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SUBSTITUÍÇÃO DE BARRA ESTATÓRICA EM HIDROGERADOR

SÍNCRONO DE 419MW – OTIMIZAÇÃO DO ATIVO EM SEU CICLO DE VIDA


DESAFIOS E APRENDIZADO

Autores: Juarez Antonio de Souza Junior, Milton Luiz Gil Romano e Everaldo
Gaspareto ¹.

RESUMO
Este trabalho foi realizado na usina hidrelétrica Governador Bento Munhoz da
Rocha Netto – UHE GBM, a qual está localizada 240 km a sudoeste de
Curitiba, na divisa dos municípios de Pinhão e Bituruna, a 5 km da jusante da
foz do Rio Areia no Rio Iguaçu. Suas instalações possuem quatro unidades
geradoras de 419 MW de potência efetiva cada uma, totalizando 1676 MW de
potência instalada. Sua subestação elevadora é do tipo blindada isolada a gás
SF6. Sua potência instalada é responsável por trinta e cinco por cento da
geração da companhia. Sua inauguração é datada do ano de 1980, sendo que
ao longo dos 38 anos de operação seus hidrogeradores foram submetidos a
esforços mecânicos, magnéticos e térmicos, provenientes de curtos circuitos
em transformadores elevadores, rejeição de carga hidráulica por desligamentos
de atuação de proteção, ciclos de partidas e paradas além do envelhecimento
natural dos seus componentes isolantes. Estudos estatísticos apontam falhas
no sistema de isolamento 56% dos defeitos em hidrogeradores, e um terço dos
mesmos são relacionados ao envelhecimento da isolação. Após quase 36 anos
de operação, ocorreu uma falha no enrolamento estatórico de uma das
unidades geradoras da UHE GBM, sendo a origem da falha, uma falta à fase-
terra. Em decorrência dessa falha, estratégias foram implementadas para
restabelecer a operacionalidade do equipamento. O objetivo primário deste
artigo é descrever as ações implementadas para reparar a falha da referida
unidade geradora, de forma a retornar a confiabilidade operacional do
equipamento, mantendo assim o controle do ativo da companhia. Como
objetivo secundário, visa apresentar o processo de identificação da falha, os
procedimentos para substituição da barra danificada (desmontagem,
substituição, materiais, ensaios dielétricos) e por fim, registrar os desafios e
dificuldades encontrados durante o processo de manutenção no enrolamento
estatórico do gerador da UG01 da UHE GBM1.

1.0 INTRODUÇÃO

Gerenciamento de ativos é um ramo da manutenção do setor elétrico que,


dentro de uma realidade mais competitiva, busca novas formas de eficiência e

1
Everaldo Gaspareto (Copel Geração e Transmissão – Técnico Eletrotécnico III);
Milton Luiz Gil Romano (Copel Geração e Transmissão – Técnico Eletrotécnico III);
Juarez Antonio de Souza Júnior (Copel Geração e Transmissão – Engenheiro Eletricista Pleno);
de redução de perdas. Diante da necessidade de equipamentos eficientes no
desenvolvimento de práticas de gestão de ativos, soluções técnicas baseadas
na utilização de cobre mostram-se como oportunidade para viabilizar a
substituição ou renovação de equipamentos ineficientes ou com defeitos. Com
base nos índices de disponibilidade da grande maioria das plantas que fazem
parte do Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), é importante, para os
Agentes de Geração, reduzir o número de paradas de máquinas. Por outro
lado, os riscos de falhas podem aumentar com o tempo de operação das
mesmas, como na UHE GBM, elas operam a trinta e cinco anos, tempo muito
próximo do estimado da vida útil para uma máquina de grande porte.
Os hidrogeradores são máquinas rotativas projetadas para trabalhar durante
um longo tempo. No entanto, sua vida útil pode ser comprometida devido aos
diversos tipos de falhas como, curto entre fase e terra ou entre fases. A
estrutura mais frágil destas máquinas são os isolamentos das bobinas
estatóricas, que são formadas por barras estatóricas. Nessas estruturas ocorre
a maioria dos problemas que comprometem gradualmente o funcionamento
das máquinas [4].
Devido à característica geo-elétrica da UHE GBM, ao longo da sua vida as
máquinas têm sido fortemente solicitadas em termos de geração de potência
ativa e reativa, de controle de tensão e como auxiliar na recuperação e controle
da frequência do Sistema Interligado Nacional – SIN. Essas máquinas foram
submetidas a inúmeras perturbações eletromecânicas, especialmente nos anos
iniciais de operação do sistema de 500kV e 750kV adjacentes a essa usina.
Também por requisitos do SIN, foram submetidas a constantes e praticamente
diárias reversões – operação compensador síncrono/operação gerador –
manobras que submetem o enrolamento estatórico a um importante degrau de
temperatura e por isso um esforço igualmente importante na união entre a
isolação das barras estatóricas e o cobre dessas barras [1].
A redução da vida útil do enrolamento possui diversos fatores, são eles: Modo
de operação, carregamento, condições mecânicas, vibração, contaminação e
falhas internas decorrentes do processo de fabricação. Portanto, a vida útil
destes equipamentos está diretamente associada ao plano de manutenção e
qualidade da execução a ele associado [4].

