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Química
Atmosférica e
Poluição do Ar
Conteúdos da Parte I
Capítulo 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio
Capítulo 2 Os Buracos na Camada de Ozônio
Capítulo 3 A Química da Poluição Atmosférica à Superfície
Capítulo 4 As Consequências da Poluição do Ar (Exterior e
Interior) para o ambiente e para a Saúde
Capítulo 5 A Química Detalhada da Atmosfera
Introdução
A camada de ozônio é a região
da atmosfera chamada de “escudo
solar natural da Terra”, uma vez
que ela filtra os raios ultraviole-
tas (UV) nocivos provenientes
da luz solar antes que esses pos-
sam atingir a superfície de nosso
planeta, causando danos a seres
humanos e outras formas de vida.
Qualquer redução substancial na
quantidade de ozônio pode colo-
car em perigo a vida na terra. As-
sim, o aparecimento de um gran- Uma menina aplica protetor solar para proteger sua pele contra os
de “buraco” na camada de ozônio raios UV do sol. [Fonte: Lowell George/CORBIS]
sobre a Antártida, em meados
dos anos 80, representou uma crise ambiental de vital importância. Embora
algumas medidas tenham sido tomadas para prevenir sua expansão, o buraco
continuará a aparecer a cada primavera sobre o Polo Sul; de fato, um dos maio-
res e profundos buracos na história ocorreu em 2006. Assim sendo, é importante
entendermos a química natural da camada de ozônio, tópico deste capítulo. Os
50 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar
Regiões da atmosfera
Os componentes principais (desconsiderando o sempre presente, mas variável,
vapor de água) de uma versão não poluída da atmosfera terrestre são nitrogênio
diatômico, N2 (cerca de 78% das moléculas); oxigênio diatômico, O2 (cerca de
21%); argônio, Ar (cerca de 1%); e dióxido de carbono, CO2 (atualmente cer-
ca de 0,04%). (Os nomes das substâncias químicas mais importantes de cada
capítulo estão impressos em negrito, junto com suas fórmulas, quando são apre-
sentadas. Os nomes das substâncias químicas menos importantes no presente
contexto estão impressos em itálico.) Essa mistura de substâncias químicas pa-
rece não reativa nas camadas inferiores da atmosfera, mesmo em temperaturas
ou intensidade de luz solar muito além daquelas encontradas naturalmente na
superfície da Terra.
A falta de reatividade perceptível na atmosfera é enganosa. Na realidade,
muitos processos químicos ambientalmente importantes ocorrem no ar, seja ele
puro ou poluído. Nos próximos dois capítulos, essas reações serão exploradas
em detalhes ao discutirmos as reações que ocorrem na troposfera, a região da
atmosfera que se estende da superfície até aproximadamente 15 quilômetros de
altitude e que contém 85% da massa da atmosfera. No presente capítulo, con-
sideraremos os processos que ocorrem na estratosfera, a porção da atmosfera
que abrange aproximadamente dos 15 até os 50 quilômetros de altitude (9-30
milhas) e que se situa logo acima da troposfera. As reações químicas a serem
consideradas são de vital importância para a continuidade da saúde da camada
de ozônio, que se localiza na metade inferior da estratosfera. As concentrações de
ozônio e as temperaturas médias a altitudes de até 50 km na atmosfera terrestre
estão apresentadas na Figura 1-1.
A estratosfera é definida como a região entre as altitudes onde a temperatura
sofre uma mudança de comportamento: o limite inferior da estratosfera ocorre
onde a temperatura para de sofrer diminuição com a altura e começa a aumentar, e
o limite superior da estratosfera corresponde à altitude onde a temperatura para de
aumentar com a altura e começa a diminuir. A altitude exata na qual a troposfera
termina e a estratosfera se inicia varia com a época do ano e com a latitude.
(a) (b)
60
50
Altitude (km)
40 Estratosfera
Camada de ozônio
30
20
10
Troposfera
0
1 2 3 4 5 –75 –50 –25 0 25
Concentração de ozônio em unidades Temperatura (˚C)
de 1012 moléculas/cm3
FIGURA 1-1 Variação com a altitude de (a) concentração de ozônio (para regiões de latitude in-
termediária) e (b) temperatura do ar, para diferentes regiões da atmosfera inferior.
