Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Rio de Janeiro – RJ
Agosto de 2016
Alessandra Lima de Carvalho
Rio de Janeiro – RJ
Agosto de 2016
2
LISTA DE FIGURAS
SUMÁRIO
3
I - RESUMO ___________________________________________________ 05
II - INTRODUÇÃO ______________________________________________ 06
III - OBJETIVOS________________________________________________ 13
V - METODOLOGIA_____________________________________________ 18
4
I - RESUMO
5
II - INTRODUÇÃO
Figura 1
Em dezembro de 1956, participou da Primeira Exposição Nacional de
Poesia Concreta no Museu de Arte Moderna de São Paulo, onde apresentou a
poesia Solida em forma de cartaz1 – a mesma que mais tarde vai ser
reelaborada pelo poeta, ganhando o formato de caixa com pranchas que formam
objetos dobráveis. Já nessa época, Dias-Pino se destacava entre os colegas do
1
Imagem retirada do site Enciclopédia Visual: espaço dedicado á obra de Wladimir Dias-Pino. Disponível
em: http://www.enciclopediavisual.com/poemas.detalhes.php?secao=1&subsecao=1&conteudo=25.
Acesso em: 03/07/2016.
6
movimento concreto, pois sua obra já mostrava sinais de uma escrita expandida,
ultrapassando as fronteiras da literatura tradicional.
Antes disso, em Cuiabá (onde viveu dos dez anos até a idade adulta),
lançou, junto a outros artistas, um movimento literário nomeado de Intensivismo.
FIGURA 2
2
DIAS-PINO, Wlademir. Cronobiografia. Museu de arte do Rio. Disponível em:
http://www.museudeartedorio.org.br/sites/default/files/cronobiografia.pdf. Acesso em 29/06/16. Grifo
do artista.
3
Imagem retirada do site Enciclopédia Visual: espaço dedicado á obra de Wladimir Dias-Pino. Disponível
em: http://www.enciclopediavisual.com/poemas.detalhes.php?secao=1&subsecao=1&conteudo=25.
Acesso em: 03/07/2016.
7
Em 1965, Wlademir Dias-Pino participou da organização de um concurso
organizado pelo Ministério dos transportes, onde trabalhava na época. Lá
encontrou alguns poemas sem nome, assinados apenas por pseudônimos, em
uma lata de lixo. Os recolheu e por meio de um anuncio de jornal, encontrou os
criadores dos trabalhos rejeitados. Percebeu naqueles poemas um estilo poético
diferente, mais experimental, que lhe chamou atenção não só pela originalidade,
mas também por uma identificação pessoal imediata. Por isso mesmo,
estabeleceu com esses artistas, não só uma grande amizade, mas uma intensa
parceria artística a partir de então.
Álvaro de Sá, Neide de Sá e Moacy Cirne partilhavam de pensamentos
sobre a escrita de poesia que iam ao encontro do que acreditava Dias-Pino. A
prova disso é que dois anos mais tarde, em dezembro de 1967, juntamente a
outros poetas, inaugurou a 1ª Exposição Nacional do Poema/Processo na
Escola de Desenho Industrial (ESDI), no Rio de Janeiro. Estavam assim
lançadas, as bases de um movimento artístico que irá alargar suas fronteiras de
atuação se expandido nacional e internacionalmente. Juntos reuniram mais de
100 poetas jovens e rejeitados de todo o país para fundar um movimento
independente.
FIGURA 3
8
A primeira exposição do grupo mostrou essa disposição para a
experimentação, com obras que traziam novas formas de abordagem literária
expandidas para outras linguagens artísticas, bem como a intensa convocação
participativa do público. Uma matéria do Jornal Correio da Manhã trazia o título:
4
“Grupo cria poemas que são comidos como os biscoitos” , seguido pela
seguinte descrição:
Com o público comendo biscoitos que simbolizam letras e botando
palavras no bolso e levando para casa, inaugurou-se, ontem, a
primeira Exposição Nacional de Poema-Processo, no Rio, feita por
um grupo de jovens poetas no Pavilhão da Escola Superior de
Desenho Industrial, na Rua do Passeio. O importante para eles é
o processo e a sua maior finalidade, o consumo. O processo de
criação deve ser captado no seu momento e simultaneamente
consumido – através de todos os sentidos e não somente da
leitura tradicional. 5
Além desta, os jornais da época trazem várias descrições das obras que
foram expostas, onde é possível perceber o forte estímulo à participação do
público. Os poemas podiam ser tocados, manipulados, compostos pelo leitor a
partir de um estímulo inicial do artista, ou mesmo literalmente comidos, numa
provável menção ao consumo valorizado pelo grupo do Poema/Processo. O
poeta Ariel Tacla, por exemplo, propôs que o público criasse seu próprio poema
através de recorte e colagem de revistas em cartolinas. Anselmo de Santos
apresentou seu Poema Rasgado, onde era necessário que o leitor arrancasse as
folhas do livro para que as palavras sobrepostas fossem tomando sentido. Já a
poetisa Neide de Sá, convidou o público a pendurar objetos como papéis,
jornais, livros ou mesmo roupas em um varal estendido no espaço expositivo.
