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SÉRGIO RICARDO TRINDADE

Produtos, sistemas e procedimentos de injeção em fissuras (morta)

São Paulo
(2014)
1

SÉRGIO RICARDO TRINDADE

Produtos, sistemas e procedimentos de injeção em fissuras (morta)

Monografia apresentada à Escola


Politécnica da Universidade de São Paulo
para obtenção do título de Especialista em
Gestão de Projetos de Sistemas
Estruturais – Edificações

Orientador:
Prof. Dr. Paulo Roberto do Lago Helene.

São Paulo
(2014)
2

SÉRGIO RICARDO TRINDADE

Produtos, sistemas e procedimentos de injeção em fissuras (morta)

Monografia apresentada à Escola


Politécnica da Universidade de São Paulo
para obtenção do título de Especialista em
Gestão de Projetos de Sistemas
Estruturais – Edificações

Área de Concentração:
Patologia das Estruturas

Orientador:
Prof. Dr. Paulo Roberto do Lago Helene.

São Paulo
(2014)
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TRINDADE, S. R. . Produtos, sistemas e procedimentos de injeção em fissuras


(morta). São Paulo. 2014. 102 p. (Especialização em Gestão de Projetos de
Sistemas Estruturais – Edificações) Escola Politécnica, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2014.
5

Dedico este trabalho a minha esposa Francini e a meus filhos Felipe e Pedro,
verdadeiras e absolutas fontes de inspiração amor e carinho em todas as
realizações de minha vida.
6

AGRADECIMENTOS

A Deus, meu grande companheiro, sempre a meu lado, me protegendo e me


iluminando.
Ao meu orientador Professor Paulo Helene por direcionar os caminhos desta
pesquisa, pelos incentivos e pelo valioso tempo que me concedeu sempre que
precisei.
A meus pais João Roberto Trindade e Edinete Calú Trindade, por me
ensinarem a caminhar com garra e dedicação.
Ao engenheiro José Eduardo Granato, por todas as dicas e materiais de pesquisa.
Ao engenheiro Ricardo Faria, por todas as dicas e pela importante e esclarecedora
reunião,
A minha esposa e meus filhos pelos incentivos e pela paciência durante esta jornada.
Aos colegas do curso pela amizade e pela troca de experiências.
7

RESUMO

Neste estudo será apresentada uma revisão bibliográfica sobre produtos, sistemas e
procedimentos de injeção em fissuras mortas ou passivas, assim como uma
abordagem sobre os mecanismos de formação de fissuras em estruturas de
concreto armado, as técnicas para um diagnóstico mais preciso em conformidade
com as recomendações da Norma Euro Code 1504, as recomendações das normas
NBR 6118: 2014 e ACI 224R-01 e uma descrição dos sistemas e técnicas para
recuperação das estruturas utilizando produtos como resina de poliuretano, resina
epóxi, gel de acrílico, metil metacrilato e microcimento, apresentando características
específicas de cada um desses produtos.

Palavras chave: Estruturas de concreto; patologias; reparos; injeção de resinas.


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ABSTRACT

In this study a literature review of products, systems and injection procedures on


dead or passive cracks will appear, as well as a discussion of formation of cracks in
reinforced concrete structures, techniques for a more accurate diagnosis in
accordance with the recommendations of Euro Code 1504, the recommendations of
the NBR 6118: 2014, and ACI 224R-01 and a description of the systems and
techniques for rehabilitation of structures using products like polyurethane resin,
epoxy resin, acrylic gel, methyl methacrylate and microcement presenting specific
characteristics of each product.

Keywords: Concrete structures; pathologies; repairs; injection resins.


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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Classificações das causas dos processos de deterioração


das estruturas de concreto...................................................... 27
Quadro 2 – Causas intrínsecas aos processos de deterioração das
estruturas de concreto............................................................ 28
Quadro 3 – Causas extrínsecas aos processos de deterioração das
estruturas de concreto............................................................ 29
Quadro 4 – Processos físicos de deterioração das estruturas de
concreto.................................................................................. 30
Quadro 5 – Relação entre limites de abertura de fissuras......................... 65
Quadro 6 – Exigências de durabilidade relacionadas à fissuração e à
proteção da armadura, em função das classes de
agressividade ambiental………………………………………… 66
Quadro 7 – Divisões da Norma Europeia EN 1504……………………… 68
Quadro 8 – Princípios e métodos da Norma Europeia ENV 1504 – 9
relacionados à injeção em fissuras……………………………. 69
Quadro 9 – Características de desempenho e requisitos de produtos
para injeção em fissuras com sistemas ligantes poliméricos
ativos……………………………………………………………… 71
Quadro 10 – Características de desempenho e requisitos de produtos
para injeção em fissuras com sistemas ligantes poliméricos
reativos e com ligantes hidráulicos…………………………… 72
Quadro 11 – Características de desempenho e requisitos de produtos
para enchimento expansivo (S) em fissuras com sistemas
ligantes poliméricos ativos……………………………………… 73
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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Diferentes desempenhos de uma estrutura, com o tempo em função de


diferentes fenômenos patológicos. ........................................................... 22
Figura 2 - Inter-relacionamento entre conceitos de durabilidade e desempenho. ..... 24
Figura 3 - Hipóteses para reconversão de estruturas com desempenho
insatisfatório. ............................................................................................ 25
Figura 4 – Distribuição relativa da incidência das manifestações patológicas em
estruturas de concreto armado. ................................................................ 26
Figura 5 – Etapas de produção e uso de obras civis. ................................................ 27
Figura 6 - Fissuras causadas por variações térmicas do ambiente. .......................... 35
Figura 7- Fissuração por trabalho diferenciado dos dois materiais. ........................... 36
Figura 8 - Fissuras produzidas por retração hidráulica .............................................. 37
Figura 9 - Fissura produzida por ação de carga concentrada. ................................... 37
Figura 10 - Fissuração por retração plástica. ............................................................. 38
Figura 11 - Fissuração formada devido obstrução do aço. ........................................ 39
Figura 12 - Fissuração típica de dessecação superficial do concreto plástico. .......... 40
Figura 13 – Fissuras de retração em vigas e fissuras de retração em lajes. .............. 42
Figura 14 - Exemplos de fissuração por movimentação de fôrmas e escoramentos.. 43
Figura 15 – Exemplos de desagregação do concreto como resultado da
movimentação das fôrmas. ...................................................................... 43
Figura 16- Algumas configurações genéricas de fissuras em função do tipo de
solicitação predominante. ......................................................................... 44
Figura 17 – Fissuração típica em viga subarmada solicitada à flexão. ..................... 45
Figura 18 - Fissuração em viga submetida à flexocompressão................................. 45
Figura 19 – Fissuras por compressão, sem e com confinamento. ............................. 45
Figura 20 - Fissuras de cisalhamento em viga solicitada à flexão............................. 46
Figura 21 - Fissuração por esmagamento do concreto na parte inferior, por
reduzida espessura da laje com deficiência na resistência a momentos
negativos. ................................................................................................. 46
Figura 22 - Fissuração na face superior devido à flexão por insuficiência de
armadura para os momentos negativos. .................................................. 47
11

Figura 23 - Fissuração na parte superior por esmagamento do concreto, devido à


reduzida espessura da laje por deficiência diante dos momentos
positivos. .................................................................................................. 47
Figura 24 - Fissuração na face inferior por flexão, devida à influência de armadura
para os momentos positivos. .................................................................... 47
Figura 25 – Fissuração na face superior da laje, por deficiência de armaduras
para combate aos momentos volventes. .................................................. 48
Figura 26 - Fissuração na face inferior da laje por deficiência de armaduras para
combate aos momentos volventes. .......................................................... 48
Figura 27– Fissuras na parte superior da laje devidas à ausência de armadura
negativa. ................................................................................................... 48
Figura 28 - Fissuração por torção. ............................................................................ 49
Figura 29 - Fissuração por puncionamento. .............................................................. 49
Figura 30 - Fissuras verticais em silos por efeito da tração tangencial por erro de
projeto. ..................................................................................................... 50
Figura 31 - Fissuras em viga pré-moldada provocada por insuficiência de
armadura de suspensão. .......................................................................... 50
Figura 32 - Fissuras de cisalhamento em ponte provocada pela passagem de
veículos com carga excessiva, não prevista em projeto. .......................... 51
Figura 33 - Fissura causada pelo deslocamento da armadura principal em relação
à posição original. ..................................................................................... 51
Figura 34 - Fissuras verticais no pilar indicando insuficiência de estribos. ............... 52
Figura 35 - Fissuras inclinadas na cabeça do pilar provocadas por concentração
de tensões do tipo de aparelho de apoio adotado. ................................... 53
Figura 36 - Armadura típica de um consolo curto em pilar pré-moldado. .................. 53
Figura 37 - Fissuração por recalque diferencial dos apoios. ..................................... 54
Figura 38 - Recalques em estruturas de concreto armado em pórtico. ..................... 54
Figura 39 - Fissura por cisalhamento, provocada por uma expansão diferencial da
fundação. .................................................................................................. 55
Figura 40 - Diferentes sistemas de fundação na mesma construção: recalques
diferenciados entre os sistemas, com presença de trincas de
cisalhamento no corpo da obra. ............................................................... 55
Figura 41 - Diferentes sistemas de fundação na mesma construção: exemplo
prático....................................................................................................... 56
12

Figura 42 - Fissuração por recalque de fundação causado por penetração de água


no solo. ..................................................................................................... 56
Figura 43 - Trincas inclinadas devidas a torção da laje. ............................................ 57
Figura 44 - Esclerômetros e ensaio esclerométrico. ................................................. 59
Figura 45 - Ensaio de Ultrassom em prisma mal vibrado. ......................................... 60
Figura 46 - Ensaio Pacometria. ................................................................................. 61
Figura 47 - Fluxograma genérico para diagnose de uma estrutura. .......................... 63
Figura 48 - Reparação de fissura por roteamento e selagem. .................................. 76
Figura 49 - Bomba de injeção de resinas de poliuretano e bicos de injeção. ............ 77
Figura 50 - Instalação de bicos embutidos para injeção de poliuretano. ................... 79
Figura 51 - Processo de injeção através de bicos embutidos. .................................. 80
Figura 52 - Perfuração para instalação de bicos para injeção de poliuretano do
tipo cortina. ............................................................................................... 80
Figura 53 - Instalação de bicos para injeção com sistema tipo cortina. .................... 81
Figura 54 - Fixação da válvula de retorno no primeiro bico. ...................................... 81
Figura 55 - Processo de injeção iniciado pelo bicos mais abaixo.............................. 81
Figura 56 - ETE - Vila Velha/ES – Vista geral. .......................................................... 82
Figura 57 - ETE - Vila Velha/ES – Bicos de perfuração instalados. .......................... 82
Figura 58 - ETE - Vila Velha/ES – Andamento dos trabalhos. .................................. 82
Figura 59 - ETE - Vila Velha/ES - Vista após aplicação. ........................................... 83
Figura 60 - ETA São Paulo – Vista geral e bicos de injeção instalados. ................... 83
Figura 61 - ETA São Paulo - Andamento dos trabalhos de injeção. ......................... 83
Figura 62 - ETA São Paulo – Vista após injeção....................................................... 84
Figura 63 - Situação antes do reparo em túnel do Metrô em São Paulo. .................. 84
Figura 64 - Tamponamento com espuma e selamento com gel de PU em túnel do
Metrô em São Paulo. ................................................................................ 84
Figura 65 - Junta de concreto após a injeção em túnel do Metrô em São Paulo. ..... 85
Figura 66 - Bomba de alta pressão de injeção de bi-componente para gel acrílico
– MC-I 700. ............................................................................................... 86
Figura 67 - Infiltrações através de fissuras – Interligação Estação Luz – Metrô São
Paulo. ....................................................................................................... 86
Figura 68 - Tratamento das fissuras com injeção de gel acrílico polimérico –
Interligação Estação Luz – Metrô São Paulo. ........................................... 87
13

Figura 69 - Selamento com gel acrílico polimérico – Interligação Estação Luz –


Metrô São Paulo. ...................................................................................... 87
Figura 70 - Aspecto após término do tratamento– Interligação Estação Luz –
Metrô São Paulo. ...................................................................................... 87
Figura 71 - Injeção em fissuras e microfissuras com metil metacrilato, preparação
do produto e superfície. ............................................................................ 89
Figura 72 - Injeção em fissuras e microfissuras com Metacrilato, aplicação do
produto. .................................................................................................... 89
Figura 73 - Injeção em fissuras e microfissuras com Metacrilato, produto aplicado.. 89
Figura 74 - Sequência de imagens demonstrando a aplicação de metacrilato em
laje de edifício comercial. ......................................................................... 90
Figura 75 - Preparo do substrato para colagem dos bicos de superfície. ................. 93
Figura 76 - Bicos de injeção aderidos e superfície calafetada. ................................. 94
Figura 77 - Epóxi sendo injetado. .............................................................................. 94
Figura 78 - Aplicação de resina epoxídica por gravidade. ......................................... 96
Figura 79 - Injeção pela face inferior. ........................................................................ 99
Figura 80 - Fissura atingindo a face superior do elemento. ...................................... 99
Figura 81 - Vista da estrutura, Rodovia Castelo Branco. ........................................ 100
Figura 82 - Disposição dos bicos de injeção instalados na fissura, Rodovia
Castelo Branco. ...................................................................................... 101
Figura 83 - Aplicação da resina epóxi e elemento reparado, Rodovia Castelo
Branco. ................................................................................................... 101
Figura 84 - Aplicação de Microcimento. .................................................................. 102
Figura 85 - Vista da fissura preenchida. .................................................................. 103
Figura 86 - Base aérea de Anápolis. ....................................................................... 103
Figura 87 - Perfuração para instalação dos bicos. .................................................. 103
14

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas


ACI - American Concrete Institute
ASTM - American Society for Testing and Materials
CAA - Classe de agressividade ambiental
CREA - Conselho Regional de Engenharia
ELS - Estado limite de serviço
ELU - Estado limite último
EN – European Committee for Standardization
IBRACON -Instituto Brasileiro do Concreto
FIB Model Code for Concrete Structures - International Federation for structural
concrete
ISO - Iternational Orgnizatio for Stndrdzation
15

LISTA DE SÍMBOLOS

cps - unidade de medida de viscosidade


mm - milímetros
ºC - unidade de medida de temperatura
MPa - megapascal, unidade de medida pressão e tração
W - espessura de abertura de fissuras
16

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 19

1 REABILITAÇÃO E MANUTENÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO ..... 21

1.1 Conceitos .............................................................................................. 21

1.2 Sintomas ............................................................................................... 25

1.3 Mecanismo ............................................................................................ 26

1.4 Origem ................................................................................................... 27

1.5 Causas .................................................................................................. 27


1.5.1 Causas intrínsecas ................................................................................. 28
1.5.2 Causas extrínsecas ................................................................................ 30
1.5.3 Processos físicos de deterioração das estruturas de concreto .............. 30

2 FISSURAS EM ELEMENTOS DE CONCRETO ARMADO ................... 32

2.1 Classificação das fissuras................................................................... 34

2.2 Fissuras ativas ..................................................................................... 34


2.2.1 Variação Térmica ................................................................................... 34
2.2.2 Retração por secagem ou hidráulica ...................................................... 36
2.2.3 Cargas dinâmicas................................................................................... 37
2.2.4 Corrosão da armadura, reações expansivas com sulfatos e reações
álcali-silicato ........................................................................................... 38

2.3 Fissuras Passivas ou Mortas .............................................................. 38


2.3.1 Assentamento Plástico ........................................................................... 38
2.3.2 Dessecação Superficial .......................................................................... 39
2.3.3 Retração do Concreto ............................................................................ 41
2.3.4 Movimentação das fôrmas ..................................................................... 42
2.3.5 Variação térmica .................................................................................... 43
2.3.6 Deficiências de Projeto ........................................................................... 44
2.3.7 Deficiências de Execução ...................................................................... 51
2.3.8 Recalques diferenciais ........................................................................... 53

3 DIAGNÓSTICO ...................................................................................... 58

4 NORMALIZAÇÃO .................................................................................. 65

4.1 Critérios de Avaliação .......................................................................... 65

4.2 NBR 6118: 2014 - Projeto de estruturas de concreto - Procedimento .... 66

4.3 Norma Europeia EN 1504 ..................................................................... 68


17

4.3.1 Norma Europeia ENV 1504 – Parte 9 .................................................... 70


4.3.2 Norma Europeia EN 1504 – Parte 5 ....................................................... 71

5 INJEÇÃO EM FISSURRAS ................................................................... 75

5.1 Selamento de fissuras ......................................................................... 76

5.2 Aplicação de produtos por gravidade ................................................ 76

5.3 Resinas de poliuretano ........................................................................ 77


5.3.1 Poliuretano e suas aplicações ................................................................ 77
5.3.2 Injeção de fissuras com bicos embutidos ............................................... 79
5.3.3 Injeção de fissuras em elementos tipo cortina........................................ 80
5.3.4 Obras ..................................................................................................... 81
5.3.4.1 Obra ETE Vila Velha – Espírito Santo .................................................... 82
5.3.4.2 Obra ETA São Paulo .............................................................................. 83
5.3.4.3 Obra Metrô São Paulo ............................................................................ 84

5.4 Resinas em Gel Acrílico ...................................................................... 85


5.4.1 Obra ....................................................................................................... 86
5.4.1.1 Galeria de Interligação Estação Luz ....................................................... 86

