRJAN em janeiro de 2001, o presidente da ELETROBRÁS/ELETRONUCLEAR
(Firmino Sampaio) informou que o estudo de avaliação será passado para a área econômica do governo
e submetido ao Congresso Nacional para debate. Cada consumidor de eletricidade das regiões Sul e
Sudeste do País tem contribuído com 0,3% do valor de suas contas mensais de luz desde julho de 2003
para cobrir o déficit da ELETRONUCLEAR, só para manter as usinas, são torrados cerca de R$ 1 milhão
por dia dos cofres públicos.

Construção sob Pressão


Sua construção ganhou novo impulso com a perspectiva de racionalização, racionamento, falta de
energia e crise, embora este problema venha sendo anunciado desde 1996, somente em 2001 é que se
consideram seriamente medidas concretas para evitar o pior. Neste cenário, o caminho poderá ser
encurtado e receber uma canetada do Palácio do Planalto determinando a retomada da obra. Mas, o
passo em direção à construção será percebido pelo sistema elétrico em pelo menos 6 anos.
As áreas econômica e ambiental do Governo parecem não ter simpatia pelo projeto, o que será uma
grande tarefa para o Ministério de Minas e Energia. A PETROBRAS que tem interesse que o consumo de
gás natural aumente faz o lobby da não-construção. A decisão pode ser encaminhada a favor após uma
reunião do Conselho Nacional de Política Energética.
Para isto há o apoio formal do Governo do Rio de Janeiro e de políticos do Congresso Nacional, para não
falar dos interessados-beneficiados (construtoras, fornecedoras, a ELETRONUCLEAR, CNEN, ABEN,
ABDAN, etc.) Para isto seria criada uma Sociedade de Propósito Específico com a ELETROBRÁS
detendo 51% e acionistas privados, onde se incluem os interessados-beneficiados -privados e
internacionais.
A usina de Angra III irá agregar uma potência firme de 1.300 MW ao sistema interligado da região
Sul/Sudeste/Centro-Oeste, atendendo a demanda crescente desta região. Mesmo que todas as
hidrelétricas planejadas sejam feitas, o país terá um déficit de energia de 2.500 MW em 2010, e seria
necessário construir várias termelétricas. A usina de Angra III também representará importante
contribuição para diminuir a dependência de energia elétrica do Estado do Rio de Janeiro, que importava
70% de sua demanda até o final de 2001.
A usina de Angra III, também viabilizará a auto-sustentabilidade econômica do ciclo do combustível
nuclear pela garantia de escala de demanda do mesmo, tornando viável a ampliação da FEC–Fábrica de
Elementos Combustíveis, localizada na cidade de Resende, com a entrada em operação da fase de
enriquecimento do urânio.
O ministro de Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, disse, em discurso em Viena (Áustria), durante a
48ª Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que a matriz energética
brasileira precisa ser diversificada:
— A energia de fonte nuclear tem papel assegurado, sendo concretas as possibilidades de ampliação de
sua participação na matriz energética do país.