Comprimento Comprimento
de onda (nm) Faixa principal de onda (nm) Subfaixa
<50 Raios X
50
200
UV-C
Ultravioleta
280
UV-B
320
UV-A
400 400
Violeta
•
Visível •
•
Vermelho
750 750
4.000
(4 m)
Infravermelho
Infravermelho
térmico
100.000
(100 m)
FIGURA 1-2 O espectro eletromagnético. As regiões de grande interesse ambiental estão ilustra-
das neste livro.
10 –17
Medida relativa de absorção
10 –19
10 –21
FIGURA 1-3
10 –23 Espectro de absor-
ção do O2. [Fonte:
T.E. Graedel and P.J.
Crutzen, Atmospheric
10 –25 Change: An Earth Sys-
50 100 150 200 250 temPerspective (New
Comprimento de onda (nm) York: W.H. Freeman,
1993).]
54 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar
Log da incidência
ção intermitente ao Sol – são mais suscetíveis que
os trabalhadores de locais externos, bronzeados pelo 1,8
Sol! O período transcorrido entre a primeira expo-
sição ao sol e o aparecimento do melanoma é de 1,4
15-25 anos. Se o melanoma maligno não for tratado
no início, ele pode se espalhar por meio da corrente
sanguínea para outros órgãos do corpo, como o cé- 100 200 300 400
rebro e o fígado. Intensidade anual de radiação
A frase espectro completo é algumas vezes usada ultravioleta (W s/cm2)
para denotar os protetores solares que bloqueiam
tanto a luz UV-A quanto a UV-B. O uso de pro- FIGURA 1-7 Incidência (escala logarítmica) de
tetores solares que bloqueiam o UV-B, mas não o câncer de pele do tipo não melanoma para cada
100.000 homens versus a intensidade anual de
UV-A, pode, na realidade, levar a um aumento na luz UV, utilizando dados de vários países. [Fonte:
incidência de câncer de pele do tipo melanoma, redesenhado de D. Gordon and H. Silverstone, in R.
uma vez que o uso do protetor solar permite que as Andrade et al., Cancer at the skin (Philadelphia: W.B.
Saunders, 1976). pp405-434.]
pessoas exponham a pele à luz solar por um período
prolongado sem sofrer queimaduras. As substâncias
químicas usadas nos protetores solares (por exemplo, partículas de compostos
inorgânicos como o óxido de zinco ou óxido de titânio) tanto refletem ou espalham
a luz como absorvem seu componente UV (por exemplo, compostos orgânicos
insolúveis em água como o octinoxato – octil metoxicinamato – para a absorção
de UV-B, e oxibenzona para o UV-A) antes que esse possa atingir a pele. Os pro-
tetores solares foram um dos primeiros produtos de consumo a utilizar nanopartí-
culas, i.e., partículas minúsculas, com somente poucas dúzias ou poucas centenas
9
de nanômetros (10 m) no tamanho. Como tais partículas são muito pequenas
e não absorvem ou refletem a luz visível, os protetores solares aparentam ser
transparentes.
Compostos protetores solar em potencial são eliminados caso sofram uma rea-
ção química irreversível quando absorvem a luz solar, uma vez que isso poderia
reduzir rapidamente a efetividade da aplicação e porque os produtos da reação
podem ser tóxicos para a pele. Além disso, o PABA (ácido p-aminobenzoico), co-
mum componente do protetor solar, deixou de ser amplamente utilizado por causa
das evidências de que pode causar câncer.
O FPS (Fator de Proteção Solar) de um protetor solar mede o fator multipli-
cador que permite a exposição ao sol sem que a pessoa se queime. Assim, um FPS
de 15 significa que ele ou ela pode ficar exposto ao sol quinze vezes mais tempo do
que sem o protetor solar. Para receber essa proteção, no entanto, o protetor solar
deve ser reaplicado a cada poucas horas.
