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XX/XXI Adriana Varejão:

Suturas, fissuras, ruínas


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realização

Secretaria de
Cultura e Economia Criativa ADRIANA VAREJÃO
O Grupo Boticário e Gol Linhas Aéreas não se beneficiaram de renúncia fiscal.
Leitura de imagem – Adriana Varejão [Rio de Janeiro, RJ, 1964]
Proposta para uma catequese - Prato, 2014
óleo sobre fibra de vidro, 153,50 cm (diâmetro)
Coleção da artista, em comodato com a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Foto: Isabella Matheus

Professor(a),

Esta prancha apresenta sugestões de leitura de imagem e de pro- tentada por dois homens indígenas também nus, um deles seguran- Dica:
posta poética a partir da reprodução da obra Proposta para uma do uma tocha acesa. A figura central aponta para cima, ao mesmo O website do Instituto Socioambiental reúne várias publica-
catequese – Prato, de 2014, da artista brasileira Adriana Varejão, tempo indicando o céu e mostrando o texto em latim. Eles estão em ções sobre as culturas indígenas, com diversos materiais de
que se encontra emprestada à Pinacoteca (chamamos de “obra meio a árvores, e o solo parece ser de terra, com algumas pedras. estudo sobre grafismos e seus sentidos e usos. Conheça:
em comodato”). https://acervo.socioambiental.org/
Agora, atentem para o texto em latim do Evangelho de João, capí-
Sugerimos que, para o desenvolvimento dessas propostas com tulo 6, versículo 57, escrito em uma faixa suspensa por dois maca- Após analisar esta obra com sua turma, como vocês a rela-
sua turma, procure incentivar a participação de todos, ouça suas cos apoiados em árvores: “Qui manducat meam carnem, et bibit cionam com a história do Brasil e dos brasileiros?
respostas e considere as opiniões e pontos de vista de cada um, meum sanguinem, in me manet, et ego in illo”, palavras atribuídas O que o título da obra (Proposta para uma catequese – Pra-
estimulando o grupo a aprender com o coletivo e a refletir sobre a Jesus Cristo que podem ser traduzidas como: “Quem come o to) pode indicar?
as diferentes visões diante da obra. Os estudantes trazem para a meu corpo e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu per-
leitura de imagens de arte seu próprio repertório, e, a partir dele, maneço nele”. Estimule os alunos a discutirem sobre os sentidos A catequização a que a artista se refere no título é aquela que foi rea-
da escuta atenta entre os colegas e do diálogo sobre as obras, esse dessa frase, como por exemplo, o sentido de sacrifício, de salvação lizada como programa pedagógico e político do projeto de coloniza-
processo de aproximação com a arte se enriquece. Oriente esse da humanidade, mas ao mesmo tempo do caráter ritual para o ção do território que conhecemos atualmente como Brasil. Realizada
percurso junto aos estudantes, acrescentando, quando considerar qual as palavras apontam. A partir do texto, podemos deduzir que por grupos de padres jesuítas, a catequização dos povos originários
pertinente, as informações contidas neste material e outras que o homem branco poderia representar Jesus de Nazaré, pregador aconteceu a partir de 1549, com a chegada da Companhia de Jesus,
possam surgir de suas próprias pesquisas, ampliando gradualmente e líder religioso judeu do primeiro século, figura central do cristia- fundada pelo militar (atualmente Santo) Inácio de Loyola no ano
a complexidade de relações e reflexões na abordagem da obra. Os nismo. Com esta informação somada a uma nova observação da de 1534, para evangelizar, catequizar e tornar cristãos católicos os
caminhos aqui propostos indicam algumas possibilidades de apro- imagem, você e seu grupo podem retomar o texto a partir de uma indígenas e colonos. Todo o processo de catequização envolvia o
ximação com a imagem que envolvem a observação, contextualiza- interpretação literal: a frase bíblica que integra a cena, além de se aprendizado da língua portuguesa, a leitura de trechos bíblicos, a
ção, interpretação e ação criativa a partir dela e que acontecem sem relacionar com os ritos cristãos, pode também se referir à antro- adaptação de histórias e narrativas da cultura local para equivalentes
ordem fixa e de forma articulada no decorrer do processo. pofagia, conjunto de atos rituais de diversos povos originários do da cultura europeia, a negação da cultura e crenças locais e um forte
Brasil, que têm como base a ideia de que, ao ingerir o corpo do sistema de comandos, obediência e punições cuidadosamente entre-
Orientações e sugestões para a leitura de imagem inimigo, adquire-se sua força, seus saberes, suas qualidades. laçado a narrativas de salvação e vida eterna, impondo uma cultura e
religião estranhas e estrangeiras à população local.
Procure criar um ambiente confortável com os estudantes para a Assim, se, por um lado, “comer o corpo e beber o sangue”
leitura da imagem, de modo que se sintam à vontade para expor pode ser considerado uma das principais simbologias dos ritos Ao chamar a obra de “proposta”, Adriana Varejão sugere a pos-
suas impressões. Sugerimos que a turma se sente em roda, uma cristãos, também pode ser visto como parte da cultura dos sibilidade de pensarmos “uma outra catequese”, invertendo as
forma de organização que coloca todos em nível de igualdade, povos originários. histórias associadas à catequese europeia cristã e seus ideários,
vendo-se de frente, facilitando a atenção ao outro. Estimule um ao colocá-las justapostas com imagens de rituais de antropofagia
ambiente de respeito entre todos, mesmo que discordem do Como a imagem central se relaciona com as outras imagens e saberes dos povos originários. Sua proposta considera a seguin-
ponto de vista uns dos outros. O embate de ideias faz parte de ao seu redor, circundando o prato? Você percebe algum te pergunta: o que podemos aprender com as narrativas das
uma discussão saudável, o que não significa diminuir e desconsi- tipo de repetição? culturas indígenas após seus processos de apagamento no Brasil
derar as opiniões divergentes. colonial e na atualidade? Ou ainda: e se a história fosse outra e
As imagens e o texto se apresentam na superfície de um prato, fossem os indígenas a “catequizar” os europeus?
A leitura da imagem de arte é aberta à interpretação, permite cuja borda reúne um conjunto de imagens voltadas para o centro.
uma diversidade de respostas; não há uma única verdade ou uma Podemos identificar três tipos de imagens, que se mostram inter-
resposta certa. Também não se trata de adivinhar o que a artista caladas: a) quatro cabeças de anjos; b) oito estampas de objetos Proposta poética:
“quis dizer” ou “tentou expressar”: o convite para a turma deve e frutas tropicais; c) quatro cenas de rituais antropofágicos.
ser para observar a imagem da obra, conversar sobre as informa- Como aprendemos o que pode significar “ser brasileiro”?
ções e pistas à disposição e, num processo de trocas e conversas, No prato, Adriana compôs as quatro cabeças de anjos voltadas Que imagens costumamos utilizar e reconhecer como sendo
refletir em grupo sobre as diversas possibilidades de sentido pre- para a cena central, e você pode convidar os estudantes a anali- características do “povo brasileiro”?
sentes no trabalho. Durante esse processo, é possível que surjam sarem as expressões e gestos de cada uma das figuras, buscan-
temas pertinentes ou não à discussão sobre a obra analisada, do pistas de suas atitudes em relação à cena – tentando, por A proposta poética consiste na criação de uma colagem em for-
e neste sentido é importante que o grupo volte a observar a exemplo, identificar se os anjos concordam ou não com o que mato de painel coletivo com elementos reconhecidos pelo grupo
imagem em questão e a trocar ideias sobre ela. Sugerimos nesta observam e por quê. como expressivos da cultura brasileira.
prancha um conjunto de questões que pode dar origem a um
percurso possível para a leitura da imagem. Entretanto, lembre-se As estampas que mostram as frutas tropicais, chocalhos, Vocês podem usar papel de embrulho, kraft ou cartolina para
que não se trata de um roteiro fixo, muito menos único, mas sim cocar e tacape aparecem como elementos que valorizam e criar um suporte comum onde todos possam trabalhar.
uma possibilidade de exercício que pode ser ajustada a partir das enfatizam as riquezas da terra e os saberes da cultura dos É fundamental que comecem a realização da proposta com uma
necessidades de seu contexto escolar. Assim, é fundamental que povos originários, com suas tecnologias de manutenção da roda de conversa em torno da seguinte pergunta:
você se sinta à vontade para ampliar e criar outros caminhos e vida e práticas cerimoniais.
abordagens, considerando as falas e ideias dos estudantes em “Quem te ensinou a ser brasileiro te ensinou o que sobre
torno das perguntas geradoras aqui sugeridas. Você pode come- As quatro cenas de rituais antropofágicos mostram respectiva- o Brasil?”.
çar com abordagens simples, como, por exemplo: mente, em sentido horário, começando à esquerda, na parte de
cima: a) sete pessoas se reúnem de mãos dadas ao redor de uma Faça uma lista com as respostas, que podem apontar para situa-
O que você reconhece nesta imagem? Quais detalhes se mulher para observá-la pintando um tacape ritual, enquanto uma ções, pessoas (parentes, familiares, amigos, vizinhos, colegas de
destacam? delas segura uma cuia perto dela, possivelmente com tinta; b) um escola etc.), instituições (escola, igreja, agremiações estudantis
grupo de mulheres, homens e crianças sentados em roda, com etc.), canais de comunicação, peças publicitárias, literatura e
Esse é um momento de observação. Convide o grupo a olhar a uma cesta ao centro que contém uma cabeça humana e uma outras tantas possibilidades.
imagem da obra com atenção às figuras e detalhes visuais. Esse série de cestas onde o grupo prepara o corpo que será consu-
primeiro mapeamento é importante, pois vai apresentar as pistas mido; c) uma dupla conduzindo um homem amarrado para uma Com essa lista em mãos, busquem detalhar as lições aprendidas
que conectam a materialidade da obra com as percepções que fogueira, com uma estrutura onde pedaços de carne podem ser em cada um desses contextos. Procurem falar também da trans-
ela pode nos suscitar. Considerando as habilidades da BNCC de colocados; d) quatro pessoas reunidas para preparar o corpo de formação de algumas ideias ao longo do tempo e das variações
artes, você pode sempre utilizar o recurso de incentivar que os um homem deitado de bruços no chão. O conjunto de cenas pode regionais da cultura brasileira e suas visões de mundo.
alunos sigam nomeando, comentando e apontando as primeiras ser considerado um ciclo de etapas do ritual, que começa na cena
impressões sobre o que veem. de captura ao centro do prato e segue em momentos de confra- A partir da lista construída e das conversas realizadas, os alunos
ternização e trabalho do grupo, envolvendo toda a comunidade. poderão buscar por imagens em revistas, livros descartados, jor-
A obra é redonda, com cerca de um metro e meio de diâmetro nais e outras fontes que possam ser recortadas.
e a aparência de um prato de cerâmica branco, de grandes Tratar de cenas de rituais antropofágicos pode gerar percepções
proporções. Entretanto, ao buscar informações sobre a obra, e comentários preconceituosos. Assim, sugerimos ao professor Durante o processo de criação da colagem, experimentem aproxi-
pode-se descobrir que o material utilizado é fibra de vidro, um que explore links de textos ou vídeos de referência sobre os sig- mar imagens bastante variadas, mostrando pessoas de diferentes
composto feito de finíssimos fios de vidro, resina e silicone, nificados e o sentido da antropofagia para os grupos indígenas idades, biotipos, ou ainda escolhendo diferentes atividades sendo
que costuma ser utilizado para fazer eletrodomésticos, peças que a praticavam no país. realizadas por uma ou mais pessoas.
de carro e de computadores, elementos de cenografia e até
mesmo na construção civil. As cores branco e azul, assim como Observe os padrões abstratos que circundam a imagem Da mesma maneira que vimos na obra de Adriana, cuja leitura
o tipo de desenhos e texto integrados na peça, foram inspirados central. Você já viu algo parecido? Consegue se lembrar em fizemos acima, é possível inserir na colagem coletiva uma frase
nas imagens de cerâmicas e azulejos característicos do período que tipo de contexto? escolhida e debatida em grupo e que possa complementar as
barroco brasileiro e português. Sugerimos que busque algumas imagens selecionadas. Não se esqueça de orientar os alunos para
imagens desses elementos para facilitar as comparações. Tanto acompanhando as estampas das frutas tropicais e objetos compreender, mais que o sentido da frase, a percepção da mesma
quanto em uma faixa que emoldura a cena central, é possível como imagem complementando a colagem. Que tipo e tamanho
A composição mostra uma cena central, com um texto; ao seu observar um conjunto de grafismos indígenas, que integram de letra querem utilizar? Onde a frase deve ser colocada e por quê?
redor, uma faixa com texturas abstratas e ornamentos emoldura sistemas gráficos baseados no uso de padrões geométricos
a cena, separando-a de um conjunto de dezesseis imagens orga- abstratos que remetem a elementos da natureza, da cultura e Também oriente-os para que escolham se gostariam de preencher
nizadas na borda circular da peça. do sobrenatural de cada povo. Esses padrões costumam ser utili- os espaços vazios entre as imagens com cores, texturas ou padrões
Distribuição gratuita / Proibida a comercialização.

