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Redação

Como começar a produzir o texto: estratégias de organização

Teoria
Quando nos deparamos com a frase-tema de uma proposta de redação, bate uma dúvida em
relação ao que deve ser feito e por onde devemos começar, mas o primeiro passo para qualquer
produção textual é, na verdade, uma etapa pré-textual de organização das ideias. Essa organização
serve para conseguirmos visualizar todas as informações presentes na coletânea fornecida pela
banca examinadora e para acessar nosso repertório sociocultural. A partir dessa etapa pré -textual
é que podemos efetivamente começar a escrever um texto. Vamos ver essas estratégias?

Estratégias de organização

Leitura da frase-tema

Em primeiro lugar, é necessário analisar a frase-tema. A partir dessa análise e destaque das
palavras-chave que compõem o tema, é possível começar a delimitar o caminho que será
percorrido. É nessa fase que devemos levar em consideração a distinção entre tema e assunto.
Lembre-se de que o assunto é uma referência genérica ou um fato específico, enquanto o tema é a
delimitação ou recorte de um assunto.
Observe os últimos anos de prova do Enem e veja como o tema é sempre recortado do assunto.

• Enem 2021: Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil.


• Enem 2020: O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira;
• Enem 2019: Democratização do acesso ao cinema no Brasil;
• Enem 2018: Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet;
• Enem 2017: Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil;
• Enem 2016: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil;
• Enem 2015: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira;
• Enem 2014: Publicidade infantil em questão no Brasil;
• Enem 2013: Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil.

Leitura da coletânea de textos


Mesmo que o ideal seja evitar a utilização de informações presentes na coletânea, é necessário que
seja feita a leitura dos textos escolhidos, tanto para podermos entender o caminho que a banca
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sugere que seja abordado quanto para podermos relacionar os


textos lidos com informações do nosso conhecimento de mundo. A
leitura é apenas um start para começarmos a pensar na seleção de
ideias a serem utilizadas e evitarmos fugir do tema.
Na prova de 2014 do Enem, o tema possuía uma delimitação que
poderia ser ambígua para o aluno entender com clareza o que
deveria abordar, por exemplo: a publicidade voltada ao público
infantil ou a publicidade produzida com crianças. Entretanto, a
leitura da coletânea facilitaria esse entendimento, visto que o
direcionamento informava sobre as propagandas que possuíam as
crianças e adolescentes como público-alvo.

Listagem de ideias – “Brainstorm”

O momento mais importante de uma redação não é efetivamente a escrita do texto, mas, sim, a
seleção de ideias que serão desenvolvidas ao longo dele. Após a leitura do tema e da coletânea,
algumas informações e referências vão aparecer na sua memória, e elas devem ser anotadas em
forma de tópicos para que você possa utilizá-las posteriormente. Anote exemplos, referências,
analogias, argumentos de autoridades, citações, tudo o que você possa se lembrar acerca do tema.
No momento em que as ideias ficam mais visíveis, é possível começar a pensar em como elas vão
ser encadeadas ao longo do texto.

Organização de ideias

Após as ideias estarem mais visuais, é possível começar e organizar a estrutura do seu texto.
Estabeleça qual é a sua opinião sobre o tema (tese) e a partir de quais ideias é possível criar
argumentos para convencer o leitor do seu texto sobre seu ponto de vista. Depois de selecionar e
organizar suas ideias, comece o rascunho da sua redação.

Dica: O “descanso" do texto.

Nos meios acadêmico e literário, fala-se muito do processo de “deixar o texto dormir” ou “colocar o
texto para descansar”. Em poucas palavras, isso significa que devemos, em certo momento, deixar
a nossa produção de lado por um instante, a fim de avaliá-la com certo distanciamento, certa frieza,
facilitando a identificação de erros.
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Na redação do vestibular, essa estratégia é bem interessante, uma vez que o aluno, depois de tanto
ler o texto pronto, não percebe muitos defeitos na argumentação e na própria forma (letras
“comidas”, pontuações equivocadas, palavras repetidas, etc).

O processo é simples: o candidato pode finalizar a etapa de rascunho, deixar o texto de lado e se
dedicar a certo número de questões da prova. Depois de algum tempo, pode, por fim, voltar ao texto
e, com certeza, perceberá os problemas antes escondidos e deixará a redação mais “polida”.
Experimente fazer isso!
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Exercícios

Leia o texto abaixo e responda às questões de 1 a 3.


