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2a Edição Ampliada
Coleção Comissões
ADVERTÊNCIA: É totalmente proibida a comercialização e a reprodução parcial
ou total desta obra, sem a devida autorização.
261 p.
DIRETORIA
MEMBROS
COORDENAÇÃO:
BERENICE REIS LESSA
MARIA CHRISTINA DOS SANTOS
COLABORADORES:
D
e modo geral, os projetos elaborados pela Comissão dos Direitos da
Pessoa com Deficiência da OAB/PR surgem de ideias simples, abstraí-
das de um contexto social, notadamente de situações do cotidiano das
pessoas carentes de um olhar diferenciado sobre questões que lhes são afetas.
Assim foi concebido o livro CONSCIENTIZAR PARA INCLUIR: Sexualidade, Vio-
lência e Família da Pessoa com Deficiência.
Boa leitura!
U
m dos méritos desta obra intitulada “Conscientizar para Incluir: sexua-
lidade, violência e família da pessoa com deficiência”, realizada pela
Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Ordem dos Advo-
gados do Brasil Seção Paraná, é sistematizar, em forma de diálogo, textos de
conteúdo técnico de qualidade e depoimentos que retratam a vida, a luta, os
sentimentos e a realidade das pessoas com deficiência e suas famílias. Organi-
zada em duas partes justapostas para promover esse diálogo entre abstração
e realidade, todos os textos se complementam com o propósito de interagir
com o leitor. É, portanto, ao mesmo tempo produto e matéria-prima, fruto e
semente. Convida o leitor a conhecer o resultado do trabalho da Comissão,
a interagir com uma realidade invisível para a maioria, instigando-o fazer seu
próprio juízo de valor sobre a efetividade dos direitos plasmados nesse ver-
dadeiro microssistema jurídico, e, por fim, convoca-o a fazer (sua) parte na
construção de uma sociedade mais justa e menos preconceituosa.
Talvez o grande desafio de cada geração seja o modo como, por nos-
sas ações, cumprimos nosso papel e escrevemos cada capítulo da história que,
no futuro, será lido pelas novas gerações, herdeiras (ou vítimas) de nossas
realizações. E, dentre tantos afazeres que constituem uma parte do que nos
definirá, encontra-se o modo como lidamos com o dever de concretizar a ideia,
o valor e o princípio de que todos os seres humanos são iguais em dignidade
e em direitos. O modo como, a cada nova geração, somos capazes, ou não, de
evoluir, depois de séculos construindo o significado da igualdade. Nesta obra
que tenho a honra de apresentar, observo, como testemunha, a importância
de cada esforço e cada vida envolvida na edificação de uma verdadeira evo-
lução. Parabéns e obrigada a todos os autores e autoras. A quem começa a
leitura, congratulações por esse primeiro passo, que é o interesse pelo tema,
e votos de proveitosa jornada.
O
trabalho realizado pelas 70 comissões temáticas da OAB/PR é notável,
envolvendo o debate de relevantes questões de cidadania. Comissões
que vão desde as principais áreas do direito, civil, penal, trabalhista,
tributário, previdenciário, consumidor, dentre outras, até as comissões que
envolvem direitos específicos, como os direitos das pessoas idosas, das crian-
ças e adolescentes, da diversidade sexual e a comissão dos direitos das pes-
soas com deficiência.
De fato, há uma distância muito grande ainda entre o que diz a Lei
13.146/2015, a lei básica dos direitos das pessoas com deficiência, e aquilo
que ocorre no cotidiano da nossa sociedade. Pouco do que a lei preconiza foi
concretizado, e no âmbito jurídico, para se ter uma ideia, ainda lutamos contra
as deficiências elementares das plataformas de processo eletrônico, que são
pouco amigáveis para grande parte das pessoas com deficiência visual.
Boa leitura!
C
ertamente muitos leitores irão se perguntar quem são e o que fazem
os integrantes da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência na
Ordem dos Advogados do Brasil, no Paraná – OAB/PR. São advogadas
e advogados nomeados pela Presidência da Instituição para assessorar a Di-
retoria e o Conselho Seccional com a finalidade de formular, orientar e acom-
panhar a política de inclusão e acessibilidade em âmbito interno. Dedicam-
se, igualmente, à realização de eventos, trabalhos escritos e ações conjuntas
com entidades afins, voltadas à sensibilização e conscientização da sociedade
quanto à importância de se respeitar, promover e assegurar o exercício dos
direitos humanos das pessoas com deficiência, para que possam participar de
forma plena e efetiva na sociedade.
Acima de tudo, são pessoas como você, com algum tipo de deficiên-
cia. São também mães, pais, familiares ou profissionais que, de alguma forma
ou por algum motivo, de repente tornaram-se ou passaram a conviver direta-
mente com as complexidades e manifestações da deficiência. Nestas condi-
ções, enfrentam a discriminação, o preconceito, o descaso do Poder Público, a
exclusão, a falta de conscientização e, assim, “colocam-se no lugar do outro”,
usando o seu conhecimento jurídico em prol do direito dessas pessoas, na sua
coletividade.
SEXUALIDADE 153
VIOLÊNCIA 169
FAMÍLIA 195
PARTE I
ARTIGOS JURÍDICOS
25
O
s acontecimentos que decorrem das escolhas políticas para funções
vitalícias da República, a exemplo dos cargos de ministro do Supremo
Tribunal Federal, geram dúvidas, algumas razoáveis, outras nem tanto,
mas que justificam, umas e outras, a exigência social pelo escrutínio dos can-
didatos a esses postos avançados do Poder Público no Brasil. Essa exigência
compõe o espectro político de uma democracia participativa e é importante
que esse exercício se torne uma prática costumeira nas sociedades politica-
mente esclarecidas.
1 Artigo postado no Blog do Silvinho – o Foco da Política Pernambucana. Disponível em: <https://
blogdosilvinhosilva.blogspot.com/2020/09/importancia-de-um-ministro-pessoa-com.html>.
