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DIREITO DIGITAL

Persecução Penal e Novas Tecnologias


– Parte II

Livro Eletrônico
Direito Digital
Persecução Penal e Novas Tecnologias – Parte II
Marcelo Ribeiro

Sumário
Apresentação......................................................................................................................................................................3
Persecução Penal e Novas Tecnologias - Parte II. ........................................................................................5
Revenge Porn......................................................................................................................................................................5
Crimes Previstos na Lei n. 8069/1990...............................................................................................................14
Infiltração Virtual..........................................................................................................................................................27
Convenção de Budapeste..........................................................................................................................................39
Criptoativos.......................................................................................................................................................................46
Resumo................................................................................................................................................................................60
Referências.........................................................................................................................................................................61

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Persecução Penal e Novas Tecnologias – Parte II
Marcelo Ribeiro

Apresentação
Caríssimo(a) aluno(a)!
Espero que se encontre bem, que esteja mantendo seu ritmo de estudos e que esteja en-
frentando bem os desafios da pandemia, entre eles, a digitalização do mundo, algo que será
muito importante na nossa matéria!
Essa aula é a segunda parte sobre o tema, mas se você começou a interagir a partir de
agora, tomo a liberdade de me apresentar: sou Marcelo Ribeiro de Oliveira, procurador da
República desde 2006, pós-doutor em Direito pela Universidade de Salamanca, doutor em
Direito pela Universidade de Lisboa/Portugal, professor em algumas faculdades no Brasil,
na Escola Superior do Ministério Público da União e tenho a satisfação de integrar o Gran
Cursos Online e fazer esse material que eu acredito que será relevante para o seu sucesso
nos concursos que virão.
Ainda falando um pouquinho da aula anterior, quando puder, dá uma olhadinha nela. Ali
trabalhamos alguns conceitos de direito digital de enorme importância e quem vão auxiliar
no nosso desenvolvimento aqui. Também tratamos de questões sobre competência, sempre
tormentosas e falamos, por fim, de crimes em espécie, do furto digital, da fraude eletrônica,
da invasão de dispositivos de informática, bem como dos crimes de stalking e de causar dano
emocional à mulher.
Essa de agora traz questões tão interessantes e igualmente atuais do que a primeira, po-
dendo ser destacada a ratificação no direito interno da Convenção de Budapeste, um verdadeiro
marco na repressão aos crimes cibernéticos. A probabilidade de que o tema seja explorado
em concursos públicos, notadamente, da magistratura é muito grande.
Essa impressão é ampliada quando revisitamos a Resolução n. 75/2009 do Conselho
Nacional de Justiça, aprovada por unanimidade e que inclui entre as disciplinas obrigatórias
o Direito Digital, assim especificado:

A) DIREITO DIGITAL
1 – 4ª Revolução industrial. Transformação Digital no Poder Judiciário. Tecnologia no contexto jurí-
dico. Automação do processo. Inteligência Artificial e Direito. Audiências virtuais. Cortes remotas.
Ciência de dados e Jurimetria. Resoluções do CNJ sobre inovações tecnológicas no Judiciário.
2 – Persecução Penal e novas tecnologias. Crimes virtuais e cibersegurança. Deepweb e Darkweb.
Provas digitais. Criptomoedas e Lavagem de dinheiro.
3 – Noções gerais de contratos Inteligentes, Blockchain e Algoritmos.
4 – LGPD e proteção de dados pessoais.

Esses temas serão explorados em nossas aulas, com enfoque no direito penal. A par-
tir de agora!

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Além disso, vários desses temas já estão caindo com frequência nos mais diversos con-
cursos públicos. É importante estar à frente da concorrência e esse é o meu propósito. Te
ajudar a chegar à tão sonhada aprovação.
Reforço a minha disposição e tenho certeza de que posso falar em nome de todo a equipe
do GRAN de que vamos dar o máximo de dicas, teorias, exercícios, respondendo questões
de provas anteriores e criando questões inéditas para que você se antecipe à Banca exami-
nadora. Afinal, no direito (e, em particular, no mundo virtual!) estar atualizado e um passo à
frente é fundamental.
As referências bibliográficas estarão presentes ao final do material e têm a finalidade de
permitir o aprofundamento nos temas, principalmente para as segundas fases. Temos coi-
sas em português e eu separei tudo aquilo que vale a pena, mas não dá para nos enganar:
nessa matéria inovadora, há muita coisa em inglês, o que não é essencial, mas ajuda bem a
encantar a banca!
Sim, material terá transcrição de letra de lei! Para mim, é impossível vencer a fase objetiva
sem um razoável conhecimento dos textos legais e da jurisprudência dominante. O objetivo,
contudo, não é reproduzir tudo e te bombar de dados que você consegue sozinho!
O que vamos fazer é pegar as disposições, que já serão selecionadas, e destacar o que
mais de importante existem nelas, as cascas de banana e as excentricidades que podem ser
usadas pelas bancas.
Além da bibliografia, no fim do material, ficarão as ementas, ou os trechos relevantes dos
julgados destacados no estudo, com referência cruzada ao tema a que se referem.
Tenha você, candidato(a), toda a certeza de que o material foi preparado com muito cari-
nho e foco para o seu sucesso.
Espero que o aprecie, o utilize e tire suas dúvidas no Fórum do aluno e mesmo nos dê um
feedback do que mais pode ser inserido ou ainda do que pode ser aprimorado!
Um abraço,
Marcelo Ribeiro de Oliveira.
@professor.marceloribeiro

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PERSECUÇÃO PENAL E NOVAS TECNOLOGIAS - PARTE


II

Revenge Porn
Efetivamente, o crime em questão é até mais amplo, como vamos trabalhar e corresponde
à divulgação de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia, sendo que
o chamado revenge porn é uma das particularidades, que também abrange a utilização dos
meios de informática para a consumação do crime.
Infelizmente são muito comuns as seguintes notícias:

O tipo em exame é o seguinte:


Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou
de pornografia (Incluído pela Lei n. 13.718, de 2018)

Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou
divulgar, por qualquer meio – inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informá-
tica ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro

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ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento
da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: (Incluído pela Lei n. 13.718, de 2018)
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave. (Incluído
pela Lei n. 13.718, de 2018)
Aumento de pena (Incluído pela Lei n. 13.718, de 2018)
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente
que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou
humilhação. (Incluído pela Lei n. 13.718, de 2018)
Exclusão de ilicitude (Incluído pela Lei n. 13.718, de 2018)
§ 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no caput deste artigo em pu-
blicação de natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que
impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18
(dezoito) anos. (Incluído pela Lei n. 13.718, de 2018)

O revenge porn, especificamente, encontra-se no §1º, do art. 218-C, do Código Penal,


cabendo lembrar que, de acordo com o art. 225, do mesmo Código, a sua persecução se dá
mediante ação penal pública incondicionada.
Um ponto muito debatido diz respeito ao consentimento e que se relaciona ao momento
em que ele é dado e qual a sua finalidade. Isso porque existe a prática do sexting em muitos
relacionamentos contemporâneos, que envolvem a troca de fotos íntimas, baseadas no sigilo
e apenas para destinatário.
A doutrina não deixou de tratar do tema:

O terceiro elemento é o consentimento. É vital distinguir e registrar o momento do consentimento


para disseminar a mídia. Além disso, o consentimento é específico em relação à audiência e ao
meio. Muitos dos casos que primeiro chamaram a atenção de acadêmicos e legisladores para o
revenge porn envolviam o consentimento para gravar, mas não para compartilhar. Isso é normalmente
determinado com base na cronologia dos casos. A vítima e a pessoa mais tarde responsável pela
disseminação eram um casal em uma atmosfera de confiança e intimidade, o que levou a vítima
a sentir-se confortável o suficiente para autorizar a gravação ou para registrar ela mesma a foto
e compartilhá-la com o companheiro. Nesse primeiro momento, a autorização existe para a pro-
dução e acesso à mídia, ao passo que, em um segundo momento, o casal separou-se e nenhuma
permissão foi dada, implícita ou explicitamente, para a disseminação. A legalidade formal da ação
da pessoa que gravou e depois postou a mídia na Internet sem a aquiescência da ex-companheira
fez com que o revenge porn se tornasse um fenômeno muito preocupante a exigir solução urgente.
Em muitos países, essa prática não constituía um crime e, da perspectiva do direito civil, a pessoa
que havia feito a gravação tinha direito de propriedade intelectual sobre o material. Essa tendência
foi, desde então, revertida, e dispositivos legais barrando a publicação sem consentimento foram
criados, inclusive no Brasil, conforme já apontado anteriormente, em paralelo ao desenvolvimento
de nova jurisprudência, que ajudou a construir o conceito de revenge porn. Naturalmente, gravações
realizadas sem consentimento já eram, por princípio, de disseminação ilegal e geravam menos
controvérsia. Um ponto mais complexo é o tipo de autorização para publicação e compartilhamento
fornecido pelas pessoas envolvidas. O consentimento, como a privacidade, tem diversos níveis.

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Uma pessoa pode permitir que seu cônjuge tire uma foto sua com roupas íntimas fazendo uma
pose engraçada, por exemplo, e além disso consentir que a foto seja compartilhada em um grupo
familiar fechado no WhatsApp, Facebook ou em uma lista de e-mails. Segundo uma interpretação
mais tradicional da separação entre as esferas pública e privada, essa segunda autorização poderia
ser caracterizada como um ato de disponibilidade total do interesse de privacidade por parte da
pessoa fotografada, já que ela permitiu que a foto fosse “tornada pública”. Um entendimento mais
matizado das dinâmicas de relações sociais on-line mostra que raramente existem escolhas sobre
privacidade feitas pelos indivíduos em termos binários de sim ou não. Na prática, as pessoas tomam
decisões cuidadosamente calibradas e contextualizadas sobre como e quando gostariam de ser
retratadas. Aqui o conceito da autodeterminação informativa mostra-se especialmente útil, pois
garante o protagonismo individual no delineamento (ainda que não na execução) dos interesses
de privacidade. Isso significa, por exemplo, que a própria pessoa pode ter um interesse legítimo
em não ficar sabendo de informações delicadas sobre si mesma10. A regulação do revenge porn
e sua aplicação judicial devem refletir essa complexidade e nunca presumir que o consentimento
para o compartilhamento com uma determinada audiência em um determinado momento significa
a autorização para disseminação indiscriminada.

Na jurisprudência, já encontramos algumas problematizações:

JURISPRUDÊNCIA
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. INQUÉRITO POLICIAL. NULIDADES. VIOLÊN-
CIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. SUPOSTOS CRIMES DE AÇÃO PENAL
PRIVADA E PÚBLICA. MEDIDAS PROTETIVAS DEFERIDAS. REQUERIMENTO EXPRESSO
PELA OFENDIDA. PALAVRA DA VÍTIMA. FORÇA PROBATÓRIA. ESPECIAL RELEVO. DEMAIS
CAUTELARES. FLAGRANTE ILEGALIDADE NÃO DEMONSTRADA. REVOLVIMENTO FÁTI-
CO-PROBATÓRIO INVIÁVEL. RECURSO DESPROVIDO.
I – O suposto crime do art. 218-C do Código Penal se procede por meio de ação penal
pública incondicionada (art. 225 do Código Penal). Não obstante, “a jurisprudência desta
Corte Superior de Justiça consolidou-se no sentido de que eventuais máculas na fase
extrajudicial não tem o condão de contaminar a ação penal, dada a natureza meramente
informativa do inquérito policial’ (AgRg no AREsp 898.264/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, julgado em 07/06/2018, DJe 15/06/2018)” (AgRg no REsp n. 1.730.708/
RO, Quinta Turma, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe de 10/10/2018).
II – “No caso, o Juízo de origem fundamentou adequada e suficientemente a necessi-
dade de imposição das medidas protetivas impostas em desfavor do recorrente, o que
afasta o apontado constrangimento ilegal” (RHC n. 92.825/MT, Quinta Turma, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de 29/08/2018).
III – “A análise da suposta desnecessidade das medidas protetivas demandaria reexame
aprofundado do conjunto probatório, inviável na via estreita do habeas corpus. Prece-
dentes” (RHC n. 92.825/MT, Quinta Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe
de 29/08/2018).

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IV – Em crimes cometidos na clandestinidade, sem a presença de qualquer testemu-


nha, a palavra da vítima assume especial relevância como meio de prova, nos termos
do entendimento desta eg. Corte.
Precedentes.
V – Ainda, de se destacar que, não demonstrada, de plano, qualquer flagrante ilegali-
dade, o acolhimento das demais teses defensivas demandaria necessariamente amplo
reexame da matéria fática e probatória, procedimento, a toda evidência, incompatível
com a via do habeas corpus e do seu recurso ordinário. Precedentes.
Recurso ordinário desprovido.
(RHC 119.097/MG, Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado em 11/02/2020, DJe 19/02/2020)
PENAL E PROCESSUAL PENAL. ART. 218-C, DO CP. TRANSMISSÃO DE IMAGEM COM
CENA DE NUDEZ E PORNOGRAFIA SEM PERMISSÃO DA VÍTIMA, COM QUEM O AUTOR
HAVIA MANTIDO RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPRO-
VADAS. SENTENÇA MANTIDA. 1.
Comete o delito previsto no art. 218-C, do CP, aquele que transmite registro audiovisual
contendo cena de nudez ou pornografia sem a permissão da vítima, com quem havia
mantido relação íntima de afeto. 2. No caso, a própria confissão do acusado, aliada às
provas oral e documental coligida aos autos, é suficiente para amparar a sentença conde-
natória. 3. Recurso conhecido e desprovido. (TJ-DF 00001040820198070017 – Segredo
de Justiça 0000104-08.2019.8.07.0017, Relator: JESUINO RISSATO, Data de Julgamento:
23/07/2020, 3ª Turma Criminal, Data de Publicação: Publicado no PJe: 04/08/2020. Pág.:
Sem Página Cadastrada.
Há quem institua como empecilho incontornável a aludida interpretação o fato de o tipo
do art. 215-A ter sido inserido no Capítulo I, pertinente aos “Crimes Contra a Liberdade
Sexual”, estando fora, pois, dos tipos pertinentes aos vulneráveis do Capítulo II.
Contudo, não deve prosperar, aqui, referido argumento, já que, bem observada a forma
como vem sendo remendado o nosso Código Penal, perceberemos que o legislador não
se aferra a essa medida de boa técnica.
Exemplo disso pode ser encontrado no art. 218-C do CP, incluído pelo Legislador no
Capítulo II (“Crimes Sexuais contra Vulneráveis”)
embora dizendo respeito a vítimas de qualquer idade, confira-se:
[...] Como se vê, tais crimes descritos no art. 218-C, inseridos pelo legislador no capítulo
dos crimes contra vulneráveis, são aplicáveis tanto quando a vítima é vulnerável como
quando a vítima não é vulnerável, de modo que, a interpretação segundo o critério “topo-
gráfico” quando se trata do art. 215-A do CP não se mostra adequada, já que aferrada,
como se disse, a critério ignorado por quem faz a lei.

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Desse modo, o que deve ser feito pelo juízo em face do advento da Lei 13.718/18? Ora,
uma vez que não há mais a contravenção do art. 61 da LCP (revogado o dispositivo pelo
art. 3º, II, da Lei 13.718/18), e não sendo hipótese de mero ato obsceno (este ainda des-
crito no art. 233 do CP mas para situações algo distintas), o enquadramento típico do
ato libidinoso com menor de 14 anos deve se dar, conforme a gravidade da conduta e
do resultado (desvalor da ação e desvalor do resultado), ora como importunação sexual
(art. 215-A), ora como estupro de vulnerável, aplicando-se retroativamente o mais recente
dispositivo inclusive quando com isso for favorecida a situação do réu (novatio legis in
mellius).
[...] Não fosse adotada a solução do venerando acórdão supra citado, haveria, conforme
bem frisado por BITENCOURT, encimado desprezo à proporcionalidade, podendo a mesma
conduta, se praticada contra pessoa de 14 anos ou mais, ser punida com 1 a 5 anos de
reclusão (uma vez enquadrada no art. 215- A); e se praticada contra pessoa menor de
14 anos, ser punida com 8 a 15 anos (se enquadrada no 217-A). Violando a proporção
havida entre os art. 213 e 217-A (pena mínima comparativamente 1/3 acima, e pena
máxima metade acima – quando se tratar de vítima menor de 14 anos), consagrar-se-ia
uma violenta desproporção de 1 para oito, quanto à pena mínima, e do triplo, quanto
à máxima. Ou seja, a mesma conduta (uma encostada lasciva ou uma apalpadela no
vagão do metrô, por exemplo), poderia ser punida com pena base de 1 ano de reclusão
(com direito em tese quando não se tratar de violência doméstica – a suspensão con-
dicional do processo) no caso de a vítima ter 14 anos, e, com no mínimo 8 anos (crime
hediondo sem direito a qualquer benefício) caso a vítima tenha, por exemplo, 12 ou 13
anos. Decerto que essa não foi a intenção do legislador, visto que seria inconstitucional.
De modo que o que deve ser feito em casos que tais, é aplicar, à falta do espelhamento
(algo como um art. 217-B lege ferenda), a regra do art. 215-A (lege lata) com a agravante
do art. 61, II, “h” (contra criança), “f” (com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de
relações domésticas, de coabitação...) ou com a causa de aumento de pena do art. 226, II,
(contra descendente), conforme o caso. E afastar a incidência do art. 89 da Lei 9.099/95
(suspensão condicional do processo) quando se tratar de situação de violência domés-
tica ocorrida já na vigência da lei 11.340/06, cujo art. 41, declarado constitucional pelo
STF na ADC n. 19, de 9-2-2012, e objeto da súmula 536 do STJ, assim determina: Aos
crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independente-
mente da pena prevista, não se aplica a Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995. Como
se vê, respeitado obviamente entendimento diverso, a interpretação do direito merece
aqui ser menos jejuna de exercício.
REsp 1944304, Relator: Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, DJ 04/08/2021.
1. Não se verifica a violação do art. 59 do CP se a exasperação da pena-base, em 1 ano
de reclusão, está lastreada na elevada quantidade de arquivos com pornografia infan-

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to-juvenil armazenados pelo réu, dado não inerente ao crime do 4. Em situações excep-
cionais, tem-se que o crime de estupro pode se caracterizar, inclusive, em situações nas
quais não há contato físico entre o agente e a vítima. “A maior parte da doutrina penalista
pátria orienta no sentido de que a contemplação lasciva configura o ato libidinoso cons-
titutivo dos tipos dos arts. 213 e 217-A do Código Penal – CP, sendo irrelavante, para a
consumação dos delitos, que haja contato físico entre ofensor e ofendido” (RHC 70.976/
MS, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, Quinta Turma, julgado em 2/8/2016, DJe de
10/8/2016) 5. Na hipótese, não há se falar em inépcia da denúncia que, em conformidade
com os requisitos do art. 41 do CPP, descreve a conduta do réu que – valendo-se dos
novos meios de abuso sexual de menores que a tecnologia proporciona, notadamente
por meio das redes sociais -, de posse das fotografias íntimas da vítima, as quais teriam
sido “rackeadas” por ele, passou a intimidá-la para com ela ter relações sexuais, amea-
çando divulgar as suas fotografias de nudez caso a sua proposta não fosse atendida.
(HC 611.511/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado
em 06/10/2020, DJe 15/10/2020) – importante para o concurso de crimes
2. O decreto da prisão preventiva evidencia a gravidade em concreto da conduta e a peri-
culosidade do acusado, que agia com peculiar modus operandi, consistente em conhe-
cer as vítimas no aplicativo de relacionamento Tinder, alegar que era titular de um site
de modelos para encontros e, em seguida, chantageá-las sobre eventual publicação de
fotos de nudez ou de pornografia. Ficou, ainda, registrado o pavor de uma das abusadas
com a perspectiva de ter fotos e vídeos “vazados”, a qual afirmou haver cedido à “exi-
gência do custodiado de praticar sexo anal” porque seria a única maneira de evitar que
a ameaça se concretizasse. O risco de reiteração delitiva ficou explicitado pelo fato de
o recorrente utilizar-se de meio digital para angariar as vítimas.
(RHC 95.291/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
05/02/2019, DJe 29/04/2019 – importante para demonstração do cabimento de prisão
preventiva associado a outros deitos, conforme caso concreto.

