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PA RTE I

Química
Atmosférica e
Poluição do Ar
Conteúdos da Parte I
Capítulo 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio
Capítulo 2 Os Buracos na Camada de Ozônio
Capítulo 3 A Química da Poluição Atmosférica à Superfície
Capítulo 4 As Consequências da Poluição do Ar (Exterior e
Interior) para o ambiente e para a Saúde
Capítulo 5 A Química Detalhada da Atmosfera

Análise Instrumental Ambiental I


■ Determinação Instrumental de NOX via Quimiluminescência
CAPÍTULO
1
Química Estratosférica:
A Camada de Ozônio

Neste capítulo, os seguintes tópicos introdutórios de química


serão usados:
■ Mols; unidades de concentração incluindo fração molar
■ Lei dos gases ideais; pressões parciais
■ Termoquímica: H, Hf ; Lei de Hess
■ Cinética: leis de velocidade; mecanismos de reação, energia de
ativação, catálise

Introdução
A camada de ozônio é a região
da atmosfera chamada de “escudo
solar natural da Terra”, uma vez
que ela filtra os raios ultraviole-
tas (UV) nocivos provenientes
da luz solar antes que esses pos-
sam atingir a superfície de nosso
planeta, causando danos a seres
humanos e outras formas de vida.
Qualquer redução substancial na
quantidade de ozônio pode colo-
car em perigo a vida na terra. As-
sim, o aparecimento de um gran- Uma menina aplica protetor solar para proteger sua pele contra os
de “buraco” na camada de ozônio raios UV do sol. [Fonte: Lowell George/CORBIS]
sobre a Antártida, em meados
dos anos 80, representou uma crise ambiental de vital importância. Embora
algumas medidas tenham sido tomadas para prevenir sua expansão, o buraco
continuará a aparecer a cada primavera sobre o Polo Sul; de fato, um dos maio-
res e profundos buracos na história ocorreu em 2006. Assim sendo, é importante
entendermos a química natural da camada de ozônio, tópico deste capítulo. Os
50 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar

processos específicos em vigor no buraco de ozônio e a história da sua evolução


serão abordados no Capítulo 2. Começamos considerando como as concentra-
ções dos gases atmosféricos são apresentadas e a região da atmosfera onde o
ozônio está concentrado.

Regiões da atmosfera
Os componentes principais (desconsiderando o sempre presente, mas variável,
vapor de água) de uma versão não poluída da atmosfera terrestre são nitrogênio
diatômico, N2 (cerca de 78% das moléculas); oxigênio diatômico, O2 (cerca de
21%); argônio, Ar (cerca de 1%); e dióxido de carbono, CO2 (atualmente cer-
ca de 0,04%). (Os nomes das substâncias químicas mais importantes de cada
capítulo estão impressos em negrito, junto com suas fórmulas, quando são apre-
sentadas. Os nomes das substâncias químicas menos importantes no presente
contexto estão impressos em itálico.) Essa mistura de substâncias químicas pa-
rece não reativa nas camadas inferiores da atmosfera, mesmo em temperaturas
ou intensidade de luz solar muito além daquelas encontradas naturalmente na
superfície da Terra.
A falta de reatividade perceptível na atmosfera é enganosa. Na realidade,
muitos processos químicos ambientalmente importantes ocorrem no ar, seja ele
puro ou poluído. Nos próximos dois capítulos, essas reações serão exploradas
em detalhes ao discutirmos as reações que ocorrem na troposfera, a região da
atmosfera que se estende da superfície até aproximadamente 15 quilômetros de
altitude e que contém 85% da massa da atmosfera. No presente capítulo, con-
sideraremos os processos que ocorrem na estratosfera, a porção da atmosfera
que abrange aproximadamente dos 15 até os 50 quilômetros de altitude (9-30
milhas) e que se situa logo acima da troposfera. As reações químicas a serem
consideradas são de vital importância para a continuidade da saúde da camada
de ozônio, que se localiza na metade inferior da estratosfera. As concentrações de
ozônio e as temperaturas médias a altitudes de até 50 km na atmosfera terrestre
estão apresentadas na Figura 1-1.
A estratosfera é definida como a região entre as altitudes onde a temperatura
sofre uma mudança de comportamento: o limite inferior da estratosfera ocorre
onde a temperatura para de sofrer diminuição com a altura e começa a aumentar, e
o limite superior da estratosfera corresponde à altitude onde a temperatura para de
aumentar com a altura e começa a diminuir. A altitude exata na qual a troposfera
termina e a estratosfera se inicia varia com a época do ano e com a latitude.

Unidades de concentração ambientais


para gases atmosféricos
Para gases presentes no ar, são comumente utilizados dois tipos de unidades de
concentração. Para as concentrações absolutas, a unidade mais comum é a de
número de moléculas por centímetro cúbico de ar. A variação na concentra-
ção de ozônio na unidade de moléculas por centímetro cúbico com a altitude
é mostrada na Figura 1-1a. As concentrações absolutas são algumas vezes ex-
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 51

(a) (b)
60

50
Altitude (km)

40 Estratosfera

Camada de ozônio
30

20

10
Troposfera

0
1 2 3 4 5 –75 –50 –25 0 25
Concentração de ozônio em unidades Temperatura (˚C)
de 1012 moléculas/cm3

FIGURA 1-1 Variação com a altitude de (a) concentração de ozônio (para regiões de latitude in-
termediária) e (b) temperatura do ar, para diferentes regiões da atmosfera inferior.

pressas em termos de pressão parcial do gás, que é expressa em unidades de


atmosferas, quilopascal ou bars. De acordo com a lei dos gases ideais (PV 
nRT), a pressão parcial é diretamente proporcional à concentração molar n/V,
e, portanto, à concentração molecular por unidade de volume, quando gases
diferentes, ou uma mistura de componentes, são comparados à mesma tempe-
ratura Kelvin T.
As concentrações relativas geralmente estão baseadas na unidade, familiar
para os químicos, de fração molar (chamada pelos físicos de razões de mistura),
a qual também é uma unidade de fração molecular. Pelo fato de as concentra-
ções de muitos constituintes serem muito pequenas, os cientistas atmosféricos e
ambientais expressam com frequência a fração molar, ou molecular, como partes
por. Assim, uma concentração de 100 moléculas de um gás, tal como o dióxido de
6
carbono, disperso em 1 milhão (10 ) de moléculas de ar, seria expressa como 100
partes por milhão, isto é, 100 ppm, em vez de uma fração molar ou molecular de
0,0001. Analogamente, ppb e ppt representam partes por bilhão (uma em 109) e
partes por trilhão (uma em 1012).
É importante enfatizar que, para gases, essas unidades de concentração re-
lativas expressam o número de moléculas de um poluente (i.e., o “soluto” em
linguagem química) que estão presentes em um milhão, bilhão ou trilhão de
moléculas de ar. Dado que, segundo a lei dos gases ideais, o volume de um gás é
proporcional ao número de moléculas que ele contém, as unidades de “partes
por” também representam o volume que o gás poluente ocuparia, quando com-
parado a um determinado volume de ar, se o poluente fosse isolado e compri-
mido até que a sua pressão se iguale à do ar. Com o objetivo de enfatizar que a
52 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar

unidade de concentração é baseada em moléculas ou volume e não em massa,


um v (de volume) é, às vezes, indicado como parte da unidade, por exemplo,
100 ppmv ou 100 ppmv.

A física e a química da camada de ozônio


Para entender a importância do ozônio atmosférico, devemos considerar os vários
tipos de energia luminosa que são emanados pelo sol e considerar como a luz UV
em particular é filtrada seletivamente da luz solar pelos gases no ar. Isso nos leva
a considerar os efeitos da luz UV sobre a saúde humana, e como a energia da luz
pode quebrar as moléculas quantitativamente. Com essa base, podemos investigar
os processos naturais pelos quais o ozônio é formado e destruído no ar.

A absorção de luz por moléculas


A química da depleção do ozônio, como de muitos outros processos na estratosfe-
ra, é controlada pela energia associada com a luz solar. Por essa razão, começamos
por examinar a relação entre a absorção de luz por moléculas e a ativação resultan-
te, ou energização, das moléculas que as capacita para reagir quimicamente.
Um objeto que nós percebemos como de cor preta absorve luz de todos os
comprimentos de onda do espectro visível, que vai desde cerca de 400 nm (luz
violeta) até cerca de 750 nm (luz vermelha); observe que um nanômetro (nm)
9
é igual a 10 metros. As substâncias diferem enormemente em sua tendência de
absorver luz em um dado comprimento de onda devido às diferenças nos níveis
de energia de seus elétrons. O oxigênio diatômico molecular, O2, não absorve luz
visível de modo significativo, mas absorve alguns tipos de luz ultravioleta (UV),
que é a luz que compreende os comprimentos de onda entre cerca de 50 e 400
nm. A porção mais relevante do espectro eletromagnético está ilustrada na Figura
1-2. Observe que a região UV começa na extremidade violeta da região visível,
por isso o nome ultravioleta. A divisão das regiões UV em diferentes componentes
será discutida mais adiante neste capítulo. No outro extremo do espectro, além da
porção vermelha da região visível, encontra-se a luz infravermelha, que se tornará
importante quando discutirmos o efeito estufa, no Capítulo 6.
Um espectro de absorção, como o apresentado na Figura 1-3, é uma repre-
sentação gráfica que mostra a fração relativa da luz que é absorvida por um dado
tipo de molécula em função do comprimento de onda. Na figura, é mostrada a efi-
ciência no comportamento de absorção de luz da molécula de O2 para a região UV
entre 70 e 250 nm; uma quantidade minúscula de absorção continua além dos 250
nm, mas de forma sempre decrescente (não mostrada). Observe que a fração de luz
absorvida pelo O2 (dada em escala logarítmica na Figura 1-3) varia de forma bem
drástica com o comprimento de onda. Esse tipo de absorção seletiva é observado
para todos os átomos e moléculas, embora as regiões específicas de absorção forte
e absorção nula variem amplamente, dependendo da estrutura das espécies e dos
níveis de energia dos seus elétrons.
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 53

Comprimento Comprimento
de onda (nm) Faixa principal de onda (nm) Subfaixa

<50 Raios X

50

200
UV-C
Ultravioleta
280
UV-B
320
UV-A
400 400
Violeta

Visível •

Vermelho
750 750

4.000
(4 m)
Infravermelho
Infravermelho
térmico

100.000
(100 m)

FIGURA 1-2 O espectro eletromagnético. As regiões de grande interesse ambiental estão ilustra-
das neste livro.