Entre os artistas participantes, os jornais divulgavam ainda os nomes de Álvaro
de Sá, George Smith, Wlademir Dias-Pino e Nei Leandro de Castro, mas haviam
outros. Ainda, nessa primeira exposição, o grupo lançou a Revista Ponto 1, pela
Editora Vozes, onde apresentaram os princípios do movimento do
Poema/Processo, bem como um manifesto, intitulado de Proposição6
A primeira exposição foi lançada simultaneamente no Rio de Janeiro e no
Rio Grande do Norte, ratificando a intenção dos poetas-processo na
4
Jornal Correio da Manhã. 1º caderno. 12 de dezembro de 1967. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=089842_07&pesq=%20comidos%20como
%20biscoitos&pasta=ano%20196. Acesso em: 01/07/2016. Imagem em anexo, p.23
5
Ibidem.
6
Imagem em anexo, p.21.
9
descentralização do movimento. Ao mesmo tempo, a opção trouxe também
algumas dificuldades que desafiaram o grupo a desenvolver estratégias para
superar diferentes problemas, como descreve Dias-Pino:
Ao optar pela abertura total o movimento do poema/processo
descentralizou-se e encontrou a dificuldade das diferenças: de
repertório; de possibilidades econômicas; do estágio de
desenvolvimento das regiões geográficas distantes; de idade dos
diversos poetas. Procurou-se, então, de maneira didática
(exposições, publicações, manifestações coletivas, diálogos
públicos), o nivelamento informacional. (DIAS-PINO, 1973, p.160)
10
poetas “discurso-social-acadêmico-tradicionais, decretando oficialmente a morte
do verso e seus correspondentes” 11.
FIGURA 4
O poeta Ferreira Gullar, convidado para o debate, condicionou sua
participação à desistência da queima de livros. O que realmente aconteceu, o
grupo de poetas-processo abdicou de queimar os livros, pois poderiam ser mal
interpretados e relacionados aos eventos que estavam acontecendo na China de
Mao Tsé-Tung.
Porém, não desistiram totalmente da ação, só mudaram a estratégia, em
vez de queimar os livros, resolveram rasgá-los, o que não causou menos
indignação tanto por parte de poetas, quanto da grande imprensa. Livros de
João Cabral de Melo Neto, Carlos Drumond de Andrade, Vinícius de Moraes, e
até mesmo de Ferreira Gullar foram rasgados.
A ação do grupo provocou uma antipatia generalizada pelo movimento.
Jornalistas e críticos usaram suas colunas para desaprovar o ato. Em vários
periódicos é possível encontrar notas de repudio, algumas até com direito de
resposta12. Se os poetas-processo queriam espantar pela radicalidade eles
conseguiram. Pois, a partir deste dia, os poetas-processo compraram uma briga
com o meio literário em geral. O evento gerou intenso mal estar no campo
artístico, além de inúmeros ataques ao movimento através da imprensa escrita e
da crítica especializada. Meses depois do ocorrido, os jornais ainda se
11
POETAS-PROCESSO tem obras em exposição na ENBA. Jornal Correio da Manhã. Rio de janeiro: 23 de
janeiro de 1968. Disponível em: http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/. Acesso em: 02/07/2016.
12
Clippings de jornais em anexo, p. 22.
11
lembravam do ato, como a crítica publicada no Jornal do Brasil de Eduardo
Portella:
Aqui está um dos equívocos teóricos do poema-processo. A
instauração da nova criatividade não exige o rompimento radical
com o passado. E não exige porque a história não é só presente,
ou futuro, ou passado. O tempo é uma estrutura unitária onde
coexistem passado, presente e futuro. De tal modo que a tarefa
criadora consiste em transforma o passado em futuro:
criticamente (...). O fazer literário é um ato de informação da
matéria, de informação do suporte em cima do qual se efetiva a
peripécia criadora. Como então prescindir da palavra? 13
(PORTELLA, 1968)
FIGURA 5
13
PORTELLA, Eduardo. É preciso espantar pela radicalidade? . Jornal do Brasil, 06 de abril de 1968.