Desse modo todo ativismo judicial deve ser entendido como excep-
cional e, sobretudo, obtemperado em face dos permissivos legais. Fora da
Roberto Wanderley Nogueira 27
Lei não há solução pacífica para nada nesta vida, ainda que nobres sejam os
consideranda com os quais se empenhe o intérprete para fazer valer os seus
valores, e não os valores constitucionalizados. Para uma reflexão generalista
dos postulados primevos da sociedade a que o magistrado está a serviço, cum-
pre ter a sobranceira humildade científica de compreender que cabe ao poder
constituinte – originário e derivado – e também ao Poder Legislativo proceder,
consoante a dinâmica de seus funcionamentos político-jurídicos (clássicos). De
fato, o juiz não é um legislador e a consciência técnica que o forja como opera-
dor do sistema jurídico é que se lhe aperfeiçoa a dignidade da própria função
e o conserva, sobranceiro, na própria atividade jurisdicional como elemento
integrante da engrenagem do Estado de Direito. Esse perfil confere ao Ma-
gistrado plena legitimidade de ação, motivo pelo qual, dentro dessas balizas
lógicas, priva de faculdades formidáveis para produzir decisões livres, calcadas
na racionalidade do próprio sistema jurídico (independência funcional).
trabalhar para eliminá-las e saber como fazê-lo com máximo grau de eficiência e
operacionalidade. Para isso, carece de massa crítica e aparelhamento funcional
e atitudinal indispensáveis em todos os setores públicos e privados da socieda-
de. Essa pauta compõe o espectro de um status pós-moderno e contemporâneo
que marca as relações sociais doravante no Estado de Direito democrático, que
não prescinde da participação de todos na construção da felicidade geral e que
abandona a tutela e a opressão como mecanismos de conservação de privilé-
gios que não se podem validamente tolerar.
aos problemas humanos. A experiência forja. A dor humana faz crescer. Isso
tudo parece muito claro até mesmo ao senso comum. Só é preciso vencer o
preconceito ainda arraigado na sociedade brasileira.
Para concluir.
Referências
1. INTRODUÇÃO
A
Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência – Estatuto da Pes-
soa com Deficiência, sob nº 13.146, de 6 de julho de 2015, atribui ao
Poder Público fomentar a capacitação tecnológica de instituições públi-
cas e privadas, além de estimular pesquisas e desenvolvimento científico, a fim
de orientar as políticas públicas para o acesso a tecnologias assistivas e sociais,
direcionadas a promover a democratização da tecnologia para as pessoas com
deficiência.
proteção aos direitos das pessoas com deficiência que constituem o arcabouço
legal para o embasamento de quaisquer medidas legislativas ou administrati-
vas. Em todo o sistema legal, há o propósito de assegurar o exercício pleno dos
direitos humanos, notadamente, dos direitos concernentes às pessoas com
deficiência. São eles: a Constituição da República Federativa do Brasil; a Con-
venção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência – Convenção da ONU e
seu Protocolo Facultativo; a Lei Brasileira de Inclusão – Estatuto da Pessoa com
Deficiência.
para escalada no gelo, pernas mecânicas para atletas... elas substituem partes
ausentes do corpo.
Por sua vez, as órteses vêm atender àquelas pessoas que perderam
a função de partes do corpo, são peças colocadas junto a um segmento do
corpo, ou seja, braços, mãos, dedos, botas ortopédicas, etc., muitas vezes
fixadas por talas, garantindo-lhe um melhor posicionamento, estabilização e/
ou função. São normalmente confeccionadas sob medida e servem no auxílio
de mobilidade, de funções manuais (escrita, digitação, utilização de talheres,
manejo de objetos para higiene pessoal), correção postural, entre outros
BERSCH (2020).
6. CONCLUSÃO
7. REFERÊNCIAS
1. INTRODUÇÃO
O
presente trabalho tem por fim fazer uma breve análise do processo de
mobilização social da pessoa com deficiência, iniciando com relatos
do século XIX, até os dias atuais, a fim de se reconhecer a necessária
atuação estatal institucional na proteção dessa minoria.
Charles Taylor (1994, p. 45) identifica essa situação por meio do epi-
sódio vivenciado pelos negros norte-americanos, no século passado, originada
da imagem de inferioridade projetada pela sociedade branca por várias ge-
rações. Por essa razão, alguns indivíduos negros passaram a conceber-se a si
mesmos como reduzidos e inábeis, o que os tornaram instrumentos fortes de
manutenção da própria opressão, revivendo e perpetuando sentimentos de
incapacidade e de ódio sobre si mesmos.
Outro aspecto que deve ser considerado no âmbito das relações hu-
manas é a noção de estigma, a qual pode provocar uma forte desaprovação de
características ou crenças pessoais, que vão contra as condições hegemônicas,
determinando, muitas vezes, a marginalização de um sujeito ou grupo a partir de
uma valorização que inviabiliza a aceitação social plena (COSTA, 2018), tal como
ocorreu com a pessoa com deficiência ao longo da História.
o Estado se dedicou à educação especial de cegos e surdos, como reflexo das me-
didas legais adotadas na Europa, incluindo aqui o sistema Braile de comunicação.
3 Lanna Júnior destaca que “O Instituto atendeu apenas três pessoas surdas em 1856. Com o
tempo, esse atendimento se expandiu. A princípio, eram alunos provenientes do Rio de Janei-
ro, sobretudo da capital do Império, onde o Instituto estava instalado; posteriormente, vieram
alunos de outras províncias: Alagoas, Bahia, Ceará, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte,
São Paulo, Maranhão, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco e Santa Catarina. A crise na insti-
tuição foi exposta em 1868, quando o chefe da Seção da Secretaria de Estado, Tobias Rabello
Leite, realizou inspeção nas atividades e condições do Instituto. Em seu relatório, apontou
que o desvio seus propósitos originais, transformando-se em um verdadeiro asilo de surdos.