10 –17
Medida relativa de absorção

10 –19

10 –21

FIGURA 1-3
10 –23 Espectro de absor-
ção do O2. [Fonte:
T.E. Graedel and P.J.
Crutzen, Atmospheric
10 –25 Change: An Earth Sys-
50 100 150 200 250 temPerspective (New
Comprimento de onda (nm) York: W.H. Freeman,
1993).]
54 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar

Filtração dos componentes UV da luz solar


por O2 e O3 atmosféricos
Como resultado das características de absorção, o gás O2 situado acima da estra-
tosfera filtra a maior parte da luz UV solar de 120 a 220 nm; a luz remanescente
nesta região é filtrada pelo O2 na estratosfera. A luz ultravioleta com comprimento
de onda menor que 120 nm é filtrada na estratosfera, e acima dela, pelo O2 e por
outros constituintes do ar, tais como N2. Assim, a luz UV com comprimento de
onda menor que 220 nm não atinge a superfície da Terra. Esse filtro protege nossa
pele e olhos, mas também todas as formas de vida, e de danos graves causados por
esta porção da luz solar.
O oxigênio diatômico também filtra alguma, mas não toda, luz UV solar na
faixa de 220-240 nm. A porção ul-
travioleta na faixa de 220 a 320 nm
(a) da luz solar é filtrada principalmen-
1,0 te pelas moléculas de ozônio, O3,
espalhadas pela estratosfera média e
0,8
Intensidade de absorção

inferior. O espectro de absorção do


0,6
ozônio para essa região de compri-
mentos de onda é apresentado na
0,4 Figura 1-4. Uma vez que sua cons-
tituição molecular, e, portanto, seu
0,2 conjunto de níveis de energia, é di-
ferente da do oxigênio diatômico,
200 210 220 230 240 250 260 270 280 290 300 suas características de absorção de
Comprimento de onda (nm) luz também são bastante distintas.
O ozônio, auxiliado de certa
(b) forma pelo O2 nos comprimentos
de onda mais curtos, filtra toda a luz
ultravioleta solar na faixa de 220 a
290 nm, que se sobrepõe à região
Intensidade de absorção

de 200-280 nm, conhecida como


UV-C (ver Figura 1-2). No entan-
to, o ozônio pode absorver somen-
te uma fração da luz UV solar na
região de 290 a 320 nm, dado que,
como pode ser deduzido da parte
0
295 300 305 310 315 320 325 inferior da Figura 1-4b, sua capaci-
Comprimento de onda (nm) dade intrínseca de absorção de luz
de tais comprimentos de onda é
FIGURA 1-4 Espectro de absorção do O3: (a) de 200 a 300 nm bastante limitada. A quantidade re-
e (b) de 295 a 325 nm. Note que são utilizadas escalas diferentes manescente de luz solar nesses com-
para a medida da absorção nos dois casos. [Fontes: (a) M.J. McEwan primentos de onda, entre 10 e 30%
and L.F. Phillips, Chemistry of the Atmosphere. (London: Edward Arnold, 1975).
(b) redesenhado de J. B. Kerr and C. T. McElroy, Science 262: 1032-1034.
dependendo da latitude, penetra a
Copyright 1993 by the AAAS.] atmosfera até a superfície da Terra.
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 55

Assim, o ozônio não é completamen-


1016
te eficiente em nos proteger da luz
na região do UV-B, definida como
aquela compreendida entre 280 e
320 nm (embora diferentes autores No limite superior
da atmosfera
discordem ligeiramente sobre os
limites dessas regiões). Como a ab-
sorção pelo ozônio decresce de for- 1015

Intensidade relativa de luz


ma quase exponencial com o com-
primento de onda nessa região (ver
Figura 1-4b), a fração do UV-B que
atinge a troposfera aumenta com o
aumento do comprimento de onda.
Como nem o ozônio nem qual-
quer outro constituinte da atmosfera 1014
limpa absorvem significativamen-
Na
te na faixa do UV-A, i.e., 320-400 troposfera
nm, a maior parte disso, o tipo de luz
ultravioleta biologicamente menos
nocivo atinge a superfície da Terra.
(O gás dióxido de nitrogênio absor-
ve luz UV-A, mas está presente em 1013
200 300 400 500
concentração tão baixa no ar não Comprimento de onda (nm)
poluído que sua absorção líquida da C B A
luz solar é muito pequena.) Luz UV Luz visível
O efeito global do oxigênio dia-
tômico e do ozônio na blindagem da FIGURA 1-5 Intensidade da radiação solar na região UV e em
troposfera dos componentes UV da parte da região visível medida no limite superior da atmosfera e na
luz solar está ilustrado na Figura 1-5. troposfera. [Fonte: W.L. Chameides and D.D. Davis. Chemical & Engineerinf
News (4 October 1982): 38-52. Copyright 1982 by the American Chemical
A curva da esquerda corresponde à Society. Reproduzida com permissão]
intensidade de luz recebida fora da
atmosfera terrestre, enquanto a cur-
va da direita corresponde à luz que é transmitida até a troposfera (e, portanto, até
a superfície). A separação vertical das curvas em cada comprimento de onda cor-
responde à quantidade de luz solar que é absorvida na estratosfera e regiões mais
externas da atmosfera.

Consequências biológicas da depleção do ozônio


A redução na concentração do ozônio estratosférico permite que mais luz UV-B
penetre até a superfície da Terra. Estima-se que um decréscimo de 1% no ozônio
estratosférico resulte em um aumento de 2% na intensidade de UV-B que atinge
a superfície. Esse aumento do UV-B é a principal preocupação ambiental no que
diz respeito à depleção de ozônio, uma vez que leva a efeitos prejudiciais a muitas
formas de vida, inclusive a humana. A exposição aos raios UV-B provoca bron-
56 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar

zeamento e queimaduras à pele humana; a su-


1,0 1012

Intensidade de luz (fótons/mm2 s por nm)


Sensibilidade biológica relativa por fóton

perexposição pode levar ao câncer de pele, a


Luz solar
10 11 forma mais prevalente de câncer. O aumento
nas quantidades de UV-B também pode afe-
10–2 1010 tar de forma adversa o sistema imunológico
humano e o crescimento de algumas plantas
109 e animais.
A maioria dos efeitos biológicos da luz
10–4 108
solar surge porque o UV-B pode ser absorvi-
DNA
10 7 do pelas moléculas de DNA, que podem, en-
tão, sofrer reações prejudiciais. Comparan-
10–6 106 do-se a variação no comprimento de onda
280 320 360 da luz UV-B a diferentes intensidades que
Comprimento de onda (nm)
chegam à superfície da Terra, com as carac-
terísticas de absorção do DNA, como mos-
FIGURA 1-6 Espectro de absorção do DNA e intensi- trado na Figura 1-6, pode-se concluir que os
dade da luz solar na superfície terrestre em função do principais efeitos nocivos da absorção de luz
comprimento de onda. O grau de absorção de energia
luminosa pelo DNA reflete sua sensibilidade biológica a solar ocorrerão em aproximadamente 300
um dado comprimento de onda. [Fonte: Adaptado de nm. De fato, em pessoas de pele clara, a pele
R.B. Setlow, Proceedings of the National Academy of Science mostra um máximo de absorção da luz UV
USA 71 (1974): 3363-3366.]
do sol em aproximadamente 300 nm.
A maior parte dos casos de câncer de pele
em seres humanos ocorre pela superexposição ao UV-B da luz solar. Assim, qual-
quer diminuição no ozônio deve ter como consequência um aumento na incidên-
cia da doença. Felizmente, a grande maioria dos casos de câncer de pele não são
fatais (taxa de mortalidade de 25%), do tipo melanoma maligno, mas de um tipo
que se espalha lentamente, que pode ser tratado e que, em média, afeta aproxima-
damente um em cada quatro norte-americanos em algum momento de sua vida.
O gráfico da Figura 1-7, baseado em dados de saúde de oito países de diferentes
latitudes – e que, portanto, recebem quantidades diferentes de UV na superfície
terrestre –, mostra que o aumento na incidência de câncer de pele do tipo não
melanoma com a exposição à radiação UV é exponencial, visto que o logaritmo da
incidência está relacionado linearmente à intensidade de radiação UV. Por exem-
plo, os índices de ocorrência de câncer de pele na Europa correspondem apenas à
metade dos registrados nos Estados Unidos.
Acredita-se que a incidência de câncer de pele do tipo melanoma maligno,
que afeta aproximadamente um em cada 100 norte-americanos, esteja relaciona-
da a curtos períodos de exposição à radiação UV muito elevada, particularmente
nos primeiros anos de vida. As pessoas particularmente mais suscetíveis são as
sardentas, de pele clara e cabelo louro, que se queimam facilmente e que possuem
verrugas com cores e formas irregulares. A incidência de melanoma maligno tam-
bém está relacionada com a latitude. Homens brancos que residem em lugares de
clima ensolarado como a Flórida ou o Texas estão duas vezes mais propensos a
morrer dessa doença do que aqueles que vivem em estados mais ao norte, embora
parte do aumento das ocorrências seja, provavelmente, atribuído a diferentes pa-
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drões de comportamento pessoal, como na escolha