5.5 Resina Metil - Metacrilato .................................................................... 88


5.5.1 Obras ..................................................................................................... 89

5.6 Resinas epóxi ....................................................................................... 90


5.6.1 Injeção de fissuras com bicos de superfície ........................................... 93
5.6.1.1 Fissuras de pequena abertura (0,3 a 1,0mm) em superfície vertical ou
inclinada ................................................................................................. 93
5.6.2 Fissuras de pequena abertura (0,3 a 1,0mm) em superfície horizontal. 94
5.6.2.1 Fissuras Passantes ................................................................................ 95
5.6.2.1.1 Fissuras passantes - Aplicação de resina por gravidade ................. 95
5.6.2.1.2 Fissuras passantes - Aplicação de resina por injeção ..................... 96
5.6.3 Fissuras apenas na face superior. ......................................................... 97
5.6.3.1 Fissuras apenas na face superior - Aplicação de resina por gravidade . 97
5.6.3.2 Fissuras apenas na face superior - Aplicação de resina por injeção...... 98
5.6.4 Fissuras apenas na face inferior ............................................................ 98
5.6.5 Fissuras apenas na face inferior - Possibilidade de acesso somente pela
face inferior............................................................................................. 98
5.6.6 Fissuras de grande abertura (acima de 1 mm)....................................... 99
5.6.7 Obras ................................................................................................... 100
5.6.7.1 Aplicação de resina epóxi – Rodovia Castelo Branco .......................... 100

5.7 Microcimento ...................................................................................... 101


5.7.1 Aplicações ............................................................................................ 102
5.7.1.1 Obras ................................................................................................... 102
5.7.1.1.1 Recuperação estrutural da base de um pavimento rígido .............. 102
5.7.1.1.2 Recuperação com microcimento efetuada na Base Aérea de
Anápolis ......................................................................................... 103

5.8 Sistemas de reparos por cristalização capilar do concreto ........... 104


18

6 COMENTÁRIOS E CONSIDERAÇÕES .............................................. 106

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 107


19

INTRODUÇÃO

O concreto é o material construtivo mais utilizado na construção civil atualmente e sua


produção e aplicação necessitam de controles e métodos adequados para que se possam obter
as propriedades necessárias para um bom desempenho e durabilidade das estruturas, assim
como parâmetros especificados em projeto.
O concreto pode ser definido como uma mistura homogênea de cimento, agregados
miúdos e graúdos, com ou sem a incorporação de componentes minoritários (aditivos
químicos e adições), que desenvolve suas propriedades pelo endurecimento da pasta de
cimento.
Segundo publicação do IBRACON na Revista Concreto 53 (2009) estima-se que
anualmente são consumidas 11 bilhões de toneladas de concreto no mundo, resultando
aproximadamente em 1,9 toneladas de concreto por ano e por habitante.
Em economias emergentes que proporcionam a expansão do crédito e possuem alto déficit
habitacional, como no Brasil, observa-se um grande crescimento na quantidade de
empreendimentos e uma aceleração na condução das obras resultando em deficientes
controles de materiais, métodos e serviços, e na queda da qualidade de nossas construções,
tema muito discutido na mídia e na Justiça Cível atualmente.
Diante deste cenário é natural a ocorrência de muitos problemas patológicos e
principalmente o aparecimento de fissuras nas estruturas com a necessidade de intervenções
corretivas.
Para que se possam tomar medidas preventivas no projeto e na execução de uma obra,
especificar e controlar materiais e serviços ou recuperar elementos fissurados se faz
necessário conhecer os mecanismos de formação de fissuras.
Levando-se em conta que as fissuras são provocadas por tensões oriundas da atuação de
sobrecargas ou de movimentação de materiais, dos componentes ou da obra como um todo,
devemos analisar diversos fenômenos como movimentações causadas por variações térmicas
e de umidade, atuação de sobrecargas ou concentração de tensões, deformabilidade excessiva
das estruturas, recalques diferenciados das fundações, retração de produtos à base de ligantes
hidráulicos, alterações químicas dos materiais de construção, fissuras provenientes da má
utilização do edifício, de falhas na manutenção ou de acidentes como incêndios, explosões e
impactos de veículos.
Diante desses problemas, muitas vezes se faz necessário realizar trabalhos de recuperação
no sentido de eliminar o agente causador e, sempre que possível, corrigir o problema e
20

reestabelecer ou aumentar a capacidade resistente e a estanqueidade do componente estrutural


em questão.
A importância do estudo da terapia das fissuras passa fundamentalmente pelo aspecto de
que sua correção envolve gastos e, sendo a fissura um fator desencadeante de outros
problemas, os recursos necessários à sua correção aumentam cada vez mais. Dentro de um
contexto econômico maior, o valor patrimonial da edificação fica comprometido a medida que
seu tempo de vida útil é reduzido.
Outro fator preponderante é que há um aspecto antiestético e a sensação de pouca
estabilidade em uma peça fissurada, gerando insatisfação psicológica ao usuário.
Atualmente existem muitos materiais e procedimentos de reparação e é constante a
evolução e o aprimoramento das técnicas de recuperação.
O uso das resinas e suas técnicas de aplicação tem facilitado muito nos reparos destes
problemas em estruturas de concreto e proporcionam trabalhos mais práticos e eficientes para
a recuperação destas falhas.
Com este enfoque, foi desenvolvido neste trabalho uma revisão bibliografia abordando os
mecanismos de fissuração e as formas de fissuras estáticas; as técnicas, práticas e
equipamentos para elaboração de um bom diagnóstico; uma abordagem das normas
internacionais e nacionais e as técnicas e materiais mais comuns utilizados para tratamento de
fissuras.
21

1 REABILITAÇÃO E MANUTENÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO

1.1 Conceitos

Com o passar do tempo tivemos a certeza de que o concreto, como material de construção,
é instável ao longo do tempo, alterando suas propriedades físicas e químicas em função das
características de seus componentes e das respostas destes às condicionantes do meio
ambiente. Às consequências desses processos de alteração que venham comprometer o
desempenho de uma estrutura, ou material, costuma-se chamar deterioração. Os elementos
agressores podem ser designados como agentes de deterioração. (SOUZA; RIPPER, 1998)
Por vida útil de um material entende-se o período durante o qual suas propriedades
permanecem acima dos limites mínimos especificados. O conhecimento da vida útil e da
curva de deterioração de cada material ou estrutura são fatores de fundamental importância
para a confecção de orçamentos reais para a obra, assim como programas de manutenção
adequados e realistas.
Como desempenho, entende-se o comportamento em serviço de cada produto ao longo da
vida útil, e a sua medida relativa espelhará sempre o resultado dos trabalhos desenvolvidos
nas etapas de projeto, construção e manutenção. (SOUZA; RIPPER, 1998)
A grande maioria das Normas e dos regulamentos que tratam do projeto e da execução de
concreto vigentes nas mais diferentes regiões do mundo, foram concebidas com as
preocupações dominantes de garantir a obtenção das mais adequadas resistências mecânicas
para as diversas peças estruturais.
As estruturas e materiais deterioram-se mesmo quando existe um programa de
manutenção bem definido, sendo esta deterioração, no limite, irreversível. O ponto em que
cada estrutura, em função da deterioração, atinge níveis de desempenho insatisfatórios varia
de acordo com o tipo de estrutura. Algumas delas, por falhas de projeto ou de execução, já
iniciaram suas vidas de forma insatisfatória, enquanto outros chegam ao final de suas vidas
úteis projetadas ainda mostrando um bom desempenho. (SOUZA; RIPPER, 1998)
Considerando o atual grau de conhecimento de processos e mecanismos destrutivos que
atuam sobre as estruturas e considerando a grande evolução tecnológica alcançada nos
últimos anos, com o desenvolvimento de técnicas e equipamentos de verificações nas
estruturas tornou-se possível identificar com eficiência a maioria dos problemas patológicos.
(HELENE, 2007)
Segundo Helene (2007) para estabelecer uma terminologia define-se Patologia como a
22

área da engenharia que estuda os sintomas, os mecanismos, as causas e as origens dos


problemas nas obras civis, ou seja, o estudo dos fatores que conduzem ao diagnóstico de
problemas. A terapia corresponde ao estudo da solução e correção de problemas patológicos
incluindo os provenientes do envelhecimento natural.
Para se obter êxito nas medidas terapêuticas de correção, reparação, reforço e proteção
não é necessário apenas o estudo do diagnóstico do problema, mas também se conhecer as
vantagens e desvantagens dos materiais, sistemas e cada um dos procedimentos de
recuperação de estruturas de concreto, pois para cada situação particular há uma alternativa de
intervenção. (HELENE, 2007)
Na figura a seguir, é representado genericamente como modelo, o desempenho estrutural
de uma edificação ao longo de sua vida útil em função da ocorrência de problemas
patológicos em que a situação ideal se dará com o desenvolvimento de um projeto de forma
que a construção possa ser bem feita e os trabalhos de manutenção facilitados, mantendo-se a
deterioração em níveis mínimos. (SOUZA; RIPPER, 1998)
Figura 1 - Diferentes desempenhos de uma estrutura, com o tempo em função de
diferentes fenômenos patológicos.

Fonte: Souza; Ripper (1998)

Conhecidas ou estimadas, as características de deterioração do material concreto e dos


sistemas estruturais, entende-se como durabilidade o parâmetro que relaciona a aplicação
destas características a uma determinada construção, individualizando-a pela avaliação da
resposta que dará aos efeitos da agressividade ambiental, e definindo então, a vida útil da
23

mesma e, em termos de durabilidade de estruturas de concreto, e para além das questões


ligadas à resistência mecânica propriamente dita, a palavra-chave relacionada ao material
concreto como pseudo sólido que é, é água. (SOUZA; RIPPER, 1998)
Assim, serão a quantidade de água no concreto e a sua relação com a quantidade de
ligante o elemento básico que irá reger características como densidade, compacidade,
porosidade, permeabilidade, capilaridade e fissuração, além de sua resistência mecânica, que
resumindo são os indicadores de qualidade do material determinantes na classificação de uma
estrutura como durável ou não.
O outro fator degradante é a agressividade ambiental, ou seja, a capacidade de transporte
dos líquidos e gases contidos no meio ambiente para o interior do concreto.
As Normas estabelecem critérios que permitem aos responsáveis individualizar
convenientemente modelos duráveis para as construções, a partir da definição das classes de
exposição das estruturas e de seus componentes em função da deterioração a que estarão
submetidas, a partir de:
 corrosão de armaduras, sob efeito e carbonatação e/ou cloretos, por tipo de ambiente;
 ação do frio e/ou calor, também por tipo de ambiente;
 agressividade química.

Para cada caso ou combinação de casos, as classes de exposição indicarão níveis de risco
ou parâmetros mínimos a serem observados como condição primeira para que se consiga uma
construção durável. Assim estarão definidos:
 dosagem mínima de cimento;
 fator água/cimento máximo;
 classe de resistência mínima do concreto;
 cobrimento mínimo das barras das armaduras;
 método de cura.
24

Figura 2 - Inter-relacionamento entre conceitos de durabilidade e desempenho.

DURABILIDADE

CÁLCULO MATERIAIS EXECUÇÃO CURA


ESTRUTURAL
 Dimensionamento  Concreto  Mão-de-Obra  Umidade
 Detalhamento  Armaduras  Responsabilidade  Temperatura

ÁGUA
Natureza e distribuição dos poros no concreto

Mecanismo de transporte de gases e líquidos no concreto

Deterioração do concreto Deterioração da armadura

Física Química e Corrosão


biologia

Resistência Solidez

Estética

Segurança Servicibilidade

DESEMPENHO

Fonte: Souza; Ripper (1998)

Observa-se neste quadro que a combinação dos agentes ambientais (temperatura,


umidade, chuva, vento, salinidade e agressividade química ou biológica) transportados para a
massa de concreto, assim como a resposta dessa massa a ação, constituem os principais
elementos do processo de caracterização da durabilidade, sendo a água (ou a umidade) o
elemento principal de toda a questão, considerados adequados os mecanismos de resistência.
25

A essência destes conceitos estará na execução de uma obra que apresente desempenho
satisfatório, por um período suficientemente longo e com custos de manutenção razoáveis.
Na eventualidade de que algum infortúnio possa ocorrer, afetando o desempenho da
estrutura tornando-o insatisfatório, os responsáveis deverão ser habilitados a tomar decisão
sobre como então proceder, adotando a opção mais conveniente, que respeite pontos de vista
técnicos, econômicos e socioambientais, como por exemplo, a observação e a interpretação do
disposto no quadro mostrado na figura 3. (SOUZA; RIPPER, 1998)
Figura 3 - Hipóteses para reconversão de estruturas com desempenho insatisfatório.

Estrutura
com
desempenho
satisfatório ?

SIM NÃO

RECUPERAÇÃO REFORÇO Limitação de


utilização

Demolição

Intervenções para extensão da vida útil da estrutura

Fonte: Souza; Ripper (1998)

1.2 Sintomas

Os problemas patológicos, salvo raras exceções, apresentam manifestações externas


características, a partir das quais se pode deduzir qual a sua natureza, a origem e os
mecanismos dos fenômenos envolvidos, assim como estimar suas prováveis consequências.
Estes sintomas, também conhecidos por lesões, danos, defeitos ou manifestações patológicas,
podem ser descritos e classificados orientados por um diagnóstico inicial, efetuado através de
observações visuais detalhadas efetuadas por um profissional. (HELENE, 2007)
26

De acordo com Helene (2007), os sintomas mais comuns e de maior incidência em


concreto armado são as fissuras, as eflorescências, as flechas excessivas, as manchas no
concreto arquitetônico, a corrosão das armaduras, as falhas no lançamento e compactação do
concreto e os problemas devido à segregação dos componentes do concreto.

1.3 Mecanismo

Todo problema patológico, chamados na linguagem jurídica de vício oculto, vício de


construção ou dano oculto, ocorre através de um processo ou de um mecanismo, como por
exemplo, a corrosão de armadura no concreto armado, que é um fenômeno de natureza
eletroquímica e pode ser acelerado com a presença de agentes agressivos externos e internos
incorporados ao concreto. (HELENE, 2007)
Figura 4 – Distribuição relativa da incidência das manifestações patológicas em estruturas
de concreto armado.

7% 1. Degradação química
21% 10%
2. Flechas

3. Cavidades
20%

21% 4. Corrosão de Armaduras

5. Fissuras ativas e passivas


20%

6. Manchas Superficiais

Fonte: Helene (2007)

Conhecer o mecanismo do problema é fundamental para uma terapia adequada. É


imprescindível saber, por exemplo, se é necessário limitar as sobrecargas ou escorar a
estrutura antes ou durante o reforço de vigas fissuradas. Há casos em que não basta somente a
injeção de resinas nas fissuras, pois estas poderiam aparecer novamente e em posições
próximas às iniciais. (HELENE, 2007)
27

1.4 Origem

O processo de construção e uso pode ser dividido em cinco grandes etapas: planejamento,
projeto, fabricação de materiais e elementos fora da obra, execução da obra propriamente dita
e uso, sendo o uso a maior etapa de tempo, envolvendo a operação e manutenção das obras
conforme se mostra na figura 5. (HELENE, 2007)
Figura 5 – Etapas de produção e uso de obras civis.

USO Satisfação PLANEJAMENTO


do usuário

CONSTRUÇÃO MATERIAIS PROJETO

= 50 ANOS
+ + = 2 ANOS
USO PRODUÇÃO

Fonte: Helene (2007)

Observa-se que as quatro primeiras etapas representam um período de tempo


relativamente curto, por outro lado as construções devem ser utilizadas durante muitos anos.

1.5 Causas

Os agentes causadores de patologias podem ser vários: cargas, variações de umidade,


variações térmicas intrínsecas ou extrínsecas ao concreto, agentes biológicos,
incompatibilidade de materiais, agentes atmosféricos e outros.
No caso de ocorrer fissura em uma viga pela ação de momentos fletores, o agente
causador seria a carga, pois se não houvesse a carga não haveria fissura em qualquer que seja
a origem do problema. No caso de fissuras verticais em vigas, podem ser agentes causadores
tanto as variações de umidade como gradientes térmicos resultantes do calor de hidratação do
cimento, ou movimentos térmicos resultantes das variações constantes da temperatura
ambiente. (HELENE, 2007)
28

Podemos classificar as causas dos processos de deterioração das estruturas de concreto


conforme o quadro a seguir:

Quadro 1 - Classificações das causas dos processos de deterioração das estruturas de


concreto

 Falhas humanas
 Causas Intrínsecas CAUSAS DOS
(inerentes às estruturas) PROBLEMAS DE  Causas naturais próprias
DETERIORAÇÃO ao material concreto
 Causas Extrínsecas DAS ESTRUTURAS

(externas ao corpo  Ações externas


estrutural)
Fonte: Souza; Ripper (1998)

1.5.1 Causas intrínsecas

Classificam-se como causas intrínsecas aos processos de deterioração das estruturas de


concreto as que são inerentes às próprias estruturas (entendidas estas como elementos físicos),
ou seja, todas as que têm sua origem nos materiais e peças estruturais durante a fase de
execução e/ou de utilização das obras, por falhas humanas, por questões próprias ao material
concreto e por ações externas, acidentes inclusive. (SOUZA; RIPPER, 1998)
29

Quadro 2 - Causas intrínsecas aos processos de deterioração das estruturas de concreto.