Vamos, agora, às questões do tema:

001. (FCC/DPE BA/DEFENSOR PÚBLICO/2021) Sobre o crime de divulgação de cena de


estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia, é correto
afirmar que
a) o especial fim de vingança ou humilhação é causa de aumento de pena de um terço a dois terços.
b) se consuma com a invasão de dispositivo informático de uso alheio para obter foto ou vídeo
íntimo com nudez da vítima.

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c) sua tipicidade depende de divulgação de cena de sexo com violência; do contrário, configura
o crime de difamação.
d) quando a vítima for mulher, seu consentimento é incapaz de excluir a ilicitude da conduta,
dada a especial proteção de gênero prevista pela norma.
e) a prévia relação íntima de afeto, por constituir elementar do tipo, não pode incidir como mo-
tivação para aumento de pena.

O especial fim de agir é a causa de aumento do § 1º, do art. 218-C, do Código Penal, que men-
cionamos. O item b está errado e faz alusão à prática do delito do art. 154-A, do Código Penal
(confira na primeira aula!). Não há necessidade de violência na cena em questão para que se
perfaça o tipo, o que torna errada a afirmação c. Apesar de intimamente ligado a questão de
gênero, não se trata, necessariamente de crime de gênero. Além disso, o consentimento da ví-
tima (incluindo-se a extensão de meio e de destinatário, como destacamos no estudo trazido)
é fundamental para a caracterização do delito. A prévia relação íntima não é elementar do tipo,
tanto que terceiros que repassam as imagens podem responder. Tal percepção faz com que a
letra e também esteja incorreta.
Letra a.

002. (IDECAN/PEFOCE/MÉDICO PERITO LEGISTA/2021) Em setembro de 2018, algumas


alterações na legislação surgiram com objetivo de garantir as punições para os crimes contra
a liberdade sexual. A esse respeito, assinale a afirmativa INCORRETA.
a) Importunação sexual: ato contra alguém e sem sua anuência de satisfazer sua lascívia ou
a de terceiro.
b) Exposição da intimidade sexual: produzir, fotografar, registrar, filmar por qualquer meio
conteúdo de cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo sem autorização dos
participantes.
c) Divulgação de intimidade sexual: oferecer, trocar, disponibilizar, vender, expor, divulgar por
qualquer meio registro audiovisual que contenha cena de pornografia ou estupro ou de estupro
de vulnerável ou que induza à apologia de sua prática.
d) Há aumento da pena se o crime de divulgação de imagem sexual for cometido por pessoa
que teve relação de intimidade com a vítima, o que configura o conhecido popularmente como
“pornografia de vingança”.
e) É necessário à vítima comprovação de estupro por meio de exame de corpo de delito, não
sendo a imagem suficiente para configuração do delito.

Resposta correta, ou seja, a afirmação errônea é a letra e, uma vez que:

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JURISPRUDÊNCIA
a configuração do crime de estupro prescinde da realização do exame de corpo de delito,
sendo suficiente a manifestação inequívoca e segura da vítima, quando em consonância
com os demais elementos probatórios delineados no bojo da ação penal. (HC 8.720-RJ,
6ª T., rel. Vicente Leal, 16.11.1999, v.u., DJ 29.11.1999, p. 126). Para o que nos interessa,
vale frisar o acerto da letra D, que cuida justamente da situação de “revenge porn”.

Apenas como nota, há quem tenha se insurgido contra a letra b, dizendo que a exposição somente
seria indevida se a cena fosse produzida em ambiente privado ou se a(s) vítima(s) estivessem
em ambiente privado. Sobretudo em prova objetiva, a problematização não parece interessante
até porque a assertiva é a literalidade do art. 216-B, do Código Penal.
Letra e.

003. (MPSP/MPE SP/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO/2019) Crime de divulgação


de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia,
previsto no artigo 218-C do Código Penal, pode ser classificado como
a) comum, material, comissivo, unissubjetivo, culposo, principal.
b) comum, formal, comissivo, unissubjetivo, doloso, subsidiário.
c) especial, formal, comissivo, plurissubjetivo, admite as formas doloso e culposo, subsidiário.
d) especial, material, comissivo ou omissivo, unissubjetivo, doloso, principal.
e) comum, material, comissivo, plurissubjetivo, admite as formas doloso e culposo, subsidiário.

Não se exige qualquer característica especial do agente (crime comum). O resultado constitui
mero exaurimento do crime, consumando-se com a prática do verbo (crime formal). Ele é prati-
cado de forma comissiva, unissubjetiva – pois não precisa de concurso – e dolosa. E, finalmente,
o crime é subsidiário, pois só incidirá se não constituir fato mais grave. Aliás, ao se observar a
inexistência da figura culposa, você já poderia eliminar 3 as 5 alternativas!
Letra c.

004. (VUNESP/TJ AC/JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO/2019) No que concerne aos crimes


contra a dignidade sexual, é correto afirmar que
a) a prática de relacionamento amoroso consensual por indivíduo com 18 anos com infante de
13 anos há mais de dois anos anteriores é fato atípico.
b) a contravenção penal de importunação ofensiva ao pudor foi tacitamente revogada pela Lei
n. 13.718, de 24.09.2018.

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c) em relação à titularidade da ação penal, nos crimes de estupro, por violência real ou grave
ameaça, importunação sexual, assédio sexual e divulgação de cena de estupro, procede-se
mediante ação penal pública condicionada à representação.
d) é fato típico distribuir ou expor publicamente qualquer objeto obsceno.

Letra d, conforme o art. 234, inciso I, do Código Penal:

Art. 234. Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distri-
buição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
I – vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste artigo.

Para nosso tema, a letra c era a mais importante e está errada, uma vez que a ação é pública
e incondicionada.
Aproveitando, anoto que a a está errada porque contrária à Súmula n. 593 do STJ:

JURISPRUDÊNCIA
O crime de estupro de vulnerável configura-se com a conjunção carnal ou prática de ato
libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante o eventual consentimento da vítima
para a prática do ato, experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amo-
roso com o agente.

Com relação à b, a revogação da contravenção penal em questão foi expressa, merecendo ser
enfatizado ainda que como boa técnica legislativa, as revogações, somente por falha, se pro-
duzem de modo tácito!
Letra d.

005. (CESPE/CEBRASPE/TJ PR/JUIZ SUBSTITUTO/2019) Julgue os itens a seguir, relativos


a delitos de natureza sexual.
I – Praticar, em local público, ato libidinoso contra alguém e sem o seu consentimento caracte-
riza contravenção penal tipificada como importunação ofensiva ao pudor.
II – Praticar conjunção carnal com o parceiro na presença de menor de catorze anos de idade,
a fim de satisfazer a própria lascívia, configura, a princípio, o tipo penal específico denominado
satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente.
III – Praticar ato obsceno em praça pública, ainda que sem a intenção de ultrajar alguém espe-
cífico, configura crime de importunação sexual, que, por equiparação, é considerado hediondo.
IV – Divulgar na Internet fotografias de conteúdo pornográfico envolvendo adolescente, como
meio de vingança pelo término de relacionamento, configura crime específico previsto no ECA,
o que afasta a incidência do novo tipo penal previsto no art. 218-C do Código Penal.
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Estão certos apenas os itens


a) I e III.
b) I e IV.
c) II e III.
d) II e IV.

Para começar, vamos ao nosso tema principal e é muito oportuna a anotação que está na frase
IV, de que a divulgação de conteúdo pornográfico envolvendo adolescente não é o tipo estudado
na presente seção, mas crime previsto na Lei n. 8069/1990, o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente, nosso próximo item. Reconhecido o acerto da frase IV, nem precisamos examinar III,
certo? Caberia analisar apenas a I e II. A I é errada porque não se trata de contravenção, mas
do crime de importunação sexual:

Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer
a própria lascívia ou a de terceiro.

A frase II, que já presumimos certa, pela técnica de resolução da questão (!), de fato, está cer-
ta e diz respeito ao Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos,
ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia
própria ou de outrem. Podíamos pular a III, mas fica o registro: o crime de ato obsceno “Art.
233 – Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público”, não está no rol
de crimes hediondos.
Letra d.

Crimes Previstos na Lei n. 8069/1990


Com alguma semelhança com os crimes anteriormente examinados, por vezes até con-
fundidos em questões de concursos, estão crimes previstos no Estatuto da Criança e do
Adolescente.
Antes de passar à exposição dos textos legais, destacam-se, desde já, boa parte das
questões envolve temas como a competência, se federal ou se estadual e, ainda, a existência
ou não de concurso de crimes, existindo jurisprudência relevante para dar suporte ao tema.
Passemos às disposições:

Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer
meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro
que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído
pela Lei n. 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)

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§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de
que trata o caput deste artigo; (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias, cenas ou
imagens de que trata o caput deste artigo. (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)
§ 2º As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1 o deste artigo são puníveis quando o responsável
legal pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo
ilícito de que trata o caput deste artigo. (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
(Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)
§ 1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena quantidade o material a que
se refere o caput deste artigo. (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008
§ 2º Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de comunicar às autoridades
competentes a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei,
quando a comunicação for feita por: (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)
I – agente público no exercício de suas funções; (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)
II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas finalidades institucionais,
o recebimento, o processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste pará-
grafo; (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)
III – representante legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou serviço prestado
por meio de rede de computadores, até o recebimento do material relativo à notícia feita à autori-
dade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário. (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou porno-
gráfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra
forma de representação visual: (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui,
publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na forma
do caput deste artigo. (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)

Como tipos menos específicos no que diz respeito a crimes digitais e que podem ser
invocados como “soldados de reserva”, destacam-se:

Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo ex-
plícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei n. 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei n. 11.829, de 2008)
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo in-
termedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou
ainda quem com esses contracena. (Redação dada pela Lei n. 11.829, de 2008)
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime: (Redação dada pela Lei n.
11.829, de 2008)

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I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la; (Redação dada pela Lei n.
11.829, de 2008)
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; ou (Redação dada
pela Lei n. 11.829, de 2008)
III – prevalecendo-se de relações de parentesco consanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por
adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha
autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. (Incluído pela Lei n. 11.829, de 2008)
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo
explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei n. 11.829,
de 2008)
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei n. 11.829, de 2008)

Como antecipado, a jurisprudência é rica no tema:

JURISPRUDÊNCIA
PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS.
ART. 241-B DO ECA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. INÉPCIA. NÃO CONSTATAÇÃO.
RECURSO IMPROVIDO.
1. Não se reconhece a inépcia quando a denúncia preenche aos requisitos do art. 41
do CPP, com a descrição dos fatos e a classificação do crime, (arts. 215 e 217-A/CP)
de forma suficiente para dar início à persecução penal na via judicial, bem como para o
pleno exercício da defesa.
2. Afiança a denúncia que o paciente, na qualidade de líder espiritual da vítima, iniciou
com ela processo de aproximação até a formação de relação com confiança e autori-
dade, situação apta a lhe dar a condição de pedir à menor que, por meio do aplicativo
WhatsApp, enviasse-lhe imagens suas com exposição de órgão genital (nudes), ao quer
o paciente, em contrapartida, enviava fotos e vídeos de teor pornográfico.
3. Os fatos em questão teriam ocorrido na cidade de Belo Horizonte/MG, entre os anos
de 2017 e 2019, por diversas vezes e em período no qual a vítima contava com 13 a 15
anos. Destaca-se, também, que a posse de fotos íntimas da menor (art. 241-B/ECA)
evoluiu para contatos físicos, como beijos, e, posteriormente, relacionamento sexual.
4. Agravo regimental improvido.
(AgRg no RHC 143.396/MG, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CON-
VOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 17/08/2021, DJe 20/08/2021
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EM HABEAS CORPUS. ALEGAÇÃO DA DEFESA DE
AUSÊNCIA DE ELEMENTOS CONCRETOS PARA A DENÚNCIA. JUSTA CAUSA PARA A
AÇÃO PENAL. DENÚNCIA QUE APRESENTA MATERIALIDADE E INDÍCIOS DE AUTORIA.
DIVULGAÇÃO DE IMAGEM OU FOTOGRAFIA, VÍDEO OU OUTRO REGISTRO QUE CONTE-
NHA CENA PORNOGRÁFICA. ADOLESCENTE. PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL.

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1. Na denúncia, constam fatos concretos de que, após tomar conhecimento da divul-


gação de fotos íntimas a terceiros, a vítima e sua genitora conversaram com o pai do
acusado, que, após isso, teria apagado as fotos do seu aparelho celular. Posteriormente,
o acusado foi até a loja do atual namorado da vítima e mostrou fotos íntimas.
Assim, não há inépcia, pois os fatos foram colocados de forma clara sobre os indícios
de autoria delitiva e a materialidade.
2. Agravo regimental improvido.
(AgRg no RHC 107.778/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, jul-
gado em 11/04/2019, DJe 26/04/2019)
1. Não se verifica a violação do art. 59 do CP se a exasperação da pena-base, em 1 ano
de reclusão, está lastreada na elevada quantidade de arquivos com pornografia infanto-
-juvenil armazenados pelo réu, dado não inerente ao crime do art. 241-B do ECA. O acrés-
cimo foi proporcional às consequências negativas do delito e não cumpre a esta Corte,
no exame do recurso especial, corrigir opções judiciais razoáveis na dosimetria da pena.
2. É incabível a inovação recursal em embargos de declaração. A tese de que pornogra-
fia de mangá ou hentai não é criminalizada no ordenamento pátrio não foi prequestio-
nada na origem e não interfere na individualização da pena, pois remanesceriam mais
de 3.300 arquivos com cenas reais de sexo ou nudez envolvendo inúmeras crianças ou
adolescentes, a caracterizar intensa lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal.
(AgRg no AREsp 1792675/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
julgado em 10/08/2021, DJe 16/08/2021)
3. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que o crime pre-
visto no art. 241-B não configura fase normal nem meio de execução para a prática do
delito do art. 241-A, ambos do Estatuto da Criança e do Adolescente, tratando-se de tipos
penais autônomos. De fato, é possível que alguém compartilhe sem efetivar armazena-
mento, como pode realizar o armazenamento sem a transmissão. Ou seja, são efetiva-
mente verbos e condutas distintas, que podem ter aplicação autônoma. 4. Na espécie,
as instâncias ordinárias consignaram que o recorrente armazenou inúmeras imagens e
vídeos, mas compartilhou conteúdo diverso através do programa eMule, de modo que,
estando devidamente delineada a autonomia de cada conduta apta a configurar o con-
curso material de crimes, não há se falar em consunção.(…) 6. Na espécie, as instâncias
ordinárias asseveraram que os crimes de divulgação de imagens pornográficas infan-
tojuvenis foram praticados pelo agravante no período de 7/2/2012 a 9/3/2012 e no dia
17/5/2013, isto é, num lapso de 14 (quatorze) meses, havendo comprovação de que
o recorrente disponibilizou “milhares de imagens digitais e vídeos contendo cenas de
pornografia e sexo explícito envolvendo crianças e adolescentes” (e-STJ fl. 347), tendo,
inclusive, confessado que o fez de maneira reiterada nesse período (e-STJ fls. 351/352),
de modo que não se revela excessiva, in casu, a majoração de 1/3 (um terço) aplicada
pela continuidade delitiva genérica.