zados na pintura corporal, nas cestarias e na cerâmica indígena. criados pela turma, buscando utilizar sempre de modo intencional
As cenas mostram indígenas, homens brancos, anjos, objetos Caso o grupo se interesse pelo assunto, vocês podem analisar esses recursos (p. ex.: escolher cores que os estudantes reconhe-
rituais e frutas brasileiras. cada um dos padrões que integra a imagem no prato, estudando çam como interessantes para lembrar de alguma particularidade
a forma como as linhas foram estruturadas no desenho e buscan- do Brasil, ou ainda texturas e tramas relacionadas a culturas locais).
Observe a imagem central. O que parece estar aconte- do identificar, por exemplo, se são paralelas ou perpendiculares,
cendo nela? divergentes ou convergentes, orgânicas ou retas. Se possível, coloquem o painel em um dos corredores da escola.
Aponte aos estudantes o texto, escrito em latim. O que po- Proponha um rodízio entre os estudantes para que conversem
dem reconhecer nas palavras? Lembrem-se que Adriana Varejão trabalha sempre a partir de um com estudantes de outras salas sobre o trabalho, utilizando a
acervo de imagens que ela coleciona, e que vocês podem criar pergunta disparadora (“quem te ensinou a ser brasileiro te
A imagem mostra um homem indígena pronto a dar um golpe de seu próprio acervo de grafismos indígenas, reunindo e categori- ensinou o que sobre o Brasil?”) para promover conversas e
tacape em um homem branco, nu, amarrado com uma corda sus- zando as imagens selecionadas. expandir as aprendizagens e sentidos construídos.
Leitura de imagem – Adriana Varejão [Rio de Janeiro, RJ, 1964]
Ruína Brasilis, 2021
Óleo sobre tela e poliuretano com suporte de alumínio, 226 x 40 x 40 cm
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, doação da artista, 2021. Foto: Vicente de Mello