CAUSAS INTRÍNSECAS
Transporte
Lançamento
Deficiências de
Juntas de Concretagem
Concretagem
Adensamento
Cura
Inadequação de escoramentos e fôrmas
má interpretação dos projetos
insuficiência de armaduras
FALHA mau posicionamento das armaduras
HUMANA Deficiências nas cobrimento de concreto insuficiente
DURANTE A armaduras dobramento inadequado das barras
CONSTRUÇÃO deficiências nas ancoragens
deficiências nas emendas
má utilização de anticorrosivos
fck inferior ao especificado
Utilização aço diferente do especificado
incorreta dos solos com características diferentes
materiais de utilização de agregados reativos
construção utilização inadequada de aditivos
dosagem inadequada do concreto
Inexistência de controle de qualidade
FALHA HUMANA DURANTE A UTILIZAÇÃO (ausência de manutenção)
Causas próprias à estrutura porosa do concreto
reações internas ao concreto
expansibilidade de certos constituintes do
cimento
presença de cloretos
Causas químicas presença de sais e ácidos
CAUSAS presença de anidrido carbônico
NATURAIS presença de água
elevação da temperatura interna do concreto
variação de temperatura
Insolação
Causas físicas
Vento
Água
Causas biológicas
Fonte: Souza; Ripper (1998)
30

1.5.2 Causas extrínsecas

As causas extrínsecas de deterioração das estruturas são as que independem do corpo


estrutural em si, assim como da composição interna do concreto, ou de falhas inerentes aos
processos de execução, podendo ser vistas como os fatores que atacam as estruturas “de fora
para dentro”, durante as fases de concepção ou ao longo da vida útil desta, como se poderá
entender através da observação do Quadro 3. (SOUZA; RIPPER, 1998)

Quadro 3 - Causas extrínsecas aos processos de deterioração das estruturas de concreto.

CAUSAS EXTRÍNSECAS
Modelização inadequada da estrutura
Má avaliação das cargas
FALHA
Detalhamento errado ou insuficiente
HUMANA
DURANTE O Inadequação ao ambiente
PROJETO Incorreção na interação solo-estrutura
Incorreção na consideração de juntas de
dilatação
FALHA Alterações estruturais
HUMANA Sobrecargas exageradas
DURANTE A Alteração das condições do terreno de
UTILIZAÇÃO fundação
Choques de veículos
AÇÕES
Recalque de fundações
MECÂNICAS
Acidentes (ações imprevisíveis)
Variação de temperatura
AÇÕES FÍSICAS Insolação
Atuação da água
AÇÕES QUÍMICAS
AÇÕES BIOLÓGICAS
Fonte: Souza; Ripper (1998)

1.5.3 Processos físicos de deterioração das estruturas de concreto

Os efeitos resultantes da atuação dos agentes intrínsecos e extrínsecos da deterioração das


estruturas de concreto sumarizados no Quadro 4 se fazem sentir, inicialmente, nos pontos
fracos destas estruturas, sendo que na maioria dos casos, as suas causas são evidentes e
poderiam ter sido facilmente evitadas pela escolha cuidadosa dos materiais e dos métodos de
execução, pela elaboração de um projeto convenientemente detalhado ou pela concretização
adequada de um programa de manutenção. Alguns efeitos, entretanto, como os devidos as
31

causas mecânicas, sobrecargas e impactos para os quais a estrutura não havia sido
dimensionada, ou a acidentes, como sismos e incêndios, não são tão facilmente evitáveis, ao
contrário, na maioria das vezes estes agentes, podem causar consideráveis danos às estruturas.
(SOUZA; RIPPER, 1998)

Quadro 4 - Processos físicos de deterioração das estruturas de concreto

PROCESSOS FÍSICOS DE DETERIORAÇÃO


Deficiências de projeto
Contração plástica
Assentamento do concreto / Perda de aderência
Movimentações de escoramentos e/ou fôrmas
Retração
Fissuração Deficiências de execução
Reações expansivas
Corrosão de armaduras
Recalques diferenciais
Variação de temperatura
Ações aplicadas
Fissuração
Movimentação das fôrmas
Degradação do Concreto Corrosão do concreto
Calcinação
Ataque biológico
Carbonatação do concreto
Perda de aderência
Desgaste do concreto
Fonte: Souza; Ripper (1998)
32

2 FISSURAS EM ELEMENTOS DE CONCRETO ARMADO

O estudo da patologia nas construções de forma mais sistemática possibilitou, entre outras
coisas, fazer um associação entre a perda de desempenho e o aparecimento e desenvolvimento
de problemas nas construções. (FIGUEIREDO, 1989)
Como consequência de problemas como desgaste da edificação, incêndios, sobrecargas não
previstas, recalques diferenciados do terreno, reações químicas entre agregados e cimento entre
outros, aparecem problemas patológicos e o desempenho torna-se insatisfatório em muitas
estruturas.
Uma vez detectado o problema que atinge a edificação ou parte dela e ainda conhecendo
todos os fatores que envolvem a situação, pode-se, seguindo uma metodologia, intervir afim de
eliminar ou amenizar o problema patológico existente.
Nem sempre é fácil identificar a causa de uma fissura. Em muitos casos observa-se fissuras
originadas por uma série de causas com configurações diversas. Em alguns casos, o
diagnóstico correto só poderá ser elaborado a partir de consultas a especialistas, minuciosos
ensaios locais e de laboratório, revisão de projetos e mesmo instrumentação e
acompanhamento da obra.
No caso de não se conseguir chegar, através de levantamentos a um diagnóstico seguro,
medidas mais trabalhosas poderão ser tomadas, como a revisão de cálculos estruturais, análise
dos perfis de sondagem, tentativa de estimar recalques, etc. Medidas mais sofisticadas poderão
ser consideradas, como a instrumentação da obra com clinômetros, defletômetros,
fissurômetros, extensômetros mecânicos, pacômetros, indicador de umidade superficial, o
acompanhamento de recalques com base em referencial profundo instalado fora da zona de
influência das fundações, etc.
Quanto mais cedo forem as correções, mais duráveis, fáceis e muito mais baratas elas
serão.
O aparecimento de fissuras desempenha um papel importante na resposta do concreto
exposto aos carregamentos de tensão e compressão. A resposta de tensão-deformação do
concreto está intimamente associada com a formação de microfissuras que são consideradas as
principais causas de comportamento não linear à compressão. (ACI 224R-01, 2001)
Para saber em que consiste e para que se deve esta anormalidade, é fundamental que se
conheça todos os mecanismos que envolvem o problema.
Algumas fissuras, dependendo da abertura máxima e do ambiente a que são expostas, não
chegam a afetar a durabilidade e o desempenho estrutural do componente danificado.
33

De acordo com a Norma Brasileira ABNT NBR 6118 2014 – Projeto de estruturas de
concreto – Procedimento, desempenho em serviço consiste na capacidade da estrutura manter-
se em condições plenas de utilização, não devendo apresentar danos que comprometam em
parte ou totalmente o uso para o qual foi projetada e a durabilidade consiste na capacidade da
estrutura resistir às influências ambientais previstas e definidas em conjunto pelo autor do
projeto estrutural e o contratante, no início dos trabalhos de elaboração do projeto.
Ainda segundo a NBR 6118: 2014, o cobrimento das armaduras e o controle da fissuração
minimizam problemas patológicos como despassivação por carbonatação e por ação de
cloretos.
A fissuração em elementos estruturais de concreto armado é inevitável, devido a grande
variabilidade e a baixa resistência do concreto a tração; mesmo sob as ações de serviço
(utilização), valores críticos de tensões de tração são atingidos. Visando obter bom
desempenho relacionado à proteção das armaduras quanto a corrosão e a aceitabilidade
sensorial dos usuários, busca-se controlar a abertura dessas fissuras. (NBR 6118, 2014)
Nas estruturas com armaduras ativas (concreto protendido) existe também, com menor
probabilidade, a possibilidade de aparecimento de fissuras. Nesse caso as fissuras podem ser
mais nocivas, pois existe a possibilidade de corrosão sobtensão das armaduras. (NBR 6118,
2014)
De maneira geral, a presença de fissuras com aberturas que respeitem os limites dados em
13.4.2 na NBR 6118: 2014, em estruturas bem projetadas, construídas e submetidas às cargas
previstas na normalização, não implicam em perda de durabilidade ou perda de segurança
quanto ao estado limite último, exceto a casos em que as estruturas estejam expostas a
ambientes agressivos.
As fissuras podem ainda ocorrer por outras causas, como retração plástica térmica ou
devido a reações químicas internas do concreto nas primeiras idades, devendo ser evitadas ou
limitadas por cuidados tecnológicos, especialmente na definição do traço e na cura do
concreto. (NBR 6118, 2014)
As fissuras que possuem uma atividade temporária, como as de retração por secagem, mas
que após certo tempo adquirem um caráter passivo são consideradas como fissuras ativas, uma
vez que é na fase ativa que ela deve receber o tratamento corretivo. (FIGUEIREDO, 1989)
34

2.1 Classificação das fissuras

As fissuras são identificadas de acordo com as suas origens e classificadas segundo o


momento em que aparecem no concreto, podendo ser no concreto em estado plástico ou
endurecido, ou segundo sua atividade na estrutura, podendo ser ativa ou passiva.
As fissuras ativas ou vivas são aquelas que apresentam movimentos, especialmente os de
variações de abertura e comprimento, isto é, quando a causa responsável por sua geração ainda
atua sobre a estrutura e as fissuras passivas ou mortas são aquelas que estão estabilizadas, ou
seja, apresentam sempre o mesmo comprimento e abertura e que sua causa se tenha feito sentir
durante certo tempo e deixado de existir.

2.2 Fissuras ativas

2.2.1 Variação Térmica

Os elementos e componentes de uma construção estão sujeitos a variações de temperatura


sazonais e diárias. Essas variações repercutem numa variação dimensional dos materiais de
construção (dilatação ou contração); os movimentos de dilatação e contração são restringidos
pelos diversos vínculos que envolvem os elementos e componentes, desenvolvendo-se nos
materiais, por este motivo, tensões que podem provocar o aparecimento de fissuras.
(THOMAZ, 1989).
As movimentações térmicas de um material estão relacionadas com as propriedades
físicas do mesmo e com a intensidade da variação de temperatura; a magnitude das tensões
desenvolvidas é função da intensidade da movimentação e das propriedades elásticas dos
materiais. (THOMAZ, 1989).
Segundo Thomaz (1989) as trincas de origem térmica podem também surgir por
movimentações diferenciadas entre componentes de um elemento, entre elementos de um
sistema e entre regiões distintas de um mesmo material. As principais movimentações
diferenciadas ocorrem em função de:
• junção de elementos com diferentes coeficientes de dilatação térmica, sujeitos às
mesmas variações de temperatura (por exemplo, movimentações diferenciadas entre
argamassa de assentamento e componentes de alvenaria);
• exposição de elementos a diferentes solicitações térmicas naturais (por exemplo,
cobertura em relação a paredes de uma edificação);
35

• gradiente de temperaturas ao longo de um mesmo componente (por exemplo,


gradiente entre a face exposta e a face protegida de uma laje de cobertura).

Das fissuras originais devido a variações térmicas, apenas as decorrentes de mudanças nas
condições ambientais se enquadram na classificação de fissura ativa, as decorrentes do calor
de hidratação do cimento, que eleva a temperatura do concreto produzindo gradientes
térmicos entre as suas camadas, e as devido a incêndios, são classificadas como passivas,
depois de estabilizadas. (FIGUEIREDO, 1989)
A figura a seguir, casos a e b, mostram as fissurações térmicas em uma laje como no caso
“a” devido à expansão térmica das vigas de apoio e como no caso “b”, a fissuração devido a
expansão térmica em paredes com impedimento da fundação. (FIGUEIREDO, 1989)
Figura 6 - Fissuras causadas por variações térmicas do ambiente.

Fonte: Figueiredo (1989)

Outra situação típica é a que se dá nas coberturas, em particular as horizontais, muito mais
expostas aos gradientes térmicos naturais do que as peças verticais da estrutura, gerando, em
consequência movimentos diferenciados entre elementos verticais que, normalmente,
resultam em fissuração, agravada no caso de diferença de inércia como encontro lajes-vigas
ou de materiais resistentes como lajes mistas ou pré-fabricadas, no qual podemos observar na
figura a seguir: (SOUZA; RIPPER, 1998)
36

Figura 7- Fissuração por trabalho diferenciado dos dois materiais.

Fonte: Souza; Ripper (1998)

2.2.2 Retração por secagem ou hidráulica

A retração hidráulica ou por secagem, provém da contração volumétrica da pasta


endurecida, devido à saída da água do concreto conservado em ar não saturado. Uma parte
desta retração é irreversível e deve ser diferenciada das variações devidas à umidade causadas
pela conservação alternada em ambientes secos e úmidos (retração reversível). (DAL MOLIN,
1988).
A retração por secagem manifesta-se em períodos de tempo muito longos, muito embora
sua velocidade diminua rapidamente com o tempo.
Segundo Dal Molin (1988), se as retrações do concreto ocorrerem sem nenhum tipo de
restrição, ele não fissurará. Entretanto, se houver qualquer impedimento à livre movimentação,
aparecerão tensões que, se em algum momento superarem a resistência a tração do concreto,
causarão o aparecimento de fissuras.
Sendo a retração hidráulica função da evaporação da água interna do concreto, a secagem
inicia a partir da superfície livre em contato com o meio ambiente, prolongando-se em direção
ao interior da peça, à medida que o tempo passa, estabelecendo-se um gradiente de umidade
dentro do elemento, que fica sujeito a uma retração diferencial.
A figura a seguir demonstra casos típicos de fissuração ocorrida por retração hidráulica,
sendo a esquerda um caso de retração hidráulica em pórtico de pilares com grande rigidez e a
direita com pilares de pouca rigidez.
37

Figura 8 - Fissuras produzidas por retração hidráulica

Fonte: Figueiredo (1989)

2.2.3 Cargas dinâmicas

A atuação de cargas pode produzir o fissuramento dos componentes de concreto armado


sem que isso implique em perda de estabilidade, mas pode comprometer a durabilidade
dependendo do ambiente em que se encontra e também da exposição à umidade, podendo
resultar na corrosão de armaduras.
A fissuração devido a atuação de cargas é a única passível de ser controlada através de
cálculo estrutural. Em geral, as fissuras são inevitáveis nas estruturas de concreto armado
submetidas a esforços de flexão, tração, torção ou cortante; elas não apresentam
inconveniência para utilização se as aberturas forem limitadas com valores especificados, que
dependem principalmente das exigências relativas à durabilidade, estética e funcionalidade.
(DAL MOLIN, 1988).
Um exemplo são as fissuras de flexão provocadas por ações dinâmicas em pontes que são
de caráter ativo devido à movimentação das cargas que atuam sobre a estrutura.
De maneira geral, o quadro gerado apresenta-se conforme o apresentado na figura a seguir,
para cargas concentradas, e sem configuração definida para o caso de choques. (SOUZA;
RIPPER, 1998)
Figura 9 - Fissura produzida por ação de carga concentrada.

Fonte: Souza; Ripper (1998)


38

2.2.4 Corrosão da armadura, reações expansivas com sulfatos e reações álcali-silicato

Estes três tipos de fissuras de origem química ou eletroquímica são consideradas ativas
progressivas. No entanto, as medidas corretivas para esses casos, não passam por técnicas de
correção das fissuras propriamente ditas, e sim por técnicas de reparo, uma vez que para suas
correções, quando possíveis, torna-se necessário o descascamento do concreto. Dependendo da
intensidade das reações, o concreto deve ser totalmente refeito. (SOUZA; RIPPER, 1998)

2.3 Fissuras Passivas ou Mortas

2.3.1 Assentamento Plástico

O assentamento plástico ocorre durante as primeiras horas após o lançamento e


adensamento do concreto, em que as partículas sólidas da mistura tendem a se movimentar
para baixa devido à ação da gravidade (sedimentação), havendo um deslocamento do ar
aprisionado e da água para a superfície (exsudação). (DAL MOLIN, 1988).
A perda de ar ou água que pode ocorrer durante o assentamento do concreto causa uma
redução no volume da massa ainda em estado plástico (não endurecido), que se desloca para
baixo na fôrma. Se um obstáculo impede a homogeneidade deste assentamento, poderão
ocorrer fissuras. As armaduras e/ou os agregados de maiores dimensões podem ser este
obstáculo, assim como a própria fôrma. (DAL MOLIN, 1988)
O grau de fissuração por assentamento plástico pode aumentar com relação ao aumento do
diâmetro das armaduras, da consistência e a diminuição do cobrimento, conforme figura 10.
(ACI, 224R-01, 2001)
Figura 10 - Fissuração por retração plástica.

Fonte: ACI 224R-01 (2001)


39

Figura 11 - Fissuração formada devido obstrução do aço.

Fonte: ACI 224R-01 (2001)

A fissuração pode ser intensificada se a vibração durante a concretagem for insuficiente.


As fissuras por assentamento plástico podem também aparecer em elementos com
espessura variável, em que as fissuras tendem a se localizar nas zonas mais delgadas, ou
aquelas que se formam no topo de vigas ou pilares. (DAL MOLIN, 1988).
É importante considerar-se que, em termos de durabilidade, fissuras como estas, que
acompanham as armaduras, são muito nocivas, pois facilitam, bem mais que as ortogonais, o
acesso direto dos agentes agressores, facilitando a corrosão das armaduras. (SOUZA; RIPPER,
1998)

2.3.2 Dessecação Superficial

A formação de fissuras devido à dessecação superficial ocorre pela evaporação demasiada


da água de amassamento do concreto ou por exagerada absorção dos agregados ou das fôrmas.
Este efeito, causado pela absorção dos agregados ou das fôrmas, é de fácil eliminação pela
simples saturação destes, podendo considerar que, preponderantemente, tal tipo de fissuração
ocorre quando a velocidade de evaporação da água de amassamento for maior que a velocidade
de percolação da água até a superfície do concreto por efeito de exsudação. (DAL MOLIN,
1988).
O grau de evaporação depende da temperatura, velocidade e umidade relativa do ar, da
qualidade da cura realizada e da temperatura superficial do concreto.
As fissuras por dessecação superficial ocorrem normalmente em superfícies horizontais. À
maior superfície de exposição e à menor espessura do elemento corresponde a maior
40

probabilidade em que ocorra o fenômeno, sendo que, quanto maior a relação superfície
livre/volume dos elementos, maiores as consequências da dessecação superficial. (DAL
MOLIN, 1988).
Figura 12 - Fissuração típica de dessecação superficial do concreto plástico.