Marinha e Angra III


A Marinha irradiou pressão para todos os lados dentro do governo, na tentativa de evitar a entrada de
capital privado no negócio. Do outro, os bancos alemães Dresdner Kleinwort Benson e o KFW, virtuais
conselheiros financeiros do projeto, favoráveis à abertura da construção de Angra III para grupos
internacionais. Aliás, não só favoráveis, como intermediários. Os dois bancos gostariam muito de ver a
URENCO, grupo de capital alemão, holandês e inglês, fornecendo urânio para a nova usina.
E há ainda outros candidatos. A Iberdrola, as americanas Westinghouse e Duke Energy e a sueca Asea
Brown Boveri já teriam remetido à ELETRONUCLEAR seu interesse no negócio. Estas empresas
participariam da construção de Angra III e, em troca, receberiam a energia gerada. O mais provável é que
a ELETRONUCLEAR aceite o modelo proposto pelos bancos alemães e abra espaço para empresas
internacionais na usina.
A venda de combustível para as centrais argentinas também são consideradas para o fechamento de
contas para a construção. Devido a crise financeira do país vizinho, o Governo proporá venda de
combustível também à Coréia, como forma de se proteger de um possível "forfait" portenho.
A Marinha gostaria de ver a presença do capital privado em Angra III afundar, porque vem desenvolvendo
pesquisas para utilizar a tecnologia da ultracentrifugação em escala industrial e tem interesse em
processar urânio para a nova usina. Porém, dificilmente vencerá esta batalha. Primeiro, porque não tem
poder de decisão sobre a questão, de responsabilidade do Ministério de Minas e Energia. Segundo, não
dispõe de tecnologia em grande escala para competir com grupos internacionais.
E, como se não bastassem estes dois motivos, há mais um, praticamente decisivo: a Marinha não
ajudaria no financiamento do projeto. Como a ELETRONUCLEAR não pretende tirar um tostão do bolso,
deve acabar apelando para a iniciativa privada. Tanto é que a montagem financeira da operação, que
estaria recebendo os primeiros esboços por parte do Dresdner Kleinwort Benson e do KFW, já
contemplaria a presença de grupos internacionais no consórcio que construiria Angra III, possivelmente
liderado pela Andrade Gutierrez.
Não é só a operação de Angra III que está em jogo neste momento. Quem conseguir colocar os pés na
usina conquistará uma posição privilegiada para o momento em que o governo privatizar o sistema de
geração nuclear.
O processo ocorreria tão logo fossem vendidas todas as geradoras e transmissoras da ELETROBRÁS
(FURNAS, CHESF, ELETRONORTE). O consórcio que construir Angra III e controlar parte da venda da
energia teria vantagens comparativas na disputa pelo controle desta e das outras duas usinas por já
conhecer todos os dados operacionais e financeiros do negócio.