2.0 CARACTERISTICAS TECNICAS DO GERADOR


Potência: 419 MW;
Tensão (Un): 16,5 kV +5% / -7%;
Rotação: 128,57 rpm;
Número de pólos: 56;
Frequência: 60 Hz;
Classe térmica de isolação:
Estator: F
Rotor: F
Elevações de temperatura (acima de 40°C do ar ambiente):
Estator: 85°C
Rotor: 85°C
Número de ranhuras do estator: 360;
Tipo de enrolamento estatórico: Ondulado, de dupla camada;
Transposição Roebel: 540°;
Diâmetro interno do núcleo estatórico: 11.600 mm;
Comprimento do núcleo estatórico: 3.020 mm;

3.0 DESCRIÇÃO DA OCORRÊNCIA

No dia 19 de dezembro de 2015, quando houve a atuação da proteção 64S


95% (falha terra estator) da unidade geradora 1 da UHE GBM. A atuação da
proteção ocasionou uma parada de máquina não planejada, a qual foi por falha
no sistema de isolação elétrica conforme FIGURA 1 e 2, contribuindo na
depreciação do ativo da companhia.
Como atividade primária após a ocorrência, a equipe de manutenção em
conjunto com a engenharia da COPEL GET realizaram a avaliação do estado
operativo do enrolamento estatórico. Onde, por meio de ensaio de resistência
de isolamento e tensão aplicada nas fases do gerador, confirmou-se a
ocorrência de uma falha para terra na fase C, mais precisamente na barra de
topo da ranhura nº 18 entre a segunda e terceira cunha de aperto da barra [1].

FIGURA 1: Parte da barra aonde ocorreu da falha;

FIGURA 2: Parte da cunha de fixação aonde ocorreu da falha;


4.0 OBJETIVOS

O objetivo deste artigo é descrever as ações tomadas para reparar a unidade


geradora de forma a retornar a confiabilidade operacional do equipamento.
Como objetivo secundário, visa apresentar o processo de identificação da
falha, os procedimentos para substituição da barra danificada (desmontagem,
substituição, materiais, ensaios dielétricos) e por fim, registrar os desafios e
dificuldades encontrados durante o processo de manutenção no enrolamento
estatórico do gerador da UG01 da UHE GBM mantendo assim a vida útil e o
controle do ativo da companhia.