Fonte: Dal Molin (1988)

As recomendações de Souza e Ripper (1998) para reduzir a evaporação da água na


superfície do concreto e, por consequência reduzir o risco de fissuração devido ao
dessecamento superficial podem ser conforme abaixo:
Baixar a temperatura do concreto em dias quentes:
• Resfriando a água de amassamento;
• Estocando os agregados na sombra ou molhados;
• Protegendo as fôrmas ou o próprio concreto do sol;
• Lançando o concreto durante os períodos mais frios do dia.

Reduzir a velocidade do vento na superfície do concreto:


• Construindo barreiras para o vento com madeira, plástico ou vegetação;

Manter a umidade do concreto:


• Proteger a superfície do concreto caso haja atraso entre o lançamento e o acabamento;
• Aspergir água sobre o concreto acabado tão logo desapareça o brilho, que indica a
secagem superficial; esta medida deve ser usada com preocupação, evitando secagens
demasiadamente profundas para não ocorrer uma fadiga superficial devido a contrações e
expansões frequentes e intensas, que teria por efeito aumentar a fissuração e diminuir a
41

resistência da superfície;
• Aplicar produtos de cura química (película de cura).

Os produtos agentes de cura química para concreto que agem com a finalidade de se evitar
a dessecação superficial e por consequência a formação de fissuras são compostos de
hidrocarbonetos parafínicos. Sua função é de proteger o concreto dos efeitos da desidratação
provocada pelo calor e pelo vento, proporcionando um processo de cura sem interrupção,
evitando fissuração e favorecendo o desenvolvimento de resistência mecânica.
Os agentes de cura para concreto formam uma camada (filme) protetora sobre o concreto,
sendo aplicados no momento em que a superfície apresenta um aspecto fosco.

2.3.3 Retração do Concreto

A retração do concreto é um movimento natural da massa que, no entanto, é contrariado


pela existência, também natural, de restrições opostas por obstáculos internos (barras de
armadura) e externos (vinculação a outras peças estruturais). Se este comportamento reológico
não for considerado, quer em nível de projeto, quer de execução, são grandes as possibilidades
do desenvolvimento de um quadro de fissuração, que pode levar à formação de trincas que
seccionem completamente as peças mais esbeltas, como no caso de lajes e paredes. (SOUZA;
RIPPER, 1998).
Além da análise das tensões de retração e da disposição da armadura de pele, nos casos de
peças de grandes dimensões, é importante cuidar-se da interação da estrutura com o meio
ambiente na fase de concretagem (as elevadas temperaturas, os baixos teores de umidade do ar
e a incidência de ventos e radiação solar são aspectos extremamente prejudiciais ao normal
endurecimento do concreto), de que a mistura não tenha água mais do que a necessária e de
que as peças sejam convenientemente curadas. (SOUZA; RIPPER, 1998),
A figura 13, nos casos a e b, mostram configurações típicas de retração (que normalmente
são percebidas algum tempo depois do endurecimento do concreto): no caso das vigas, as
fissuras situam-se em todo o contorno da alma das mesmas, paralelamente entre si, a intervalos
quase regulares, podendo ocorrer em qualquer ponto do vão: no caso de lajes, formam uma
figura do aspecto de mosaico, podendo ocorrer em ambas as partes da peça. (SOUZA;
RIPPER, 1998).
42

Figura 13 – Fissuras de retração em vigas e fissuras de retração em lajes.

Fonte: Souza e Ripper (1998).

2.3.4 Movimentação das fôrmas

Todo o movimento de fôrmas que se produzir durante o momento do lançamento do


concreto até o início da pega pode provocar o aparecimento de fissuras.
As causas das fissurações por movimentações em fôrmas podem ocorrer devido a fatores
como a deformação acentuada gerando alterações na geometria do elemento, deformação por
mau posicionamento, falta de fixação adequada, pela existência de juntas mal vedadas ou
fendas, falhas no escoramento, falhas no lançamento do concreto ou sobrecargas.
As fissuras causadas pela deformação ou movimentação das fôrmas podem ser internas e
na superfície do concreto. As fissuras internas podem ser um perigo potencial, pois formam
uma bolsa de água na massa do concreto que pode facilitar o processo de corrosão das
armaduras. (DAL MOLIN, 1988).
Uma vez que ocorra a estabilização do conjunto de fôrmas ou o concreto não mais esteja
no estado plástico, as fissuras decorrentes da movimentação dos moldes não sofrerão
modificações adicionais (fissuras estabilizadas).
A movimentação de fôrmas pode causar a criação de juntas de concretagem não previstas,
por deslocamento lateral das fôrmas ou fuga de nata de cimento pelas juntas ou fendas das
formas, como mostrado na figura 14, provocando a segregação do concreto, com sua
consequente desagregação, na maioria dos casos acompanhada de fissuração. Qualquer um
desses casos implicará o surgimento de quadros patológicos, já definidos, com o surgimento de
fissuras no elemento estrutural, por enfraquecimento deste elemento em virtude da formação
da junta de concretagem forçada, e normalmente com a adesão bastante prejudicada, ou com o
enfraquecimento do próprio concreto, em virtude da fuga da nata de cimento. (SOUZA;
RIPPER, 1998)
43

Figura 14 - Exemplos de fissuração por movimentação de fôrmas e escoramentos.

Fonte: Souza; Riper (1998).

Figura 15 – Exemplos de desagregação do concreto como resultado da movimentação das


fôrmas.

Fonte: Souza; Riper (1998).

2.3.5 Variação térmica

As fissuras originadas por variação térmica que podem ser consideradas como passivas são
as produzidas por ação do fogo, no caso de incêndio, e as devido ao calor de hidratação do
cimento que eleva a temperatura do concreto, produzindo gradientes térmicos entre a camada
superficial e as camadas mais internas, e provocando com isso a separação das camadas.
(FIGUEIREDO, 1989).
As fissuras por cura térmica são resultantes do resfriamento relativamente brusco do
44

concreto após o processo de cura térmica, passando as temperaturas da ordem de 50ºC e 60ºC
até a temperatura ambiente em que, o concreto sofre uma contração térmica podendo induzir à
formação de fissuras facilitadas pela resistência relativamente pequena do material nas
primeiras idades. (THOMAZ, 1989).

2.3.6 Deficiências de Projeto

As falhas acontecidas em projetos estruturais, com influência direta na formação de


fissuras podem ser as mais diversas, assumindo as correspondentes fissuras configuração
própria, em função do tipo de esforço a que estão submetidas às várias peças estruturais, como
se procura exemplificar nas figuras a seguir: (SOUZA; RIPPER, 1998)
Figura 16- Algumas configurações genéricas de fissuras em função do tipo de solicitação
predominante.

Fonte: Souza; Ripper (1998).

Nos casos de flexão em vigas as fissuras ocorrem perpendicularmente às trajetórias dos


esforços principais de tração. São praticamente verticais no terço médio do vão e apresentam
aberturas maiores em direção à face inferior da viga onde estão as fibras mais tracionadas.
Junto aos apoios as fissuras inclinam-se aproximadamente a 45º com a horizontal, devido à
influência dos esforços cortantes conforme figura a seguir. Nas vigas altas esta inclinação
tende a ser da ordem de 60º. (THOMAZ, 1989).
45

Figura 17 – Fissuração típica em viga subarmada solicitada à flexão.

Fonte: Thomaz (1989).

No caso de vigas superarmadas, ou confeccionadas com concreto de baixa resistência,


podem surgir fissuras na zona comprimida da viga, com caráter de esmagamento do concreto.
A figura a seguir ilustra a ruptura por flexão de uma viga superarmada. (THOMAZ, 1989).
Figura 18 - Fissuração em viga submetida à flexocompressão.

Fonte: Souza; Ripper (1998).

Figura 19 – Fissuras por compressão, sem e com confinamento.

Fonte: Souza; Ripper (1998).

A localização, número, extensão e abertura das fissuras dependem das características


46

geométricas da peça, das propriedades físicas e mecânicas dos materiais que as constituem e do
estágio da solicitação de carga. No caso de vigas deficientemente armadas ao cisalhamento, ou
mesmo no caso de ancoragem deficiente de armaduras, podem surgir inicialmente fissuras
inclinadas nas proximidades dos apoios. (THOMAZ, 1989).
Figura 20 - Fissuras de cisalhamento em viga solicitada à flexão.

Fonte: Thomaz (1989).

No caso de flexão em lajes, os aspectos das fissuras variam conforme as condições de


contorno da laje (apoio livre ou engastado), a relação entre comprimento e largura, o tipo de
armação e a natureza e intensidade da solicitação. (THOMAZ, 1989)
Para lajes maciças com grandes vãos os momentos volventes que se desenvolvem nas
proximidades dos cantos da laje podem produzir fissuras inclinadas, constituindo nesses
cantos triângulos aproximadamente isósceles. (THOMAZ, 1989).
A seguir estão casos de deficiência de capacidade resistente em lajes, conforme figuras:
(SOUZA; RIPPER, 1998).

Figura 21 - Fissuração por esmagamento do concreto na parte inferior, por reduzida


espessura da laje com deficiência na resistência a momentos negativos.

Fonte: Souza; Ripper (1998).


47

Figura 22 - Fissuração na face superior devido à flexão por insuficiência de armadura para
os momentos negativos.

Fonte: Souza; Ripper (1998).

Figura 23 - Fissuração na parte superior por esmagamento do concreto, devido à reduzida


espessura da laje por deficiência diante dos momentos positivos.

Fonte: Souza; Ripper (1998).

Figura 24 - Fissuração na face inferior por flexão, devida à influência de armadura para os
momentos positivos.

Fonte: Souza; Ripper (1998).


48

Figura 25 – Fissuração na face superior da laje, por deficiência de armaduras para


combate aos momentos volventes.

Fonte: Souza; Ripper (1998).

Figura 26 - Fissuração na face inferior da laje por deficiência de armaduras para combate
aos momentos volventes.

.
Fonte: Souza; Ripper (1998).

Figura 27– Fissuras na parte superior da laje devidas à ausência de armadura negativa.

Fonte: Thomaz (1989).

Para a laje da figura 27, se essa fosse uma peça muito longa, ou seja, laje armada em uma
só direção, as fissuras ocorreriam apenas paralelamente ao lado de maior dimensão, posto que
a laje assume um comportamento de vigas paralelas à menor direção. (SOUZA; RIPPER,
1998)
A seguir demonstra-se o comportamento conjunto de vigas e pilares, em que o esforço de
torção existente nas vigas é transmitido ao pilar com flexão transversal, e no caso de pilar
49

e laje, com características fissuras por punsionamento desta última. (SOUZA; RIPPER,
1998).
Figura 28 - Fissuração por torção.

Fonte: Souza; Ripper (1998).

As fissuras de torção podem ocorrer em vigas de borda, junto aos cantos, por excessiva
deformabilidade de lajes ou de vigas que lhes são transversais, por atuação de cargas
excêntricas ou de recalques diferenciais nas fundações. Podem ocorrer também em vigas nas
quais se engastam marquises e que não estejam convenientemente armadas à torção.
(THOMAZ, 1989).
Figura 29 - Fissuração por puncionamento.

Fonte: Souza; Ripper (1998).

O mau dimensionamento ou detalhamento incorreto de peças especiais pode levar também


a fissuras importantes, tais como consolos, apoios do tipo Gerber, insuficiência ou
comprimento inadequado de armaduras de ancoragem, de suspensão, de fretagem e outras.
(CARMONA; CARMONA, 2013)
As figuras a seguir mostram alguns tipos de fissuras originadas por esforços externos
aplicados em peças normais e especiais: (CARMONA; CARMONA, 2013)
50

Figura 30 - Fissuras verticais em silos por efeito da tração tangencial por erro de projeto.

Fonte: Carmona; Carmona, (2013)

Figura 31 - Fissuras em viga pré-moldada provocada por insuficiência de armadura de


suspensão.

Fonte: Carmona; Carmona, (2013)


51

Figura 32 - Fissuras de cisalhamento em ponte provocada pela passagem de veículos com


carga excessiva, não prevista em projeto.

Fonte: Carmona; Carmona, (2013)

2.3.7 Deficiências de Execução

As fissuras resultantes de deficiências acontecidas no processo executivo, seja por incúria


ou por incompetência, muitas vezes assumem aspectos em tudo que foi mostrado, na
generalidade, para os casos de fissuramento por deficiência de projeto. (SOUZA; RIPPER,
1998)
Não será difícil entender-se que uma mesma deficiência, como ausência de uma
determinada armadura, possa ter sido gerada na etapa da concepção ou na fase de construção,
resultando em quadros de fissuração, assim como uma falha tal como o não atendimento à
espessura de cobrimento das armaduras indicadas em projeto propicia um processo de
fissuração, assim como resultará um deficiente rejuntamento de fôrmas. (SOUZA; RIPPER,
1998)
Figura 33 - Fissura causada pelo deslocamento da armadura principal em relação à posição
original.

Fonte: Souza e Ripper (1998).


52

São mais incomuns os casos de fissuras em pilares. Esses elementos normalmente


trabalham com taxas de solicitação que representam parcelas de suas cargas resistentes. Pela
ocorrência de falhas construtivas, contudo, podem ocorrer fissuras de esmagamento do
concreto, sobretudo nos pés dos pilares; nesse caso, os pilares deverão ser imediatamente
reforçados já que a estabilidade da estrutura estará comprometida. (THOMAZ, 1989).
Segundo Thomaz (1989), não são mais comuns os casos de fissuras verticais nos corpos
dos pilares, aproximadamente no terço médio das suas alturas (Figura 34); em função da
grande diferença entre o módulo de deformação do agregado graúdo e o módulo de
deformação da argamassa intersticial, esta apresentará deformações bem mais acentuadas,
criando-se superfícies de cisalhamento paralelas à direção do esforço de compressão. As
fissuras verticais que se manifestam indicam, portanto, que os estribos foram
subdimensionados. (THOMAZ, 1989).
Figura 34 - Fissuras verticais no pilar indicando insuficiência de estribos.

Fonte: Thomaz (1989).

Podem manifestar-se também nos corpos dos pilares fissuras horizontais ou ligeiramente
inclinadas. Elas são suscetíveis de ocorrer quando os pilares são solicitados à
flexocompressão ou, num caso bem mais grave, podem ser indicativas da ocorrência de
flambagem. Na construção com componentes pré-moldados, as solicitações de
flexocompressão podem ser provocadas inclusive por deficiência de montagem da estrutura
(desaprumos, desalinhamentos, etc.). (THOMAZ, 1989).
As fissuras inclinadas ou lascamentos nas cabeças dos pilares pré-moldados, conforme
figura 35, são resultantes das concentrações de tensões normais e tangenciais nessa região do
pilar, no caso da existência de aparelho de apoio ou mesmo de sua parcial ineficácia.
Esse fenômeno foi devidamente considerado na NBR 9062:2006 Projeto e Execução de
Estruturas de Concreto Pré-Moldado, que em seu item 7.3, trata de ligações por meio de
consolos de concreto, prevendo-se a adição de uma armadura transversal complementar na
cabeça do pilar, em função inclusive
53

Figura 35 - Fissuras inclinadas na cabeça do pilar provocadas por concentração de tensões


do tipo de aparelho de apoio adotado.

Fonte: Thomaz (1989).

Figura 36 - Armadura típica de um consolo curto em pilar pré-moldado.

Fonte: NBR 9062. (2006).

2.3.8 Recalques diferenciais

Os solos são constituídos basicamente por partículas sólidas, entremeadas por água, ar e
não raras vezes material orgânico. Sob a ação de cargas externas, todos os solos, em maior ou
menor proporção se deformam. No caso em que estas deformações sejam diferenciadas ao
longo do plano das fundações de uma obra, tensões de grande intensidade serão introduzidas à
estrutura, podendo gerar o aparecimento de fissuras. (DAL MOLIN, 1988)
Os recalques diferenciais podem ser gerados por incorreções várias na interação solo-
estrutura, que podem ocorrer tanto nas fases de projeto e execução, como na utilização.
De maneira geral, as fissuras provocadas por recalques diferenciados são inclinadas,
confundindo-se certas vezes com as fissuras provocadas por deflexão de componentes
estruturais. Com relação às primeiras, contudo, apresentam aberturas geralmente maiores,
54

“deitando-se” em direção ao ponto em que ocorreu o maior recalque. Outras características


das fissuras provocadas por recalque são a presença de esmagamentos localizados, em forma
de escamas, dando indícios das tensões de cisalhamento que as provocaram; além disso,
quando os recalques são acentuados, observa-se nitidamente uma variação da abertura da
fissura. (THOMAZ, 1989)
Figura 37 - Fissuração por recalque diferencial dos apoios.

Fonte: Souza; Ripper (1998).

Figura 38 - Recalques em estruturas de concreto armado em pórtico.

