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By

Me
Omaldeumaformaquevocênuncaviu

I
ARAMARGOLI
S
Iara Margolis

By Me
O mal de uma forma que você
nunca viu
© 2020

Margolis, Iara

By Me: O mal de uma forma que você nunca viu


– Jaboatão dos Guararapes: 2020.

Registro na biblioteca nacional: 678641, 08/05/2015

Contribuição de Ivan Kelner


Correção Português Natali Sorrentino
Sumário

Se não houvesse o errado, como haveria o certo?


_______________________ Erro! Indicador não definido.
A minha criação _______________________________ 10
Trilogia sobre as escolhas ______________________ 24
O ato da escolha ______________________________ 25
A permanência no caminho_____________________ 29
O vício ______________________________________ 31
A balança ___________________________________ 34
Nossa simbiose em alerta ______________________ 38
As leis humanas _______________________________ 53
O Livre Arbítrio e As barganhas pelos Interesses _ 66
O cálculo egoísta _____________________________ 72
A barganha exemplificada ______________________ 80
As escolhas da vida ___________________________ 96
O comportamento humano ____________________ 100
O inferno e os seus demônios __________________ 109
A liberdade e a justiça ________________________ 115
A iluminação ________________________________ 121
Um conselho do Diabo ________________________ 128
Se não houvesse o errado, como haveria o certo?

Quando o Todo Poderoso criou o mundo, havia


a perfeição. Adão e Eva eram felizes, a vida era plena,
serena e eles não se deparavam com dilemas
complexos. A escolha máxima se baseava em
alternativas banais, sem grandes consequências no
cotidiano ou nas reflexões acerca da existência. A
essência era a simplicidade de ser. A vida, o prazer de
se viver.
Esse fato nos fez refletir sobre a escassez de
desafios para os seres humanos. Dizendo de uma
forma mais clara, fez-nos refletir: onde estaria a
consciência humana diante de suas decisões? Qual
seria a graça da vida desses primatas sem as opções?
Quanto tempo essa espécie aguentaria sobreviver em
harmonia? Será que a simplicidade e as facilidades da
vida seriam suficientes? Nossas reflexões nada mais
eram do que o cerne da racionalidade humana que,
diga-se de passagem, até hoje acontece. Afinal, a
felicidade de vocês dura até o entendimento da
próxima escassez. Muitas vezes este vazio resulta no
entendimento de necessidades ilusórias. E sabe o que
é engraçado? Essas ilusões são criadas por vocês
mesmos.
1

Enfim, sabíamos que a vida monótona teria


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uma curta duração. Quando Ele lhes criou, colocou


uma chave motivadora para estímulos e intrigas
diante dos semelhantes. Com aquela vida pacata e
imutável, como o homem poderia ser autêntico?
E foi na frente da plenitude, da ambiguidade e
da autenticidade que eu surgi. Eu era inicialmente
uma tentação posta no meio do Paraíso. Era aquela
“pulgá átrás dá orelhá”, á inquietáção constánte. Com
o objetivo primário de sempre estar ali, dando a
opção de seguirem, ou não, a única regra do Éden.
Cheguei como o anjo das escolhas e das várias
percepções. Na verdade, cheguei para oferecer uma
“segundá” escolhá. Em nenhum momento o errádo
era a árvore ou o seu fruto, o que realmente estava
sendo representado naquele contexto era a opção de
fazer o que era proibido, da quebra da confiança, do
cruzamento da linha do limite. Do domínio dos
desejos e dos impulsos humanos.
E lá estava eu, concedendo aquela opção, que
até então ainda não havia sido tomada. Era, apenas, a
escolha de vocês entre a simplicidade e a
complexidade da plenitude.
Eu promovia uma nova perspectiva de visão. A
luta interior diante da tentação, o desejo, a confiança
e a razão. Eu era a promessa de algo novo, do
diferente, do reprimido. Com a atratividade do
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errado, da censura e do jogo das consequências. Eu,


Página
meramente, era o prazer do desconhecido. Contudo,
ainda era apenas uma remota tentação.
Cá para nós, eu e Ele já sabíamos do resultado.
Obviamente que Ele mais do que eu, mas naquele
momento já sabíamos que o ser humano tinha a
“cárne frácá”, como vocês costumám dizer. A
perdição era mais poderosa do que a racionalidade.
Mesmo sabendo da regra do jogo, resistir a ela era um
enorme desafio.
Pois bem, depois da primeira mordida,
comecei oficialmente os meus trabalhos. Fui enviado
para o meio dos homens, com a missão de criar esta
sedução. De atrair vocês. De gerar dúvidas. De criar
caminhos. Gosto de dizer que a tentação nem sempre
era – é – uma oportunidade, mas tinha que fazê-la ser
aos seus olhos.
No entanto, meu trabalho foi tão fácil que o
pessoál “lá de cimá” teve que intervir por três vezes
nos caminhos tomados por vocês. Na expulsão do
Éden, na época de Noé e no caso de Sodoma e
Gomorra. Vocês não têm ideia de como estava a
sociedade dessas últimas duas épocas. A violência, a
falta de respeito, a promiscuidade, a imoralidade.
Pensándo bem, vocês tálvez áté tenhám essá noção…
Resumindo, eram outros tempos e eu também
3

era outro anjo, em outro contexto. Os homens foram


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entendendo a dinâmica da vida. Passaram a ter medo


e vergonha. Criaram a politicagem, a moral e a
malícia. Aprenderam — pelo menos um pouco — a
refletir sobre os seus atos e a pensar nas suas
consequências. Todavia, também aprenderam a
camuflar as suas vontades e a ocultar as verdades.
Aprenderam o dom da dissimulação e da
transferência de responsabilidades. Aprenderam a
desonestidade não apenas para com o outro, mas
também consigo.
Ainda no início a presença do Éden era forte,
isso implicava, pois a presença da essência humana
ainda era aguçada. A percepção dos milagres, o
sentimento do divino ou até o contato direto com Ele,
ou conosco, eram grandes diferenciais daquele
período e isso tudo interferia na dinâmica social.
Atualmente não é complicado corromper os
humanos – de uma forma genérica – simplesmente
porque suas almas já estão corrompidas e, muitas
vezes, afastadas da verdadeira razão da natureza. O
entendimento de que o errado justifica o errado foi
banalizado e a retórica da retificação ganhou
destaque no mundo dos interesses.
A maior diferença entre a era bíblica e a
(pós)moderna consiste na consciência das ações. Os
primeiros temiam mais ao Todo Poderoso, atrelavam
4

os castigados da vida ao Divino. Os últimos buscam a


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ciência para justificar e a justiça humana para


recriminar ou perdoar. Entendam que em nenhum
momento estou condenando a ciência ou a justiça
humana, muito menos defendendo o temor divino,
apenas pontuo que elas, por si só, não são completas.
Cansei de ver pessoas baseando suas ações em leis
frágeis e sistemas corruptos. Ou justificando seus
atos em nome de alguma divindade, claramente
distorcida pelos humanos. Enfim, esse não é o meu
objetivo no momento. Então, vamos voltar aos meus
relatos.
No decorrer da história, fui adquirindo um
conhecimento maior sobre vocês, fui me moldando a
tentar menos. A ideia de corromper os homens me
fascinava, demonstrava o quão volúveis vocês eram
— e continuam sendo. — Nos primórdios era fácil
fazer um irmão matar o outro, um filho desonrar um
pai, um povo optar pela promiscuidade. Por mais
puras que as pessoas fossem, elas não tinham um
histórico, um retrospecto. Tudo era novo. A voz
interior era ingênua, não havia o diálogo entre todos
os propósitos do ego. Poucas gerações depois, a
revolta com as dificuldades encontradas permitiu
também abraçar o lado contrário. Lembro que no
íntimo de vocês uma voz dizia para não fazer, mas o
desejo de fazer fraudava a racionalização dos efeitos
e permitia camuflar a voz da razão, sendo ele gerado
pela tentação ou cegado pela raiva e pelo rancor.
5

A mesma força que fez os seus ancestrais


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morderem a maçã fez com que vocês se fascinassem


e optassem por outro caminho. A mesma cegueira
que fez os descendentes de Caim se revoltarem com o
mundo e com o homem fez com que muitos realmente
acreditassem nos valores invertidos. Um desejo tão
intenso que, ainda hoje, termina sendo quase
incondicional e incontrolável. Quanto mais descrente,
quanto mais material, quanto mais finalidades
egoístas e superficiais a pessoa tiver, mais forte será
a minha voz.
Tentando evitar — ou adiar — a realidade
moderna, fizemos um acordo antes da saída da
primeirá Erá: não “resetáríámos” máis o sistemá. Este
acordo se baseou em três ocorrências. A primeira foi
depois de Noé, quando percebemos que a solução não
era um castigo coletivo, apesar de ter se mostrado a
solução correta naquele momento. Essa decisão foi
tão séria que um pacto entre Ele e vocês foi selado
através do arco-íris, que além de sua beleza deveria
simbolizar o acordo de não repetição daquele dilúvio
e remeter a um comportamento mais digno.
Obviamente vocês esqueceram e logo depois o único
significado lembrado foi a beleza das cores. Isso na
prática era o que vocês chámávám de “memóriá
seletivá.”
As outras duas, como já disse, ocorreram
através da história de Jó e de Sodoma e Gomorra. Em
6

ambas o castigo não surtiu efeito e, por isso,


Página

decidimos que os protagonistas deveriam aprender


por eles mesmos, com a lei das consequências ou,
como vocês costumam dizer, a lei da ação e reação –
acredito que é a terceira lei de Newton, não é? Física
terrestre nunca foi o meu forte. Como resultado, não
mais utilizaríamos de forças sobrenaturais perante os
humanos. Isto significava que não mais
devastaríamos uma cidade na tentativa de uma
civilização mais moralizada, porque esta espécie não
conseguiu aprender com a sua própria história.
Percebemos que o erro, naturalmente, fazia parte da
natureza de vocês.
Lembro que por outras vezes ainda
interferimos indiretamente, friso que com bastante
sutileza. Com o passar do tempo resolvemos sair de
cena. Vocês criaram suas próprias opções de escolha
perante nós, as opções basicamente eram: duvidar da
nossa existência, idolatrar-nos ou odiar-nos. De nossa
parte, nós deixamos vocês seguirem seus caminhos,
suas escolhas. Deixamos vocês terem crédito pelas
suas decisões. Afinal, este foi o conceito primordial da
minha criação: que cada um fosse responsável pelas
suas ações. Permitir que o Supremo não mais ditasse
a consciência e as condutas humanas estava no script.
Enfim, vocês deveriam aprender a lidar com as
imprecisões mentais e a buscar a complexa
simplicidade natural da existência.
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A questão que você, caro leitor, pode estar se


Página

perguntando é: por que eu, o digníssimo “Anjo dás


Sombrás”, estaria me dando ao trabalho de escrever
este livro?
Pois bem, toda boa pergunta merece uma boa
resposta. Depois de anos resolvi explicar o meu lado,
quem é o verdadeiro Diabo, Lúcifer, Anjo Caído,
Demônio, Satanás, Capeta, Senhor das Trevas,
Tinhoso, á Bestá ou o Coisá Ruim… São tántos nomes
que nem eu lembro de todas as formas pelas quais
vocês me chamam.
Independente da minha denominação quero
mostrar o meu ponto de vista. Não posso ser
responsabilizado pelas suas escolhas. Todas essas
variações nominais, de verdade, não me incomodam.
Acho até graça. Tampouco me incomodam as
escolhas erradas que vocês fazem. Como já disse, está
no script que vocês são uma espécie fraca. O que
realmente me incomoda é a terceirização da culpa.
Não é possível que depois de milhares de anos vocês
ainda cultivem a tendência de se fazerem de vítimas.
Não é admissível que deixem o mundo cada vez pior
para seus filhos.
Lembro-me da época Medieval quando eu me
tornei o centro das atenções e meu nome passou a ser
associado e, inclusive, motivo de mortes. Ganhei um
aspecto sombrio, meio dark, e alguns passaram a
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matar em nome de Alguém, por, supostamente,


Página

seguirem-me. Será que deu para entender? Qualquer


um que ‘ousásse’ ser diferente do que era
estabelecido pelos homens era sinônimo de seguir o
lado das trevas e, por isso, deveria ser queimado na
fogueira. Notem que as leis, as regras e as
justificativas eram uma tentativa humana para tentar
ditar ações em nome de algo divino. Confesso que tive
certa participação nesta época, contudo, ganhei
muito mais destaque do que merecia.
Com este meu relato, venho tentar explicar um
pouco dessa dualidade a qual eu pertenço e convido
você, caro leitor, a compreender este outro lado da
história. A entender a percepção do mal de uma
maneira que você nunca viu. A partir de agora,
presenteio vocês com esta obra: bem-vindos ao meu
mundo, escrito por mim.

9
Página
A minha criação

A maioria dos pais fica apreensiva com a


perguntá: “Pái, dá onde vêm os bebês?”. No nosso
mundo angelical, não temos este receio. Os anjos não
são gerados, não nascem e, consequentemente, não
precisam de uma gestação. Nós, simplesmente, somos
criados pelo Criador, com matérias elevadas e
sagradas. Já surgimos com uma missão, com uma
função dentro do sistema.
Recordo-me dos meus primeiros minutos de
existência. Diferente dos pequenos humanos, nós não
choramos. Levamos apenas alguns milésimos de
segundos de transmissão de conhecimento, para o
entendimento do incompreensível e o
estabelecimento da missão.
Desde o início já sabemos que não temos o
livre-arbítrio e, portanto, não possuímos a autonomia
da escolha, ou seja, não temos a liberdade da opção.
Sei o quão difícil é este paradoxo para os humanos, e
por isso deixo claro que a ausência da liberdade de
escolha não significa ausência do senso crítico. Nós
temos nossas próprias opiniões, podemos não
concordar, mas jamais tomar atitudes diferentes do
10

nosso propósito. Posso não concordar com o caminho


que estou apontando, mas irei mostrá-lo a você. Este
Página

é o meu papel. Por mais que não concordemos,


devemos fazer o que viemos e fomos destinados a
fazer. Essa era – e continua sendo - a nossa lei
primária.
Já vocês são livres para decidirem, porém
ficam presos às consequências das suas escolhas. Este
é o grande paradoxo. Por mais livres que sejam, vocês
se tornam prisioneiros das consequências de suas
ações. Há ainda aqueles que são prisioneiros dos seus
próprios desejos. Estes, coitados, acreditam que são
livres, mas nem imaginam que são os piores
prisioneiros. Estes são os prisioneiros dos seus
próprios egos.
Perdão, mais uma vez me deixei levar pelos
deváneios dos meus pensámentos… vámos voltár áo
meu relato. Somos criados dentro daquelas
premissas e vocês dentro da de vocês.
Eis que em algum momento surgiu um ser que
se achou iluminado o suficiente para reescrever
minha história. Pois bem, ele resolveu na sua
aparente soberania fazer isto. Afirmou que eu fui um
opositor celestial. Disse ainda que eu era invejoso e
vaidoso, ao ponto da quase supremacia divina. Eu, na
sua ótica mundana, nada mais gostaria de ser do que
o próprio criador. E diante da minha suposta
‘rebeldiá’, fui expulso do céu párá reinár no inferno.
11

Justo eu, que não fazia oposição, primeiro por não


Página

poder e segundo por saber exatamente qual era o


meu pápel dentro do sistemá… O pior de tudo foi que
vocês acreditaram nesta balela. Uma falácia. Enfim,
diante desta nova narrativa e nesta oportunidade que
tenho, resta-me apenas questionar vocês. E assim
pergunto: como posso eu me rebelar contra alguém?
Ainda mais contra o nosso Criador? Estes mitos
humanos às vezes me fazem rir. Não apenas pela
audácia, mas, principalmente, pela – novamente –
transferência de responsabilidades. Todavia, neste
novo e destemido ‘reconto’ umá novidáde surgiu: o
inferno. Este, meu caro, deixarei para tratar mais à
frente.
A reedição da minha história não parou nesta
versão. Surgiram vários eus com a finalidade de gerar
um temor mortal a mim. Em geral eram deuses,
semideuses, juízes ou porteiros do submundo: P’ná
Kuan, o porteiro e juiz do submundo chinês, Apófis,
do Egito Antigo, Kurnugi, babilônico, Mictlantecuhtli,
dos astecas, Hades e Cérbero, da Grécia Antiga, entre
tantos outros. Cada um com o seu particular eu. E
todos como juízes, disseminando o temor,
assombrando o mundo com associações relacionadas
à morte, ao medo, ao feio e ao intangível maléfico.
Na tentativa da minha compreensão, também
surgiram várias versões sobre a origem do mal.
Destaquemos a Grécia Antiga com a história de
12

Pandora, a primeira mulher humana criada pelos


deuses como um castigo para a humanidade. Antes de
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chegar à Terra, ela recebeu de Zeus uma caixinha


fechada que não deveria abrir. Sem saber o conteúdo
que segurava e guiada pela curiosidade, ela não
seguiu a ordem e ao abrir a caixa, espalhou os males
e as doenças entre os humanos, restando apenas a
esperança. Mais uma vez, o obscuro estava atrelado à
raiva divina e aos erros humanos. Mais uma vez o mal
atrelado ao paradoxo do bem. E mais uma vez eu fui
vinculado ao caminho errado das escolhas de vocês.
Ainda sobre a reconfiguração do meu eu
mundano e vocês embasados no meu
pseudojulgámento, sendo eu ‘o’ ácusádor e vocês os
réus que receberam sentenças pelos seus pecados ou
por aderirem à minha suposta natureza – novamente
remetendo à ideia básica da terceirização da culpa.
Nestá premissá, o homem pecává “por áí” pelo mundo
e eu julgává e cuidává “por áqui” pelo inferno.
Volto a discordar e reafirmar: eu não acuso
ninguém por coisa alguma. Muito menos sou
vermelho, tenho chifres na cabeça, fico sentado e
comandando um mar de escravos em prol do meu
benefício. Aproveito este espaço, também, para
esclarecer que eu não sou detentor de almas que se
desviaram por suas escolhas erradas. Eu não existo
para acusar ou condenar, como falei, a regra do jogo
é cada um com a sua consciência. Cada um com o
13

Grande Criador e com a transparência da sua alma.


Página

Assim, questiono: o que vocês pensam que irá


acontecer quando vocês não dependerem mais da
matéria física mundana e se encontrarem em um
reino dominado pela informação? Onde existe toda a
memória da humanidade, incluindo aquelas coisas
que caíram no esquecimento de suas vidas
particulares? Pode ser que não tenha consciência em
vida, mas quando a alma está longe do corpo, o que
foi camuflado volta às suas origens e a consciência
vem áindá máis “pesádá”. Vocês podem áté se
enganar por aí. Até sentir prazer, orgulho ou
felicidade diante desta enganação. Uma vez que a
alma saiu do corpo, acreditem, ela ficará transparente
na frente Dele. Mais à frente voltarei a falar sobre isso.
Ainda não é o momento de nos aprofundarmos.
Outra curiosidade minha que vou revelar para
vocês é que não curto rir da desgraça alheia, nem sou
inimigo dos meus parceiros de trabalho. Na
linguagem organizacional, somos da mesma
hierarquia, com diferentes funções. Trabalhamos em
equipe para mostrar a vocês, humanos, as opções de
escolhas.
Em síntese, sou belo e atraente. Tão belo que
vocês se encantariam comigo perdendo a razão, a
verdade e a essência dos vossos propósitos reais da
vida. Na realidade, a mais pura maldade é tão bela
como a mais ingênua pureza de uma criança. Se
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discordam de mim, por que vocês permitem serem


atraídos, ao ponto de cegarem diante deste lado?
Página
Preciso ser atraente, faz parte do meu trabalho, faz
parte do meu show, meu amor!
E, por isso, não me espanta tantas pessoas
temerem a mim. Vocês acreditam que tem gente que
nem consegue pronunciar alguns dos meus supostos
nomes? Tem gente que acredita que só em falar um
dos meus nomes estárá convocándo o demônio… Rá,
Rá! Mal entende que os demônios já podem estar nos
seus atos diários, sem a minha menor contribuição.
Recordei-me agora de uma passagem. No
passado, algumas vezes, reuníamo-nos párá “bolár”
novos caminhos, adaptá-los às novas realidades.
Nossas reuniões variavam de acordo com a demanda
e com o tempo. Na época medieval, por exemplo, não
tínhamos que criar muito. Vocês tinham tanto medo
de nós que nossas reuniões eram mensais. Só
precisávamos pensar em novas ideias para sugerir
aos líderes e influenciadores da época. Nossos
esforços eram mínimos, bastava um start que o resto
fluía, o pessoal mesmo conduzia. Eu dava a ideia
central e a espécie de vocês aperfeiçoava. A maldade
era tão grande e a morte tão certa que as ações e
pregações junto com as torturas se justificavam
através da religião humana. A população da época
criou um padrão de comportamento o qual era fácil
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de gerir. Hoje em dia, necessitamos fazer reuniões


quase que diárias. Essas telas modernas, às quais
Página

vocês se conectam, escondem suas vergonhas.