Tobias Leite tornou-se diretor da Instituição até 1896 e deu-lhe o impulso definitivo como re-
ferência na educação de surdos no Brasil. [...] Com o advento da República, o Hospício Dom
Pedro II foi desanexado da Santa Casa de Misericórdia e passou a ser chamado de Hospício
Nacional de Alienados. Somente em 1904, foi instalado o primeiro espaço destinado apenas
a crianças com deficiência – o Pavilhão-Escola Bourneville. [...] Apesar do pioneirismo, am-
bos os institutos ofertaram um número restrito de vagas durante todo o Período Imperial. O
conceito dessas instituições se baseou na experiência europeia, mas diferentemente de seus
pares estrangeiros, normalmente considerados entidades de caridade ou assistência, tanto o
Imperial Instituto dos Meninos Cegos quanto o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos encontra-
vam-se, na estrutura administrativa do Império, alocados na área de instrução pública. Eram,
portanto, classificados como instituições de ensino. A cegueira e a surdez foram, no Brasil do
século XIX, as únicas deficiências reconhecidas pelo Estado como passíveis de uma abor-
dagem que visava superar as dificuldades que ambas as deficiências traziam, sobretudo na
educação e no trabalho.” In.: LANNA JÚNIOR. 2020, p. 19-20.
CONSCIENTIZAR PARA INCLUIR:
54
Sexualidade, Violência e Família da Pessoa com Deficiência
4 “Até a metade do século XIX, a deficiência Intelectual era considerada uma forma de loucura
e era tratada em hospícios. Durante a República, iniciaram-se as investigações sobre a etio-
logia da deficiência intelectual, sendo que os primeiros estudos realizados no Brasil datam
do começo do século XX.” (LANNA JÚNIOR, 2020, p. 23).
6 “A monografia sobre educação e tratamento médico pedagógico dos idiotas, do médico Car-
los Eiras de 1900, é o primeiro trabalho científico sobre a deficiência intelectual no Brasil.
Após a metade do século XX, dois trabalhos científicos produzidos por psiquiatras tornaram-
se referências: a tese Introdução ao estudo da deficiência mental (oligofrenias), de Clóvis de
Faria Alvim, publicada em 1958, e o livro Deficiência mental, de Stanislau Krynski, publicado
em 1969.” In.: LANNA JÚNIOR, 2020, p. 24.
Carliane de Oliveira Carvalho 55
forças políticas. Vários setores da sociedade gritaram com sede e com fome de
participação: negros, mulheres, índios, trabalhadores, sem-teto, sem-terra e,
também, as pessoas com deficiência.”
7 Ressalte-se, inclusive, que a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e
seu Protocolo Facultativo detêm do status de Emenda Constitucional, por terem sido aprova-
das pelo Congresso Nacional brasileiro com o quórum previsto no § 3º do art. 5° da Constitui-
ção Federal de 1988, tendo sido o primeiro diploma de direitos humanos a cumprir o referido
rito no Brasil.
CONSCIENTIZAR PARA INCLUIR:
58
Sexualidade, Violência e Família da Pessoa com Deficiência
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS
1. INTRODUÇÃO
E
ste ensaio tem o propósito de contribuir na reflexão acerca da possibi-
lidade de as mulheres submetidas à mastectomia serem tuteladas pela
Lei Brasileira de Inclusão (LBI) – Lei nº 13.146/2015, por se tratar de
tema caro, delicado e atual.
A LBI, por sua vez, amplia a definição acima, referindo-se não so-
mente à interação com várias, mas com uma ou mais barreiras. Ainda, pre-
vê, quando necessário, a realização de avaliação da deficiência por equipe
multiprofissional e interdisciplinar, utilizando-se para tal, de modelo único a
ser criado pelo Poder Executivo. Na hipótese de sua realização, devem ser
analisados: a) os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; b) os
fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; c) a limitação no desempe-
nho de atividades; e d) a restrição de participação. Em outros termos, essa
avaliação há de levar em conta o contexto social, além das condições físicas,
2 A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD), assina-
da em Nova York, em 30 de março de 2007, foi ratificada, no Brasil, pelo Decreto Legislativo
nº 186, de 9 de julho de 2008, promulgada pelo Decreto nº 6.949, de 25/08/2009.
4 Trata-se de política de transferência de renda garantida à pessoa com deficiência que não
possua meios de prover sua própria manutenção ou de tê-la provida por sua família.
5 Art. 5º – Compete ao Assistente Social avaliar e qualificar [...]: I - Fatores Ambientais, por
meio dos domínios: [...] b) Condições de Habitabilidade e Mudanças Ambientais; c) Apoio e
Relacionamentos; d) Atitudes; e e) Serviços, Sistemas e Políticas; II - Atividades e Participa-
ção, por meio dos domínios: a) Vida Doméstica; b) Relações e Interações Interpessoais; c)
Áreas Principais da Vida; e d) Vida Comunitária, Social e Cívica […].
7 Esse Comitê foi composto por integrantes do Poder Público Federal e do Conselho Nacional
dos Direitos da Pessoa com Deficiência – CONADE.
A LBI visa:
4. JURISPRUDÊNCIA PERTINENTE
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Raquel Ayres de. Impacto da mastectomia na vida da mulher. Rev. SBPH,
Rio de Janeiro , v. 9, n. 2, p. 99-113, dez. 2006. Disponível em: <http://pepsic.
bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582006000200007>.
Acesso em: 23/08/2020.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de ou-
tubro de 1988. In: Vade Mecum. 17 ed. rev. ampl. atual. São Paulo: RT, 2020.
_______. Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
Facultativo. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/decreto/d6949.htm>. Acesso em: 02/02/2018.
_______. Lei nº 13.143 de 6 de julho de 2015 – Lei Brasileira de Inclusão da Pes-
soa com Deficiência Estatuto da Pessoa com Deficiência. In: Vade Mecum. 17 ed.
rev. ampl. atual. São Paulo: RT, 2020.