Devido ao longo período (30-40 anos) entre a exposição ao UV e a subse-
quente manifestação de câncer de pele não maligno, não é provável que os efeitos
da depleção do ozônio ainda sejam observados. O aumento na incidência de cân-
58 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar
cer de pele que tem ocorrido em muitas áreas do mundo – e que ainda está ocor-
rendo, especialmente entre jovens adultos – deve-se, provavelmente, ao aumento
no período de tempo passado ao ar livre sob o sol. Por exemplo, a incidência de
câncer de pele entre os residentes de Queensland, Austrália, a maioria de pele
clara, elevou-se para aproximadamente 75% da população, como resultado da mu-
dança no estilo de vida que levou ao aumento de sua exposição à luz solar, muitos
anos antes do início da depleção do ozônio. Como consequência dessa experiência
com o câncer de pele, a Austrália tornou-se o país líder de conscientização em
saúde pública sobre a necessidade de proteção contra a exposição ao ultravioleta.
Além do câncer de pele, a exposição ao UV tem sido relacionada a muitas
outras doenças humanas. A parte frontal do olho corresponde à parte da anato-
mia onde a luz ultravioleta pode penetrar o corpo humano. Porém, a córnea e o
cristalino filtram aproximadamente 99% da luz UV antes de atingir a retina. Com
o tempo, a luz UV-B absorvida pela córnea e pelo cristalino produz moléculas
altamente reativas chamadas radicais livres, que atacam as estruturas moleculares
podendo produzir cataratas. Existem algumas evidências de que um aumento nos
níveis de UV-B leva a um aumento da incidência de cataratas oculares, em parti-
cular entre pessoas não idosas (ver Figura 1-8). A exposição UV tem sido também
associada a um aumento na taxa de degeneração macular, a morte gradual de cé-
luas na parte central da retina. Maiores exposições ao UV-B também levam a uma
supressão do sistema imune humano, provavelmente resultando em um aumento
na incidência de doenças infecciosas, embora isso ainda não tenha sido estudado
extensivamente.
No entanto, a luz solar possui alguns efeitos positivos à saúde humana. A vita-
mina D, que é sintetizada por precursores químicos a partir da absorção da luz UV
pela pele, é um agente anticâncer. Pesquisas recentes mostraram que a luz solar
no inverno é uma fonte muito fraca de síntese de vitamina D para as pessoas que
vivem nas médias e altas latitudes e que fontes suplementares da vitamina podem
ser aconselháveis. A insuficiência de vitamina D pode reduzir a taxa de regenera-
ção de ossos – uma vez que a vitamina é necessária para a utilização de cálcio pelo
corpo – e, portanto, leva a um aumento na fragilidade dos adultos de meia idade e
(a) (b)
FIGURA 1-8 (a) Um olho humano normal e (b) um olho humano com catarata. [Fontes: (a) Martin
Dohrn/Photo Researchers; (b) Sue Ford/Fhoto Researchers.]
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 59
PROBLEMA 1-1
Qual é a energia, em quilojoules por mol, associada a fótons que tem os seguintes
comprimentos de onda? Qual é a importância de cada um desses comprimentos de
onda? [Sugestão: ver Figura 1-2]
(a) 280 nm (b) 400 nm (c) 750 nm (d) 4000 nm
PROBLEMA 1-2
O valor de Ho para a decomposição do ozônio em O2 e oxigênio atômico é +105
kJ mol1:
O3 O2 O
Qual é o maior comprimento de onda de luz que poderia dissociar o ozônio
desta maneira? Tomando como referência a Figura 1-6, determine a região da
luz solar (UV, visível ou infravermelho) em que se encontra esse comprimento
de onda.
PROBLEMA 1-3
Utilizando as informações das entalpias de formação dadas a seguir, calcule o com-
primento de onda máximo que pode dissociar NO2 em NO e oxigênio diatômico.
Recalcule o comprimento de onda no caso da reação resultar na completa disso-
ciação em átomos livres (i.e., N + 2O). A luz com este comprimento de onda está
disponível na luz solar?
1
Valores de Hf (kJ mol ): NO2: 33,2; NO:
o
90,2; N:
472,7; O: 249,2
62 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar
PROBLEMA 1-4
Dado que a concentração total de moléculas no ar diminui com o aumento da al-
titude, você espera que a concentração relativa de ozônio, na escala de ppb, atinja
o máximo a altitudes maiores, menores, ou a mesma altitude comparada com o
máximo da concentração absoluta dos gases?