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(AgRg no REsp 1875645/PR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA


TURMA, julgado em 18/08/2020, DJe 25/08/2020)
PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPE-
CIAL. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. TRANSNACIONALIDADE NÃO VERIFI-
CADA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. PORNOGRAFIA INFANTIL NA INTERNET.
COMERCIALIZAÇÃO E ARMAZENAMENTO DE IMAGENS PORNOGRÁFICAS DE CRIANÇAS.
ARTS. 241 E 241-B, DA LEI 8.069/1990 (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE).
PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. INAPLICABILIDADE. DELITOS AUTÔNOMOS. AGRAVO REGI-
MENTAL NÃO PROVIDO.
1. A questão acerca da incompetência da Justiça Federal, em razão da ausência de
transnacionalidade do delito, não foi objeto de debate pela instância ordinária, o que
inviabiliza o conhecimento do recurso especial por ausência de prequestionamento.
Incide ao caso a Súmula n. 282/STF.
2. Há autonomia dos tipos penais trazidos nos arts. 241 e 241-B, ambos do Estatuto da
Criança e do Adolescente, uma vez que o crime no art. 241-B não configura fase normal
nem meio de execução para o crime do art. 241. De fato, é possível que alguém venda
sem efetivar armazenamento, como pode realizar o armazenamento sem a comerciali-
zação. Ou seja, são efetivamente verbos e condutas distintas, que podem ter aplicação
autônoma.
(AgRg no AREsp 1714855/RJ, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA
TURMA, julgado em 27/10/2020, DJe 12/11/2020)
AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME PREVISTO NO ART.
241-A DO ECA. MATERIAL APREENDIDO. PERÍCIA. OCORRÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE COM-
PARTILHAMENTO, AINDA QUE POTENCIAL, NA INTERNET. COMPETÊNCIA ESTADUAL.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Segundo a orientação jurisprudencial, a constatação da internacionalidade do delito
previsto no art. 241-A do ECA impõe que haja a publicação do material pornográfico
em ambiente virtual conectado à internet, independentemente da ocorrência efetiva de
acesso no estrangeiro.
2. No caso, a perícia constatou que não haveria indícios de que o material com as imagens
pornográficas havia sido disponibilizado na rede, isto é, de que haveria alguma evidên-
cia de ser acessível por outros terminais conectados à rede, ainda que potencialmente.
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no CC 167.915/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, jul-
gado em 27/05/2020, DJe 01/06/2020)
3. O crime do art. 240 do ECA se insere no contexto de proibição da produção e regis-
tro visual, por qualquer meio, de cenas de sexo explícito, no sentido da interpretação
autêntica do art. 241-F do ECA, envolvendo crianças e adolescentes, o que caracteriza

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violência sexual, nos termos do art. 4º da Lei n. 13.431/2017. Trata-se de crime comum,
de subjetividade passiva própria, consistente em tipo misto alternativo, de forma que a
prática de mais de um verbo típico no mesmo contexto implica a subsunção típica única.
4. No caso, o arcabouço fático estabelecido, segundo as instâncias ordinárias, indica
que o paciente D. F, mediante aparelho celular, registrou imagens e filmou cenas de sexo
explícito entre os corréus e as duas adolescentes, o que, segundo o Tribunal a quo, com
uma única conduta teria cometido dois crimes, incidindo o concurso formal de crimes.
Primeiramente, o fato de ter fotografado e filmado as cenas de sexo indica a execução
de dois verbos, com dupla conduta, todavia, representando subordinação típica única,
tendo em vista sua realização no mesmo contexto fático. Por conseguinte, da execução
de mais de um verbo típico representa único crime, dada a natureza de crime de ação
múltipla ou conduta variada do tipo em comento.
5. O concurso formal próprio ou perfeito (CP, art. 70, primeira parte), cuja regra para a
aplicação da pena é a da exasperação, foi criado com intuito de favorecer o réu nas
hipóteses de unicidade de conduta, com pluralidade de resultados, não derivados de
desígnios autônomos, afastando-se, pois, os rigores do concurso material (CP, art. 69).
No caso, as instâncias ordinárias entenderam que a conduta do réu realizou dois resul-
tados típicos, haja vista a existência de duas adolescentes filmadas e fotografadas em
sexo explícito. Verifica-se, entrementes, que inexistem dois resultados típicos, porquanto
o crime em questão é formal ou de consumação antecipada, consumando-se, pois, uni-
camente pela prática da conduta de filmar ou fotografar cenas de sexo explícito, da qual
participe criança ou adolescente. O efetivo abalo psíquico e moral por elas sofrido ou a
disponibilidade das filmagens ou fotos é mero exaurimento da crime, irrelevantes para
sua consumação, motivo pelo qual a quantidade de vítimas menores filmadas ou foto-
grafadas é elemento meramente circunstancial, apto a ser valorado na pena-base, sem,
contudo, indicar qualquer subsunção típica adicional. Por conseguinte, como as condu-
tas de filmar e fotografar foram executadas durante o mesmo contexto fático, relativo
ao ato sexual conjunto de dois corréus com as duas adolescentes, há duas condutas
de subsunção típica única, motivo pelo qual se conclui pela existência de crime único
(PExt no HC 438.080/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
27/08/2019, DJe 02/09/2019)

Essas teses são o cerne das questões sobre o tema. Vamos a elas?

006. (MPDFT/PROMOTOR DE JUSTIÇA ADJUNTO/MPDFT/2021) Assinale a alternativa


CORRETA, entre as seguintes assertivas relacionadas aos crimes relacionados à criança e
ao adolescente:

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a) A conduta de produzir e a de filmar cena de sexo explícito envolvendo adolescente resulta


em concurso material entre as condutas.
b) Há automática consunção quando ocorrem armazenamento e compartilhamento de material
pornográfico infantojuvenil.
c) A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração de ato infracional nem na
aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, enquanto não atingida a idade de 21 anos.
d) A prática de crimes em concurso com dois adolescentes resulta na condenação de apenas
um crime de corrupção de menores.
e) A perda do cargo, mandato ou função, em crimes previstos no Estatuto da Criança e do
Adolescente praticados por servidores públicos com abuso de autoridade poderá ser aplicada
ainda que o servidor seja primário.

A letra a é uma das poucas situações em que se verifica concurso formal, pois as consuma-
ções se dão em ação única. Os julgados acima deixam claro o erro de b, apontando não haver
consunção, mas independência entre as condutas de armazenar e compartilhar material por-
nográfico infantojuvenil. Não se trata de nosso tema específico, mas a corrupção de menor é
considerada para cada um dos menores corrompidos, descabendo falar em ação única e, por
fim, a letra e é contrária ao disposto no art. 227-A, do ECA:

Os efeitos da condenação prevista no inciso I do caput do art. 92 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de


dezembro de 1940 (Código Penal), para os crimes previstos nesta Lei, praticados por servidores
públicos com abuso de autoridade, são condicionados à ocorrência de reincidência. (Incluído pela
Lei n. 13.869. de 2019).

Letra c.

007. (PGR/PROCURADOR DA REPÚBLICA/PGR/2017) No tema de crimes cibernéticos,


assinale a alternativa incorreta:
a) a simples existência de imagens ou vídeos com conteúdo de cena de sexo explícito ou
pornográfico envolvendo criança ou adolescente disponibilizados na Internet para o acesso
a internautas não é suficiente para a caracterização do tipo penal do art. 241-A do EC, sendo
relevante o efetivo ingresso por usuários;
b) o crime de divulgar cena de sexo explícito ou pornográfica infanto-juvenil consuma-se no
endereço do responsável pelo site;
c) se fotografia, vídeo ou outra forma de registro de cena de sexo explícito ou pornográfica in-
fantojuvenil em sistema de informática ou telemático estiverem hospedados em servidor fora
do país, é o bastante para caracterizar a transnacionalidade exigida pelo art. 109, V da Consti-
tuição da República, de 1988;
d) na jurisprudência do STJ consolidou-se o entendimento de que a transferência fraudulenta
de recursos de contas bancárias por meio da Internet configura o crime de furto qualificado.

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Letra a, porque o crime de armazenamento não depende do ingresso de usuários. Letra b está
certa por retratar o local de disponibilidade, ou seja, onde se divulgou. Já a letra c traz de re-
levante o reflexo dos julgados anteriores e a mera disponibilidade de ser transnacional como
bastante para que se atribua tal característica ao crime, o que tem como reflexo torná-lo sujeito
à jurisdição federal. Da letra d, como falamos na nossa primeira aula dos crimes digitais, o furto
quando havia a transferência entre contas já era considerada qualificada, por se tratar de furto
mediante fraude. Agora, a questão é ainda mais explícita e não suscita polêmica, ao menos,
nesse ponto.
Letra a.

008. (DPE/DPE RJ/RESIDÊNCIA JURÍDICA/2021) Em relação aos crimes previstos no Es-


tatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/1990) e no Estatuto do Desarmamento (Lei
n. 10.826/2003), observe as proposições:
I – Não há previsão expressa no Estatuto do Desarmamento de causa de aumento para a hipó-
tese de porte compartilhado de arma de fogo de uso permitido.
II – Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, previsto na Lei n. 8.069/1990, publicar ou
divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, foto-
grafia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
criança ou adolescente.
III – Embora o Estatuto do Desarmamento traga previsão expressa de vedação à fabricação, a
venda, comercialização e importação de simulacros de armas de fogo que com estas se possam
confundir, o porte de simulacro não constitui conduta tipificada no Estatuto do Desarmamento.
Assinale a alternativa que aponta os itens que contêm SOMENTE afirmações verdadeiras:
a) I e II.
b) I e III.
c) I, II e III.
d) II e III.
e) Somente a I.

Para o que nos interessa aqui, a afirmação II é a de maior relevância, mas a sua resolução ainda
tem uma importância enorme também para a técnica de solução de questões que proponho
em casos como esse em que há alternativas que pedem o julgamento da veracidade de frases
feitas anteriormente. O meu ponto é sempre o de que se deve buscar uma frase conhecida e
ver o quanto a sua invalidação ou validação, se for o caso, impactam nas demais. Aqui, vamos

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excluir, “de saída”, três afirmações. As penas do ECA são altas e as condutas mencionadas,
conforme art. 241-A, sujeitam-se à reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. Logo, a frase é
falsa, o que nos faz cortar as letras, a, c e d. A I nem precisaria ser examinada porque é verda-
deira (e é, de fato, uma questão fácil do estatuto do desarmamento). Já a III é mais fácil ainda
porque, de fato, não há tipificação sobre simulacro no estatuto. Logo, a frase também é correta.
Letra b.

009. (CESPE/PC-ES/DELEGADO DE POLÍCIA/2011) Determinado cidadão, penalmente res-


ponsável, valendo-se de um adolescente de treze anos de idade, sexualmente corrompido,
produziu imagens eróticas em cenário previamente montado, divulgando-as por meio de
sistema de informática em sítio da Internet. O mantenedor do sítio, tão logo divulgadas as
imagens, foi notificado pelo juiz da infância e da juventude do conteúdo ilícito do material e,
de imediato, desabilitou o acesso às imagens.
Com referência à situação hipotética acima, julgue o item a seguir à luz do Estatuto da Criança
e do Adolescente.
Para a configuração da conduta do criador das imagens em relação ao tipo penal descrito como
produzir imagem pornográfica envolvendo adolescente, exige-se a prática de relação sexual
entre o agente e o menor, não se demandando qualquer correção moral do adolescente.

A prática de relação sexual entre o agente e o menor é distinta, autônoma, da produção de


imagens, que pode ser feita por terceiros.
Errado.

010. (CESPE/CEBRASPE/TRF 5/JUIZ SUBSTITUTO/2017) Um estrangeiro foi preso sob


a acusação de compartilhar arquivos contendo pornografia infantil na chamada deep Web
(Internet Profunda), cujo conteúdo não é de fácil acesso para a maioria dos internautas. Se-
gundo a polícia, o estrangeiro é acusado da prática reiterada do crime de pedofilia e estupro
de vulnerável.
As investigações concluíram que o material pornográfico foi produzido pelo agente no exterior
e divulgado — inicialmente, já que, posteriormente houve repasse do material por terceiros —
somente por uma troca de e-mail entre o acusado, que residia no Brasil, e um brasileiro também
residente no país. Constatou-se, ainda, que ele próprio praticava as cenas de sexo explícito com
as vítimas.
A respeito dessa situação hipotética, assinale a opção correta.

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a) Verificada a conexão entre o estupro de vulnerável e a produção e a divulgação do material


pornográfico, as penas deverão ser aplicadas considerando-se as regras do concurso material
de crimes.
b) O local da prática deve ser considerado o território nacional, em razão do princípio da
territorialidade.
c) Como o agente é estrangeiro e a produção do material ocorreu no exterior, ele não poderá
ser julgado por autoridades brasileiras pela produção do material.
d) Mesmo em relação à divulgação do material prevalece o caráter de internacionalidade do
crime, dada a utilização da Internet.
e) Deverá ser aplicado o princípio da consunção ou da absorção, uma vez que as condutas de
produzir e armazenar são atos preparatórios para a transmissão via Internet.

Trata-se de típica situação de concurso material de crimes art. 69 do CP – 1 agente comete – 2


ou mais crimes; os crimes são:Estupro de vulnerável artigo 217-A do CP,produção de material
pornográfico envolvendo criança e adolescente, responde na Lei n. 13.431/2017 que alterou a
Lei n. 8069/1990-,crimes cometidos com conexão entre eles, ou seja há um vínculo instrumental
ou probatório entre as infrações, o que denota não apenas que a existência de um crime de-
pende da existência prévia do outro como também que a prova de um dos crimes influenciará
na prova dos outros.

Lei n. 13.431/2017
Art. 4º Para os efeitos desta Lei, sem prejuízo da tipificação das condutas criminosas, são formas
de violência:
I – violência física, entendida como a ação infligida à criança ou ao adolescente que ofenda sua
integridade ou saúde corporal ou que lhe cause sofrimento físico;
II – violência psicológica:
a) qualquer conduta de discriminação, depreciação ou desrespeito em relação à criança ou ao
adolescente mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, agressão
verbal e xingamento, ridicularização, indiferença, exploração ou intimidação sistemática (bullying)
que possa comprometer seu desenvolvimento psíquico ou emocional;
b) o ato de alienação parental, assim entendido como a interferência na formação psicológica da
criança ou do adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou por quem
os tenha sob sua autoridade, guarda ou vigilância, que leve ao repúdio de genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculo com este;
c) qualquer conduta que exponha a criança ou o adolescente, direta ou indiretamente, a crime
violento contra membro de sua família ou de sua rede de apoio, independentemente do ambiente
em que cometido, particularmente quando isto a torna testemunha;
III – violência sexual, entendida como qualquer conduta que constranja a criança ou o adolescente
a praticar ou presenciar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do
corpo em foto ou vídeo por meio eletrônico ou não, que compreenda:

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a) abuso sexual, entendido como toda ação que se utiliza da criança ou do adolescente para fins
sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato libidinoso, realizado de modo presencial ou por meio
eletrônico, para estimulação sexual do agente ou de terceiro;
b) exploração sexual comercial, entendida como o uso da criança ou do adolescente em atividade
sexual em troca de remuneração ou qualquer outra forma de compensação, de forma independente
ou sob patrocínio, apoio ou incentivo de terceiro, seja de modo presencial ou por meio eletrônico;
c) tráfico de pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento
ou o acolhimento da criança ou do adolescente, dentro do território nacional ou para o estrangeiro,
com o fim de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de coação, rapto,
fraude, engano, abuso de autoridade, aproveitamento de situação de vulnerabilidade ou entrega ou
aceitação de pagamento, entre os casos previstos na legislação;
IV – violência institucional, entendida como a praticada por instituição pública ou conveniada,
inclusive quando gerar revitimização.
1º Para os efeitos desta Lei, a criança e o adolescente serão ouvidos sobre a situação de violência
por meio de escuta especializada e depoimento especial.
2º Os órgãos de saúde, assistência social, educação, segurança pública e justiça adotarão os
procedimentos necessários por ocasião da revelação espontânea da violência.
3º Na hipótese de revelação espontânea da violência, a criança e o adolescente serão chamados
a confirmar os fatos na forma especificada no § 1º deste artigo, salvo em caso de intervenções
de saúde.

A letra b está errada, porque o local do crime segue o art. 7º, Do Código Penal: Art. 7º – Ficam
sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: II – os crimes: (Redação dada pela
Lei n. 7.209, de 11.7.1984) a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir. Na
mesma linha, resolve-se c, dado que o Brasil se obrigou, nos termos do artigo 19 da Conven-
ção Internacional dos Direitos da Criança, promulgada pelo Decreto n. 99.710/1990, a adotar
medidas legislativas, dentre outras, a fim de “(...) proteger a criança contra todas as formas de
violência física ou mental, abuso ou tratamento negligente, maus tratos ou exploração, inclusive
abuso sexual, enquanto a criança estiver sob a custódia dos pais, do representante legal ou de
qualquer outra pessoa responsável por ela. Não obstante, a extraterritorialidade da lei penal
brasileira está condicionada, no caso apresentado, ao concurso das seguintes condições, nos
termos estabelecidos no § 2º, do artigo 7º, do Código Penal: “a) entrar o agente no território na-
cional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre
aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no
estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou,
por outro motivo, não estar extinta a punibilidade. Já a letra D, na linha das decisões acostadas
no começo desse item, é falsa, como mostra a jurisprudência de nossos tribunais, que entende,
para a caracterização da internacionalidade, que o ambiente virtual utilizado pelo agente para
divulgar o material pornográfico tem que ser de acesso livre e irrestrito (franqueado a todos) a
um número indefinível de pessoas dispersadas pelo mundo, sendo que na questão aponta-se
uma troca de e-mail. Cf. decisão proferida pelo STJ no Conflito de Competência 151581, cujo

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acórdão foi da relatoria do Ministro Joel Ilan Paciornik que reputou que “”(...) Não se constata o
caráter de internacionalidade, ainda que potencial, quando o panorama fático envolve apenas a
comunicação eletrônica havida entre particulares em canal de comunicação fechado, tal como
ocorre na troca de e-mails ou conversas privadas entre pessoas situadas no Brasil. Evidencia-
do que o conteúdo permaneceu enclausurado entre os participantes da conversa virtual, bem
como que os envolvidos se conectaram por meio de computadores instalados em território
nacional, não há que se cogitar na internacionalidade do resultado. (...)”. Por fim, a letra E é falsa
e pode ser resumida na observação de Fernando Capez, a respeito do princípio da consunção:
“é o princípio segundo o qual um fato mais amplo E GRAVE, absorve outros menos amplos e
grave, que funcionam como fase de preparação, execução, ou mero exaurimento. Há uma regra
que auxilia na aplicação deste princípio, segundo o qual, quando os crimes são praticados no
mesmo contexto fático, opera-se a absorção do menos grave pelo de maior gravidade. sendo
destacados os momentos, responderá o agente por todos os crimes em concurso.” Na hipótese
mencionada na questão não houve consunção, uma vez que os crimes, além de não terem sido
cometidos no mesmo contexto fático, não funcionaram, necessariamente, como fase normal
de execução dos outros crimes.
Letra a.