Resumo da Ópera
O Conselho Nacional de Política Energética não aprovou a retomada do projeto na reunião de
31.07.2001. Houve resistências por parte de membros do Conselho (presidente da Agência Nacional de
Petróleo e o ministro de Meio-Ambiente), além de que o orçamento não tem verba prevista para a obra no
ano de 2001 (aparece apenas uma rubrica de R$ 10 milhões), diplomaticamente pediram mais um estudo
(o que levará 6 a 12 meses) e empurraram o assunto com a barriga.
Em 26.09.2001 a Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados realizou audiência pública
para implantação da unidade III num péssimo momento quando a revista Época denunciou que houve em
28.05.2001 um acidente envolvendo o vazamento de 22.000 l de água do circuito primário e que não foi
informado à sociedade, à ELETROBRÁS, Ministério de Minas e Energia, Ministério do Meio Ambiente e
prefeituras de Angra dos Reis e Paraty. O debate em torno da falta de transparência e promiscuidade dos
tratos entre a ELETRONUCLEAR e a CNEN comprometem mais uma vez a aceitação de uma terceira
unidade. O novo diretor-presidente, Flávio Decat, fez profissão de dar transparência e não deixar que um
fato coloque desconfiança sobre o setor.
O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou em 05.12.2001 a realização de estudos para
a continuação das obras de Angra III. Não haverá prazo para a conclusão desse levantamento. A
proposta que foi apresentada pelo Ministério de Minas e Energia previa o prazo de um ano para a
conclusão dos estudos, o que não foi aceito pelo CNPE.
Outra decisão do CNPE foi desaconselhar a implantação de novas usinas nucleares no País. De acordo
com a resolução, a implantação de novas usinas nucleares para integrar o sistema elétrico nacional após
a construção de Angra III deve ser "postergada e condicionada à realização de uma ampla avaliação
quanto ao uso futuro da tecnologia nuclear para a geração de eletricidade no País".
Este estudo seria feito por um grupo de representantes de universidades e institutos de pesquisa,
entidades empresariais e representantes dos ministérios de Minas e Energia, Meio Ambiente e do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, sob a coordenação do Ministério de Ciência e
Tecnologia.
Segundo o ministro de Minas e Energia, José Jorge, as obras de Angra III só serão retomadas caso os
estudos concluam que ela é técnica e economicamente viável em termos de prazos, custos e atendimento
aos requisitos ambientais. A resolução do CNPE determinou que seja feito estudo de revisão
orçamentária, através de avaliações que serão acompanhados por uma equipe de especialistas da FUSP
- Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo; elaboração do EIA/RIMA e obtenção da Licença de
Instalação junto ao IBAMA; preparação do Relatório Preliminar de Análise de Segurança (PSAR) e
obtenção da Licença de Construção junto à CNEN; equacionamento do modelo financeiro; renegociação
dos contratos; manutenção das fundações. Este estudo deverá ser aprovado pelos Ministérios da
Fazenda, Planejamento e Minas e Energia.
O estudo de impacto ambiental deverá passar pela aprovação do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), ligado ao Ministério do Meio Ambiente. A decisão tomada pelo CNPE também determina que
seja encontrada uma solução para a armazenagem de longo prazo dos rejeitos radioativos de média e
baixa atividades. Por fim, o projeto será decidido por outro governo, permanecendo uma incógnita mesmo
após a realização de cinco estudos de viabilidade.
Com a visita do chanceler alemão Gerhard Schroeder (13-14.02.2002) a Siemens, que participou desta
comitiva, tem interesse em fazer lobby na continuidade do projeto de Angra III, paralisado por
divergências na coalizão que governa a Alemanha (com participação do Partido Verde).
Em 2003 ascendeu o PT ao Governo federal e subiram também os críticos do passado, como o prof.
Pinguelli Rosa, responsável pelo conteúdo programático e levado à presidência da ELETROBRÁS. Com
tantos contratos assinados envolvendo empresas e governos o mais simples a decidir é pagar a conta da
megalomania e encerrar o caso com mais 1.300 MW. Se a Central Nuclear de Angra for concluída com as
3 unidades terão sido gastos 14 bilhões de dólares, o mesmo que Itaipu, apenas com 1/3 daquela
energia.
O físico Luiz Pinguelli diz que um grave problema é a receita da ELETRONUCLEAR. A empresa espera
reajuste em suas tarifas. Enquanto isso, deve ter prejuízo de R$ 400 milhões em 2004.
— Como construir Angra III, se a ELETRONUCLEAR não tem recursos para pagar as outras duas? —
pergunta Pinguelli, ressaltando que a participação de recursos privados é fundamental para a obra.
A obra geraria cerca de 5 mil empregos diretos e 15 mil indiretos. Edson Kuramoto, diretor da Associação
Brasileira de Energia Nuclear (ABEN) — que faz parte do Fórum Pró-Angra III, um grupo que reúne da
Federação das Indústrias do Estado do Rio (FIRJAN) ao governo do estado e o Clube de Engenharia —
acrescenta que já há no local subestação e linhas de transmissão.
O deputado estadual Carlos Minc (PT-RJ), que é contra a construção de Angra III, diz que 70% dos
equipamentos armazenados podem ser aproveitados em termelétricas movidas a gás, dado contestado
por outros especialistas.
Minc alerta que não há um plano de escoamento na região. O deputado lembra que em 18 anos houve 34
pequenos e médios acidentes e incidentes em Angra I, como vazamento de água e defeito no gerador de
vapor.
Em setembro de 2004 o jornal O Globo publicou que está praticamente acertada pelo governo a retomada
da construção da usina nuclear Angra III. A avaliação é de um integrante do grupo interministerial que
analisa a viabilidade da usina, orçada em R$ 7,5 bilhões. O grupo deve concluir os estudos até dezembro
de 2004.
O financiamento terá que ser majoritariamente externo e já há instituições financeiras da França
interessadas. O BNDES também deve participar, como avalista da ELETROBRÁS, responsável pelas
obras. A decisão deve ser tomada no máximo no início de 2005. A usina ficaria pronta de cinco anos e
meio a seis anos depois.
O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, disse que a decisão será
do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e o problema é o custo da energia a ser produzida,
devido ao valor salgado da obra.
Em 21.10.2004 foi publicado que o Brasil prepara a reforma de seu programa nuclear com a adição de
mais quatro usinas, além de Angra III, duas para 2010 e outras em 2016. Seriam unidades de 300 MW
com custo de US$ 2,8 bilhões a serem construídas em Manaus e na região Nordeste com tecnologia
nacional, com o fim de abastecimento de energia e filtragem de água salobra. Também está previsto a
construção de unidades de 40 MW a 60 MW. Aumento da produção de rádio-fármacos e irradiação de
alimentos para exportação. É fissão ou ficção nuclear? A TV Globo apresentou em seu telejornal de fim
de noite a série de reportagens "Desafio Nuclear".
Como Surgiu ANGRA I