Professor(a),

Esta prancha apresenta sugestões de leitura de imagem e de e poliuretano coberta por tela (tecido). A pintura foi feita direta- narrativas sobre nosso país, desde quando foram feitos os primei-
proposta poética a partir da reprodução da obra Ruína Brasilis, mente na tela de modo a criar a ilusão de que estamos vendo ros mapas nomeando e indicando a localização de um território
de 2021, da artista brasileira Adriana Varejão. uma coluna de carne revestida com azulejos, especialmente devi- anteriormente “desconhecido” pelos europeus.
do à forma irregular do limite entre a imagem dos azulejos e da
Sugerimos que, para o desenvolvimento dessas propostas com carne aparente, como se os azulejos estivessem quebrados pela Comece perguntando se alguém já ouviu a expressão Terra
sua turma, procure incentivar a participação de todos, ouça suas força da passagem do tempo. Brasilis, oferecendo a oportunidade para que alguém traga
respostas e considere as opiniões e pontos de vista de cada um, as informações que conhece. Complemente as conversas,
estimulando o grupo a aprender com o coletivo e a refletir sobre Por fim, vale enfatizar que a obra foi feita para ser vista de todos informando que Terra Brasilis era o nome utilizado em mapas
as diferentes visões diante da obra. Os estudantes trazem para a os lados, carregando as cores da bandeira nacional e do sangue do século XVI para indicar a extensão do território que hoje
leitura de imagens de arte seu próprio repertório, e, a partir dele, e da carne que escreveram a história de nosso país. chamamos de Brasil. Pode ser interessante lembrar ao grupo
da escuta atenta entre os colegas e do diálogo sobre as obras, esse que as terras nomeadas pelos portugueses com o nome Terra
processo de aproximação com a arte se enriquece. Oriente esse Você já esteve diante de alguma construção arquitetônica Brasilis já eram habitadas e haviam sido previamente nomea-
percurso junto aos estudantes, acrescentando, quando considerar parecida com esta escultura? Onde? das por diversos outros grupos de povos originários, que nelas
pertinente, as informações contidas neste material e outras que viviam há muito tempo. A estratégia de localização e identifi-
possam surgir de suas próprias pesquisas, ampliando gradualmente Os estudantes podem ser estimulados a relembrar em que cação implicava a chegada de europeus a territórios que antes
a complexidade de relações e reflexões na abordagem da obra. Os locais costumam ver azulejos, elencando áreas internas desconheciam para declarar seus direitos sobre eles. A ação de
caminhos aqui propostos indicam algumas possibilidades de apro- (banheiros, açougues, hospitais etc.) e externas (fachadas, associar um nome a uma extensão de terra e dizer que ela foi
ximação com a imagem que envolvem a observação, contextualiza- monumentos, jardins etc.). Para aprofundar o estudo da ima- “descoberta” era uma forma de garantir direitos sobre a terra
ção, interpretação e ação criativa a partir dela e que acontecem sem gem, convide os estudantes a pesquisarem o uso de azulejos que já pertencia a outros, para que pudesse ser explorada por
ordem fixa e de forma articulada no decorrer do processo. na arquitetura, buscando por imagens e tecnologias que colonizadores de um reino ou se tornar oficialmente uma de
possam ser partilhadas por meio de imagens entre a turma. suas colônias.
Orientações e sugestões para a leitura de imagem Para complementar a pesquisa, é interessante trazer ao grupo
algumas imagens e referências da tradição de cerâmica Ao nomear sua obra Ruína Brasilis, Adriana Varejão retoma o
Procure criar um ambiente confortável com os estudantes para a Talavera, do México, foco de interesse e inspiração de Adriana início do processo de construção de nossa história como país,
leitura da imagem, de modo que se sintam à vontade para expor Varejão neste trabalho. A origem dessa técnica remonta ao substituindo a palavra “terra” por “ruína”, uma escolha que
suas impressões. Sugerimos que o grupo sente em roda, uma século XV e à cidade de Talavera de La Reina, na Espanha; retoma a ideia de que no Brasil muitas coisas se tornam ruínas
forma de organização que coloca todos em nível de igualdade, porém, a artista pesquisa os desdobramentos e modos de antes mesmo de ficarem prontas. Conversem sobre as impressões
vendo-se de frente, facilitando a atenção ao outro. Estimule um fazer essa cerâmica na cidade de Puebla, no México, que dos estudantes sobre essa ideia, pedindo que tragam exemplos
ambiente de respeito entre todos, mesmo que discordem do desde o período colonial se dedica a criar e aprofundar suas de acontecimentos desse tipo, seja em seus bairros ou cidades,
ponto de vista uns dos outros. O embate de ideias faz parte de tecnologias e usos, inclusive em revestimentos de fachadas de seja em instituições brasileiras.
uma discussão saudável, o que não significa diminuir e desconsi- prédios e construções da cidade.
derar as opiniões divergentes. Dica!
Esta pergunta oferece uma oportunidade interessante para Você pode utilizar como apoio e complementação a letra da
A leitura da imagem de arte é aberta à interpretação, permite que vocês conversem sobre a importância da pesquisa nos pro- música Fora da Ordem, de Caetano Veloso, na qual a frase
uma diversidade de respostas; não há uma única verdade ou cessos de criação, destacando o fato de que Adriana Varejão “Aqui tudo parece que era ainda construção e já é ruína”
uma resposta certa. Também não se trata de adivinhar o que criou um arquivo de imagens de prédios da cidade de Puebla, é complementada por outras percepções do autor sobre a
a artista “quis dizer” ou “tentou expressar”: o convite para de onde buscou referências para a criação de trabalhos como cultura brasileira.
a turma deve ser para observar a imagem da obra, conversar Ruína Brasilis.
sobre as informações e pistas à disposição e, num processo Lembre a turma de que, ao criar trabalhos como este, Adriana
de trocas e conversas, refletir em grupo sobre as diversas Que sensações a obra causa em você? Alguma emoção Varejão nos convida a analisar a cultura brasileira de forma pro-
possibilidades de sentido presentes no trabalho. Durante esse acompanha essas sensações? funda, tentando reconhecer em nós mesmos as narrativas que
processo, é possível que surjam temas pertinentes ou não à guardamos sobre nosso país e a necessidade de reconhecer os
discussão sobre a obra analisada, e neste sentido é importante Aqui, é importante que os estudantes consigam diferenciar sen- processos de destruição, opressão e violência que, realizados mui-
que o grupo volte a observar a imagem em questão e a trocar sações (causadas pela percepção e pelos sentidos) e emoções tas vezes em nome de um suposto progresso, parecem “naturali-
ideias sobre ela. Sugerimos nesta prancha um conjunto de (relacionadas a sentimentos diante de uma percepção). zados” em nosso cotidiano. Para finalizar, mas ainda expandindo
questões que pode dar origem a um percurso possível para a o potencial tanto interpretativo quanto imaginativo dos alunos a
leitura da imagem. Entretanto, lembre-se que não se trata de Este trabalho de análise da imagem pode ser melhor apro- partir da obra, pergunte:
um roteiro fixo, muito menos único, mas sim uma possibilidade veitado se vocês explorarem a obra em etapas, com foco em
de exercício que pode ser ajustada a partir das necessidades de cada elemento. Por exemplo: convide inicialmente o grupo a De quem seria a carne que aparece como recheio da coluna
seu contexto escolar. Assim, é fundamental que você se sinta observar a parte da obra que apresenta os azulejos e peça que Ruína Brasilis? Por quê?
à vontade para ampliar e criar outros caminhos e abordagens, descrevam quais características dos azulejos eles conhecem,
considerando as falas e ideias dos estudantes em torno das falando sobre sua textura, temperatura, os sons que emitem
perguntas geradoras aqui sugeridas. Você pode começar com quando tocados e outras formas de perceber o azulejo a partir Proposta poética:
abordagens simples, como, por exemplo: de seus corpos. Em seguida, convide-os a explorar suas memó-
rias das caraterísticas físicas da carne, retomando o que se A partir das análises realizadas sobre a obra, peça aos alunos que
Vocês já viram algo parecido com esta imagem antes? O quê? percebe pela visão, tato (textura/temperatura), olfato e, neste avaliem suas próprias contradições. A adolescência e juventude
Quais elementos reconhecem e conseguem identificar? caso, paladar. são momentos de intensas transformações, tanto físicas quanto
psíquicas e sociais. Momentos de construção de personalidade,
Ao mostrar a imagem da obra, que faz parte do acervo da Criar duas listas pode ser útil para avançar nas comparações entre que podemos explorar a partir de uma autorreflexão.
Pinacoteca devido a uma doação feita pela própria artista, você as sensações despertadas pelos dois elementos e assim alcançar
pode convidar o grupo a tentar identificar materiais e elementos as contradições: enquanto o azulejo pode ser percebido como Peça aos alunos que, individualmente, listem as características
a partir de seus próprios repertórios. frio e asséptico, a carne pode se mostrar quente e macia, levando pessoais que julgam ser marcantes em suas personalidades.
o observador a considerar que algo frio por fora pode ser quente Estimule-os a refletir sobre essas características e buscar entre as
Acompanhe os estudantes em seu processo coletivo de nomea- por dentro, por exemplo. presentes em sua lista aquelas que julgam mais preponderantes.
ção do que reconhecem, reunindo pistas para fazer uma descri- A partir dessa seleção, oriente-os para que busquem o antôni-
ção detalhada da escultura: trata-se de uma peça em formato Para avançar no exercício de leitura, pode ser interessante pensar mo dessas características, ou seja, quais outras características
de coluna, com base quadrada, cuja parte superior parece estar no que cada um sente diante das percepções levantadas, tentan- poderiam ser consideradas o oposto daquelas que compõem sua
danificada, dada sua irregularidade. A superfície da parte de do identificar, por exemplo, se sentem atração ou repulsa, bem personalidade.
baixo da peça foi pintada com padrões que se assemelham a um como outros tipos de reações emocionais ou sensíveis.
revestimento de azulejos. A parte de cima da coluna parece que- Peça que, a partir dessa oposição, criem uma imagem (em pin-
brada, demolida ou em ruínas e a pintura sugere que o interior DICA: Relembre os estudantes que Adriana Varejão se interessa tura, escultura, colagem, fotografia ou outro meio que julguem
da coluna é feito de carne. pelas dualidades da arte barroca colonial, e, se puder, mostre potente) capaz de sintetizar essa oposição.
algumas imagens de obras barrocas que enfatizem as chagas,
Chama a atenção também a composição da peça: as duas primei- feridas e outras formas de simular a carne e a pele em escultu- Sugira que busquem materiais, mesmo que não usuais em
ras fileiras de decoração horizontais, que começam rente ao chão, ras e pinturas. Para fazer sua seleção, você pode, por exemplo, arte, que possam expressar essas características. Reforce que,
simulam azulejos de fundo azul com estampa branca (um padrão visitar o Museu de Arte Sacra de São Paulo em uma exposi- como no caso da escultura de Varejão, os opostos podem se
de flor de oito pétalas), com as cores que marcam a azulejaria bar- ção online, neste link: https://artsandculture.google.com/story/ complementar, afastar, dialogar entre si, e que a imagem final
roca. Logo acima, a pintura que simula as próximas fileiras de azu- QgXR7JULEYKDKQ?hl=pt-BR poderá representar essa oposição inclusive como complementar.
lejo cria uma estampa de losangos alternados em verde e amarelo. Ao final, proponha que cada aluno dê título a sua imagem, evi-
Que título você daria a essa obra? Por quê? tando, porém, nomes literais, como força x fraqueza, mas, antes,
Você pode comentar com a turma que tanto os azulejos quanto a buscando títulos que possam resumir as forças opostas apresen-
carne são elementos que aparecem em muitas obras de Adriana Investigue com os alunos os porquês de suas sugestões. O mais tadas na imagem e que caracterizam cada aluno.
Varejão e que este trabalho em específico faz parte de um conjun- importante aqui são as justificativas sobre as escolhas feitas.
to de seis obras que evocam prédios ou arquiteturas de cidades. Deste exercício podem sair lógicas de contradição, como macio e Para finalizar, pode-se montar uma exposição com os trabalhos
rígido, quente e frio, orgânico e inorgânico. Mas também podem produzidos, sem entretanto nomeá-los explicitando seus autores,
Para aprofundar a análise da forma dos elementos, instigue os surgir sugestões como: colorido; coluna; sustentação etc. Explore para que não se exponham.
Distribuição gratuita / Proibida a comercialização.