5.0 METODOLOGIA

Para reparar a unidade geradora, primeiramente vem o planejamento geral


para substituição da barra em falha, de forma a reunir as pessoas da equipe
local e como o período era de férias o contingente previsto de plantão não era
suficiente para a realização da atividade deste porte, foi solicitado apoio para
outras usinas da companhia.
Seguindo o planejamento, vem à definição do método para localização exata
do ponto da falha. Foi realizada inspeção visual, porém como a falha não era
visível foi utilizado ensaios elétricos como: Resistencia de isolamento para
detectar se a falha era à terra e tensão aplicada para definir o ponto mais
próximo da falha.
Depois de encontrado o ponto de falha citado anteriormente foi seguido com as
ações para recuperação do barramento. O levantamento de material e
ferramental necessário para a atividade, também teve seu ponto de atenção, os
matérias como barra estatórica passaram por ensaios antes da instalação
devido estarem armazenadas no almoxarifado poderiam ter alguma anomalia e
os maquinários utilizados para desfazer as conexões e refazer estavam a
vários anos parados.
5.1 Serviços de campo
Fizeram parte do escopo deste trabalho os serviços descritos a seguir:
Carga, transporte dos equipamentos de ensaios;
Carga, transporte e descarga dos materiais para instalar no gerador;
Recuperação dos equipamentos, máquina de solda e dispositivos;
Desmontagem do gerador (rotor, cruzeta, tampas, cobertura, defletores
de ar, etc.);
Desmontagem dos pólos do rotor para acesso;
Desmontagem do enrolamento estatórico danificado;
Montagem da nova barra no enrolamento do estator;
Ensaios após montagem;
Montagem dos pólos no rotor, com as respectivas conexões;
Ensaio no enrolamento e pólos;
Pintura parcial dos componentes do gerador;
Remontagem do gerador (rotor, cruzeta, tampas, cobertura, defletores
de ar, etc.);
Liberação da unidade geradora para o ONS;
Carga, transporte e descarga dos materiais inservíveis retirados do
gerador.

6.0 DESAFIOS E APRENDIZADOS

A falha supracitada desencadeou uma sequência de desafios para a


companhia e atrelado a ela à equipe de engenharia e de manutenção, como
verificação de pessoal com experiência para executar a atividade, primeiro
desafio encontrado, pois devido à equipe de manutenção passar por recente
renovação, não havia conhecimento da equipe sobre a atividade em questão,
está serviu de aprendizado.
No que diz respeito ao aprendizado, evidencia-se a elaboração de
procedimentos escritos para substituição de barras estatóricas; implementação
de lista de ferramentas; quantificação mais refinada de materiais e mão de obra
necessária para realização do procedimento; a determinação de uma
cronoanálise mais apurada para liberação do equipamento.

7.0 CONCLUÇÃO

Pode-se concluir após realização desta atividade complexa para a maioria dos
integrantes que participaram da recuperação da unidade geradora. A qual foi
uma experiência única e de grande valia para o pessoal e no âmbito da
companhia, pois em se tratando de substituição de barras estatóricas em
hidrogerador de grande porte a maioria do pessoal com conhecimento já não
está na ativa. Dentro dos objetivos deste artigo foram realizadas as ações para
reparar a unidade geradora de forma a retornar a confiabilidade operacional do
equipamento da UHE GBM e mantendo assim a vida útil e o controle do ativo
da companhia.
8.0 REFERÊNCIAS

(1) A. FOGAÇA, J. SILVA e GBM/VPGB, Análise de defeitos recorrentes ocorridos em barras


estatóricas de um gerador síncrono, Rio de Janeiro: CIGRÉ VII Encontro Nacional de Máquinas
Rotativas, 2016.

(2) CHESF. Projeto Básico DOEG - 003/2005: Recuperação do Gerador da Unidade Geradora
G3 da Usina Paulo Afonso III.

(3) F. GALVÃO e M. UEMORI, Premissas adotadas em reforma de hidrogeradores, Curitiba:


CIGRÉ IV Encontro Nacional de Máquinas Rotativas, 2010.

(4) MAURO, Marco Aurélio Siqueira. Análise de vida útil de isolamento de geradores com
enrolamento de armadura refrigerado a água. 2015. 97 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Elétrica) – Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, 2015.

(5) SOUZA, Rodrigo de Queiroz. Metodologia e desenvolvimento de um sistema de


manutenção preditiva visando à melhoria da confiabilidade de ativos de usinas hidrelétricas.
2008. 207 f. Dissertação (Mestrado em Sistemas Mecatrônicos)-Universidade de Brasília,
Brasília, 2008.

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