______. Portaria Conjunta MDS/INSS nº 2, de 30 de março de 2015. Disponível
em: <http://www.mds.gov.br/webarquivos/legislacao/assistencia_social/porta-
rias/2015/portaria_conjunta_INSS_2_2015_BPC.pdf>. Acesso em: 02/02/2018.
Maria Christina dos Santos 73
TRATADO DE MARRAQUECHE:
PROMOÇÃO DA ACESSIBILIDADE ÀS
OBRAS LITERÁRIAS PELAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA NO BRASIL
1. INTRODUÇÃO
A
s pessoas com deficiência (PcD) apresentam ainda nos dias atuais difi-
culdades para usufruírem dos seus direitos e do ambiente social como
um todo, todavia, progressivamente, estas condições evoluem de ma-
neira que o acesso aos direitos seja garantido.
Entretanto, nos dias de hoje ainda existem diversos fatores que im-
pedem as PcD de ocuparem um lugar social, dentre eles a falta de adaptações
e o preconceito. Estas privações incluem até mesmo o acesso a direitos.
3 A promulgação no Brasil da Convenção Internacional sobre direitos das Pessoas com Defi-
ciência e seu Protocolo facultativo, assinados em Nova York em 30/03/2007, evidenciou-se
com o Decreto n. 6.949 de 25/08/2009.
CONSCIENTIZAR PARA INCLUIR:
78
Sexualidade, Violência e Família da Pessoa com Deficiência
internacional, sendo que esta última estabelece o que é obra literária, os cri-
térios para sua proteção, os direitos patrimoniais e morais do autor, dentre
outros temas (WACHOWICZ; MEDEIROS, 2014).
a) cega;
Desta forma, seja pela ampliação do rol dos beneficiários, pela pos-
sibilidade de intercâmbio fronteiriço de obras intelectuais sem a necessidade de
Bruna Homem de Souza Osman e Jessica Aparecida Soares 83
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito autoral. 2ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1997.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROPRIEDADE INTELECTUAL – APBI, 2020. Trata-
do de Marraqueche: webinar discute acessibilidade às obras intelectuais. Dispo-
nível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FCRqEaKflWs>. Acesso em: 20/
08/2020.
BRASIL. Decreto n° 9.522, de 8 de outubro de 2018. Promulga o Tratado de Mar-
raqueche para facilitar o acesso a obras publicadas às pessoas cegs, com defi-
ciência visual ou com outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso, fir-
mado em Marraqueche, em 27 de junho de 2013. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9522.htm>. Acesso em:
20/08/2020.
______. Decreto n° 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção In-
ternacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Fa-
cultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.
htm>. Acesso em: 25/08/2020.
______. Lei n° 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a le-
gislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm>. Acesso em: 02/09/2020.
______. Lei n° 13.146, de 6 de julho de 2015 – Institui a Lei Brasileira de Inclusão
da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>.
Acesso em: 02/09/2020.
FERREIRA, Vandir da Silva ; OLIVEIRA, Lilia Novais de. Convenção Nacional dos
Direitos das pessoas com Deficiência. Revista Reviva, ano 4, 2007. Disponível
em: <http://www.ampid.org.br/Artigos/Convencao_Vandir_Lilia.php>. Acesso
em: 15/11/2010.
FRANÇA, Inacia Sátiro Xavier de; PAGLIUCA, Lorita Marlena Freitag. Inclusão so-
cial da pessoa com deficiência: conquistas, desafios e implicações para a enfer-
magem. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 43, n. 1, p. 178-185, 2009.
Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v43n1/23>. Acesso em: 03/
07/2020.
CONSCIENTIZAR PARA INCLUIR:
86
Sexualidade, Violência e Família da Pessoa com Deficiência
1. INTRODUÇÃO
A
dificuldade de garantir que os Planos de Saúde promovam atendimento/
internação domiciliar para pessoas com deficiência ou doenças graves,
denominado Home Care, justifica o presente artigo.
Este mesmo Parecer Técnico define que, caso não seja possível a
internação domiciliar, o Plano de Saúde deverá fornecer alternativamente
o atendimento na própria unidade hospitalar, não podendo dar alta médica
quando é atestada a necessidade de um atendimento complexo.
3 BRASIL. Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998. Dispõe sobre os planos e seguros privados de
assistência à saúde. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9656compi-
lado.htm>. Acesso em: 28/08/2020.
5 BRASIL. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Carência: Quanto tempo é preciso aguar-
dar até poder ser atendido ao contratar um plano de saúde? Disponível em: <https://www.
ans.gov.br/index.php/component/content/article/48-perguntas-frequentes/755-quanto-tempo
-e-preciso-aguardar-ate-poder-ser-atendido-ao-contratar-um-plano-de-saude>. Acesso em:
28/08/2020.
CONSCIENTIZAR PARA INCLUIR:
94
Sexualidade, Violência e Família da Pessoa com Deficiência
do Rocio Luz Santa Ritta, Data de Julgamento: 21/05/2019, Terceira Câmara de Direi-
to Civil. Disponível em: <https://tj-sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/711878378/agravo-
de-instrumento-ai-40234297120188240900-capital-4023429-7120188240900?ref=serp>.
Acesso em: 28/08/2020.
CONSCIENTIZAR PARA INCLUIR:
96
Sexualidade, Violência e Família da Pessoa com Deficiência
4. CONCLUSÃO
9 TJ-RS - AI: 70064255441 RS, Relator: Maria Isabel de Azevedo Souza, Data de Julgamento:
08/04/2015, Vigésima Segunda Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
13/04/2015. Disponível em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/180692359/agravo-
de-instrumento-ai-70064255441-rs?ref=serp>. Acesso em 28/08/2020.
