MANIPULAÇÃO DE SINAIS ELETROOCULOGRÁFICOS PARA O
CONTROLE DE UM TECLADO VIRTUAL
D. Silva*, L. Rodrigues*, R. Sena*
*Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil.
e-mail: ​dc6silva@gmail.com
Resumo: ​O presente trabalho tem o objetivo de
controlar, com os olhos, um teclado virtual
usando a eletrooculografia. Com a utilização de
eletrodos posicionados ao redor do olho, podemos
medir o potencial elétrico entre a retina e a
córnea, com movimentos verticais e horizontais
do globo ocular, e a partir disso, controlar uma
interface. Tal projeto pode ajudar a melhorar a
qualidade de vida de pessoas com deficiências
motoras graves, permitindo sua interação com o
meio. Está técnica de controle pode ser útil em
várias aplicações, contudo neste projeto ela será
usada como um sistema para ajudar pessoas com
deficiências motoras graves, que só movimentam
o globo ocular.
Palavras-chave: Eletrooculografia, olho,
interface, deficiência.
Abstract: ​The present work has the control, with
the eyes, a virtual keyboard using an
electrooculography. With the use of electrodes
installed around the eye, we can measure the
electrical potential between the retina and the
cornea, controlling the vision and horizons of the
eyeball, and from there controlling an interface.
Such a project can help improve the quality of life
of people with motor disabilities, allowing them to
interact with the environment. The control
function can be useful in many applications, the
exercise system is diverted to a system of people
with severe motor deficiencies that only move the
eyeball.
Key words: ​Electrooculography, eye, interface,
disability.
Introdução
A possibilidade de se comunicar e
relacionar-se com outras pessoas é uma das
necessidades básicas do ser humano. Em alguns
casos, por conta de deficiências genéticas e lesões
graves, pessoas podem vir a perder o controle
muscular e a sua capacidade de fala e interação
com o meio, sendo somente a direção do olhar o
único elemento físico controlável. Uma dessas
patologias é a Esclerose Lateral Amiotrófica
(ELA)[1], que afeta cerca de 12 mil pessoas no
Brasil, principalmente idosos entre 65 e 74 anos.
É uma doença degenerativa do sistema nervoso,
onde o sistema nervoso central é danificado de
maneira completa, assim o indivíduo
progressivamente perde os estímulos motores do
corpo, mas ainda sente outros estímulos externos,
como calor, coceira e sede. No estágio final da
doença, o paciente se encontra totalmente
paralisado em cima do leito, movendo apenas os
olhos, sentindo necessidades fisiológicas e os
estímulos periféricos citados acima [2]. Pensando
em melhorar a qualidade de vida desse grupo de
pessoas, buscamos manipular os sinais obtidos por
eletrooculografia, e aplicá-los para o controle de
um teclado virtual,onde quem sofre desta doença
e de outras atrofias musculares, possam se
comunicar, de maneira rápida e precisa, indicando
o que necessita naquele momento, como
“CALOR”, “SEDE”, “FRIO”, “FOME”, e ter um
bem-estar melhor de vida.
Para a construção deste hardware, é
necessário entender o que é este sinal que provém
dos olhos. O eletrooculograma (EOG) [3] é um
tipo de medida de sinais eletrofisiológicos, que
são eventos fisiológicos intimamente relacionados
com fenômenos elétricos. O movimento que os
olhos realizam durante sua atividade de controle
pode ser definido como um dipolo fixo, onde a
córnea se refere ao pólo positivo e a retina, o pólo
negativo. O dipolo elétrico formado equivale ao
potencial de repouso do olho e é aferido
geralmente na média de 5 mV.
Podemos dizer que essa polarização é
conhecida como diferença de potencial
córneo-retiniana. O sinal ocular captado pelo
eletrooculograma é gerado a partir dos
movimentos oculares, que produzem movimentos
rotativos neste dipolo, criado com variação da
angulação do globo ocular. De acordo com o
movimento do olho, são verificados valores de
diferença de potencial, modificando o campo
elétrico periorbitário, e esta alteração pode ser
capturada, ampliada e registrada. O potencial
entre a córnea e a retina é produzido pela
hiperpolarização e despolarização das células
nervosas na retina.
Figura 1. Esquema do dipolo elétrico para o olho
Os sinais do EOG são obtidos pela
fixação de 4 eletrodos ao redor do olho: direita,
esquerda, acima e abaixo do olho. Quando a
córnea estiver próxima do sensor posicionado
acima do olho, será gerado um sinal positivo,
quando estiver ao centro o sinal é nulo, e olhando
para baixo, o sinal é negativo, criando assim, um
gráfico para este movimento vertical do olho. Um
segundo movimento é criado colocando outro
eletrodo do lado esquerdo e direito do olho, tendo
o mesmo princípio de funcionamento que o do
primeiro, só que agora com movimentos
horizontais. Estas combinações geram um sinal
que pode ser analisado em um osciloscópio.O
eletrodo de referência deve ser colocado em um
ponto onde não há potencial, que é neutro. Tal
ponto pode ser na testa ou atrás da orelha, por
exemplo. Com os olhos posicionados no centro,
os eletrodos possuem, efetivamente, o mesmo
potencial e nenhuma tensão é obtida. A rotação
dos olhos à direita resulta numa diferença de
potencial, com o eletrodo na direção do
movimento positivo em relação ao eletrodo
contrário.
Figura 2. Posicionamento dos Eletrodos
Captando esses sinais, é necessário a
criação de um circuito com amplificadores
operacionais, a fim de eliminar a tensão gerada
pela rede e obter apenas o sinal da tensão
