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Ambiente Bioclimático

Conceito de Ambiente Bioclimático .2.1


Designa-se ambiente ao conjunto de características e condições existentes que nos envolvem. É
formado pelos elementos da parte biótica (seres vivos) e pelos elementos da parte abiótica
(mundo inorgânico ou inanimado).
A Climatogeografia é um capítulo da Geografia que estuda os climas, seus elementos e
factores, sua distribuição geográfica e sua influência sobre as actividades humanas. O objecto de
estudo da climatogeografia é a atmosfera.
A Biogeografia é o capítulo da Geografia que estuda e explica as características, condições
geográficas e repartição territorial dos seres vivos pela superfície terrestre.
Entende-se por Ambiente Bioclimático como o conjunto de características e condições
climáticas que se fazem sentir numa determinada região que permitem a ocorrência de seres
vivos que lhes são peculiares, mostrando as relações recíprocas entre os seres vivos e o clima.
2.1. Evolução do conhecimento científico da Atmosfera
Ao longo dos séculos, o Homem tentou prever a evolução dos fenómenos atmosféricos a partir
da observação dos “sinais” do tempo.
Na antiguidade, em certas comunidades, recorria-se não só à observação da forma e do aspecto
das nuvens e às características dos ventos, mas também a outros fenómenos, como a posição da
lua, para efectuar a previsão do tempo.
Do ponto de vista histórico, o estudo do tempo como ciência iniciou-se com os Gregos, que
foram pioneiros na observação regular dos ventos.
Os primeiros documentos gráficos, de base científica são as Cartas de Vento mais frequentes à
superfície dos oceanos. Em 1688, o inglês Halley publicou uma dessas cartas. Em 1840, Maury
(francês) publica as cartas do piloto que indicavam a frequência dos ventos em direcção e
intensidade nos oceanos.
A partir de 1916, surge um estudo da atmosfera cujo objectivo é a “previsão do tempo a curto
prazo” com leituras simultâneas em vários lugares e daí surge o termo sinóptico. Estabelecem-
se as cartas de tempo utilizadas na navegação aérea e marítima. E assim nascem as estações
meteorológicas.
As informações e os dados (observações e previsões meteorológicas) que se encontram à
disposição dos meteorologistas são reunidos e fornecidos por aparelhos instalados em postos
meteorológicos, em balões-sonda, em aviões e através de satélites meteorológicos
(geostacionários e de órbita polar).
Os meteorologistas utilizam também uma vasta gama de aparelhagem científica moderna, como
calculadoras, radares, computadores, entre outros equipamentos. No entanto, mesmo com esta
grande variedade de recursos tecnológicos de ponta, a previsão do tempo ainda não está isenta
de falhas.
2.2. Estrutura e Composição da Atmosfera
A atmosfera é uma fina camada de gases que envolve a Terra, também composta por poeiras
retidas pela força da gravidade.
O seu limite inferior é definido pela superfície terrestre. Como a passagem da atmosfera para o
espaço interplanetário é gradual, é difícil marcar um limite superior.
A atmosfera pode ser caracterizada de acordo com o critério térmico, sua composição, a
ionização, a actividade química, o estado dinâmico, etc.

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Texto de Apoio da disciplina de Geografia 11ªClasse, Turno Nocturno, ano de 2022
a) Estrutura Vertical da Atmosfera
Com base na variação da temperatura com a altitude considera-se a atmosfera dividida em 5
camadas principais: a Troposfera, a Estratosfera, a Mesosfera, a Termosfera e a Exosfera. Estas
camadas são concêntricas e cada uma tem as suas características próprias.