Permitem que vocês propaguem a raiva, os
preconceitos, o ódio, aproximando-se a uma
realidade criada e distante de uma realidade real. Os
dedos começaram a falar mais rápido do que a
cábeçá… O pior é que todá ideiá “málucá” encontrá
um público que concorda com ela. Alguns aplaudem,
outros xingam, ainda têm outros que vão mais além e
levam a loucura para fora destes aparelhos.
Desconstroem o que foi construído, por não
respeitarem opiniões. E tudo isso é intensificado com
á cegueirá ideológicá e com á buscá por “likes”. Ou é
um topa tudo por audiência. Ou uma busca pelo eco
unilateral das suas convicções. Ou os dois! É insano.
Dói na alma. Muitos conectados e guiados pela
ausênciá de discernimento. Está tudo tão errádo… E
por isso somos obrigados a nos reunir diariamente
não máis párá “bolár”, más ágorá párá conter vocês.
O cenário ficou tão preocupante que tivemos
que pedir autorização para esta publicação. Ou seja,
esta autorização beira a um chamado à essência, que
talvez vocês entenderão como razão. Achamos que se
eu contásse á verdáde, tálvez, tálvez… só um tálvez,
vocês acordassem para assumir suas
responsabilidades e quem sabe voltariam um pouco
para a vergonha social adquirida na mordida daquela
bendita maçã no Jardim do Éden. Vou falar melhor
16

sobre isso. Apesar de que falar da sociedade de vocês


Página

é sempre bom, vamos voltar ao início novamente, à


minha criação. Diferente do que foi contado, nada
mais sou do que uma permissão e uma opção para
vocês, desde Adão e Eva, ou desde Pandora, como
queiram acreditar. Fui adotado e libertado pelos
inteligentes homo sapiens.
A escolha do casal representou mais do que a
sede do conhecimento, as consequências das
decisões, a liberdade de escolha, a desobediência ou
o início da jornada humana. Naquele momento vocês
me apadrinharam, abraçaram-me e permitiram, de
forma indireta, que nossas vidas estivessem
entreláçádás “áté que á morte nos sepáre”. Pois bem,
criaram um laço eterno comigo e possibilitaram a
minha existência. Nos moldes atuais, apoiaram
oficialmente o meu cargo.
Percebam que eu faço parte da percepção do
mundo de vocês, pelo menos de uma de suas partes.
De uma ideia holística, muitas vezes atrelada a uma
sensação de vergonha e culpa. Compreendem agora o
que falei lá em cima sobre vergonha social? Cá está
ela, a própria.
A época bíblica foi a época da nossa escola,
onde pudemos aprender e permitir que vocês
aprendessem. Também foi um legado que deixamos
para os seres humanos. A ideia do lúdico, do místico,
da curiosidade diante da veracidade de fatos tão
17

distantes. Ensinamentos profundos em relatos


Página

genuínos os quais precisam, necessariamente, da


interpretação e da crença de vocês.
Enfim, no início, todo o nosso núcleo de
querubins estava aprendendo; aprendendo como
vocês iriam reagir, como seriam as condutas diante
do livre-arbítrio; aprendendo sobre o
comportamento humano, sobre suas escolhas e como
vocês lidavam com as consequências.
Logo de imediato já nos surpreendemos com a
maldade humana e não precisou muito para perceber
o quanto o ser humano era maquiavélico e utilizava
de sua inteligência para satisfação dos seus desejos.
Poderia até citar a história de Caim, que sacrificou seu
próprio irmão por ganância e ciúmes. Ou o que Cham,
o filho do meio de Noé, fez ao seu pai 1.
Apenas um adendo. Voltando aos primórdios,
também houve uma distorção na história da criação
das mulheres. Os humanos iluminados a distorceram
tanto que, em sua essência, “pregárám” o máchismo
desde a criação. Eva foi interpretada como
subordinada ao homem. Ao nascer da costela de um
homem, ela foi condenada à inferioridade e à
dependência. Quando optou por morder a maçã,
recebeu também a culpa pela desordem. Isto agravou
o problemá párá umá disputá de “gênero”,
18

aprendendo a não aceitar as diferenças humanas, ou


Página

pior, a não respeitar.

1
Se não sabem o que ele fez, basta dar uma pesquisada… Imoral
até para mim.
Ainda sobre o machismo, temos mais um
exemplo com a história de Lilith: á “primeirá” mulher
antes de Eva. Não me foi permitido abordar a
veracidade ou a ordem cronológica de sua história,
mas voltemos ao cerne da questão: uns dizem que
Lilith foi uma deusa, outros dizem que foi a primeira
mulher, mas muitos a associam à serpente que ajudou
Eva a se desviar do caminho. Ela também é associada
às doenças e à morte. Mais uma associação que
quebra a harmonia humana. Inveja, intriga,
desrespeito, culpá párá outrem… Vocês têm “á fácá e
o queijo” párá o cáos.
Enfim, em pouco tempo, eu e meus colegas já
tínhámos perdido á fé nessá “espécie humáná”. O
Criador sabia que estávamos errados, Ele sempre
acreditou em vocês e sempre viu a mais pura essência
humana. Nós, anjos, por termos uma simbiose com
vocês, escutávamos os seus piores pensamentos, o
que dava margem para a nossa desconfiança. Ainda
naquela época tivemos nossa primeira grande lição.
Este caso aconteceu com um cidadão chamado Job, ou
como muitos conhecem: Jó.
Jó talvez tenha sido a pessoa mais pura que eu
tenha tentado convencer. E com certeza uma das
pessoas que mais exagerei na dosagem da sedução. O
19

desafio foi tão grande que virou uma obsessão


“pessoál” — angelical. Tentei-o, tentei os seus filhos,
Página

sua mulher e seus amigos. As consequências foram


severas, mas ele jamais demonstrou uma inclinação
sequer para o desvio dos seus valores. Esse homem
não perdeu a fé diante das dificuldades, foi a prova de
que o ser humano escolhe o que quer, mesmo diante
de influências externas tão marcantes.
Foi Jó quem nos devolveu a fé nos seres
humanos. Era ele quem nos servia de exemplo para
não justificarmos o injustificável. Na verdade, ele
continua nos servindo como exemplo até hoje. Ele
sempre é um dos árgumentos párá não “resetár” o
sistema, de acreditar no livre arbítrio e na
espiritualidade humana. Um dos exemplos de que
não importa o que aconteça na vida humana, desde
que a essência esteja no eixo, o resultado será
próspero e próximo do verdadeiro propósito.
Com ele aprendi a concordar com o que fazia e
aceitar de uma forma mais serena, perante mim
mesmo. Todavia, foi com ele que passei a ser o grande
vilão da história. A história desse rapaz foi o início da
demonização do meu ser. Da terceirização da culpa de
vocês. Se pudesse pontuar o momento em que o anjo
virou o diabo, seria exatamente este o momento.
Não obstante, a Era Bíblica também foi o início
da dualidade clara entre o bem e o mal, das
alternativas e das condenações. Das consequências e
20

da integridade.
Página
Obviamente não sou nenhum ingênuo e bem
sei que a bondade humana está longe da
unanimidade. A existência de pessoas como Genghis
Khan e Hitler prova isso. Para estes o que mais
merecem é o meu total desrespeito e desprezo.
Pessoas perversas e cruéis. Não gosto nem de
lembrar o funcionamento de suas mentes. Aqui está
mais uma nota de esclarecimento, esses dois não
estão comigo, isso seria um castigo divino para mim,
não para eles, pois quem viveriá no “inferno” seriá eu.
Pessoas como eles sofrem do pior castigo: a autêntica
vergonha perante suas maldades.
Para nós, o inferno é quando você, em
essência, fica nu perante O Divino. Pior: nu perante
você mesmo. Nu na integridade. Nu em ação, em
escolhas, diante do mais singelo desejo. Da moral, da
ética e dos valores. Isso significa que a memória ficará
aberta e voltará, sem os filtros das vontades e das
intenções. Sem poder esconder o que fez. Sem poder
esconder suas verdadeiras intenções. Sem poder
justificar, dialogar ou camuflar. Sem poder esconder
as consequências. Não falo da nudez carnal, mas da
nudez espiritual. Do momento onde o que você
realmente é não poderá ser mais camuflado por quem
você fingia ser. Pois bem, este é o verdadeiro dia do
julgamento.
21

Será neste momento onde a verdadeira


Página

realidade aparecerá. Cada um será visto em sua


essênciá, “sem eirá nem beirá”. Se ás áções mundánás
forem positivas, a alma irradiará luz, leveza e
felicidade. Se não forem boas, a vergonha e a
humilhação serão tão grandes que a alma sentirá e,
dependendo do contexto, não conseguirá encontrar a
sua paz. Acreditem: isso é pior do que a imagem deste
inferno ilusório que vocês criaram. E é exatamente
neste dia que vocês me absolverão.
Por fim, que fique claro, o meu sucesso não
consiste em o homem fazer o que ele acha certo ou
errado. A história de vocês mostra isso. A história
humana é variável: o certo hoje não necessariamente
é o certo de amanhã, vocês mudam de valores, de
moral, de sentido. Eu não mudo como vocês mudam,
sigo a lei da natureza. O meu sucesso está atrelado ao
caminho para o verdadeiro certo e errado, o imutável
ao longo do tempo. O imutável ao longo da mutação
de vocês.
Uma pessoa que errou no passado e conseguiu
evoluir, isto consiste no sucesso pessoal dela e não
implica meu insucesso. Se uma pessoa opta e
continua optando pelo desvio do caminho também
não corresponde ao meu sucesso, captou? Ao
contrário do que muitos pensam, eu não ganho almas
com isso, nem com nenhuma outra atitude de vocês.
22

Meu mérito não é a escolha dos homens, o meu


sucesso consiste em permitir a tentação: a tentação
Página

humana. Se você teve que optar, eu tive meu mérito.


Se você teve a vontade, eu obtive o meu sucesso. As
suas escolhas e as consequências destas, isso é uma
questão pessoal sua, da sua força ou da sua fraqueza.
Eu estou fora dessa responsabilidade. É o seu sucesso
ou o seu fracasso, o meu foi apenas lhe proporcionar
esta dúvida. Obviamente que quanto mais você opta
pelo “ládo obscuro dá forçá”, máis fácil fica o meu
trabalho. E quanto mais discernimento tiver acerca
da essência humana, menos eu tenho chance de obter
o sucesso.
Diante de tudo o que estou falando, solicito
que você se esqueça da minha imagem existente em
sua mente, de quem você acha que eu sou. Convido-o
a não apenas ler a minha versão desta história, mas
refletir o que – e quem – eu verdadeiramente sou
neste cenário. E também o convido a um
autoquestionamento sobre quem você realmente é.

23
Página
Trilogia sobre as escolhas

Pelo que vocês puderam observar, até então,


os seus e os meus relatos foram sendo modificados ao
longo do tempo. Minha história foi reconfigurada,
reescrita e relançada sem a mínima preocupação de
sua veracidade ou dos impactos que poderiam causar.
Brincaram com o meu nome e com a minha memória.
Solicito, apenas, que não entendam este relato como
minha biografia, pois estou mais preocupado em
esclarecer algumas questões do que contar sobre a
minha vida.
Quando abordei a terceirização da culpa,
referi-me a uma realidade cruel. Não há como negar,
pois eu sinto isso através de vocês. Fica escancarado
em tantos momentos. É com a desculpa que a culpa
vai embora. É também com uma falsa moralidade, ou
com a tentativa de minimizar uma ação – ou os seus
efeitos, ou ainda com a ausência da autorreflexão que
vocês acabam se escondendo da sociedade e de vocês
mesmos. Agindo assim terminam passando a vida
tentando provar o que não são. Hoje em dia, tudo isso
é acentuado com a realidade virtual. Parece que vocês
entraram em uma alienação virtual-real, criando um
verdadeiro espetáculo, um pouco assombroso.... mas,
24

mais uma vez, não é o ponto que devo falar.


Página
A audácia desta terceirização era tão grande
que vocês foram capazes de nos sujeitar a
sentimentos e conflitos humanos. Vejam o que
fizeram comigo: criaram uma briga entre mim e o
Todo Poderoso, expulsaram-me do céu e
transformaram-me em um anjo caído. Já imaginaram
como isso “pegá mál”? Vocês tentárám criár umá
punição para mim, para poder justificar os seus erros
– do passado, do presente ou do futuro.
Como eu disse, fui criado como um servidor
Dele com a missão de permitir a dualidade humana,
ou seja, de permitir que o ser humano pudesse optar
entre o bem e o mal. De ser o complemento, a
totalidade do Todo e de fazer sentido perante a
complexidade do conhecimento.
Por isso, permitam-me oferecer a definição
das escolhas em três etapas:

O ato da escolha
Para mim, a melhor maneira de eu me definir
está na analogia dos desenhos animados, onde diante
de um dilema o personagem aparece em um
momento de decisão entre algo bom e algo ruim. A
cena congela e eis que surge o próprio protagonista
25

em um ato reflexivo e duas miniaturas da sua imagem


com as vestimentas do suposto anjo e do suposto
Página

diabo. Uma miniaturinha para cada lado. O


protagonista geralmente se encontra em uma
situação de dilema moral ou de escolha e cada
miniatura tenta influenciar sua decisão diante do viés
de cada um.
Pois bem, ali supostamente sou eu com algum
dos meus colegas de trabalho. Podemos dizer que
naquela situação eu estou bem representado.
Particularmente, eu não me incomodo com vocês me
colocándo vestimentás vermelhás, com um “pár de
chifres”, no bom sentido obviámente, e um tridente.
Acho até mais sedutor e imponente do que uma
árgolá ná cábeçá e um “párzinho” de ásás átrás, mas o
tál do rábinho com o triángulo ná pontá… erá mesmo
necessário?
Enfim, independente do revestimento, eu sou
a inclinação, a tendência para o mal, para o errado. O
anjinho, por sua vez, é a tendência para o bem, para o
correto. Observem que nós somos apenas a
inclinação, quem opta é o protagonista, e quem
mostra as escolhas também é ele. Nós somos os
caminhos para elas. Ele é o ator principal e ele
também é as miniaturas, nós somos apenas as
vestimentas dos seus desejos extremos. Minha função
é tendenciar, influenciar, demonstrar. Somos as
tentações no formato dos seus desejos mais íntimos,
26

da sedução e da sua essência. E por isso nos


materializamos em sua imagem.
Página
Já ele protagoniza todos os personagens. Antes
da escolha ele dialoga consigo mesmo, tenta justificar
suas opções e suas intenções. Notem que neste
momento tudo pode acontecer, inclusive, a própria
ilusão do seu ser. A alteração dos personagens. A
venda ou até a perda da integridade.
Destaco que isto é apenas uma analogia. Nas
decisões diárias nossos trajes não são tão fáceis de
diferenciar. Dependendo do caso é preciso ter muita
lucidez sobre a situação e também de domínio do seu
eu mais interno. Nas buscas pelos prazeres
mundanos, ou pela inversão dos valores reais e dos
valores criados pelas sociedades momentâneas,
vocês nos camuflam.
Aí reside outro problema: vocês chamam de
ética tudo aquilo que é referente aos assuntos morais
e de caráter. O problema é que a moral social é
baseada nos costumes e nas aceitações desta mesma
sociedade. Por exemplo, na época romana, apedrejar
e crucificar era algo normal e os bacanais eram
comuns na alta sociedade. Em algumas tribos
indígenas o uso de alucinógenos poderia até ser
incentivado. Até meados do século passado, no
Brasil, era permitido por lei que o marido matasse a
sua mulher em nome da sua honra. Percebam que na
27

atualidade estas práticas fogem do bom senso da


maioria dos países ocidentais.
Página
Os dilemas éticos atuais são mais relacionados
aos atos de suborno, de criar vantagens de forma
duvidosa, de traição, da eutanásia, do aborto, ou da
realização de algo ilícito. Então, as escolhas dos
caminhos terminam sendo baseadas nos costumes
que cada um cresceu acreditando ser o correto.
Tenho um exemplo bem corriqueiro ‘dos
tempos modernos’ que são as crianças nascidas em
famílias cujos pais são referências em algo errado.
Durante todo o seu desenvolvimento elas aprendem
que este inadequado – que pode ser roubar, matar,
ser desonesto, destratar pessoas, ou o que for a
referência do pai/mãe – é o certo. E também
acreditam que o oposto é o errado. É assim que se
propaga a inversão de valores. Também é desta forma
que meus caminhos se camuflam como os corretos.
Sei que dei exemplos extremos, mas pense na
formação de uma criança que cresce vendo seus
exemplos mentirem. Ou dando um “jeitinho” nás
coisas? A espécie de vocês deve compreender que o
exemplo pessoal não é a melhor forma de educar os
filhos e de se ter uma melhor sociedade, é a única.
É desta forma que muitos resolvem vender
suas almas. Não a mim, pois não possuo o hábito de
comprar almas — e se possuísse, com todo o respeito,
28

iria preferir comprar a alma de um cachorrinho, que


é muito mais fofinho e muito mais fiel do que vocês.
Página

Portanto, a venda da alma dá-se para o seu lado mais


obscuro. Ela afasta esta pessoa da essência da vida e,
assim, permite o cultivo insaciável da vaidade e a
aproximação das ações e dos desejos ao mundano e
ao profano.

A permanência no caminho
Sabe qual é o problema de quem opta pelo lado
“vermelho”? É que ele, no início, é gostoso. É
prazeroso. E vem acompanhado com uma dosagem
de remorso. Depois vem umá vontáde de “quem sábe
só máis umá vez?”. Depois o pensámento é “máis umá
vezinhá....”. Pronto! O cáminho está sólido.
Lembre-se de que aos seus olhos eu sou belo e
atraente, com um leve toque viciánte. Sou “gostoso”,
tão gostoso que implorá por um “bis”. Umá vez
cruzádá á bárreirá dá “primeirá vez”, máis fácil é de
prosseguir por este caminho. Já aconteceu a
experiênciá… Que mál há em repetir novámente?
A vaidade cega ofusca outros possíveis
cáminhos e inflá o ego. O prázer pede um “repeteco”
e o remorso vai, aos poucos, dissimulando-se. Nos
momentos de lucidez, que cada vez ficam mais raros,
a vergonha aparece e, muitas vezes, logo vai embora.
E esta situação, caro leitor, nada mais é do que a
29

traição ao que realmente constitui a essência do ser,


a identidade primária. É prazeroso descumprir.
Página

Sempre voltarei a falar do caso de Adão e Eva.


Lembro-me bem do prazer em seguir os conselhos da
serpente. Lembro-me bem do sabor do errado, do
impróprio. Mas lembro-me mais ainda da vergonha
que eles sentiram quando mataram suas inocências,
ao ultrapassarem a barreira existente. Pareciam no
primeiro momento crianças na eminência de uma
“trelá”, com ás cárinhás de “sápecá” e, no segundo
momento, adultos que clámám por “um buráco párá
se esconder”, árrependidos..., más que em pouco
tempo se ressignificám e esquecem o que é “vergonhá
ná cárá”.
Esta é mais uma característica interessante da
espécie de vocês: a capacidade de mesclar o real e o
imaginário. O verdadeiro com o fictício. O que resulta
na ausência do ser dando lugar a uma aparência
ilusória, que visa se sobrepor à plenitude real diante
da camuflagem do ego e da futilidade.
Vou regressar um pouco aos nomes que me
foram atribuídos e destacarei dois: Diabo e Satanás.
De todos eles, estes dois são os que mais me agradam.
Não estou me referindo ao medo que eles invocam,
mas sim aos seus reais significados. O primeiro
significa enganador, já o segundo quer dizer
adversário. Concordo que às vezes o ser humano está
tão imerso em seu egoísmo que fica alucinado diante
30

da verdade. Em meio a uma neblina, não precisa ser


“(á) bestá” párá se engánár. Em situáções ássim,
Página

torno-me o contrário, o adversário. Permito a luta


contra — ou a favor. Permito a disputa pela posse ou
pelo triunfo da ideia. Desta forma, o meu caminho
termina parecendo o atalho correto, ou como
costumo dizer: é a tentação camuflada. E você, por
sua vez, vai criando as suas falsas verdades,
conduzindo-se para este lado.

