Professora Indiara Tainan Passos dos Santos, Mulher
negra de Axé, 41 anos. Filha de Mãe Isabel de Oyá, do Ilê Axé Oyawoye de São Leopoldo, e do Artista Plástico Autodidata Valdeme Ribeiro dos Santos. Assessora Técnica da Secretaria Municipal de Educação, Professora, Pedagoga, Neuropsicopedagoga, Especialista em Educação Especial Inclusiva e Atendimento Educacional Especializado. Coordenadora da Rede Nacional de Mulheres Negras no Combate à Violência / RS. Artista Criativa, Contadora de Histórias, Poetisa. Coordenadora do Projeto Pingos e Gotas de Luz do Centro Espírita de Umbanda Luz Divina de Novo Hamburgo. Co-fundadora do Coletivo de Profes Pretas. Mestranda em Ensino de História pelo ProfHistória da UFRGS.
O Racismo no decorrer da história da Humanidade recebeu diversas nomenclaturas,
nuances e aplicações nas diversas situações onde foi vivenciado com os mais diferentes usos: científicos, sociais, de ascensão ao poder, dominação de um povo e /ou nação… Compreendido como o desdém, ódio ao outro, descaso a pessoas em razão de sua origem étnica, raça, asco, traços fenotípicos, cor de pele e características que de um modo geral a aproximam, mesmo que, de forma superficial a um grupo, que com o passar do tempo historicamente foi preterido em razão da existência de outro considerado superior ou tido como padrão de inteligência, capacidade, beleza e/ou perfeição em sua aparência física, crenças, língua e linguagens, tradições, fazeres e organização social. Sendo então o Racismo uma estrutura social que foi sendo aperfeiçoada ao longo dos milênios, serviu como ferramenta para a obtenção de mando e poder de alguns em detrimento aos sofrimento e extermínio de outros, permitindo e justificando massacres que dizimaram povos, o acesso aos direitos básicos necessários à sobrevivência de seres humanos. Através de processos de crenças racistas, dizia de várias maneiras, em distintas sociedades quem era merecedor de acesso ao conhecimento, à cuidados e acesso à saúde, direito a alimentar-se e de possuir bens desde a antiguidade. E aproximando esta compreensão da forma como os países da América Latina foram constituídos, através das Invasões permitidas no período das “Grandes Navegações”, movimento exploratório das Américas já povoadas, o racismo que estava contido nos intento da dominação de um vasto e rico território por portugueses e espanhóis, é possível compreender o processo de aculturação vivido de forma violenta pelos povos Originários e Indígenas, donos destes territórios, para que os europeus pudessem fazer morada e local de exploração permanente neste que de Pindorama, chamamos de Brasil. Não houve espaço para dialogar com os costumes e crenças dos povos que aqui já desenvolviam suas culturas milenares, pois foram simplesmente chamados “índios” e compreendidos como pessoas sem luz, alma e capacidade de pensar. Logo, estes necessitavam ser preenchidos com tudo de bom que este povo europeu, superior, branco e católico tinha para oferecer: sua catequização, a imposição de um Deus punitivista que auxiliaria e muito na intenção de “domesticar” aqueles corpos nus e selvagens. Então vamos batizá-los e levar a “boa nova” da Evangelização em todos os lugares ao mesmo tempo que os mais resistentes são eliminados. O plano logo precisou ser repensado e recalculado, pois o processo de catequização acabou por matar aqueles corpos servis e que conheciam mais desta terra “selvagem”. Então, o que fazer? A busca por substituição de tal mão-de-obra agora escassa, abre portas para um lucrativo negócio, agora com possibilidade de ganhos que estavam aumentando vertiginosamente, e de “peças” de cor mais escura, ainda mais primitiva que os caboclos, que poderiam gerar lucro: passam os europeus a traficar mão-de-obra negro-africana para outros países europeus e principalmente para as colônias do novo continente: As Américas. Este não foi um processo simples, mas o sucesso das navegações ajudou, ao perceberem que pela fartura numérica de peças à disposição, logo após a captura em terras africanas, pois para carregá-las, não precisavam ocupar espaço, suprimentos ou conforto, conseguiam aguentar os 3 meses de viagem e mesmo que houvesse avaria, as “peças” restantes ainda poderiam produzir outras e continuar gerando renda para seus donos. Assim aportaram nas Américas e, especialmente no Brasil, extenso contigente de mulheres e homens negros, tratados como objetos e consequentemente considerados incapazes de pensar, sentir, criar… Como poderiam estes então possuirem crenças e adorarem a forças superiores se não passavam de seres inferiores aos animais domésticos? Desta maneira tem origem uma das formas mais cruéis do que consideramos Racismo Estrutural no Brasil, o Racismo Religioso, que considera tudo o que está conectado à Ancestralidade Negro-Africana, e aos Sagrados das diversas etnias africanas ou afro-brasileiras em diásporas como crenças inferiores, demoníacas, perigosas, cheias de animismo e sem acesso à lógica, simplesmente por conta de sua origem ou mesmo por se diferenciarem das crenças consideradas aceitáveis; mesmo que não professem separação e nenhum dos valores citados anteriormente. E como consequência de um processo de aculturação secular, estes medos e crenças relativos às Religiosidades de Matrizes Africanas, Cânticos, Expressões Artísticas, Danças, Alimentos e Manifestações Culturais sofrem até hoje com o desconhecimento, desdém típicos do processo do Racismo Estrutural à Brasileira. Só conseguiremos desconstruir estas amarras da ignorância através do conhecimento e da garantia do exercer os direitos fundamentais dos seres humanos de ser, estar e existir no mundo da forma como lhe convir, podendo se expressar da maneira que o permita ser feliz. O processo para que isto seja alcançado não é fácil, mas escritos como este podem e serão ferramentas para a diminuição da ignorância e todas as formas de Intolerância.