desejada. Isto é o início da construção do
hardware, que será um circuito elétrico que
manipulará os sinais captados em frequência,
corrente, amostragem e tensão que se quer
trabalhar.
Com o hardware finalizado, é possível
executar o software onde estará a interface que
deve aparecer ao paciente.
A interface, para sistemas de
comunicação aumentativa e alternativa, deve ser
muito bem executada. Como toda a interação do
usuário se dá com a tela do monitor, a interface
deve ser intuitiva e de fácil manuseio. Além disso,
o sistema de transmissão de mensagem (teclado
de varredura, apontador virtual, mensagem
pré-programada) deve considerar fatores como,
por exemplo, a velocidade ou taxa de transmissão
de informação, ou seja, quanto tempo o usuário
leva para colocar a informação que deseja no
sistema.
 Com isso, o sistema será capaz de captar os
sinais eletrooculográficos e transferi-los para uma
interface de comunicação, que expressará o que o
paciente está sentindo naquele momento à todos a
sua volta, como profissionais da saúde, familiares
e amigos. Além de possibilitar a comunicação que
antes era complicada e até improvável de se
acontecer, este sistema dá um pouco de autonomia
a quem está dependente de outras pessoas, e isso é
transformado em vontade de viver, podendo dar
mais expectativa de vida a estes pacientes.
Materiais e Métodos
Inicialmente, o sistema será dividido em
três etapas para um melhor desenvolvimento
devido ao fato que as mesmas possuem
configurações e requisitos diferentes. As etapas
serão:
● aquisição do sinal;
● condicionamento do sinal e interfaceamento
com o pc (módulo EOG);
● processamento em software.
Nesta etapa do sistema, foi feito a
aquisição do sinal e o condicionamento do
mesmo.
Para a aquisição do sinal, foi utilizado um
voluntário saudável, sem a presença de doenças
que corrompem o sistema nervoso, movendo
perfeitamente o globo ocular. Primeiramente, foi
feito a limpeza com álcool e algodão nos locais
onde ficariam os eletrodos: ao redor dos olhos e
no pescoço, adotado como ponto de referência do
circuito. Ao finalizar a limpeza destas
áreas,retirando células mortas e suor, os eletrodos
descartáveis e com conector de Ag/AgCl[4] da
marca SKINTACT, foram inseridos ao redor do
olho, sendo um eletrodo localizado acima e
abaixo do olho,para realizar o movimento vertical,
e o último eletrodo localizado no pescoço.
Figura 3. Aquisição do sinal EOG
No condicionamento do sinal, devido à
baixa amplitude, o sinal coletado em cada canal
passará por uma fase de pré-amplificação. Para
isso é utilizado um amplificador de
instrumentação, o qual consiste em um
amplificador diferencial INA122, com altíssima
impedância de entrada, baixa impedância de
saída, razão de rejeição em modo comum
(CMRR) de 90dB. Após essa etapa de
pré-amplificação, o sinal passa por uma
pré-filtragem, para retirada do nível DC, passando
por filtro passa alta, seguido por um segundo
estágio de amplificação e um filtro passa baixa,
onde a máxima amplificação do sinal deve
coincidir com o valor máximo do fundo de escala
do conversor (se for arduino uno, é até 5v). Os
valores das frequências de corte de cada filtro,
bem como os valores de cada amplificação, serão
detalhados adiante. Com este condicionamento do
sinal,o mesmo está há uma frequência e amplitude
desejada para que possa ser transferido ao
software.
Figura 4. Diagrama de blocos
Discussão e Resultados
Para que seja possível captar o sinal do EOG,
montamos o circuito a seguir, na protoboard, para
os testes iniciais:
Figura 5. Esquema Elétrico
Figura 6. Circuito Elétrico na Protoboard
Utilizamos um INA122 porque o amplificador de
instrumentação nos permite obter uma resistência
de entrada extremamente alta, resistência de saída
menor que a dos AOP (Amplificador
Operacional) comuns, CMRR de 90 dB, que ajuda
a atenuar a tensão de modo comum proveniente
do corpo, ganho de tensão em malha aberta muito
superior aos dos AOP comuns e tensão de offset
de entrada muito baixa.
O regulador tem como objetivo manter a tensão
de saída constante mesmo que a entrada sofra
oscilações na tensão ou, no caso da saída,
variações na corrente. Utilizamos o LM7805 e
LM7905, que controlam a tensão para +5V e -5V,
respectivamente.
O filtro é capaz de atenuar determinadas
frequências do espectro do sinal de entrada,como
contaminações harmônicas-offset, permitindo a
passagem das demais frequências. Para calcular a
frequência de corte, usamos:
: f c = 1 ÷ 2πRC. Sendo R = 10M e C =
100nF, a fc = 0.15Hz​.
Para o esquema elétrico montado, a sequência
de filtros e amplificações é a seguinte:
● Filtro Passa-Alta passivo com frequência
de corte de 0,1 Hz;
● Amplificador Não-Inversor com ganho de
100;
● Filtro Passa-Baixa Butterworth de 3 pólos
com frequência de corte de 15 Hz;
● Filtro Passa-Alta passivo com frequência
de corte de 0,1 Hz;
● Amplificador Não-Inversor com ganho de
100;
● Filtro Passa-Baixa Butterworth de 3 pólos
com frequência de corte de 15 Hz;
● Filtro Passa-Alta passivo com frequência
de corte de 0,1 Hz;
● Buffer de ganho unitário.
Como é possível perceber, o esquema elétrico se
repete entre Filtro Passa-Alta, Amplificação e
Filtro Passa-Baixa,com um buffer no final pois
segundo a literatura[5], este esquema é necessário
para retirar o nível DC do sinal, restando no final
do circuito, apenas o sinal fisiológico EOG.
Figura 7. Sinal EOG sem filtro passa-alta
visto no osciloscópio.
 Referências Bibliográficas