PROBLEMA 1-5
Tomando como referência as informações do Problema 1-2, calcule o comprimen-
to de onda de luz mais longo que decompõe o ozônio a O* e O*2, considerando os
seguintes dados termoquímicos:
O O* H 190 kJ mol1
O2 O2* H 95 kJ mol1
[Sugestão: Expresse a reação global da decomposição do O3 como a soma das reações
individuais para as quais os valores de H estão disponíveis e combine seus valores de
H de acordo com a lei de Hess, que diz que H para uma reação global é a soma dos
valores de H para as reações simples.]
A maioria dos átomos de oxigênio produzidos na estratosfera pela decompo-
sição fotoquímica do ozônio ou do O2 reage subsequentemente com moléculas
intactas de O2 para formar novamente o ozônio. No entanto, alguns átomos de
oxigênio, em vez disso, reagem com moléculas intactas de ozônio, destruindo-as,
uma vez que são convertidas a O2:
O3 O 2 O2
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 65
Os átomos formam novamente o oxigênio dia- Pelo rearranjo desta equação, obtemos a rela-
tômico quando dois deles colidem simultanea- ção entre as concentrações do O e do O2 no
mente com uma terceira molécula, M, a qual estado estacionário:
pode dissipar a maior parte da energia liberada [O]ss2/[O2]ss ki/(kii[M])
pela molécula recém-formada de O2:
Vemos agora por que a relação entre átomos
O O M O2 M (ii) de oxigênio e moléculas diatômicas aumenta à
Lembre-se da química fundamental, segun- medida que nos deslocamos para regiões mais
do a qual a velocidade nas etapas individuais altas na estratosfera: é porque a pressão do ar
nos mecanismos de reação pode ser calculada cai; portanto, [M] também cai, de tal forma que
a partir das concentrações dos reagentes e da a velocidade de formação do O2 diminui.
constante de velocidade, k, para a etapa. En-
Análise do estado estacionário do
tão, a velocidade de reação (i) é igual a ki [O2].
mecanismo de Chapman
A constante de velocidade ki, neste caso, in-
corpora a intensidade da luz que colide com o Após a introdução, estamos prontos para
oxigênio molecular. Portanto, como são forma- aplicar as análises de estado estacionário ao
dos dois átomos de O para cada molécula de O2 mecanismo de Chapman. As quatro reações
que se dissocia, de interesse estão apresentadas novamente a
seguir. Note que a recombinação dos átomos
velocidade de formação de átomos de O, i.e., reação (ii), não está incluída, dado
de O 2ki[O2] que sua velocidade de reação na média e baixa
A velocidade de destruição de átomos de estratosfera não é competitiva com as outras
oxigênio pela reação (ii) é reações, uma vez que lá, a concentração dos
átomos de oxigênio é pequena.
velocidade de destruição de átomos
de O = 2 kii[O]2[M] O2 2O (1)
Observando que o O é produzido ou consumi- locidade1, então essa última pode ser omitida,
do em todas as quatro reações, obtemos qua- restando simplesmente
tro termos na expressão de velocidade global
velocidade3 velocidade2
e consideramos que o sistema encontra-se no
estado estacionário: Empregando as expressões para as duas veloci-
dades de reação em termos de concentrações
variação de velocidade de [O]
de seus reagentes,
2 velocidade1 velocidade2
velocidade3 velocidade4 0 (A) k3[O3] k2[O][O2][M]
Outras informações úteis sobre as concen- Rearranjando essa equação, podemos resolver
trações podem se obtidas considerando a ex- para a razão entre o ozônio e o oxigênio atô-
pressão do estado estacionário para a concen- mico:
tração de ozônio:
[O3]/[O] k2[O2][M]/k3 (D)
variação de velocidade de [O3]
As equações (C) e (D) nos fornecem duas
velocidade2 velocidade3