Disponível em : http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/. Acesso em: 02/07/2016.
14
Imagem do evento Arte no Aterro, retirada do livro DIAS-PINO, Wlademir. Processo: Linguagem e
Comunicação. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1973, p.214
15
Clipping do evento em anexo.
12
Aos poucos foram construindo uma rede de poetas em todo o território
brasileiro e também fora dele, fazendo exposições em Buenos Aires e
Montevidéu. Esse era um dos objetivos do movimento, uma estratégia mesmo,
como afirma Dias-Pino: “Evitou-se a penetração em São Paulo pelo exemplo
histórico de apropriação centralizadora que sua força econômica demonstrara no
modernismo e na geração de 45”. (DIAS-PINO, 1973, p.19).
Várias formas alternativas de divulgação do movimento do
Poema/Processo foram utilizadas, além de exposições. Como o 1º Festival de
Música Popular Brasileira de Cataguases (MG), onde poetas-processo comeram
carne crua, enquanto a então jovem cantora Maria Alcina, “foi arrancando
palavras, ruídos, sons, desnivelando os instrumentos e tomando posições
corporais em relação ao desenvolvimento da música”. 16 Há relatos de que os
jornais da época mostraram-se bastante escandalizados com a performance.
FIGURA 6
Em junho de 1969 participam do 2º Festival de Pirapora (MG),
promovendo um Desfile de Autores e Personagens da Literatura Brasileira, onde
alunos das escolas da cidade desfilaram com cartazes e obras apresentando o
Poema/Processo.
Em abril de 1970, cerca de 30 jovens poetas-processo participam da Feira
de Arte do Recife com um pão-poema-processo, medindo dois metros e que,
segundo um jornal da época, foi comido pelos presentes17.
Essa e outras ações mostram a inclinação do movimento para a
radicalização. Pois, segundo Dias-Pino, “(...) não se pretendia apoio oficial,
porque não interessavam exposições de visitantes passageiros ou
16
DIAS-PINO, Wlademir. Processo: Linguagem e Comunicação. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1973, p.218.
17
Clipping de um jornal com a divulgação do evento em anexo, p. 24.
13
contemplativas publicações sem qualquer radicalidade”. (DIAS-PINO, 1973,
p.18)
A opção do grupo por ações mais radicais, a recusa de qualquer apoio
oficial, bem como as táticas de divulgação do Poema/Processo, evitando
qualquer cooptação pelo sistema capitalista de arte, talvez tenha levado o
movimento, por consequência, a ficar à margem da historia da vanguarda
literária no Brasil. Foi uma escolha artística, a escolha pela radicalidade.
FIGURA 7
14
Pesquisar o movimento do Poema/Processo a fim de conhecer a
produção dos seus artistas; entender seus conceitos, pressupostos e estratégias
artísticas, levando em conta o contexto histórico e a bibliografia produzida pelos
poetas-processo, especialmente Wlademir Dias-Pino, Álvaro de Sá, Moacy Cirne
e Neide de Sá – fundadores do movimento. Com isso buscará, principalmente
através das publicações em jornais, periódicos, revistas e artigos, bem como
material visual e audiovisual, as razões pelas quais o Poema-Processo não
figurou, durante muito tempo, entre as mais importantes vanguardas literárias do
Brasil. Para isso, buscará refletir sobre a ideia de dispositivo de Giorgio
Agambem (2009), e na proposição de Walter Benjamim (1987), pensando o
autor como produtor, como ponto de partida para pensar os modos de produção
do movimento do Poema/Processo e seus desdobramentos na história.
IV - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
15
o propósito de deixar bem claro que essa separação mostra, de
maneira indiscutível, que o poema é físico – e até mesmo tátil –
em sua visualidade gráfica, enquanto que a poesia é totalmente
abstrata. (DIAS-PINO, 1973, p.25)
16
sua capacidade de transformar em colaboradores os leitores ou
espectadores. (BENJAMIN, 1987, p.132)
17
dificuldades de materiais de reprodução) poder concorrer com os dos grandes
centros”. (DIAS-PINO, 1973, p. 202).