estudantes a conversarem sobre a ideia da artista de perceber com os alunos essas possibilidades, pedindo que localizem na
o revestimento de azulejos como uma espécie de “pele” que obra as justificativas de suas escolhas. Ao final desse processo,
recobre os edifícios, como ela mesma comenta nas entrevistas avance para as perguntas:
presentes no catálogo da mostra.
O nome do trabalho, Ruína Brasilis, te faz pensar em quê?
Que recursos de pintura e escultura a artista utilizou para Que relações podemos estabelecer entre a obra e seu título?
simular que a peça é feita de azulejo por fora e carne por
dentro? Chame a atenção da turma para o fato de que, em muitas de
suas obras, Adriana Varejão trabalha também o título como parte
Chame a atenção do grupo para o fato de que a peça tem mais de sua construção poética. Neste caso, o nome da obra oferece
de dois metros de altura e consiste em uma estrutura de alumínio pistas importantes para resgatarmos a história da construção de
realização

Secretaria de
Cultura e Economia Criativa

O Grupo Boticário e Gol Linhas Aéreas não se beneficiaram de renúncia fiscal.

Adriana Varejão:
Suturas, fissuras, ruínas

Caro(a) professor(a):

Este material de apoio à prática pedagógica foi Neste material, sugerimos caminhos de investiga-
elaborado pela Pinacoteca de São Paulo para subsi- ção que você, professor(a), pode trilhar com seus es-
diar os trabalhos dos docentes com a inserção quali- tudantes. Reforçamos o caráter instrumental das re-
ficada de conteúdos da arte, cultura e patrimônio no produções, pois são referências que não substituem
currículo da educação formal, utilizando imagens de o contato direto com as obras originais.
obras de seu acervo ou de exposições temporárias Os textos que acompanham as imagens convidam a
como recursos educativos em sala de aula. Destina- conhecer o trabalho da artista e seu processo de pesqui-
-se, a princípio, aos professores do ensino fundamen- sa e criação, a fruir suas obras, a pensar e responder a
tal II e ensino médio, responsáveis pelo componente elas criativamente, refletindo sobre questões suscitadas
curricular Arte, mas esperamos que docentes de ou- por elas. O conjunto pode ser utilizado como subsídio
tras séries e componentes também possam utilizá-lo, para preparar encontros, aulas ou mesmo uma visita
fazendo as adaptações necessárias às especificidades ao museu e, em particular, à exposição em foco; pode
de suas turmas e áreas. ser utilizado também como desdobramento e conclu-
Este material aborda conteúdos relacionados à são do contato direto com as obras da artista Adriana
exposição Adriana Varejão: Suturas, fissuras, ruínas, Varejão, após a realização da visita. Além disso, o ma-
realizada em 2022 na Pinacoteca, com curadoria de terial pode ser um instrumento de aproximação entre
Distribuição gratuita / Proibida a comercialização.