O vício
Percebam como eu sou viciante. Sou tão
viciante que a cada novo humaninho que nasce eu
ganho outro eu. Tão viciante que tenho milhares de
anos de existência e pasmem: ainda me amo! E
principalmente, eu sou tão viciante que vários de
vocês não conseguem me “deixár de ládo”.
Na terceira analogia, os caminhos do lado
vermelho são como uma droga ou até como um
psicopata serial killer. Aquele que adentra pela
primeira vez neste caminho passa por um dilema
complexo do certo ou do errado. Entre fazer ou não
fazer. Se esta pessoa optar por experimentar, há
quatro possíveis resultados, sendo eles:
1. Gosta da experiência de imediato;
2. Gosta depois de um tempo;
3. Sai da experiência de forma neutra,
31

indiferente;
4. Não gosta da experiência;
Página

5. Detesta a experiência.
Entretanto, quando, de alguma forma, esta
pessoá gostá ou se átrái pelá vivênciá... “ái, ái, ái!”.
Vejo um “problemá à vistá”. Bárreirá rompidá,
caminhos abertos.
Aquele que “não curte” os cáminhos
mostrados por mim é o mesmo que busca, através da
experiência, sua plenitude, reencontrar-se ou sua
autoafirmação. E geralmente a experiência negativa
faz com que nunca mais repita este ato, por aprender
com o seu próprio erro. Se lhe acalmo, leitor, isto é
normal. Tudo faz parte do desafio de vocês. Faz parte
do meu papel. Assim é a vida fora do Éden.
Aquele que passou pela experiência de forma
indiferente pode repetir ou não a escolha. Contudo,
aquele que a apreciou tem a tendência da repetição.
Sentiu o prazer de fazer o errado ou gostou do prazer
que o errádo ‘ágregá', até chegar a um momento em
que não se questiona mais. Simplesmente faz. Repete.
Faz novamente. Assim começa o ciclo maléfico de
escolher e refazer em uma velocidade cada vez maior.
O motor é a vontade. O desejo daquele gostinho inicial
novamente. Contudo, o prazer atrelado à ação não é
mais como o inicial. Por este motivo, a frequência
aumenta e junto com ela a decadência.
Desta forma, fica mais fácil escolher o caminho
32

que mostro, pois a pessoa ultrapassou a linha da


Página

fronteira. Os dilemas tornaram-se opções. Os


caminhos foram consolidados, inclusive, com criação
de atalhos. E eu perco a minha importância, pois
começo a ser banalizado. Passo a não ser mais uma
escolha, porque as ações, meu caro, já se tornaram um
hábito.
Esta analogia pode parecer simplória, mas ela
descreve bem a sociedade atual. Há a banalização da
maldade e há a normalidade de sua aceitação. A
maldade instalou-se, é praticada por muitos e
acolhida por muitos mais.
Os noticiários informam mortes, assaltos,
desrespeito, preconceito, corrupção e no lugar da
indignação ganham a naturalidade. As pessoas
revoltam-se mais com futilidades do que com
anormalidades. Posso exemplificar ainda com a frase
“roubá, más fáz”. Está nos dez mándámentos “não
roubár”. Não deveriá existir e muito menos ser aceito
este tipo de coisa.
“Ações vermelhás” deveriám chocár máis,
porém as pessoas mudaram o limite do impacto. Tem
gente que gostá de ver “á desgráçá álheiá”. Destá
forma, a mídia mostra cada vez mais crueldade e
perversidade para atrair mais telespectadores. E
neste ciclo o ruim passa a ser cada vez mais frequente
e natural, e o péssimo simplesmente uma opção de
um futuro próximo e ordinário.
33

Eu sou apenas uma parcela do desvio do


Página

caminho que leva vocês da Razão à Iluminação. Vocês,


humanos, chegam a este mundo imerso em defeitos,
repletos de desafios, sonhos, vontades e tentações.
Cada um chega com um objetivo maior de se
aperfeiçoar, de fazer a diferença neste mundo tão
imperfeito. O desenvolvimento espiritual deveria ser
a grande missão da vida de cada um, mas a maioria
está mais preocupada com a ascensão profissional ou
com distrações mundanas.
Sabemos que todos errarão. Como vocês
mesmos costumam dizer, “errár é humáno” e o erro é
inerente à vida. Foi assim com os patriarcas, foi assim
com José, com Moisés e não será diferente com você.
Por outro lado, o bom do ser humano é que aprendem
e crescem através dos seus erros e com isso
conseguem se “consertár” e se áperfeiçoár áo longo
da vida. Encarar os medos, os erros e as tentações é a
forma de conseguir dominá-los. Quando não se é
escravo dos seus próprios desejos e vontades, você
consegue se controlar por algo maior. Este sim é o
nosso principal objetivo.

A balança
Por fim, quero falar sobre a balança.
Se você vai a uma feira e pede meio quilo de
34

cebola, o feirante colocará de um lado da balança as


cebolas e do outro um peso com equivalência ao peso
Página

solicitado por você. Partindo do princípio que a


balança está calibrada e que haverá honestidade
nesta ação, caso a balança fique equilibrada, isso
significará que a quantidade de cebolas é igual à
quantidade da medida. Se por acaso a medida ficar
em um nível mais baixo que a cebola, implicará que
há menos cebolas do que o solicitado, com sua
recíproca verdadeira. Então, poderemos saber se há
mais cebolas, mais pesos ou um sistema igualitário.
Esta, meus caros, não é uma analogia boa para
o nosso caso. Muitos tentam quantificar o quão certa
ou o quão errada é a ação desempenhada. Claro que
as consequências podem ser mensuradas, mas a
escolha do certo e do errado não. Elas são divididas
em categorias, mas uma pessoa roubar R$1.000 ou
R$0,05, não importa. Ela está roubando e é errado
roubar. É errado roubar um centavo, um bilhão ou
uma balinha da loja de conveniência. Que fique claro
que as consequências, essas sim são e devem ser
mensuradas de acordo com a proporção do que elas
provoquem. Este é um dos pontos que eu admiro nas
leis do direito, pois, de alguma forma, conseguem – ou
tentam – mensurar o tamanho do efeito colateral ou
da sua sequela.
Prestem atenção nisso: o errado pode até
párecer umá “oportunidáde”, más nádá máis é do que
35

umá tentáção. Isso vále párá tráições, “jeitinhos”,


camufladas nas ações, desvios de bens ou de
Página

interesses, dribles nos valores ou distorções da


realidade. Isso vale para os dez mandamentos, para
propagação de doenças, de maldades ou da
banalização da vida/morte. Entretanto,
independente da justificativa ou da gravidade, nada
disso é correto, por menor que seja esta ação. E é
neste sentido que afirmo e reafirmo que não há como
mensurar.
Mais um detalhe. Um ponto de desequilíbrio é
á fálsá ilusão de que “ficár em cimá do muro” é
correto. Cada alma que chega ao mundo está para se
aperfeiçoar, sendo o ator, o agente, o advogado, o
cúmplice, o perverso, o inocente e o culpado. Ser
neutro implicaria necessariamente optar que outros
escolham o seu papel no espetáculo. E assim permite
que a escolha deles se torne a sua podendo se
envergonhar, ou não, do papel adotado quando
clarificar a situação. Ser neutro não é abdicar da
opção da liberdade, mas permitir com passividade
que outros escolham por você. Claro que não estou
incentivando que vocês saiam falando suas opiniões
a qualquer tempo e a qualquer custo. Em seu íntimo
você sabe o exato momento em que sua opinião
mudaria o rumo das coisas, ou aquele momento em
que a consequência poderia ter sido evitada caso você
tivesse escutádo o seu “eu” máis íntimo. Aindá tem
aquele momento no qual sua manifestação não
36

mudaria o resultado, mas a tentativa de evitá-lo


Página

mudaria a sua consciência.


No seu íntimo, às vezes tão íntimo que nem a
sua consciência consegue perceber, há uma voz que
lhe alerta referente ao que está acontecendo. Alguns
chamam esta voz de intuição. Seja como for, este
aviso está aí dentro, em algum lugar, querendo
alertar ou até servir como um lembrete que aquilo
não é correto e não deveria acontecer. Fica aí um
conselho neste contexto: evite um “eu deveriá...”.

37
Página
Nossa simbiose em alerta

Ao longo da minha existência percebi que a


humanidade experimentou inúmeros sentimentos
diferentes, como também vivenciou diversas fases
distintas.
Lembro-me bem da primeira vez que o
homem sentiu a felicidade plena e o amor singelo. Foi
logo após Adão e Eva acordarem do estado de
inconsciência profundo. Foram milésimos de
segundos que duraram uma eternidade. Isso foi
quando Adão se viu ao lado de Eva e Eva se viu ao lado
de Adão, pela primeira vez. Diante de sentimentos tão
genuínos, autênticos, puros e sinceros, até nós nos
apaixonamos.
Também lembro-me da primeira vez que o
homem sentiu a vergonha — se você pensou na
história da maçã, acertou. Naquele momento nós
sentimos pela primeira vez a vergonha alheia. Se eu
pudesse mudar de cor, eu teria ficado vermelho igual
ao casal. Inclusive é por isso que minha caricatura
tem coloração rúbeo-sánguíneá, como um “sutil”
lembrete do constrangimento causado e que posso
causar.
38

Naquele momento não houve sinal de


Página

arrependimento, pois eles ainda não sabiam o que


tinham perdido. Contudo, o medo e a preocupação,
junto com um pouco de lamento por descumprirem
as ordens, esses sim ocorreram. Naquele momento
os sentimentos já não eram grandes coisas. Já não
tinham mais importância. O ato ultrapassou o pedido
de desculpas. As consequências já eram irreversíveis.
Quando houve a expulsão do Paraíso, houve
também uma mudança do paradigma da vida.
Digamos que foi a primeira reconfiguração social.
Talvez se Adão e Eva não soubessem, ou não tivessem
vivenciado a plenitude do jardim ou se não tivessem
a consciência que tomaram uma decisão equivocada,
jamais teriam se arrependido. Entretanto, este não foi
o caso. No momento em que eles foram expulsos, os
motivos ficaram claros, junto com o embaraço. E
quando eles se depararam com a realidade do novo
mundo, á lembránçá dá “boá vidá” que tiverám e pelo
o que trocaram... ai ai. Ali avivou um novo sentimento
chamado arrependimento.
De alguma forma, naquele momento, o
arrependimento e a vergonha criaram um laço e,
desde então, passaram a ter a possibilidade de
conviverem juntos. O arrependimento real é
profundo e dá margem a mudanças de
comportamento, além de ajudar com a compaixão. A
ternura floresce no interior dos que verdadeiramente
39

se arrependem por erros cometidos. Dá margem para


o crescimento pessoál e párá á buscá do “conserto” do
Página

homem e do mundo. Não adianta tentar mudar o


mundo se não iniciar esta tarefa no mundo particular
de cada um.
Teoricamente, este processo do
arrependimento ocorreria quando o que fora feito
não fizesse parte da identidade de quem o fez. Ou
sejá, á áção foi “ná contrámão” das crenças. Na
prática, isto faz com que o homem repense os seus
atos e amadureça com os seus erros. Este complexo
sentimento me tornou mais criativo e me possibilitou
o melhor entendimento do raciocínio elevado de
vocês.
Pela minha análise, destaquei este último
sentimento como algo que afetou minha forma de
trabalhar. Este afeto de lástima por algo que foi feito
ou dito resultou em uma cadeia de emoções
posteriores, tais como: tristeza, censura, repúdio,
remorso, reconsideráções e… á listá é gránde.
O arrependimento ocorre quando o
protagonista da história aceita fazer algo que não
deveria aceitar. Quando faz isso termina autorizando
um personagem astucioso, que, como se fosse um
dublê, fica apenas na espreita de um momento certo
para dominar a cena. Este personagem é idêntico ao
protagonista, com uma única diferença: suas
intenções. O dublê, ardiloso, gosta de executar cenas
40

importantes e faz o que o ator, em sã consciência,


Página

jamais faria. Desta forma, o protagonista aceita o


inaceitável, enquanto a sua consciência fica
adormecida diante da ocasião.
O desconforto surge quando o agente principal
percebe que quem realmente estava fazendo a ação
não era o dublê, mas sim ele próprio. E é neste
momento de compreensão e de lucidez que a
consciência desperta de seu estágio letárgico e brota
o arrependimento. Como já falei, este sentimento
desencadeia inúmeros sentimentos negativos. Ele
anda de mãos dadas com a vergonha, que, por sua vez,
é parente próxima do remorso. Algumas vezes este
remorso busca a desculpa ou ainda a procura pela
culpa. Uma culpa tão angustiante que se torna uma
sombra nos pensamentos... uma sombra que só
consegue se dissipar com o perdão.
Este é o atalho encontrado por nós para
relembrar e tornar o homem um ser que evolui.
Entretanto, nem todos alcançam este nível de
compreensão. Alguns permitem ao dublê assumir o
protagonismo, terceirizando suas responsabilidades.
Há pessoas em que o dublê atua tanto que se torna o
próprio ator principal. Quando isso acontece, estas
pessoas não sentem culpa, pois não acreditam que
seus atos são errados. Nesta inversão de valores
sentem até orgulho, prazer e satisfação pelo seu feito.
41

É aí que volto a tal banalização de valores da qual já


falei e que quase causou minha demissão por parte de
Página

vocês.
Sei que o gosto da tentação é forte, já me
questionei se erramos na dose, mas ao longo da
história ficou comprovado que não. Cada um recebe a
dose que o seu nível permite (e solicita). Simples
assim.
Quanto mais mundano, mais sedutor eu sou.
Quanto mais espiritualizado, mais forte e trapaceiro
posso ser. Quanto mais enfraquecido no parâmetro
dos valores, menos controverso eu serei. Como já
falei: tudo isto serve para testar a força espiritual de
cada um. Foi assim com Job, foi assim com Hitler e é
assim com você.
Retomando àquele momento – antes da
primeira mordida na maçã não havia o certo e nem o
errado. Adão e Eva eram tão espiritualizados que as
tentações profanas escapavam das suas visões de
mundo. Na verdade, nem faziam parte. Eles eram
inocentes, puros e ingênuos. Nós tivemos que utilizar
uma artimanha para mostrar a existência de uma
segunda opção. Para mostrar que havia uma árvore
do conhecimento. Para mostrar que havia o
sentimento de dúvida e uma segunda voz. Para dar a
visão que poderiam desobedecer, que existia esta
opção. Assim desenvolvemos o artifício da tentação e
do desejo como formas de aguçar e de seduzir, de
42

aumentar a vontade de fazer o errado. É o impulso de


cometer o equívoco sem perceber.
Página
Passamos horas planejando estas
intervenções, acreditando que vocês eram capazes de
nos surpreender. Pensamos minunciosamente como
abrir a mente do primeiro casal para a maldade e para
á málíciá. Pensávámos: “Já que forám feitos diánte dá
imagem da Iluminação, o coerente seria não ter estas
frágilidádes.” Ledo engano...
Finálmente vocês “morderám á iscá”, ou
melhor, morderam a maçã. E foi assim que iniciamos
oficialmente nossa parceria e que vocês permitiram a
minha companhia.
A expulsão do Jardim do Éden na realidade
não foi uma expulsão física, mas a mudança da forma
como o ser humano percebia o mundo. Os olhos
passaram a ver as imperfeições e as malícias com
lentes enviesadas dos desejos de cada um. Os ouvidos
passaram a escutar outras vozes e outras intenções.
O tato passou a sentir o tangível e o intangível. O
olfato passou a perceber o cheiro do contraditório. E
o paladar passou a sentir o gostinho das tentações.
A essência da vida, que antes fazia parte do ser
humano de maneira orgânica e natural, dissipou-se e
passou a ser procurada. Passou até a ser um desafio
durante a existência terráquea de vocês.
43

A partir deste ponto o comum se tornou


variável, pois passou a depender do ponto de vista de
Página

cada um. Ou, quem sabe, depender da cegueira ou das


lacunas existentes em cada um de vocês. Como dizem
por aí: “o pior cego é áquele que não quer ver”. Umá
frase incorreta dentro do Éden, mas perfeita para o
lado de fora dele.
Estes cegos são aquelas pessoas com
pensamentos pré-concebidos, as quais, muitas vezes,
julgam pelo que querem ver, sem considerar o que
optaram em excluir. São pessoas que suportam a
injustiça e, nela, enxergam a justiça. Ou pior, agem
equivocadamente, mas convencem a si e aos
próximos das suas perfeições ilusórias. Eu tenho
novidades para pessoas assim, que vivem presas nas
suas perspectivas: a maior distância do mundo pode
vir a ser aquela entre a realidade e o que você imagina
que ela seja.
Enfim, vocês passaram a conviver com a
dualidade. Passaram a desfrutar de minha companhia
e de alguns dos meus companheiros de trabalho. E
também vocês possuem o poder de nos colocar onde
vocês acreditam que devemos estar.
Nesta jornada o que mais observo é o
afastamento de vocês do eixo de sustentação vital. Na
verdade, na minha posição fico abismado, até mesmo
incrédulo, quando vejo vocês se afastando de pilares
que deveriam ser sólidos para a convivência humana.
44

A alma da sociedade fica entorpecida e chega a um


Página

ponto de uma nação inteira aceitar e se submeter à


corrupção. Aceitar e normalizar a maldade, a morte, o
destrato. Tudo isso em nome de quê? Vantagens
supérfluas diárias? É assim que acontece o diálogo do
que não deveria se dialogar e a justificativa do
injustificável.
Permitir a acomodação com o errado é
equivalente à (des)evolução natural. E me incomoda
muito a não preocupação e o não constrangimento de
vocês. Francamente, vocês estão perdendo a
capacidade de se envergonhar. Como isso me
incomoda. Incomoda-me vocês se apropriarem do
que deveria ser desapropriado. Incomoda-me, pois
nossa relação é milenar e ela está começando a ser
inútil. Tentei tanto vocês, que vocês quase não
necessitam mais de mim. A valorização do que não
vale e as escolhas com base em interesses sórdidos
estão em áltá ná “bolsá dos válores”, se é que
entenderam o trocadilho.
Obviamente não vou cair na generalização.
Ainda há sociedades nas quais a desonra é um dos
maiores vexames. Dependendo do caso, a perda desta
honra pode até levar o indivíduo ao suicídio. Por
incrível que pareça ainda existem pessoas nas quais a
capacidade de fazer algo não se confunde com o
direito de fazê-lo. Para estes, minha agenda ainda é
bem ocupada.
45

Todavia, para as sociedades menos


Página

desenvolvidas moralmente, onde poucos se


beneficiam com muito e muitos morrem por pouco,
ah... estes terminam sendo também os países mais
guiádos pelás “bestás” – que fique claro que não sou
eu tal personalidade. As leis cegam-nas diante do
poder e do egoísmo e por ganância permitem que o
ciclo se torne vicioso e cádá vez máis “eficiente”.
Triste realidade.
Eu gosto do meu ofício de tentar. É um desafio
para mim e para vocês. Contudo, não gosto de vê-los
com “rubi nos olhos”. Não me ágrádá ver o brilho dá
cobiça. Não curto quando vocês escolhem meus
caminhos. Não gosto quando vocês perdem a luz. E
não gosto quando vocês se esquecem de quem
realmente são. Eu não quero perdê-los e por isso me
preocupo.
As pessoas perderam o pudor e o verdadeiro
senso de consciência coletiva e de consciência pessoal
– falo da alma. Não me refiro à consciência
estritamente moral, mas ao conjunto de crenças,
ideias, atitudes compartilhadas as quais operam
como uma força unificadora na sociedade. Na
atualidade são conhecidas por aí como normas
sociais... ou até cultura social. Não sei ao certo. O
problema é que muitas vezes estas normas/cultura se
distanciam do verdadeiro propósito da existência.
Enfim, se vocês se acostumam com o mal, não
46

acabarão apenas com os meus colegas, mas comigo


Página

também. Simplesmente acabarão com o real


propósito da existência. Enfatizo que a recíproca não
é verdadeira, visto que o ser humano não se acostuma
com o bem. O bem não tem um limite. Ele é feito nas
ações diárias de uma forma contínua. Isto faz parte
das regras universais. Da ambiguidade a que vocês
pertencem. E cabe a cada um buscar reacender
dentro de si o poder de fazer boas ações para as
pessoas que lhes cercam. Acreditem, neste outro lado,
o benefício também é viciante.
Há ainda outra maneira de colocar a nossa
simbiose em alerta: o ser humano acabar com a sua
própria espécie. Não duvidem da capacidade de
autodestruição de vosmecês. Destaco que a maior
diferença de quando nós resetamos o sistema para
quando vocês o resetarem é que nós temos o poder
de reiniciar e as ferramentas para a sobrevivência. Já
vocês, simplesmente, lamentarão pelo que não pode
ser mais consertado. Ou, na pior das hipóteses, não
poderão nem lamentar. Posso exemplificar em
situações menos extremistas: Quando acontece uma
calamidade, o que vocês fazem? Aprendem com o
erro ou constroem um monumento/promovem um
show beneficente?
Vocês brincam de criadores prejudicando o
equilíbrio do sistema. O gosto da malícia está tão forte
que alguns não mais permitem sentir o gosto da
47

pureza. Quanto mais a sociedade se afasta do centro,


mais esquecem o propósito de tudo. Na linguagem
Página

lógica, vocês se desviaram do caminho, modificaram


o eixo, estão com uma inclinação para a vermelhidão.
O resultado é a tendência maior para a
pseudoreconfiguração do sistema, sem nem ao
menos sáberem á suá “linguágem de prográmáção.”
A verdade é que tenho saudade dos tempos em
que a inocência ainda era uma qualidade desejada.
Saudade dos tempos em que vocês eram menos
autossuficientes e ainda permitiam se questionar
diante do todo e refletir sobre as suas ações. Saudade
do tempo em que não saber não impactava no ego
pessoal e social. Saudade da época em que o dilema
não consistia no arrependimento, mas sim na
ausência dele. Pessoas mais ingênuas, que agiam com
o coração guiadas pelo brilho da vida.
É preciso aprender com o passado. Lembro-
me bem da época da Segunda Guerra Mundial, onde
uma pessoa que era ridicularizada na juventude não
apenas ganhou o poder como também modificou a
história. Hitler influenciou uma geração inteira com
suas ideias extremistas e virulentas. Ou melhor,
modificou o rumo da história. Fez — com ajuda e
consentimento de muitos, obviamente — com que o
senso comum da época acreditasse que o que eles
estavam fazendo era correto. Sem questionamentos,
sem sentimento de culpa, apenas seguindo as
48

intenções, as lógicas, as racionalidades e as leis


humanas. Criadas em um patamar egoísta e
Página
distorcido, foram recebidas como corretas pela
maioria do seu povo.
As normas e a cultura da época permitiam
pensamentos e ações doentias: matar um judeu, um
homossexual, um deficiente ou um negro não era
errado, era a limpeza que o mundo precisava. A
limpezá e á retirádá dá “escóriá humáná”, párá umá
supremacia perfeita, a supremacia ariana. Mais uma
prova daquela inversão de valores que eu já falei.
Naquele período, o certo e o errado, mais uma vez,
misturaram-se e foram reconfigurados. A inversão de
valores alterou o entendimento, mesmo em uma
náção “moderná e intelectuálizádá”.
Os nazistas não eram apenas os soldados da
SS, que fardados levantavam as bandeiras com
orgulho e faziam o serviço sujo. Os nazistas eram
todos da população que ajudavam, apoiavam e
vibravam com os feitos. Também aqueles que não
viam problema no que estava acontecendo. Nazistas
eram aqueles que aceitavam aquela cultura. Mesmo
no período de maldade e conivência foi possível
encontrar pessoas que não aceitavam e que tentavam,
de alguma forma, ajudar os perseguidos.
No final, as boas intenções não mudaram a
história. Eles mataram em nome de uma supremacia
49

racial, acharam que a cor da pele ou a crença


Página

justificavam seus atos de crueldade. Lembro-me de


alguns soldados que sentiam prazer em fuzilar,
estuprar ou torturar. Aquilo era incontestável para
eles. Aquilo era o certo e quanto mais faziam, mais
fácil e mais cruel era a próxima vez. O vício, os
caminhos, as escolhas, através de uma balança
desequilibrada, resultaram em consequências
imensuráveis.
Em plená “modernidáde” vocês escrávizárám,
humilharam, massacraram, retrocederam ao
totalitarismo diante dos seus semelhantes. Pelo
menos na Torre de Babel vocês ainda se
uniram...Recentemente a quantidade de jovens que
estão abandonando suas casas para se juntarem ao
ISIS – O Estado Islâmico é grande. Abdicam de suas
casas, de suas famílias por uma luta medieval, que
solicita o respeito unilateral. Escondendo-se em
roupas negras degolam, queimam e proclamam o
terror. Ou a quantidade de pessoas que matam,
roubam, batem ou estupram por motivos banais. E o
mundo como fica? Neste quesito, infelizmente, não
poderei responder. Minha autorização foi para falar
apenas sobre o passado. Quanto ao presente, cabe a
vocês a reflexão.
Sempre é mais fácil analisar o passado do que
vivenciar o presente. É possível saber onde se vai
chegar, ver os erros e acertos, já são detentores de
50

uma parte do conhecimento e do resultado das ações.