CNEN

(Comissão Nacional de Energia Nuclear)


Em 10.10.1956, data de sua criação, a CNEN-Comissão Nacional de Energia Nuclear foi encarregada de
"propor as medidas julgadas necessárias à orientação da política geral da energia atômica", vinculada à
Presidência da República e 4 anos depois passou para o âmbito do Ministério de Minas e Energia,
quando este foi criado, tornando-se um órgão mais executivo. Em 27.08.1962, a Lei n° 4.118 definiu que
"Política Nacional e Energia Nuclear" era assunto de Estado, o princípio foi consagrado mais uma vez na
Constituição Brasileira de 1988. Noutros países, a energia nuclear é supervisionada pelo Estado e
desenvolvida por instituições e empresas privadas .
Enquanto isto, os Institutos de Energia da USP e UFRJ desenvolviam seus estudos com reatores de
pesquisa e o Instituto Militar de Engenharia já contava com um curso de engenharia nuclear, mais tarde
servindo como pós-graduação (1969).
Em dezembro de 1959, a CNEN estudava a viabilidade da construção de uma usina na faixa litorânea
entre as cidades de Angra dos Reis e Paraty, criando a Superintendência do Projeto Mambucaba. Seria
uma usina-piloto de 150 a 200 MW para treinamento de técnicos. Em 1963 estes planos foram
esquecidos por falta de força política da CNEN, e acabaram engavetados pela decisão momentânea dos
militares de não usar a energia nuclear como fonte de energia elétrica e retomados 2 anos depois quando
a CNEN criou o Grupo de Trabalho de Reatores de Potência e começou a trabalhar numa proposta de
uma Central Nuclear Centro-Sul de 538 MWe, um reator moderado a água leve e a urânio enriquecido.
Somou-se a isto um consórcio de consultores do Brasil, Estados Unidos e Canadá que reexaminaram o
assunto através do Consórcio CANAMBRA (CANAMBRA Engineering Consultant Limited) sobre
alternativas de energia para o País. Mas, só em 1967 é que foi elaborado um plano de nuclearização para
o país.
Em 12.04.1967, o presidente Costa e Silva, em Punta del Este-Uruguay anunciou o propósito de construir
a primeira usina nuclear e neste sentido baixou o Decreto n° 60.890. Costa e Silva também recebeu uma
comitiva alemã ( Alfred Böttcher, Hans Joos, Klaus Wagner) com a proposta de desenvolver no Brasil
experiências que não seriam permitidas na Alemanha
Os americanos fizeram um levantamento de nossas potencialidades e entregaram ao Governo em 1968 o
Projeto Lane (J.A. Lane), que constituiu-se no primeiro instrumento normativo brasileiro para
aproveitamento nuclear.
Em 26.04.1968 um convênio entre a ELETROBRÁS, holding do setor de energia, e a CNEN, abriu
caminho para a exploração nuclelétrica no Brasil e no início de 1969 foi tomada a decisão de construir tal
unidade nuclear, que deveria ficar pronta em 1975. Em 31.01.1969 foi assinado contrato com a NUS
Corporation para assessoramento na implantação de uma usina nuclear. Em 25.06.1969 a CNEN
estabeleceu normas para escolha do local. A Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado da
Guanabara reivindicou a instalação para si alegando que era o único estado sem fonte própria de energia
hidrelétrica.

FURNAS Centrais Elétricas S.A.