2,6
das roupas, quanto pelo aumento do teor de UV-B
na luz solar. Curiosamente, pessoas que trabalham
em locais fechados – as quais sofrem uma exposi- 2,2

Log da incidência
ção intermitente ao Sol – são mais suscetíveis que
os trabalhadores de locais externos, bronzeados pelo 1,8
Sol! O período transcorrido entre a primeira expo-
sição ao sol e o aparecimento do melanoma é de 1,4
15-25 anos. Se o melanoma maligno não for tratado
no início, ele pode se espalhar por meio da corrente
sanguínea para outros órgãos do corpo, como o cé- 100 200 300 400
rebro e o fígado. Intensidade anual de radiação
A frase espectro completo é algumas vezes usada ultravioleta (W s/cm2)
para denotar os protetores solares que bloqueiam
tanto a luz UV-A quanto a UV-B. O uso de pro- FIGURA 1-7 Incidência (escala logarítmica) de
tetores solares que bloqueiam o UV-B, mas não o câncer de pele do tipo não melanoma para cada
100.000 homens versus a intensidade anual de
UV-A, pode, na realidade, levar a um aumento na luz UV, utilizando dados de vários países. [Fonte:
incidência de câncer de pele do tipo melanoma, redesenhado de D. Gordon and H. Silverstone, in R.
uma vez que o uso do protetor solar permite que as Andrade et al., Cancer at the skin (Philadelphia: W.B.
Saunders, 1976). pp405-434.]
pessoas exponham a pele à luz solar por um período
prolongado sem sofrer queimaduras. As substâncias
químicas usadas nos protetores solares (por exemplo, partículas de compostos
inorgânicos como o óxido de zinco ou óxido de titânio) tanto refletem ou espalham
a luz como absorvem seu componente UV (por exemplo, compostos orgânicos
insolúveis em água como o octinoxato – octil metoxicinamato – para a absorção
de UV-B, e oxibenzona para o UV-A) antes que esse possa atingir a pele. Os pro-
tetores solares foram um dos primeiros produtos de consumo a utilizar nanopartí-
culas, i.e., partículas minúsculas, com somente poucas dúzias ou poucas centenas
9
de nanômetros (10 m) no tamanho. Como tais partículas são muito pequenas
e não absorvem ou refletem a luz visível, os protetores solares aparentam ser
transparentes.
Compostos protetores solar em potencial são eliminados caso sofram uma rea-
ção química irreversível quando absorvem a luz solar, uma vez que isso poderia
reduzir rapidamente a efetividade da aplicação e porque os produtos da reação
podem ser tóxicos para a pele. Além disso, o PABA (ácido p-aminobenzoico), co-
mum componente do protetor solar, deixou de ser amplamente utilizado por causa
das evidências de que pode causar câncer.
O FPS (Fator de Proteção Solar) de um protetor solar mede o fator multipli-
cador que permite a exposição ao sol sem que a pessoa se queime. Assim, um FPS
de 15 significa que ele ou ela pode ficar exposto ao sol quinze vezes mais tempo do
que sem o protetor solar. Para receber essa proteção, no entanto, o protetor solar
deve ser reaplicado a cada poucas horas.
Devido ao longo período (30-40 anos) entre a exposição ao UV e a subse-
quente manifestação de câncer de pele não maligno, não é provável que os efeitos
da depleção do ozônio ainda sejam observados. O aumento na incidência de cân-
58 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar

cer de pele que tem ocorrido em muitas áreas do mundo – e que ainda está ocor-
rendo, especialmente entre jovens adultos – deve-se, provavelmente, ao aumento
no período de tempo passado ao ar livre sob o sol. Por exemplo, a incidência de
câncer de pele entre os residentes de Queensland, Austrália, a maioria de pele
clara, elevou-se para aproximadamente 75% da população, como resultado da mu-
dança no estilo de vida que levou ao aumento de sua exposição à luz solar, muitos
anos antes do início da depleção do ozônio. Como consequência dessa experiência
com o câncer de pele, a Austrália tornou-se o país líder de conscientização em
saúde pública sobre a necessidade de proteção contra a exposição ao ultravioleta.
Além do câncer de pele, a exposição ao UV tem sido relacionada a muitas
outras doenças humanas. A parte frontal do olho corresponde à parte da anato-
mia onde a luz ultravioleta pode penetrar o corpo humano. Porém, a córnea e o
cristalino filtram aproximadamente 99% da luz UV antes de atingir a retina. Com
o tempo, a luz UV-B absorvida pela córnea e pelo cristalino produz moléculas
altamente reativas chamadas radicais livres, que atacam as estruturas moleculares
podendo produzir cataratas. Existem algumas evidências de que um aumento nos
níveis de UV-B leva a um aumento da incidência de cataratas oculares, em parti-
cular entre pessoas não idosas (ver Figura 1-8). A exposição UV tem sido também
associada a um aumento na taxa de degeneração macular, a morte gradual de cé-
luas na parte central da retina. Maiores exposições ao UV-B também levam a uma
supressão do sistema imune humano, provavelmente resultando em um aumento
na incidência de doenças infecciosas, embora isso ainda não tenha sido estudado
extensivamente.
No entanto, a luz solar possui alguns efeitos positivos à saúde humana. A vita-
mina D, que é sintetizada por precursores químicos a partir da absorção da luz UV
pela pele, é um agente anticâncer. Pesquisas recentes mostraram que a luz solar
no inverno é uma fonte muito fraca de síntese de vitamina D para as pessoas que
vivem nas médias e altas latitudes e que fontes suplementares da vitamina podem
ser aconselháveis. A insuficiência de vitamina D pode reduzir a taxa de regenera-
ção de ossos – uma vez que a vitamina é necessária para a utilização de cálcio pelo
corpo – e, portanto, leva a um aumento na fragilidade dos adultos de meia idade e

(a) (b)
FIGURA 1-8 (a) Um olho humano normal e (b) um olho humano com catarata. [Fontes: (a) Martin
Dohrn/Photo Researchers; (b) Sue Ford/Fhoto Researchers.]
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 59

de idosos. Algumas pesquisas controversas mais recentes indicam que a exposição


moderada ao sol pode reduzir a incidência de diversos tipos de câncer.
Os seres humanos não são os únicos organismos afetados pela luz ultravioleta.
Tem-se especulado que o aumento da exposição ao UV-B pode interferir na efi-
ciência da fotossíntese, e as plantas podem responder com uma menor produção
de folhas, sementes e frutos. Todos os organismos que vivem nos primeiros cinco
metros de profundidade de corpos de águas claras, também deverão experimentar
um aumento na exposição ao UV-B devido à depleção de ozônio, podendo estar
sob risco. Teme-se que a produção das plantas microscópicas, chamadas fitoplânc-
tons, próximas à superfície das águas marinhas estejam sob um risco significativo
com o aumento do UV-B; isso afetaria a cadeia alimentar marinha, da qual elas
representam a base. Experimentos indicam que existe uma inter-relação complexa
entre a produção de plantas e a intensidade de UV-B, uma vez que esse último
também afeta a sobrevivência dos insetos que se alimentam das plantas.

Variação na energia da luz com o comprimento de onda


Como Albert Einstein concebeu, a luz pode ser considerada um fenômeno on-
dulatório tanto como tendo propriedades de partículas, já que é absorvida (ou
emitida) pela matéria somente em pacotes finitos, hoje chamados de fótons.
A quantidade de energia, E, associada a cada fóton, está relacionada com a fre-
quência, , e o comprimento de onda, , da luz, pelas fórmulas.
E  h ou E  hc/ onde v  c
Aqui, h é a constante de Planck (6,626218  1034 J s) e c é a velocidade
da luz (2,997925  108 m s1). A partir dessa equação, pode-se dizer que quanto
menor o comprimento de onda da luz, maior será a energia transferida à matéria,
quando absorvida. A luz ultravioleta contém alto teor de energia, a luz visível é
de energia intermediária e a luz infravermelha é de baixa energia. Além disso,
a luz UV-C é maior em energia que a UV-B, que, por sua vez, é mais energética
que a UV-A.
Por conveniência, o produto hc na equação acima pode ser avaliado em base
molar para fornecer uma fórmula simples que relaciona a energia absorvida por 1
mol de matéria quando cada molécula absorve um fóton de um dado comprimento
de onda luminosa. Quando o comprimento de onda é expresso em nanômetros, o
1
valor de hc por mol é 119.627 kJ nm mol , de tal forma que a equação resulta em:
E  119.627/
1
onde E está em kJ mol se  está em nm.
As energias dos fótons de luz nas regiões UV e visível são da mesma ordem
de grandeza que as variações de entalpia (calor), H , das reações químicas, in-
cluindo aquelas nas quais átomos são gerados a partir da dissociação de moléculas.
Por exemplo, a dissociação de oxigênio molecular em suas formas monoatômicas
1
requer uma variação de entalpia de 498,4 kJ mol :
O2 2O H  498,4 kJ mol1
60 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar

Em geral, podemos calcular a variação de entalpia para qualquer reação lem-


brando da química geral que, para qualquer reação, H é igual a soma das ental-
pias de formação, Hf , dos produtos menos a dos reagentes:
H  Hf (produtos)  Hf (reagentes)
No caso da reação anterior,
H  2 Hf (O, g)  Hf (O2, g)
A partir de dados tabelados, encontramos que Hf (O, g)  +249,2 kJ mol,
e sabemos que Hf (O2, g)  0 uma vez que o gás O2 é a forma mais estável do
elemento. Por substituição,
H  2  249,2  0  498,4
Para uma boa aproximação, para a reação de dissociação, H é igual à ener-
gia necessária para que a reação ocorra. Uma vez que toda a energia deve ser for-
necida por um fóton por molécula (ver a seguir), o comprimento de onda corres-
pondente para a luz é
1 1
  119.627 kJ mol nm/498,4 kJ mol  240 nm
Assim, qualquer molécula de O2 que absorva um fóton de luz de comprimento
de onda de 240 nm ou menor terá um excesso de energia suficiente para se dissociar:
O2 + fóton UV ( 240 nm) 2O
Se a reação é iniciada por energia na forma de luz, ela é chamada de reação
fotoquímica. Diz-se que o oxigênio molecular na reação acima foi dissociado foto-
quimicamente, ou decomposto fotoquimicamente, ou que sofreu fotólise.
Os átomos e as moléculas que absorvem luz (na região do ultravioleta ou
visível) sofrem imediatamente uma mudança na organização de seus elétrons.
Diz-se que existem, temporariamente, em um estado excitado eletronicamen-
te, e para indicá-lo, suas fórmulas são seguidas de um asterisco sobrescrito (*).
No entanto, as moléculas geralmente não permanecem no estado excitado,
e, portanto, não retêm o excesso de energia fornecida pelo fóton por muito
tempo. Em uma pequena fração de segundo, elas devem utilizar a energia para
reagir fotoquimicamente ou retornar ao seu estado fundamental – o arranjo de
elétrons de menor energia (mais estável). Elas retornam rapidamente ao estado
fundamental tanto pela própria emissão de um fóton quanto pela conversão
do excesso de energia em calor, que será distribuído entre as várias moléculas
vizinhas como resultado de colisões (i.e., as moléculas devem “usar a energia
ou perdê-la”).
reação
M fóton M* M fóton
M calor
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 61

Portanto, as moléculas normalmente não são capazes de acumular energia


de diversos fótons até receber a energia suficiente para reagir; toda a energia
excedente necessária para que a reação ocorra deve, em geral, vir de um único
fóton. Assim sendo, a luz de comprimento de onda de 240 nm ou menor pode
resultar na dissociação das moléculas de O2, mas a luz de comprimento de onda
mais longo não contém a energia suficiente para promover a reação, mesmo que
certos comprimentos de onda da luz possam ser absorvidos pelas moléculas (ver
Figura 1-3). No caso de uma molécula de O2, a energia de um fóton de compri-
mento de onda maior que 240 nm pode, se absorvido temporariamente, levar as
moléculas a um estado excitado, mas a energia é rapidamente convertida para
aumentar a energia cinética da molécula e das moléculas que a rodeiam.
O2 fóton ( 240 nm) O2* O2 calor
O2 fóton ( 240 nm) O2* 2 O ou O2 calor

PROBLEMA 1-1
Qual é a energia, em quilojoules por mol, associada a fótons que tem os seguintes
comprimentos de onda? Qual é a importância de cada um desses comprimentos de
onda? [Sugestão: ver Figura 1-2]
(a) 280 nm (b) 400 nm (c) 750 nm (d) 4000 nm

PROBLEMA 1-2
O valor de Ho para a decomposição do ozônio em O2 e oxigênio atômico é +105
kJ mol1:
O3 O2 O
Qual é o maior comprimento de onda de luz que poderia dissociar o ozônio
desta maneira? Tomando como referência a Figura 1-6, determine a região da
luz solar (UV, visível ou infravermelho) em que se encontra esse comprimento
de onda.

PROBLEMA 1-3
Utilizando as informações das entalpias de formação dadas a seguir, calcule o com-
primento de onda máximo que pode dissociar NO2 em NO e oxigênio diatômico.
Recalcule o comprimento de onda no caso da reação resultar na completa disso-
ciação em átomos livres (i.e., N + 2O). A luz com este comprimento de onda está
disponível na luz solar?
1
Valores de Hf (kJ mol ): NO2: 33,2; NO:
o
90,2; N:
472,7; O: 249,2
62 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar

Claro, para que um fóton suficientemente energético forneça a energia para


produzir uma reação, ele deve ser absorvido pela molécula. Como pode ser de-
duzido dos exemplos dos espectros de absorção do O2 e O3 (Figuras 1-3 e 1-4),
existem muitas regiões de comprimentos de onda nas quais as moléculas simples-
mente não absorvem quantidades significativas de luz. Assim, por exemplo, como
as moléculas de ozônio não absorvem luz visível ao redor de 400 nm, a incidência
de luz neste comprimento de onda não causa sua decomposição, muito embora
os fótons de 400 nm carreguem energia suficiente para dissociá-las em oxigênio
atômico e molecular (ver Problema 1-2). Adicionalmente, como já discutido, o
fato de que as moléculas das substâncias absorvem fótons de um dado compri-
mento de onda e que tais fótons são suficientemente energéticos para produzir
uma reação não significa que a reação irá necessariamente ocorrer; a energia do
fóton pode ser desviada pela molécula para outros processos sofridos pelo estado
excitado. Desta forma, a disponibilidade de luz com fóton de energia suficiente
é uma condição necessária, mas não suficiente, para a ocorrência da reação com
qualquer molécula dada.

Formação do ozônio na estratosfera


Nesta seção, são analisadas a formação de ozônio na estratosfera e sua destruição
por processos não catalíticos. Como veremos, a reação de formação gera calor
suficiente para determinar a temperatura dessa região da atmosfera. Acima da
estratosfera o ar é muito rarefeito e a concentração das moléculas é tão baixa que
a maioria do oxigênio existe na forma atômica, como resultado da dissociação da
molécula de O2 pelos fótons UV-C da luz solar. As eventuais colisões dos átomos
de oxigênio entre si leva à reformação de moléculas de O2, as quais, subsequen-
temente, se dissociam de novo fotoquimicamente, à medida que mais luz solar é
absorvida.
Na própria estratosfera, a intensidade de luz UV-C é muito menor, uma vez
que grande parte dela é filtrada pelo oxigênio da parte superior. Além do mais,
uma vez que o ar é mais denso, a concentração do oxigênio molecular é bastante
superior. Em função dessa combinação de razões, a maioria do oxigênio da estra-
tosfera existe como O2 em vez de oxigênio atômico. Como a concentração de O2
molecular é relativamente elevada e a concentração de oxigênio atômico é tão
pequena, o destino mais provável dos átomos de oxigênio estratosféricos criados
pela decomposição fotoquímica do O2 não é a sua colisão mútua para regenerar
novamente moléculas de O2. O mais provável, a esta altitude, é sua colisão com
moléculas de oxigênio diatômico intactas e não dissociadas, resultando, assim, na
produção de ozônio:
O O2 O3 calor
Esta reação é a fonte de todo o ozônio da estratosfera. Durante as horas de luz,
o ozônio está sendo constantemente formado por esse processo, cuja velocidade
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 63

depende da quantidade de luz UV e, portanto, da concentração de átomos e molé-


culas de oxigênio a uma dada altitude.
Na parte inferior da estratosfera, a abundância de O2 é muito maior que na
parte superior, uma vez que a densidade do ar aumenta progressivamente à medida
que nos aproximamos da superfície. No entanto, uma quantidade relativamente
pequena de oxigênio está dissociada neste nível e, dessa forma, pouco ozônio é for-
mado uma vez que quase toda a luz UV de alta energia foi filtrada da luz solar antes
de atingir esta altitude. Por essa razão, a camada de ozônio não se estende muito
abaixo da estratosfera. De fato, o ozônio presente na baixa estratosfera é forma-
do principalmente em alturas superiores e transportados até lá. Em contraste, na
parte superior da estratosfera, a intensidade de UV-C é maior, mas o ar é rarefeito
e, portanto, relativamente menos ozônio é produzido, uma vez que os átomos de
oxigênio colidem e reagem entre si em vez de reagirem com o pequeno número de
molécula intactas de O2. Consequentemente, a produção de ozônio alcança um
máximo onde o produto da intensidade UV-C e a concentração de O2 é máximo.
A densidade máxima de ozônio ocorre mais abaixo – a cerca de 25 km sobre as
áreas tropicais, 21 km sobre latitudes intermediárias e 18 km sobre as regiões su-
bárticas – já que a maior parte é transportada para baixo após sua produção. De
forma geral, a maioria do ozônio está localizada entre 15 e 35 km, i.e., nas camadas
inferior e média da estratosfera, na região conhecida informalmente como a cama-
da de ozônio (ver Figura 1-1a).
Uma terceira molécula, que designaremos de M, tal como N2 ou H2O, ou
mesmo outra molécula de O2, é necessária para retirar a energia térmica gerada na
colisão entre oxigênio atômico e o O2, que produziu o ozônio. Então, a reação é
escrita de forma mais real como
O O2 M O3 M calor
A liberação de calor por essa reação resulta na temperatura mais elevada da
estratosfera que a do ar acima e abaixo dela, como indicado na Figura 1-1b.
Observe na Figura 1-1b que na estratosfera o ar a uma dada altura é mais frio
que aquele que se encontra acima dele. O nome geral para este fenômeno é inversão
térmica. Pelo fato do ar frio ser mais denso que o ar quente, o primeiro não se ele-
va espontaneamente por causa da força da gravidade; consequentemente, a mistura
vertical do ar na estratosfera é um processo muito lento comparado com a mistura na
troposfera. O ar nesta região está, portanto, estratificado – daí o nome estratosfera.
Em contraste com a estratosfera, existe uma mistura vertical forte do ar dentro
da troposfera. O sol aquece a superfície e, consequentemente, o ar em contato
com ela, muito mais que o ar a alguns quilômetros de altitude. É por essa razão
que a temperatura do ar cai com o aumento da altitude na troposfera; a taxa de
decréscimo da temperatura com a altitude é chamada de taxa de lapso. O ar mais
denso e quente sobe da superfície e propicia um aumento na troca vertical de ar
dentro da troposfera.
64 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar

PROBLEMA 1-4
Dado que a concentração total de moléculas no ar diminui com o aumento da al-
titude, você espera que a concentração relativa de ozônio, na escala de ppb, atinja
o máximo a altitudes maiores, menores, ou a mesma altitude comparada com o
máximo da concentração absoluta dos gases?

Destruição do ozônio estratosférico


Os resultados do Problema 1-2 mostram que os fótons de luz na região do visível,
e mesmo uma porção da região do infravermelho da luz solar, possuem energia
suficiente para separar um átomo de oxigênio de uma molécula de O3. No en-
tanto, esses fótons não são absorvidos eficientemente pela molécula de ozônio e
consequentemente sua dissociação por este tipo de luz não é importante, com ex-
ceção da baixa estratosfera, onde há pouca penetração da luz UV. Como já visto,
o ozônio absorve eficientemente a luz UV com comprimento de onda menor que
320 nm, e o estado excitado assim produzido sofre reação de dissociação. Assim,
a absorção de um fóton de luz UV-C ou UV-B por uma molécula de ozônio na
estratosfera resulta na sua decomposição. Essa reação fotoquímica resulta na maior
parte da destruição do ozônio na média e alta estratosfera.
O3 UV fóton ( 320 nm) O2* O*
Os átomos de oxigênio produzidos na reação do ozônio com a luz UV têm uma
configuração eletrônica que difere dos átomos com energia mais baixa e, portanto,
existem em um estado eletrônico excitado; as moléculas de oxigênio também são
produzidas em um estado excitado.

PROBLEMA 1-5
Tomando como referência as informações do Problema 1-2, calcule o comprimen-
to de onda de luz mais longo que decompõe o ozônio a O* e O*2, considerando os
seguintes dados termoquímicos:
O O* H  190 kJ mol1
O2 O2* H  95 kJ mol1
[Sugestão: Expresse a reação global da decomposição do O3 como a soma das reações
individuais para as quais os valores de H estão disponíveis e combine seus valores de
H de acordo com a lei de Hess, que diz que H para uma reação global é a soma dos
valores de H para as reações simples.]
A maioria dos átomos de oxigênio produzidos na estratosfera pela decompo-
sição fotoquímica do ozônio ou do O2 reage subsequentemente com moléculas
intactas de O2 para formar novamente o ozônio. No entanto, alguns átomos de
oxigênio, em vez disso, reagem com moléculas intactas de ozônio, destruindo-as,
uma vez que são convertidas a O2:
O3 O 2 O2
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 65

De fato, o átomo de oxigênio não O


ligado toma um átomo de oxigênio da
molécula de ozônio. Essa reação é ine- UV-C O2
O2 O O3
rentemente ineficiente, uma vez que,
embora seja uma reação exotérmica,
sua energia de ativação de 17 kJ mol1 UV-B
é suficientemente elevada para que as
reações atmosféricas a superem. Conse- FIGURA 1-9 O mecanismo de Chapman.
quentemente, poucas colisões ocorrem
ente O3 e O com energia suficiente para que a reação se desenvolva.
Resumindo o processo, o ozônio da estratosfera está sendo constantemente
formado, decomposto e regenerado durante as horas de luz por uma série de rea-
ções que ocorrem simultaneamente, embora a diferentes velocidades, dependendo
da altitude. O ozônio é produzido na estratosfera porque há luz UV-C adequada
procedente da luz solar para dissociar algumas moléculas de O2 e, desse modo,
produzir átomos de oxigênio, a maioria dos quais colide com outras moléculas de
O2 e forma o ozônio. O gás ozônio filtra UV-B e UV-C da luz solar, mas é destruído
temporariamente por este processo ou pela reação com os átomos de oxigênio. O
tempo de vida médio de uma molécula de ozônio a uma altitude de 30 km é de
cerca de meia hora; na baixa estratosfera, dura por meses.
O ozônio não é formado abaixo da estratosfera por causa da ausência de UV-C
exigida para produzir os átomos de O necessários para formar O3, dado que este
tipo de luz solar foi absorvida pelo O2 e O3 na estratosfera. Acima da estratosfera,
os átomos de oxigênio são predominantes e geralmente colidem com outros áto-
mos de O para formar novamente moléculas de O2.
Os processos de produção e destruição de ozônio discutidos constituem o cha-
mado mecanismo (ou ciclo) de Chapman, mostrado na Figura 1-9. Lembre-se que
a série de etapas de reações simples que documentam como um processo químico
global –, tal como a produção e destruição do ozônio ocorre em nível molecular –,
é chamada de mecanismo de reação.
Mesmo na região da camada de ozônio da estratosfera, o O3 não é o gás
em maior abundância, nem mesmo a espécie dominante, entre as que contêm
oxigênio; sua concentração relativa nunca ultrapassa 10 ppmv. Portanto, o ter-
mo camada de ozônio é de certa forma errôneo. Mesmo assim, essa pequena
concentração de ozônio é suficiente para filtrar todo o UV-C remanescente e
grande parte do UV-B da luz solar antes que este atinja a baixa atmosfera. Tal-
vez o nome alternativo de escudo de ozônio seja mais apropriado que camada
de ozônio.
Como no caso do ozônio estratosférico, não é incomum encontrar que a
concentração de uma substância, natural ou sintética, em algum compartimento
do meio ambiente ou em um organismo, não se altere muito com o tempo em
algum compartimento do meio ambiente ou em um organismo. Isso não sig-
nifica necessariamente que não exista um aporte ou sumidouro da substância.
Isso ocorre, com mais frequência, porque a taxa de aporte e a taxa com que a
substância decai ou é eliminada de algum compartimento no meio ambiente
66 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar

QUADRO 1-1 Análise do estado estacionário das reações atmosféricas

A aproximação do estado estacionário A velocidade global da variação da concen-


Se conhecemos a natureza das etapas das tração dos átomos de O com o tempo é igual a
reações de criação e destruição para uma sua velocidade de formação menos a sua velo-
substância reativa, podemos desenvolver, al- cidade de destruição:
gebricamente, uma equação útil para sua con-
variação de velocidade
centração no estado fundamental.
de [O]  2 kii[O2]  2 kii[O]2[M]
Como um exemplo simples, considere a
formação e destruição dos átomos de oxigê- Quando o oxigênio atômico está em um estado
nio na estratosfera superior. Como mencio- estacionário, essa velocidade global deve ser
nado, os átomos são formados pela dissocia- zero; portanto, o termo à direita dessa equação
ção fotoquímica de moléculas de oxigênio também deve ser zero. Como consequência,
diatômico: segue-se que

O2 2O (i) kii[O]2[M]  ki[O2]

Os átomos formam novamente o oxigênio dia- Pelo rearranjo desta equação, obtemos a rela-
tômico quando dois deles colidem simultanea- ção entre as concentrações do O e do O2 no
mente com uma terceira molécula, M, a qual estado estacionário:
pode dissipar a maior parte da energia liberada [O]ss2/[O2]ss  ki/(kii[M])
pela molécula recém-formada de O2:
Vemos agora por que a relação entre átomos
O O M O2 M (ii) de oxigênio e moléculas diatômicas aumenta à
Lembre-se da química fundamental, segun- medida que nos deslocamos para regiões mais
do a qual a velocidade nas etapas individuais altas na estratosfera: é porque a pressão do ar
nos mecanismos de reação pode ser calculada cai; portanto, [M] também cai, de tal forma que
a partir das concentrações dos reagentes e da a velocidade de formação do O2 diminui.
constante de velocidade, k, para a etapa. En-
Análise do estado estacionário do
tão, a velocidade de reação (i) é igual a ki [O2].
mecanismo de Chapman
A constante de velocidade ki, neste caso, in-
corpora a intensidade da luz que colide com o Após a introdução, estamos prontos para
oxigênio molecular. Portanto, como são forma- aplicar as análises de estado estacionário ao
dos dois átomos de O para cada molécula de O2 mecanismo de Chapman. As quatro reações
que se dissocia, de interesse estão apresentadas novamente a
seguir. Note que a recombinação dos átomos
velocidade de formação de átomos de O, i.e., reação (ii), não está incluída, dado
de O  2ki[O2] que sua velocidade de reação na média e baixa
A velocidade de destruição de átomos de estratosfera não é competitiva com as outras
oxigênio pela reação (ii) é reações, uma vez que lá, a concentração dos
átomos de oxigênio é pequena.
velocidade de destruição de átomos
de O = 2 kii[O]2[M] O2 2O (1)

onde elevamos ao quadrado a concentração O O2 M O3 M (2)


de átomos de oxigênio, porque dois deles estão O3 O2 O (3)
envolvidos nas etapas como reagentes.
O3 O 2 O2 (4)
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 67