A dificuldade está no presente, enquanto o obscuro e
Página

as dúvidas ainda prevalecem. Quanto maior o


desconhecimento, maior a imprecisão e a indecisão
sobre o que fazer. Quanto maior a inquietação, mais
riscos está se correndo diante da decisão.
Até que em um determinado momento a
neblina começa a sumir e a nitidez, mesmo que de
forma tímida, emerge à consciência. Se o desvio do
caminho for real, o arrependimento e a vergonha
aparecem, junto com a tentativa do esquecimento, do
fingimento que não aconteceu ou da busca pelo
perdão, pela punição ou pela compensação. Esses
atos representam a traição do código de conduta
natural.
Após o fim da Grande Guerra, foi exatamente
isso que aconteceu. As pessoas omitiram o que
fizeram, esconderam-se dentro das suas máscaras e
condenaram o passado, ainda muito recente. O
remorso, a culpa e a terceirização dela já eram
irreparáveis. Monumentos, dias especiais, atos de
lembrança in memoriam, entre tantos outros eventos
para tentar minimizar a perda e relembrar.
Por mais que se tente omitir, eu sei, cada um
deles sabia e Ele sabe o que aconteceu. Disso não tem
como fugir ou se esconder. Esse episódio foi tão
grotesco, que hoje muitos questionam sua
veracidade. Há uma pequena parcela que lamenta o
51

desfecho e outra ainda menor que almeja a volta


Página

deste sistema.
Reflexões do passado, como esta, estão ao
longo de toda a história social e pessoal. Estes
museus e monumentos deveriam existir para orientá-
los e auxiliá-los na evolução. Estes lembretes
representam a traição de vocês diante de um código
de conduta. Contudo, como faz parte da natureza do
homo sapiens com “um leque” bem váriável de
emoções, muitas vezes, há distorções e equívocos.
Saibam, apenas, que as coisas podem voltar a
acontecer novamente com outra roupagem.

52
Página
As leis humanas

Agora questiono a você, nobre companheiro


dos meus relatos, o que são as leis humanas?
Não continue lendo se ainda não tentou
responder mentalmente. Pense na resposta. Hei de
perguntar novamente: o que representam as leis
criadas pelos homens? Por que motivo vocês as
criaram? Pense nisso antes de ir para a próxima linha.
Pois bem, as leis nada mais são do que códigos
de conduta social. São estipuladas por um núcleo de
humanos para manter o convívio e a harmonia
esperados da sociedade. Elas são o meio onde vocês
se julgam, justificam-se e punem-se. O meio de
convivência e de resolução dos seus dilemas e
problemas intercomunitários.
Quando os romanos começaram a desenvolver
esta ideia de código de conduta atual começaram de
uma maneira muito bruta e bem mais severa e
desfavorável para os plebeus. Elas eram guardadas
em segredo entre os patrícios como forma de
domináção. “Ajudávám” ná resolução de problemás
criados entre grupos sociais através de intenções dos
seus avaliadores. O julgamento era baseado nas
53

emoções do julgador, as provas poderiam ser


Página

desconsiderádás. Erá álgo como: “Provás, párá que te


quero?”
Recordo-me que naquela época os escravos,
soldados desertores, endividados ou prisioneiros de
guerra podiam terminar como propriedades dos
lánistás. Os “bons pártidos” erám treinados e
transformados em gladiadores que, para sobreviver,
precisavam matar – outros gladiadores ou animais –
em um espetáculo repleto de sangue e fervor, para o
deleite dos espectadores.
Claro que para dar mais emoção ao
“espetáculo” háviá cásos de compaixão. Bastava o
perdedor fázer umá lutá convincente ná “árená” –
leia-se agradar ao público – que o gladiador poderia
ganhar uma chance de sair vivo da arena e se
preparar para as próximas batalhas como gladiador.
E assim, ele ia de luta em luta, na esperança de um dia
conseguir a tão sonhada liberdade. Para outros, a
misericórdia não era tão benevolente e o direito à
vida era negado. Estes gladiadores deveriam aceitar o
golpe fatal e proporcionar sua última cena de euforia
para a plateia.
Ah... a miséria deste povo era gritante. Não
apenas no sentido financeiro, mas no sentido
espiritual. A política do pão e circo, a alienação da
vida, o desprezo pela vida alheia em troca do
entusiasmo pelo sofrimento, morte e sangue alheio.
54

Os “livres” cidádãos romános sustentavam o


Página

senádo e “Ciá Ltdá.”. Eles viviám ná promiscuidáde,


quándo iám párá estes “espetáculos” recebiám
comida e se divertiam. A diversão nada mais era do
que uma forma de alienação. Uma busca pelo
esquecimento das dificuldades de suas vidas.
Qualquer semelhança com a atualidade é mera
coincidência. A verdade é que os romanos eram
“bárbáros”! Não tánto quánto os vikings, mas
igualmente gostavam da brutalidade com o sangue, a
luta e a morte.
A cultura romana banalizava a vida. E a
banalização gera a necessidade de atitudes mais
severas, por isso, as formas como os cidadãos eram
julgados foram aprimoradas. Agora era necessário
mostrar escancarar a punição dos infratores para a
população.
Foi neste cenário que os romanos resgataram
uma forma terrível de punição e morte: a crucificação.
Inventada pelos persas quase 400 anos antes, a cruz
de madeira vertical tornou-se a técnica mais comum
de punir criminosos. Penduravam o condenado em
um misto de vergonha e tortura pelo tempo que
aguentasse até a sua morte, o que dependia da
resistência de cada um. O fato é que as vítimas
ficávám expostás nás “viás”, submetidás áos
intemperes ambientais, sangrando até o pós-morte.
Serviá álém do “cástigo” como um áviso párá áqueles
55

que não seguissem as ordens do governo: “obedeçá,


pois o próximo pode ser você!”
Página
Os principais problemas com as leis criadas
pelos homens são:
1. Elas são elaboradas e executadas por
humanos, com sentimentos, valores,
moral, emoções e com suas próprias visões
sobre o mundo. Estes fatores interferem na
elaboração e também nos julgamentos,
bem como são limitados pelas
informações, limitações e pelo próprio
contexto inserido;
2. Essas mesmas características individuais
de personalidade que as pessoas carregam
podem criar, excepcionalmente, uma lei
moldada para atender interesses pessoais
ou grupais – principalmente se o poder
estiver nas mãos de uma pessoa mais
“frácá”.
Este segundo ponto merece mais atenção, pois
a lei pode ser criada para proteger, inclusive,
criminosos ou pessoas que pensam igual sobre a
maneira como lidam com seu caráter. Isto quer dizer
que podem abrir exceções para a lei de acordo com
interesses, átrávés de “ártimánhás”, para facilitar
alguns caminhos. Ou pior, isto quer dizer que a lei
pode permitir que o errado seja aceito e amparado
56

pela própria lei.


Página

Isto resulta em leis frágeis que encobertam


pessoas fracas de espírito, mas que exercem poder
severo sobre outras pessoas. Cá para nós, essa foi
uma jogada de mestre. Uma sugestão dada há
milhares de anos e ainda hoje se aplica tão bem.
Existem causas jurídicas nas quais a responsabilidade
do réu só pode ser ignorada por se embasar em algum
artifício vulnerável da lei. Com isso, criminosos são
inocentados, inocentes são condenados e a verdade
pode ser menosprezada em nome de interesses
pessoáis ou sociáis, táis como: fámá, “ámizádes”,
reputação, vantagens profissionais, financeiras...
Ressalto ainda que há uma diferença entre
defender e legitimar, mas este é um campo onde a
“verdáde” se torná dependente do poder de
argumentação e da forma como um supera a astúcia
legal do outro. Vocês praticamente
institucionalizaram que nem todos são iguais perante
a lei e que o certo é variável de acordo com o contexto.
Quer saber outra época em que as leis
humanas distorciam a realidade? Não precisa pensar
muito, pois eu vou dizer pra você: foi na Era Medieval.
Uma era nutrida por um forte puritanismo e pela falsa
moralidade, paradoxalmente, transbordava de apelos
sexuais, como em várias torturas e punições
macabras e assustadoras. Além disso, a maioria das
ações eram regidas pelos interesses de gente
57

mánipuládorá que controlává á populáção “inferior”.


Por exemplo, a conotação do termo vilão tem suas
Página

origens desta época, onde uma classe medieval de


homens livres era denominada vilão, mas por serem
livres trabalhavam menos do que os servos e tinham
mais privilégios gerando, assim, este sentido
pejorativo. Como explicar isto, não é mesmo?
A arrogância desta época era tão grande que
uma classe atribuiu o poder divino para si. Imaginem
só... até lugar no céu era vendido. Não importavam as
áções terrestres destes “fiéis” devotos. Importává,
apenas, o pagamento que garantia os recursos e os
interesses desses “pseudocorretores divinos”. Parece-
me um dom humano sempre jogar com a crença e
com a inocência de pessoas mais dependentes.
Essa combinação de crença, poder e alienação
levou a igreja católica – da época – a formar um grupo
párá confrontár á “heresiá”. Em outrás pálávrás, párá
combater todos aqueles que expressassem uma
posição contrária à desejada por eles. Estes hereges
eram julgados por um tribunal e caso fossem vistos
como uma ameaça eram punidos – onde eram
torturádos e/ou queimádos ná fogueirá. A ‘cáçá às
bruxás’ foi um exemplo de perseguição áos hereges
medievais. As bruxas foram pessoas que não seguiam
os preceitos cristãos ou ameaçavam as suas
doutrinas. Destaco duas categorias que sofreram com
isso: os judeus e as mulheres. Só um adendo sobre
58

estas senhoras, a maioria das que foram condenadas


eram pessoas humildes, mas que detinham o
Página

prestígio social pelo seu conhecimento em ervas


medicinais ou pela sua sabedoria da vida. Ainda
assim, os dois destaques que mencionei tiveram
quase o mesmo fim: tortura e fogueira. Coitados, na
época eu tive que mostrar o caminho, foi necessário,
mas quantas pessoas sábias se perderam diante de
divergência de crenças? Ou do medo do diferente? O
quanto o poder corrompe, não é? – Deixo aí alguns
questionamentos que transcendem a época.
Diante dessa história, não paro de pensar na
sorte de vocês! Se o “nível diábólico” – humano, claro
– cometido na era medieval fosse cometido na
primeira era... Certamente vocês não estudariam
sobre a peste negra, e sim estariam na dúvida sobre
mais uma passagem bíblica. Desta vez, um castigo
divino severo por novamente usarem o nome Dele a
favor das suas ambições — mais uma vez, estou
apenas provocando a curiosidade e a reflexão sobre o
tema.
Como isto não aconteceu, o castigo chegou em
formá de “prágá”, ou “peste” como vocês costumám
estudar na história. A peste negra devastou um terço
da população da época. Pensando friamente foi mais
gente do que o dilúvio de Noé. Mais gente do que em
Sodoma. E perceba que a interferência divina desta
vez não foi direta, foi apenas em brechas de
59

comportamentos sociais da época – no caso com a


falta de alguns procedimentos. Como os judeus
Página

possuem um código de higiene antigo, eles não foram


tão afetados pela praga. E este foi um dos motivos da
evidênciá e do temor dáquelá ‘primitivá’ sociedáde
perante este povo. A Inquisição teve este viés de
“perseguição judáicá”. As opções erám postás: “á
morte ou á águá bentá”. Ou iriám “árder no inferno”,
começando a arder nas chamas da fogueira ou se
convertiam, passando a ser um cristão novo.
Entendem o que falo sobre as leis humanas e
seus problemas intrínsecos? Condenações
enviesadas tiraram vidas, permitiram que uma
populáção se comportásse como umá “mássá de
mánobrá”, não ápenás concordándo com ás práticás,
auxiliando-as, seja com informações, com a audiência
ou com a passividade. Diante das premissas criadas,
vocês agem sem fundamento, sem questionamento e
sem pensar. Pois bem, quem não tem informação
acredita no que lhes dizem. Quem tem informação,
mas não tem senso crítico ou moralidade, torna-se
um bom soldado da maldade. Fica a dica!
Apesar das dicas e dos questionamentos,
preciso salientar que mesmo depois de tanto tempo
trabalhando com vocês, ainda me impressiono com a
habilidade de preservação de alguns
comportamentos. Parece uma característica humana.
Vamos agora refletir um pouco sobre a era
60

átuál. As informáções podem estár “á um clique” de


Página

distância. Em um mundo superconectado, estas


mesmas informações se tornam megadados que
podem ser analisados. Com maior precisão e com
tantas ferramentas à disposição é possível analisar e
monitorar o que a audiência deseja. É possível
támbém ser máis “eficiente” nás decisões. Neste
aspecto que volto às leis humanas seria eficiente para
quem? Para a lucratividade? Para se ganhar mais
“cliques”? Quáis interesses estão sendo átendidos?
Saber o que as pessoas querem ou esperam não
implica atender estes desejos. O poder mudou de
roupa, as tentações mudaram de forma.
Qual o mal de se pensar, isso é, o melhor para
o mundo? Estas ações deixarão valores melhores
para os meus netos? Qual a dificuldade em analisar os
impactos reais diante da verdadeira essência
humáná? Com á justificátivá de que “o cliente sempre
tem rázão” ou “temos umá oportunidáde áqui” ou
áindá, “más á lei permite...”, os desvios vitáis
aumentam. Novamente os argumentos são
embasados em falácias que levam a erros cruéis.
No meio tempo entre os romanos, a inquisição
e as redes sociais nasceu a democracia. Invocada e
proclamada com orgulho por muitos, como um ápice
atual, ela é almejada pelas sociedades modernas e o
repudiado por nós. Ficou espantado com essa? Calma
que vou explicar. Sempre volto às origens: Demo
61

significa povo. Demo, ou seja, o povo está na


democracia. Todavia, demo também está na palavra
Página

demônio. O povo está no demônio. O povo está no


comando. Então eu pergunto: onde vocês já viram
uma multidão ter o discernimento entre o certo e o
errado? Isso já deu certo alguma vez?
O povo geralmente opta pela facilidade, pelo
momentâneo. Age por impulso. É o ímpeto da massa.
São pessoas que vivem o seu dia a dia e não estão
muito focadas na parte holística da vida e da
sociedade. Vou me repetir, cite-me um momento na
história onde uma aglomeração racionalizou para o
bem geral? Nestes casos, a maioria representa o que
o lado mais animal e primitivo deseja. Chamo atenção
párá o “sujeito” de umá frase famosa de vocês: nem
sempre a voz do povo é de quem vocês querem que
seja. Para os que não entenderam, vou escancarar: a
voz do povo não é a voz Dele.
Como disse, a maioria de vocês está presa no
cotidiano, e com isso termina com a ausência de
reflexões e da compreensão de situações macro. A
maioria está presa entre o que querem ser e o que são.
Entre a vaidade e a integridade. As pessoas se
preocupam mais com o que vão ter do que o que vão
ser. Acham que o acúmulo material é o que vão deixar,
sem pensar que, no final, o que deixam são as
memórias, o afeto, as ações e o exemplo. Mas, tudo
isso é normal, nem todos precisam estar pensando no
62

mundo macro. A questão é: diante disso, estas


pessoas podem decidir pelo macro?
Página
Outro ponto de destaque é a tal da
unanimidade. Ela é questionável, afinal o que faz
pessoas tão diferentes pensarem igual? Ela pode
estar carregando certos cálculos egoístas ou os
demônios de uma sociedade.
Decidir pelo destino de um povo é algo que
exige mais do que apenas um bom marketing. Uma
escolha errada sempre irá impactar nos conceitos
morais, sociais e, consequentemente, na vida de
milhares de pessoas. Uma má gestão social destrói
sonhos, destrói infâncias, afeta tremendamente a
saúde dos menos afortunados e, inclusive, é
assassina, pois também destrói vidas. O poder de
decidir por um povo necessita, além de
responsabilidade, caráter e sabedoria. Todavia, na
reálidáde de vocês, o “currículo” e á populáridáde
prevalecem diante disso... e no final, sem saber, o
demo escolhe pessoas que não podem contar na
“horá H”. Que decidem pensándo neles próprios e não
na população.
Seria mais fácil se vocês soubessem que o ser
humano é movido a interesses. Pode ser interesses
genuínos – como a busca por amor, por
pertencimento – ou interesses negativos – como o “se
dár bem” ou o “o que gánho com isso?”. – Fato é que a
63

atração pela malícia sempre estará em sua


companhia. Essa é a barganha e também as escolhas
Página

da vida.
Aqui vai mais um conselho diante das
frequentes argumentações que vejo por aí: um erro
jamais pode justificar outro erro. Como é corriqueiro
este tipo de justificativa, tentando encontrar uma
brecha para os interesses momentâneos. E como ele
é perigoso, pois esta argumentação é poderosa. A
vingança, prevista no código de Hamurabi – ‘olho por
olho’, ‘dente por dente’ – é perversa e controversa
demais para ser aceita.
Há pessoas que se habituam tanto com os
deslizes, que não conseguem mais enxergar os
absurdos que pleiteiam. Fazem comparações
incompatíveis. Rompem os limites, baseiam-se na
desarmonia e na discórdia. Pessoas estas que se
julgam íntegras e morais. Camuflam-se em um
personagem socialmente aceito – o que seria na
átuálidáde umá “pessoá comum” ou áté umá “pessoá
do bem” – mas, na realidade, são prepotentes,
arrogantes, amorais e terminam se apoderando do
meu papel. No entanto, apropriam-se de maneira
equivocada, pois não apenas mostram o caminho,
como támbém fázem ás verdádeirás “pessoás
comuns” se desviárem dos seus reáis cáminhos.
Mostram uma tentação como se fosse uma ótima
oportunidade.... Tudo isto, apenas para que estas
pessoas mais fracas sirvam como peças de seus
64

interesses pessoais. Sirvam para o atingimento dos


Página

seus próprios desvios.