011. (VUNESP/PREFEITURA DE ARUJÁ/ASSISTENTE JURÍDICO/2015) Pedro Bernardino,


dono de produtora de vídeos, dirigiu um filme que simulava cenas de sexo explícito onde atuou
A.C.B, de 17 anos, devidamente autorizada pela mãe, Margarida dos Anjos. Antes mesmo da
divulgação das imagens, ambos foram denunciados e processados pelo registro das imagens
da adolescente.
Considerando a situação exposta, e com base no Estatuto da Criança e do Adolescente, é cor-
reto afirmar que
a) o registro das imagens simuladas de sexo explícito, sem divulgação, não é crime, entretanto,
a mãe deixou de zelar pela filha e, por isso, incorrerá em pena de multa.
b) Pedro Bernardino incorrerá nas penas de reclusão de 4 a 8 anos e multa, enquanto Margarida
dos Anjos terá a pena aumentada em 1/3, em razão do parentesco.
c) incorrerão nas mesmas penas, de detenção de 6 meses a 2 anos e multa, o produtor das
imagens simuladas e a mãe que ofereceu o consentimento.
d) Pedro Bernardino e Margarida dos Anjos não cometeram qualquer crime, uma vez que o filme
não retratava cenas de sexo explícito, apenas uma simulação.
e) a falta de divulgação das imagens simuladas de sexo explícito com a adolescente não isenta
o produtor da prática criminosa, e das penas de detenção de 6 meses a 2 anos e multa; já o
consentimento da mãe não é punível.

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A questão exige conhecimento acerca da parte geral do CP e dos crimes previstos pelo Estatuto
da Criança e do Adolescente, Lei n. 8069/1990. Podemos Considerando o modo de elaboração
da questão, a resolução será feita de forma global, já excluindo, claro, letras a e d, que não
apontariam crime nessa conduta.
Vejamos os dispositivos pertinentes:

Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo
explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo in-
termedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou
ainda quem com esses contracena.
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime:
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la;
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; ou
III – prevalecendo-se de relações de parentesco consanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por
adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título,
tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento.

Além disso, podemos observar que a mãe da adolescente concorreu para o crime, sendo certo
o vínculo subjetivo (liame psicológico) existente entre a sua conduta e a do terceiro, uma vez
que autorizou a produção do vídeo. Vejamos a previsão do Código Penal sobre o concurso de
pessoas: Art. 29. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este co-
minadas, na medida de sua culpabilidade. Deve ser lembrado que as penas no ECA costumam
ser elevadas e que as situações de maior vulnerabilidade da criança e do adolescente (como
no caso da mãe) a transgressão da norma penal costuma receber maior reprimenda.
Letra b.

012. (INÉDITA/2022) Para a configuração da internacionalidade do crime de transmissão de


conteúdo de pornografia infantil, é necessário provar o acesso transfronteiriço, sendo insufi-
ciente a potencialidade de tal ocorrência.

A posição da jurisprudência é exatamente no sentido contrário, ou seja, o da suficiência da


potencialidade para caracterização da natureza transfronteiriça:

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JURISPRUDÊNCIA
Segundo a orientação jurisprudencial, a constatação da internacionalidade do delito
previsto no art. 241-A do ECA impõe que haja a publicação do material pornográfico
em ambiente virtual conectado à internet, independentemente da ocorrência efetiva de
acesso no estrangeiro.
2. No caso, a perícia constatou que não haveria indícios de que o material com as imagens
pornográficas havia sido disponibilizado na rede, isto é, de que haveria alguma evidên-
cia de ser acessível por outros terminais conectados à rede, ainda que potencialmente.
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no CC 167.915/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, jul-
gado em 27/05/2020, DJe 01/06/2020)

Errado.

013. (INÉDITA/2022) Mesmo por meio de aplicativos de mensagem, é possível a caracterização


de crime previsto no Estatuto da Criança e Adolescente sem o elemento da transnacionalidade
e, assim, com a competência na justiça estadual ou do Distrito Federal.

Basta que não tenha a disponibilidade de transnacionalidade! Nesse sentido: conflito negati-
vo de competência. Justiça Federal versus Justiça Estadual. Inquérito policial. Divulgação de
imagem pornográfica de adolescente via whatsapp e em chat no facebook. Art. 241-A da Lei
n. 8.069/1990 (ECA). Internacionalidade. Inexistência. Competência da justiça estadual. CC
150.564-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, por unanimidade, julgado em 26/4/2017,
DJe 2/5/2017.
Certo.

Infiltração Virtual
Outro tema frequentemente associado aos crimes digitais, nomeadamente aos crimes
do ECA, mas não somente em relação a eles (podendo alcançar organizações criminosas,
envolvidas ou não na Darkweb) é a chamada infiltração virtual.
Aqui, é importante observar a existência de dois regramentos distintos. Vejamos primeiro
que consta do pacote anticrime – Lei n. 13.964, de 2019:

Art. 10-A. Será admitida a ação de agentes de polícia infiltrados virtuais, obedecidos os requisitos
do caput do art. 10, na internet, com o fim de investigar os crimes previstos nesta Lei e a eles
conexos, praticados por organizações criminosas, desde que demonstrada sua necessidade e
indicados o alcance das tarefas dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e,

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quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que permitam a identificação dessas pessoas.
(Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 1º Para efeitos do disposto nesta Lei, consideram-se: (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
I – dados de conexão: informações referentes a hora, data, início, término, duração, endereço de
Protocolo de Internet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão; (Incluído pela Lei n. 13.964,
de 2019)
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e endereço de assinante ou de usuário re-
gistrado ou autenticado para a conexão a quem endereço de IP, identificação de usuário ou código
de acesso tenha sido atribuído no momento da conexão. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 2º Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente, antes de decidir,
ouvirá o Ministério Público. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019
§ 3º Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata o art. 1º desta
Lei e se as provas não puderem ser produzidas por outros meios disponíveis. (Incluído pela Lei n.
13.964, de 2019)
§ 4º A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de eventuais reno-
vações, mediante ordem judicial fundamentada e desde que o total não exceda a 720 (setecentos
e vinte) dias e seja comprovada sua necessidade. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 5º Findo o prazo previsto no § 4º deste artigo, o relatório circunstanciado, juntamente com todos
os atos eletrônicos praticados durante a operação, deverão ser registrados, gravados, armazenados
e apresentados ao juiz competente, que imediatamente cientificará o Ministério Público. (Incluído
pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 6º No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar aos seus agentes, e o
Ministério Público e o juiz competente poderão requisitar, a qualquer tempo, relatório da atividade
de infiltração. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
§ 7º É nula a prova obtida sem a observância do disposto neste artigo. (Incluído pela Lei n. 13.964,
de 2019)
Art. 10-B. As informações da operação de infiltração serão encaminhadas diretamente ao juiz res-
ponsável pela autorização da medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso aos autos será reservado ao juiz, ao
Ministério Público e ao delegado de polícia responsável pela operação, com o objetivo de garantir
o sigilo das investigações. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
Art. 10-C. Não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio da internet, colher
indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos no art. 1º desta Lei. (Incluído pela Lei n.
13.964, de 2019)
Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de observar a estrita finalidade da investi-
gação responderá pelos excessos praticados. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
Art. 10-D. Concluída a investigação, todos os atos eletrônicos praticados durante a operação
deverão ser registrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e ao Ministério Público,
juntamente com relatório circunstanciado. (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados no caput deste artigo serão reunidos em
autos apartados e apensados ao processo criminal juntamente com o inquérito policial, assegu-
rando-se a preservação da identidade do agente policial infiltrado e a intimidade dos envolvidos.
(Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)

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Art. 11. O requerimento do Ministério Público ou a representação do delegado de polícia para a infil-
tração de agentes conterão a demonstração da necessidade da medida, o alcance das tarefas dos
agentes e, quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e o local da infiltração.
Parágrafo único. Os órgãos de registro e cadastro público poderão incluir nos bancos de dados
próprios, mediante procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as informações ne-
cessárias à efetividade da identidade fictícia criada, nos casos de infiltração de agentes na internet.
(Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
Art. 12. O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de forma a não conter informações
que possam indicar a operação a ser efetivada ou identificar o agente que será infiltrado.
§ 1º As informações quanto à necessidade da operação de infiltração serão dirigidas diretamente
ao juiz competente, que decidirá no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após manifestação do Minis-
tério Público na hipótese de representação do delegado de polícia, devendo-se adotar as medidas
necessárias para o êxito das investigações e a segurança do agente infiltrado.
§ 2º Os autos contendo as informações da operação de infiltração acompanharão a denúncia do
Ministério Público, quando serão disponibilizados à defesa, assegurando-se a preservação da
identidade do agente.
§ 3º Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco iminente, a operação será
sustada mediante requisição do Ministério Público ou pelo delegado de polícia, dando-se imediata
ciência ao Ministério Público e à autoridade judicial.
Art. 13. O agente que não guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade com a finalidade
da investigação, responderá pelos excessos praticados.
Parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo agente infiltrado
no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa

Antes dessa norma geral, havia a disposição voltada para apuração dos crimes do ECA:

Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investigação de Crimes contra a Dignidade Sexual de


Criança e de Adolescente”
Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet com o fim de investigar os crimes previs-
tos nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e
218-B do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), obedecerá às seguintes
regras: (Incluído pela Lei n. 13.441, de 2017)
I – será precedida de autorização judicial devidamente circunstanciada e fundamentada, que es-
tabelecerá os limites da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Ministério Público; (Incluído
pela Lei n. 13.441, de 2017)
II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Público ou representação de delegado de polícia
e conterá a demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas dos policiais, os nomes ou
apelidos das pessoas investigadas e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que
permitam a identificação dessas pessoas; (Incluído pela Lei n. 13.441, de 2017)
III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, sem prejuízo de eventuais renovações, desde
que o total não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada sua efetiva necessidade,
a critério da autoridade judicial. (Incluído pela Lei n. 13.441, de 2017)

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§ 1 º A autoridade judicial e o Ministério Público poderão requisitar relatórios parciais da operação
de infiltração antes do término do prazo de que trata o inciso II do § 1 º deste artigo. (Incluído pela
Lei n. 13.441, de 2017)
§ 2 º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1 º deste artigo, consideram-se: (Incluído pela Lei
n. 13.441, de 2017)
I – dados de conexão: informações referentes a hora, data, início, término, duração, endereço de
Protocolo de Internet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão; (Incluído pela Lei n. 13.441,
de 2017)
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e endereço de assinante ou de usuário re-
gistrado ou autenticado para a conexão a quem endereço de IP, identificação de usuário ou código
de acesso tenha sido atribuído no momento da conexão.
§ 3 º A infiltração de agentes de polícia na internet não será admitida se a prova puder ser obtida
por outros meios. (Incluído pela Lei n. 13.441, de 2017)
Art. 190-B. As informações da operação de infiltração serão encaminhadas diretamente ao juiz res-
ponsável pela autorização da medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído pela Lei n. 13.441, de 2017)
Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso aos autos será reservado ao juiz, ao
Ministério Público e ao delegado de polícia responsável pela operação, com o objetivo de garantir
o sigilo das investigações. (Incluído pela Lei n. 13.441, de 2017)
Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio da internet,
colher indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B,
241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei n. 2.848, de 7
de dezembro de 1940 (Código Penal). (Incluído pela Lei n. 13.441, de 2017)
Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de observar a estrita finalidade da investi-
gação responderá pelos excessos praticados. (Incluído pela Lei n. 13.441, de 2017)
Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público poderão incluir nos bancos de dados próprios,
mediante procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as informações necessárias à
efetividade da identidade fictícia criada. (Incluído pela Lei n. 13.441, de 2017)
Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata esta Seção será numerado e tombado em
livro específico. (Incluído pela Lei n. 13.441, de 2017)
Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos eletrônicos praticados durante a operação
deverão ser registrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e ao Ministério Público,
juntamente com relatório circunstanciado. (Incluído pela Lei n. 13.441, de 2017)
Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados no caput deste artigo serão reunidos em
autos apartados e apensados ao processo criminal juntamente com o inquérito policial, assegu-
rando-se a preservação da identidade do agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e
dos adolescentes envolvidos. (Incluído pela Lei n. 13.441, de 2017)

As redações, como pode ver, são bem semelhantes: ambas preveem a subsidiariedade
como norte (impossibilidade de ser realizada se houver outros meios), preveem o prazo má-
ximo de 720 dias, sem prorrogação, a excludente de tipicidade na ocultação dos dados de
identificação pelo infiltrado.

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Detalhe: o infiltrado tem de ser policial, de modo que aquelas figuras que vemos em filmes,
de pegarem um hacker para funcionar como auxiliar de investigação não entra nessa situação,
assim como os chamados white hats, que são os hackers contratados pelo Estado (onde se
permite isso, como nos Estados Unidos).
A Lei n. 13.964, de 2019 tem um problema, na medida em que a infiltração é alteração da
Lei 12850/2013 e faz referência aos crimes previstos naquela lei. Só que aquela lei não tem
tipo penal, o que ainda pode suscitar alguma controvérsia…
Ainda temos poucos julgados, de sorte que aqui vai tudo que foi encontrado a respeito,
oportunidade em que se destacam a refutação sobre flagrante preparado e se enfatiza, ain-
da que em comentário lateral, a importância da imprescindibilidade da medida, ou, em outra
perspectiva, a sua subsidiariedade:

JURISPRUDÊNCIA
PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS
CORPUS. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA ESPECIALIZADA EM TRÁFICO DE ENTORPECENTES
E ROUBO DE CARGAS. PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. GRAVI-
DADE CONCRETA. AGENTE QUE EXERCE POSIÇÃO DE CONFIANÇA NO ALTO ESCALÃO
DA ORGANIZAÇÃO. MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA
DE INTIMAÇÃO PRÉVIA DA DEFESA.
HIPÓTESE EXCEPCIONADA PELA URGÊNCIA E PERIGO DE INEFICÁCIA DA MEDIDA.
NULIDADE DA PROVA OBTIDA POR AGENTE VIRTUAL. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.
RECURSO DESPROVIDO.
A validade da segregação cautelar está condicionada à observância, em decisão devi-
damente fundamentada, aos requisitos insertos no art.
312 do Código de Processo Penal, revelando-se indispensável a demonstração de em
que consiste o periculum libertatis.
2. No caso, a prisão decretada após prévia investigação e interceptação telefônica e de
dados teve lastro na garantia da ordem pública, diante da periculosidade do acusado,
revelada pela gravidade concreta da conduta delitiva consistente na prática, em tese,
de participação em organização criminosa armada especializada nos crimes de tráfico
de drogas e roubo de carga. Consta do decisum que o ora agravante é “apontado como
espécie de braço direito do [“C. do L.”], que seria o “dono” de toda estrutura criminosa
apontada nas investigações, sendo o gerente geral da Comunidade do Lixão”, e que
“as investigações levadas a cabo demonstraram a existência de uma organização cri-
minosa complexa e que atua em diversas comunidades desta comarca, [...] e que agia
não somente na prática de tráfico de drogas, mas também paralelamente, com intuito
de aumentar seus lucros, praticando roubo de carga” (e-STJ fl. 61).