Jochen Volz. as obras estudadas e a produção artística das últimas


As duas imagens aqui reproduzidas são de obras décadas do século XX e início do XXI, disponível em
da artista Adriana Varejão, nascida no Rio de Janei- outros materiais educativos produzidos pelo museu.
ro em 1964: a obra Proposta para uma catequese – Esperamos que você explore esses conteúdos e recur-
Prato, de 2014, que está em situação de comodato sos para além das possibilidades sugeridas, integrando
na exposição de longa duração do museu, chamada suas próprias ideias às nossas sugestões e aproprian-
Pinacoteca: Acervo, e a obra Ruína Brasilis, de 2021, do-se delas como inspiração para criar novos percursos
doada pela artista ao acervo da Pinacoteca. educativos a serem trilhados com seus estudantes.
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O material está organizado da seguinte maneira: Um diálogo costuma ter acordos e desacordos,
mas se baseia na compreensão de que é preciso
• Orientações aos educadores – para trabalhar saber escutar o outro e poder expressar-se. Assim,
com imagens de obras de arte em sala de aula. é fundamental garantir que todos tenham a pos-
• Foco de interesse – opções que orientam o sibilidade de apresentar ideias e compartilhá-las
percurso educativo. num ambiente de respeito mútuo, dialogando de
• Contextos – breves comentários sobre temas de maneira prazerosa e consciente. Expor aos alunos
interesse para o uso educativo das imagens. uma imagem para leitura implica conduzir um pro-
• Biografia – algumas informações sobre a vida e cesso de observação no qual eles mesmos possam
trajetória da artista. investigá-la, percebê-la e analisá-la. As questões
• Glossário – definições de termos utilizados (subli- formuladas para orientar a leitura da imagem ad-
nhados no texto). mitem como corretas respostas diversas. A cada
• Bibliografia – textos consultados e/ou recomen- resposta, incentive a referência à imagem da obra
dados para aprofundar a reflexão. da qual partiu a leitura, reconduzindo o olhar de
• Jogo – proposta de atividade lúdica a ser desen- todos ao objeto de análise. Lembre-se de que cabe
volvida com os alunos. ao professor valorizar cada interpretação atribuída
• Reprodução das obras e propostas educati- à imagem, favorecer o diálogo e o compartilha-
vas – encartes com reproduções das obras Pro- mento de opiniões entre os alunos e articular a in-
posta para uma catequese – Prato (2014) e Ruína tegração dos diversos significados percebidos, de
Brasilis (2021), que trazem no verso as respectivas modo a aprofundar a capacidade de fruir e com-
orientações educativas para leitura de imagem e preender as imagens.
também propostas poéticas. Evite ler os créditos da obra (título, tamanho,
técnica) antes de proceder à leitura com os alunos:
1. Orientações aos educadores expor prematuramente esses dados pode inibir a in-
vestigação. O contexto histórico da obra, o artista,
LEITURA DE IMAGEM é a estratégia utilizada pelo período ou estilo artístico devem ser considerados
professor para propor um diálogo entre os estudantes como estímulos para novas discussões, elementos
a partir da observação da imagem, explorando seus sig- para articular a interpretação dos estudantes, e não
nificados e os aspectos técnicos, formais e contextuais. como dados a serem memorizados.
Informações e conteúdos sobre a arte, os processos de Procure aproveitar as possibilidades geradas a
produção, autores e épocas podem ser conhecimentos partir da leitura das imagens para realizar propostas
importantes para ampliar e estimular a percepção, in- conjuntas com professores de outras disciplinas. A
terpretação, análise e crítica das obras, desde que não arte é uma área de conhecimento com conteúdos
tomem o lugar do ato de olhar com curiosidade para próprios e habilidades específicas. O trabalho com
uma obra como algo desconhecido, a ser descoberto. arte inclui aspectos relativos à recreação, equilíbrio
psíquico, expressão criativa e desenvolvimento de
PROPOSTAS POÉTICAS são atividades lúdico-plás- habilidades motoras, mas deve ir além disso. É pre-
ticas que visam concretizar, tornando vivenciais, os ciso ter clareza quanto aos objetivos de cada ativi-
conteúdos tratados na leitura de imagem. Além de dade proposta e estabelecer critérios de avaliação
visuais, as atividades podem também ser musicais, de processos e resultados que sejam claros para os
corporais ou verbais. Propõem uma investigação com alunos. Contamos com a capacidade de mediação
os mesmos focos de interesse tratados em âmbito e a criatividade do professor para transformar os
perceptivo e cognitivo, incentivando os estudantes a percursos educativos segundo as especificidades
conhecer, analisar, perceber e interpretar os traba- da turma, de modo a permitir um contato signifi-
lhos que realizarem no percurso. cativo com a arte. As estratégias de mediação aqui
O mundo de hoje oferece aos estudantes grande apresentadas são inter-relacionadas e não precisam
quantidade de imagens. Eles estão acostumados a acontecer necessariamente na ordem em que apa-
vê-las, a manipulá-las, mas não a pensar criticamen- recem no texto.
te sobre elas. Os percursos educativos aqui propostos A partir da experiência com este material, incen-
buscam estimulá-los a refletir de modo criativo sobre tivamos você a pesquisar outros artistas da mesma
o que veem. A leitura da imagem é um ponto de par- época ou que trabalhem com questões, técnicas e te-
tida para estabelecer um diálogo: o mais importante é mas semelhantes aos das obras aqui estudadas, bus-
partilhar com os estudantes o prazer de descobrir sig- cando estabelecer relações com elas como inspiração
nificados ao interagir com o universo da arte. Para des- para criar novos percursos educativos.
pertar realmente o interesse, é necessário perceberem Você pode começar sua pesquisa pelo próprio
que os conteúdos explorados podem adquirir para acervo da Pinacoteca, explorando tanto as obras
eles sentido próprio, e que essas descobertas podem quanto os outros recursos educativos disponíveis
ter repercussões práticas na vida presente e futura. para sua escola!

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2. Foco de Interesse sua primeira viagem à cidade de Ouro Preto (MG), em
1986, quando entrou em contato com o imaginário
Propor um percurso educativo implica escolher barroco e colonial das igrejas da cidade, com destaque
um caminho entre os muitos possíveis. Esperamos para a Igreja Matriz de Santa Efigênia. A experiência
que, além do que sugerimos aqui, você busque ou- culminou na incorporação de imagens e símbolos re-
tras trilhas para trabalhar com estas imagens, e que ligiosos em suas pinturas, além do compromisso de
também registre essas trilhas para poder comparti- estudar o Barroco do Brasil e da América Latina.
lhá-las com outros professores e refletir sobre sua A partir dessas pesquisas, surgiu também o interesse
própria prática educativa. da artista pela azulejaria, uma tradição portuguesa de
Novas pistas para iniciar seus trajetos podem ser origem chinesa que se espalhou no território brasileiro
encontradas nas indicações bibliográficas. durante o período colonial. Adriana passou a colecio-
O foco de interesse relacionado a este material nar esse tipo de azulejo desde os anos 1980, e costu-
explora algumas reflexões sobre as narrativas dos ma se apropriar de suas imagens e formas para criar
processos de colonização e sobre a própria his- suas pinturas. A azulejaria é uma das principais fontes
tória do Brasil; explora também, a partir da expo- de referência e investigação para a realização de várias
sição Adriana Varejão: Suturas, fissuras, ruínas, o de suas pinturas, que muitas vezes nos provocam, cau-
modo como essas narrativas costumam ser desafia- sando a sensação de estarmos diante de espaços tridi-
das nas obras da artista. mensionais. Em outras, podemos pensar que estamos
As duas obras escolhidas para serem reproduzidas diante de azulejos, com seus craquelados, imperfeições,
neste material possibilitam a construção de percursos fendas e desgastes do tempo, além de fragmentos das
que têm como foco principal a abordagem que a arte imagens em azul e branco da arquitetura colonial bra-
de Adriana Varejão estabelece com esses temas. sileira presente em cidades como Salvador e Cachoeira
(BA), Ouro Preto (MG) e Olinda (PE), entre outras.
Entre a imagem na arte de Adriana Varejão e a Da iconografia de santos e outras imagens reli-
narrativa na historiografia giosas barrocas se desenvolve em Varejão o interesse
pelas chagas, a carne dos corpos à mostra, a pele, os
A mostra Adriana Varejão: Suturas, fissuras, ruí- cortes que deixam visíveis o dentro e o fora das coi-
nas é uma exposição monográfica e panorâmica sas, evidenciados de modo ainda mais claro em suas
de Adriana Varejão (Rio de Janeiro, 1964), com pinturas tridimensionais.
curadoria do diretor-geral da Pinacoteca de São Paulatinamente, a artista passou a criar trabalhos
Paulo, Jochen Volz. dedicados à construção de “ficções históricas”, com
As palavras suturas, fissuras e ruínas, que nomeiam pinturas que buscam atribuir novos sentidos às visões
a mostra, fazem referência a procedimentos artísticos hegemônicas sobre os mitos da formação do Brasil,
utilizados pela artista, que se utiliza dessas ações como à dominação cultural europeia e à violência da escra-
metáforas de reparação, tensão e desconstrução que vidão, reelaborando por meio da paródia e da ficção
marcam as relações, as políticas e a cultura brasileiras. mapas, cenas e paisagens criadas por artistas viajan-
Ao longo de sua trajetória artística, Adriana Varejão tes que fazem parte de visão colonizadora europeia
criou trabalhos e uma pesquisa na qual convivem e se do passado do país, chegando à realização de uma
enfrentam elementos como azulejos, o ouro, o mar, investigação acerca dos tons de pele dos brasileiros.
os anjos, as sereias, os heróis nacionais, os povos ori- Outro interesse recorrente na produção de Adria-
ginários e escravizados, os saberes locais e ancestrais. na é o mar, seja pela via dos micro-organismos que
Cobrindo 37 anos de produção da artista, entre os deram origem à vida no planeta, seja pelas narrativas
anos de 1985 e 2022, a curadoria selecionou cerca míticas e históricas relacionadas à sua vastidão. Entre
de 60 obras que integram diferentes coleções de arte os exemplares desse interesse estão algumas pinturas
e nos convidam a conhecer uma diversidade de abor- do início de sua carreira e pinturas em pratos de
dagens para o trabalho da artista e a complexidade grandes proporções que fazem referência à tradição
de suas pesquisas plásticas e teóricas, em uma pro- de cerâmica faiança da região de Caldas da Rainha
dução que se destaca na arte contemporânea mun- (Portugal), atualizada no final do século XIX pelo ar-
dial ao mesmo tempo em que incorpora discussões tista Rafael Bordallo Pinheiro (1846-1905).
relevantes da cultura brasileira. O assunto da pintura e seu fazer também são im-
A exposição reúne trabalhos realizados desde a portantes fatores de pesquisa de Adriana Varejão,
época em que Adriana Varejão estudava na Escola que explora a construção dos espaços arquitetônicos
de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, abordando, por exemplo, imagens de saunas que
na década de 1980, passando por diversas séries e pesquisou e visitou ao longo dos anos, ou de autor-
conjuntos de obras até chegar às suas produções tri- representações criadas em diálogo com pinturas mi-
dimensionais atuais. nimalistas norte-americanas.
Sua carreira e reconhecimento público tiveram iní- A artista também cuida atentamente da forma de
cio com a realização de alguns trabalhos a partir de exibir suas obras, como no caso do conjunto de pintu-