Fonte: Dal Molin (1988)


55

De uma maneira geral, não é só a estrutura a ressentir-se deste efeito, mas também, as
alvenarias e os caixilhos. (SOUZA; RIPPER, 1998).
A figura 39 exemplifica um processo fissuratório surgido em uma viga em decorrência de
recalque de um de seus apoios. Deve-se referir que a prevenção contra este tipo de patologia
passará pelo adequado conhecimento do solo e das tensões e deformações. A recuperação ou
o reforço das estruturas danificadas por recalque de fundação são trabalhos extremamente
custosos.
Figura 39 - Fissura por cisalhamento, provocada por uma expansão diferencial da
fundação.

Fonte: Carmona; Carmona (2013).

A construção de edifícios dotados de um corpo principal (mais carregado), e de um corpo


secundário (menos carregado), com um mesmo sistema de fundação, invariavelmente conduz
a recalques diferenciados entre as duas partes, surgindo fissuras verticais entre elas e, não
raras vezes, fissuras inclinadas no corpo menos carregado. A adoção de sistemas diferentes de
fundação numa mesma obra, conforme representado na figura 40, provoca o mesmo
problema. (THOMAZ, 1989)
Figura 40 - Diferentes sistemas de fundação na mesma construção: recalques
diferenciados entre os sistemas, com presença de trincas de cisalhamento no corpo da obra.

Fonte: Thomaz (1989).


56

Figura 41 - Diferentes sistemas de fundação na mesma construção: exemplo prático.

Fonte: Trindade (2014)

As variações de umidade do solo, principalmente no caso de argilas, provocam alterações


volumétricas e variações no seu módulo de deformação, com possibilidade de ocorrência de
recalques localizados. Estes recalques, bastante comuns por causa da saturação do solo pela
penetração de água de chuva nas vizinhanças da fundação que podem também ocorrer por
absorção de água por vegetação localizada próxima à obra.
A figura 42 exemplifica um recalque de fundação provocado pela penetração de água no
solo, proporcionado por aberturas (trincas) no piso do corredor lateral da edificação, em que
na figura “C” nota-se o afundamento de um pilar, provocando fissurações no pavimento
superior em uma laje, figura “B” e nas paredes conforme figura “A”.
Figura 42 - Fissuração por recalque de fundação causado por penetração de água no solo.

Fonte: Trindade (2014)

Como regra geral, as aberturas das fissuras provocadas por recalque serão diretamente
proporcionais à sua intensidade; a estruturação do edifício e todas as demais condições de
contorno, entretanto, têm influência também direta na dimensão da fissura e na extensão do
problema. (THOMAZ, 1989).
57

Além dos fatores geotécnicos, pode-se acrescentar um fenômeno como o de afundamentos


localizados do terreno (“dolinas”, de acordo com os geólogos), que em geral vão se
processando lentamente com o passar dos anos, causados por falhas no subsolo. Nas regiões
sujeitas a este tipo de fenômeno, podem ocorrer fissurações generalizadas nas edificações,
além de outros fatos característicos, como a inclinação de postes e torres em direção ao
epicentro da dolina. (THOMAZ, 1989).
Por recalque diferencial de fundações ou por deformabilidade da estrutura as lajes podem
ser submetidas a solicitações de torção mais significativas do que aquelas que se desenvolvem
nas lajes fletidas; as trincas nesses casos apresentam-se inclinadas em relação aos bordos da
laje. (THOMAZ, 1989).
Figura 43 - Trincas inclinadas devidas a torção da laje.

Fonte: Thomaz (1989).


58

3 DIAGNÓSTICO

Ao se verificar que uma estrutura de concreto armado ou protendido esta “doente”, isto é,
que apresenta problemas patológicos, torna-se necessário efetuar uma vistoria detalhada e
cuidadosamente planejada para se determinar as reais condições da estrutura, de forma a
avaliar as anomalias existentes, suas causas, providências a serem tomadas e os métodos a
serem adotados para a recuperação ou o reforço. (SOUZA; RIPPER, 1998)
As principais ferramentas da Engenharia Diagnóstica são os procedimentos técnicos
investigativos, que podem ser classificados por sua progressividade e estão representados
pelas vitorias, inspeções, auditorias, perícias e consultorias. (GOMIDE et al, 2009)
Para se identificar as patologias primeiramente é necessário se fazer uma inspeção, ou
seja, uma vistoria realizada no local, utilizando testes simples e procurando obter o maior
número possível de informações, tais como identificar a ocorrência da patologia na edificação
através da observação, verificar a gravidade visando a segurança dos usuários, definindo as
medidas a serem tomadas, definindo a extensão do quadro patológico e a sequência da
vistoria, por meio da utilização dos cinco sentidos humanos, ou com a ajuda de testes e
instrumentos simples. (BRIK, 2013).
O levantamento da história evolutiva do problema, englobando desde a construção, a
utilização e a manutenção da edificação, é utilizado quando os dados obtidos na vistoria local
não são suficientes para diagnosticar a patologia. Devem ser utilizadas informações orais
recolhidas com usuários, projetistas, construtores, operários, fiscalização e vizinhos; esta
prática necessita de técnica, pois cada pessoa tem um interesse em relação à obra. Também
podem ser utilizadas as informações formalizadas, que são os projetos, memoriais de cálculos,
especificações de serviços e materiais, diários de obra, ensaios de recebimento de material,
notas fiscais e contratos de execução de serviços. (BRIK, 2013).
Se ainda assim não for possível identificar o problema, é necessária a elaboração de
exames complementares que possibilitem a obtenção de mais informações. Esses exames
podem ser físicos, químicos ou biológicos, executados em laboratório ou in loco, sendo
escolhidos de acordo com a patologia; porém, deve-se conhecer a capacidade de resolução e
possíveis erros de cada tipo de exame para que se possa fazer a análise coerente dos
resultados. (BRIK, 2013).
Os exames feitos em laboratório podem determinar as características mecânicas, tais como
resistência à compressão, resistência à tração, módulo de elasticidade, aderência, resistência à
abrasão e a impactos, propriedades físicas, tais como a densidade, permeabilidade,
59

porosidade, absorção d’água, coeficiente de dilatação térmica, condutibilidade térmica,


condutibilidade elétrica; também pode ser feita a reconstituição do traço do concreto, verificar
e quantificar a presença de elementos ou compostos químicos (ex. cloretos, sulfetos, sulfatos,
óxidos de enxofre), verificar a reatividade álcalis-agregado, analisar o desempenho e o
comportamento estrutural da edificação ou de suas partes através de modelos e analisar a
microestrutura dos materiais. (BRIK, 2013).
Os exames realizados in loco são os executados diretamente na edificação e podem ser
não destrutivos ou destrutivos.
A seguir ensaios não destrutivos:
• Esclerometria: Método que mede a dureza superficial do concreto, fornecendo
elementos para a avaliação da qualidade do concreto endurecido. O índice esclerométrico é
um valor obtido através do impacto do esclerômetro de reflexão sobre uma área de ensaio.
Este ensaio tem por objetivo estimar a resistência do concreto pela medida da dureza de sua
superfície. Essa medida é feita sem provocar redução da capacidade resistente da peça
ensaiada e sem provocar dano superficial relevante. É muito usado em obras em execução,
para avaliar a resistência do concreto cujos corpos de prova padrão deram resultado abaixo do
esperado e também é usado para estimar a resistência do concreto de obras antigas. A norma
que padroniza este ensaio é a ABNT NBR 7584:2012 - Concreto endurecido - Avaliação da
dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão - Método de ensaio.
Figura 44 - Esclerômetros e ensaio esclerométrico.

Fonte: Soloap (2014)


60

• Ultrassonografia: É baseada na medida da velocidade de propagação de ondas


ultrassônicas longitudinais, transversais e de superfície e baseiam-se na norma ABNT NBR
8802:2013 - Concreto endurecido - Determinação da velocidade de propagação de onda
ultrassônica. O campo de aplicação desta técnica é vasto, servindo principalmente para a
verificação da uniformidade do concreto nos distintos componentes estruturais, delimitando as
zonas de concreto de alta e baixa qualidade, permitindo estimar resistências à compressão e
módulo de elasticidade do concreto e determinar a existência, a localização e a profundidade
de fissuras. Este teste tem sobre a esclerometria a vantagem de não se limitar a uma
determinação superficial das características do concreto, estendendo-se a toda a sua massa. A
medida que a velocidade de propagação aumenta a compacidade do concreto aumenta e a
medida que a velocidade de propagação diminui a compacidade do concreto diminui.
Também avalia a integridade física das injeções de resinas em elementos estruturais de
concreto armado.
Figura 45 - Ensaio de Ultrassom em prisma mal vibrado.

Fonte: UFSC (2009).

• Pacometria: Neste ensaio utiliza-se o aparelho pacômetro, cujo princípio de


funcionamento é eletromagnético, permitindo determinar a presença e a direção das barras,
assim como determinar a espessura de cobrimento em relação à face externa das armaduras. O
aparelho localiza as barras e mostra seu diâmetro e espessura de cobrimento de ferragens até
150 mm distantes da superfície. Ele detecta a posição das armaduras, auxiliando nos ensaios
de ultrassom e na extração de corpos de prova de concreto evitando o corte o das armaduras.
61

Figura 46 - Ensaio Pacometria.

Fonte: Bosch (2014)

• Sonometria: realiza a verificação de aderência entre os materiais;


• Resistividade e potencial eletroquímico: determinam o potencial de corrosão;
• Raio X: realiza a verificação da estrutura interna;
• Prova de carga: realiza a verificação do comportamento e do desempenho da estrutura.

Ensaios destrutivos:
• Extração de corpos de prova: determinação de resistências, módulo de elasticidade,
etc.;
• Ensaios de arrancamento: avaliação de aderência entre materiais e estimativas da
resistência.

As providências a adotar, e mesmo os limites a seguir quanto à periculosidade de


determinados mecanismos de deterioração, podem e devem observar a importância da
estrutura em termos de resistência e durabilidade, assim como, muito particularmente, a
agressividade ambiental. (SOUZA; RIPPER, 1998)
Podemos adotar uma metodologia básica para a inspeção de estruturas convencionais em
três etapas: levantamento de dados, análise e diagnóstico.
A etapa de levantamento de dados é extremamente delicada e deve ser feita por
profissional experiente, especialista em Patologia das Estruturas, que seja capaz de
caracterizar com o máximo rigor a necessidade ou não de medidas especiais.
Esta é a etapa que fornecerá os subsídios necessários para que a análise possa ser feita
62

corretamente, e compreende os seguintes passos: (SOUZA; RIPPER, 1998)


i) Classificação analítica do meio ambiente, em particular a agressividade à estrutura em
questão;
ii) Levantamento visual e medições da estrutura – consiste na observação normal, com
anotações, e medições nos principais elementos;
iii) Estimativa de possíveis consequências dos danos, caso necessário, tomada de medidas
de emergência, tais como escoramento de parte ou do todo da estrutura, alívio do
carregamento, instalação de instrumentos de medidas de deformações e recalque e interdição
da estrutura;
iv) Levantamento detalhado dos sintomas patológicos, inclusive com documentação
fotográfica, medidas de deformações (se necessário com aparelhos topográficos), avaliação da
presença de cloretos ou outros agentes agressivos, de carbonatação, medidas de trincas e
fissuras (posição, extensão e abertura), medidas de perda de seção em barras de aço, etc.;
v) Identificação de erros quanto a concepção da estrutura (projeto), à sua execução, ou
ainda quanto à sua utilização e manutenção;
vi) Análise do projeto original e dos projetos de modificações e ampliações, caso existam,
de forma a se poder determinar possíveis deficiências na concepção ou no dimensionamento
dos elementos estruturais danificados;
• Instrumentação da estrutura e realização de ensaios especiais, inclusive em laboratório,
compreendendo:
• Tipologia e intensidade dos sistemas de deterioração dos agentes agressores;
• Medições: geometria, nível, prumo e excentricidades; mapeamento das fissuras;
determinação das flechas residuais; evolução da abertura de fissuras e de deformações, etc.;
• Estudos e ensaios: verificação dimensional dos elementos (seção transversal do
concreto, armaduras, cobrimento, etc.); investigação geotécnica; avaliação da resistência do
concreto, das características do aço, etc.
A segunda etapa, análise os dados, deverá conduzir o analista a um perfeito entendimento
do comportamento da estrutura e de como surgiram e se desenvolveram os sintomas
patológicos.
Essa análise deverá ser feita de forma pormenorizada, para garantir que um diagnóstico
confiável.
63

Figura 47 - Fluxograma genérico para diagnose de uma estrutura.


Exame visual da estrutura Análise do meio ambiente

Medidas Sim Procedimentos


urgentes emergenciais
?

Não

Histórico

Mapeamento de
anomalias

Identificação de
erros

Análise do Instrumentação
projeto e ensaios
laboratoriais

Novos Sim
dados Coleta de dados
?
Não

Análise de
dados

Não
Diagnóstico
?

Sim
Fim

Fonte: Souza; Ripper (1998).


64

Depois dos processos de identificação das patologias é possível se fazer o diagnóstico


final, sendo este o processo mais importante, pois é a partir dele que se pode definir o tipo de
patologia. Se o diagnóstico for equivocado, além de não se resolver o problema, poderá
acabar atrapalhando nas análises futuras que serão necessárias para diagnosticar corretamente
a patologia e ainda haverá um grande desperdício de dinheiro, pois na maioria das vezes para
se corrigirem as patologias há um grande gasto. Após o diagnóstico o profissional tem a
escolha de corrigir a patologia, impedir ou controlar sua evolução, ou apenas estimar o tempo
de vida da estrutura, limitando sua utilização ou indicando a demolição. (Brik, Krüger,
Moreira, 2013).
65

4 NORMALIZAÇÃO

A existência de fissuras em elementos de concreto armado compromete sua durabilidade


por facilitar a penetração de agentes agressivos a armadura e a própria massa do concreto.
Assim sendo, tanto a abertura das fissuras como o ambiente que se insere a estrutura são
fatores determinantes das consequências do fenômeno de fissuração. (DAL MOLIN, 1988).
O estabelecimento dos valores máximos admissíveis das aberturas de fissuras varia em
função de cada norma.
Várias são as metodologias existentes para a avaliação de fissuras, destacando-se a norma
brasileira ABNT NBR 6118: 2014 - Projeto de estruturas de concreto – Procedimento, a
Norma Europeia EN 1504 – Produtos e Sistemas para Reparação e Proteção de Estruturas de
Concreto e as recomendações da norma americana ACI 224.1R-07 – Controle de fissuras em
estruturas de concreto.
A NBR 6118: 2014 na seção 13.4 especifica critérios de controle de fissuração e proteção
de armaduras.
Segundo a NBR 6118: 2014, o risco e a evolução da corrosão do aço na região das
fissuras de flexão transversais à armadura principal dependem essencialmente da qualidade e
da espessura do concreto de cobrimento da armadura. Aberturas características limites de
fissuras na superfície do concreto dadas em 13.4.2 da Norma, em componentes ou elementos
de concreto armado, são satisfatórias para as exigências de durabilidade.

4.1 Critérios de Avaliação

Buscando facilitar a compreensão quanto aos valores limites de fissuração, a seguir segue
a Quadro 5 com uma tentativa de correlacionar as normas ABNT NBR 6118:2014, First Draft
do Model Code 2010 e o ACI 224 das classes ambientais em relação ao limite de abertura de
fissuras. (CARMONA; CARMONA, 2013)
66

Quadro 4 - Relação entre limites de abertura de fissuras

Ambiente Abertura
limite Wdlim
Model Code 2010 ACI 224 NBR 6118
(mm)
Ar seco ou
Sem risco de Corrosão protegido com Rural – CAA I
0,3
membranas
Corrosão por
Ambiente úmido Urbana – CAA II
carbonatação 0,2
Névoa Marinha –
Corrosão por cloretos Água do mar e CAA III
de origem marinha respingos de maré Respingos de
maré – CAA IV
Corrosão por cloretos 0,1
Quimicamente
de origem diferente à
Sais de degelo agressivo – CAA IV
marinha
Fonte: Carmona; Carmona (2013)

4.2 NBR 6118: 2014 - Projeto de estruturas de concreto – Procedimento

Neste trabalho serão descritas recomendações da norma, não incluindo fórmulas para
cálculos utilizados em projeto.
No item 13.3.2 são definidos os limites para fissuração e proteção das armaduras quanto à
durabilidade.
A abertura máxima característica das fissuras, desde que não exceda valores da ordem de
0,2 mm a 0,4 mm, (conforme Quadro 6) sob ação das combinações frequentes, não tem
importância significativa na corrosão das armaduras passivas.
Como para as armaduras ativas existe a possibilidade de corrosão sobtensão, esses limites
devem ser mais restritos em função direta da agressividade do ambiente, dada pela classe de
agressividade ambiental.
Na Tabela 13.4 da NBR 6118, neste trabalho denominado Quadro 6, são dados valores
limites da abertura característica (wk) das fissuras, assim como outras providências visando
garantir proteção adequada das armaduras quanto à corrosão. Entretanto, devido ao estágio
atual dos conhecimentos e da alta variabilidade das grandezas envolvidas, esses limites devem
ser vistos apenas como critérios para um projeto adequado de estruturas.
Embora as estimativas de abertura de fissuras feitas em 17.3.3.2 da NBR 6118 devam
respeitar esses limites, não se deve esperar que as aberturas de fissuras reais correspondam
estritamente aos valores estimados, isto é, fissuras reais podem eventualmente ultrapassar
67

esses limites.
A seguir segue o Quadro 6 com dados das exigências de durabilidade relacionadas à
fissuração e à proteção da armadura, em função das classes de agressividade ambiental
extraída da NBR 6118: 2014.