Observando que o O é produzido ou consumi- locidade1, então essa última pode ser omitida,
do em todas as quatro reações, obtemos qua- restando simplesmente
tro termos na expressão de velocidade global
velocidade3  velocidade2
e consideramos que o sistema encontra-se no
estado estacionário: Empregando as expressões para as duas veloci-
dades de reação em termos de concentrações
variação de velocidade de [O] 
de seus reagentes,
2 velocidade1  velocidade2
velocidade3  velocidade4  0 (A) k3[O3]  k2[O][O2][M]
Outras informações úteis sobre as concen- Rearranjando essa equação, podemos resolver
trações podem se obtidas considerando a ex- para a razão entre o ozônio e o oxigênio atô-
pressão do estado estacionário para a concen- mico:
tração de ozônio:
[O3]/[O]  k2[O2][M]/k3 (D)
variação de velocidade de [O3] 
As equações (C) e (D) nos fornecem duas
velocidade2  velocidade3
equações para os dois termos desconhecidos,
 velocidade4  0 (B)
[O] e [O3]. Multiplicando-se seus lados esquer-
Se somarmos as expressões das variações de ve- dos e igualando os resultados com os produtos
locidade em [O] e em [O3], i.e., equações (A) e de seus lados direitos, eliminamos o [O] e temos
(B), verificamos que as velocidades das reações uma equação para a concentração de ozônio:
(2) e (3) se cancelam, e obtemos
[O3]  [O2] [M] k1k2/k3k4
2 2

2 velocidade1 – 2 velocidade4  0
ou, extraindo a raiz quadrada de ambos os la-
Utilizando as expressões em termos de concen- dos, obtemos uma expressão para a concentra-
trações de reagentes para as duas velocidades, ção de ozônio no estado estacionário em ter-
temos mos da concentração de oxigênio diatômico:
2 k1[O2]  2 k4[O3][O]  0 [O3]ss/[O2]ss  [M]0,5 (k1k2/k3k4)0,5 (E)
ou Dessa forma, a razão entre ozônio e oxigênio
diatômico no estado estacionário depende da
[O3][O]  k1[O2]/k4 (C)
raiz quadrada da densidade do ar através de
Outra expressão útil pode ser obtida sub- [M]. A razão é também proporcional à raiz qua-
traindo-se a equação (B) de (A). Obtemos drada do produto das constantes de reação 1
e 2, em que o oxigênio atômico e, posterior-
2 velocidade1  2 velocidade2
mente, ozônio são produzidos, e inversamente
2 velocidade3  0
proporcional à raiz quadrada do produto da
que por meio de rearranjos e cancelamentos constante de velocidade da reação de destrui-
torna-se ção do ozônio. A substituição de valores nu-
méricos para as constantes de velocidade k e
velocidade3  velocidade2  velocidade1
[M] na equação (E) permite prever a ordem de
Por razões experimentais sabe-se que velocida- grandeza correta para a razão ozônio/oxigênio
de2 (e velocidade 3) são muito maiores que ve- diatômico, i.e., de cerca de 104 na média es-

(continua)
68 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar

Análise do estado estacionário das reações atmosféricas


QUADRO 1-1
(continuação)

tratosfera. O ozônio nunca é a principal das es- Assim, estima-se que a concentração de oxigê-
pécies que contêm oxigênio na atmosfera, nem nio atômico aumente com a altitude, enquanto
mesmo na “camada de ozônio”. [M] diminui – como em nossas análises ante-
A equação (E) prevê que a concentração riores, para a atmosfera mais alta –, e enquanto
de ozônio, em relação ao oxigênio diatômico, k1 e k3 aumentam, uma vez que intensidade da
deve cair lentamente com a subida na atmos- luz UV aumenta com o aumento da altitude,
fera, dado que ela é proporcional à raiz qua- embora, abaixo a cerca de 50 km, o ozônio seja
drada da densidade do ar, pela dependência de sempre dominante.
[M]. Isso ocorre porque a reação de formação A produção de ozônio por meio da reação (2)
de ozônio, por meio da equação 2, torna-se é decisivamente dependente do suprimento de
lenta com a diminuição de [M]. Essa diminui- átomos de oxigênio livres na reação (1). A velo-
ção com o aumento da altitude é observada na cidade de produção de átomos de oxigênio, em
alta estratosfera e acima dela. Abaixo de cerca termos, é altamente dependente da intensida-
de 35 km, no entanto, a mudança mais impor- de de UV-C da luz solar. Como já observamos,
tante nos termos da equação (E) envolve k1 essa intensidade diminui drasticamente quando
e, consequentemente, a razão [O3]/[O2] não é descemos pela estratosfera. A intensidade da luz
simplesmente proporcional a [M]0,5. UV-C também depende bastante da latitude,
A constante de velocidade k1 incorpora a sendo mais forte sobre o Equador e diminuindo
intensidade de luz solar capaz de dissociar o continuamente em direção aos polos. Assim, a
oxigênio diatômico em seus átomos. Como o produção de ozônio é maior sobre o Equador.
UV-C da luz solar necessário ( < 242 nm) é O comportamento qualitativo da variação
sucessivamente filtrado por absorção durante o prevista está correto, mas a quantidade prevista
percurso até a superfície terrestre, o valor de k1 de ozônio excede a observada – por aproxima-
diminui de maneira especialmente mais rápi- damente um fator de 2 próximo da concentra-
da na baixa estratosfera e abaixo dela. Então, ção máxima. Cientistas descobriram que eles
a concentração de ozônio prevista pela aplica- haviam subestimado a velocidade da reação de
ção da análise do estado estacionário ao me- destruição de ozônio (4) por aproximadamente
canismo de Chapman prediz com sucesso que um fator de quatro vezes, por existirem catali-
a concentração de ozônio terá seu máximo na sadores na estratosfera que aumentam muito a
estratosfera. No entanto, como já discutido, o velocidade da reação global. Essas reações são
máximo real da concentração de ozônio (~ 25 discutidas na próxima seção.
km acima do Equador) ocorre mais abaixo na
estratosfera que na altitude de produção máxi- PROBLEMA 1
ma (~ 40 km) devido ao movimento horizon- Considere o seguinte mecanismo de 3 etapas
tal do ar, que transporta o ozônio para baixo. para produção e destruição dos átomos de oxi-
A substituição da equação (E) em (C) per- gênio excitados, O*, na atmosfera:
mite deduzir uma expressão para a concentra-
ção dos átomos de oxigênio livres no estado O2 O O*
estacionário: O* M O M
[O]ss  (k1k2/k3k4)0,5/[M]0,5 O* H2O 2 OH
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 69

Desenvolva uma expressão para a concentra- Cl2 2 Cl (1)


ção de O* no estado estacionário em termos da
Cl O2 ClO O2 (2)
concentração das outras substâncias químicas
envolvidas. 2 ClO 2 Cl O2 (3)
ClO NO2 ClONO2 (4)
PROBLEMA 2
Obtenha as expressões para as concentra-
Faça uma análise de estado estacionário para
ções do estado estacionário de Cl e ClO e,
d[Cl]/dt e para d[ClO]/dt no seguinte meca-
consequentemente, para a velocidade de des-
nismo:
truição do ozônio.

tornaram-se iguais: dizemos que a substância alcançou um estado estacionário.


O equilíbrio é um caso especial de estado estacionário; ele é alcançado quando
o processo de decaimento é exatamente o oposto ao de aporte. O Quadro 1-1
explora as implicações matemáticas do estado estacionário em situações comuns
envolvendo substâncias reativas.

Processos catalíticos de destruição do ozônio


No início da década de 60 foi constatado que existem outros mecanismos para a
destruição de ozônio na estratosfera, além dos processos descritos no mecanismo
de Chapman. Todos esses processos adicionais envolvem os catalisadores presen-
tes no ar. A seguir, investigaremos dois mecanismos de reação gerais pelos quais o
ozônio estratosférico é cataliticamente destruído, prestando particular atenção no
papel do cloro e do bromo.
Existem várias espécies de átomos e moléculas, designadas em geral como X,
que reagem eficientemente com o ozônio por abstração (remoção) de um átomo
de oxigênio:
X O3 XO O2
Nas regiões da estratosfera onde a concentração de átomos de oxigênio é apre-
ciável, as moléculas de XO reagem subsequentemente com átomos de oxigênio
para produzir O2 e formar novamente a espécie X:
XO O X O2
A reação global correspondente a esse mecanismo de reação é obtida pela
soma algébrica das etapas sucessivas que ocorrem seguidas vezes no ar em número
70 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar

igual de vezes. No caso de etapas adicionais do mecanismo, os reagentes descritos


nas duas etapas são somados entre si e se tornam os reagentes da reação global,
ocorrendo o mesmo para os produtos:
X O3 XO O XO O2 + X O2
As moléculas que são comuns a ambos os lados da equação, neste caso X e
XO, são então canceladas e os termos comuns são reunidos, resultando na reação
global balanceada:
O3 O 2 O2 reação global
Assim, as espécies X são chamadas de catalisadores para a destruição do ozô-
nio na estratosfera, por acelerarem uma reação (aqui, entre O3 e O), mas são even-
tualmente regeneradas intactas, sendo capazes de iniciar o ciclo novamente – le-
vando, neste caso, à destruição de outras moléculas de ozônio.
O3 X O XO O2