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ras da série Estudo sobre Tiradentes de Pedro Américo gem para reconsiderar as histórias dos vencedores e
(Reflexo de sonhos no sonho de outro espelho), de vencidos, opressores e oprimidos. A tese da artista se
1998. São obras que foram criadas para serem exibi- debruça sobre seu interesse pela historiografia do Bra-
das em uma sala quadrada e proporcionar a experiên- sil, presente em sua produção de maneiras variadas.
cia de vislumbrar reflexos, em espelhos, de um corpo O destaque, neste caso, está no modo como Adria-
que não estaria na sala, mas sim na memória de quem na Varejão analisa a história e escolhe elementos que
a atravessa, já que foi inspirada na obra Tiradentes Es- possibilitam sua desconstrução e recriação como uma
quartejado, feita pelo artista Pedro Américo em 1893, nova narrativa ficcional e singular, abrangendo e in-
mostrando o corpo mutilado de Joaquim José da Sil- terpretando momentos do passado a partir de outros
va Xavier (1746-1792). Esse cuidado e esse interesse pontos de vista e de narrativas críticas que não sejam
aparecem também na forma como a artista ocupou o europeias. Ou, ainda, por meio da apropriação de
Octógono da Pinacoteca em sua exposição retrospec- fragmentos de outras imagens com ou sem autoria
tiva, reunindo as Ruínas de Charque, sua série mais re- identificada, dando origem a paródias que nos convi-
cente (2021), um conjunto de pinturas tridimensionais dam a ver com mais vagar e a desconfiar daquilo que
que evocam a azulejaria e a carne como metáforas da vemos, olhar com ironia e rever o que pensamos sobre
construção do Brasil, mostrando em suas estruturas o passado de nosso país e as relações políticas de cau-
um complexo jogo entre a frieza e assepsia da apa- sa e efeito em movimentos de opressão.
rência externa e o interior orgânico e quente das coi- Assim, devido ao seu interesse em discutir os des-
sas vivas, contraste que marca trabalhos de diferentes dobramentos culturais do colonialismo como prática
épocas ao longo da carreira e da produção da artista. de exploração e violência contra povos originários
e escravizados, Adriana Varejão investiga, explora
e examina a história visual do Brasil, abordando em
3. Contextos seus trabalhos as narrativas presentes nas tradições
iconográficas europeias e nas convenções da arte
“Se meu campo fosse a literatura, escreveria ro- ocidental, conforme especifica o professor Stéphane
mances históricos. Sou uma artista contempo- Huchet (2014), ao defender que a artista cria ima-
rânea com preocupações atuais. As figuras da gens cheias de intenções que estão sempre além do
História que utilizo, apesar de recorrentes, são desejo de representar algo, utilizando narrativas frag-
moldadas para um tempo presente. Faço uso da mentadas para que o espectador possa tirar suas pró-
paródia, de arremedos.” Adriana Varejão1 prias conclusões e criar seus próprios sentidos diante
das construções elaboradas em seus trabalhos.
A afirmação de Adriana Varejão sobre seu in- Fazem parte de seu repertório de imagens rela-
teresse pela elaboração de narrativas por meio de cionadas ao período colonial brasileiro, entre ou-
estratégias de criação de paródias pode ser um in- tros elementos, os azulejos, os mapas e os regis-
teressante ponto de partida para abordar suas pes- tros dos viajantes.
quisas e produção. Ao longo de toda a sua carreira, Adriana sustentou
A paródia é reconhecida desde o século XVI como o compromisso de, em seu trabalho de arte, questio-
um recurso de produção de narrativas, em imagem nar as imagens e narrativas europeias em museus, igre-
ou texto, que funciona como uma possibilidade de jas e livros sobre os acontecimentos e relações que se
confrontar diferentes abordagens para uma mesma deram em todo o período colonial brasileiro, as ideias
história, fato ou acontecimento. Seu mecanismo de- sobre indígenas e negros escravizados na formação
safia o leitor/observador a construir sentidos a partir cultural do país e as inúmeras histórias de opressão e
do humor, da desconfiança ou do assombro diante abuso dadas neste contexto, sobre as quais se debru-
da coexistência de conteúdos formais, textuais ou te- çam as pesquisas acerca dos processos de colonização
máticos aparentemente conflitantes, que podem nos e atualmente, em paralelo, os estudos decoloniais.
levar a duvidar ou a querer revisar fatos, ideias ou até
mesmo as “certezas” que constituem o que chama-
mos de “visão de mundo”, o elemento que podemos 4. Biografia
considerar cultural em nossa forma de organizar o
que sabemos sobre os contextos em que vivemos. Adriana Varejão nasceu em 1964 no Rio de Janeiro
De acordo com Carlos Vinicius Taveira (TAVEIRA, (RJ), onde vive e trabalha. Em 1981 ingressou no curso
2016), as narrativas criadas por Adriana Varejão têm de engenharia da Pontifícia Universidade Católica do
como premissa a ideia de que o passado consiste no Rio de Janeiro (PUC/RJ), abandonando o curso no ano
que contamos sobre os acontecimentos, abrindo mar- seguinte. Nesse mesmo período começou a fazer al-
1 TEIXEIRA, Nincia Cecilia R. B. O corpo feminino na obra de guns cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque
Adriana Varejão: transgressão e ruptura. In: Desenredo: Re- Lage (EAV/Parque Lage). Em 1986 recebe o Prêmio
vista do Programa de pós graduação em letras / Universidade Aquisição do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, pro-
de Passo Fundo, vol. 1, n. 1. Passo Fundo: Universidade de
Passo Fundo, 2005, p. 301. movido pela Fundação Nacional de Artes (Funarte/RJ).