CONSCIENTIZAR PARA INCLUIR:
98
Sexualidade, Violência e Família da Pessoa com Deficiência
são muito peculiares e dependem de análise de caso a caso, não havendo pos-
sibilidade de uma regra geral para todos os consumidores de Planos de Saúde.
5. REFERÊNCIAS
A EXCEPCIONALIDADE DE AULAS
ON-LINE PARA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES COM DEFICIÊNCIA
DURANTE O ISOLAMENTO SOCIAL
1. INTRODUÇÃO
A
pandemia causada pelo novo Coronavírus – COVID-19 levou muitos
países, entre eles o Brasil, a aplicar, a partir do primeiro trimestre de
2020, o isolamento social horizontal. O período que – supunha-se –
duraria uma quarentena, estendeu-se por mais de um ano. Esse cenário, além
de repercussões na área da saúde, tem gerado impactos de ordem social, eco-
nômica, política e cultural. O confinamento físico tornou essencial o uso de
tecnologias digitais de informação e comunicação (TIC) para as atividades la-
borativas, de lazer e pedagógicas, inclusive de alunos do ensino fundamental,
ou seja, do 1º ao 9º ano, diante da decretação do fechamento das escolas.
4 Estabelecia normas excepcionais sobre o ano letivo da educação básica e do ensino su-
perior decorrentes das medidas para enfrentamento da situação de emergência de saúde
pública, objeto da Lei nº 13.979, de 06/02/2020.
Maria Christina dos Santos e Vania Lucia Girardi 105
Fonte: Resumo Técnico do Estado do Paraná – Censo Da Educação Básica 2019, p. 39.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. REFERÊNCIAS
1. INTRODUÇÃO
O
presente ensaio parte da importância dos princípios fundamentais da
cidadania e da dignidade da pessoa humana para tratar do acesso à jus-
tiça pelas pessoas com deficiência, não restringindo este acesso apenas
ao direito de promover e contestar ações judiciais ao provocar o Poder Judiciá-
rio, mas trazendo um conceito mais amplo de justiça, o qual engloba o exercício
dos direitos e deveres de todos os indivíduos na sociedade, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas. Assim, os conceitos de direito e justiça
são brevemente abordados a fim de demonstrar a importância da acessibilida-
de em todos os aspectos da vida da pessoa com deficiência para que ela possa
exercer mais plenamente a sua cidadania.
1 Advogada. Membro da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB/PR. Intér-
prete de Libras.
CONSCIENTIZAR PARA INCLUIR:
112
Sexualidade, Violência e Família da Pessoa com Deficiência
3. O DIREITO E A JUSTIÇA
A Justiça, por sua vez, é basicamente aquilo que é correto, o que é jus-
to. O conceito de justiça é amplo e está intimamente ligado à igualdade entre os
indivíduos, à segurança e à moral destes. A Constituição Federal, em seu preâm-
bulo, anuncia que o Estado Democrático de Direito é destinado a assegurar a
justiça, que é um valor supremo da sociedade.
Todavia, para esses direitos serem usufruídos por pessoas com de-
ficiência – especialmente de natureza física e sensorial –, faz-se necessária a
adoção de medidas que promovam o efetivo acesso à justiça, entre elas o for-
necimento de informações, sejam em Braile ou em Libras, com emprego de tec-
nologia assistiva ou em formatos de fácil leitura e compreensão, que impliquem
– inclusive – na redução dos seus custos, de modo a facilitar o acesso.
CONSCIENTIZAR PARA INCLUIR:
114
Sexualidade, Violência e Família da Pessoa com Deficiência
Para que essa plena participação ocorra, é necessário haver uma ade-
quada formação dos servidores e operadores do sistema judicial que em seu
trabalho cotidiano colaboram para o seu funcionamento e têm contato com o
cidadão com deficiência, o que pode exigir, por exemplo, a comunicação em
Línguas de Sinais.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. REFERÊNCIAS
1. INTRODUÇÃO
A
pesar de o Benefício de Prestação Continuada (BPC) destinar-se tanto
ao idoso – com mais de 65 (sessenta e cinco) anos – quanto à pessoa
com deficiência (PcD) que comprove não possuir recurso para prover
a própria subsistência ou de tê-la provida por seus familiares, este artigo terá
como foco exclusivo a PcD.
3 A Lei nº 13.982, de 02 de abril de 2020, altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, para
dispor sobre parâmetros adicionais de caracterização da situação de vulnerabilidade social para
fins de elegibilidade ao benefício de prestação continuada (BPC), e estabelece medidas excep-
cionais de proteção social a serem adotadas durante o período de enfrentamento da emergência
de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus (Covid-19) responsável
pelo surto de 2019, a que se refere a Lei nº 13.979, de 6/02/2020.
CONSCIENTIZAR PARA INCLUIR:
120
Sexualidade, Violência e Família da Pessoa com Deficiência
Previdência Social, Saúde e Assistência Social – e a lei que o regula, para então
abordar seu objetivo, requisitos e as recentes alterações para a sua concessão.
2. BPC: O QUE É?
Destaca-se que a definição de PcD, trazida pela LBI, em 2015, foi in-
serida no texto da LOAS, em seu artigo 20, § 2º.
Sobre esta alteração, Gurgel (2011) afirma que com a nova previ-
são da Lei nº 12.470/2011 é permitido o trânsito da PcD da assistência so-
cial para o trabalho, e vice-versa. No momento em que o(a) beneficiário(a)
assinar um contrato de trabalho, ou tiver uma atividade empreendedora,
CONSCIENTIZAR PARA INCLUIR:
122
Sexualidade, Violência e Família da Pessoa com Deficiência
Este retorno pode ocorrer a qualquer tempo. Todavia, para ser dis-
pensado da perícia multiprofissional, o período não deve ultrapassar 2 (dois)
anos, prazo estabelecido legalmente para a reavaliação das condições que de-
ram origem ao BPC. Contudo, o trabalhador PcD que esteja usufruindo o segu-
ro-desemprego só poderá retomar o benefício assistencial após o término do
recebimento das parcelas do benefício previdenciário.