Tragédia da Vale em Brumadinho
O que fazer quando empresas matam
Países têm o desafio de fazer com que grandes corporações, com receitas muitas vezes
superiores a PIBs, respeitem os direitos humanos e sejam punidas por suas violações.
Legislações, tratados e convenções focam na penalização de Estados e indivíduos.
(Fonte: https://brasil.elpais.com)

Em 2019, o Brasil acompanhou a tragédia em Brumadinho, com mais de 200 mortos. Mais
recentemente, em Fortaleza, um prédio desabou e deixou 9 mortos. Em situações como essas,
quem deve responder pelos danos e prejuízos? A quem cabe a responsabilidade: ao poder
público, aos empresários, aos fiscais? Escreva um texto dissertativo-argumentativo acerca da
responsabilidade sobre esses desastres, suas consequências e o que deve ser feito para
evitar novas tragédias.

1. Quais são as expectativas em relação ao tema proposto?

2. Elabore uma frase-tema que sintetize o pedido da banca.

3. O texto de apoio contém informações que podem ser utilizadas na redação? Justifique
sua resposta.

Leia a coletânea abaixo e responda às questões 4 a 8.


Texto I
A saúde consta na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, no artigo XXV, que
define que todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe e a sua
família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e
os serviços sociais indispensáveis. Ou seja, o direito à saúde é indissociável do direito à vida,
que tem por inspiração o valor de igualdade entre as pessoas. No contexto brasileiro, o direito
à saúde foi uma conquista do movimento da Reforma Sanitária, refletindo na criação do
Sistema Único de Saúde (SUS) pela Constituição Federal de 1988, cujo artigo 196 dispõe que
“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação”.
(Disponível em: https://pensesus.fiocruz.br/direito-a-saude/)

Texto II
No dia 18 de outubro de 1899, foi oficialmente admitido que havia uma epidemia de peste
bubônica em Santos, no litoral de São Paulo. Apesar da declaração de situação epidêmica, o
governo insistiu em mais confirmações. Foram chamados, então, os médicos cari ocas
Oswaldo Cruz e Eduardo Chapot Prévost, que mais uma vez atestaram que se tratava da peste.
Se era tarde demais para conter a disseminação da peste, que de fato chegou ao Rio de
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Janeiro no verão de 1900 e se espalhou por outras cidades como São Luís, P orto Alegre e
Recife, a estratégia se voltou para as medidas de enfrentamento. O principal objetivo era trazer
da Europa o soro para o tratamento dos doentes. As autoridades sanitárias concordaram e
encarregaram os pesquisadores que trabalharam na investigação da missão de fundar os
institutos [Fundação Oswaldo Cruz e Instituto Butantan] para impedir novas epidemias.
(Adaptado. Disponível em: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/05/30/como-a-peste-
bubonica-fez-surgir-as-duas-instituicoes-de-pesquisa-mais-importantes-do-brasil.ghtml/)

Texto III
Com a sua criação, o Sistema Único de Saúde (SUS) proporcionou o acesso universal ao
sistema público de saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e não somente aos
cuidados assistenciais, passou a ser um direito de todos os brasileiros, desde a gestação e
por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de vida, visando a prevenção e a promoção
da saúde.
(Disponível em: http://www.saude.gov.br/sistema-unico-de-saude/)

Texto IV
Acesso à saúde: 150 milhões de brasileiros dependem do SUS
23 de setembro de 2020
Isso corresponde a mais de 70% da população brasileira, segundo dados da Pesquisa
Nacional de Saúde realizada pelo IBGE

As unidades básicas de saúde (UBS) foram os serviços mais procurados pela população, segundo o IBGE.
(Fonte: Estadão/Reprodução)
(Disponível em: https://summitsaude.estadao.com.br/desafios-no-brasil/acesso-a-saude-150-milhoes-de-
brasileiros-dependem-do-sus/ Adaptado.)

4. Identifique o assunto da proposta temática.

5. Sintetize as informações presentes na coletânea de textos.

6. Liste ideias, argumentos, referências e exemplos acerca do tema.

7. Organize as ideias selecionadas previamente.

8. Esboce o roteiro da redação.


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Gabaritos

1. A proposta pede que o texto busque uma argumentação que sustente quem é o responsável
pelas tragédias como a de Brumadinho. Assim, é necessário escolher, dentre as opções, poder
público, empresários, fiscais, qual/quais é/são o(s) responsável(is); Isso comporá a tese, que
deverá ser sustentada a partir de argumentos coerentes. O trecho do texto do “El País”,
apresentado como base na proposta, pode ser usado para pensar na responsabilização das
empresas diante das tragédias.