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Em 1988 acontece sua primeira exposição individual, século XX até a atualidade e questionam os sentidos e
na Galeria Thomas Cohn, Rio de Janeiro, e no mesmo definições de arte, artista e circuito artístico, entre outros
ano participa da mostra Brasil Já, no Museu Morsbroi- conceitos específicos da área. As reflexões e processos
ch, em Leverkusen (Alemanha), e da coletiva U-ABC, no que envolvem a produção da arte se tornam focos de
Stedelijk Museum, em Amsterdam (Holanda). interesse dos artistas, que muitas vezes não se concen-
Participa em 1993 de uma residência artística pro- tram em construir uma obra de arte material, mas, sim,
movida pelo Instituto Goethe em Maceió, seguida de preocupam-se com os conceitos e ideias que estão por
uma viagem pelo Nordeste brasileiro, uma oportuni- trás do processo criativo e que, nesse momento, podem
dade para aprofundar sua pesquisa sobre arte sacra, tornar-se a própria obra, mesmo sendo imateriais e não
artesania popular, ex-votos e azulejaria, entre outros palpáveis. Assim, é problematizada a vinculação, usual
materiais e linguagens artísticas simbolicamente rela- até então, das obras de artes plásticas às categorias de
cionados à cultura e à história do Brasil. pintura, escultura, desenho, gravura e arquitetura. Essas
Em 1994 participa da 22º Bienal Internacional de São linguagens continuam a ser utilizadas pelos artistas, mas
Paulo, tendo também integrado a 24º (1998) e a 30º podem mesclar-se a novas formas de expressão artís-
(2012) edições da mesma Bienal. Ao longo de sua tra- tica que experimentam diferentes materiais e temas e
jetória, participou de inúmeras exposições individuais e inclusive se expandem para além do campo artístico e
coletivas, nacionais e internacionais. Em 2008, ganhou adentram outras áreas da vida e do saber, como a po-
a Medalha de Chevalier des Arts et Lettres do governo lítica, a antropologia, a biologia, a economia etc. Dessa
francês e, em 2011, a Ordem do Mérito Cultural do Mi- forma, os artistas produzem obras de arte a partir de
nistério da Cultura do Brasil. Também recebeu o Grande referenciais variados: sons, linguagem escrita, movimen-
Prêmio da Crítica (categoria Artes Visuais) da Associação tos corporais, madeira, pedras, pigmentos, papeis, vidro,
Paulistana de Críticos de Arte – APCA pela exposição máquinas – como a máquina fotográfica, o computador
“Histórias às margens”, em 2012, e o Prêmio Mario Pe- ou a filmadora –, ações e comportamentos realizados
drosa (artista de linguagem contemporânea) da Associa- pelo artista e intervenções na vida cotidiana de qualquer
ção Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), em 2013. espaço social (um museu, praça, escola) que concreti-
Desde a década de 1990, Adriana Varejão vem in- zam ideias do artista, entre outros.
corporando ao seu trabalho elementos da iconogra-
fia colonial, se apropriando de temas, materialidades Barroco – Entre o final do século XVI e início do sécu-
e linguagens da cultura e da história do Brasil, como a lo XVIII, o movimento artístico Barroco, que surgiu na
colonização, a pintura e a azulejaria, juntamente com Itália, se difundiu principalmente pelos países católicos
a antropofagia e a transubstanciação, invertendo re- da Europa e da América Latina, opondo-se às ideias
lações de poder entre colonizadores e colonizados. do movimento renascentista. O Barroco surgiu em um
Em 2022, a Pinacoteca do Estado de São Paulo ce- momento de contradições e conflitos entre as mani-
lebra sua trajetória artística com a exposição Adriana festações da fé e a valorização da razão. Sendo assim,
Varejão: Suturas, fissuras, ruínas. é marcado pela temática religiosa (isto é, pela ideia da
onipresença divina), pela antítese, pela metáfora e tam-
DICA! bém pelo paradoxo. A linguagem barroca é conhecida
Para conhecer outras obras da artista Adriana Va- pelo rebuscamento, exagero e dramaticidade, em com-
rejão, ler textos sobre sua produção e ampliar as posições que resultam em tensões contrastantes entre o
pesquisas com os estudantes, visitem o seu websi- mundo espiritual e o mundo material. No Brasil, as ma-
te: http://www.adrianavarejao.net/br/home nifestações barrocas surgem no início do século XVII na
arquitetura, pintura, escultura e literatura, sendo essa a
manifestação artística que perdurou por quase todo o
5. Glossário período colonial. A exploração de ouro em Minas Gerais
contribuiu para o florescimento do movimento na região,
Acervo – Pode ser chamado também coleção. Re- principalmente no campo da arquitetura e da escultura.
fere-se a um conjunto de objetos, sejam naturais ou
artificiais (livros, documentos, obras de arte, teste- Curadoria – Atividade desempenhada pelo curador,
munhos, peças históricas, peças botânicas etc.), que profissional responsável pela pesquisa em torno dos
são retirados temporária ou permanentemente das objetos de arte reunidos numa coleção. Muitas vezes,
suas funções usuais, recebendo cuidados específicos a partir desse estudo inicial, o curador propõe exposi-
e proteções especiais. Os elementos que compõem ções, definindo seus conteúdos, temas e público-alvo e
um acervo ou coleção são selecionados, classificados, elaborando a organização física das obras no espaço a
organizados e conservados por um indivíduo ou uma ser ocupado pela mostra, entre outros aspectos. A cura-
instituição, que usualmente pode exibi-los ao público. doria também se refere ao processo desenvolvido em
torno de uma coleção: seleção de objetos para com-
Arte contemporânea – Refere-se a produções artísti- pô-la, aquisição dessas peças, pesquisa e comunicação
cas que se tornaram recorrentes da segunda metade do (por meio de publicações e realização de mostras).

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Comodato – Contrato pelo qual é realizado um 6. Referências bibliográficas
empréstimo com a obrigação de devolução em data
combinada. No caso dos museus de arte, o comoda- ABREU, Gilberto de. Navegando em um mar de
to geralmente ocorre quando uma coleção particular azulejos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 6 fev.
de obras de arte é emprestada para que o museu 2001, p. B8.
possa exibir suas obras, tendo como contrapartida
seu cuidado e conservação. ABREU, Capistrano de. Capítulos de história colonial,
1500-1800. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Pu-
Estudos decoloniais – São os estudos que confron- blifolha, 2000.
tam padrões de poder entre o colonizador e o colo-
nizado, bem como sua continuidade. A colonialida- AGUILAR, Gonzalo. Poesia Concreta Brasileira: As
de do poder se dá em diferentes instâncias, como o Vanguardas na Encruzilhada Modernista. São Paulo:
controle da economia, da autoridade, da natureza e Editora da Universidade de São Paulo, 2005.
seus recursos, do gênero e da sexualidade, da subje-
tividade e do conhecimento, tendo como resultado
ALONSO, Angela. Ideias em movimento: a geração
um controle das relações de trabalho e da produção
1870 na crise do Brasil Império. São Paulo: Paz e Ter-
determinado por uma raça (Quijano, 2005).
ra, 2002.