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Ademais, a Magistrada esclarece que ele “seria responsável pela execução das ordens
de C., pela conferência da contabilidade do tráfico, além de atuar como última instância
entre os subalternos e o ‘dono’ dos pontos de venda de entorpecentes” (e-STJ fl. 503).
Assim, a prisão se faz necessária para garantir a ordem pública, evitando o prossegui-
mento das atividades criminosas desenvolvidas.
3. Conforme magistério jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal, “a necessidade de
se interromper ou diminuir a atuação de integrantes de organização criminosa enqua-
dra-se no conceito de garantia da ordem pública, constituindo fundamentação cautelar
idônea e suficiente para a prisão preventiva” (STF, Primeira Turma, HC n. 95.024/SP,
relatora Ministra Cármen Lúcia, DJe 20/2/2009).
4. De igual forma, está demonstrado que outras medidas previstas no art. 319 do Código
de Processo Penal não surtiriam o efeito almejado para a proteção da ordem pública,
especialmente porque o agente exerce posição de confiança no alto escalão da organi-
zação criminosa.
5. Acerca da nulidade por ausência de prévia intimação da defesa, vale relembrar que o
“entendimento desta Corte se orienta no sentido de que a decretação da prisão preventiva
prescinde, em princípio, da realização de um contraditório prévio, haja vista ser possível
extrair da intelecção do art. 282, § 3º, do Código de Processo Penal a mitigação de tal
exigência em casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida” (HC n. 400.910/
SP, de minha relatoria, SEXTA TURMA, julgado em 7/12/2017, DJe 15/12/2017).
6. No caso, as circunstâncias delitivas evidenciam a urgência inerente ao comando
judicial prolatado e o perigo de ineficácia da medida com a prévia intimação da defesa,
hipóteses excepcionadas pela previsão legal, nas quais o contraditório é diferido.
7. Por fim, a tese de nulidade de prova obtida por meio da utilização do agente virtual
infiltrado não foi debatida pelo Tribunal de origem, o que impede a análise por esta Corte,
sob pena de indevida supressão de instância.
8. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no RHC 148.952/RJ, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 21/09/2021, DJe 28/09/2021)
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLA-
RAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ARTS. 241-A E 241-B, AMBOS DA LEI
N. 8.069/1990. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. TESES DE CERCEAMENTO DE
DEFESA, DE QUEBRA DE CADEIA DE CUSTÓDIA E DE FLAGRANTE FORJADO. SÚMULA
N. 7 DO STJ. INÉPCIA DA INICIAL. ALEGAÇÃO PREJUDICADA. FALTA DE COMPROVAÇÃO
DO DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.
DOSIMETRIA DA PENA. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A teor do entendimento majoritário desta Corte, não se admite como paradigma, para
fins de comprovação do dissídio jurisprudencial, acórdão proferido em habeas corpus,

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uma vez que o remédio constitucional não guarda o mesmo objeto e a mesma extensão
material almejados no recurso especial.
2. Inviável a apreciação, em reclamo constitucional, das teses de cerceamento de defesa,
de quebra de cadeia de custódia e de flagrante preparado se, antes de adentrar na dis-
cussão jurídica, sobre a interpretação de dispositivos federais pretensamente violados,
é necessário reexaminar provas, afastar as premissas fáticas do acórdão recorrido e
realizar inédita reconstrução dos acontecimentos, inteiramente diversa daquela narrada
pelo Juiz e pelo Tribunal a quo. Incidência da Súmula n. 7 do STJ.
3. A jurisprudência desta Corte pacificou-se no sentido de que deve ser reconhecida a
internacionalidade do delito do art. 241-A do ECA se a publicação do material porno-
gráfico infanto-juvenil ocorreu em ambiente virtual conectado à internet, de amplo e
fácil acesso no estrangeiro, ainda que não haja evidências de que essa conexão tenha
realmente ocorrido.
4. A superveniência da sentença penal condenatória torna esvaída a pretensão de reco-
nhecimento de inépcia da denúncia.
5. A ausência de perícia em algumas mídias apreendidas não denota nenhum cercea-
mento de defesa se o material não foi utilizado contra o réu nem lastreou a sentença
condenatória. A falta de devassa em alguns discos evitou a maior exposição da intimi-
dade do acusado, uma vez que seu conteúdo não foi pertinente à resolução da lide.
6. O elemento subjetivo do tipo penal foi reconhecido pelas instâncias ordinárias de
forma motivada, ante a livre apreciação do conjunto probatório. Para afastar a conclusão
do aresto impugnado e acolher a tese de ausência de dolo seria necessário reexaminar
provas, o que encontra óbice na Súmula n. 7 do STJ.
7. Deferida, por autoridade judicial, a busca e apreensão de computadores, discos rígidos,
mídias e quaisquer outros materiais relacionados aos fatos investigados, não se verifica
ilegalidade na simples varredura realizada no computador do réu por policiais, ainda no
local, para o cumprimento da diligência, na presença de testemunhas e mediante regis-
tro fotográfico. Não era obrigatória a presença do suspeito no local nem a filmagem dos
agentes durante a execução do mandado.
8. Afasta-se a tese de violação do art. 59 do CP se o aumento da pena-base está cal-
cado na análise desfavorável da culpabilidade do sentenciado e das circunstâncias do
crime. Houve registro de maior censurabilidade do agente, porque ele utilizou aplica-
tivo fechado, protegido por senha, dependente de convite para ser acessado, a denotar
sua sofisticada preparação para a prática dos crimes dos arts. 241-A e 241-B, ambos
do ECA. O Tribunal destacou a complexidade da transmissão do material proibido, por
meio de criptografia, dado não inerente ao tipo penal, dado que denota técnica acidental
mais grave da conduta, a qual pode ser difundida de várias formas (fotografia, desenho,
disco compacto etc.), não necessariamente por meio quase impenetrável, que exigiu a
infiltração policial para ser descoberta.

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9. Não se conhece, em recurso especial, por falta de prequestionamento, as teses de


mutatio libelli ou de violação do princípio da correlação se as matérias não foram ana-
lisadas no acórdão recorrido.
10. Constata-se a correta aplicação do art. 71 do CP, pois, na terceira fase da aplicação
da pena, o Juiz reconheceu que a mesma conduta foi reiterada em idênticas condições
de local, tempo e maneira de execução, inúmeras vezes, por mais de quatro meses.
Mantém-se a fração de 2/3, tendo em vista o considerável montante das ações deliti-
vas (centenas de imagens foram divididas com outros usuários, por meses), a denotar
a prática de muito mais de sete infrações.
11. A instância ordinária explicou o critério da fixação da multa, aplicada de forma pro-
porcional à reprimenda privativa de liberdade, em conformidade com o entendimento
deste Superior Tribunal. A razão unitária da sanção foi fixada em atenção à situação
econômica do acusado. Para rever a individualização da pena seria necessário cotejar
provas, o que não se admite na via eleita.
12. Agravo regimental não provido.
(AgRg nos EDcl nos EDcl no AREsp 1039417/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 08/10/2019, DJe 15/10/2019)
HABEAS CORPUS. ARTS. 241-A E 241-B DO ECA. MEIO DE OBTENÇÃO DA PROVA. RONDA
VIRTUAL. NULIDADE NÃO VERIFICADA. MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO. ORDEM
EMANADA POR JUÍZO ESTADUAL. INCOMPETÊNCIA. INOCORRÊNCIA. 1. Os Tribunais
Superiores já firmaram entendimento no sentido de ser imperiosa a necessidade de racio-
nalização do writ, devendo ser observada sua função constitucional de sanar ilegalidade
ou abuso de poder que resulte coação ou ameaça à liberdade de locomoção. 2. A utiliza-
ção de habeas corpus para supressão ou anulação de provas deve ser vista com cautela,
tendo em vista que “as questões relativas à produção de prova são, em regra, afetas ao
Juízo de primeiro grau, sendo que eventual alegação de cerceamento de defesa deve
ser arguida em preliminar de apelo, à vista da sentença” (precedente TRF4), e eventual
discussão sobre o acervo probatório ou eventual nulidade na forma de obtenção não tem
lugar na via estreita da ação constitucional. 3. Impetração admitida ante a relevância da
matéria de fundo. 4. A ronda virtual destinada à averiguação de crimes cometidos nas
redes virtuais abertas ao público, feita de forma autônoma ou com o uso de ferramentas,
prescinde de autorização judicial e não configura fishing expedition, pois realizada com
o objetivo certo – monitorar o compartilhamento de arquivos de pornografia infantil e
pedofilia -, em ambiente que tem por finalidade reunir em banco de dados os registros
dos arquivos relacionados a essa temática e demonstrar o compartilhamento desses
arquivos em tempo real. 5. A ronda virtual não se confunde com a infiltração virtual, uma
vez que esta só pode ser implementada com autorização devidamente fundamentada, e
se destina à obtenção de provas em investigações realizadas nas redes fechadas e, não

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raro, exige a interação do agente policial infiltrado com o investigado a fim de conquistar
a confiança dos usuários de determinado ambiente virtual. 6. Os programas/aplicati-
vos de compartilhamento em rede peer-to-peer (ponto a ponto) estão disponíveis para
download na internet e são de livre utilização, não requerendo concessão de senha ou
envio de convite por terceira pessoa, bastando ao usuário decidir por baixar e instalar
o programa em seu equipamento, bem como optar pelo download e compartilhamento
dos arquivos, e, em regra, a informação relativa ao IP vinculado ao equipamento do
usuário é disponibilizada aos demais usuários, descabendo falar em violação ao direito
à intimidade. 7. Inexiste nulidade na autorização judicial de busca e apreensão expedida
por juiz aparentemente competente ao tempo da decisão, que posteriormente venha a
se declarar incompetente em razão dos elementos apurados no andamento da investi-
gação. Precedente do STF.
TRF4 Acórdão 5022657-86.2016.4.04.7000, relatora: SALISE MONTEIRO SANCHOTENE,
DJ 18/07/2019.
DIREITO PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE. ARTIGO
241-A DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. OPERAÇÃO DIRTYNET. COM-
PARTILHAMENTO DE FOTOS E VÍDEOS PORNOGRÁFICOS ENVOLVENDO CRIANÇAS E
ADOLESCENTES PELO PROGRAMA GIGATRIBE. FLAGRANTE PREPARADO. CRIME IMPOS-
SÍVEL. INOCORRÊNCIA. CONDENAÇÃO IMPERATIVA. ALEGAÇÃO DE INSUFICIÊNCIA PRO-
BATÓRIA. TESE SOLUCIONADA POR UNANIMIDADE NA TURMA CRIMINAL. HIPÓTESE
DO ART. 609, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPP NÃO PREENCHIDA. 1. Pelo que se percebe da
conversa contestada pela defesa para tentar absolver o réu, foi o ora embargante quem
solicitou por primeiro a senha do agente infiltrado para fins de compartilhar arquivos
espúrios. Após, o embargante forneceu a sua senha para conversa e com ela o policial
verificou que esse mesmo usuário já tinha compartilhado e estava compartilhando
inúmeros arquivos com material de pornografia infantil, em sua maioria envolvendo
crianças e adolescente do sexo masculino. 2. Não se verifica, portanto, a ocorrência
do flagrante preparado e tampouco ilicitude da prova, porquanto a atuação do agente
da Polícia Federal como infiltrado no programa Gigatribe foi autorizado judicialmente e
atendeu todas as recomendações e limites de investigação no sentido de apenas obter
registros sobre usuários do aplicativo que compartilhavam entre si, material de pedo-
filia-pornográfica no ambiente virtual. 3. Trata-se, pois de flagrante esperado, já que a
polícia tinha notícias de que infrações penais estavam sendo cometidas por inúmeros
agentes pela aludida rede social fechada e aguardava o momento da consumação das
condutas para de executar as devidas medidas constritivas penais. 4. Não é hipótese,
no caso, de aplicação da Súmula 145 do STF. Isso porque, os crimes já estavam sendo
cometidos e a espera pelo fornecimento da senha deu-se, apenas, para confirmar a atua-
ção delitiva do acusado. E assim que tal foi realizado, permitiu-se com maior clareza e

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certeza flagrar que o embargante compartilhava material nefasto envolvendo crianças


e adolescentes pelo aplicativo Gigatribe. Por tal motivo, nega-se provimento ao recurso
neste tópico. 5. No concernente a alegação de insuficiência de provas, constata-se que
a pretensão absolutória não está albergada na previsão contida no art. 609, parágrafo
único do CPP., porquanto o Colegiado da 8ª Turma, à unanimidade, reconheceu que a
condenação imposta na sentença, deu-se com robusto lastro probatório. Portanto, não
deve ser conhecido o recurso no ponto. 6. Embargos Infringentes conhecidos parcial-
mente, e nesta parte, negado provimento.
TRF4 Acórdão 5068165-51.2013.4.04.7100, relatora: SALISE MONTEIRO SANCHOTENE,
DJ 20/03/2019
PENAL E PROCESSUAL. APELAÇÃO CRIMINAL. ART. 241-A E 241-B DA LEI 8.069/90
(ECA). OPERAÇÃO DIRTYNET: CONDUTAS DE ARMAZENAR E DISPONIBILIZAR VIA INTER-
NET FOTOGRAFIAS. INFILTRAÇÃO DE POLICIAL NA REDE PEDÓFILA. INEXISTÊNCIA DE
FLAGRANTE PREPARADO. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. RECURSOS
DESPROVIDOS. 1- Apelação em face de sentença que condenou o apelante à pena de
06 (seis) anos e 8 (oito) meses de reclusão e pagamento de 16 dias-multa por infração
aos delitos tipificados nos artigos 241-A e 241-B, ambos da Lei 8.069/90. 2 – Não há que
se falar em flagrante preparado, quando a Polícia Federal, mediante autorização judicial,
utiliza a identificação de um usuário brasileiro da para ter acesso à comunidade virtual
GIGATRIBE e, neste contexto, colhe provas de que o acusado praticava os delitos, em
tese. 3- Devidamente demonstrada na Operação DIRTYNET, realizada pela Polícia Federal,
que o acusado armazenava e disponibilizava na internet material relativo a pedofilia ao
compartilhá-los com outros pervertidos, concedendo-lhes senha para acesso, conforme
se observa do auto de prisão em flagrante, informações técnicas e Laudo de Exame de
Dispositivo de Armazenamento Computacional. Constatou a perícia técnica a existência
no material de informática apreendido em poder do apelante farta quantidade de vídeos
e imagens com cenas de nudez e sexo explícito envolvendo crianças e adolescentes. 4-
Autoria inconteste. O próprio acusado, em seu interrogatório, admitiu ser o responsável
por armazenar o conteúdo proibido nos computadores de sua residência. 5- Dosimetria
da pena adequada, à luz do artigo 59 do Código Penal. 6- Recursos desprovidos.
TRF 2, Relator ANTONIO IVAN ATHIÉ (dados não oferecidos pelo CJF – procurar “Ope-
ração DIRTYNET”)

Passemos às questões?

014. (FAPEMS/PC-MS/DELEGADO DE POLÍCIA/2017) Leia o texto a seguir.


LEI N. 13.441/2017 INSTITUIU A INFILTRAÇÃO POLICIAL VIRTUAL.

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A Lei 13.441/17 instituiu no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – (artigos 190-A a


190-E da Lei 8.069/90) a infiltração policial virtual, nova modalidade de infiltração de agentes
de polícia caracterizada por ser efetuada não no ambiente físico (como já previsto na Lei de
Drogas e na Lei de Organização Criminosa), mas na internet. A novidade, portanto, não foi a
instituição da figura do agente infiltrado (já prevista no artigo 53, I, da Lei 11.343/06, bem como
no artigo 10 da Lei 12.850/13 e artigo 20 da Convenção de Palermo – Decreto 5.015/04), mas
sim a normatização dessa técnica investigativa em meio cibernético.
A infiltração policial consiste em técnica especial e subsidiária de investigação, qualificada
pela atuação dissimulada (com ocultação da real identidade) e sigilosa de agente policial,
seja presencial ou virtualmente, face a um criminoso ou grupo de criminosos, com o fim de
localizar fontes de prova, identificar criminosos e obter elementos de convicção para elucidar
o delito e desarticular associação ou organização criminosa, auxiliando também na prevenção
de ilícitos penais.
A infiltração policial é gênero do qual são espécies a presencial (física) e a virtual (cibernética
ou eletrônica). Admite-se a infiltração policial virtual basicamente em 3 categorias de delitos
(artigo 190-A do ECA): a) pedofilia (artigos 240, 241, 241-A, 241-B, 241- C e 241-D do ECA); b)
crimes contra a dignidade sexual de vulneráveis: estupro de vulnerável (artigo 217-A do CP),
corrupção de menores (artigo 218 do CP), satisfação de lascívia (artigo 218-A do CP) e favo-
recimento da prostituição de criança ou adolescente ou de vulnerável (artigo 218-B do CP); c)
invasão de dispositivo informático (artigo 154-A do CP).
Quanto à natureza do rol de crimes autorizadores da infiltração virtual existem 2 correntes: a)
taxativo, em razão do caráter excepcional do procedimento; b) exemplificativo, pois o princípio
da proteção deficiente e a livre iniciativa probatória justificam o emprego dessa técnica investi-
gativa quando necessária para elucidar crimes graves cometidos por meio da internet. ASTRO,
Henrique Hoffmann Monteiro de. Lei 13.441/17 instituiu a infiltração policial virtual. Revista
Consultor Jurídico, mai. 2017. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2017-mai-16/acade-
mia-policia~lei-1344117-instituiuinfiltracao-policial-virtual>. Acesso em: 24 jul. 2017. (Adaptado)
Infere-se do texto que
Alternativas
a) as infiltrações policiais, tanto física como eletronicamente, são gêneros contidos no artigo
20 da Convenção de Palermo – Decreto n. 5.015/2004.
b) a Lei n. 13.441/2017 dispõe que crimes de pedofilia e corrupção de menores não podem ser
investigados no ambiente real (físico), mas apenas por meio cibernético.
c) atualmente a infiltração policial virtual está normatizada na Lei n. 8.069/1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente).
d) a corrente do rol de crimes autorizadores de infiltração virtual do tipo exemplificativo deve
ser utilizada nos crimes virtuais, mesmo quando não estão esgotados todos os meios extremos
de investigação.
e) a atuação dissimulada é a principal modalidade de investigação face a grupos criminosos
que auxiliam na investigação de crimes graves cometidos através da internet.

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Essa aí é mais questão de interpretação de texto, mas, de fato, mostram-se errados o item a,
porque a Convenção de Palermo não prevê infiltração virtual, b porque é contra a ideia de sub-
sidiariedade, mesmo problema de d e a e é até contraditória porque, como escrita, faria alusão
a investigação contra quem ajuda na investigação!
Letra c.

015. (CEBRASPE/AGENTE FEDERAL DE EXECUÇÃO PENAL/DEPEN/2021) Para garantir o


sigilo das investigações, antes da conclusão da operação de infiltração de agentes, o acesso
aos autos é reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia responsável
pela operação.

Afirmação correta e que reflete literal disposição de lei


Certo.

016. (FUNDATEC/DELEGADO DE POLÍCIA/2018) No que se refere à disciplina sobre provas,


seus meios de obtenção e a jurisprudência dos Tribunais Superiores, assinale a alternati-
va correta.
a) A interceptação de comunicação telefônica, de qualquer natureza, ocorrerá nos mesmos
autos do inquérito policial ou do processo criminal, preservando-se o sigilo das diligências,
gravações e transcrições respectivas.
b) Considerando a infiltração de agentes policiais em ambiente virtual, antes da conclusão da
operação, o acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de
polícia responsável pela operação, com o objetivo de garantir o sigilo das investigações.
c) Conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, as comunicações telefônicas do
investigado legalmente interceptadas não podem ser utilizadas em desfavor do outro interlo-
cutor quando este seja advogado do investigado.
d) Segundo a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, é lícita a gravação de conversa
informal entre os policiais e o conduzido ocorrida quando da lavratura do auto de prisão em
flagrante, ainda que não cientificado sobre o direito de permanecer em silêncio, tendo em vista
que se trata de repartição pública em que não se aplica o direito à privacidade.
e) A infiltração de agentes policiais em ambiente virtual não poderá exceder o prazo de 90 (no-
venta) dias, permitida uma renovação pelo mesmo prazo, desde que demonstrada sua efetiva
necessidade, a critério da autoridade judicial.

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Persecução Penal e Novas Tecnologias – Parte II
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Letra b, novamente, tocando a questão do sigilo da investigação.


Letra b.