O2

Como já discutido (ciclo de Chapman), a reação global pode ocorrer com a


simples colisão entre uma molécula de ozônio e um átomo de oxigênio, mesmo na
ausência de um catalisador, mas quase todas essas reações diretas são ineficientes
para completar a reação. Os catalisadores X aumentam muito a eficiência dessa
reação, i.e., eles aumentam efetivamente o valor de k4 na equação (E), diminuindo
a concentração do ozônio no estado estacionário. Todas as preocupações ambien-
tais relacionadas à depleção do ozônio originam-se do fato de estarmos aumentan-
do inadvertidamente a concentração estratosférica de vários catalisadores X pela
emissão de certos gases na superfície do planeta, especialmente aqueles que con-
têm cloro. Esse aumento na concentração do catalisador leva a uma redução na
concentração de ozônio na estratosfera pelo mecanismo mostrado anteriormente
e por um outro, que será discutido adiante.
A maior parte da destruição do ozônio pelo mecanismo catalítico (i.e., a com-
binação de etapas sequenciais) descrito anteriormente e que daqui em diante será
designado Mecanismo I, ocorre na média e alta estratosfera, onde a concentração
de ozônio é baixa para ser iniciada. Do ponto de vista químico, todos os catali-
sadores X são radicais livres, átomos ou moléculas contendo um número ímpar
de elétrons. Como consequência desse número ímpar, um dos elétrons não está
emparelhado com outro de spin contrário (como ocorre com todos os elétrons
em quase todas as moléculas estáveis). Os radicais livres são geralmente muito
reativos visto que existe uma força indutora para seu elétron desemparelhado se
emparelhar com outro de spin oposto, mesmo que este último esteja localizado em
uma molécula diferente. As determinações das estruturas apropriadas de ligações
para os radicais livres simples serão descritas no Capítulo 5.
Uma análise de quais reações com radicais livres são mais prováveis no ar e
quais não são, é apresentada no Quadro 1-2.
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 71

QUADRO 1-2 Velocidades de reação dos radicais livres

A velocidade de uma dada reação química


é afetada por uma variedade de parâme-
tros, principalmente pela magnitude da ener-
exemplo de uma reação radicalar exotérmica
com uma barreira de energia pequena é
Cl O3 ClO O2
gia de ativação necessária para que a reação
ocorrera. Assim, reações com energia de ati- Aqui a energia de ativação é somente de 2
vação apreciáveis são, inerentemente, proces- kJ mol1.
sos muito lentos, podendo com frequência ser As reações envolvendo a combinação de
ignoradas quando comparadas com processos dois radicais livres geralmente são exotérmi-
mais rápidos para as mesmas espécies químicas cas, uma vez que uma nova ligação é formada.
envolvidas. Nas reações envolvendo radicais Dessa forma, elas também prosseguem rapida-
livres simples em fase gasosa como reagentes, mente com pequena energia de ativação, desde
a energia de ativação excede àquela impos- que as concentrações de radicais livres sejam
ta pela sua endotermicidade por apenas uma suficientemente elevadas para permitirem que
pequena quantidade. Por isso, podemos con- os reagentes colidam uns com os outros a uma
siderar, reciprocamente, que toda reação exo- velocidade mais alta.
térmica envolvendo radicais livres terá apenas Em contraste, as reações endotérmicas que
uma pequena energia de ativação (Figura 1a). ocorrem na atmosfera serão bem mais lentas,
Dessa maneira, reações exotérmicas envolven- porque a barreira de ativação deve ser necessaria-
do radicais livres são usualmente rápidas (des- mente muito maior (ver Figura 1b). Sob tempe-
de que, naturalmente, os reagentes existam em raturas atmosféricas, poucas, se algumas, colisões
concentrações razoáveis na atmosfera). Um entre moléculas têm energia suficiente para su-

(a) (b)

Ea
ΔH > 0

Ea
Energia potencial

ΔH < 0

Reagentes Produtos Reagentes Produtos


Extensão da reação

FIGURA 1 Perfis de energia potencial para reações típicas de radicais livres na atmosfera, mostrando padrões
(a) exotérmico e (b) endotérmico.
(continua)
72 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar

QUADRO 1-2 Velocidades de reação envolvendo radicais livres (Continuação)

perar essa elevada barreira e permitir que a rea- hidrogênio da água por um oxigênio atômico
ção ocorra. Um exemplo é a reação endotérmica: no estado fundamental, considerando que a
reação seja endotérmica por aproximadamen-
OH HF H2O F
te 69 kJ mol1. No mesmo diagrama, mostre o
Sua energia de ativação deve ser pelo menos perfil de energia para a reação de O* com H2O
igual a H  +69 kJ mol e, consequentemente, para gerar os mesmos produtos, considerando
a reação seria tão lenta a temperaturas estratos- que O* está acima do estado fundamental do
féricas, que podemos ignorá-las completamente. átomo de oxigênio (O) por 190 kJ mol. A par-
tir dessas curvas prediga por que a abstração
PROBLEMA 1 pelo O* ocorre mais rapidamente, enquanto
Desenhe um diagrama de energia similar ao a abstração pelo O é extremamente lenta na
da Figura 1b, para a abstração de um átomo de atmosfera.

Destruição catalítica de ozônio pelo óxido de nitrogênio


A destruição catalítica do ozônio ocorre mesmo em uma atmosfera “limpa”
(aquela não poluída por contaminantes artificiais), uma vez que pequenas
quantidades de catalisadores X sempre estiveram presentes na estratosfera.
Uma versão natural importante de X – isto é, uma das espécies responsáveis
pela destruição catalítica do ozônio em uma atmosfera não poluída – é a mo-
lécula de radical livre de óxido de nitrogênio, NO. Ele é produzido quando as
moléculas de óxido nitroso, N2O, sobem da troposfera para a estratosfera, onde
podem eventualmente colidir com um átomo de oxigênio excitado produzido
pela decomposição fotoquímica do ozônio. A maior parte dessas colisões resul-
tará em N2 + O2 como produtos, e algumas poucas resultarão na produção de
óxido de nitrogênio:
N2O O* 2 NO
Podemos ignorar a possibilidade de que o NO produzido na troposfera irá mi-
grar para a estratosfera. Como explicado no Capítulo 2, o gás é, de modo eficiente,
oxidado a ácido nítrico, solúvel na chuva e, assim, prontamente removido do ar
troposférico antes que esse processo ocorra.
As moléculas de NO que são produtos dessa reação destroem cataliticamente
o ozônio pela abstração de um átomo de oxigênio do ozônio, formando o dióxido
de nitrogênio, NO2. Elas atuam com X no Mecanismo I:
NO O3 NO2 O2
NO2 + O NO + O2
global O3 + O 2 O2
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 73

PROBLEMA 1-6
Nem todas as moléculas XO, como o NO2, sobrevivem por tempo suficiente para
reagir com os átomos de oxigênio; algumas são decompostas fotoquimicamente a
X e oxigênio atômico, que então reage com O2 para regenerar o ozônio. Escreva
as três etapas (incluindo uma para a destruição do ozônio) para esse processo e
combine-as para deduzir a reação global. Essa sequência destrói o ozônio total ou é
um ciclo nulo, definido como um ciclo que envolve uma sequência de etapas com
nunhuma mudança química global?
Outro importante catalisador X presente na estratosfera é o radical livre hidro-
xila, OH. Ele se origina da reação dos átomos de oxigênio excitados, O*, com as
moléculas de água ou com o metano, CH4:
O* CH4 OH CH3
O metano se origina na superfície terrestre, e uma pequena fração sobrevive
por um tempo suficiente para migrar para a estratosfera.

PROBLEMA 1-7
Escreva o mecanismo de duas etapas pelo qual o radical livre hidroxila destrói
cataliticamente o ozônio pelo Mecanismo I. Pela combinação das etapas, deduza
a reação global.

PROBLEMA 1-8
Analogamente às reações com o metano, escreva uma equação balanceada para a
reação pela qual o O* produz OH a partir de vapor de água.