John Cotrim, primeiro presidente de FURNAS, posicionou-se contra uma usina nuclear, em 1966.
FURNAS, mais tarde, em 1970, seria a primeira subsidiária a ter em seu sistema de geração uma central
nuclear de 500 MW, tornando-se responsável pela construção e operação da nova usina. Em abril de
1970 decidiu-se para a construção dessa instalação a Praia de Itaorna no distrito de Cunhambebe,
município fluminense de Angra dos Reis, próximo dos grandes centros consumidores do país -Minas
Gerais (350 km), São Paulo (220 km) e Rio de Janeiro (130 km). A Praia de Itaorna, um dia habitada por
índios guaranis com conhecimento sísmico (o nome da praia significa "pedra podre") era uma vila de
pescadores e plantadores de banana. Também foram consideradas as áreas de Ponta Negra (Maricá),
Muriqui (Mangaratiba), Prainha, Grumari (Rio de Janeiro) e Mambucaba (Angra dos Reis).
Os convites foram feitos em junho de 1970. Em 26.01.1971 foram abertas as propostas de 5 fabricantes:
Fabricante País Tipo de Reator ASEA-ATOM Suécia Água leve fervente THE NUCLEAR POWER
GROUP Reino Unido Água leve fervente e moderado a água pesada COMBUSTION ENGINEERING
EUA Água leve pressurizada WESTINGHOUSE EUA Água leve pressurizada GENERAL ELECTRIC EUA
Água leve fervente KRAFTWERK UNION (SIEMENS) Alemanha Água leve pressurizada KRAFTWERK
UNION (AEG) Alemanha Água leve fervente 
A ASEA-ATOM e a COMBUSTION ENGINEERING declinaram do convite devido à limitações técnicas.

Angra I
Em janeiro de 1971, FURNAS recebeu as propostas dos pré-qualificados e em 18.05.1971 o relatório
apontando o vencedor (Westinghouse) foi levado ao ministro Antônio Dias Leite-MME por uma comissão
de FURNAS, CNEN e ELETROBRÁS. A compra seria financiada pelo EXIMBANK, contrato que foi
assinado em 27.01.1972. O contrato "turnkey" híbrido, porque em parte da obra houve participação de
componentes fornecidos pela indústria nacional, foi assinado em Brasília em 07.04.1972 -um contrato
para construção e outro para fornecimento de elementos combustíveis, e as obras começaram em
01.10.1972. Este acordo encerrou a fase diplomática - em que foram criados os principais institutos de
pesquisa e órgãos estatais para assuntos nucleares e iniciou a fase do desenvolvimento dependente.
Os EUA forneceram urânio enriquecido (numa quantidade que não ultrapassasse 2.300 kg em 30 anos)
em troca de urânio natural brasileiro. O urânio era da África do Sul, hexafluoretado na Inglaterra e
enriquecido nos EUA. Ficava a cargo da Comissão de Energia Atômica dos EUA o controle das
instalações brasileiras para que estas não fizessem uso militar. Neste acordo também ficou acertado que
o reator de potência a ser vendido para o Brasil seria um PWR (Reator de Água Pressurizada). Também o
financiamento do projeto gerou muitas suspeitas, pois foi feito por um banco que logo em seguida foi
comprado pelo então ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen.
"Em 1972, Angra era uma cidade ainda sem muitos recursos. FURNAS necessitou implantar uma
estrutura enorme, algo semelhante ao que aconteceu em Volta Redonda, desde os anos 40, quando lá se
construiu a Companhia Siderúrgica Nacional. Foram construídas vilas, hospedagens, hospital,
supermercado, escolas etc. A cidade cresceu e a próprias vilas do Frade e a de Mambucaba começaram
a oferecer algumas facilidades." Em 24.05.1974 chegaram o vaso do reator e os geradores de vapor.
Em 1974 a CNEN concedeu a Licença de Construção para algo que já estava em andamento. As
incongruências de etapas se explica no fato de que a legislação brasileira estava enfrentando um assunto
totalmente novo e os passos além foram dados numa época em que a sociedade não tinha meios
eficientes para questionar os tecnocratas e militares. Os EUA também passaram por problema similar.
Com o passar dos anos foram fortalecidas estruturas que implicam hoje em atender vários itens, como a
realização de um Estudo de Impacto Ambiental, autorização do IBAMA, ANEEL, FEEMA (no Estado do
Rio de Janeiro), e por fim a CNEN.
Em 29.04.1975 chegaram as turbinas de alta e baixa pressão, o pressurizador do sistema primário, o
gerador elétrico e o condensador. Em 27.10.1975 o presidente Geisel visitou as obras e em 20.12.1976
começou a montagem dos equipamentos pesados de Angra I. Em 23.11.1978 chegou o primeiro
carregamento de combustível nuclear fornecido pela Westinghouse.
Foi fixada a data de 31.03.1977 para o término das obras, devendo começar a operar em fins de 1978.
Angra I é do tempo que características de segurança não estavam no horizonte dos projetistas. Durante o
longo tempo para conclusão das etapas que por fim a colocaram em operação muitos detalhes tiveram
que ser revistos. Problemas financeiros também comprometeram o andamento das obras e algumas
surpresas técnicas, como a necessidade de melhorar o estaqueamento dos prédios, além de uma falha
de projeto nos geradores de vapor, os geradores de vapor são trocadores de calor verticais em usinas
nucleares que transferem calor do circuito primário para o circuito secundário, sendo que os adquiridos
para Angra I, fabricados com tubos de Liga 600, vêm apresentando corrosão sob tensão. Dessa forma, a
Usina poderia ter, a longo prazo, uma gradativa redução de sua capacidade de geração, sem
comprometimento da segurança. Das 128 usinas no mundo que possuem ou possuíam geradores de
vapor fabricados com tubos do mesmo material (Liga 600), 69 já substituíram esses trocadores de calor e
outras 20 estarão realizando essa substituição até 2007.
A Licença de Operação foi emitida em 20.09.1981 pela CNEN, quando também foi feito o primeiro
carregamento do núcleo. O defeito dos geradores de vapor foi constatado no reator de Angra I, o que
levou FURNAS a processar a Westinghouse. O assunto acabou numa Corte do Estado de Nova York a
favor da ré. A Empresa recorreu ao Tribunal Internacional e teve o mérito reconhecido. A troca dos
geradores está prevista para setembro de 2007.