equações para os dois termos desconhecidos,
velocidade4 0 (B)
[O] e [O3]. Multiplicando-se seus lados esquer-
Se somarmos as expressões das variações de ve- dos e igualando os resultados com os produtos
locidade em [O] e em [O3], i.e., equações (A) e de seus lados direitos, eliminamos o [O] e temos
(B), verificamos que as velocidades das reações uma equação para a concentração de ozônio:
(2) e (3) se cancelam, e obtemos
[O3] [O2] [M] k1k2/k3k4
2 2
2 velocidade1 – 2 velocidade4 0
ou, extraindo a raiz quadrada de ambos os la-
Utilizando as expressões em termos de concen- dos, obtemos uma expressão para a concentra-
trações de reagentes para as duas velocidades, ção de ozônio no estado estacionário em ter-
temos mos da concentração de oxigênio diatômico:
2 k1[O2] 2 k4[O3][O] 0 [O3]ss/[O2]ss [M]0,5 (k1k2/k3k4)0,5 (E)
ou Dessa forma, a razão entre ozônio e oxigênio
diatômico no estado estacionário depende da
[O3][O] k1[O2]/k4 (C)
raiz quadrada da densidade do ar através de
Outra expressão útil pode ser obtida sub- [M]. A razão é também proporcional à raiz qua-
traindo-se a equação (B) de (A). Obtemos drada do produto das constantes de reação 1
e 2, em que o oxigênio atômico e, posterior-
2 velocidade1 2 velocidade2
mente, ozônio são produzidos, e inversamente
2 velocidade3 0
proporcional à raiz quadrada do produto da
que por meio de rearranjos e cancelamentos constante de velocidade da reação de destrui-
torna-se ção do ozônio. A substituição de valores nu-
méricos para as constantes de velocidade k e
velocidade3 velocidade2 velocidade1
[M] na equação (E) permite prever a ordem de
Por razões experimentais sabe-se que velocida- grandeza correta para a razão ozônio/oxigênio
de2 (e velocidade 3) são muito maiores que ve- diatômico, i.e., de cerca de 104 na média es-
(continua)
68 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar
tratosfera. O ozônio nunca é a principal das es- Assim, estima-se que a concentração de oxigê-
pécies que contêm oxigênio na atmosfera, nem nio atômico aumente com a altitude, enquanto
mesmo na “camada de ozônio”. [M] diminui – como em nossas análises ante-
A equação (E) prevê que a concentração riores, para a atmosfera mais alta –, e enquanto
de ozônio, em relação ao oxigênio diatômico, k1 e k3 aumentam, uma vez que intensidade da
deve cair lentamente com a subida na atmos- luz UV aumenta com o aumento da altitude,
fera, dado que ela é proporcional à raiz qua- embora, abaixo a cerca de 50 km, o ozônio seja
drada da densidade do ar, pela dependência de sempre dominante.
[M]. Isso ocorre porque a reação de formação A produção de ozônio por meio da reação (2)
de ozônio, por meio da equação 2, torna-se é decisivamente dependente do suprimento de
lenta com a diminuição de [M]. Essa diminui- átomos de oxigênio livres na reação (1). A velo-
ção com o aumento da altitude é observada na cidade de produção de átomos de oxigênio, em
alta estratosfera e acima dela. Abaixo de cerca termos, é altamente dependente da intensida-
de 35 km, no entanto, a mudança mais impor- de de UV-C da luz solar. Como já observamos,
tante nos termos da equação (E) envolve k1 essa intensidade diminui drasticamente quando
e, consequentemente, a razão [O3]/[O2] não é descemos pela estratosfera. A intensidade da luz
simplesmente proporcional a [M]0,5. UV-C também depende bastante da latitude,
A constante de velocidade k1 incorpora a sendo mais forte sobre o Equador e diminuindo
intensidade de luz solar capaz de dissociar o continuamente em direção aos polos. Assim, a
oxigênio diatômico em seus átomos. Como o produção de ozônio é maior sobre o Equador.