O Poder Judiciário tem entendido que a renda não pode ser o único
critério para decidir o direito ao benefício, pois o estado de pobreza é questão
controversa, e existe ampla jurisprudência neste sentido.
Resta-nos saber qual critério de renda per capita será utilizado após
esta data limite.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
• O BPC poderá ser antecipado por até 3 (três) meses no mesmo valor
do auxílio emergencial do Governo Federal para o enfrentamento da
pandemia do COVID-19.
Diante disso, espera-se que a análise seja feita de acordo com a le-
galidade, mas também com a realidade daquele cidadão, que muitas vezes
dependerá apenas daquele benefício para sobreviver dignamente.
6. Referências
1. INTRODUÇÃO
E
m 2020, a plataforma de streaming Netflix disponibilizou em seu catá-
logo um filme biográfico da pintora canadense Maudie Lewis, chamado
“Maudie: Sua Vida e Sua Arte”. O longa retrata diversos momentos im-
portantes da trajetória da artista, desde situações violentas alimentadas pelo
preconceito face a sua deficiência física, muitas delas provocadas pelo marido
Everett Lewis, como também a evolução de sua arte e carreira. Neste capítulo,
propomos algumas reflexões sobre o filme, a partir de uma análise interseccio-
nal que visa a compreender o imbricamento das experiências de deficiência e
gênero como um dos fatores que evidenciam as vulnerabilidades de mulheres
com deficiência.
A história se passa por volta do final dos anos 1930, quando a de-
ficiência ainda era definida por um modelo médico, ou seja, os corpos eram
submetidos a avaliações biológicas, que definiriam se deveriam ou não so-
frer intervenções médicas, como procedimentos de cura ou internações (SIE-
BERS, 2011, p. 25). A partir das contribuições do modelo social da deficiência,
proposto inicialmente por homens com deficiência, nos anos 1970, a desigual-
dade à qual as pessoas com deficiência estão submetidas deixa de ser com-
preendida como consequência do impedimento corporal (lesão), mas sim um
produto da relação entre este corpo com uma sociedade incapaz de atender
à diversidade física, sensorial e intelectual das pessoas. A desigualdade deixa
de ser fruto de imposições genéticas (fenômeno biomédico) e passa a ser uma
questão de injustiça social (fenômeno sociológico) (DINIZ, 2003; 2007).
Por sua vez, nos anos 1990, teóricas feministas – mulheres com defi-
ciência e mulheres cuidadoras de pessoas com deficiência – revigoram a tese
social da deficiência, ao acrescentar à discussão os conceitos de interdepen-
dência e cuidado. Defendiam o conceito de “corpos temporariamente não-
-deficientes”, ao invés da dicotomia deficiente X não-deficiente, ampliando o
conceito de deficiência para o envelhecimento e/ou doenças crônicas e argu-
mentando que a dependência e a interdependência são inerentes à condição
humana. Assim sendo, afirma-se que a política pública do cuidado promoverá
justiça no campo da deficiência e amenizará a vulnerabilidade de muitas pes-
soas com deficiência, uma vez que se observam relações de extrema desigual-
dade de poder, como é o caso das pessoas com deficiência com alto nível de
impedimento corporal (DINIZ, 2003; 2007).
Maudie morava com a tia, após a morte de sua mãe, uma vez que o
irmão vendeu a casa onde vivia. Nesta sequência do filme, observa-se que a
relação familiar é construída com sucessivas agressões psicológicas realizadas
pela tia, o que inclui a negação do direito à maternidade como uma expressão
da violência a que estava submetida. Constantemente desacreditada naquele
ambiente, ela se mantém persistente na tentativa de obter um trabalho, mes-
mo diante do desprezo do homem, já que considerava aquela oportunidade
CONSCIENTIZAR PARA INCLUIR:
134
Sexualidade, Violência e Família da Pessoa com Deficiência
uma saída possível à sua condição de vida. Junto a nós, espectadoras da his-
tória, instala-se a percepção de que a escolha que se apresenta à personagem
não constituiu uma chance de interrupção das experiências de violência vivi-
das em casa, mas, ao contrário, a sua continuidade, como se esse fosse o único
destino possível a uma mulher com deficiência.
2. DESENVOLVIMENTO
Por outro lado, a pesquisa realizada pela autora Karen Rich (2014)
com 19 mulheres com deficiência residentes nos Estados Unidos, a maioria
tendo sido vítima de abuso na infância, trouxe à tona as crenças que corro-
boram a permanência em relacionamentos abusivos, a saber: a deficiência
causou o abuso, o agressor está debilitado, o abuso foi acidental, o abuso era
suportável e o agressor era protetor.
3. CONCLUSÃO
4. REFERÊNCIAS
1. INTRODUÇÃO
O
presente estudo busca justificar a disciplina mais rigorosa da acessi-
bilidade nos ambientes de trabalho nos órgãos públicos. O tema em
questão ganhou maior visibilidade com o advento da Lei nº 13.146,
de 06 de julho de 2015, a Lei Brasileira da Inclusão (LBI), a qual, objetivando
avançar do acesso ao serviço público para um ambiente de trabalho acessível,
criou uma nova hipótese de improbidade administrativa.
5. A HERMENÊUTICA DA LBI
8. CONCLUSÃO
9. REFERÊNCIAS
PARTE ii
DEPOIMENTOS
Depoimentos 153
SEXUALIDADE
Depoimento: Sexualidade 155
P
arece-me que tratar dessas questões sexualidade, sexo,
relacionamentos amorosos, afetivos, essas coisas todas,
talvez seja necessário pensar primeiramente, aquilo que
é do que muitos autores, pesquisadores, chamam de uma coisa
instintiva, que é inato, que é próprio de cada ser humano ou da
espécie animal. No caso do ser humano, especificamente, esses
desejos podem se manifestar de várias formas.