Destruição catalítica do ozônio sem oxigênio atômico:


Mecanismo II
Um fator que minimiza a destruição catalítica do ozônio pelo Mecanismo I em
fase gasosa é a necessidade da presença de átomos de oxigênio para completar o
ciclo pela reação com XO, que permite a regeneração do catalisador X sob uma
forma utilizável:
XO O X O2
Como discutido acima, a concentração de átomos de oxigênio é muito baixa
na baixa estratosfera (15-25 km de altitude), de tal forma que a destruição de
ozônio na fase gasosa por reações que necessitam de oxigênio atômico é lenta
neste local.
Existe um outro mecanismo catalítico geral, daqui em diante designado de
Mecanismo II, que diminui o ozônio na baixa estratosfera, particularmente quan-
do as concentrações dos catalisadores X são relativamente altas. Primeiro, duas
74 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar

moléculas de ozônio são destruídas pelos catalisadores discutidos e pela mesma


reação inicial:
X O3 XO O2
X O3 XO O2
Empregamos X para simbolizar o catalisador na segunda equação e para indi-
car que ele não precisa ser necessariamente idêntico a X, o catalisador da primeira
equação. Tanto X quanto Xdevem ser um átomo de cloro.
Nas etapas seguintes, as duas moléculas XO e XO, que tiveram adicionadas
um átomo de oxigênio, reagem entre si. Como consequência, os catalisadores X e
X são regenerados, normalmente após a formação e decomposição pelo calor ou
pela luz da molécula combinada, mas instável, XOOX:
XO XO [XOOX] X X O2
(Por convenção, em química, uma espécie apresentada em colchetes tem uma
existência transitória.) Quando somamos essas etapas, a reação global é a seguinte
2 O3 3 O2
Veremos vários exemplos de Mecanismos catalíticos II ocorrendo nos buracos
de ozônio (Capítulo 2) e na baixa estratosfera em latitudes médias. De fato, a
maioria da perda de ozônio na baixa estratosfera ocorre de acordo com a reação
global. Os Mecanismos I e II estão resumidos na Figura 1-10.
Finalmente, notamos que, enquanto a velocidade de produção do ozônio a
partir de oxigênio depende somente das concentrações de O2 e O3 e da da luz
UV a uma dada altitude, as razões que determinam a velocidade de destruição
são mais complexas, de certa forma. A velocidade de decomposição pelo UV-B
ou por catalisadores depende da concentração do ozônio multiplicada ou pela in-
tensidade da luz solar ou pela concentração do catalisador, respectivamente. Em
geral, a concentração do ozônio aumentará até que a velocidade global de destrui-
ção se iguale à velocidade de produção, permanecendo, assim, constante nessa
condição de estado estacionário desde que a intensidade de luz solar permaneça a
mesma. Se, no entanto, a velocidade de destruição for temporariamente aumen-
tada pela introdução de moléculas adicionais de catalisadores, a concentração no
estado estacionário do ozônio deverá, então, diminuir para um valor menor, no

Mecanismo II
Mecanismo I
X O3 XO O2
X O3 XO O2 X O3 XO O2
XO O X O2 XO XO X X O2
O3 O 2 O2 global 2 O3 3 O2 global

FIGURA 1-10 Resumo dos Mecanismos I e II da destruição catalítica do ozônio.


C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 75

qual as velocidades de formação e destruição são novamente iguais. Entretanto,


deve ficar claro, a partir dessa discussão, que, em função das constantes reações de
regeneração, o ozônio atmosférico não pode ser permanentemente e totalmente
destruído, independentemente de quão elevada seja a concentração do catalisa-
dor. Deve-se também perceber que qualquer diminuição na concentração de ozô-
nio a altitudes elevadas permite a penetração de mais UV a baixas altitudes, o que
produz mais ozônio local; assim, existe uma espécie de “autorrestabelecimento”
na perda total de ozônio.

Cloro e bromo atômicos como catalisadores X


A decomposição de gases sintéticos contendo cloro na estratosfera, durante as úl-
timas décadas, tem gerado uma quantidade substancial de cloro atômico, Cl, nessa
região. À medida que as concentrações de cloro estratosférico aumentam, também
aumenta o potencial de destruição do ozônio, uma vez que o radical livre Cl é um
eficiente catalisador X.
No entanto, os gases sintéticos não são as únicas fontes de cloro na camada
de ozônio. Sempre existiu um pouco de cloro na estratosfera como resultado de
uma lenta migração ascendente do gás cloreto de metila, CH3Cl (também chama-
do clorometano), produzido na superfície da Terra – principalmente nos oceanos,
como resultado da interação do íon cloreto com a vegetação em decomposição.
Recentemente, uma outra grande fonte de cloreto de metila, as plantas tropicais,
foi descoberta; essa pode ser a fonte do composto que os cientistas vêm procurando.
Somente uma porção das moléculas de cloreto de metila é destruída na tro-
posfera. Quando essas moléculas intactas atingem a estratosfera, elas são decom-
postas fotoquimicamente pelo UV-C ou atacadas pelos radicais OH. Em ambos os
casos, o cloro atômico, Cl, é inexoravelmente produzido.
CH3Cl UV-C Cl CH3
ou
OH CH3Cl Cl outros produtos
Os átomos de cloro são catalisadores X eficientes na destruição de ozônio pelo
Mecanismo I:
Cl O3 ClO O2
ClO + O Cl + O2
global O3 + O 2 O2
Cada átomo de cloro pode destruir cataliticamente milhares de moléculas de
ozônio dessa maneira. Em qualquer momento, entretanto, a grande maioria do
cloro estratosférico não existe normalmente como Cl nem como o radical livre
monóxido de cloro, ClO, mas como uma forma que não é um radical livre e que
é inativa como catalisador na destruição de ozônio. As duas principais moléculas
cataliticamente inativas (ou reservatórios) contendo cloro na estratosfera são o gás
cloreto de hidrogênio, HCl, e o gás nitrato de cloro, ClONO2.
76 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar

O nitrato de cloro é formado pela combinação entre monóxido de cloro e


dióxido de nitrogênio; após poucos dias ou horas, a molécula de ClONO2 formada
é fotoquimicamente decomposta de volta a seus componentes, e então o ClO, que
é cataliticamente ativo, é regenerado.
ClO NO2 ClONO2

No entanto, sob circunstâncias normais existe mais cloro no estado estacio-


nário como ClONO2 do que como ClO. (Processos similares a essa reação ocor-
rem para vários outros constituintes da estratosfera; como veremos no final do
Capítulo 5, as reações são facilmente sistematizadas, de maneira que o número de
processos a ser aprendido torna-se muito reduzido.)
A outra forma cataliticamente inativa de cloro, HCl, é formada quando o clo-
ro atômico abstrai um átomo de hidrogênio da molécula de metano estratosférico:
Cl CH4 HCl CH3
Essa reação é ligeiramente endotérmica, de modo que sua energia de ativação
não é zero, e ela ocorre, portanto, a uma velocidade lenta, mas significativa (ver
Quadro 1-2). O radical livre metila, CH3, não atua como um catalisador X, uma vez
que se combina com uma molécula de oxigênio e, com o tempo, é degradado a di-
óxido de carbono pelas reações discutidas no Capítulo 5. No final, cada molécula
de HCl é novamente convertida para a forma ativa, ou seja, átomos de cloro, pela
reação com o radical hidroxila:
OH HCl H2O Cl
Novamente, é comum existir muito mais cloro como HCl do que como átomo
de cloro em qualquer momento sob condições de estado estacionário normais.
O

Cl O3 ClO O2
CH4 OH NO2 luz

HCl ClONO2

Quando as primeiras previsões relacionadas à depleção de ozônio estratosfé-


rico foram feitas, na década de 70, não foi constatado que cerca de 99% do cloro
estratosférico está normalmente latente em suas formas inativas. Quando a exis-
tência de cloro inativo foi descoberta, no início da década de 80, a extensão da
perda de ozônio prevista para o futuro foi signficativamente diminuída. Como ve-
remos, no entanto, existem condições sob as quais o cloro inativo pode tornar-se
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 77

temporariamente ativo e pode destruir maciçamente o ozônio, descoberta que não


havia sido feita até o final dos anos 80.
Embora alguma quantidade de cloro sempre tenha estado presente na es-
tratosfera devido a emissão natural de CH3Cl a partir da superfície, nas últimas
décadas ela tem sido completamente suplantada por quantidades muito maiores
de cloro produzido a partir de compostos gasosos sintéticos que são emitidos no
ar durante sua produção ou uso. A maioria dessas substâncias são clorofluorcar-
bonetos (CFCs); sua natureza, uso e substituições serão discutidas em detalhes
no Capítulo 2.
Como no caso do cloreto de metila, grandes quantidades de brometo de me-
tila, CH3Br, também são produzidas naturalmente e, com o tempo, parte dele
eventualmente atinge a estratosfera, onde é decomposto fotoquimicamente para
produzir bromo atômico. Como o cloro, os átomos de bromo podem destruir cata-
liticamente o ozônio pelo Mecanismo I:
Br O3 BrO O2
BrO O Br O2
Em contraste ao cloro, quase todo o bromo na estratosfera permanece nas
formas ativas de radicais livres Br e BrO, já que as formas inativas, o brometo
de hidrogênio, HBr, e o nitrato de bromo, BrONO2, são fotoquimicamente de-
compostas pela luz solar. Além disso, a formação de HBr pelo ataque do bromo
atômico ao metano é uma reação mais lenta que o processo análogo envolvendo
cloro atômico, muito mais endotérmico e, portanto, com uma energia de ativação
mais elevada:
Br CH4 HBr CH3
Uma porcentagem menor de bromo estratosférico existe na forma inativa
quando comparado ao cloro, pelo fato da velocidade de reação ser mais lenta e por
causa da eficiência das reações fotocatalíticas de decomposição. Por essas razões, o
bromo estratosférico é mais eficiente na destruição do ozônio que o cloro (por um
fator de 40 a 50 vezes), mas existe muito menos dele na estratosfera, de tal forma
que, em geral, ele é menos importante.
Quando moléculas como HCl e HBr se difundem da estratosfera de volta à
alta troposfera, elas se dissolvem em gotículas de água e são subsequentemen-
te carregadas para altitudes menores, sendo transportadas até a superfície pela
chuva. Assim, ainda que o tempo de vida do cloro e do bromo na estratosfera
seja longo, não é infinito, e os catalisadores são por fim removidos. No entanto,
átomos de cloro destroem em média cerca de 10.000 moléculas de ozônio antes
de serem removidos!

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