Quadro 5 - Exigências de durabilidade relacionadas à fissuração e à proteção da armadura,


em função das classes de agressividade ambiental.

Classe de agressividade Combinação de


Tipo de concreto Exigências relativas à
ambiental (CAA) e tipo ações em serviço a
estrutural fissuração
de protensão utilizar

Concreto simples CAA I a CAA IV Não há --


CAA I ELS-W wk ≤ 0,4 mm
Combinação
Concreto armado CAA II e CAA III ELS-W wk ≤ 0,3 mm frequente
CAA IV ELS-W wk ≤ 0,2 mm

Concreto Combinação
Pré-tração com CAA I ou ELS-W w ≤ 0,2 mm
protendido nível 1 k
Pós-tração com CAA I e II frequente
(protensão parcial)

Verificar as duas condições abaixo


Concreto Combinação
Pré-tração com CAA II ou ELS-F
protendido nível 2 frequente
Pós-tração com CAA III e
(protensão
IV Combinação quase
limitada)
ELS-D1) permanente
Verificar as duas condições abaixo
Concreto
protendido nível 3 Pré-tração com CAA III e ELS-F Combinação rara
(protensão IV Combinação
completa) ELS-D1) frequente

A critério do projetista, o ELS-D pode ser substituído pelo ELS-DP com ap = 50 mm


(Figura 3.1). NOTAS
1 As definições de ELS-W, ELS-F e ELS-D encontram-se em 3.2.
2 Para as classes de agressividade ambiental CAA-III e IV exige-se que as
cordoalhas não aderentes tenham proteção especial na região de suas ancoragens.
3 No projeto de lajes lisas e cogumelo protendidas basta ser atendido o ELS-F para
a combinação frequente das ações, em todas as classes de agressividade ambiental.

Fonte: ABNT NBR 6118 (2014).


68

No item 13.3.1 da NBR 6118, há recomendações para o controle da fissuração quanto à


aceitabilidade sensorial e a utilização em que, no caso das fissuras afetarem a funcionalidade
da estrutura, como por exemplo, no caso da estanqueidade de reservatórios em que devem ser
adotados limites menores para as aberturas das fissuras.
Por controle de fissuração quanto à aceitabilidade sensorial, entende-se a situação em que
as fissuras passam a causar desconforto psicológico aos usuários, embora não representem
perda de segurança da estrutura. Limites mais severos de aberturas de fissuras podem ser
estabelecidos com o contratante.
Análises locais complementares devem ser efetuadas quando a não linearidade introduzida
pela fissuração for importante, como por exemplo, na avaliação das flechas.
Na análise global as características geométricas podem ser determinadas pela seção bruta
de concreto dos elementos estruturais. Em análises locais para cálculo dos deslocamentos, na
eventualidade da fissuração, esta deve ser considerada.
Para verificação das flechas devem obrigatoriamente ser consideradas a fissuração e a
fluência, usando, por exemplo, o critério de 17.3.2.1 da NBR 6118: 2014.
A verificação da capacidade de rotação de rótulas plásticas deve ser feita para cada uma
das combinações de carregamento consideradas. Atenção especial deve ser dada à verificação
da fissuração nas rótulas para condições de serviço.
A especificação de valores máximos para as armaduras decorre da necessidade de se
assegurar condições de dutilidade e de se respeitar o campo de validade dos ensaios que
deram origem às prescrições de funcionamento do conjunto aço-concreto.
Usualmente não é necessário verificar a fissuração diagonal da alma de elementos
estruturais de concreto. Em casos especiais, em que isso for considerado importante, deve-se
limitar o espaçamento da armadura transversal a 15 cm.

4.3 Norma Europeia EN 1504

A norma Europeia EN 1504 (2008) – Produtos e Sistemas para Reparação e Proteção de


Estruturas de Concreto foi criada devido ao considerável aumento da demanda por reparos em
edificações gerando uma necessidade de se padronizar requisitos de produtos e métodos de
trabalho.
A norma EN 1504 (2008) lida com todos os aspectos do processo de reparação e/ou
proteção incluindo:
69

• definições e princípios de reparação;


• a necessidade de diagnósticos precisos das causas da deterioração antes da
especificação do método de reparação;
• compreensão detalhada das necessidades do cliente;
• requisitos de desempenho dos produtos e métodos de ensaio;
• controle de produção na fábrica e avaliação da conformidade;
• métodos de aplicação e controle da qualidade dos trabalhos.

A norma Europeia EN 1504 normaliza as atividades de reparação e proporciona um


modelo melhorado para a execução de reparos duradouros, eficazes e satisfatórios aos
proprietários das estruturas. Ela esta dividida em 10 documentos em que cada um fornece um
recurso que ajuda os engenheiros responsáveis pelas especificações, empreiteiros e fabricantes
de materiais.
A seguir segue Quadro 7 relacionandos os documentos que compões a Norma EN 1504:

Quadro 6 - Divisões da Norma Europeia EN 1504 (2008)

Documento Descrição
EN 1504 – 1 Descreve os ternos e definições compreendidos na norma
EN 1504 – 2 Fornece especificações para produtos/sistemas de proteção
superficial do concreto
EN 1504 - 3 Fornece especificações para reparação estrutural e não estrutural
EN 1504 - 4 Fornece especificações para colagem estrutural
EN 1504 – 5 Fornece especificações para injeção em concreto
EN 1504 – 6 Fornece especificações para ancoragem de armaduras
EN 1504 – 7 Fornece especificações para proteção da armadura contra corrosão
EN 1504 – 8 Descreve o controle de qualidade e avaliação de conformidade dos
fabricantes
ENV 1504 – 9 Define os princípios gerais para uso de produtos e sistemas de
reparo e proteção
EN 1504 - 10 Fornece informações sobre a aplicação e o controle de qualidade dos
trabalhos
Fonte: EN 1504 (2008)

As características de desempenho são definidas como:


• para “todas as utilizações”: fornece os parâmetros mínimos de desempenho técnico que
devem ser atingidos para toda e qualquer aplicação;
• para “certas utilizações”: estas características asseguram que o sistema de reparação
resiste às condições agressivas que possam ter causado os defeitos originais.
70

Os requisitos de desempenho definem os valores mínimos quantitativos que um produto


deve cumprir quando testado sob os métodos e condições de ensaio padrão.

4.3.1 Norma Europeia ENV 1504 – Parte 9

A EN 1504 – Parte 9 (2008), especifica os princípios básicos que serão usados,


separadamente ou combinados, onde haja necessidade de proteger ou reparar estruturas de
concreto, acima ou abaixo do solo ou água.
Uma correta reparação começa com a determinação das condições e identificação das
causas da degradação. Todas as outras etapas no processo de reparação e proteção dependem
destes pontos. O documento ENV 1504-9 (2008) enfatiza explicitamente a importância destas
questões e identifica as seguintes etapas:
• determinação das condições da estrutura;
• identificação das causas da deterioração;
• definição dos objetivos de proteção e reparação em conjunto com os proprietários;
• seleção do(s) princípio(s) de proteção e reparação apropriado(s);
• seleção dos métodos;
• definição das propriedades dos produtos e sistemas (descritas em EN 1504- 2 a 7);
• especificação dos requisitos de manutenção posteriores à proteção e reparação.

Os métodos para a reparação e proteção de estruturas de concreto detalhados na norma


ENV 1504 parte 9 estão agrupados em 11 princípios que estão relacionados com a degradação
da matriz do concreto e os defeitos causados pela corrosão das armaduras.
Os princípios e métodos relacionados à injeção em fissuras na norma EN 1504-9 são
conforme Quadro 8 a seguir:

Quadro 7 - Princípios e métodos da Norma Europeia ENV 1504 – 9 (2008) relacionados à


injeção em fissuras

Princípio 1 Proteção contra penetração Método 1.4 Preenchimento de fissuras


Método 4.5 Injeção em fissuras e vazios
Princípio 4 Reforço estrutural Preenchimento de fissuras e
Método 4.6
vazios
Fonte: ENV 1504-9 (2008)
71

4.3.2 Norma Europeia EN 1504 – Parte 5

A parte 5 da Norma Europeia EN 1504 (2008) específica requisitos e critérios de


conformidade para a identificação, desempenho (incluindo aspectos de durabilidade) e
segurança de produtos de injeção utilizados na reparação e proteção de estruturas de concreto,
abordando:
• o enchimento dúctil (D) de fissuras, vazios e interstícios no concreto;
• o preenchimento de fissuras e vazios em situações com transferência de carga
estrutural;
• o preenchimento expansivo (S) de fissuras e vazios no concreto.

O range de abertura de fissuras considerada na EN 1504 parte 5 varia entre 0.1 mm e 0.8
mm, medida na superfície.
Os objetivos de injeção no concreto, conforme a norma são:
• impermeabilizar e permitir a estanqueidade futura;
• evitar a penetração de agentes agressivos;
• reforçar a superfície através do reforço do concreto.

De acordo com a Norma EN 1504 – Parte 5, em geral, os produtos utilizados para injeção
em fissuras são:
• (D) Poliuretanos e acrílicos;
• (F) Resina se epóxi, poliéster e produtos cimentícios;
• (S) Poliuretanos e acrílicos.

No Quadro 9 estão descritas as características de desempenho para preenchimento dúctil


(D) de fissuras (limitado "para todas as utilizações"): (BASF, 2009)
72

Quadro 8 - Características de desempenho e requisitos de produtos para injeção em


fissuras com sistemas ligantes poliméricos ativos.

Características Requisitos (Quadro 3.b da EN 1504


de desempenho parte 5)
Aderência e alongamento
Características Aderência: valor declarado:
dos produtos de injeção
de base Alongamento: > 10 %
dúcteis
Injetabilidade em meio seco Classe de injetabilidade:
• Determinação da < 4 min (injetabilidade elevada)
injetabilidade para largura de fissuras de 0.1 mm
< 8 min (pelo menos exequível)
• Injeção entre lajes de
para largura de fissuras de 0.2 – 0.3
concreto
mm
Características
Injetabilidade em meio não
de
seco
trabalhabilidade
• Determinação da
Injeção entre lajes de concreto:
injetabilidade
Percentagem de enchimento da fissura:
• Injeção entre lajes de
> 90 % (para largura de fissuras de 0.5
concreto
– 0.8 mm)
Viscosidade Valor declarado
Características Tempo de trabalhabilidade
Valor declarado
de reatividade Valor declarado
Compatibilidade com o Perda de trabalho de deformação < 20
Durabilidade
concreto %
Fonte: Basf (2009)

No Quadro 10 estão descritas as características de desempenho para preenchimento


transmissor de forças (F) das fissuras (limitado a "para todas as utilizações"): (BASF, 2009)
73

Quadro 9 - Características de desempenho e requisitos de produtos para injeção em


fissuras com sistemas ligantes poliméricos reativos e com ligantes hidráulicos

Características de Requisitos (Quadro 3.a da EN


desempenho 1504 parte 5)
H: > 2.0 N/mm²
Aderência pelo ensaio da
resistência da colagem à tração (H,P) > 0.6 N/mm² para enchimento
de vazios
Características de
Retração volumétrica (P) < 3%
base
Exsudação (H) < 1% do valor inicial após 3 horas
- 1% < variação volumétrica <
Variação volumétrica (H)
+5% do volume inicial
Injetabilidade em meio seco (H,P) Classe de injetabilidade:
< 4 min (injetabilidade
elevada) para largura de fissuras
• Determinação da
de 0.1 mm
injetabilidade e da resistência
< 8 min (pelo menos
à tração por compressão
exequível) para largura de fissuras
de 0.2 – 0.3 mm
• Aderência pelo ensaio da
Ensaio de tração por compressão:
resistência da colagem à
> 7 N/mm² (P)
Características de tração (H,P)
trabalhabilidade Injetabilidade em meio não seco (H, > 3 N/mm² (H)
P)
Injeção entre lajes de concreto:
• Determinação da
injetabilidade e da resistência à tração Percentagem de enchimento da
por compressão fissura: > 90 % (para largura de
fissuras de 0.5 – 0.8 mm)
• Aderência pelo ensaio da Requisitos de aderência das
resistência da colagem à tração (H, P) características de base cumpridos
Viscosidade (P) Valor declarado
Tempo de escoamento (H) Valor declarado
Tempo de trabalhabilidade (H,P) Valor declarado
> 3 N/mm² dentro de 72 horas
à temperatura mínima de
aplicação, dependente da
Características de Desenvolvimento da resistência à
declaração do fabricante
Reatividade tração para polímeros (P)
relativamente à temperatura
mínima de aplicação e/ou do
movimento das fissuras.
Tempo de reação (H) Valor declarado
Aderência pela resistência à tração H: redução da resistência à tração:
após ciclos térmicos e de secagem < 30 % dos valores iniciais
Durabilidade molhagem (H, P)
H: redução da resistência à tração:
Compatibilidade com o betão (H,P)
< 30 % dos valores iniciais
Fonte: Basf (2009)
74

A temperatura de transição vítrea deve ser considerada se a temperatura do produto


endurecido (formulado com um ligante polimérico reativo) na fissura poder vir a superar os
21 °C. Requisito: temperatura de transição vítrea > 40 °C.
No Quadro 11 estão descritas as características de desempenho para preenchimento
expansivo (S) de fissuras (limitado a "para todas as utilizações"): (BASF, 2009)

Quadro 10 - Características de desempenho e requisitos de produtos para enchimento


expansivo (S) em fissuras com sistemas ligantes poliméricos ativos.

Características de
Requisitos (Quadro 3.c da EN 1504 parte 5)
desempenho
Estanque a água a 2105 PA
Características de
Estanqueidade a água Estanque a água a 7105 PA (aplicações
base
especiais)
Expansão e razão de
expansão por imersão Valor declarado
Características de
em água
trabalhabilidade
Trabalhabilidade - ≤ 60 MPa - percentagem da fissura cheia > 95
Viscosidade %
Características de Tempo de
Valor declarado
reatividade trabalhabilidade
Sensibilidade à água:
razão de expansão A razão de expansão deve atingir um nível
causada por conservação constante durante a imersão em água
em água
Nenhuma alteração da razão de expansão após
Sensibilidade a ciclos de
a imersão em água e após os ciclos secagem-
secagem-moldagem
molhagem
Durabilidade As resistências em relação aos provetes
conservados em água não devem variar mais
de 20 %. As resistências são medidas
Compatibilidade com o aplicando uma carga de compressão à
concreto velocidade de 100 mm/min com uma punção
de 20 mm Ø munida de uma cabeça cônica
(ângulo 60°).
Registra-se a curva de carga-deformação.
Fonte: Basf (2009)
75

5 INJEÇÃO EM FISSURRAS

A seleção do sistema de reparo deve ser baseada em uma avaliação cuidadosa da extensão
e causa da fissura, os processos podem ser selecionados para realizar um ou mais dos
seguintes objetivos: (ACI 224.1 R-07, 2001)
i. Restaurar ou aumentar a resistência;
ii. Restaurar ou aumentar a rigidez;
iii. Melhorar o desempenho funcional;
iv. Promover estanqueidade;
v. Melhorar o aspecto da superfície do elemento;
vi. Garantir durabilidade;
vii. Impedir o desenvolvimento de corrosão de armaduras.

A formulação do tratamento poderá ter ajustes em função da existência ou não de rede de


fissuras (quando a solução passará, normalmente, pela aplicação de revestimentos elásticos) e
da fissura no elemento estrutural, isto é, da superficialidade ou profundidade da fissura,
particularmente quanto à definição do material, já que o tratamento será normalmente mais
simples nos casos superficiais. (SOUZA; RIPPER, 1998).
Havendo ou não atividade, sempre se pretenderá com o tratamento, criar uma barreira ao
transporte nocivo de líquidos e gases para o interior das fissuras.
Os critérios para a escolha dos produtos a serem injetados quando nos deparamos com um
quadro de fissuração devem levar em conta, primeiramente as condições das estruturas, isto é,
se o problema exige a necessidade de recomposição estrutural ou simplesmente de um
selamento.
Para a determinação do tratamento adequado, as fissuras não devem ser analisadas
separadamente da estrutura, pode ser necessária uma solução que envolva a selagem da
fissura em conjunto com o reparo da estrutura.
Havendo necessidade de recomposição estrutural, os materiais a serem injetados deverão
garantir a restauração da capacidade de suporte da estrutura, além do estancamento das
infiltrações. Os produtos de injeção indicados dependem das condições de umidade das
fissuras.
O reparo de fissuras inativas geralmente implica na restauração da monoliticidade do
concreto, resultando na aplicação de produtos (adesivos) capazes de promover a aderência
entre os concretos de suas duas faces. (PIANCASTELLI, 1997).
76

A aplicação dos adesivos pode ser feita por gravidade, por injeção sob pressão ou por
capilaridade, conforme o caso.

5.1 Selamento de fissuras

O selamento das fissuras deve ser realizado nos casos em que a reparação estrutural não é
necessária. Este método envolve a abertura da fissura ao longo de sua face exposta e o
preenchimento com um selante apropriado.
Figura 48 - Reparação de fissura por roteamento e selagem.