Convenção de Budapeste
A Convenção de Budapeste caracteriza-se como um normativo institucional para a defi-
nição de crimes cibernéticos (os puros e aqueles promovidos pelo ambiente virtual), para a
habilitação aos meios de prova, com respostas rápidas.
Em algo muito próximo com os modernos debates sobre proteção de dados, ela promove
uma classificação própria: dados de subscrição, dados de tráfego e dados de conteúdo.
Visa-se ao desenvolvimento de provisões domésticas, facilitação de instrumentos bilaterais,
redes dos agentes de law enforcement, estímulo à cooperação do setor privado. Em outras
palavras, a Convenção preconiza mandados de criminalização e punições efetivas i) infrações
contra a confidencialidade, integridade, e disponibilidade de sistemas informáticos e dados
informáticos; ii) infrações relacionadas com computadores, como a falsidade informática e o
estelionato informático, que dizem respeito a condutas como alterar, suprimir, eliminar dados
informáticos com o fim de produzir dados não autênticos ou obter vantagem indevida; iii) in-
frações relacionadas com o conteúdo, como a pornografia infantil, e iv) infrações relacionadas
com a violação do direito do autor e direitos conexos.
Entre suas disposições, pode ser destacada a rede 24/7, que como o nome sugere, permite
interação internacional ininterrupta (24 horas por dia/7 dias por semana) para a prestação
imediata de auxílio em investigações.
Ponto extremamente importante! Ela foi recentemente ratificada pelo Brasil e está
no Decreto Legislativo n. 37 de 16/12/2021:https://www.camara.leg.br/proposicoes-
Web/prop_mostrarintegra;jsessionid=node09a8wh406rszhiisea11vrg7e23629255.
node0?codteor=1963474&filename=Tramitacao-MSC+412/2020
Importante ainda: sua aprovação e conteúdo NÃO conferem a ela status de emenda à
Constituição! Não confundir!
Na versão que se encontra na página do MPF, em português de Portugal (http://www.mpf.
mp.br/atuacao-tematica/sci/normas-e-legislacao/legislacao/legislacoes-pertinentes-do-brasil/
docs_legislacao/convencao_cibercrime.pdf ), podemos destacar algumas disposições-chave
dessa nova legislação:
Artigo 2º – Acesso ilegítimo
Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras que se revelem necessárias para
estabelecer como infracção penal, no seu direito interno, o acesso intencional e ilegítimo
à totalidade ou a parte de um sistema informático. As Partes podem exigir que a infracção
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seja cometida com a violação de medidas de segurança, com a intenção de obter dados in-
formáticos ou outra intenção ilegítima, ou que seja relacionada com um sistema informático
conectado a outro sistema informático.
Artigo 3º – Intercepção ilegítima Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras
que se revelem necessárias para estabelecer como infracção penal, no seu direito interno, a
intercepção intencional e ilegítima de dados informáticos, efetuada por meios técnicos, em
transmissões não públicas, para, de ou dentro de um sistema informático, incluindo emissões
eletromagnéticas provenientes de um sistema informático que veicule esses dados. As Par-
tes podem exigir que a infracção seja cometida com dolo ou que seja relacionada com um
sistema informático conectado com outro sistema informático.
Artigo 4º – Interferência em dados 1. Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras
que se revelem necessárias para estabelecer como infracção penal, no seu direito interno,
o ato de intencional e ilegitimamente danificar, apagar, deteriorar, alterar ou eliminar dados
informáticos. 2. Uma Parte pode reservar-se o direito de exigir que a conduta descrita no n.º
1 provoque danos graves.
Artigo 5º – Interferência em sistemas Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras
que se revelem necessárias para estabelecer como infracção penal, no seu direito interno, a
obstrução grave, intencional e ilegítima, ao funcionamento de um sistema informático, através
da introdução, transmissão, danificação, eliminação, deterioração, modificação ou supressão
de dados informáticos.
(…)
Artigo 7º – Falsidade informática Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras
que se revelem necessárias para estabelecer como infracção penal, em conformidade com o
seu direito interno, a introdução, a alteração, a eliminação ou a supressão intencional e ilegí-
tima de dados informáticos, produzindo dados não autênticos, com a intenção de que estes
sejam considerados ou utilizados para fins legais como se fossem autênticos, quer sejam ou
não diretamente legíveis e inteligíveis. Uma Parte pode exigir no direito interno uma intenção
fraudulenta ou uma intenção ilegítima similar para que seja determinada a responsabilida-
de criminal.
Artigo 8º – Burla informática Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras que se
revelem necessárias para estabelecer como infracção penal, em conformidade com o seu
direito interno, o ato intencional e ilegítimo, que origine a perda de bens a terceiros através:
a) Da introdução, da alteração, da eliminação ou da supressão de dados informáticos, b) De
qualquer intervenção no funcionamento de um sistema informático, com a intenção de obter
um benefício econômico ilegítimo para si ou para terceiros.
Título 3 – Infracções relacionadas com o conteúdo
Artigo 9º – Infracções relacionadas com pornografia infantil

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1. Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras que se revelem necessárias para
estabelecer como infracção penal, em conformidade com o seu direito interno, as seguintes
condutas, quando cometidas de forma intencional e ilegítima: a) Produzir pornografia infantil
com o objetivo da sua difusão através de um sistema informático; b) Oferecer ou disponibilizar
pornografia infantil através de um sistema informático; c) Difundir ou transmitir pornografia
infantil através de um sistema informático; d) Obter pornografia infantil através de um siste-
ma informático para si próprio ou para terceiros; e) Possuir pornografia infantil num sistema
informático ou num meio de armazenamento de dados informáticos.
2. Para efeitos do n.º 1, a expressão “pornografia infantil” inclui qualquer material porno-
gráfico que represente visualmente: a) Um menor envolvido num comportamento sexualmente
explícito; b) Uma pessoa que aparente ser menor envolvida num comportamento sexualmente
explícito; c) Imagens realísticas que representem um menor envolvido num comportamento
sexualmente explícito;
3. Para efeitos do n.º 2, a expressão “menor” inclui qualquer pessoa com idade inferior a
18 anos. Uma Parte, pode, no entanto, exigir um limite de idade inferior, que não será menos
que 16 anos. 4. Cada Parte pode reservar-se o direito de não aplicar, no todo ou em parte, o
disposto nos n.s 1, alínea d), e., 2, alíneas b) e c)
(…)
Título 1 – Disposições comuns
Artigo 14º – Âmbito das disposições processuais
1. Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras que se revelem necessárias, para
instituir os poderes e os procedimentos previstos na presente Secção, para fins de investiga-
ção ou de procedimento penal.
2. Salvo disposição em contrário constante do artigo 21º, cada Parte aplicará os poderes
e procedimentos referidos no n.º 1:
a) Às infracções penais em conformidade com o disposto nos artigos 2º a 11º da presente
Convenção; b) A outras infracções penais cometidas por meio de um sistema informático; e
c) À recolha de prova em suporte eletrônico provas eletrônicas de qualquer infracção penal.
3. a) Cada Parte pode reservar-se o direito de apenas aplicar as medidas referidas no artigo
20º às infracções ou categorias de infracções especificadas na reserva, desde que o conjunto
dessas infracções ou categorias de infracções não seja mais reduzido do que o conjunto de
infracções às quais aplica as medidas referidas no artigo 21º. Cada Parte procurará limitar
essa reserva de modo a permitir a aplicação mais ampla possível da medida referida no Ar-
tigo 20º. b) Nos casos em que uma Parte, devido a restrições impostas pela sua legislação
em vigor no momento da adoção da presente Convenção, não puder aplicar as medidas refe-
ridas nos Artigos 20º e 21º às comunicações transmitidas num sistema informático de um
fornecedor de serviços, que i. Esteja em funcionamento para benefício de um grupo fechado
de utilizadores, e ii. Não utilize redes públicas de telecomunicações e não esteja em conexão

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com outro sistema informático, quer seja público ou privado, essa Parte pode reservar-se o
direito de não aplicar essas medidas às referidas comunicações.
Cada Parte procurará limitar essa reserva de modo a permitir a aplicação mais ampla
possível das medidas referidas nos Artigos 20º e 21º. Artigo 15º – Condições e salvaguardas
1. Cada Parte assegurará que o estabelecimento, a entrada em vigor e a aplicação dos
poderes e procedimentos previstos na presente Secção são sujeitos às condições e salva-
guardas estabelecidas pela legislação nacional, que deve assegurar uma proteção adequada
dos direitos do Homem e das liberdades, designadamente estabelecidas em conformidade
com as obrigações decorrentes da aplicação da Convenção do Conselho da Europa para a
Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais dos Cidadãos (1950), do
Pacto Internacional das Nações Unidas sobre os Direitos Civis e Políticos, (1966), bem como
de outros instrumentos internacionais aplicáveis relativos aos Direitos do Homem e que deve
integrar o princípio da proporcionalidade.
2. Quando for apropriado, tendo em conta a natureza do poder ou do procedimento em
questão, as referidas condições e salvaguardas incluirão, designadamente, um controlo judicial
ou outras formas de controlo independente, os fundamentos que justificam a sua aplicação,
bem como a limitação do âmbito de aplicação e a duração do poder ou procedimento em causa.
3. Na medida em que seja do interesse público, em particular da boa administração da
justiça, cada Parte examinará o efeito dos poderes e dos procedimentos da presente Secção
sobre os direitos, responsabilidades e interesses legítimos de terceiros.
Título 2 – Conservação expedita de dados informáticos armazenados Artigo 16º – Con-
servação expedita de dados informáticos armazenados 1. Cada Parte adotará as medidas
legislativas e outras que se revelem necessárias para permitir às suas autoridades compe-
tentes exigir ou obter de uma outra forma a conservação expedita de dados informáticos
específicos, incluindo dados relativos ao tráfego, armazenados por meio de um sistema infor-
mático, nomeadamente nos casos em que existem motivos para pensar que os mesmos são
susceptíveis de perda ou alteração. 2. Sempre que a Parte aplique o disposto no n.º 1, através
de uma injunção ordenando a uma pessoa que conserve os dados informáticos específicos
armazenados que estão na sua posse ou sob o seu controlo, esta Parte adotará as medidas
legislativas e outras que se revelem necessárias para obrigar essa pessoa a conservar e
proteger a integridade dos referidos dados durante um período de tempo tão longo quanto
necessário, até um máximo de 90 dias, de modo a permitir às autoridades competentes obter
a sua divulgação. Uma Parte pode prever que essa injunção seja subsequentemente renovada.
3. Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras que se revelem necessárias para
obrigar o responsável pelos dados, ou outra pessoa encarregada de os conservar a manter
segredo sobre a execução dos referidos procedimentos durante o período previsto pelo seu
direito interno.

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4. Os poderes e procedimentos referidos no presente artigo devem estar sujeitos aos


artigos 14º e 15º.
Artigo 17º – Conservação expedita e divulgação parcial de dados de tráfego 1. A fim de
assegurar a conservação de dados relativos ao tráfego em aplicação do artigo 16º, cada Parte
adotará as medidas legislativas e outras que se revelem necessárias, para:
a) Assegurar a conservação rápida desses dados de tráfego, quer tenham participado na
transmissão dessa comunicação um ou vários fornecedores de serviços; e
b) Assegurar a divulgação rápida à autoridade competente da Parte ou a uma pessoa
designada por essa autoridade, de uma quantidade de dados de tráfego, suficiente para per-
mitir a identificação dos fornecedores de serviços e da via através do qual a comunicação
foi efetuada.
2. Os poderes e procedimentos referidos no presente artigo devem estar sujeitos aos
artigos 14º e 15º
(…)
Título 4 – Busca e Apreensão de dados informáticos armazenados Artigo 19º – Busca e
apreensão de dados informáticos armazenados
1. Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras que se revelem necessárias para
habilitar as suas autoridades competentes para proceder a buscas ou aceder de modo seme-
lhante: a) A um sistema informático ou a uma parte do mesmo, bem como a dados informá-
ticos que nele se encontrem armazenados; e b) A um suporte que permita armazenar dados
informáticos.
2. Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras que se revelem necessárias para
assegurar que, nos casos em que as suas autoridades procedam a buscas ou acedam de
forma semelhante a um sistema informático específico ou a uma parte do mesmo, em con-
formidade com o disposto no n.º 1, a), e tenham razões para pensar que os dados procurados
se encontram armazenados noutro sistema informático ou numa parte do mesmo situado
no seu território, e que esses dados são legalmente acessíveis a partir do sistema inicial ou
obteníveis a partir desse sistema inicial, as referidas autoridades estejam em condições de
estender de forma expedita a busca, ou o acesso de forma semelhante ao outro sistema.
3. Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras que se revelem necessárias para
habilitar as suas autoridades competentes para apreender ou para obter de forma semelhante
os dados informáticos relativamente aos quais o acesso foi realizado em aplicação dos n.ºs
1 ou 2. Essas medidas incluem as prerrogativas seguintes: a) Apreender ou obter de forma
semelhante um sistema informático ou uma parte deste ou um suporte de armazenamento
informático; b) Realizar e conservar uma cópia desses dados informáticos; c) Preservar a
integridade dos dados informáticos pertinentes armazenados; e d) Tornar inacessíveis ou
eliminar esses dados do sistema informático acedido.

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4. Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras que se revelem necessárias para
habilitar as suas autoridades competentes a ordenar a qualquer pessoa que conheça o funcio-
namento do sistema informático ou as medidas utilizadas para proteger os dados informáticos
nele contidos, que forneça na medida do razoável as informações razoavelmente necessárias,
para permitir a aplicação das medidas previstas nos n.s 1 e 2. 5. Os poderes e procedimentos
referidos no presente artigo devem estar sujeitos aos artigos 14º e 15º.
Título 5 – Recolha em tempo real de dados informáticos
Artigo 20º – Recolha em tempo real de dados relativos ao tráfego 1. Cada Parte adotará
as medidas legislativas e outras que se revelem necessárias para habilitar as suas autorida-
des competentes a: a) Recolher ou registar, através da aplicação de meios técnicos existen-
tes no seu território, e b) Obrigar um fornecedor de serviços, no âmbito da sua capacidade
técnica existente, a: i. Recolher ou registar por meio da aplicação de meios técnicos no seu
território, ou ii. Prestar às autoridades competentes o seu apoio e assistência para recolher
ou registar, em tempo real, dados de tráfego relativos a comunicações específicas no seu
território transmitidas através de um sistema informático. 2. Quando uma Parte, em virtude
dos princípios estabelecidos pela sua ordem jurídica interna, não pode adotar as medidas
descritas no n. 1, alínea a), pode, em alternativa, adotar as medidas legislativas e outras que
se revelem necessárias para assegurar a recolha ou o registo em tempo real dos dados de
tráfego associados a comunicações específicas transmitidas no seu território através da
aplicação de meios técnicos existentes nesse território. 3. Cada Parte adotará as medidas
legislativas e outras que se revelem necessárias para obrigar um fornecedor de serviços a
manter secreto o facto de qualquer um dos poderes previstos ter sido executado, bem como
qualquer informação a esse respeito.
4. Os poderes e procedimentos referidos no presente artigo devem estar sujeitos aos
artigos 14º e 15º.
Artigo 21º – Intercepção de dados relativos ao conteúdo
1. Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras que se revelem necessárias para
habilitar as suas autoridades competentes relativamente a um leque de infracções graves, a
definir em direito interno, a:
a) Recolher ou registar, através da aplicação de meios técnicos existentes no seu território, e
b) Obrigar um fornecedor de serviços, no âmbito da sua capacidade técnica existente, a: i.
Recolher ou registar através da aplicação de meios técnicos no seu território, ou ii. Prestar às
autoridades competentes o seu apoio e a sua assistência para recolher ou registar, em tempo
real, dados relativos ao conteúdo de comunicações específicas no seu território, transmitidas
através de um sistema informático.
2. Quando a Parte em virtude dos princípios estabelecidos pela sua ordem jurídica interna,
não pode adotar as medidas descritas no n.º 1, alínea a), pode, em alternativa, adotar as me-
didas legislativas e outras que se revelem necessárias, para assegurar a recolha ou o registo

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em tempo real dos dados relativos ao conteúdo associados a comunicações específicas trans-
mitidas no seu território através da aplicação de meios técnicos existentes nesse território.
3. Cada Parte adotará as medidas legislativas e outras que se revelem necessárias, para
obrigar um fornecedor de serviços a manter secreto o facto de qualquer um dos poderes pre-
vistos no presente artigo ter sido executado, bem como qualquer informação a esse respeito.
4. Os poderes e procedimentos referidos no presente artigo devem estar sujeitos aos
artigos 14º e 15º
(…)
Artigo 26º – Informação espontânea
1. Uma Parte pode, dentro dos limites da sua legislação nacional e na ausência de pedido
prévio, comunicar a outra Parte informações obtidas no quadro das suas próprias investiga-
ções, sempre que considerar que isso pode ajudar a Parte destinatária a iniciar ou a levar a
cabo investigações ou procedimentos relativos a infracções penais, estabelecidas em con-
formidade com a presente Convenção, ou sempre que essas informações possam conduzir
a um pedido formulado por essa Parte, nos termos do presente Capítulo.
2. Antes de comunicar essas informações, a Parte que as fornece pode solicitar que as
mesmas permaneçam confidenciais ou apenas sejam utilizadas em determinadas condições.
Caso a Parte destinatária não puder dar satisfação a esse pedido, deve informar a outra Parte
desse facto que determinará se as informações devem, contudo, ser fornecidas. Se a Parte
destinatária aceitar a informação nas condições estipuladas, fica obrigada a observar essas
condições.
Artigo 33º – Auxílio mútuo relativamente à recolha de dados de tráfego em tempo real 1.
As Partes concederão entre si o auxílio mútuo no que diz respeito à recolha, em tempo real,
de dados de tráfego associados a comunicações específicas transmitidas no seu território
por meio de um sistema informático. Sem prejuízo do disposto no n. 2, esse auxílio regular-
-se-á pelas condições e procedimentos previstos em direito interno. 2. Cada Parte concederá
o auxílio pelo menos no que diz respeito às infracções penais relativamente às quais seria
possível a recolha ao nível interno a recolha em tempo real dos dados de tráfego em caso
semelhante. Artigo 34º – Auxílio mútuo em matéria de intercepção de dados de conteúdo
As Partes concederão auxílio judiciário mútuo, na medida em que é permitido pelos tratados
e pelas legislações aplicáveis no que diz respeito à recolha ou ao registo, em tempo real,
de dados relativos ao conteúdo de comunicações específicas transmitidas por meio de um
sistema informático.
Título 3 – Rede 24/7
Artigo 35º – Rede 24/7
1. Cada Parte designará um ponto de contacto disponível 24 horas sobre 24 horas, 7
dias por semana, a fim de assegurar a prestação de assistência imediata a investigações ou
procedimentos respeitantes a infracções penais relacionadas com dados e sistemas infor-

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máticos, ou a fim de recolher provas, sob forma electrónica, de uma infracção penal. O auxílio
incluirá a facilitação, ou se o direito e práticas internas o permitirem, a aplicação direta das
seguintes medidas:
a) A prestação de aconselhamento técnico;
b) A conservação de dados em conformidade com os artigos 29º e 30º; e
c) A recolha de provas, informações de carácter jurídico e localização de suspeitos.
2. a) O ponto de contacto de uma Parte deve ter capacidade técnica para corresponder-se
com o ponto de contacto de outra Parte de uma forma rápida; b) Se o ponto de contacto de-
signado por uma Parte não depender da autoridade ou autoridades dessa Parte responsáveis
pela cooperação internacional ou extradição dessa Parte, o ponto de contacto assegurará que
pode agir em coordenação com essa ou essas autoridades de forma rápida. 3. Cada Parte
assegurará que pode dispor de pessoal formado e equipado a fim de facilitar o funcionamen-
to da rede.
E já temos uma singela questão a respeito!