Thiago Córdova1
N
asci em uma cidade no interior do estado do Paraná. Com
uma infância típica da década de 1980, vivia em simpli-
cidade. Meu tempo era exclusivo para a família, escola e
amigos, não recordo de ter convivido com alguém com deficiên-
cia, nem mesmo na escola.
VIOLÊNCIA
Depoimento: Violência 171
M
inha experiência com o bullying está diretamente associa-
da a muitas das minhas mais nítidas e antigas memórias.
Alguns amigos, mesmo hoje, desconfiam que eu consiga
lembrar de acontecidos durante meus 3 ou 4 anos de idade com
tanta clareza. Me entristece um pouco encarar tal realidade, mas
é o que é.
N
inguém escolhe ter uma deficiência, isso é fato. Porém,
até chegar ao ponto de ter o poder de assimilar essa rea-
lidade, muita dor e muito sofrimento são vivenciados, por
mera ignorância daqueles que desconhecem a realidade.
S
ou filha de pai brasileiro, natural de Minas Gerais, e de mãe
boliviana. Quando nasci, foi um momento de euforia para
toda a família. Meus pais já haviam perdido uma filha, no
início dos anos 1960, que nascera e vivera por apenas 15 dias, dian-
te de poucos recursos financeiros e do parco conhecimento médico
sobre lábio leporino. Minha irmã, com o céu da boca completamen-
te aberto, não sobreviveu, e passado um ano e meio desse aconte-
cimento, eu cheguei ao mundo.
onde por dez anos tive a graça de Deus de com ele aprender e
compartilhar processos cíveis, criminais e previdenciários.
M
e chamo de Josi. Nasci já com perda bilateral profunda,
não ouço nada. Tenho três irmãos, um deles também é
surdo, sou a caçula da família. Todos eles vieram do inte-
rior do Paraná (Mallet), devido ao meu irmão que precisava de es-
cola “especial”. Sou a única curitibana. Sempre tive meus estudos
sem intérprete/tradutor de Libras (Língua Brasileira de Sinais),
desde o ensino fundamental até a especialização.
Posso dizer que liderar uma equipe não é nada fácil. Você
pode ser atleta, intérprete, coordenador, assistente técnico e tudo
mais, ao mesmo tempo. Multifunções que eu tive que lidar e execu-
tar com a Seleção. Você é cobrado o tempo todo para que tudo saia
do jeito que a Torcida/Diretoria quer. Às vezes eles não entendem
nem veem o que se passa por trás da equipe. Enfim, é preciso ter
muita paciência e persistência para conseguir a confiança de todos
de que é possível realizar o sonho de cada um, no tempo certo.
DEPOIMENTO: VIOLÊNCIA - Josiane Maria Poleski 193
FAMÍLIA
Depoimento: Família 197
Anônimo
O
lá, eu sou a E., e quero compartilhar com você o relato de
adoção de uma pessoa com deficiência em minha família.
Meu esposo M. e eu casamos muito jovens, ele 19 e eu
17, aos 21 anos já tínhamos nossos 3 filhos, D. a mais velha, H., o
do meio, e Dn., a caçula. Durante a primeira década do casamento
morávamos em uma casa de dois cômodos que alugamos, e com
muito sacrifício, conseguimos mudar para nossa casa própria, ain-
da com paredes sem reboco, chão bruto, sem portas nos cômo-
dos, mas felizes com a nossa casa própria.
tempo longo de espera até que desse certo a adoção, porém, não
deu certo o processo. A criança tinha uma irmã mais velha, e o
juiz só liberaria a adoção, se fossem as duas juntas, mas para nós
era inviável adotar duas crianças de uma vez, e por isso, acabou se
encerrando o processo. Depois de algum tempo, soubemos que
elas foram adotadas, mas por famílias diferentes, ou seja, foram
afastadas.
o contato dele, porém, decidi junto com minha outra filha Dn.,
irmos conhecê-lo quando D. voltasse de férias, e assim aconteceu
no final de janeiro. W. passou dois dias conosco no apartamen-
to que D. morava, em nenhum momento ele estranhou, era uma
criança apática e nem pegar num copo sabia. O levamos a um clu-
be da cidade e não sabia sequer usar o brinquedo do parquinho,
pouco sorriso esboçava.
O
meu filho F. nasceu em 18 de agosto de 1983. Ele foi es-
perado com muita alegria, com a esperança de ser tudo
perfeito, que é o que a gente tem como expectativa, tanto
que eu decorei o quartinho dele todo verde. Chegou o dia! As
primeiras horas foram de alegria, mesmo. Em seguida, foi que-
brada por mil perguntas que fiz ao pediatra. Finalmente, a con-
firmação da Síndrome de Down. Ele entrava no quarto e pergun-
tava se nós tínhamos algum mestiço de japonês na família, muito
misterioso. Eu falei não, meu marido é chileno e as crianças são
bem amendoadas, porque as outras duas são muito parecidas
com japonesas, tipo você, com os olhinhos bem puxados… então
ele ficava intrigado. Não havia ainda o teste do pezinho, ou
pelo menos, não foi feito nesse caso, claro. Mas F. já tinha as
características, como a língua maior do que seria a normal...
sim a gente também já percebe logo, então ele estava meio
incrédulo, mas aí ele confirmou. Então, veio a certeza! Imagina
o baque, a dor, a angústia, tristeza... nossa! A minha e a do pai.
A gente evitou receber visitas, não que não quiséssemos que o
vissem, mas porque os vizinhos curiosos, cada um que vinha, fi-
cava olhando, claro, e eu sofria porque a gente estava de luto...
imagine esperar nove meses o seu filho, tudo bonito, tudo en-
feitado e você recebe uma notícia dessas... não tem coração que
aguente! Eu me sentia sozinha, longe dos nossos familiares. As
F
ui diagnosticada com retinose pigmentar aos 3 anos de ida-
de. A partir daí o oftalmologista sugeriu aos meus pais que
me internassem no Instituto Paranaense dos Cegos para eu
me acostumar com a vida que iria levar. Inconformados com o
primeiro diagnóstico e com a sugestão de internação, meus pais
não aceitaram a indicação do oftalmologista e sempre estudei em
colégios regulares de ensino. Da mesma forma, meus pais busca-
ram o melhor oftalmologista em retina na época, quando passei a
fazer o tratamento em Copacabana, no Rio de Janeiro/RJ.