Apesar de se aproximarem de outras linguagens artísticas, os poetas-
processo deixavam claro que, ainda que mantivessem uma conversa com as
artes plásticas, por exemplo, consideravam que os domínios dentro da
linguagem do Poema/Processo, eram diferentes, como afirma Moacy Cirne:
Além da voltagem semântica que caracteriza quase todos os
nossos poemas um problema mais importante se apresenta: as
direções de leitura. Nas artes plásticas lemos a estrutura (leitura
abstrata), que, por mais dinâmica que possa ser, encerra sempre
uma rigidez operatória. Qualquer elemento / de composição –
mesmo um espaço vazio ou morto – é agente estrutural: cores e
formas específicas permanecem cores e formas específicas, não
permitindo transformações (opções) operatórias. No
poema/processo lemos o processo (leitura criativa). (CIRNE,
1968)
O poema-processo não estava condicionado à língua ou a um modo
tradicional de escrita, com direções pré-determinadas de leitura. Muito menos à
ideia tradicional de livro, por isso havia o incentivo à criação de livros-objeto,
livros-objeto-poema, poema-objeto, folhas avulsas que sofriam intervenções
coletivas por meio de correspondência entre os artistas, entre outras propostas.
Sempre com proposições que superavam dificuldades de produção com
intensa inventividade e originalidade, os poetas-processo criaram um movimento
com bases sólidas e pressupostos coerentes com suas ações e propostas
artísticas. Sempre preocupados com os conceitos que balizavam o
Poema/Processo, promoviam ações pedagógicas, fomentando assim, a
participação de diversos poetas no movimento. Essa consciência da
responsabilidade artística, de fornecer os meios de produção e estimulá-los, vai
ser uma constante no grupo (principalmente de seus fundadores), independente
da geração de produtos que correspondessem à lógica de mercado. Afirmando,
como Benjamin (1987), que
O autor consciente das condições da produção intelectual
contemporânea esta muito longe de esperar o advento de tais
obras, ou deseja-lo. Seu trabalho não visa nunca a fabricação
exclusiva de produtos, mas sempre, ao mesmo tempo, a dos
meios de produção. Em outras palavras; seus produtos, lado a
18
lado com seu caráter de obras, devem ter antes de mais nada
uma função organizadora. (BENJAMIN, p. 131)
VI – METAS DA PESQUISA
20
KAC, Eduardo. Entrevista com Wlademir Dias-Pino, poeta revolucionário. ARS, ano 13 n. 26, 2015. Fonte:
http://www.scielo.br/pdf/ars/v13n26/1678-5320-ars-13-26-00006.pdf. Acesso em 01/07/2016.
19
A pesquisa tem como meta buscar os motivos que levaram o movimento
do Poema/Processo a sofrer uma espécie de cerceamento de seu valor artístico
na história da arte brasileira. As hipóteses, inicialmente levantadas, apontam
para dois caminhos: (1) a radicalidade das propostas do grupo causou um
repúdio dos meios de comunicação, e da própria classe literária, promovendo
um apagamento midiático e cultural do movimento; (2) foi uma opção tática do
grupo, uma vez que buscava outras formas de divulgação, e não se
interessavam em produzir obras que correspondessem aos desejos
mercadológicos.
Por fim, a pesquisa visa, principalmente, contribuir para a revalorização e
ressignificação deste movimento no campo da arte hoje, como forma de
entender, também, as relações existentes entre as criações artísticas anteriores
e posteriores ao Poema/Processo.
VII – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DELEUZE, Gilles. O ato de criação. Tradução: José Marcos Macedo. In. Folha
de São Paulo, 27/06/1999. Transcrição de conferência realizada em 1987.
20
ENCICLOPÉDIA VISUAL: espaço dedicado á obra de Wladimir Dias-Pino.
Fonte:http://www.enciclopediavisual.com/poemas.detalhes.php?
secao=1&subsecao=1&conteudo=25. Acesso em: 03/07/2016.
GRUPO CRIA POEMAS que são comidos como os biscoitos. Jornal Correio da
Manhã. 1º caderno. 12 de dezembro de 1967. Fonte:
http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/ . Acesso em: 01/07/2016.
SALGADO. Marcus Rogério. Poesia e artes plásticas na obra de Neide Sá. Rio
de janeiro: Revista Convergência Lusíada n. 34, julho – dezembro de 2015:
Fonte:http://www.realgabinete.com.br/revistaconvergencia/pdf/rev349.pdf .
Acesso em 01 de julho de 2016.
21
VIII – ANEXOS
22
Jornal Correio da Manha / 20.01.68
23
Diário ilustrado 29.01.68
24
Jornal Correio da Manhâ 12.12.67
25
Jornal do Brasil 07.04.70
26
27
Diário de notícias – 20.06.68
28
Diário de notícias – 10.07.68
29
Diário de notícias – 31.07.68
30
Diário de notícias – 01.08.68
31
Poema/processo como projeto – Ávaro de Sá, 1970.
32