Finalmente, as desconstruções vão
acontecendo. Os valores são invertidos e a cegueira
converge à normalidade. A incoerência prevalece e a
argumentação se sustenta em falácias. E nas audácias,
outros absurdos surgem, como a máxima de que
“nádá está tão ruim que não pássá piorár!”.
É desta forma que vocês cruzam, sem
perceber, todos os limites razoáveis. E é desta mesma
forma que as fronteiras se expandem para novos
limites, cada vez mais baixos.
Preste bem atenção no que lhe digo, caro
leitor: cada um é o único responsável pelos seus atos
e pelas suas escolhas. Não pretendo abusar da
redundância, mas não tente ser o que não é. E caso se
depare com o poder, saiba da responsabilidade que
lhe é dada. Sempre se questione, a reflexão correta é
uma das melhores armas deste desvio. Tente
entender o que está fazendo. Analise as
consequências diretas, indiretas, de curto e de longo
prazo. Analise o impacto macro, em como e quais as
pessoas que são afetadas pelas suas decisões. E
principalmente analise e questione quais os
interesses que estão sendo atendidos de verdade.
Cuide-se, para no final não ser você a figura que tenta
– ou tem a pretensão de – roubar o meu papel.
65
Página
O Livre Arbítrio e As barganhas pelos Interesses

Há momentos onde alguns indivíduos tomam


certas atitudes que não condizem com o
comportamento esperado. Escolhem mal. Tomam
atitudes feias. Por vezes pedem desculpas com frases
como: “eu estává possuído”, “eu estává forá de mim”,
“não sei onde estává com á cábeçá” ou áindá “eu
estává perdido”. Vejámos bem, ná primeirá opção há
a terceirização da responsabilidade. Não foi ele quem
decidiu, pois ele estava possuído – teoricamente por
mim. As três opções seguintes há uma pequena
evolução, pois não me responsabilizam. Apesar de
ainda terceirizarem a responsabilidade para o
indefinido. Ela é terceirizada para uma desorientação
da decisão, uma vez que não foi de forma
racional/consciente.
Em todas as quatro opções é possível ver uma
confusão notória: apontam o dedo para fora e negam
um dos maiores dons humanos: o livre-arbítrio. Este
é o direito de decidir.
Novámente repito á fráse de vocês “errár é
humáno”, então, qual o problema de assumir uma má
escolha? Tão importante como assumir é entender e
66

evoluir com este episódio... Enfim, vocês são maus


juízes das suas próprias ações. Tem gente que é um
Página

ótimo juiz alheio. Tem gente que conhece o mundo


inteiro. Mas poucos são os bons juízes, e menos ainda
os que realmente se conhecem.
Então dedico este capítulo a explicar um
conceito muito profundo. Sei também que esta
explicáção me prejudicárá um pouco, más “vámos lá”.
Párá vocês, o conceito “ser livre” váriá de ácordo com
a história. Na era medieval, por exemplo, uma pessoa
livre era aquela que não se submetia ao regime, ou
seja, não era um servo. Na época romana havia os
libertos, que erám “ex-escrávos” que de álgumá
forma adquiriram sua liberdade, porém não gozavam
de privilégios sociais – apesar de serem livres.
Atualmente um homem livre pode ser aquele que não
está preso – isso implica ter a liberdade de ir e vir
quando desejar. Ou ainda, aquela pessoa que pode
fazer o que desejar. O que vier à sua mente.
O nosso conceito de liberdade é bem diferente
destes conceitos estabelecidos por aí. Liberdade é
“você não fázer o que você quer fázer por opção”. Por
mais tentadora que seja uma conduta, a pessoa não a
executa simplesmente por saber que esta vai no
sentido oposto à essência da sua natureza. O ser
humano não tem o domínio total de escolher como se
sente, mas tem o domínio de escolher o que pensa e
do que escolhe. E dependendo das suas escolhas,
67

pode mudar o que sente. E pode mudar como age.


Página

Percebam que é diferente da minha natureza.


Eu tenho que fazer o que sou destinado a fazer,
independente da minha opinião. Não tenho escolhas.
Já vocês, têm a opção de escolher. Inclusive de não
escolher ou de fingir que não escolheu. Em
contrapartida, eu detenho o conhecimento sobre as
ações. Já vocês são detentores das consequências e
muitas vezes prisioneiros dos prazeres e interesses
mundanos que interferem e distorcem a essência
real.
A liberdade também está baseada no
discernimento entre o verdadeiro certo e o
verdadeiro errado. E aí entra a nossa simbiose:
lembre-se de que eu mostro o caminho, mas é você
quem opta pela superação, ou não. Você põe em jogo
o fortalecimento ou o enfraquecimento da sua
fidelidade, da sua integridade e da sua identidade
com as suas escolhas. Novamente – eu mostro as
opções, mas não toco em vocês, não puxo pela mão e
não obrigo ninguém a fazer algo. Se fizesse isso, iria
contra as minhas regras.
Evidencio que a liberdade nem sempre está
relacionada às questões essenciais da vida. Em um
contexto mais simples uma pessoa livre pode ser
aquela que está entrando em uma dieta, por exemplo.
Por maior que seja a sua vontade, ou o seu desejo
carnal e mundano, por opção esta pessoa não vai cair
68

na tentação. Ela vai resistir e ser maior do que os seus


impulsos. Desta forma ela será livre. Livre de suas
Página

vontades. Livre dos seus impulsos. Vai se controlar


por saber que aquilo não pertence à sua escolha, pelo
menos não mais, mesmo com o corpo falando o
contrário.
Vocês não são livres quando repetem erros.
Erros que cada vez que os cometem provocam dor de
consciência e arrependimento. Agindo assim, como
um disco arranhado que toca sempre a mesma faixa,
vocês se tornam escravos dos seus desejos.
Notem que tudo o que testamos é a força
interior de cada um. Este será o desafio: uma busca
constante entre o prazer, a dor, o crescimento, a
reflexão e a liberdade. Para tal, criamos o impulso,
que pode aparecer no âmbito mais pessoal – egoísta
ou altruísta – ou no âmbito social. E aqui vai mais uma
dica: todo impulso vem disfarçado de pensamento. E
o pensamento é o primeiro passo para uma ação...
A reflexão é uma das chaves para o
entendimento macro da situação. Pense comigo,
quantas decisões você não tomou por puro egoísmo?
Ou por quantas vezes inventou desculpas para
justificar uma vontade particular em busca de um
prazer pessoal, sem mensurar a dor que poderia
causar no outro, ou até em você mesmo? Vocês,
humanos, são controlados pelos desejos e muitas
vezes pelo egoísmo. Por isso, o importante é ter
69

consciência de que no minuto em que permitem que


Página

os impulsos egoístas assumam o comando, você não


mais conseguirá dominar seu pensamento e muito
menos as decisões subsequentes. Até que satisfaçam
aquele impulso egoísta – que agora é uma
necessidade. Isso significa que a melhor coisa é
começar a controlar o pensamento. Afinal, a dor da
disciplina é melhor do que a dor do arrependimento.
Desta forma, o objetivo de cada um nada mais
é do que se libertar disso. Evoluir. Pensar na
sociedade como um todo e não como um meio de
aceitação e cultivação da vaidade. Ter a liberdade de
trocar algo que faça um bem egoísta, por algo que seja
melhor para o coletivo – obviamente com a sua
preservação e a preservação da integridade. Nada
disso é fácil, mas saiba que todos os seres humanos
também possuem este impulso altruísta, basta
permitir que ele apareça.
Deixo claro que o problema não é o prazer,
mas o prazer egoísta e vaidoso ou a dor causada pelo
egoísmo. O problema não é optar racionalmente por
um caminho equivocado, o problema é optar por um
caminho equivocado e se iludir com razões
superficiais. Ou pior, continuar optando por estes
caminhos.
O problema também está em se iludir com o
momentâneo, sem pensar no longo prazo. Um quesito
cádá vez máis “moderno” que áfástá dá reálidáde o
70

que vocês buscam e almejam no âmbito pessoal e


Página

social.
Olhem suas leis, olhem suas ações. Pautadas
por meios caminhos, criadas com abertura para os
que buscam a facilidade ou a egolatria do prazer
instantâneo. Talvez isto explique o motivo que tantos
se drogam para alcançar o nirvana. Um momento
curto em detrimento da saúde física, mental,
emocional e dos relacionamentos com os entes
queridos. Entram nessa situação mesmo tendo
informações sobre o resultado final.
Eventualmente as justificativas da idealização
do “o que importá é o hoje” ou do “eu mereço”
expliquem a falta de visão do futuro. Certamente a
ideia da imortalidade confirmava a incoerência da
preservação. Talvez o que escrevo aqui explique o
motivo dessa perda de controle pessoal e social.
Quando uma pessoa se distancia da busca pela
essência natural em troca de entretenimentos
mundanos, de futilidades, de banalidades... ela na
verdade se aproxima dos caminhos que mostro. E
quem ganha força, além dos gatilhos para estes
caminhos, são estes impulsos e pensamentos
decorrentes do livre-arbítrio. E reforço, ganham
forças diante das escolhas de cada um.

Muitos buscam pelos entretenimentos


71

profanos e poucos buscam pelo âmago espiritual


Página

atemporal. Preocupam-se tanto com banalidades da


vida particular do outro, ou pelas condutas da
sociedade que se esquecem do que rege a vida e seu
verdadeiro propósito. Guerras, fomes, mortes,
imorálidádes, váidádes e egocentrismos… me
desculpem a sinceridade, mas me pergunto o quão
distante vocês estão de Sodoma e Gomorra?

O cálculo egoísta
Ao longo desses milhares de anos que estamos
juntos terminei criando um entretenimento pessoal.
Chamava-me a atenção o raciocínio humano e por
isso comecei a buscar entender um pouco mais acerca
do processo das escolhas diante da percepção
humana. E deste peculiar passatempo surgiu minha
teoria que denomino ‘o cálculo egoístá’. Pode ser
também o planejamento egoísta, mas acho este um
ponto a mais, pois planejamento dá uma ideia
racional maior do que o que ocorre.
Para melhor adentrar no ponto onde quero
chegar, deixe-me fazer um questionamento – mas
antes solicito sua sinceridade e honestidade na
resposta: se alguém colocar uma arma na sua cabeça
no meio de uma rua movimentada e falar que a única
forma de você sobreviver é matar uma pessoa.
Qualquer pessoa que esteja passando por ali, naquele
72

momento. O que você faria?


Página
Não adiante a leitura, apenas pense no que
você faria? Pense antes de prosseguir e anote sua
resposta antes de ir para a próxima linha.
Você trocaria a sua vida pela vida de outra
pessoa, ou seja, você mataria qualquer pessoa para
justificar a sua vida? Se você optou em matar outro
para se salvar, pois bem, seja bem-vindo ao cálculo do
egoísmo. Oh, meu caro, por que sua vida é mais
importante do que aquele outro que você acabou de
matar mentalmente?
Sua opção se baseou no seu egoísmo de
existência, nada mais do que isso. Quem era o
próximo? Mesmo sem saber, morreu apenas para
você sobreviver, por opção sua. Perceba que isso é
diferente de uma briga onde um ou outro morre, onde
sua opção é se defender de alguém que está tentando
o seu mal, ou a sua morte. Na hipótese inicial, você foi
uma vítima aleatória que trocou a vida também na
aleatoriedade.
Claro que o exemplo é um extremo, mas
deixando nas suas devidas proporções escolhas como
estas acontecem no dia a dia de muitos de vocês. É
uma barganha constante entre a identidade social-
individual e a identidade vital.
73

O cálculo egoísta consiste na fragilidade do ego


na hora da escolha. O egoísmo é a atitude de uma
Página

pessoa colocar suas opiniões, desejos, necessidades,


vontades em primeiro lugar, independente das
consequências. O que vale naquele momento é a
ambição das promessas e dos desejos. A aspiração
dos interesses mais profundos.
Podemos destacar alguns atos egoístas como o
consumismo, a vaidade, a ganância, a ausência de
reflexão, o orgulho cego ou simplesmente o oposto de
altruísmo, desprezando as necessidades alheias. Em
qualquer um destes casos, o egoísta seleciona a sua
preferência de acordo com a sua comodidade e com
as suas vontades. O leque limita-se do “eu” áté o “eu”.
As conjugações variam no máximo da primeira
pessoa do singular para a primeira pessoa do plural.
Sem outras opções.
O cálculo está no cotidiano. Ele pode acontecer
em atos singelos como escolher o local do almoço
pensando só na sua satisfação. Pode ser em atos como
uma pequena trapaça ou malandragem, onde, na
percepção do executor, “não fáz mál á ninguém” ou
“ninguém se importáriá”. E pode chegár á áções máis
graves como trair a confiança de alguém ou
influenciar alguém a sair do caminho. Independente
do caso, em geral, estão abordando artifícios
pautados pelo ego. E com uma honrosa desonra
proclamam com orgulho o feito. Riem, humilham,
74

ridicularizam ou simplesmente esnobam o que


deveria ser correto pelo ego.
Página
Peguei-me pensando em um exemplo mais
grave: a traição em um casamento. Como uma pessoa
troca toda uma cumplicidade por um impulso
momentâneo? O casamento é a base elementar de
uma família, uma união sagrada. Já a traição se inicia
com uma aventura, com aquela adrenalina. Não
comentarei sobre os riscos de saúde que podem estar
levando para casa, mas comento a quebra de
confiança. O traidor passa a ter que camuflar os seus
atos, desvia o seu foco, a sua atenção, a sua presença.
A insegurança, as dúvidas a desconfiança começam a
ficar cada vez mais presentes. E com toda a certeza,
quem traiu estava nos seus planejamentos egoístas.
Quem segue estes caminhos que iniciam com
minhás “demonstráções” está escolhendo um
caminho onde o resultado final será bem negativo.
Voltemos à ideia base do livre arbítrio. Você
opta pelas suas ações e pelas suas trajetórias,
algumas vezes sofre as consequências imediatas, mas
ná máioriá só vái trilhándo o seu rumo sem “se dár
contá” de onde está chegándo. Entre um cáminho e
outro, novas oportunidades e tentações aparecem e
desaparecem. Entre um caminho e outro, você vai
fortalecendo o seu tipo de escolha e,
consequentemente, tendenciando seu destino até
75

chegar a um momento que a escolha é automática,


por já fazer parte da sua personalidade.
Página
Abro um parêntese para voltar a falar sobre a
criação humana. Quando Ele criou o ser humano,
colocou uma luz dentro de cada um. Essa luz é como
um medidor da essência, da alma. Cada ação
escolhida pelo ser humano pode aumentar ou
diminuir essa chama. Se o caminho escolhido for por
natureza positivo, a iluminação espiritual reina. Se for
negativo, a escuridão aumenta. Esta última distancia
a pessoa do sentido da vida, permite a tendência para
o mal, a banalização dessas ações, do respeito e da
plenitude. Chegará a um ponto que se torna muito
difícil reacender a chama. A pessoa encontrar-se-á na
neblina da alma. Presa nas suas próprias armadilhas.
A lucidez esconde-se diante dos fatos e a escuridão
reinará. Dependendo de quão astucioso o ser for,
pode até romper a linha da vida deixando este mundo
antes do que deveria. Apenas pelas suas escolhas. O
que podemos destacar, por ora, é a importância da
sua responsabilidade sobre essas escolhas.
E como isto está relacionado com os cálculos
egoístas? Simples, os caminhos solidificam-se com a
repetição. Se as escolhas se baseiam continuamente
diante dos estímulos e dos desejos pessoais, isto cada
vez mais ficará normal. Chegará um momento em que
o atuante – metaforicamente – desenhará um círculo
em volta de si e, desta forma, sempre estará no
76

“cáminho certo”, pois ele é tão importante que é o


Página

centro do alvo.
Fato é que quando há junção entre as pessoas
é mais fácil de se juntar e reter a luz. Quando cada um
age sozinho, é como se a voz da serpente do Jardim do
Éden estivesse falando e mais uma vez afastando. O
ego tem uma atração pelo caos, pela posse, em achar
que párá crescer precisá “pássár por cimá”. O ego
atrai brigas e transforma o mundo pessoal em uma
guerra constante, ou pior, em um vazio preenchido
por coisas. Sinto informar, mas o ego ilude.
Nesta jornada, que começou com o
entretenimento de entender melhor vocês, percebi
que as pessoas mais completas são as pessoas que
viajam para dentro de si. Elas são felizes com elas
mesmas. Elas não apenas buscam se entender como
buscam se encontrar. Com isso, tornam-se pessoas
mais livres, mais leves, mais completas.
O ego é perigoso... E as vestimentas dele são
piores do que as minhas, pois – muitas vezes – são
desconhecidas.
Sei que há umá máximá que diz “se conselho
fosse bom não se dává” e, como muitos conselhos,
estes podem ser deixados de lado. Por esta razão
lembro que você comprou o meu livro e, dessa forma,
os meus conselhos não são mais gratuitos. Então, não
permita que essas ações sejam normais. Não permita
77

que o erro do outro justifique o seu erro. Não aceite o


Página

pacto da mediocridade, o nivelamento por baixo. Não


aceite que o errado, por menor que seja, torne-se
certo. Exija de você o máximo da essência humana.
Que ao apagar das luzes, no momento do seu enterro,
as pessoas lembrem-se da sua iluminação. E que a
saudade dê espaço a um sorriso singelo e uma
inspiração. Que seus filhos e netos se orgulhem e
sigam os seus exemplos. E que seus amigos o
admirem e se inspirem nas suas ações.
Não permitam que o errado se banalize. Um
político que rouba está errado. Não é porque ele tem,
faz ou deixa de fazer que justifica a falta de caráter.
Na realidade, o roubo de um político ainda é mais
grave, pois está privando a educação de tantos jovens,
a saúde de outros tantos doentes e a segurança dos
seus cidadãos. Não permita que o seu filho coma o
chocolate da loja e saia sem pagar. Não ache o máximo
quando alguém lhe dá o troco errado – para mais. Não
permita que a ação errada de alguém sirva de
exemplo para você. Muito menos deixe que elas sejam
normalizadas ou seja cada vez mais comum. Você não
permitindo isso em você já está fazendo um grande
trabalho.
Esse jogo do eu ganho e você perde ou nem me
importo com você, na verdade, ninguém ganha. A
pessoa que pensa assim está condenada a uma
barganha equivalente aos exemplos citados. Lutem
78

contra a cegueira da alma e contra a fome amoral.


Página

Acho engraçado que muitos se envergonham


de seus corpos. Tudo bem que a vergonha já foi maior,
porém ainda há muita gente que se constrange diante
da padronização da beleza. Constrange-se pelo que
vestem em um contexto. Não obstante, não se
envergonham de atos graves diante do cálculo
egoísta. Como já falei anteriormente, vocês estão
perdendo esta capacidade de se envergonhar. E a
vergonha é um parente próximo do remorso e da
evolução. Aproveito para lembrar que constranger
uma pessoa é equivalente a um ferimento físico. A
diferença é que um fere o corpo, o outro fere a alma.
Enquanto Eva e Adão não tomaram a
consciência que a árvore do conhecimento era
tentadora, não se depararam com a escolha, nem com
o desejo. Precisaram de um advogado, de uma
semente que dissesse “olhe... isso pode ser bom.
Experimente.” Eles precisárám ser convencidos de
algo que já sabiam que não deveriam fazer, mas foram
fracos. Sabiam que estavam fazendo algo errado, mas
o fizeram. Acharam que poderiam se esconder, mas
só conseguiram se esconder um do outro. Todos nós
sabíamos onde eles estavam, sabíamos das suas
escolhas e eles também. Mesmo assim, tentaram se
esconder. Talvez, tentaram se esconder deles
mesmos...
De lá para cá foi e é assim sempre. Essa é a
79

barganha. Trocando o errado pela racionalidade do


irracional. Custeando a integridade pela imoralidade.
Página

Optando dentro do livre arbítrio e algumas vezes


camuflando de forma racional e dialética as vias
percorridas.

A barganha exemplificada
O livre arbítrio é uma dádiva que foi escolhida
por vocês, más é “umá fácá de dois gumes”. É como se
fosse um jogo de xadrez, onde cada ação desencadeia
uma série de possibilidades e necessita de muita
estratégia. Ou seja, a vida pode ser uma sequência de
apostas. É bom lembrar que um bom apostador
aposta, apenas, aquilo que pode pagar. Além de
analisar o cenário, os riscos e as probabilidades.
Adentrando na história cética que vocês estão
acostumados, quero compartilhar mais alguns casos
de “personálidádes” que márcárám á Históriá. Ná
verdáde, ir álém do “dár nome áos bois”, quero
abordar sobre os dilemas e as verdades por trás da
barganha dos cálculos egoístas.
A possibilidade de obter conhecimento foi a
chave para convencer Eva e Adão. Não estou falando
de qualquer tipo de conhecimento, mas a opção de
conhecer tanto quanto Ele – coitados em acreditarem
nisso. Encantaram-se com a possibilidade do poder.
Esta foi a minha primeira barganha com o ser
80

humano. Ao longo dos anos a tentação com o poder


foi e ainda é o meu melhor trunfo. A ganância e a
Página

vaidade humana, a maior fraqueza dos humanos.


Afinal, muitos ainda escolhem o prazer pessoal, a
satisfação momentânea. Uma quantidade menor –
mas ainda muito expressiva – gostam também do
poder da superioridade aos outros.
Humildemente eu lhes digo que sou um pós-
graduado em vendas e negociações. Não por ter feito
um curso de pós-graduação, mas por honoris causa.
Minhas negociações e vendas se baseiam nas
escolhas, no entanto, a falta de integridade e as
consequências não fazem parte do pacote.
Na época das Cruzadas, o heroísmo e a força
eram meus produtos de maior barganha. Ser um
perdedor era uma humilhação, mas ser um vencedor
erá o “máximo do máximo”. No período medievál o
meu produto mais sedutor era a terra. Isso mesmo,
naquela época as terras eram o maior capital, vide o
senhor feudal. Pensando bem, nesta era tínhamos
boas moedas de troca. Lembra daquela ideia de
vender um lugar no mundo vindouro? Pois bem, foi
minha. Devo confessar: que ideia sarcástica e
debochada. Lembro-me como se fosse ontem o
“brilho nos olhos” dos envolvidos crentes que iriám
para o céu com um pedaço de papel.
Depois da Revolução Industrial a história
mudou um pouco de figura. Ser dono de uma máquina
81

ou estar em uma hierarquia organizacional mais


Página

elevada passaram a ser produtos mais tentadores do


que um pedaço de terra. E vocês continuaram
mudando, chegaram em uma era mais conectada e
informada. A internet, esta maravilha moderna, tem
ajudado muito. Permite o recebimento de informação
do mundo inteiro, quase no momento em que os fatos
ocorrem. A internet aprimorou a globalização.
Elevou-a a outro patamar. Hoje não há desculpas para
o desconhecimento. As informações estão lá, a um
clique de distância. O mundo – ilusoriamente –
passou a caber na palma de uma mão.
Vejo que as barganhas podem ser divididas
basicamente em dois tipos: pelo poder intangível e
pelo poder tangível. Vou explicar melhor. No
intangível temos os interesses humanos, algo
imaterial e de difícil mensuração. Dou como exemplo
ganhar o respeito dos outros, ser querido, ser amado,
ter pessoás que se submetem ás “suás vontádes” ou
até se tornar um líder de destaque. No lado tangível
temos as riquezas, algo material e de fácil
mensuração. É importante ressaltar que a riqueza é
mutável, assim como os valores e a história humana.
Houve um tempo em que possuir máquinas era
sinônimo de riqueza, e agora chegou o tempo que a
riqueza é medida por papel ou cartões de plástico que
“tudo” podem comprár. No mundo virtuál átuál, á
riqueza está mais associada ao intangível novamente,
82

ao sucesso e ao destaque social – mas ainda fácil de


Página
mensurar, através do poder de alcance, engajamento
ou número de seguidores.