Usina Nuclear de Angra I


A Usina Nuclear de Angra I, ao custo de US$ 308 milhões (no contrato), mas fala-se em US$ 9 bilhões, só
deu sinal de vida em 1980, com o seu comissionamento. Os cientistas brasileiros jamais concordaram. O
grau de nacionalização dessa unidade foi inferior a 10%. Queriam algo mais próximo de nossa realidade
como um reator do tipo CANDU, um reator a base de urânio natural e água pesada, esta tecnologia é
mais simples e o método é aberto. Com um combustível sem enriquecimento, o Brasil não ficaria refém
dos EUA no seu fornecimento e teria transferência de tecnologia facilitada devido a ter características
mais simples, que poderiam ser executadas pela indústria nacional. As obras terminaram somente em
1983. O Relatório Anual de Operação de Angra I (1982) informa que a unidade Westinghouse PWR de
dois loops com potência térmica de 1.876 MW e 626 MW brutos de capacidade elétrica, entrou em
sincronismo pela primeira vez com o sistema elétrico no dia 01.04.1982 às 15:26 e está em operação
comercial desde 01.01.1985.
Naquele ano gerou 3.169.379,2 MW e o fator de capacidade alcançou a média de 57,8%. De 1982 até o
fim de 1998, Angra I gerou 26.916 GWh de eletricidade. Se essa quantidade de eletricidade fosse
substituída pela eletricidade gerada por usinas térmicas convencionais, um acréscimo de 13,1% ou 26,2
milhões de t de CO2 seria emitido para a atmosfera. Mas parece que este tipo de informação é atípica.
Angra I teve uma coleção de deméritos. Veja a sala de controle, o salão do turbogerador e o centro de
informações (imagens pertencentes a ELETRONUCLEAR S.A.). Em 04.01.1986 teve início a Parada 2,
para o primeiro recarregamento de um terço do núcleo do reator, teste nos geradores de vapor, revisão
do turbogerador e retubagem do condensador com tubos especiais de titânio (a usina que a
Westinghouse vendeu era para ser resfriada com água doce e não com água do mar). Angra I poderá
funcionar até 2023.
Parece que a usina conseguiu superar o seu instinto nato: em 2002 garantiu mais 16 MW. O programa de
melhoria de performance prosseguirá e calcula-se mais 14 MW de ganho. Leite de pedra! A troca dos dois
geradores de vapor para Angra I vai possibilitar a extensão da vida útil da usina nuclear em 30 anos além
do previsto, portanto até 2050. O contrato para construção envolve investimentos de 44 milhões de euros
(cerca de US$ 54 milhões), com prazo de 40 meses. A ELETRONUCLEAR conseguiu redução de ICMS
de R$ 50 milhões com o governo do estado. Os parceiros neste contrato são a NUCLEP e a francesa
FRAMATOME.

Fonte: www.energiatomica.hpg.ig.com.br

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