Fissura Abertura mínima Selamento


Fonte: ACI 224.1 R-07 (2001)

Esta é uma técnica comum para tratamento de fissura e é relativamente simples em


comparação aos procedimentos e o treinamento necessário para a injeção de epóxi. O
procedimento é mais aplicável em superfícies planas aproximadamente horizontais, como
pisos e pavimentos. O roteamento e a vedação também podem ser realizados em superfícies
verticais, assim como em superfícies curvas (tubos, estacas e postes) e em fissuras estreitas e
largas, tipicamente variando em profundidade entre 6 e 25 mm. (ACI 224.1 R-07, 2001)
A finalidade deste tratamento é de eliminar a possibilidade da humidade atingir o aço ou
de penetrar no concreto, provocando manchas superficiais ou outros problemas. Os vedantes
podem ser epóxis, uretanos, silicones, polissulfuretos, materiais asfálticos ou argamassas
poliméricas.
Para pavimentos, o vedante deve ser suficientemente rígido para suportar o tráfego.

5.2 Aplicação de produtos por gravidade

Produtos de baixa viscosidade podem ser utilizados no preenchimento de fissuras por


gravidade com aberturas de superfície compreendidas entre 0,03 a 2 mm. O metacrilato de
alto peso molecular, uretanos e epóxis de baixa viscosidade têm sido utilizados com sucesso.
77

Quanto mais baixa for à viscosidade, mais fina poderá ser a fissura a ser preenchida.
Para se obter melhor desempenho no preenchimento as fissuras deverão estar secas. O
composto aplicado sobre a superfície pode ser espalhado com vassoura, rolo ou rodo.
A utilização deste método em placas elevadas exigirá selagem das fendas na parte inferior,
para conter o material que irá vazar através da fissura. (ACI 224.1 R-07, 2001)
Este método é ineficiente em fissuras que contêm quantidades significativas de lama,
humidade ou outros contaminantes.

5.3 Resinas de poliuretano

Tem como principal finalidade selar as fissuras, de modo a impedir agressões externas e
estancar infiltrações, inclusive com fluxo de água intenso.
As resinas de poliuretano apresentam baixa viscosidade, possuem excelente aderência,
grande durabilidade e se polimerizam com água sendo também impermeáveis.
As injeções com poliuretano devem ser executadas utilizando-se bombas de injeção de
alta pressão e através de bicos de injeção metálicos de perfuração, como os mostrados na
figura 49.
Figura 49 - Bomba de injeção de resinas de poliuretano e bicos de injeção.
.

Fonte: Granato (2009)

5.3.1 Poliuretano e suas aplicações

As resinas de poliuretano podem ser rígidas ou flexíveis: (PIRES, 2014)


• Flexíveis: As injeções com poliuretano flexível são utilizadas para selar e tratar as
78

infiltrações nas estruturas; são apresentadas nos formatos de “espuma” e de “gel” de


poliuretano. A que promove a estanqueidade permanente é o gel de poliuretano, a espuma é
utilizada somente para obter a estanqueidade provisória, com a finalidade de possibilitar a
injeção do gel de poliuretano, que garantirá a estanqueidade definitiva.
• Rígidas: As injeções com resinas de poliuretano rígido são polimerizadas na presença
de água, sendo utilizadas para selar estruturas, são de rápida reação, alta resistência quando
endurecidas e de alta taxa de expansão.
Sua aplicação pode ser realizada em uma ampla diversidade de estruturas, como
reservatórios, túneis e rodovias, pavimentos de concreto, galerias subterrâneas, fundações
entre outros.
A durabilidade do gel de poliuretano é grande e devido a sua alta resistência a produtos
químicos, é utilizado em várias situações como em locais que armazenam substâncias
agressivas.
A seleção das matérias-primas específicas das resinas de poliuretano possibilita a
utilização destes produtos para o tratamento de estruturas que armazenam água potável.
(ALMEIDA, 2003).
As técnicas de injeção de poliuretano garantem a impermeabilização das estruturas,
estancando por completo qualquer tipo de vazamento, inclusive com a existência de intenso
fluxo de água.
Quando a infiltração apresenta fluxo ou jorro de água, a injeção deve ser executada em
duas etapas: (PIRES, 2014).
• Primeiro, com a injeção de espuma de poliuretano, para estancar temporariamente o
fluxo de água e permitir a injeção do gel de poliuretano;
• Com a infiltração contida, é executada a injeção do gel de poliuretano, responsável
pelo selamento definitivo da fissura logo na sequência da aplicação da injeção de espuma de
poliuretano com pequeno intervalo de tempo.
Na presença de água, a espuma de poliuretano reage em 30 a 60 segundos formando uma
espuma com expansão entre 10 a 40 vezes do seu volume original, estancando o fluxo de
água. Pelo fato de possuir uma estrutura de células e poros abertos, a espuma de poliuretano
deve ser considerada apenas como um tamponamento provisório, devendo sempre ser seguida
da injeção de selamento flexível definitiva com gel de poliuretano. (ALMEIDA, 2003)
79

5.3.2 Injeção de fissuras com bicos embutidos

Esta técnica é geralmente aplicada na vedação de fissuras com vazamento e juntas em


paredes de contenção de subsolos e obras enterradas, podendo ser em superfícies horizontais,
verticais ou inclinadas.
Os passos de execução em geral são os seguintes:
i. Realiza-se a furação para os bicos através do elemento construtivo com vazamentos
com furação equivalente ao diâmetro do bico mais 2 mm a uma distância de cerca de
20 cm entre as furações sendo a instalação dos bicos em posição inclinada (45º)
sugestão de fabricantes, não há menção a este procedimento em norma alguma, a
figura a seguir é meramente ilustrativa:
Figura 50 - Instalação de bicos embutidos para injeção de poliuretano.

Fonte: Granato (2009)

ii. A instalação dos bicos deverá ser de tal forma que eles possam resistir à máxima
pressão de injeção, apertando-os com chave de boca;
iii. A válvula de retorno deve ser fixada no primeiro bico e o processo de injeção poderá
ser iniciado. Para injeções executadas em superfícies inclinadas ou verticais o
processo deverá ser iniciado pelos bicos posicionados mais abaixo:
80

Figura 51 - Processo de injeção através de bicos embutidos.

Fonte: Sika (2014)

iv. Para os casos com necessidade de estancamento de água deve ser aplicado o
poliuretano em forma de espuma e em seguida o gel de poliuretano.

5.3.3 Injeção de fissuras em elementos tipo cortina

i. Realiza-se a furação para os bicos através do elemento construtivo com vazamentos a


uma distância de cerca de 30 a 50 cm entre as furações, como na figura a seguir:
Figura 52 - Perfuração para instalação de bicos para injeção de poliuretano do tipo cortina.

Fonte: Sika (2014)


81

Figura 53 - Instalação de bicos para injeção com sistema tipo cortina.

Fonte: Sika (2014)

Figura 54 - Fixação da válvula de retorno no primeiro bico.

Fonte: Sika (2014)

Figura 55 - Processo de injeção iniciado pelo bicos mais abaixo.

Fonte: Sika (2014)

5.3.4 Obras
82

5.3.4.1 Obra ETE Vila Velha – Espírito Santo

A seguir seguem imagens de aplicação em ambiente agressivo:


Figura 56 - ETE - Vila Velha/ES – Vista geral.

Fonte: Granato (2009)

Figura 57 - ETE - Vila Velha/ES – Bicos de perfuração instalados.

Fonte: Granato (2009)

Figura 58 - ETE - Vila Velha/ES – Andamento dos trabalhos.

Fonte: Granato (2009)


83

Figura 59 - ETE - Vila Velha/ES - Vista após aplicação.

Fonte: Granato (2009)

5.3.4.2 Obra ETA São Paulo

A seguir seguem imagens de aplicação em reservatório de água:

Figura 60 - ETA São Paulo – Vista geral e bicos de injeção instalados.

Fonte: Granato (2009)


Figura 61 - ETA São Paulo - Andamento dos trabalhos de injeção.

Fonte: Granato (2009)


84

Figura 62 - ETA São Paulo – Vista após injeção.

Fonte: Granato (2009)

5.3.4.3 Obra Metrô São Paulo

A seguir seguem imagens de aplicação túnel do Metrô em São Paulo.

Figura 63 - Situação antes do reparo em túnel do Metrô em São Paulo.

Fonte: Granato (2009)

Figura 64 - Tamponamento com espuma e selamento com gel de PU em túnel do Metrô


em São Paulo.

Fonte: Granato (2009)


85

Figura 65 - Junta de concreto após a injeção em túnel do Metrô em São Paulo.

Fonte: Granato (2009)

5.4 Resinas em Gel Acrílico

As injeções com resina de gel acrílico têm como finalidade impermeabilizar as fissuras
das estruturas de concreto.
Através de perfuração na estrutura, até atingir a interface do sistema impermeabilizante
existente, pode-se injetar o gel acrílico polimérico que, ao curar, forma uma membrana
elástica impermeável, resistente, estável, durável e com boa adesão a substratos tanto secos
como úmidos. (MC-BAUCHEMIE, 2014)
A resina de gel acrílico apresenta características como: (PIRES, 2014)
• Baixa viscosidade - o que garante a injeção em fissuras a partir de 0,1 mm;
• Excelente aderência;
• Grande durabilidade;
• Flexibilidade – podendo ter alongamento maior do que 200%;
A resina de gel acrílico polimérico possui alta resistência mecânica e química não sendo
prejudicial ao meio ambiente. (MC-BAUCHEMIE, 2014).
A seguir segue imagem da bomba de alta pressão de injeção de 2 componentes utilizadas
para aplicação de gel acrílico polimérico.
86

Figura 66 - Bomba de alta pressão de injeção de bi-componente para gel acrílico – MC-I
700.

Fonte: MC-BAUCHEMIE (2014)

O método de fixação dos bicos é similar ao de injeção de fissuras com bicos tipo cortina
conforme item 6.3.3. O objetivo da aplicação deste produto é de formar uma membrana
impermeabilizante e, devido à sua baixa viscosidade, permite que esta percole facilmente na
interface solo/concreto.

5.4.1 Obra

5.4.1.1 Galeria de Interligação Estação Luz

Figura 67 - Infiltrações através de fissuras – Interligação Estação Luz – Metrô São Paulo.

Fonte: 2º Congresso de Túneis (2008)


87

Figura 68 - Tratamento das fissuras com injeção de gel acrílico polimérico – Interligação
Estação Luz – Metrô São Paulo.

Fonte: 2º Congresso de Túneis (2008)

Figura 69 - Selamento com gel acrílico polimérico – Interligação Estação Luz – Metrô
São Paulo.

Fonte: 2º Congresso de Túneis (2008)

Figura 70 - Aspecto após término do tratamento– Interligação Estação Luz – Metrô São
Paulo.

Fonte: 2º Congresso de Túneis (2008)


88

5.5 Resina Metil - Metacrilato

Trata-se de uma resina reativa para vedação de fissuras em lajes de concreto cujas
características principais são sua baixa viscosidade e cura rápida.
A resinas metil-metacrilato pertencem a família das resinas acrílicas, possuem baixa
viscosidade e podem ser utilizados em temperaturas entre -10 ºC e 40 ºC, sendo que quanto
mais se aproxima de 40 ºC, menor será o tempo de utilização do produto.
Possuem alto peso molecular e são usados como selantes sem solventes para concreto.
Estes adesivos geralmente partilham das mesmas características dos adesivos de poliéster.
Eles são mais comumente usados por mistura com agregado miúdo para formar uma
argamassa colante fluida. (ACI 503.5R-92, 2003)
A fluidez da argamassa pode ser controlada pela quantidade de agregado adicionado. A
argamassa pode ser usada como um adesivo para preencher fissuras e fornecer uma cura
rápida para o serviço entre 30 minutos e 2 horas em quase todos os casos. (ACI 503.5R-92,
2003)
A resina curada cria uma barreira que impede a passagem de água e que contaminantes
penetrem no substrato evitando a deterioração prematura da estrutura.
De maneira geral, este produto é aplicado por gravidade e são recomendados os seguintes
passos para sua aplicação: (DEGUSSA, 2004)
i. O substrato de concreto deve ser inspecionado antes da preparação, as fissuras
superficiais devem estar isentas de poeira, sujeira, óleo, nata de cimento, compostos de cura e
outros contaminantes. A parte inferior do elemento (laje) deve ser verificada para sinais de
vazamento devido a fissuras com profundidade total. O metacrilato deve ser aplicado em local
seco, portanto deve ser dada atenção a previsão do tempo, quando a aplicação se der em locais
abertos;
ii. O substrato deve estar livre de poeira e as fissuras devem estar expostas para aplicação
do produto;
iii. Após misturados os componentes devem ser utilizados rapidamente, principalmente
em locais com temperaturas ambiente acima de 25 ºC;
iv. O produto deve ser espalhado com rolos de pintura e trincha, trabalhando o material
sobre as fissuras.
v. Aguardar a cura
89

5.5.1 Obras

A seguir segue aplicação de metil metacrilato em laje de estacionamento:


Figura 71 - Injeção em fissuras e microfissuras com metil metacrilato, preparação do
produto e superfície.

Fonte: Granato (2009)

Figura 72 - Injeção em fissuras e microfissuras com Metacrilato, aplicação do produto.

Fonte: Granato (2009)

Figura 73 - Injeção em fissuras e microfissuras com Metacrilato, produto aplicado.

Fonte: Granato (2009)


90

Na sequência de imagens a seguir temos a aplicação de metacrilato para recuperação da


laje de um edifício comercial:
Figura 74 - Sequência de imagens demonstrando a aplicação de metacrilato em laje de
edifício comercial.

(A) (B)

(C) (D)

(E) (F)

Fonte: Granato (2009)

5.6 Resinas epóxi

As resinas epoxídicas são derivadas do petróleo, resultantes da combinação da


eplocoridina e do biofenol. De acordo com as proporções utilizadas de cada um destes
componentes, torna-se possível a obtenção de resinas com diferentes propriedades.
91

Para se conseguir a polimerização das resinas epoxídicas são utilizados catalisadores, em


geral, a base de aminas e poliaminas, ou poliamidas, a temperatura ambiente, produtos estes
caracterizados por possuírem hidrogênios ativos em suas moléculas. (SOUZA; RIPPER,
1998).
De acordo com as proporções de resina e de endurecedor, e do tipo utilizado, obtém-se o
produto mais apropriado para determinada aplicação.
As formulações epoxídicas utilizadas como ligantes são insensíveis à umidade, e são, por
esta razão, utilizadas para combater a corrosão nas barras das armaduras. Estas formulações
têm boa aderência a maioria dos materiais, como concreto, argamassas e aço, mas não aderem
a superfícies sujas de ceras, graxas, óleos ou a materiais desagregados. Para injeções em
fissuras com sujeiras como essas deve-se proceder com a limpeza pois prejudicam a
penetração do epóxi, reduzindo a eficácia nos reparos. Preferencialmente, a contaminação
deve ser removida por aspiração ou lavagem com água ou outras soluções de limpeza
eficazes. (ACI 224.1R-07, 2001)
É importante reconhecer as limitações práticas de realizar a limpeza e, principalmente, a
secagem completa da fissura.
De acordo com o ACI 548.11R-12 (2012)- Guia para a aplicação de epóxi e látex adesivos
para colagem em concretos endurecidos, os adesivos de epóxi devem atender aos requisitos da
ASTM C881/C881M, Tipo II e V, Grau 2 e 3, Classes A,B, ou C conforme a seguir:
• As resinas do Tipo II são utilizadas em aplicações não estruturais e, as resinas Tipo V
são para fins de suporte de carga;
• As resinas de Grau 1 são de baixa viscosidade, as de Grau 2 são de média viscosidade
e as de Grau 3 maior viscosidade;
• Os materiais da classe A são usados quando as temperaturas estão abaixo de 4ºC, os
materiais de Classe B são utilizados quando as temperaturas estão tipicamente entre 4ºC e
16ºC e da classe C materiais são utilizados quando as temperaturas são superiores 16ºC com
limites máximos estabelecidos por cada fabricante.
Para temperatura ambiente superior a 30°C, a polimerização é acelerada e as formulações
a empregar devem ser reestudadas e adequadas à situação, de forma a suportarem período de
plasticidade, denominado de ("pot-life") suficiente para que seja possível completar
convenientemente o serviço em questão.
Dependendo da importância e do volume do reparo ou do reforço, podem ser executados
na obra, ensaios de endurecimento da formulação epoxídica a ser empregada, para evitar
surpresas desagradáveis no que tange ao comportamento da formulação e consequentemente
92

desperdício de material e ineficiência do reparo.


A resistência à compressão esperada é de 60 a 100 MPa e a resistência à tração entre 30 e
50 MPa. As resinas de epóxi para injeção possuem viscosidades que normalmente podem
variar de 100 cps a 1500 cps, o que permite o preenchimento de fissuras com aberturas
maiores que 0,1 mm. (ALMEIDA, 2003).
As resinas epoxídicas são as preferidas na grande maioria dos casos em que se pretende
injetar em fissuras inativas, por serem produtos não retráteis, de baixa viscosidade, alta
capacidade resistente e aderente e bom comportamento na presença de agentes agressivos,
além de endurecerem muito rapidamente. São usualmente fornecidas em dois componentes
líquidos, a resina e o endurecedor, que apropriadamente misturados (normalmente em
misturadores elétricos ou pneumáticos de baixa rotação), homogeneízam-se muito
rapidamente. (SOUZA; RIPPER, 1998).
A seleção do tipo de resina epoxídica a utilizar deverá contemplar basicamente três
aspectos, além das garantias de propriedades básicas (ausência de retração, aderência,
resistência, etc.), sendo função direta do quadro fissuratório com o qual se está lidando:
(SOUZA; RIPPER, 1998).
• Viscosidade;
• Módulo de elasticidade;
• “pot life” da mistura, ou seja, coeficiente de polimerização, a ser regulado em função
da temperatura ambiente, principalmente.