Faiança – Muito difundida em Portugal, a faiança


ANDRADE, Oswald. A utopia antropofágica. São
é um tipo de cerâmica branca menos pura por ter
Paulo: Globo, 2011.
menos caulino em sua composição e por sua queima
ser feita em temperaturas mais baixas do que a por-
BAITELLO JR., Norval. A era da iconofagia: En-
celana. Apesar de ser um material resistente, apre-
saios de comunicação e cultura. São Paulo: Hacker,
senta uma superfície porosa, daí a necessidade de
2005.
esmaltação da peça. Diferentemente da porcelana,
na faiança o esmalte não se funde à cerâmica no pro-
DIEGUES, Isabel (org.). Adriana Varejão: entre carnes
cesso de queima, devido à temperatura mais baixa
e mares [between flesh and oceans]. Textos: Silviano
de cozimento, formando assim uma casca superficial
Santiago, Lilia Moritz Schwarcz, Karl Erik Schøllham-
de tom marfim, que, com o passar do tempo, pode
mer, Luiz Camillo Osorio e Zalinda Cartaxo. Rio de
ficar com um aspecto craquelado.
Janeiro: Cobogó, 2009.
Historiografia – É o estudo sobre a maneira
como a história é escrita, considerando diferentes HERKENHOFF, Paulo. Adriana Varejão, da China bra-
abordagens e metodologias empregadas pelos sileira à unificação com o mundo. Galeria Revista de
historiadores, de modo a refletir o porquê de os fa- Arte, São Paulo, n. 31, p. 24-31,1992.
tos históricos poderem ter diferentes interpretações.
Leva em conta diferentes perspectivas e sujeitos da HIRSZMAN, Maria. Uma identidade em fragmen-
história, que podem resultar em novas teorias que tos. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 17 set. 1998,
mudem a maneira como entendemos o passado. p. D8.
Esse estudo tem reconhecido e discutido processos
de mudança na escrita da história. HUCHET, Stéphane. A história da arte, disciplina lu-
minosa. Rev. UFMG, Belo Horizonte, v. 21, n. 1 e 2,
Iconografia – Refere-se aos elementos visuais, como p. 222-245, jan./dez. 2014.
símbolos e temas, que compõem uma obra de arte
figurativa. É também o nome dado à documentação KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo.
visual que constitui ou complementa uma obra de 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
referência escrita. O termo refere-se ainda a uma
disciplina da História da Arte que estuda a origem, LAGNADO, Lisette. Adriana Varejão: pintura como
descrição e contextualização da representação visual fim. Galeria Revista de Arte, São Paulo, n. 11, p. 74-
das imagens, símbolos, motivos e atributos presentes 77, 1988.
em uma obra de arte.
MOLINA, Camila. Adriana Varejão e sua ficção vi-
Transubstanciação – A Igreja Católica defende e sual. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 30 abr. 2010,
acredita na presença de Jesus Cristo na Eucaristia, ou p. D9.
seja, acredita na mudança da substância do pão e do
vinho, que se tornam a substância do Corpo e San- MORAES, Marcos. Adriana Varejão. São Paulo: Folha
gue de Jesus Cristo no ato da consagração realizada de São Paulo; Instituto Itaú Cultural, 2013. (Coleção
pelo padre ao celebrar o rito da missa. Folha Grandes Pintores Brasileiros, v. 5).
6
6
MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO TAVEIRA, Carlos Vinicius da Silva. As fronteiras
PAULO, SP. Arte contemporânea. Curadoria geral e os usos da história na produção artística de
Nelson Aguilar; curadoria Nelson Aguilar, Franklin Adriana Varejão. Tese de doutorado da Pontifícia
Espath Pedroso; tradução Arnaldo Marques, Ivone Universidade Católica do Rio de Janeiro, Depto.
Castilho Benedetti, Izabel Murat Burbridge, Katica Letras, 2016. Acessível em: https://www.dbd.pu-
Szabó, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal c-rio.br/pergamum/tesesabertas/1213294_2016_
de São Paulo; Associação Brasil 500 anos Artes Vi- completo.pdf
suais, 2000.
TEIXEIRA, Nincia Cecilia R. B. O corpo feminino na
NERI, Louise. Admirável mundo novo: os territórios obra de Adriana Varejão: transgressão e ruptura.
barrocos de Adriana Varejão, 2001. In: Adriana Vare- In: Desenredo: Revista do Programa de pós gradua-
jão. São Paulo: Takano Editora Gráfica, 2001. Dispo- ção em letras / Universidade de Passo Fundo, vol.
nível em: http://www.adrianavarejao.net/pt-br/tex- 1, n. 1. Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo,
tos-e-publicacoes/textos-selecionados. Acesso em: 2005, p. 301.
03 out. 2014.
VOLZ, Jochen. Apresentação. In: Pinacoteca: acervo
NERI, Louise (org.). Adriana Varejão. Textos de Louise – Guia de visitação. Vários autores. São Paulo: Pina-
Neri e Paulo Herkenhoff. São Paulo: Takano, 2001. coteca de São Paulo, 2020, p. 05-07.

QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, eurocen- PICCOLI, Valeria. Um museu entre muitos. In: Pi-
trismo e América Latina. In: QUIJANO, Anibal. A colo- nacoteca: acervo – Guia de visitação. Vários au-
nialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais, tores. São Paulo: Pinacoteca de São Paulo, 2020,
perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLAC- p. 11-13.
SO, 2005, p. 117-142.

ASSOCIAÇÃO PINACOTECA ARTE E CULTURA - APAC


Prates, Valquíria. Organização Social de Cultura
Material de apoio à prática pedagógica : Adriana
Varejão : suturas, fissuras, ruínas / Valquíria Prates. -- São
Paulo : Pinacoteca de São Paulo, 2022. Conselho de Administração Material de Apoio à Prática Pedagógica
Presidente: Cláudio Thomaz Lobo Sonder Adriana Varejão: Suturas, fissuras, ruínas
Material educativo - exposição realizada na Pinacoteca Vice-Presidente: Tito Amaral de Andrade
de São Paulo, de 26 de março a 01 de agosto de 2022. Conselheiros: Beatriz Yunes Guarita, Pesquisa e Redação
8 p. ; + 2 lâms. Valquiria Prates
Christopher Andrew Mouravieff-Apostol,
ISBN 978-65-89070-15-3 Denise Aguiar Álvarez, Leila Graziela Costa Oliveira,
Frederico Trajano Inácio Rodrigues, Giselle Beiguelman, Edição de Texto
1. Varejão, Adriana, 1964 – 2. Arte brasileira. 3. Gabriela Aidar
Marcelo Secaf, Mariangela Ometto Rolim,
Educação em museus de arte – Brasil. I. Pinacoteca de São
Paulo - Ação Educativa. Paula Pires Paoliello de Medeiros, Mila Milene Chiovatto
Rosana Paulino, Walter Appel.
CDD 707 Assistência
Diretor Geral Alana Íria Augusto
Jochen Volz Rafaella de Castro Fusaro
Fonte: Frutiguer
Diretor Administrativo e Financeiro Projeto e Produção Gráfica
Papel: off-set 120 gm/m2
Marcelo Costa Dantas Claudio Filus
Tiragem: 2.500 exemplares, dos quais o total
será distribuído gratuitamente
Diretor de Relações Institucionais Revisão
Paulo Romani Vicelli Marcelo Brandão Cipolla

Núcleo de Ação Educativa Fotografia


Coordenação geral Isabella Matheus
Mila Milene Chiovatto Vicente de Mello

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Jogo de Coleta de Narrativas

Proposta

Propomos uma gincana como forma de levanta- 5. Vence a gincana o grupo que reunir a maior varie-
mento de narrativas a partir de seis perguntas relacio- dade de respostas para sua pergunta inicial.
nadas à cultura brasileira e sua história, abordando
as ideias que temos sobre a maneira como europeus, Sugerimos iniciar o jogo com uma discussão cole-
povos indígenas e povos africanos escravizados con- tiva que pode também dialogar com os conteúdos da
tribuíram para a criação da cultura brasileira. disciplina de história. Comece a discussão a partir das
seguintes perguntas:
Objetivos
O que são direitos?
• reunir narrativas e ideias sobre privilégios, precon- O que são deveres?
ceitos, saberes e dominação e submissão históricas O que é privilégio?
para identificar as diferentes visões que coexistem
sobre os processos de colonização do Brasil. Propostas de desdobramentos
• partilhar e refletir percepções e concepções de Na-
ção e identidade a partir da dinâmica de um jogo. Este tipo de jogo em grupo mobiliza a capaci-
dade de coletar, identificar, organizar e partilhar
Modo de jogar conteúdos. Mas é possível organizar desdobramen-
tos que envolvam a criação de imagens a partir das
1. Forme seis grupos (times) de pessoas. discussões realizadas. Entre essas possibilidades,
2. Cada grupo deve sortear uma das seis perguntas sugerimos o desenvolvimento de uma colagem a
do jogo. partir de imagens coletadas pelos alunos que pos-
3. Usando as perguntas, os grupos podem entrevistar sam ilustrar os temas em debate, ou a construção
colegas e funcionários da escola durante os inter- de uma imagem (desenho ou pintura) coletivos. Sa-
valos de uma semana de aula e reunir as respostas lientamos que o ideal é que essas atividades sejam
em pequenos pedaços de papel, que serão dobra- desenvolvidas num tempo estendido em relação ao
dos e guardados em uma caixa de cada grupo. proposto para a pesquisa.
4. Ao final do processo, a turma se reúne para con-
tabilizar as respostas de cada grupo e realizar uma Conteúdo das fichas geradoras de conversas
partilha coletiva.

O que você faz para Quais tecnologias


reconhecer e valorizar presentes no seu dia a
Você considera que tem
a presença das dia são fruto dos saberes
privilégios? Por quê?
culturas indígenas e e dos conhecimentos
E quais seriam eles?
afrodescendentes na das culturas indígenas e
cultura brasileira? africanas no Brasil?

Você acredita que


De que formas você Como você se refere aos
Distribuição gratuita / Proibida a comercialização.

o Brasil foi descoberto


reconhece e combate povos originários?
ou invadido?
a violência racial? Por quê?
Por quê?

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Distribuição gratuita /
Proibida a comercialização.

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