2. Sugestão: “A responsabilidade sobre os desastres ambientais no Brasil e a necessidade de


evitá-los.”

3. O texto de apoio parte de um conhecimento de mundo do estudante, uma vez que não apresenta
o acontecimento do fato em si, mas faz uma menção a ele. Nesse caso, para fundamentar o
ponto de vista, pode-se utilizar a própria referência ao deslizamento de Brumadinho.

4. O assunto identificado na proposta temática está relacionado aos problemas da saúde pública
no Brasil.

5. O primeiro texto aborda o fato de todo cidadão ter, previsto pela Constituição Federal, direito
ao acesso à saúde pública de qualidade. O segundo texto faz refletir sobre a importância do
sistema de saúde público em casos de epidemias. O terceiro texto traz esclarecimentos sobre
o SUS. Já o último texto traz dados sobre o perfil dos brasileiros em relação à necessidade do
sistema público.

6. Resposta pessoal.

7. Resposta pessoal.

8. Resposta pessoal.

Sugestão de modelo de redação

A série sob pressão retrata os dilemas vivenciados por uma equipe de emergência de um
hospital público brasileiro, enfatizando, principalmente, a luta dos médicos que fazem de tudo
para atender os pacientes em um ambiente no qual faltam recursos. Fora da ficção, a máxima “a
arte imita a vida” se mostra verdadeira, já que a situação dos hospitais públicos não é diferente
da que presenciamos na obra em questão. Nesse sentido, é importante analisar a negligência do
Governo Federal em relação ao SUS como principal causa da problemática, além de
problematizar as consequências desse descaso em situações emergenciais.
Em primeiro lugar, faz-se necessário enfatizar o principal motivo do sucateamento da saúde
pública no nosso país: o descaso governamental, aliado aos casos de corrupção e à má gestão
de recursos. Sob essa perspectiva, é possível fazer um paralelo com a teoria do jornalista Gilberto
Dimenstein, em sua obra “Cidadão de Papel”, na qual afirma que a legislação brasileira, ainda que
pareça, na teoria, completa, frequentemente se mostra insuficiente na prática. Exemplo disso
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são os escândalos relacionados aos casos de desvios de verbas da saúde que colocam em risco
a vida de milhares de brasileiros que dependem do tratamento do SUS. Segundo uma matéria
veiculada pelo G1, pacientes com deficiências renais, em Pouso Alegre – MG, em 2017, não
tiveram acesso aos remédios que deveriam ser distribuídos gratuitamente pelo governo, fato que
prejudicou o tratamento desses indivíduos e deslegitimou direitos previstos pela Constituição.
Além disso, é imprescindível ter um olhar crítico para os efeitos da má gestão dos serviços
de saúde pública. Ainda que a falta de empatia não seja um problema especificamente
contemporâneo, o filósofo Byung Chul-Han analisa o século XXI como um século marcado por
uma sociedade a qual ele chama de “sociedade do desempenho” em que o altruísmo e o cuidado
com o próximo perdem espaço para o desejo de poder e ambição. Nesse viés, os indivíduos
priorizam seus próprios interesses em detrimento da necessidade coletiva, e essa postura está
refletida no descaso com a saúde de quem não pode pagar por serviços hospitalares privados.
Esse descaso, inúmeras vezes, vem acompanhado de atitudes corruptas de pessoas que não
dependem desse sistema e, por isso, não se importam com a quantidade de cidadãos que
esperam ser atendidos pelo SUS.
Fica claro, portanto, que a saúde pública no Brasil apresenta inúmeros problemas e, por isso,
ações devem ser pensadas para mudar essa realidade. Dessa forma, é necessário que os
parlamentares, responsáveis por fiscalizar o cumprimento das leis, supervisionem a gestão de
recursos públicos, levando casos de corrupção a julgamento, por meio de CPI´s, para que os
envolvidos em desvios de verbas da saúde sejam punidos e, assim, não se abra mais espaço
para impunidade nesse cenário. Com isso, gradualmente, haveria uma mudança de postura no
cenário político e os problemas relacionados à gestão do SUS seriam amenizados.

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