UV-C da luz solar necessário ( < 242 nm) é O comportamento qualitativo da variação
sucessivamente filtrado por absorção durante o prevista está correto, mas a quantidade prevista
percurso até a superfície terrestre, o valor de k1 de ozônio excede a observada – por aproxima-
diminui de maneira especialmente mais rápi- damente um fator de 2 próximo da concentra-
da na baixa estratosfera e abaixo dela. Então, ção máxima. Cientistas descobriram que eles
a concentração de ozônio prevista pela aplica- haviam subestimado a velocidade da reação de
ção da análise do estado estacionário ao me- destruição de ozônio (4) por aproximadamente
canismo de Chapman prediz com sucesso que um fator de quatro vezes, por existirem catali-
a concentração de ozônio terá seu máximo na sadores na estratosfera que aumentam muito a
estratosfera. No entanto, como já discutido, o velocidade da reação global. Essas reações são
máximo real da concentração de ozônio (~ 25 discutidas na próxima seção.
km acima do Equador) ocorre mais abaixo na
estratosfera que na altitude de produção máxi- PROBLEMA 1
ma (~ 40 km) devido ao movimento horizon- Considere o seguinte mecanismo de 3 etapas
tal do ar, que transporta o ozônio para baixo. para produção e destruição dos átomos de oxi-
A substituição da equação (E) em (C) per- gênio excitados, O*, na atmosfera:
mite deduzir uma expressão para a concentra-
ção dos átomos de oxigênio livres no estado O2 O O*
estacionário: O* M O M
[O]ss (k1k2/k3k4)0,5/[M]0,5 O* H2O 2 OH
C APÍTULO 1 Química Estratosférica: A Camada de Ozônio 69
O2
(a) (b)
Ea
ΔH > 0
Ea
Energia potencial
ΔH < 0
FIGURA 1 Perfis de energia potencial para reações típicas de radicais livres na atmosfera, mostrando padrões
(a) exotérmico e (b) endotérmico.
(continua)
72 P ARTE I Química Atmosférica e Poluição do Ar
perar essa elevada barreira e permitir que a rea- hidrogênio da água por um oxigênio atômico
ção ocorra. Um exemplo é a reação endotérmica: no estado fundamental, considerando que a
reação seja endotérmica por aproximadamen-
OH HF H2O F
te 69 kJ mol1. No mesmo diagrama, mostre o
Sua energia de ativação deve ser pelo menos perfil de energia para a reação de O* com H2O
igual a H +69 kJ mol e, consequentemente, para gerar os mesmos produtos, considerando
a reação seria tão lenta a temperaturas estratos- que O* está acima do estado fundamental do
féricas, que podemos ignorá-las completamente. átomo de oxigênio (O) por 190 kJ mol. A par-
tir dessas curvas prediga por que a abstração
PROBLEMA 1 pelo O* ocorre mais rapidamente, enquanto
Desenhe um diagrama de energia similar ao a abstração pelo O é extremamente lenta na
da Figura 1b, para a abstração de um átomo de atmosfera.
PROBLEMA 1-6
Nem todas as moléculas XO, como o NO2, sobrevivem por tempo suficiente para
reagir com os átomos de oxigênio; algumas são decompostas fotoquimicamente a
X e oxigênio atômico, que então reage com O2 para regenerar o ozônio. Escreva
as três etapas (incluindo uma para a destruição do ozônio) para esse processo e
combine-as para deduzir a reação global. Essa sequência destrói o ozônio total ou é
um ciclo nulo, definido como um ciclo que envolve uma sequência de etapas com
nunhuma mudança química global?
Outro importante catalisador X presente na estratosfera é o radical livre hidro-
xila, OH. Ele se origina da reação dos átomos de oxigênio excitados, O*, com as
moléculas de água ou com o metano, CH4:
O* CH4 OH CH3
O metano se origina na superfície terrestre, e uma pequena fração sobrevive
por um tempo suficiente para migrar para a estratosfera.
PROBLEMA 1-7
Escreva o mecanismo de duas etapas pelo qual o radical livre hidroxila destrói
cataliticamente o ozônio pelo Mecanismo I. Pela combinação das etapas, deduza
a reação global.
PROBLEMA 1-8
Analogamente às reações com o metano, escreva uma equação balanceada para a
reação pela qual o O* produz OH a partir de vapor de água.
Mecanismo II
Mecanismo I
X O3 XO O2
X O3 XO O2 X O3 XO O2
XO O X O2 XO XO X X O2
O3 O 2 O2 global 2 O3 3 O2 global
Cl O3 ClO O2
CH4 OH NO2 luz
HCl ClONO2