Como não estou autorizado a falar do tempo


presente, vou voltar no tempo para falar de três
pessoas que se destácárám no quesito “bárgánhá”,
“poder” e “intángível”.
A primeira pessoa que faz jus à evidência é a
Imperatriz Wu. Poucos são os ocidentais que a
conhecem, mas ela foi a única imperatriz a ocupar o
trono imperial da China. Para chegar nesta posição,
teve que se tornar uma pessoa sádica, assassina e
sexualmente depravada. Ela barganhou o seu caráter
pelo poder.
Em um determinado momento da sua vida ela
se viu naquele ato de escolha – na analogia da
caricatura do desenho animado. A ela foram
mostrados dois caminhos norteadores: um deles
oferecendo poder, conquistas e diversos
subordinados prontos para lhe atender. O segundo
caminho oferecia a maternidade, uma família amada,
completa, próspera, com herdeiros lindos e que um
destes herdeiros chegaria no alto poder que ela
desejava. Wu seria a matriarca exemplo e prosperaria
nas atividades comerciais. Qual caminho ela
83

escolheu? Nem dúvida teve, para a imperatriz apenas


uma coisa a tentava: o seu poder.
Página
Ela entendeu que só chegaria ao poder caso se
tornasse uma pessoa cruel. Para vocês terem ideia,
ela matou sua própria filha recém-nascida. Neste ato,
juro que não tive participação, mas foi a forma dela de
demonstrar que o segundo caminho não existia. A
fronteira entre os caminhos já estava tão distante que
estas ações faziam parte da sua perversidade e da sua
diversão. Ná listá de seus “excêntricos” prázeres
estava a mutilação e o envenenamento. Esta senhora
era a verdadeira expressão da maldade
personificada. E vejam bem, para eu afirmar isso é
porque ela era mesmo. Más como muitás vezes “áqui
se fáz, áqui se págá”, áos oitentá ános foi obrigádá á
abdicar do trono, após um golpe de estado no qual
todos os seus amantes foram assassinados. Seu final
de vida foi bastante infeliz.
O segundo exemplo que lhes trago é referente
a Calígula, o terceiro imperador romano. Este já é
máis “populár” e támbém máis um selvágem dá listá.
A barganha com ele funcionou com uma dosagem
“over”. Ele ábdicou dá suá purezá pelo poder. Suá
diversão se baseava na dor alheia, incluindo os
assassinatos de humanos e animais. A tortura não
apenas foi aceita, como se tornou uma lei no seu
império. Mais um humano que se achava um divino,
que se achava um grande líder, mas nada mais era do
84

que um líder repleto de seguidores motivados pelo


Página

medo e não pela admiração. Está aí uma época bem


perturbadora. Bem, por fim, ele encontrou a lei do
retorno na ponta de trinta espadas Pretorianas.
Por último, para completar a trilogia, temos
Tomás de Torquemada, que em vida foi um famoso
inquisidor. Em nome do Todo Poderoso ele matava.
Matava judeus, muçulmanos ou qualquer um que não
seguisse a sua fé. Ele dizia ser um frade dominicano,
mas, na verdade, erá umá “fráude demonicano”,
desculpem o trocadilho. Este indivíduo teve como
produto de barganha o poder de impor medo. Um dos
seus maiores feitos foi a expulsão dos judeus da
Espanha. Utilizando tortura como método de
investigação, mandou milhares para a fogueira e
presenciou outros milhares sendo torturados.
Enquanto as atrocidades aconteciam, ele sussurrava
as suas preces. Dizem que ele morreu de causas
naturais, mas o que posso dizer é que até hoje a sua
alma vaga entre os mundos – em uma espécie de
limbo sofrível - por causa de suas ações.
Observem, três casos de barganha pelo poder.
Todos tiveram o poder de liderar, mas acabaram
causando medo, dor e sofrimento. Ficaram marcados
na história como pessoas perversas.
Os dois tipos de barganha (tangível e
intangível) se assemelham, pois podem corromper o
85

ser humano, com a única diferença de como se


Página

quantifica cada um dos dois. Vejam o caso de


Napoleão Bonaparte, por exemplo. No seu fim,
morreu preso na ilha de Santa Helena, envenenado,
com câncer no estômago e desgosto. Triste fim para
Napoleão. Mais uma vez as ações desencadearam o
cenário. Ele foi um general, que, na sua ganância, quis
conquistar a Europa. Em busca de glória e de terras,
não se contentou com o poder francês, local onde ele
era idolatrado como um verdadeiro orgulho nacional.
Isso não foi o suficiente, ele precisava de mais. No
desejo insaciável de glória, saiu em busca de
expansão territorial. Barganhou com a sua sorte e
terminou no seu triste fim.
Lembrei-me da sociedade Vril na qual um
grupo se utilizou da barganha coletiva em busca do
conhecimento dá supostá “máçã do Éden”, se é que
vocês me entendem. A sociedade Vril uniu os ideais
políticos e raciais dos iluminados da Bavária com
misticismos, com o foco no poder supremo Nazi. Esta
sociedade secreta apresentou noções utópicas,
utilizou a ligação entre o oriente e o ocultismo
ocidental, buscando uma forma superior de
transformação humana em divina.
Ao longo da história muitos dos ditadores
sanguinários entraram nesta barganha. Por incrível
que pareça ainda hoje alguns deles ainda são
idolatrados por pessoas que se cegaram diante do
86

ódio ou da ideologia. Pessoas estas que desconhecem


o mal que eles fizeram ou ainda fazem na
Página

humanidade. Entram nesta lista figuras como Stalin,


Hitler, Idi Amin Dada e o grupo de líderes do
movimento Khmer Vermelho. Apesar de alguns me
chamarem de anjo da morte, falo que estes – desta
lista – são os verdadeiros diabos da morte.
Eu fico me perguntando, chegará o dia em que
vocês finalmente compreenderão que não podem
tirar a vida de seus semelhantes por questões tão
banais como divergência de religião, cor ou crença?
Pobres humános, quándo entenderão que “um grámá
de exemplos vale mais do que uma tonelada de
conselhos” e que á vidá de vocês áqui ná Terra é
meramente passageira?
O fato é que em pouco tempo – mais
precisamente da Revolução Industrial até a
atualidade – o homem “evoluiu” bástánte, não ápenás
em conhecimento científico e domínio do mundo,
como em termos estruturais sociais. Exemplificando
– de uma forma geral – atualmente são mais
valorizadas questões conceituais do que territoriais.
Alguns tentaram ampliar esta época para uma época
espiritualizada e embasada em valores. Devo
confessar que isso, para mim, soou como uma piada.
Que moral era essa? Olhem ao redor de vocês, meus
caros, tentem mudar as lentes e observem quanta
coisa errada tem por aí.
87

Só sei que hoje essa falsa moralização é um


Página

bom aliado para o despertar do desejo egoísta de


vocês, basta uma boa explicação científica, com bases
em dados estatísticos – às vezes duvidosos, já que
ninguém checa mesmo — ou com apelos moralmente
e também socialmente aceitos que, como um passe de
mágica, tudo se justifica e o estrago está feito. Sabe o
que falta? Reflexão, o que equivale a questionamentos
constantes diante das próprias ações e valores. Vejo
uma preocupação maior na justificativa do que na
própria prevenção. Menos de setenta anos depois do
totalitarismo europeu é possível observar uma
tendência extremista crescente novamente.
Observem que além de não aprender com a história,
o ser humáno não obedece á um clássico ditádo: “Nem
oito, nem oitentá.”
Outro “produto” que pássou á ser á “bolá dá
vez” foi o consumo. Hoje é comum o julgámento pelo
que se tem. O que a pessoa é, suas qualidades, ou o
que faz de bom não importa mais. Se está fazendo
bem para o mundo ou a sociedade em que vocês estão
inseridos... nem passa pela mente. Ora, vocês com
esse consumismo desenfreado se esqueceram do
meio ambiente, da vida medíocre e precária que
muitos levam. É um povo estranho, onde o trabalho e
o dinheiro são mais importantes do que a própria
família. Na balança consumista, checa-se o preço, a
validade, os requisitos do produto, mas não se
consideram as condições de trabalho dos
88

funcionários, os males que podem causar à saúde do


Página

próprio usuário ou os riscos que causam à fauna e à


flora. A única preocupação está em alcançar os
desejos ou as metas pré-estabelecidas, não é mesmo?
Sejam elas pessoais, familiares ou profissionais.
Os governos, ao longo do tempo e ao redor do
mundo, não fogem à regra – pelo contrário,
enquadram-se na barganha coletiva. Para alcançarem
os seus objetivos podem, inclusive, ultrapassar
barreiras humanas, sanitárias e de segurança,
criando leis que regem o caos contemporâneo diante
da trivialidade atual.
Percebo que a sociedade atual muitas vezes
áceitá como “ídolos” pessoás com posturá e cáráter
duvidosos. Ao darem credibilidade a este tipo de
conduta, a inversão de valores não apenas é
credenciada como banalizada. Claro que não se pode
generalizar, mas observe alguns dos símbolos sociais
e reflita sobre como eles realmente contribuem com
a sociedade e quais são os seus reais exemplos.
Não precisá ir longe párá ver nás “fofocás” á
quantidade de traições, agressões, baixarias, falta de
respeito, superficialidades... são tantas coisas nesta
lista que a imoralidade me assusta. Só percebam
quem está afirmando isso...
O produto atual pode ser fama, poder,
“seguidores” ... isso às vezes vale mais do que a alma.
89

Quantas pessoas perdem o seu caminho por não


entenderem a magnitude de suas ações e dos seus
Página

exemplos pessoais. Estes acabam assumindo um


papel significativo social – ou por opção ou pelo acaso
– e nem sequer se questionam da influência ou
importância na vida de outros. Não pensam no
exemplo que deveriam ser, nem das consequências
do que fazem ou dizem.
Olhe que não me refiro apenas ao mundo
midiático. Os ídolos podem ser executivos, políticos,
influenciadores.... Moral da história, com tantos
direitos, os deveres forám párár “embáixo do tápete”.
A busca pela verdade não é mais a finalidade
para uma grande quantidade de pessoas. A mídia
tornou-se o meio para os desejos sórdidos. Passam
uma mensagem em larga escala, sem o
questionamento ou a análise dos impactos dessas
informações para a sociedade. Pode até ser que de
todo o conteúdo, nada se salve. E mais uma vez
esclareço que não tive muito mérito com isso, apenas
– e novamente - mostrei os caminhos. Apesar de já
conhecer a ganância humana, duvidei por diversos
momentos que “o áprendiz superáriá o mestre”. Não
sei se devo parabenizar, mas superaram...
Com a evolução de vocês eu também fui
aprendendo. Talvez, meu maior entendimento se
encontre não na pessoa em si, mas no seu poder de
influência. Afinal, influenciar um líder é a forma mais
90

fácil e efetiva de se conseguir que – em um simples


Página

dilema – muitos façam o mesmo. A admiração muitas


vezes cega, encanta, guia... As pessoas em evidência
que estão com valores mais fracos, caráter mais
duvidosos ou que estejam mais distantes da
verdadeira essência humana permitem em uma
maior proporção a banalização generalizada.
Entretanto, isso não exclui a responsabilidade de
qualquer um dos demais mortais terrestres.
Destaco ainda outro aspecto social-moderno:
o desejo de pertencimento a um grupo. O ser humano
é um ser social. Cada um de vocês, para se sentir
completo, precisa do sentimento de pertencimento.
Seja no núcleo familiar, no social, no profissional...
Fato é que cada grupo cria suas regras de
pertencimento, isso inclui valores, algumas vezes
comportamentos ou até vestimentas. Estas
características são compartilhadas pelos membros
que de fáto pertencem áo “clã” ou áos indivíduos que
aspiram – ou seja, têm o desejo de – pertencer. Caso
ás “regrás” não sejám seguidás, umá dás
consequências pode ser a exclusão dele deste grupo
ou – pior – o sofrimento através de piadas,
humilhações ou a falta do respeito.
Captaram qual é a barganha? Vou ajudar:
trocar valores pessoais diante dos valores grupais.
Muitas vezes esta troca é mais profunda do que
aparenta. Há muitas pessoas presas em
91

relacionamentos abusivos, presas em seus


desejos/objetivos pessoais ou cegas pelo seu ego. Os
Página

caminhos demonstrados não precisam ser baseados


apenas na fama ou no poder, pode ser baseado no
pertencimento. É fácil ver nos jovens, quanta
“besteirá” fázem párá pertencerem, áutoáfirmárem-
se e gánhárem o respeito dáqueles que julgám “mui
ámigos”.
Algo que não depende da idade é o quão
envolvida a pessoa está na causa do grupo, ou o quão
presa, ou ainda qual a proporção das suas
distorções/percepções pessoais. Em nome destes
grupos – ou pior – para estes grupos podem: mentir,
roubar, matar....
Obviamente que há grupos com regras muito
bonitas, empenhados em ajudar o próximo, o meio
ambiente, a saúde das pessoas... O problema não é o
pertencimento, muito menos seguir as regras do
grupo. O problema é o que se segue, o que se faz e
quais as consequências destas ações.
Está aí o motivo da relevância do líder. Ele – ou
ela – é quem mais tem força e algumas vezes quem
tem o poder para mudar essas regras. Para não
parecer um jogo de xadrez, o cotidiano faz com que
muitas das decisões sejam tomadas sem a cautela que
deveriam ter. Muitos líderes não têm “á noção” do
poder lhe atribuído. Muitos não têm a visão holística
das consequências de suas ações e opiniões. Agem na
92

inércia da vida. Mesmo assim, isso não tira ou diminui


Página

a sua responsabilidade, como também não tira nem


diminui a responsabilidade de quem seguiu seus
passos.
E o pior, muitos destes líderes terminam
sendo vistos como deuses. Um mundo amoral, onde o
que verdadeiramente importa é o ter e o pertencer:
ter dinheiro, ter fama, ter produtos, ter status, ter
poder de consumo e pertencer ao grupo desejado. O
que foi negociádo? A “álmá”? Os válores? Quántos
atos ilícitos ou moralmente questionáveis?
O sentimento que importa é o prazer
momentâneo, sem futuro ou pássádo. O “cárpe diem”.
Se forem necessários a humilhação, o sofrimento, a
dor... tudo bem também, afinal, os fins justificaram os
meios e possivelmente continuarão a justificar. E
assim ganha-se á máximá do “don’t worry, be happy”.
O que importa é você – leia você – ser feliz!
Desta forma, chegamos a um dos últimos
destaques da era atual, a momentaneidade. O
pensamento simplório e de curto prazo. A
vulgarização e a desvalorização da vida. Isto tudo está
no mesmo pacote. As coisas estão bem entrelaçadas.
Muitos dos filmes, das novelas, das manchetes
mostram a maldade como sendo algo normal e
aceitável. Uma parte significativa da população
comprou esta ideia. Como consequência, a velha
93

banalização. Banalizam os valores, mas banalizam a


Página

vida também. O que vocês têm de mais sagrado – a


vida – cada dia vale menos. Se está se questionando
sobre o que falei, vamos passar isso a limpo. Observe
o noticiário. As mortes, os assassinatos, a violência
são tratados como notícias normais. Tanto faz avisar
que houve uma queda na bolsa de valores, um
assassinato por um assalto ou um estupro de uma
criança. Esta violência e este sofrimento não apenas
foram normalizados como passaram a dar ibope.
Chega-se ao extremo (não em quantidade de pessoas,
mas no aspecto da desvalorização) de haver
telespectadores assistindo aos casos com
naturalidade, como se fosse apenas mais uma
fatalidade em meio a tantas outras. Se duvidar é o
prográmá que “máis combiná” com o álmoço.
Por fim, frases de efeito suplicam a tolerância
entre povos. Militâncias brigam em nome de causas.
Entretanto, o respeito e a tolerância são a paciência
de suportar com indulgência, que por si só é
contraditória à causa. O respeito foi trocado pela
divergência do outro ser diferente de você. A
diversidade passou a ser condenada e o igual
depreciado. Na sociedade dos bilhões, ser mais um é
triste, mas ser diferente é perigoso. Simplesmente
porque o respeito não faz mais parte da honra, das
regras, do que é valorizado.
A humanidade passou a agir como se não
94

existisse um código moral, código este que faz parte e


do universo. Dizem que quando a ignorância fala a
Página

inteligência não dá palpites, eu já digo que quando o


egoísmo fala, não há ninguém que precise dar
palpites. E me cabe apenas assistir. Assistir aos
limites sendo rompidos e ganhando novas
dimensões. Assistir ao somatório de tudo isso e um
pouco mais se tornar um pacto selado com o
pseudodiabo, ou seja, com o cálculo elaborado do
egoísmo. Aceitar o errado por comodidade é permitir
que a tendência para o mal seja cada vez mais comum,
mostrando para os mais fracos que não há o que se
pensar, apenas seguir e continuar. Aceitando para si
que a honra fere a estima e desmerece o ego.
E cá estou eu fugindo da premissa de não falar
da atualidade, minhas desculpas. Independente da
contextualização, é desta forma que os caminhos que
mostro ganham vantagens, com a permuta dos
prazeres mundanos pela essência da vida. Com a
promoção do desejo mais egoísta que cada um tende
á esconder dentro do seu “eu” sociál á ser seguido.
Com a banalização dessas justificativas se torna
legítimo que não apenas um erro justifique o outro,
mas que um erro permita e amenize o próximo. E
talvez, sem perceber, a sociedade vai aderindo a um
ciclo perigoso.
Está tudo na balança: as escolhas e as
permutas. Os acordos do passado, do presente e até
95

os que estão por vir fortalecerão para que lado aquela


balança penderá: para o bem ou para o mal.
Página
Isto também faz parte da criação da identidade
mundana de cada um. Presente também em muitos
conflitos entre a pretensão de reconhecimento social
versus o conforto da consciência íntima pessoal-
espiritual. Infelizmente para algumas pessoas isso
nem passa mais a ser uma confusão.
Um poder de barganha que é difícil sair sem
ter sequelas. Por vezes sequelas pautadas na
massagem do ego. Por outras vezes a sequela do
inferno da culpa ou do juiz da desculpa.

As escolhas da vida
Colocar a culpa nas circunstâncias ou
responsabilizar outras pessoas por ações realizadas a
partir de escolhas pessoais – o que “virá e mexe”
denomino de terceirização da culpa – está se
tornando uma mania nestes tempos.
O contexto pode influenciar, mas a decisão, no
final, será sua – e apenas sua – bem como o ônus ou o
bônus destas decisões. Lembro-me do caso de
Tutmés II, o Faraó da época do Êxodo dos hebreus do
Egito, o faraó da época de Moisés. Amedrontado por
uma suposta profecia, mandou matar todos os
primogênitos dos descendentes de Abraão, para que
96

nenhum deles pudesse usurpar o seu trono. Saliento


para a quantidade de mortes que ele causou... eram
Página

todas crianças inocentes que nada mais tinham do


que uma remota possibilidade de tirar o seu trono. O
contexto era esse, mas a opção foi de Tutmés,
independente dos conselheiros que ele consultou ou
dos seus motivos pessoais, ele foi o único responsável
por esse decreto.
Faço uma observação nesta história. Muitos
acreditam que o Faraó desta época era Ramsés II, mas
isso foi mais uma alteração histórica por parte de
vocês. Rá, como costumávamos chamá-lo, viveu
quase um século antes de Moisés.
Ainda sobre esse acontecimento, saliento que
tão culpado como quem ocupa esse poder foi quem
permitiu que isso acontecesse e pior, tomou como
ação executando-a. No caso dos recém-nascidos do
Egito, os soldados que executaram o decreto do Faraó
foram tão ou mais culpados do que o próprio Faraó. A
opção de executar foi deles, quem saiu do caminho
foram eles. Eles tinham a opção de se rebelar, de não
cumprir a matança... A questão é quem seria a
primeira pessoa que poderia impedi-los a não ser eles
mesmos? Nunca esqueça que o certo é o certo, mesmo
quando ninguém o faz.
Diante das ambiguidades da vida, de suas
contextualizações e percepções tão divergentes
existentes – o conceito do bem e do mal se tornou
97

relativo, intrinsecamente ligado ao ser humano e as


Página

suas interpretações.
Se a pessoa optou permitir um ambiente
imoral, optou por seguir o caminho da escuridão.
Teve o coração frágil, sem controle das emoções e dos
desejos. Foram pessoas fracas para tomarem essas
decisões e fortes para camuflarem essa realidade.
Seja através de mentiras ou meias verdades. Seja
através da terceirização ou da omissão da culpa.
Independente de qual seja o motivo, o sujeito de
optou é o “eu” – no caso no sentido gramatical
mesmo, não no autor do relato.