 TROPOSFERA
A troposfera (de “tropo”- movimento e “esfera”) é a camada inferior ou em contacto directo
com a superfície terrestre, influenciando mais directamente a vida na Terra.
Características
 A espessura é variável, tendo cerca de 7 km nos polos e 17 km no equador;
 Os limites são: inferior definido pela superfície da terra; superior é a tropopausa (tecto
da troposfera);
 É uma camada agitada ou turbulenta, onde ocorrem as principais perturbações e
fenómenos meteorológicos (ventos, nuvens e precipitação) que definem os vários
estados de tempo;
 A distância da tropopausa em relação ao solo varia conforme as condições climáticas da
troposfera, a temperatura do ar, a latitude e outros factores;
 Verifica-se um decréscimo da temperatura com o aumento da altitude, cerca de 6,5ºC
por cada quilómetro (em média 0,6ºC por cada 100 metros de altitude);
 A sua pressão diminui com a altitude;
 Contém todo vapor de água;
 Comporta cerca de 80% da massa atmosférica, estando 50% nos primeiros 5 km.

 ESTRATOSFERA
A estratosfera (de “estrato”, ou camada), é a 2ª camada que se localiza acima da troposfera,
entre a tropopausa até cerca de 50km de altitude, sendo o limite superior é a estratopausa;
Características:
 A ausência de grandes perturbações permite que as camadas de ar se disponham
segundo a sua densidade decrescente e se conservem mais ou menos estratificadas
(muitos aviões a jato circulam nesta camada porque ela é muito estável);
 Há grande concentração de ozono entre 20-35km que absorve as radiações ultravioletas
(de pequeno comprimento de onda) emitidas pelo sol, impedindo que grande parte desta
mortífera radiação atinja a superfície, o que a verificar-se tornaria a vida impossível na
Terra;
 É na estratosfera onde ocorre a difusão da luz solar que origina a cor azul do céu;
 Nesta camada, a temperatura mantem-se mais ou menos constante nos primeiros
quilómetros e depois aumenta gradualmente até o topo da camada (na estratopausa).
Isso se deve à absorção da radiação ultravioleta pela camada de ozono;

 MESOSFERA
A mesosfera (de “meso”, ou calor) é a camada da atmosfera que se localiza acima da
estratopausa.
Características
 Localiza-se entre 50e 80 km de altitude; o limite superior é a Mesopausa;
 A temperatura decresce com o aumento da altitude, atingindo cerca de -90ºc na
Mesopausa;
 A densidade do ar é muito baixa;

 TERMOSFERA
A termosfera (de “termo”, ou calor) é a camada atmosférica situada apos a mesopausa.
Características
 Estende-se até aos 640 km de altitude; o seu limite superior denomina-se Termopausa;

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 A temperatura aumenta rapidamente com o aumento da altitude devido a absorção dos
raios ultravioletas atingindo valores de 1000ºC aos 200 km e 1800ºC aos 800 km;
 É uma camada muito rarefeita, por isso que as temperaturas elevadas não têm o mesmo
significado que teriam nas camadas baixas da atmosfera;
 A baixa densidade do ar e a intensa radiação solar provocam a ionização do ar, o que
produz auroras boreais e austrais. Por esse motivo esta camada também pode ser
designada por Ionosfera;
 A intensa ionização a determinadas altitudes permite a formação de camadas que
reflectem para a Terra as ondas de rádio, de TV emitidas pelos centros emissores
permitindo a comunicação e a radiodifusão.
 Nesta camada, ocorrem as “estrelas candentes” que são fragmentos de corpos celestes
(meteoritos) que ao entrarem na Atmosfera Terrestre a grande velocidade aquecem
devido ao atrito com o ar e se volatizam deixando atrás de si um rasto luminoso. Alguns
meteoritos chegam à Terra e abrem enormes crateras.

 EXOSFERA"
A exosfera (de “exo”, para fora) é a camada superior da atmosfera.
Características
 Não tem um limite superior definido;
 A densidade do ar é extremamente baixa.

Figura 1: Estrutura Vertical da Atmosfera

b) Composição Química da atmosfera


A composição química e a estrutura vertical da atmosfera permitem o desenvolvimento da vida
na Terra. Na baixa atmosfera até à mesopausa, o ar que respiramos é uma mistura em que
predominam o Azoto (78,08%), e o Oxigénio (20,95) % para além de partículas solidas e
liquidas.