017. (CESPE/ABIN/OFICIAL DE INTELIGÊNCIA – ÁREA 1/2018/ATUALIZADA) Com relação


ao terrorismo e à segurança cibernética, julgue o item a seguir.
A Convenção de Budapeste — ou Convenção sobre Cibercrime —, negociada no âmbito da União
Europeia (UE) em 2001, é, no presente, o instrumento de caráter vinculante e jurídico para a
cooperação internacional voltada para a prevenção e o combate ao crime cibernético.

Isso porque o Decreto Legislativo entrou em vigor agora no fim de 2021. O gabarito oficial, da
prova de 2018 seria ERRADO.
Certo.

Criptoativos
Igual à parte inicial dos crimes digitais, vamos precisar aqui de um miniglossário:
Criptoativo pode ser associado à ideia de moeda, como meio de substituição da troca direta
entre bens e serviços e funciona como representação de valor (mercadorias, convencionais,
fiduciárias- ligadas a uma autoridade central).
No criptoativo, o valor vem da escassez e da procura. Não há autoridade central: The
Nakamoto payment model is based on “payments to be sent directly from one party to ano-
ther without going through a financial institution” (…) “Instead of trusting a single custodian,

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system-wide consensus is reached by an evergrowing proof of computational work. Arguably,


this technology has the potential for disintermediation and disruption. (Nakamoto 2008).
Em tradução livre: O modelo de pagamento da Nakamoto é baseado em “pagamentos a
serem enviados diretamente de uma parte para outra sem passar por uma instituição financeira”
(…) “Em vez de confiar em um único custodiante, o consenso em todo o sistema é alcançado
por uma prova cada vez maior de trabalho computacional. Indiscutivelmente, essa tecnologia
tem o potencial de desintermediação e disrupção.
Hardware: rede de computadores distribuída (P2P), sem uma autoridade central.
Software um gerador de chaves aleatórias; o livro-razão público e distribuído, também
chamado de blockchain e de ledger público.
Chave privada: Um número aleatório de 78 dígitos. Ou uma sequência alfanumérica de
51 caracteres.

EXEMPLO
§2253723355774722335514752419334321201576740247621632 658033392892734079982402;
§5JjwSXrkyidrvgvuJumSq8wdkW7hrbYzp9iN9zh6zbCKrhFEh5D (mesma chave, com outra
codificação).

A chave pública tem o mesmo formato da chave privada e com ela compõe um par e que
deve ser usado para movimentação dos criptoativos:

Criptografia significa, etimologicamente, escrita oculta. Consiste em um método para embaralhar


uma mensagem de modo que somente quem conheça o código de embaralhamento possa acessar
o significado e o conteúdo da mensagem, cf. TRINDADE e VEIRA (2020).

Hash: funciona como a assinatura, o rastreio dos arquivos (não apenas em criptoativos):
é o que assegura a integridade e a higidez da informação1.

1
TRINDADE e VEIRA (2020): O que se passa agora a descrever é o processo pelo qual se assina digitalmente um documento.
A maioria dos passos aqui descritos ocorrem dentro do computador, e não são vistos pelo usuário. Sua compreensão, no
entanto, é crucial para que se possa compreender e se posicionar criticamente acerca dos aspectos juridicamente relevantes
do tema. Assim, importante ressaltar que a assinatura digital de um documento implica duas etapas. Na primeira, utiliza-se
um processo matemático, denominado algoritmo hash, para produzir um resumo da mensagem (message digest). Este
resumo consiste numa série de números, letras e símbolos aparentemente sem sentido, porém matematicamente relacionado
com o documento que se está assinando. o. É altamente improvável que dois documentos diferentes resultem no mesmo
resumo. A segunda etapa consiste em criptografar o resumo do documento. O usuário autoriza o computador a utilizar a
sua chave privada para realizar uma operação matemática que criptografa, embaralha, o resumo. O resumo do documento,

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Esses números são guardados em carteiras (wallets) que podem ser hotwallets (online)
e as coldwallets (offline), que pode ser até um pedaço de papel.
Cada transação para transferência de valor de uma parte a outra é feita por um bloco que
demanda o uso das chaves e que é validado pela comunidade e se adiciona a uma corrente
de outros dados, imutável, o que dá o nome a uma expressão muito conhecida, o blockchain.
Graficamente:

https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.moneycontrol.com%2Fnews%2Fbusiness%-
2Fpersonal-finance%2Fbitcoin-part-1-heres-how-the-cryptocurrency-works-6400621.html&psig=AOvVaw05tg-
Qm-EDqSzPbeoKLBvh4&ust=1642541007828000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwiCq9ab3Ln1AhUyI-
bkGHaTlCd4Qr4kDegUIARCtAQ

criptografado, pode ser considerado a assinatura propriamente dita. Uma vez assinado o documento, este será enviado ao
destinatário. O que se envia ao destinatário é o documento, seu resumo criptografado e a chave pública, esta que deverá ser
utilizada para verificar a autenticidade da assinatura e a integridade do documento. Ao receber a mensagem, o computador
do destinatário também executa duas etapas para promover a verificação da assinatura. Em primeiro lugar, identifica-se o
processo matemático utilizado para criar o resumo do documento e, utilizando este mesmo processo, cria-se um resumo
do documento. A seguir, utilizando-se a chave pública do remetente, o computador decripta, desembaralha o resumo crip-
tografado do documento. Se estes dois resumos gerados pelo computador do destinatário forem idênticos, está provado
que o documento recebido foi gerado pelo titular daquela chave pública, e que este documento não foi alterado durante a
transmissão. Se uma única vírgula for modificada, os dois resumos não serão coincidentes, o que acusará a adulteração do
documento. O processo acima referido, em que se utiliza a chave privada para assinar o documento e a chave pública para
verificar a autenticidade da assinatura, atesta a autoria do mesmo, permite identificar a origem do documento, assim como
que este não foi adulterado. Porém, se alguém interceptá-lo no trajeto entre remetente e destinatário, terá acesso a todo o
seu conteúdo, embora não possa modificá-lo, pois se assim o fizesse, a conferência detectaria a modificação

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Pode-se conceituar bockchain: meio de armazenar informação que pelo formato de con-
senso é extremamente difícil, essencialmente, impossível de ser modificado.
Mineração é o processo de obter criptomoedas pela resolução de equações criptografadas
(validadas pela comunidade) com uso de supercomputadores. (além de fazer as provas de
validação – 1MB de outras transações, o que pode gerar pagamento).
São investidos muitos dados e muita energia elétrica (o que levantam questionamento se
os criptoativos atende às regras de ESG – environmental, social and governance” (ambiental,
social e governança, em português), o que pode ser ilustrado com a seguinte imagem de uma
“fazenda de mineração”:

https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.scmp.com%2Ftech%2Fpolicy%2Farticle%-
2F3005334%2Fchina-home-worlds-biggest-cryptocurrency-mining-farms-now-wants-ban&psig=AOvVa-
w18vGELykJD1hlJdM1ASsVf&ust=1642541228741000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwjr44G-
F3bn1AhXdMbkGHRloDuAQr4kDegUIARC-AQ

NFT: non fungible token – ativo digital que representa aspectos da vida real, negociáveis
on line. Encriptado como as criptomoedas. O que os diferencia? A ideia de escassez, de infun-
gibilidade. Arte, GIF, fotos, vídeos, avatares, “tweets” (item digital de colecionador). Exemplo:

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Marketplace: local onde são vendidos NFTs. Exemplos: OpenSea.io, Rarible, Foundation.
ICO: como anotam TRINDADE e VEIRA (2020) [é] Initial Coin Offerings (ou, como mais
conhecidas, ICOs), operação de emissão de criptoativos e outros ativos virtuais, sobretudo
para fins de transferência de recursos, captação de poupança pública e investimentos…”2.
Exchanges: quase como uma casa de câmbio, são as empresas que comercializam crip-
toativos. Dada a proposta disruptiva, formadora dos criptoativos, elas não são essenciais ao
negócio, mas, seja pela exigência em algumas localidades, seja pela garantia de validade da
negociação, seja por uma presunção da existência, por parte delas, de um KYC (know your
customer) adequado para prevenção da lavagem de capitais, elas são objeto de atenção e,
em alguns locais, de regulação pelo Estado.
Smart contracts: como se costuma brincar, não são smart, nem contracts! Trata-se, na
verdade, uma ferramenta tecnológica que permite a criação de contratos autoexecutáveis,
que não podem ser perdidos, nem adulterados. Volta-se para a noção inicial que comentamos
sobre os blocos e os blockchains. A funcionalidade permite a formação de blocos, o que as-
segura, após o consenso, a sua imutabilidade.

2
Ainda os autores: o mecanismo que vem sendo utilizado, por excelência, para tal fim é o chamado Initial Coin Offering ou
ICO, em analogia ao procedimento tradicional de Initial Public Offering ou IPO, por meio do qual as empresas dão início à
oferta de suas ações no mercado bursátil, isto é, quando abrem o seu capital social. A Comissão de Valores Mobiliários
descreve as ICOs como “captações públicas de recursos, tendo como contrapartida a emissão de ativos virtuais, também
conhecidos como tokens ou coins, em favor do público investidor”.39 As ICOs, geralmente, contam com um documento
base, denominado de white paper, com informações sobre o projeto, à semelhança do que ocorre com a necessidade de
prospecto no IPO, porém não são necessariamente técnicos. Normalmente, os white papers visam apenas a esclarecer o
objetivo do financiamento e o projeto a ser financiado, enquanto o prospecto de um IPO tem a obrigação de esclarecer os
fatores de risco e as perspectivas de rentabilidade do investimento, em atenção aos estritos regramentos da Comissão de
Valores Mobiliários

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Um bom exemplo dado nos meios de comunicação:

EXEMPLO
“...vamos supor que você queira redigir um testamento dentro de um smart contract. Um advo-
gado redige esse contrato em linguagem natural e um desenvolvedor de sistemas transcreve
essas informações em linguagem de programação. Você descreve todos os seus ativos, os
seus herdeiros e as suas respectivas contas e quanto cada um irá receber assim que você for
dessa pra melhor. Quando o seu atestado de óbito for publicado na rede, a transmissão dos bens
acontece de forma automática, rápida, sem burocracia, com os devidos impostos já pagos e
com poucos custos comparado a um testamento tradicional. Isso porque todos os participantes
envolvidos na transmissão do patrimônio estão conectados em um sistema único e integrado”.
https://exame.com/future-of-money/o-que-sao-smart-contracts/

Em outras palavras:

Os Smart contracts são contratos desenvolvidos por programas computacionais, que determinam
a execução de determinada atividade, no momento em que implementada a condição estipulada
pelos contraentes. Caracterizam-se pela capacidade de autoexecutabilidade e auto-aplicabilidade
(BASHIR, 2017).

Falamos sobre aspectos práticos e até mesmo técnicos, mas, afinal, qual a natureza jurídica
dos criptoativos? Os Estados Unidos deram alguns passos sobre o tema e possui oscilações
na sua caracterização como commodity (bem de consumo, ou insumo), como security (valor
mobiliário) ou como currency (moeda).
Além dos impactos sobre quem seriam as agências (ainda mais no caso dos Estados
Unidos em que há diversas) com atribuição, surgem ainda os impactos, por exemplo, em
matéria de tributação, em atribuição para imposição de regras de KYC (know your customer)
para as exchanges, em matéria de prevenção à lavagem de dinheiro.
Com relação às ICOs, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e o Ministério Público
Federal (MPF) acompanham dezenas de casos, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos,
em que o lançamento da moeda é ficto e funciona, na verdade, como esquema de pirâmide
(também chamado de esquema Ponzi)
O Brasil ainda não tem uma definição clara da natureza jurídica. O julgado a seguir evi-
dencia isso:

JURISPRUDÊNCIA
[…] INVESTIGADO QUE ATUAVA COMO TRADER DE CRIPTOMOEDA (BITCOIN), OFERE-
CENDO RENTABILIDADE FIXA AOS INVESTIDORES. […] OPERAÇÃO QUE NÃO ESTÁ REGU-
LADA PELO ORDENAMENTO JURÍDICO PÁTRIO. BITCOIN QUE NÃO TEM NATUREZA DE
MOEDA NEM VALOR MOBILIÁRIO.
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INFORMAÇÃO DO BANCO CENTRAL DO BRASIL (BCB) E DA COMISSÃO DE VALORES


MOBILIÁRIOS (CVM). INVESTIGAÇÃO QUE DEVE PROSSEGUIR, POR ORA, NA JUSTIÇA
ESTADUAL, PARA APURAÇÃO DE OUTROS CRIMES, INCLUSIVE DE ESTELIONATO E
CONTRA A ECONOMIA POPULAR.
(STJ, CC 161.123/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 28/11/2018, DJe 05/12/2018)

Sem embargo dessa indefinição, segue uma compilação de julgados sobre a matéria:

JURISPRUDÊNCIA
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
AÇÃO DE COMPENSAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. INVASÃO DE HACKER À
CONTA DE E-MAIL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA.
PROVA PERICIAL. INDEFERIMENTO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADO.
INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA CONCENTRAÇÃO DA DEFESA. AFETAÇÃO APENAS
DAS QUESTÕES DE FATO. IMPOSIÇÃO DE RECUPERAÇÃO DE MENSAGENS EXCLUÍDAS.
IMPOSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA NÃO SURPRESA.
INOCORRÊNCIA. TRANSFERÊNCIA DE BITCOINS. DANOS MATERIAIS. NEXO DE CAUSA-
LIDADE NÃO CONFIGURADO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
MAJORAÇÃO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. ASTREINTES. REVISÃO.
DESCABIMENTO (SÚMULA 7/STJ).
1. Ação de compensação de danos materiais e morais ajuizada em 10/10/2017, da qual
foi extraído o presente recurso especial interposto em 20/03/2020 e concluso ao gabi-
nete em 24/08/2020.
2. O propósito recursal consiste em definir se a) houve negativa de prestação jurisdicional;
b) o dever de fundamentar o indeferimento do pedido de produção de prova foi observado;
c) a parte recorrida atendeu ao princípio da concentração da defesa e quais os efeitos
decorrentes de eventual descumprimento; d) o provedor de aplicação tem a obrigação
legal de recuperar as informações deletadas; e) foi prolatada decisão surpresa; f) é cabí-
vel a responsabilização da recorrida pelos danos materiais consistentes na transferên-
cia de bitcoins realizada por hacker; g) o quantum arbitrado a título de indenização por
danos morais comporta revisão e h) o valor do teto fixado para as astreintes é irrisório.
3. É firme a orientação desta Corte de que o órgão julgador não é obrigado a rebater, um
a um, todos os argumentos trazidos pelas partes em defesa das teses apresentadas.
Deve apenas enfrentar a demanda, observando as questões relevantes e imprescindíveis
à sua resolução.
4. O art. 370, parágrafo único, do CPC/2015 cristaliza os princípios da persuasão racional
e da livre admissibilidade da prova, autorizando o juiz a indeferir as diligências inúteis

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ou meramente protelatórias. Assim, a decisão que indefere a prova pericial com funda-
mento na sua inutilidade para a resolução do litígio está em conformidade com esse
dispositivo legal.
5. O princípio da concentração da defesa ou da eventualidade impõe ao réu o ônus de
impugnar, especificadamente, as alegações de fato formuladas pelo autor, sob pena de
serem havidas como verdadeiras (art. 341 do CPC/2015). A presunção de veracidade
decorrente da ausência de impugnação, todavia, é relativa, não impedindo que o julgador,
à luz das provas produzidas no processo, forme livremente a sua convicção, bem como
atinge apenas as questões de fato.
6. No Marco Civil da Internet, há apenas duas categorias de dados que devem ser obri-
gatoriamente armazenados: os registros de conexão (art. 13) e os registros de acesso
à aplicação (art. 15). A restrição dos dados a serem armazenados pelos provedores de
conexão e de aplicação visa a garantir a privacidade e a proteção da vida privada dos
cidadãos usuários da Internet. Não há, assim, previsão legal atribuindo aos provedores
de aplicações que oferecem serviços de e-mail, como é o caso da recorrida, o dever de
armazenar as mensagens recebidas ou enviadas pelo usuário e que foram deletadas.
7. “O enunciado processual da “não surpresa” não implica exigir do julgador que toda
solução dada ao deslinde da controvérsia seja objeto de consulta às partes antes da
efetiva prestação jurisdicional, mormente quando já lhe foi oportunizada manifestação
acerca do ponto em discussão” (AgInt no REsp 1841905/MG, DJe 02/09/2020).
8. As criptomoedas utilizam a tecnologia blockchain, a qual é baseada na confiança na
rede e viabiliza, de forma inovadora, a realização de transações online sem a necessidade
de um intermediário. O funcionamento das criptomoedas é complexo e, entre outros
mecanismos, envolve algoritmos e criptografia de ponta a ponta. O acesso à carteira de
bitcoins, para a consulta das moedas virtuais e realização de operações, somente pode
ser realizado mediante a utilização de senha específica (chave privada), de modo que
não deve ser revelada pelo usuário.
9. Na espécie, é incontroverso que o recorrente teve a sua conta de e-mail invadida por
um hacker, o qual também acessou a sua carteira de bitcoins e transferiu criptomoedas
para a conta de outro usuário. Todavia, é descabida a atribuição de responsabilidade à
recorrida por tais danos materiais, porquanto, ainda que a gerenciadora adote o sistema
de dupla autenticação, qual seja, digitação da senha e envio, via e-mail, do link de acesso,
a simples entrada neste é insuficiente para propiciar o ingresso na carteira e virtual e,
consequentemente, a transação das cryptocoins. Logo, a ausência de nexo causal entre
o dano e a conduta da recorrida obsta a atribuição a esta da responsabilidade pelo pre-
juízo material experimentado pelo recorrente.
10. A modificação do valor fixado a título de danos morais somente é permitida quando
a quantia estipulada for irrisória ou exagerada.