A tentação existe dentro de cada um, na sua


dualidade. Da mesma forma que o ser humano é um
ser social ele também é um ser dual – e assim
voltamos à premissa do livre-arbítrio. A tentação
sempre estará por ali, rondando os pensamentos e as
oportunidades. Contudo, a plenitude também estará.
Só esteja ciente que às vezes uma pequena escolha
interfere em toda uma vida. Assim como não escolher
também interfere. Cada um tem a liberdade de fazer
o bem, como tem a liberdade de fazer o mal ou de não
fazer nada. Esta decisão pode depender do quanto a
pessoa está disposta a prezar pela sua integridade e
quais riscos deseja assumir. Só reflita o quanto vale a
sua integridade.
98

Eu posso ser percebido pelo desejo impróprio


Página

que lhe assedia, mas a opção de se entregar já


sabemos de quem é. Cabe a você vencer sua má
inclinação. E eu? Sou, apenas, o desafio.

Esta é a beleza que existe no livre arbítrio,


você é livre. Livre para escolher. Livre para praticar
as ações. Livre para lutar contra os instintos. Livre
para lutar contra as tentações. Basta saber o quão
forte você é ou o quão forte você está disposto a ser.

99
Página
O comportamento humano

Cada vez mais pessoas escolhem e procuram o


caminho que eu demonstro para justificar suas
motivações. Como estava falando, se você se depara
com alguém que lhe indica um mau caminho, saiba
que ela não está falando por mim. É uma pessoa que,
simplesmente, foi fraca. Não resistiu a sua má
inclinação e sua forma equivocada de enxergar o
mundo. Ela está tão deturpada que não apenas faz,
como divulga.
O livre arbítrio é a capacidade de escolher
entre diferentes cursos de ações, palavras ou
pensamentos, não devido a alguma influência
externa, apenas uma escolha equilibrada entre o
certo e o errado. Ele deixou clara essa noção de que
os seres humanos podiam exercer seu livre arbítrio
ao tomar decisões morais. E o conflito entre escolher
fazer uma coisa ou outra está claramente em suas
mãos.
O livre-arbítrio é a escolha, mas as emoções, as
motivações e os impulsos são as roupagens que a
definem. Às vezes uma boa ação recheada de más
intenções se torna uma má ação.
100

Vejamos como exemplo a fuga da família


Página

portuguesa para o Brasil, no século XIX. Perante uma


corte corrupta e covarde, diante de uma iminente
morte, os membros reais, ao invés de decidirem
pensando no seu povo, fugiram pelos seus egos, pela
existência/sobrevivência. Com medo de Napoleão,
firmaram um acordo com os ingleses e fugiram. Esta
decisão gerou uma dívida moral com os britânicos
que custou às nações portuguesa e brasileira muito
mais do que a fuga.
Vocês agem por forças estranhas, alguns
cálculos que friamente deveriam ser negados, mas no
desespero são impensáveis e aparentemente a
solução mais racional. Justificam o errado e ficam
presos e embasados na subtração do cálculo do
egoísmo.
Há pessoas que tentam racionalizar suas
ações, mas esta equação fica mal formulada diante da
presença de um equívoco trivial: o elemento egoísmo.
Nos seus desejos mais profundos e profanos. Trocam
tudo pelo desejo interesseiro e ganancioso. Em suma,
vocês agem diante do temor. Este temor pode variar
de pessoa para pessoa e de espiritualidade para
espiritualidade.
Basicamente há três tipos de podas humanas
para as escolhas, para os pensamentos e para as
ações:
101

• Há pessoas que são movidas pelo que outros


pensariam a seu respeito. Chegam a agir de
Página

encontro aos seus princípios para evitar o


sentimento de vergonha ou até mesmo por
aprovação social. Ora, veja o absurdo: a
vergonha não é pelo o que ele está fazendo, é
pelo que o outro achará diante do que ele está
fazendo. Isto implica que, por exemplo, se
socialmente é construído que o errado é ser
honesto… não preciso continuár o resto do
raciocínio, não é? Na prática são aquelas
pessoas que deixam de pegar um bombom na
loja de conveniência se o atendente estiver
olhando, mas se não estiver, vão lá e pegam.
O interessante é que algumas vezes estas
condenações são embasadas na insistência de
pertencimento áos “bons costumes”, às
tradições ou ao dito normal pela sociedade.
Esse para mim é o mais perigoso dos temores,
pois quando a pessoa encontrar respaldo
social (ou ambiental) aplicará suas ações, sem
o menor discernimento;
• Há ainda os seres que funcionam pela
perspectiva divina, aqueles que temem ao
Todo Poderoso. Seus pensamentos são
baseados no julgamento vindouro, na fé. Não
se regem pelas leis dos homens. O problema é
que, como já destaquei, vocês reconfiguram a
102

história. Muito do passado é reconstruído para


a adaptação seletiva dos interesses morais da
sociedade vigente. Terminam criando desejos
Página

divinos em nome de um egoísmo maior. Posso


exemplificar novamente na loja de
conveniência. Esta pessoa, independente do
funcionário estar ali olhando, não pegará o
bombom, pelo simples fato de ser um pecado,
pelo medo dos castigos ou por Ele estar vendo.
O medo, na perspectiva religiosa, também é
perigoso, já que as pessoas podem ser
facilmente manipuladas. A fé tem um poder
incrível, mas pode minimizar a reflexão. Posso
exemplificar com a época medieval, inclusive,
uma época na qual o conhecimento foi
repreendido pelo fanatismo e pelo poder
religioso. Outro exemplo está no extremismo
religioso moderno, que não apenas condena os
ditos infiéis – aqueles que não seguem seus
preceitos – como sugestiona a intolerância,
com promessas de glória e vantagens
espirituais e financeiras. Onde já se viu uma
Iluminação optar pela morte? Ou justificar a
morte pela morte?
• Por fim, há o respeito diánte do seu “eu”
interior. Este sim é o mais louvável. Essas
pessoas são as que sabem escutar a sua
essência, a essência da natureza. Podem ser
tentadas, mas abrirão mão do prazer ou do
103

egoísmo pelo que é certo. Voltando para o


exemplo da loja de conveniência, essa pessoa
não pegará o bombom porque sabe que é
Página

errado. Não por um mandamento divino, não


por ter alguém olhando, não pelo medo de ser
julgada ou condenada. Ela não o faz pelo
simples fato de saber que não é certo. Estes
são os verdadeiros seres livres. São felizes
pelo que fazem, por saberem que assim é e
assim deve ser. Não pense que eles não são
tentados, pois como todos os seres humanos
as tentações estão presentes em suas vidas,
camufladas e belas. Todavia, seus
pensamentos vagam entre os lados, algumas
vezes de uma forma tão forte que a decisão se
torna difícil. Mas é um difícil temporário, pois,
em uma análise mais cautelosa, a atração se
dissipa. Pessoas que temem o seu “eu” podem
perder um milhão de reais, mas ganham na
paz interior. Ganham por saberem que fizeram
o certo. Ganham por respeitarem e honrarem
o que elas têm de mais valioso: a integridade.
Essas sim merecem o nosso respeito.
Percebam que oscilo entre o temor, o medo e
o respeito. Estes três termos são os reguladores que
oscilam de acordo com a maturidade intelectual. E
lembrem-se de que nenhum extremo é bom. Nem na
ciência, nem na religião, nem em nenhum outro
aspecto.
104

Até então fálei dás “podás” individuáis. Más há


ainda o nível coletivo, que são as leis que regem cada
Página

grupo. A preservação humana foi arquitetada diante


dos clãs. Há o coletivo menor, como as famílias, onde
— em tese — os valores já são ensinados e
repassados de forma tradicional, de pai para filho. E
há o coletivo maior, a comunidade ou sociedade que
este clã está inserido. Mas isso foge do nosso escopo.
Vocês, como sociedade, só conseguirão atingir
a linha de chegada, aquela paz tão procurada, quando
souberem escutar esta voz interior. Quando tiverem
a consciência do que é certo e do que é errado.
Quando tiverem a liberdade de escolher o justo, por
mais prejudicial que seja na sua esfera particular.
Este é o estágio que deveria ser almejado, ou seja, que
a voz interior fosse tão forte quanto a voz de um GPS
que guia um condutor em um território estranho.
Esta voz permitirá um nível de conscientização e
ampliará a liberdade na esfera mais visceral possível:
a liberdade dos desejos mais profanos. Assim, vocês
se sentirão livres para escolher, livres para agir.
O problema é que não é fácil escutar essa voz
interior. O ser humano tem uma atração forte pelo
mistério, pelo bizarro, pelo estranho. Vejamos, o que
daria mais ibope: um programa de boas ações ou um
programa de mortes? É uma fascinação histórica e
bárbara presente ainda na era do conhecimento. Mais
105

uma vez, a banalização do mal. Permitindo, assim, a


imprecisão do âmago. Permitindo a convergência da
pureza da inocência com a pureza da maldade.
Página
Quando a sociedade parar de se preocupar
com as particularidades banais de cada um e se
preocupar com o coletivo, com a ajuda de todos a
chegarem nessa esfera espiritual, talvez neste dia a
imprecisão volte a ser precisa. Sei que meu trabalho
será desafiador, mas prefiro este desafio a me tornar
inútil pelas malícias de vocês. Simples assim. Meu
cálculo não se baseia no egoísmo da minha função,
mas no objetivo coletivo.
O homem atual se diz tão moderno e superior
ao seu antepassado que me espanta – não vou entrar
no mérito acadêmico se a época é da modernidade ou
da pós-modernidade. Entretanto, o que me espanta é
a (auto)denominação (auto)determinada por vocês,
que se julgam: uma evolução histórica do passado; o
destaque entre os animais terrestres; o centro do
universo. Não fazerem jus a estes conceitos.
É verdade que vocês já avançaram com a
ciência, com as leis, com a composição social e com o
conhecimento tecnológico, mas quando usam destas
ferrámentás párá “controlár” o coletivo não podem
chámár isso de “evolução”. Concordo que
historicamente — e percentualmente — já houve
mais maldade, mas o fato é que para a consciência
106

coletiva que vocês têm não deveriam estar onde


estão.
Página

Cada época deve ser analisada de acordo com


a sua maturidade. Não se deve comparar contextos
diferentes e achar que são normais, melhores ou
piores. Todavia, mesmo assim, vocês continuam sem
aprender com o passado. Maldita tendência humana.
O pior é que quanto mais a ciência avança, menos
vocês procuram as respostas dentro de vocês. O ser
humano desaprendeu a escutar a sua voz interior. O
ser humano desaprendeu o altruísmo. Desaprendeu a
compaixão. Empatia, então? Nem se fala. Acha que
ajudar o próximo é expor suás “boás áções”, é utilizár
um ato para autopromoção, nem que essa
autopromoção seja uma promoção do prazer.
Acostumar-se com o lado perverso
desvaloriza a vida. A maldade já está virando normal.
Uma vida não vale mais do que uma nota capital.
A inversão de valores está rapidamente sendo
repassada entre gerações e entre comunidades. As
telas digitais criaram ídolos – algumas vezes
despreparados – de um lado e esponjas sem filtro
(#semfiltro) do outro. Sob a ótica invertida, destroem
rapidamente o que tradições centenárias tentaram
evitar. Pela rebeldia adotam essas condutas e
descartam o passado.
A inversão permite se acostumar com as
mentiras e se chocar com a dignidade. É neste
107

contexto que a maré corre para a arca de Noé.


Permitam-me aproveitar para falar mais um
Página

aspecto: o dinheiro, meu caro, não o torna melhor ou


pior do que ninguém. O dinheiro só lhe dá a
possibilidade de ajudar o próximo e, de preferência,
da forma mais discreta possível. O que lhe torna pior,
ou melhor do que alguém, são as suas escolhas, as
suas intenções e as suas ações – englobando suas
emoções. Ajudar o próximo faz parte do pacto da vida.
Para vocês encontrarem a linha de chegada, todos
precisam estar juntos, assim como todos saíram
juntos do Jardim do Éden.
Querem nos deixar muito preocupados, façam
o que estão fazendo. Aceitem esta realidade. Aceitem
a corrupção nos mais singelos atos, a sexualidade nas
propagandas mais banais, a venda das suas vidas, por
um consumo em troca. Exponham-se, percam a
identidade, percam a vergonha. Desconectem-se do
que acontece no outro lado do mundo. Basta viver de
forma alienada, que a culpa também será sua. Não me
recordo de um único episódio que a alienação em
ação resultou em algo positivo. Como disse, a voz do
povo é bem perigosa, pois se não tiver um líder
consciente, o desastre estará lançado.
Aqui, costumamos dizer que Deus é supérfluo para
quem acha que se encontrou. Quem pensa assim não
faz ideia do quanto está distante de poder fazer parte
108

de uma sociedade, porque é a consciência coletiva


quem orienta o senso de pertencimento, a identidade
e o comportamento.
Página
O inferno e os seus demônios
Será que vocês estão optando pelo caminho
das trevas, meus caros? Se a resposta for afirmativa,
permita-me explicar como funciona o inferno. O
pecado tem como recompensa o próprio pecado. Isso
termina virando um círculo vicioso, “umá bolá de
neve”. O pecádor tentá justificár suás tránsgressões
pecando novamente. Assim, banaliza o sistema. Na
tentativa de minimizar o pecado – ou o erro – quem
sabe corrigi-lo, ou torná-lo algo natural. O resultado é
que nessas tentativas se aceita o inaceitável,
normalizando o pecado diante de uma finalidade
superegoísta: aliviar a sua consciência.

Já falamos muito sobre o meu papel, mas não é


demais lembrar que a punição não vai vir de mim. O
mal é causado exclusivamente por vocês e deixado
para vocês. Ironicamente, às vezes, penso que vocês
são um pouco masoquistas.

Este processo é linear: Ele criou os obstáculos,


eu os mostro e vocês os decidem. Eu dificulto, vocês
são rotineiramente testados, podendo se aprimorar
ou não. Novamente na beleza do livre arbítrio, as
109

ações vão sendo contabilizadas, muitas vezes junto de


suas consequências. Mas quando chega a morte,
chega também a hora da verdadeira prestação desta
Página

“contá”.
Saliento que a beleza do livre arbítrio é o
aperfeiçoamento. Errar é inerente do processo.
Aprender com o erro, infelizmente, nem sempre o é.
Todos os dias é dada uma nova oportunidade de se
aperfeiçoar. Não nas habilidades técnicas, mas nas
habilidades essenciais humanas: no caráter, na
essência, na conduta, na expressão literal de ser –
humano. A conta não é uma subtração das boas ações
diante das más ações. A conta é o quanto você evoluiu
e o que no final – de verdade – contribuiu com a
melhoria do mundo e com as pessoas com quem
viveu e com quem conviveu.

A questão é que se o balanço final for mais


negativo do que o inicial resultará em uma alma
perdida. Um espírito que vagará pelo mundo,
buscando uma resposta. Para estes o errado é o certo,
e o certo é errado. Sem rumo, no escuro, ficam
perdidos. Este é o pior dos infernos. A vida refém da
ilusão. Nem na morte encontram a vergonha e o
arrependimento. Passam tempo, às vezes a
eternidade, na insanidade de suas mentes e na
vaidade de seus egos.
110

Eu pensei muito em como poderia explicar o


que acontece a partir do momento em que vocês não
fazem mais parte do mundo material. Sei que cada um
Página

tem diferentes versões sobre a vida após a morte –


isso é bem influenciado pela fé e pela religião – então,
o que vou falar você não precisa levar como verdade
absoluta, apenas refletir sobre isso.

No planeta Terra, tudo e todos se submetem às


leis da física, da química e da biologia. Vocês têm um
sistema nervoso que protege, tem a capacidade de
esquecer e de se adaptar. De significar e de se
ressignificar. Para conseguirem sobreviver aos
milhões de estímulos que são submetidos
diariamente, também desenvolveram a habilidade de
selecionar – seja ela de forma consciente ou
inconsciente.

Enfim, como uma forma de proteção, o sistema


humano esquece, minimizam ações danosas e até
prejuízos que atrapalhariam o desenvolvimento. Há
pessoas que esquecem um período da vida, outras
que esquecem partes, há quem minimize os efeitos
dos seus atos ou dos atos alheios. Todavia, quase
todos esquecem com o passar do tempo. O sistema
humano silencia a maior parte de suas lembranças,
como uma válvula redutora de sobrevivência e
conveniência. Um outro exemplo são pensamentos
111

que aparecem em suas mentes, de algo que realmente


você se envergonha, mas, de alguma forma, este
pensamento foge – às vezes tão rápido como chegou.
Página

Tudo o que não interessa lembrar pode ser eliminado.


Há algumas pessoas, de forma rara, que
náscem com “defeito” nestá válvulá. Por um ládo,
lembram de tudo o que vivenciaram, com detalhes e
precisão. Por outro lado, suas emoções vivem de
forma intensa ao período vivido. Isto quer dizer que
se a pessoa sofreu bullying, depressão, vergonha, ao
lembrar sentirá as mesmas dores na mesma
intensidade. Isso causa confusão, aumenta os
distúrbios emocionais e pode dar um desajuste no
desenvolvimento.

Na morte esta válvula é rompida e a mente fica


aberta e transparente. Então imaginem a atividade
mental de uma alma desencarnada, nua diante de sua
consciência. Os pensamentos fluem de uma maneira
que é impossível refreá-los. É neste é o momento em
que vocês, pela primeira vez, não poderão mais se
esconder nem disfarçar quem realmente são. É
quando vocês se despem de todos os seus disfarces, e
ficam nus diante de sua consciência. Essas sensações
podem ser agradáveis ou dolorosas.

Pessoas que na vida vivem e na morte


sobrevivem. Não se desconectam do supérfluo e
112

optam por apagar o que cada alma tem de mais


preciosa: a sua luz.
Página
Estas almas – perdidas – vagam sem luz, sem
esperança, sem liberdade. Como zumbis, vagam nas
más lembranças que restaram. Nos desejos obscuros.
Na sombria ilusão.

Esta é uma experiência que pode vir a ser


assustadora. A sua intensidade é tão forte que ao
final, se o balanço for negativo e nem a revisão de sua
história naquela vida o fez entender o que é certo e o
que é errado – pode acreditar, a sua alma, certamente
se sentirá perdida, em um estado de grande confusão
e desorientação. Este espírito irá vagar pelo mundo,
em busca de respostas e, por um bom tempo, sentir-
se-á sem rumo na escuridão. Este, posso lhes dizer, é
o pior dos infernos. Seus pensamentos continuam
reféns da ilusão. A vaidade que domina esse ego não
permite que ele se desconecte do que é mundano,
supérfluo e, consequentemente, a alma afasta-se do
que tem de mais precioso: luz.

Ao longo da vida a vaidade e o egoísmo –


muitas vezes encontrados no orgulho, na ganância, no
destrato – camuflam os testes, deturpam as visões, e
afastam. Afastam de pessoas e de vocês mesmos.
113

Dependendo da intensidade das emoções e das


intenções, isto pode continuar perdurar.
Página
Sem luz a alma vaga, como um zumbi, sem
esperança, prisioneira de suas lembranças e dos seus
desejos obscuros. Muitos acreditam que essas almas
são demônios. Pensem comigo: os piores demônios
são aqueles que convivem na sua mente e guiam suas
emoções, suas ações, suas intenções e seus medos.
Eles lhe tornam um prisioneiro, algumas vezes, um
escravo. Assim, os piores demônios nada mais são do
que seus temores mais íntimos.

Eles são do tamanho de seus pecados, com o


peso de um fardo que desgasta e perturba. Estes
demônios paralisam, deturpam a visão humana,
travam a evolução espiritual. Leva um tempo até que
essa alma se reconecte com a sua própria luz. Para
aqueles que em vida eram obcecados pelo mundo
material, certamente será mais difícil, porque da
forma como era perdido na Terra, estará perdido em
espírito também.

Enfim, cada um tem o(s) seu(s) demônio(s) perante o


seu aspecto de mundo. Este é um ponto comum de
conexão entre os dois mundos: dos perdidos na terra
e dos perdidos no espírito. E este ponto permeia o
114

pior dos infernos, construído, lapidado e alicerçado


unicamente por você.
Página
A liberdade e a justiça
O livre arbítrio também tem o seu lado
positivo, você é livre para optar e escolher pelo bem.
Você é livre para aprender com os erros. Você está
aqui para progredir. Eu sou a chance de você vencer,
o propósito para você se superar.
É importante lembrar que o erro faz parte da
imperfeição humana e que o seu conserto está na
plenitude do arrependimento e na não repetição
daquelas ações. A liberdade é assim, vocês são livres
para escolherem e estão vulneráveis ao erro. O
arrependimento é o crescimento, o desenvolvimento,
a evolução. E da mesma forma que se pode errar,
pode-se afastar deste erro e mudar o futuro.
É um trabalho constante entre o mundo
interior e exterior, entre o velho e o novo, entre o
certo e o errado. Olha aí, a nossa dualidade
novamente, eu mostro uma parcela dos possíveis
caminhos, mas você tem a liberdade e o poder de
optar por algum deles, de adaptá-los ou até de
escolher á opção “nenhum deles”. Está liberdáde e
115

este poder não são negociáveis, pertencem a cada


“homo sapiens”. E dentre estás escolhás, vocês
Página

sempre podem optar pelo caminho da iluminação.