Hoje sei que jamais deveria ter feito aquela cirurgia que
me fez entrar enxergando no hospital e sair dele guiada, pois, com
a doença degenerativa que eu tinha, a cirurgia de catarata repre-
sentava um risco enorme de ficar cega. Entretanto, além de não
ter tido essa informação antes de fazer a cirurgia, o grupo dos
médicos que me operaram garantiu que não havia risco algum.
Não havia nada para colocar nela, bem como também não ha-
via nada nos armários, e sequer, um shampoo eu tinha em casa.
Como eu morava de favor em uma casa no terreno dos meus pais,
naquele período em que eu iniciava um processo de reabilitação,
eu comia na casa deles, tomava meu banho lá e dependia deles
para me auxiliarem com toda a logística minha e da minha filha
(escola, médico, etc.).
Gratidão!
Depoimento: Família 219
D
esde pequena aprendi a conviver com a deficiência, visto
que meu pai possuía uma deficiência e então sempre con-
vivemos com a dificuldade e o preconceito que isso oca-
sionava. Foi aí também que aprendi o valor que existia no amor
pois, mesmo com todas as dificuldades, minha mãe sempre este-
ve ao lado de meu pai, que suplantava com vontade todo precon-
ceito contra suas limitações e falta de oportunidade em relação a
empregos e à forma que pudesse ganhar a vida. Nunca deixou de
trabalhar e tentar ser o provedor da casa.
1 Mãe. Avó. Dona de casa. Ativista social. Natural de São Paulo/SP. Esposa de
Wilson Roberto Gomiero.
CONSCIENTIZAR PARA INCLUIR:
220
Sexualidade, Violência e Família da Pessoa com Deficiência
ENCARANDO A MATERNIDADE
E O AUTISMO
O
autismo chegou na minha vida há quase 6 (seis) anos. Mi-
nha filha faz aniversário em outubro e no mês seguinte,
em novembro, faz aniversário de diagnóstico. É aniversá-
rio porque realmente é um marco na minha vida, uma virada de
página. E que virada!
DE REPENTE... AUTISTA
V
ida tranquila, estabilizada, emprego dos sonhos, filha na
faculdade, acabara de me separar, estava mesmo precisan-
do de novos desafios e Deus enviou. Engravidei, mesmo
tomando todos os cuidados. Quando Deus quer, Ele quer!
Não foi fácil, nem tudo são rosas, mas as que eu pude
colher fizeram a diferença na minha vida.
E
sta história é sobre minha filha L., nascida em 2000, quando
eu era apenas uma garota de 16 anos e morava com minha
mãe adotiva, que já tinha 65 anos. Com 13 anos, perdi meu
pai adotivo e me senti muito sozinha. Pouco depois, conheci meu
primeiro namorado e acabei engravidando. Me vi muito assusta-
da. O pai da L., 9 anos mais velho, não tinha família na cidade,
morava sozinho e trabalhava. Uma pessoa com pouca cultura e
estudo. Também se sentia perdido, mas como já frequentava a
minha casa, fomos juntos contar para minha mãe. Ela ficou brava,
preocupada e decepcionada, não gostou da notícia, mas baseada
de maneira pragmática no catolicismo mais antigo e em moldes
moralistas, orientou (exigiu) que nos casássemos.
OS DESAFIOS DA DEFICIÊNCIA
NA VIDA DO CASAL
E
m 1989 tive uma paralização do meu lado direito do corpo.
Fui ao médico e ele disse: “você tem uma doença desmieli-
nizante” e receitou-me três injeções. Tomei e sumiram to-
dos os sintomas que eu estava sentindo.
de minha esposa e ter a noção exata do amor dela por mim. Ela
praticamente abandonou sua vida para se dedicar inteiramente a
realizar o meu projeto, que também é, um pouco, o projeto dela.
Porém, ela se anulou durante mais de vinte anos para fazer das
minhas vontades, a vontade dela.
Jacob Cachinga1
N
esta narrativa, me chamo Jac. Nasci a 15 de dezembro de
1989, em Angola, África, na cidade de Luena, capital da
província do Moxico. Aos 2 anos, perdi a visão como se-
quela de sarampo. Durante a gravidez da esposa, o meu pai foi
recrutado pelas Forças Armadas para servir na guerra civil que
assolou o país por mais de três décadas. Minha mãe, uma cam-
ponesa e comerciante, apesar das duras circunstâncias, celebrou
o nascimento do primeiro filho: era herança do marido e, por se
tratar de um filho homem, eventual substituto do pai. Nasci, por-
tanto, imbuído da promessa patriarcal de cuidar de sua família,
donde veio meu apelido de nascença, “paizinho”.
Permitam me apresentar.
N
asci ao final da segunda guerra mundial, sob a influência
do signo de Escorpião, em Joaquim Nabuco, um distrito de
Palmares, cidade em decadência, situada a cerca de 120
km da capital de Pernambuco. Sou fruto da convivência geracio-
nal e da sabedoria de meus avós. Superadas as dificuldades da
família simples, passei da infância para a adolescência e cheguei à
vida adulta, cheia de planos e vontade de vencer. Através do meu
primeiro vestibular, ingressei na Universidade Federal de Pernam-
buco. Ao término do terceiro ano, me transferi para a Faculdade
de Direito Cândido Mendes, no Rio de Janeiro/RJ, onde conquistei
o diploma de Bacharel em Direito. Dois anos após, constitui minha
própria família, mudando-me para Curitiba/PR.