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Precedentes. Na hipótese, o valor arbitrado não se revela irrisório, o que impede a sua
revisão por esta Corte.
11. A revisão do valor das astreintes só pode ser realizada em sede de recurso especial
nos casos em que se mostrar irrisório ou exorbitante, sob pena de ofensa ao enunciado
da Súmula 7/STJ.
Precedentes. A adequação do montante fixado deve ser aferida tendo em conta a pres-
tação que ela objetiva o devedor a cumprir. Na espécie, o valor estabelecido como teto
para a multa não se revela irrisório, sobretudo porque fora fixada como forma de compelir
a recorrida a fornecer as informações necessárias à identificação do invasor da conta
de e-mail do recorrente, não guardando relação direta com o pleito de condenação ao
pagamento de indenização por danos materiais.
12. Entre os acórdãos trazidos à colação não há o necessário cotejo analítico nem a com-
provação da similitude fática, elementos indispensáveis à demonstração da divergência.
13. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, não provido.
(REsp 1885201/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
23/11/2021, DJe 25/11/2021) – não responsabilidade da exchange por guarda negli-
gente das chaves privadas
HABEAS CORPUS. OPERAÇÃO EGYPTO. SUPOSTA INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDE-
RAL. MANIFESTA IMPROCEDÊNCIA. CASO QUE OSTENTA CONTORNOS DISTINTOS DO
CC N. 161.123/SP (TERCEIRA SEÇÃO). DENÚNCIA OFERTADA, NA QUAL É NARRADA
A EFETIVA OFERTA DE CONTRATO COLETIVO DE INVESTIMENTO ATRELADO À ESPE-
CULAÇÃO NO MERCADO DE CRIPTOMOEDA. VALOR MOBILIÁRIO (ART 2º, IX, DA LEI N.
6.385/1976). INCIDÊNCIA DOS CRIMES PREVISTOS NA LEI N. 7.492/1986. COMPETÊN-
CIA DA JUSTIÇA FEDERAL (ART.
26 DA LEI N. 7.492/1986), INCLUSIVE PARA PROCESSAR OS DELITOS CONEXOS (SÚMULA
122/STJ).
1. A Terceira Seção desta Corte decidiu que a operação envolvendo compra ou venda de
criptomoedas não encontra regulação no ordenamento jurídico pátrio, pois as moedas
virtuais não são tidas pelo Banco Central do Brasil (BCB) como moeda, nem são consi-
deradas como valor mobiliário pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), não carac-
terizando sua negociação, por si só, os crimes tipificados nos arts. 7º, II, e 11, ambos da
Lei n. 7.492/1986, nem mesmo o delito previsto no art. 27-E da Lei n. 6.385/1976 (CC n.
161.123/SP, DJe 5/12/2018).
2. O incidente referenciado foi instaurado em inquérito (não havia denúncia formalizada)
e a competência da Justiça estadual foi declarada exclusivamente considerando os
indícios colhidos até a instauração do conflito, bem como o dissenso verificado entre
os Juízes envolvidos, sendo que nenhum deles cogitou que o contrato celebrado entre
o investigado e as vítimas consubstanciaria um contrato de investimento coletivo.

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3. O caso dos autos não guarda similitude com o precedente, pois já há denúncia ofer-
tada, na qual foi descrita e devidamente delineada a conduta do paciente e dos demais
corréus no sentido de oferecer contrato de investimento coletivo, sem prévio registro de
emissão na autoridade competente.
4. Se a denúncia imputa a efetiva oferta pública de contrato de investimento coletivo
(sem prévio registro), não há dúvida de que incide as disposições contidas na Lei n.
7.492/1986, notadamente porque essa espécie de contrato consubstancia valor mobi-
liário, nos termos do art. 2º, IX, da Lei n. 6.385/1976.
5. Interpretação consentânea com o órgão regulador (CVM), que, em situações análo-
gas, nas quais há oferta de contrato de investimento (sem registro prévio) vinculado à
especulação no mercado de criptomoedas, tem alertado no sentido da irregularidade,
por se tratar de espécie de contrato de investimento coletivo.
6. Considerando os fatos narrados na denúncia, especialmente os crimes tipificados nos
arts. 4º, 5º, 7º, II, e 16, todos da Lei n.
7.492/1986, é competente o Juízo Federal para processar a ação penal (art. 26 da Lei n.
7.492/1986), inclusive no que se refere às infrações conexas, por força do entendimento
firmado no Enunciado Sumular n. 122/STJ.
7. Ordem denegada.
(HC 530.563/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
05/03/2020, DJe 12/03/2020)
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. PRETENSÃO EXARADA POR
EMPRESA QUE EFETUA INTERMEDIAÇÃO DE COMPRA E VENDA DE MOEDA VIRTUAL
(NO CASO, BITCOIN) DE OBRIGAR A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA A MANTER CONTRATO
DE CONTA-CORRENTE. ENCERRAMENTO DE CONTRATO, ANTECEDIDO POR REGULAR
NOTIFICAÇÃO. LICITUDE. RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. 1. As razões recursais, objeto
da presente análise, não tecem qualquer consideração, sequer “an passant”, acerca do
aspecto concorrencial, em suposta afronta à ordem econômica, suscitado em memoriais
e em sustentação oral, apenas. A argumentação retórica de que todas as instituições
financeiras no país teriam levado a efeito o proceder da recorrida # único banco acio-
nado na presente ação #, ou de que haveria obstrução à livre concorrência # inexistindo,
para esse efeito, qualquer discussão quanto ao fato de que o Banco recorrido sequer
atuaria na intermediação de moedas virtuais #, em nenhum momento foi debatida nos
autos, tampouco demonstrada, na esteira do contraditório, razão pela qual não pode ser
conhecida.
1.1 De igual modo, não se poderia conhecer da novel alegação de inviabilização do
desenvolvimento da atividade de corretagem de moedas virtuais # a qual pressupõe ou
que o banco recorrido detivesse o monopólio do serviço bancário de conta-corrente ou
que todas as instituições financeiras atuantes nesse segmento (de expressivo número)

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tivessem adotado o mesmo proceder da recorrida #, se tais realidades não foram em


momento algum aventadas, tampouco retratadas nos presentes autos.
1.2 Essas matérias hão de ser enfrentadas na seara administrativa competente ou em
outro recurso especial, caso, necessariamente, sejam debatidas na origem e devolvidas
ao conhecimento do Superior Tribunal de Justiça, o que não se deu na hipótese, ressal-
tando-se, para esse efeito, que memoriais ou alegações feitas da Tribuna não se prestam
para configurar prequestionamento. 2. O serviço bancário de conta-corrente afigura-se
importante no desenvolvimento da atividade empresarial de intermediação de compra e
venda de bitcoins, desempenhada pela recorrente, conforme ela própria consigna, mas
sem repercussão alguma na circulação e na utilização dessas moedas virtuais, as quais
não dependem de intermediários, sendo possível a operação comercial e/ou financeira
direta entre o transmissor e o receptor da moeda digital. Nesse contexto, tem-se, a toda
evidência, que a utilização de serviços bancários, especificamente o de abertura de con-
ta-corrente, pela insurgente, dá-se com o claro propósito de incrementar sua atividade
produtiva de intermediação, não se caracterizando, pois, como relação jurídica de con-
sumo # mas sim de insumo #, a obstar a aplicação, na hipótese, das normas protetivas
do Código de Defesa do Consumidor. 3. O encerramento do contrato de conta-corrente,
como corolário da autonomia privada, consiste em um direito subjetivo exercitável por
qualquer das partes contratantes, desde que observada a prévia e regular notificação.
3.1 A esse propósito, destaca-se que a Lei n.
4.595/1964, recepcionada pela Constituição Federal de 1988 com status de lei comple-
mentar e regente do Sistema Financeiro Nacional, atribui ao Conselho Monetário Nacio-
nal competência exclusiva para regular o funcionamento das instituições financeiras
(art. 4º, VIII). E, no exercício dessa competência, o Conselho Monetário Nacional, por
meio da edição de Resoluções do Banco Central do Brasil que se seguiram, destinadas a
regulamentar a atividade bancária, expressamente possibilitou o encerramento do con-
trato de conta de depósitos, por iniciativa de qualquer das partes contratantes, desde
que observada a comunicação prévia. A dicção do art. 12 da Resolução BACEN/CMN
n. 2.025/1993, com a redação conferida pela Resolução BACEN/CMN n. 2.747/2000, é
clara nesse sentido.
4. Atendo-se à natureza do contrato bancário, notadamente o de conta-corrente, o qual
se afigura intuitu personae, bilateral, oneroso, de execução continuada, prorrogando-se
no tempo por prazo indeterminado, não se impõe às instituições financeiras a obrigação
de contratar ou de manter em vigor específica contratação, a elas não se aplicando o art.
39, II e IX, do Código de Defesa do Consumidor. Revela-se, pois, de todo incompatível com
a natureza do serviço bancário fornecido, que conta com regulamentação específica,
impor-se às instituições financeiras o dever legal de contratar, quando delas se exige,
para atuação em determinado seguimento do mercado financeiro, profunda análise de

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aspectos mercadológico e institucional, além da adoção de inúmeras medidas de segu-


rança que lhes demandam o conhecimento do cliente bancário e de reiterada atualização
do seu cadastro de clientes, a fim de minorar os riscos próprios da atividade bancária.
4.1 Longe de encerrar abusividade, tem-se por legítima, sob o aspecto institucional, a
recusa da instituição financeira recorrida em manter o contrato de conta-corrente, uti-
lizado como insumo, no desenvolvimento da atividade empresarial, desenvolvida pela
recorrente, de intermediação de compra e venda de moeda virtual, a qual não conta com
nenhuma regulação do Conselho Monetário Nacional (em tese, porque não possuiriam
vinculação com os valores mobiliários, cuja disciplina é dada pela Lei n. 6.385/1976). De
igual modo, sob o aspecto mercadológico, também se afigura lídima a recusa em manter
a contratação, se, conforme sustenta a própria insurgente, sua atividade empresarial se
apresenta, no mercado financeiro, como concorrente direta e produz impacto no fatura-
mento da instituição financeira recorrida. Desse modo, o proceder levado a efeito pela
instituição financeira não configura exercício abusivo do direito.
5. Não se exclui, naturalmente, do crivo do Poder Judiciário a análise, casuística, de even-
tual desvirtuamento no encerramento do ajuste, como o inadimplemento dos deveres
de informação e de transparência, ou a extinção de uma relação contratual longeva, do
que, a toda evidência, não se cuida na hipótese ora vertente.
Todavia, o propósito de obter o reconhecimento judicial da ilicitude, em tese, do encerra-
mento do contrato, devidamente autorizado pelo órgão competente para tanto, evidencia,
em si, a improcedência da pretensão posta.
6. Recurso especial improvido.
(REsp 1696214/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado
em 09/10/2018, DJe 16/10/2018)

Vamos à resolução de questões?

018. (INÉDITA/2022) Blockchain é o local em que se registram e se armazenam as transações


de criptomoedas, como Bitcoin.

Essa é a definição mais simples de blockchain. Cada transação forma um bloco que, em cadeia,
constitui um blockchain
Certo.

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019. (INÉDITA/2022) Blockchain é a ferramenta de inteligência artificial responsável pela


mineração de criptomoedas, como a bitcoin.

Blockchain é apenas o local em que se registram e se armazenam as transações de criptomoe-


das, como Bitcoin. Cada transação faz um bloco, que, encadeado a outros, forma um blockchain.
Errado.

020. (CESPE/BANESE/TÉCNICO BANCÁRIO/2021/ADAPTADA) As criptomoedas são su-


periores a outros ativos tradicionais nos quesitos reserva de valor e prêmio de liquidez.

Afirmação errada porque a criptomoeda não tem reserva de valor extrínseca diferentemente
das moedas curso forçado.
Errado.

021. (MPE-SP/MPE-SP/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO/2022) A Lei no 11.340/2006,


conhecida como Lei Maria da Penha, é importante marco legal no enfrentamento e prevenção
à violência doméstica e familiar contra a mulher baseada no gênero, elencando as diversas
formas de violência (física, psicológica, sexual, patrimonial, moral), as quais encontram cor-
respondência típica na legislação penal. Assim, acerca dos delitos cometidos contra a mulher
no contexto dessa Lei, considere as afirmações:
I – a contravenção de vias de fato e os crimes de lesão corporal leve, de perseguição (stalking),
estupro, roubo majorado são de ação penal pública incondicionada;
II – os novos crimes contra a liberdade pessoal previstos no art. 147-A e art. 147-B, ambos do CP,
nominados, respectivamente, de perseguição (stalking) e violência psicológica contra a mulher,
têm como vítima a mulher, sendo a pena majorada se a ofendida é criança, adolescente ou idosa;
III – o crime de divulgação de cena de sexo e nudez, sem o consentimento da vítima maior de
18 anos, cometido por agente que tenha mantido relação íntima de afeto com a ofendida, com
o fim de vingança ou humilhação, é conhecido vulgarmente por revenge porn;
IV – a Lei no 9.099/95 não é aplicável, sendo possível o acordo de não persecução penal nos
crimes cometidos sem violência ou grave ameaça, com pena mínima inferior a quatro anos, em
que o agente confessou o delito;
V – o crime do art. 129, § 13, CP, é qualificado, refere-se somente às lesões corporais de na-
tureza leve, e tem como vítima apenas a mulher, por razões da condição do sexo feminino,

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podendo ser aplicado também fora do contexto da Lei Maria da Penha, uma vez preenchidos
os requisitos legais.
É correto o que se afirma somente nos itens
Alternativas
a) I, II e IV.
b) I, III e V.
c) I, II, III e IV.
d) III e V.
e) II e III.

A questão é bastante importante porque trata de três temas cibernéticos e ainda dialoga com
outras questões de direito pena,como o alcance do tratamento das questões fundadas em vio-
lência de gênero. Como sempre sugiro nessas questões de julgar as frases, peço para que se
olhem as afirmações repetidas nas alternativas e que podem abreviar demais a resolução. Essa
é uma das situações: veja, a frase I diz que o stalking é sujeito à ação pública incondicionada,
o que é falso. De saída, você já elmina as alternativas de A a C e nem precisa ler a III, que está
correta e nem a IV que não está nas alternativas. Resta avaliar a II e a V. A II está errada porque
o stalking não tem apenas a mulher como vítima
Letra d.

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lá no fórum. Estou esperando você por lá! Não existe dúvida pequena!

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Persecução Penal e Novas Tecnologias – Parte II
Marcelo Ribeiro

RESUMO

Nesta aula, você deve fixar os seguintes pontos:


1. Crimes virtuais em espécie: divulgação de cena de estupro de vulnerável, de cena de
sexo ou de pornografia, com o destaque para o chamado revenge porn;
2. Crimes virtuais em espécie, no ECA, com destaque para as questões relativas ao concurso
de crimes e da competência da justiça federal, nem sempre caracterizada, mas reconhecida,
na potencial utilização transnacional dos conteúdos;
3. Vimos a intervenção virtual, pautada em limitações temporais e no princípio da subsi-
diariedade, tanto na lei geral, quanto no ECA;
4. Abordamos a Convenção de Budapeste, recentemente incorporada, com destaques da
legislação. É um tema que tem tudo para ser explorado.
5. Visão geral sobre criptoativos, ainda um campo bastante movediço e com algumas
sinalizações que já podem ser extraídas da doutrina e da jurisprudência.

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Persecução Penal e Novas Tecnologias – Parte II
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REFERÊNCIAS
BASHIR, Imran. Mastering blockchain: distributed ledgers, decentralization and smart contracts
explained. Packt: Birmigham, UK, 2017.

HARTMANN, Ivar A. Regulação da internet e novos desafios da proteção de direitos constitucio-


nais: o caso do revenge porn. Revista de Informação Legislativa: RIL, v. 55, n. 219, p. 13-26, jul./
set. 2018. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/55/219/ril_v55_n219_p13>.

NAKAMOTO, Satoshi; BITCOIN, A. A peer-to-peer electronic cash system. Bitcoin. URL: https://
bitcoin. org/bitcoin. pdf, v. 4, 2008.

TRINDADE, Manoel Gustavo Neubarth; VEIRA, Márcio dos Santos. Criptoativos: conceito, clas-
sificação, regulação jurídica no Brasil e ponderações a partir do prisma da Análise Econômica
do Direito. Revista Jurídica Luso-Brasileira, Ano, v. 6, p. 867-928, 2020.

Marcelo Ribeiro
Procurador da República desde 2006. Atualmente, é Secretário Adjunto de Cooperação Internacional da
Procuradoria-Geral da República. Compõe o Grupo de Lavagem de Dinheiro do Ministério Público Federal
e da Comissão Permanente de Assessoramento em Leniência e Colaboração Premiada. Integrante
da delegação brasileira no Working Group on Bribery da OCDE 2017-2021. É bacharel e mestre pela
Universidade de Brasília e doutor pela Universidade de Lisboa.

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