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O azoto é de capital importância para os seres vivos, pois, uma vez fixado no solo pela acção
das bactérias e outros microrganismos é absorvido pelas plantas sob a forma de proteínas
vegetais. O oxigénio é responsável pelos processos respiratórios dos seres vivos.

Constituintes Símbolo químico Percentagem do volume


Azoto (N2) 78,08
Oxigénio (O2) 20,95
Árgon (Ar) 0,93
Dióxido de carbono (CO2) 0,03
Total - 99,99

Tabela 1: Composição do ar seco até 25 km de altitude


Os restantes 0,01% compõe os gases raros: Néon (Ne), Hélio (He), Crípton (Kr), Xénon (Xe),
Ozono (O3), entre outros gases residuais.
A atmosfera é também composta por impurezas (poeiras, fuligem e partículas de sais), assim
como pólen, bactérias, fungos, esporos e microrganismos em suspensão.
O CO2 é um dos componentes mais importantes da atmosfera, sendo um dos principais
reagentes da fotossíntese. Conjuntamente com o vapor de água, é um dos gases de estufa,
garantindo o equilíbrio térmico da Terra. O vapor de água exerce um importante papel de
regulador da acção do sol sobre a superfície terrestre.
Funções da atmosfera
A atmosfera, tem uma função de um filtro, sendo a mais importante a de proteger a Terra das
radiações ultravioletas emitidas pelo sol, garantindo que o planeta seja habitável.
 Opera como uma capa ou barreira de entrada de corpos estranhos na atmosfera;
 Absorve e filtra uma parte significativa da radiação ultravioleta através da camada do
ozono;
 Fornece oxigénio para a manutenção dos seres aeróbios (microconsumidores e
macroconsumidores);
 Origina o efeito de estufa;
 Mantém as temperaturas das camadas mais próximas da superfície terrestre estáveis
através da movimentação e da dinâmica das massas de ar;
 Evita que a radiação solar se perca nas altas camadas da atmosfera.

2.3. Equilíbrio Térmico


2.3.1. A radiação Solar
À toda a energia luminosa e calorífica emitida pelo sol para o espaço e em todas as direcções
em forma de ondas eletromagnéticas a uma velocidade de 300 000 km/s, designa-se radiação
solar. Apenas uma pequena parte da radiação solar é intersectada pela Terra.
Ao conjunto de toda a energia solar e os respectivos comprimentos de onda denomina-se por
espectro solar.
O espetro solar é constituido por ondas curtas: raios ultravioletas (invisiveis) e a luz visivel
(castanhos, azuis, verdes, amarelos, laranja, vermelhos); e por ondas longas: os raios
infravermelhos.
a) Mecanismos da Radiação Solar
O sol emite a mesma quantidade de energia. Só 30 a 40% da energia solar atinge directamente a
superfície que é designada radiação solar directa.
Grande parte da radiação solar é alterada pela acção da atmosfera e do solo pelos seguintes
processos:

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 Absorção: a atmosfera retém ou absorve determinada radiação solar recebida
transformando-a em calor.
Neste processo, salienta-se o papel do vapor de água, dióxido de carbono (que absorvem a
radiação de grande comprimento de onda, ou seja, os raios infravermelhos), bem como
partículas sólidas e líquidas em suspensão e o ozono.
 Reflexão: a radiação solar ao incidir em qualquer corpo ou substância, parte dela sofre
uma mudança de direcção podendo ser reenviada ou devolvida novamente para o
espaço. Cerca de 10% da energia incidente à superfície do Globo é reenviada para a
atmosfera.
 Difusão: é o processo provocado por moléculas de gases e minúsculas partículas em
suspensão na atmosfera que ao intersectarem a radiação solar, esta sofre uma infinidade
de reflexões.
Assim, a luz solar transmite-se em todas as direcções, iluminando a atmosfera mesmo quando o
sol está encoberto ou abaixo do horizonte (crepúsculo).
A difusão depende do tamanho das partículas existentes na atmosfera e do comprimento de
onda. Por exemplo, a cor azul do céu, deve-se ao fenómeno de difusão de radiações de pequeno
comprimento de onda, azuis e violetas, provocadas por minúsculas moléculas numa atmosfera
límpida.
A luz solar pode-nos chegar avermelhada, visível ao “nascer” e “pôr-do-sol porque a espessura
da atmosfera atravessada é maior, sendo as radiações amarelas e vermelhas mais afectadas na
dispersão.
b) Processos de propagação do calor
Eles podem ser:
 Por convecção: consiste no transporte de energia calorífica pelos gases nos seus
movimentos ascendentes.
 Por advecção: consiste no transporte do calor através de movimentos horizontais.
 Por condução: realiza-se por contacto das moléculas dos gases entre si e com o solo.
 Pelo sistema de evaporação / condensação: a evaporação realiza-se a custa de absorção
de energia calorífica que se incorpora no vapor de água (calor latente). Na condensação
há libertação do calor (calor sensível).
 Por radiação: é a transmissão ou emissão de calor para a atmosfera ou para o espaço.
Por exemplo, radiação solar, radiação terreste.
A troposfera é aquecida durante o dia pela radiação directa e difusa do sol. Durante a noite, é
aquecida pela irradiação terrestre.
Assim, é possível estabelecer um balanço dos ganhos e perdas da radiação de onda curta
(radiação solar) e da radiação de onda longa (emitida pela Terra e pela atmosfera). Os
componentes deste balanço, considerando os valores médios anuais, apresentam um equilíbrio
para a Terra no seu todo. Este equilíbrio entre os ganhos e as perdas de energia explica o valor
da temperatura média da Terra, que não tem alterado significativamente.
Assim, do total de energia que chega ao limite superior da atmosfera, representando 100%:
 40% da energia é imediatamente reflectida para o espaço (ou seja, perde-se por
reflexão;
 15% da energia é absorvida directamente pela atmosfera;
 35% da energia penetra no solo;
 10% da energia é reflectida pelo solo.

2.4. Variação da radiação solar à superfície

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A radiação solar recebida na superfície terrestre depende: da iintensidade da radiação solar, da
inclinação dos raios solares, da espessura da atmosfera a atravessar e da duração do dia.
A espessura da atmosfera que os raios solares atravessam na sua longa caminhada até atingirem
o solo tem o nome de massa atmosférica.
Assim, conclui-se que a quantidade de calor recebido à superfície varia com a latitude do lugar
e com a inclinação do sol.
 Varia durante o dia
A intensidade máxima verifica-se quando o sol está no zénite do lugar, portanto, às 12 horas, em
estreita relação com o movimento diurno aparente do sol.
 Varia ao longo do Ano
Uma vez que a inclinação do sol varia durante o ano, o ângulo de incidência e a espessura da
atmosfera também variam durante o ano, assim como a quantidade de calor recebida. Este facto
explica a existência das estações do ano a medida que a latitude aumenta.
A maior intensidade da radiação solar regista-se no verão e a menor no inverno em estreita
relação com o movimento de translação da Terra mantendo o seu eixo inclinado em relação a
órbita por ela descrita em torno do sol.
 Varia com a Latitude
À medida que a latitude aumenta, também aumenta o ângulo de inclinação e a espessura, e
diminui a energia recebida. Este facto está na origem da repartição dos climas ( quentes,
temperados e frios) em latitude. Na zona intertropical (climas quentes), o sol mantém sempre
uma altura eleva acima do horizonte. Os valores médios anuais da radiação global e da
insolação são sempre altos.
O equilíbrio térmico segundo a latitude estabelece-se do seguinte modo:

 Na zona intertropical a quantidade de energia recebida é muito maior que a energia


perdida, portanto o saldo energético é positivo;
 Nas zonas temperadas o saldo é nulo, pois, há um equilíbrio entre a energia recebida e a
perdida;
 Nas latitudes superiores a 38º o défice energético vai aumentando até aos pólos, pois, a
quantidade de energia recebida é menor que a perdida.
A duração do dia é um outro factor a ter em consideração. Varia igualmente com a latitude do
lugar e com a declinação do sol (ou seja, com a época do ano).

Por: Benjamim Paulino

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