Em termos de viscosidade pode-se adotar: (SOUZA; RIPPER, 1998).


• Para abertura de fissuras ω < 0,2 mm, resinas epóxi líquidas bastante fluidas, com
viscosidade em torno dos 100 cps a 20ºC;
• Para 0,2 mm < ω < 0,6 mm, resinas epóxi líquidas com viscosidade máxima de 500
cps a 20ºC;
• Para 0,6 mm < ω < 3,0 mm, resinas epóxi líquidas com viscosidade máxima de 1500
cps a 20ºC.

Em fissuras com mais abertura, esta propriedade garante o completo preenchimento das
mesmas sem deixar vazios. (ALMEIDA, 2003)
Resinas epóxi normalmente são muito sensíveis à presença de água/umidade. A presença
de água/umidade pode causar o aparecimento de bolhas na matriz do produto. Estas bolhas
93

diminuem consideravelmente a sua resistência e também prejudicam sua aderência, fatores


fundamentais em trabalhos de recuperação estrutural.
As resinas a base de epóxi também são ideais para injeções em concretos protendidos e
com alto desempenho. As injeções com resinas epoxídicas podem ser executadas utilizando-
se as mesmas bombas e bicos injetores utilizados para injeção com resinas de poliuretano.
(ALMEIDA, 2003).

5.6.1 Injeção de fissuras com bicos de superfície

5.6.1.1 Fissuras de pequena abertura (0,3 a 1,0mm) em superfície vertical ou inclinada

Essas fissuras são geralmente reparadas através da injeção de resinas epoxídicas de grande
fluidez. A seguir segue procedimento indicado:
i. preparar o substrato através de jateamento ou lixamento;

Figura 75 - Preparo do substrato para colagem dos bicos de superfície.

Fonte: Sika (2014)


ii. com o substrato completamente seco, colar os bicos de adesão para injeção com resina
epóxi tixotrópica, bem como calafetar toda a fissura com o mesmo produto;
94

Figura 76 - Bicos de injeção aderidos e superfície calafetada.

Fonte: Sika (2014)


iii. verificar a intercomunicação entre os furos com ar comprimido ou nos bicos
transparentes de adesão;
iv. Após, no mínimo, 8 horas da calafetagem da fissura, preparar a resina de injeção de
baixa viscosidade e elevada resistência, de maneira a não ocorrer incorporação de ar e nem
aquecimento da mistura por agitação excessiva. Aplicá-la, imediatamente, iniciando pelo bico
inferior. Quando a resina começar a verter pelo segundo bico, obstruir o primeiro e continuar
a injeção pelo segundo. Continuar assim até o preenchimento total da fissura;

Figura 77 - Epóxi sendo injetado.

Fonte: Sika (2014)


v. após 2 horas, retirar os bicos, obturar os orifícios com o adesivo epóxi e dar
acabamento por lixamento.

Se a fissura ocorrer dos dois lados do elemento estrutural (fissura passante), adotar os
procedimentos acima nas duas faces. Os furos das duas faces deverão ficar defasados e a
injeção ser alternada entre elas.

5.6.2 Fissuras de pequena abertura (0,3 a 1,0mm) em superfície horizontal.


95

Essas fissuras são também, normalmente, reparadas com resinas epoxídicas de grande
fluidez, aplicadas por injeção ou, em algumas situações, por gravidade.
O método de aplicação depende da posição da fissura em relação ao elemento estrutural,
de sua abertura mínima e do fato dela ser, ou não passante.

5.6.2.1 Fissuras Passantes

No caso de fissuras passantes em superfície horizontal, é interessante a verificação


preliminar da possibilidade de aplicação da resina por gravidade. Esse processo é bem mais
simples e barato do que o de injeção por ar comprimido.
Tal verificação pode ser feita da seguinte maneira:
• limpar toda a extensão da fissura, através de jato de ar comprimido. Em função do tipo
de material ou produto que tenha nela penetrado, pode ser necessária a utilização de
desengordurantes ou solventes específicos, que posteriormente, deverão ser completamente
eliminados através de lavagem;
• com o substrato seco, lançar a resina (preparada em pequena quantidade) num pequeno
trecho da fissura, pela face superior do elemento estrutural e verificar seu surgimento, ou não,
na face inferior.
Um bom fluxo de resina pela fissura, na face inferior do elemento estrutural, será sinal de
possibilidade de aplicação da resina por gravidade, em caso contrário, a injeção por ar
comprimido deverá ser utilizada.

5.6.2.1.1 Fissuras passantes - Aplicação de resina por gravidade

Confirmada a eficiência da aplicação da resina por gravidade, o reparo deve ser


continuado, dentro da seguinte sequência de procedimentos: (PIANCASTELLI, 1997)
i. Obturar a fissura na face inferior do elemento, fixando-se, entretanto, mangueiras
plásticas ou bicos de adesão transparentes, espaçadas em torno de 30 cm, que servirão como
suspiros (ver subitens de “i” até “vii” do item 5.6.1.1);
ii. Preparar a resina, sem que haja incorporação de ar ou aquecimento por agitação
excessiva, e vertê-la de uma extremidade a outra da fissura. No intuito de facilitar a
96

penetração da resina e evitar perdas excessivas, pode-se confeccionar uma pequena canaleta
provisória (com gesso ou massa de vidro) envolvendo toda a fissura. A infiltração da resina
pode ser ainda mais favorecida pela execução prévia de furos ao longo da fissura pela face
superior do elemento tratado (ver Figura 78).
iii. A medida que a resina fluir por um suspiro, ele deverá ser vedado;
iv. Após o endurecimento da resina, demolir a canaleta e dar acabamento superficial com
lixadeira;

Figura 78 - Aplicação de resina epoxídica por gravidade.

Fonte: Piancastelli (1997)

5.6.2.1.2 Fissuras passantes - Aplicação de resina por injeção

Confirmada a ineficiência ou impossibilidade de aplicação da resina por gravidade, a


intervenção deverá seguir os passos seguintes:
i. preparar o substrato através de jateamento ou lixamento nas duas faces do elemento
estrutural;
ii. com o substrato completamente seco, colar os bicos de adesão para injeção com resina
epóxi tixotrópica, bem como calafetar toda a fissura com o mesmo produto na face superior
de 10 a 30 cm (função da abertura da fissura), e na face inferior bicos de adesão transparentes;
iii. verificar, através de ar comprimido, a intercomunicação entre bicos contíguos da face
superior e da face inferior com pelo menos um da outra face. Caso necessário, bicos
intermediários deverão ser executados;
iv. após, no mínimo, 8 horas da calafetagem da fissura, preparar a resina de injeção de
baixa viscosidade e elevada resistência, de maneira a não ocorrer incorporação de ar e nem
aquecimento da mistura por agitação excessiva. Imediatamente, injetá-la, através dos bicos,
sequencialmente, de uma extremidade a outra da fissura;
v. Os bicos transparentes da face inferior deverão ser permanentemente observadas. A
97

finalidade principal desses bicos é confirmar a penetração da resina em toda a espessura do


elemento estrutural. Caso se queira, eles poderão ser utilizadas, também, para injeção de
resina;
vi. após 24 horas, retirar os bicos e dar acabamento por lixamento.

5.6.3 Fissuras apenas na face superior.

Como no caso de fissuras passantes, nas fissuras que ocorrem apenas na face superior do
elemento estrutural, é interessante a verificação inicial da possibilidade de aplicação da resina
por gravidade.
A verificação de tal possibilidade, neste caso, pode ser desenvolvida da seguinte maneira:
i. limpar toda a extensão da fissura, através de jato de ar comprimido e jato d’água. Em
função do tipo de material ou produto que tenha nela, porventura, penetrado, pode ser
necessária a utilização de desengordurantes ou solventes específicos, que, posteriormente,
deverão ser completamente eliminados através de lavagem;
ii. em ponto situado em um dos terços extremos da extensão da fissura, executar furo
com broca de vídea (diâmetro de 6 a 10 mm) que atravesse toda a espessura do elemento
estrutural, e proceder à sua limpeza com ar comprimido e escovação;
iii. a uma distância do furo igual a duas vezes a espessura do elemento, confeccionar
canaleta provisória com 10 cm de extensão;
iv. após a completa secagem do substrato, lançar a resina (preparada em pequena
quantidade) dentro da canaleta, e verificar se há, na face inferior do elemento estrutural,
extravasamento de resina pelo furo.
Um bom fluxo de resina extravasando será sinal de possibilidade de aplicação da resina
por gravidade. Caso contrário, a injeção por ar comprimido deverá ser utilizada.

5.6.3.1 Fissuras apenas na face superior - Aplicação de resina por gravidade

Confirmada a eficiência da aplicação da resina por gravidade, o reparo deve ser


continuado, adotando-se os procedimentos descritos para fissuras passantes - Aplicação de
resina por gravidade, desprezando-se, aqueles que fazem menção à fissura na face inferior do
elemento estrutural reparado.
98

5.6.3.2 Fissuras apenas na face superior - Aplicação de resina por injeção

Confirmada a ineficiência ou impossibilidade de aplicação da resina por gravidade, a


intervenção deverá seguir os procedimentos descritos para fissuras passantes - Aplicação de
resina por injeção, desprezando-se aqueles que fazem menção a fissura na face inferior do
elemento estrutural reparado.

5.6.4 Fissuras apenas na face inferior

Essas fissuras são as mais difíceis de serem reparadas.


Duas técnicas podem ser adotadas, como a seguir descrito.

5.6.5 Fissuras apenas na face inferior - Possibilidade de acesso somente pela face
inferior

Caso não seja possível a execução de furos que atinjam a face superior do elemento
estrutural, a injeção deverá ser feita pela face inferior.
Esta operação é bastante delicada e sem garantia de preenchimento total da fissura pela
resina.
A aplicação da resina pode ser feita através da sequência de procedimentos a seguir, desta
vez sendo exemplificada através de mangueiras de injeção. Este procedimento não é muito
utilizado atualmente, no qual são feitas injeções com bicos de adesão de superfície.
As diferenças e semelhanças entre o método de injeção através de bicos de adesão de
superfície e mangueiras plásticas podem ser observadas comparando os processos da
sequência a seguir com o item 5.6.1.5.
i. executar furos (φ = 12,5mm) para instalação dos suspiros (mangueiras φ = 8 mm) e
das mangueiras de injeção (φ = 10 mm), e verificar a intercomunicação entre eles;
ii. limpar toda a extensão da fissura e os furos, através de ar comprimido, escovação e, se
indispensável, através de jato d’água;
iii. com o substrato completamente seco, instalar mangueiras plásticas transparentes e
obturar completamente a fissura;
iv. aplicar a resina por uma das mangueiras de injeção, enquanto as outras ficam
obstruídas;
99

v. quando a resina começar a sair por um dos suspiros, parar a injeção, obstruí-lo, assim
como a mangueira por onde se executava a injeção e começar a injetar pela mangueira
seguinte;
vi. continuar a sequência até que a resina flua pelo último suspiro, que deve ser instalado
na extremidade final da fissura;
vii. após 24 horas, retirar as mangueiras plásticas por corte e broqueamento, obturar os
orifícios com o adesivo epóxi e dar acabamento por lixamento.

Figura 79 - Injeção pela face inferior.

Fonte: Piancastelli (1997)

5.6.6 Fissuras de grande abertura (acima de 1 mm)

Fissuras de grande abertura são geralmente tratadas aplicando-se o material de reparo por
gravidade, desde que a fissura atinja a face superior do elemento estrutural, conforme mostra
a Figura 80. Quando a fissura afeta apenas faces laterais ou inferiores do elemento, o
tratamento é feito por injeção, segundo procedimentos.

Figura 80 - Fissura atingindo a face superior do elemento.

.
Fonte: Piancastelli (1997)
100

A escolha do material de reparo é feita com base na abertura mínima da fissura e de sua
posição em relação à estrutura.
São, normalmente, utilizados:
• resina de base epoxídica de elevada fluidez e resistência, pura ou misturada com areia
sintética de grande finura. A mistura garante redução de custos e previne problemas de
expansão e retração térmicas, sendo que a relação areia/resina é, também, definida em função
da abertura da fissura;
• resinas epoxídica de média fluidez;
• argamassas, aditivadas com agentes compensadores de retração;
• argamassas “grout” de base mineral ou epoxídica.

5.6.7 Obras

5.6.7.1 Aplicação de resina epóxi – Rodovia Castelo Branco

Figura 81 - Vista da estrutura, Rodovia Castelo Branco.

Fonte: Granto (2009)


101

Figura 82 - Disposição dos bicos de injeção instalados na fissura, Rodovia Castelo


Branco.

Fonte: Granto (2009)

Figura 83 - Aplicação da resina epóxi e elemento reparado, Rodovia Castelo Branco.

Fonte: Granto (2009)

5.7 Microcimento

Os microcimentos são usados para o tratamento de problemas estruturais em fissuras secas


ou fissuras úmidas. Na fase úmida, são compostos por grãos de cimento com módulo de
finura e distribuição gralunométrica otimizados, além de componentes dispersantes insolúveis
em água. (ALMEIDA, 2003)
102

As principais vantagens destes produtos são a insensibilidade ao nível de umidade


existente na estrutura do concreto; a manutenção da baixa viscosidade, além de serem
fisiologicamente tão seguros quanto o concreto e econômicos para aplicação em larga escala.
Os microcimentos podem ser injetados em fissuras com uma abertura maior que 0,2 mm.
(MC Bauchemie, 2014)
As resistências que podem ser alcançadas são comparáveis as dos concretos usados na
construção de edificações e outras obras da engenharia civil. (ALMEIDA, 2003)
O microcimento deve ser injetado sob pressão. Para garantir o completo preenchimento,
deve-se assegurar um fluxo contínuo de produto até o bico através da utilização de bomba de
injeção.

5.7.1 Aplicações

5.7.1.1 Obras

5.7.1.1.1 Recuperação estrutural da base de um pavimento rígido

Figura 84 - Aplicação de Microcimento.

Fonte: Granto (2009)


103

Figura 85 - Vista da fissura preenchida.

.
Fonte: Granto (2009)

5.7.1.1.2 Recuperação com microcimento efetuada na Base Aérea de Anápolis

Figura 86 - Base aérea de Anápolis.

Fonte: Granto (2009)


Figura 87 - Perfuração para instalação dos bicos.

Fonte: Granto (2009)

Figura 85 – Injeção de Microcimento em andamento.


104

Fonte: Granto (2009)

Figura 86 – Vista geral após injeção.

Fonte: Granto (2009)

5.8 Sistemas de reparos por cristalização capilar do concreto

Esse tipo de reparo é realizado utilizando-se produtos para selamento de fissuras e


impermeabilização em elementos de concreto por cristalização integral. Quando aplicado
como uma pintura sobre superfícies de concreto, os componentes químicos ativos reagem com
os compostos da pasta de cimento e com a umidade presente nos capilares do concreto para
formar uma estrutura cristalina insolúvel. Esses cristais preenchem os poros e fissuras de
retração do concreto para prevenir qualquer ingresso de água, mesmo sob pressão.
Esses compostos permitem a passagem de vapor d’água através da estrutura, ou seja, o
concreto será capaz de respirar. Além de promover a impermeabilização da estrutura, pode ser
uma proteção ao concreto contra a água do mar, efluentes domésticos e industriais, águas
agressivas do solo e muitas outras soluções químicas agressivas. Se novas fissuras aprecerem
durante a vida útil da estrutura, os cristais se formam nessas fissuras, também impedido novos
105

caminhos para a passagem da água. Quando não há água dentro da fissura, os cristai
permanecem dormentes, mas, assim que ela aparece, os cristais voltam a crescer protegendo o
concreto. (OURIVES, 2009)
106

6 COMENTÁRIOS E CONSIDERAÇÕES

O diagnóstico correto sobre as causas das patologias nas estruturas de concreto são
fundamentais para que se possa obter êxito na terapia.
A imprecisão na análise das causas das fissuras pode levar a um reparo inadequado,
mascarando o real problema e, portanto, dificultando e tornando mais cara a solução final.
Através desta revisão bibliográfica podemos constatar a importância das Normas em todas
as etapas de vida de uma estrutura, qualquer desvio nocivo durante o projeto, a construção e o
uso de uma estrutura, pode gerar grandes prejuízos.
No decorrer das pesquisas foi constatada certa deficiência em material de pesquisa
acadêmica como teses e dissertações mais atuais, sendo mais notória uma diferença nas
técnicas de aplicação de produtos, proporcionadas por componentes importados mais
modernos, constatada durante algumas entrevistas com profissionais do setor.
Seria de grande importância o desenvolvimento de uma norma brasileira com o enfoque
da Norma EN 1504, de modo que se possam padronizar procedimentos e boas práticas em
trabalhos de recuperação e reforço em estruturas.
107

REFERÊNCIAS

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grandes barragens, XXV. 2003, Salvador. Anais do XXIII Seminário Nacional de Grandes
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224R-01. USA, 2001. 46p.

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and Commentary, ACI, 318M-11. USA, 2011. 509p.

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Concrete. ACI 503.5R-92, USA, 2003. 16p.

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endurecido — Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão — Método de
ensaio. Brasil, 10p, 2012.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 8802 - Concreto


endurecido — Determinação da velocidade de propagação de onda ultrassônica. Brasil, 8p,
2013.
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intervenientes na reparação do concreto. Portugal. Disponível em <
http://www.basf.pt/ecp3/Portugal/pt/function/conversions:/publish/content/Products_Industries
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BOSCH 2013, disponível em: < http://www.bosch-professional.com/pt/pt/detetor-d-tect-150-


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