[1]SOBRE ELA - INSTITUTO PAULO

GONTIJO.ORG.Disponível em
<www.ipg.org.br/ipg/sobre-ela/lan/br> .Acesso
em: 09 de abril 2018.

[2] O DRAMÁTICO DIAGNÓSTICO DA

ELA.ISTO É. Disponível em
<istoe.com.br/81748_O+DRAMATICO+DIAGN
OSTICO+DA+ELA/ >.Acesso em: 09 de abril
2018.

[3] Lima, Leonardo Araújo. ​Sistema baseado em

Eletrooculograma para Controle de Dispositivos
Computacionais. ​2009. 6f. Artigo Acadêmico,
Universidade Federal de Uberlândia.

[4]​A. B. Usakli, S. Gurkan, F. Aloise, G.

Vecchiato, F. Babiloni.​ Research Article On the
Use of Electrooculogram for Efficient Human
Computer Interfaces. ​Hindawi Publishing
Corporation Computational Intelligence and
Figura 8 e 9. Sinal EOG com Filtro Passa-Alta
Neuroscience Volume 2010, Article ID 135629, 5
visto no osciloscópio, retratando movimentos
pages doi:10.1155/2010/135629
verticais do globo ocular.

[5]​Jeong Heo, Heenam Yoon and Kwang Suk

Analisando as imagens, é possível perceber a
Park. ​A Novel Wearable Forehead EOG
importância da utilização dos filtros para se
Measurement System for Human Computer
chegar a um sinal mais parecido com o
Interfaces​.​Sensors​ 2017, ​17​(7), 1485;
fisiológico, eliminando todos os tipos de ruídos
doi:​10.3390/s17071485
que impossibilitam está visualização. Assim, o
sinal está pronto para ser digitalizado e trabalhado
no software.