Querem algo mais belo do que isso? Vocês
estão aqui para se aperfeiçoarem. Para melhorarem.
Não é possível atingir a espiritualidade sem a
liberdade. Sem o erro e sem o acerto. Qual seria a
graça do bem se não existisse o mal? Onde estaria o
seu mérito quando não se tem a opção de escolher?
Particularmente não invejo os humanos, mas
se tem uma coisa que aprecio é a liberdade que vocês
possuem. Nós, colaboradores divinos, sabemos o que
irá acontecer – sabemos o script com spoilers. Somos
detentores das informações. Vocês não têm como me
boicotarem. Afinal, minha missão está atrelada à vida,
mas é destruída com a morte. Ela – minha missão –
termina quando a sua vida para. Vivemos em uma
simbiose, minha existência é dependente de vossa
existência. Em uma interação íntima, dependente e
constánte, “áté que á morte nos sepáre”. Por isso,
também sou conhecido como o anjo da morte.
Talvez este tenha sido um dos pontos mais
importantes que tive que tratar nas minhas sessões
de autoanálise 2 . Parece fácil expondo desta forma,
116
mas por todo este tempo o que mais busquei
compreender foi, de fato, quem era responsabilizado
pelas escolhas humanas. Terminei descobrindo que
Página

sequer posso ser responsabilizado pelas minhas – já

2
Obviamente que a ideia da terapia é uma metáfora. Uma
analogia entre o mundo atual de vocês e da imersão que precisei
fazer no meu interior.
que elas fazem parte da minha função natural, da
nossa simbiose.
Na época dos babilônios era aceitável a
dominação, a exterminação ou a escravização de um
povo. Mas os babilônios optaram por outro caminho,
o caminho da assimilação. As guerras faziam parte da
maturidade humana da época, e por isso não
devemos condená-los. Todavia, conseguir enxergar
que a assimilação dos povos conquistados seria
melhor do que o seu extermínio foi uma vitória para
o nosso plano de livre arbítrio. Confesso que foi a
primeira vez que pensei que a sociedade humana
estava em ascensão espiritual.
Mas a tecnologia e a criatividade ainda
estavam para me surpreender. Os pogroms na Rússia,
a guerra entre os coreanos, japoneses e chineses com
o “coroádo” mássácre de Nánquim, ás invásões
turcas, a não tão famosa guerra do Paraguai, que
ceifou 20% da população paraguaia de forma tão
brutál… á Inquisição, o genocídio cámbojáno, o
genocídio armênio, o próprio Holocausto da Segunda
Guerra Mundial, as bombas atômicas... Foram tantos
casos que só demonstram como a maldade já fazia —
e faz — parte da realidade humana.
117

Por mais que soubéssemos o quão fracos eram


os corações humanos, ainda assim acreditamos na
Página

consciência dessa raça. Para mim não era opção não


mostrar estes caminhos sombrios, mas para vocês era
uma opção não os escolher. Na verdade, a escolhe é
uma oportunidade de fazer justiça, de lutar pelo que
é certo , de lutar pela moralização das pessoas, de
serem mais éticos, de propagar o amor. Enfim, de
convergirem suas ações para o verdadeiro propósito
das vossas existências.

No período da Grande Depressão, percebemos


a grande carga negativa que estava rondando, depois
da primeira Grande Guerra Mundial, o mundo
criando outros formatos, em uma nova expansão. Os
seres humanos estavam fracos espiritualmente,
estavam sentindo o momento econômico ruim e já
sabíamos que algo pior estava para acontecer (a
Segunda Guerra Mundial). Vimos que não havia algo
que pudesse inspirar e motivar, então, os anjinhos
tiveram uma boa sacada e sugeriram a criação dos
super-heróis. Foi um apelo. Uma tentativa de atrair a
bondade. Quem sabe, assim, vocês poderiam se sentir
mais atraídos para fazer e promover o bem. Em uma
época de depressão chegou a inspiração para elevar a
moral, para honrar a honra e para proteger os
indefesos. Algo tão longe da realidade que um homem
118

normal não poderia fazer. Precisava ser um Super-


Homem. Quando vi este caminho sendo apresentado
Página

pensei: “Sério mesmo? Eles precisám de super-


heróis?”. Foi então que percebi que o conceito de
vocês com os anjos também estava bem abalado.

O super-homem fez com que vocês se


lembrassem de uma palavra esquecida e muitas vezes
distorcida – esquecimento este que inclui os tempos
atuais da modernidade contemporânea: a Justiça!
Claro que a justiça tem vários níveis, mas falo
da mais pura das justiças. Àquela que ninguém é
exposto e que o certo prevalece. A verdadeira justiça
seria uma das formas de chegada ao bem maior. A
justiça que proclama, que inspira e que algumas vezes
parece tão distante. O mundo precisa de mais super-
heróis de verdade. De pessoas que lutem pelo que
ninguém mais tem coragem de lutar. Por mais justiça
social, pelo conserto do mundo em que vivem. Quem
sabe, só um talvez, essa inspiração poderia resultar
na renovação dos justiceiros. Deixo claro que não falo
de pessoás que vão fázer á “pseudo-justiçá” com
violênciá, ou no “olho por olho, dente por dente”. Fálo
de pessoas que constroem, que inspiram, que mudam
e melhoram o ambiente em que estão.
Este modo de proceder não deveria ser um
universo da ficção infantil da Marvel ou de quaisquer
outros quadrinhos. Isso deveria ser inerente ao ser
119

humano. Defender os mais fracos, sem expor suas


fraquezas. Ajudar os que precisam de ajuda, sem
Página

endividamentos de favores, cobranças ou exibições.


Dar quando ou compartilhar quando se pode, sem
difamar quem está na escassez (precisando). E veja
que muito do que falo não necessariamente se baseia
apenas em bens materiais.
Nada mais do que a justiça social. Fazer o bem
pelo bem. Simplesmente porque faz bem.
É neste contexto que destaco a empatia social.
Uma sensibilidade que transcende o eu e passa a
entender o outro sob a perspectiva dele: emoções,
sentimentos, intenções... Quem tem empatia desperta
admiração, simplesmente pelo fato de se importar, de
escutar, de entender a outra pessoa melhor.
Paradoxalmente, a empatia começa em si, com o
autoconhecimento. Conhecendo a si, é possível
conhecer os seus limites, permite abrir espaço
interno para o outro sem haver confusões. Esta é uma
capacidade – terrestre – exclusiva dos humanos. E é
nela que reside a virtude da justiça social: de fazer
boas ações. Saliento, ainda, que fazer bondade fala
muito mais de quem o faz, do que de quem o recebe.
É difícil apontar na história quem foram os maiores
justiceiros, vocês sabem a razão? Porque quem
pratica a verdadeira justiça o faz em segredo. Os que
pertencem a esta lista pertencem ao lado mais belo da
120

humanidade. Eu mesmo não sei quem eles são,


apenas suspeito daqueles que conseguem, diante de
Página

uma força muito grande, anular-me das suas


escolhas. Isto ocorre pelo simples fato de não levarem
em consideração nenhum dos caminhos que eu
demonstro. Essas pessoas têm a lucidez de fazer e de
optar pelo certo, mesmo que ninguém entenda que
aquele é o certo. São super-heróis sem capa, sem
poderes fictícios, que não buscam o reconhecimento
nem a glória. Estes são os super-heróis reais.

A iluminação
Diante de tudo o que foi exposto, eis que vem
a iluminação. O caminho contrário ao das Trevas. É o
caminho que vem com aqueles movidos pela razão,
de quem consegue enxergar sem o envoltório dos
seus medos, com a visão obstruída pelos temores.
Unicamente, a questão agora é sobre a vida.
Assim como o “ládo obscuro”, o “ládo
iluminádo” não tem umá receitá. Não tem como se
ensinar a viver. Eu posso, apenas, dar – mais – um
conselho: refletir e buscar a voz, muitas vezes oculta,
da razão. É muito difícil uma pessoa realmente
conhecer todas as suas motivações e intenções –
ainda mais quando se acrescenta a dimensão tempo.
Então, a autodescoberta faz parte. Refletir sobre o
passado, refletir sobre quem você gostaria de ser no
futuro – não falo profissionalmente, mas do exemplo
121

pessoal que você gostaria que seus familiares,


amigos, filhos e netos se orgulhassem quando
Página

pensassem em você. Refletir sobre as possíveis


consequências das suas escolhas, sobre como você
pode mudar e contribuir com a sua vida, com a vida
do próximo, com a sociedade e com ambiente –
mundo – em que vive.
Se vocês não entendem o real propósito da
vida, fica mais difícil de entender o que estou falando.
A base está na dualidade vital. A briga
constante entre o bem e o mal. O certo e o errado. O
moral e o imoral. Porém, nestá “nová formátáção” do
mundo – na era do consumo, na era digital, na era das
curtidas – o ter também vem com a sua contraposição
significativa. Refiro-me à substituição dá letrá “T”, do
ter, pelá letrá “S” – do ser. A vidá “moderná” está
impondo uma reconfiguração. Ela permite a
construção de realidades, e consequentemente que a
identidade ou os valores pessoais e sociais sejam
moldados, configurados, reconfigurados,
substituídos, descartados e, às vezes, até se tornem
desconectados do Criador, consentindo que o
material seja mais importante e relevante do que o
“conteúdo” dá essênciá humáná.
O que posso afirmar é que muitos já se
esquecerám dessá essênciá. Em buscá dos “likes” –
leia aqui de uma utópica aprovação e exposição social
– perdem a vergonha, expõem-se, perdem o poder de
122

refletir e perdem a capacidade de ter suas próprias


opiniões. As pessoas que ainda preservam uma
Página

essência mais forte podem terminar sendo vistas


como “inátingíveis”, álgumás vezes motivo de piada
ou distanciamento, pelo simples fato de não
pertencerem ou compartilharem tais valores. Vou
tentar exemplificar o que falo: se todos colam na
prová dá escolá menos um, ele será o “certinho”, o que
não faz parte do grupo e o que deve ser excluído.
Algumas vezes o alvo das piadas, apenas por não
compartilhar com a conduta inadequada dos demais.
Essas pessoas cujo comportamento não é mais
espelho se tornam alvos de julgamentos, em uma
tentativa externa – dos outros – para que estes
“desçám” áo seu nível. É mais fácil condenar outro do
que se consertár. O “certinho” áo invés de ser o álvo
deveria estar sendo o exemplo a ser seguido. Esta,
nada mais é, do que a tentativa de suprimir a
aparência em busca de acobertar o desvio.
No final das contas tudo o que o ser humano
busca ao longo da vida é o amor e o reconhecimento
de quem amam – isso inclui o próprio amor e
reconhecimento. Contudo, as formas de tangibilizar
esta busca são variáveis e nem sempre convergentes.
Vocês crescem pensando em formar uma
família, encontrar um amor verdadeiro. Se bem que
na atualidade há muitos que crescem pensando no
sucesso profissional. Fato é que quando chegam no
123

objetivo, o que fazem? Independente das premissas


iniciais, vocês mergulham ainda mais no trabalho. A
Página

lógica humana é: trabalhar para proporcionar


satisfações humanas – tangíveis, como os bens de
consumo, e intangíveis, como as realizações
profissionais. E, assim, quase esquecem que muitas
vezes o principal não é comprado, mas sim dado com
o seu tempo, com o seu amor, com a sua atenção.
Engraçado que nessa era digital, com tanta
informação, vocês se tornaram mais intolerantes e
desrespeitosos. Não conseguem mais respeitar o
diferente, á ádversidáde. E com á frenéticá vidá, “sem
tempo párá nádá”, jogám forá tudo e todos, buscando
algo novo. Só um adendo: o essencial não pode ser
comprado.
Foi ássim que surgiu máis um “dom” nessá
modernidade: vocês aprenderam o dom do
descartável, onde tudo é rapidamente trocado,
renovado, descartado. Inclusive suas relações
afetivas. O conserto é obsoleto. A troca, o novo troféu,
que se possível deve ser exibida para a sociedade.
Selfies e páginas sociais interferem exponencialmente
na necessidade de expansão dessas aflições
transformadas em ilusórios sorrisos. Ou quem sabe
apenas a estánte párá se “ámostrár” e demonstrár ás
medalhas.
Vocês perderam o respeito pelo próximo,
pelos mais velhos, pela história, pelas coisas e pelo
124

habitat. Perderam, inclusive, o respeito próprio.


Percebam que respeito não é obediência servil ou ser
Página

educado. Respeito é um olhar positivo, uma


consideração, valorização ou reconhecimento diante
de algo ou alguém. O desrespeito – a falta deste olhar
positivo, da consideração do outro, da valorização –
está tão gránde, que “o futuro á quem pertence?”
Creio que não mais a vocês. Acredito que esse mundo
visual de ficção – filmes, séries, novelas – ajudou
neste problema moderno. Ensinaram a romantizar as
dificuldades, influenciaram na percepção do tempo,
amenizaram as dores das perdas, estipularam
padrões que não se encaixam na grande maioria.
Criaram idealizações e deturparam a realidade.
Por fim, pergunto, qual o seu papel neste
mundo? Você pode optar em ser o herói ou o em ser
o vilão. Você opta no tipo de exemplo que deseja se
tornar. De ser reverenciado por fazer o errado, ou
talvez viver com honra no anonimato social, mas
sendo respeitado pela pessoa que você é.
Na vida você pode optar entre perder
qualidade e ganhar quantidade, ou de ter qualidade e
talvez não ganhar financeiramente a quantidade que
deseja. Você pode optar por fazer a diferença de
forma positiva, ou não. Você pode calcular pelo seu
lado egoísta, fazendo apenas as suas vontades ou os
seus desejos ou optar por uma complexidade um
pouco maior, a plenitude das suas ações – que
125

incluem o seu bem-estar e a sua plenitude também.


Tarefa difícil que envolve sacrifícios constantes. A
escolha sempre será sua. O destino pode até existir,
Página

mas você escolhe qual destino vai ser o seu. Se você


não está em paz consigo mesmo, não conseguirá ter
sossego na sua vida.
Em suma, todos vocês nascem com o poder da
escolha – a liberdade – e ao longo da vida são
apresentados a diversas formas de como aperfeiçoar
o domínio das intenções, dos impulsos e das escolhas.
Isso significa que vocês nascem em condição de
rejeitar o mal. Contudo, é importante frisar que
ninguém pode dar aquilo que não tem. Se na sua
essência você não tem bondade, só lamento: você se
afastou do seu propósito e, para poder dar bondade,
precisa se reconectar com ela – por exemplo.
Por fim, relembro que na lei universal não
existe o meio certo ou o meio errado. O erro faz parte
da imperfeição humana e o conserto está na plenitude
do arrependimento e na não repetição das ações.
O entendimento que o mundo transcende à
sua existência faz parte do processo e está no íntimo
do livre arbítrio. É a voz mais profunda do coração. O
oculto do Éden e a busca da autêntica verdade. Desta
forma, o mundo só poderá melhorar quando cada um
olhar para dentro de si e trabalhar naquilo que
precisa ser melhorado – ou seja, o conserto pessoal –
mudando seu pensamento, depois seu
126

comportamento, até que se tornem bons hábitos. O


mundo só poderá melhorar quando este conserto for
Página

expandido para uma premissa social.


Bem-vindos ao incrível jogo da vida. Uma simples luz
pode iluminar um enorme vão escuro. Diferente do
que se fala por aí o importante não é o resultado final.
A trajetória, as transformações e as emoções deste
caminho são, na verdade, uma grande parte deste
resultado final.

127
Página
Um conselho do Diabo

Falei muito do meu início e das nossas


criações. Agora, solicito mais um pouco do seu tempo
para explicar quem eu sou hoje.
Atualmente sou uma força universal, que vive
da simbiose que tenho com cada um de vocês.
Diferente da matemática, meu fortalecimento não
segue a racionalidade lógica. Minha força varia do
pessoal ao social, voltando para o pessoal. Morro
todos os dias com os que abandonam este mundo e
também nasço com cada novo parto.
Sou inibido quando vocês voltam para a
moralidade e potencializado com as banalizações dos
valores e da moralidade, mas estou longe de ser o
diabo que vocês pensam.
Vocês podem ter criado suas próprias leis.
Podem ter buscado juízes, líderes religiosos, ou até
mesmo os pais ou professores na tentativa de um
julgamento, de uma exceção ou uma compensação
pelas suas escolhas equivocadas. Mas quando
falamos da lei da natureza, não temos como abrir
essas exceções. Se vocês entenderem estas leis,
128

conseguirão optar melhor entre suas escolhas e


encontrar a verdadeira liberdade. Clarear a mente,
Página

enxergar com a razão, com a essência da vida. A


liberdade é uma força poderosa e tudo é guiado nesta
direção.
O “eu mereço” não justificá. E á imortálidáde
pertence ao mesmo grupo dos super-homens.
Desejos longínquos dos deuses humanos.
Quando você tiver que tomar uma decisão que
cause dúvidas, calcule o quanto você estará
barganhando por ela. Quais são os verdadeiros
ganhos e as verdadeiras perdas. Entender quanto
conhecimento e justificativa você precisa para saber
se o que está fazendo está na direção correta pode ser
um caminho contra a perdição.
A inteligência do homem pode ser um
oponente para este caminho. A racionalidade pode
seguir a irracionalidade diante da justificativa do
injustificável. Na dúvida, volte para dentro de você.
Não responda de imediato. Pare, pense, solicite um
tempo para reflexão. Analise o próximo, as causas e
os efeitos, seus desejos mais obscuros e os mais
claros. Suas motivações, impulsos e intenções.
Questione-se sobre os reais fatores que estão
influenciando esta decisão. Saiba que a vida não
negocia, ao término a conta sempre chega.
129

Há uma máxima que sempre digo: vocês se


baseiam nos direitos que lhes pertencem e esquecem
dos deveres que os mantêm. Uma pequena mudança
Página

de ótica transforma o cálculo do egoísmo no cálculo


da razão. Caso contrário, o ambiente criado será um
ambiente propício do pecado justificar o próprio
pecado. Neste caso, terei que confirmar que me
transformarei no anjo da morte, unicamente pelo fato
do encontro final desta estrada.
Alguns acham que nos dias de hoje a felicidade
pode ser encontrádá nos ‘ignorántes’ – pessoas estas
não sabem o que está acontecendo e acreditam serem
felizes. Francamente, a diferença não está na
ignorância, mas na ingenuidade dos atos. Os seres
atuais confundem conhecimento com malícia,
politicagem. Uma pessoa de negócio, para ser bem-
sucedida, precisa no mínimo estar calejada nestes
aspectos, o que aumenta seus conflitos internos e seu
grau de insatisfação. A felicidade dos ignorantes não
se encontra na ausência do certo e do errado, mas na
ausência do conhecimento da maldade humana e na
oportunidade de escutar o seu eu interior. Talvez não
saibam explicar, mas sabem simplesmente que não
devem fazer porque não é o certo.
Como falei no começo, vocês optaram em sair
do Paraíso. A troca de um mundo harmônico e
completo pelas opções. Em um período tiveram medo
Dele, em outro momento temeram a mim ou aos
130

próprios homens, mas em que momento escutarão


vossas consciências? Quando o medo será menor do
que a vergonha por não ser o que sua essência lhe diz
Página

para ser?
A dinâmica do mundo fora do Éden e nos
tantos jogos de interesses que existem por aí, muitas
vezes, cria uma percepção equivocada que ganhar é
errado, o errado é muitas vezes a forma de ganhar e o
que está se ganhando. Na verdade, a mordida da Maçã
que Adão e Eva deram não foi a simples ingestão de
uma fruta, mas a ingestão da decisão da dualidade,
das consequências dessas decisões e da malícia que
pode haver nestes atos. Foi a ingestão da percepção,
do cálculo do egoísmo e da ausência do – com a busca
pelo – conhecimento. Desta forma, quando você opta
pelo errado, não sou eu quem estou agindo. Eu apenas
lhe mostro que existe este caminho, você escolhe. Eu
sou uma parte da sua percepção, a parte adolescente,
rebelde e reativa. Você escolhe o caminho, você
escolhe o fruto, você o come e você transforma tudo
isso em realidade. Desta forma, pergunto, quem é o
diabo?
E esta é a minha parcela de culpa: você
acreditar em um universo demoníaco, achando que
eu existo junto com outros terríveis seres satânicos e
me culpando por toda perversidade. Só esquece
quem escolhe e quem faz essas perversidades.
Interessante que não vejo os bônus das escolhas
sendo contabilizados para os anjos.
131

O lado positivo é que isso faz parte do ser


humano e está intrinsecamente ligado à sua natureza.
Página

Vocês estão aqui para evoluir. Nesta estrada você


pode ser o anjo ou o diabo. Este é um desafio diário
que dura até o último suspiro. Por isso é tão
importante buscar a reflexão e a consciência da real
essência da vida.
É desta forma que presenteio vocês com um
pouco dos meus conhecimentos, com uma percepção
distinta sobre a vida. Ao fechar esta página, sua vida
voltará ao normal e eu voltarei a fazer o que faço de
melhor: criar as tentações mais atraentes e belas.
Talvez caminhos ardilosos, com algumas armadilhas
camuflando as tentações em oportunidades.
Só lembre que eu surgi sem a opção de escolha. Faço
o que fui destinado a fazer. Já você, voltará a decidir
qual caminho seguirá. Seja livre para escolher o
caminho que deseja seguir. Apenas lembre-se: a
escolha é e somente será sua.
O Anjo da Escolha

132
Página
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