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Direito Digital
Persecução Penal e Novas Tecnologias – Parte I
Marcelo Ribeiro
Sumário
Apresentação......................................................................................................................................................................3
Persecução Penal e Novas Tecnologias – Parte I.........................................................................................5
Introdução ao Tema e Conceitos Relevantes Cobrados em Concursos............................................5
Darkweb e Deepweb.....................................................................................................................................................16
Competência: Onde os Crimes Cibernéticos São Processados?......................................................... 22
Crimes Patrimoniais, nomeadamente, a Controvérsia entre Estelionato e Furto – o
Crime de Invasão a Dispositivo Informático. .................................................................................................. 28
Resumo................................................................................................................................................................................55
Referências........................................................................................................................................................................56
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Foco - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
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Persecução Penal e Novas Tecnologias – Parte I
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Apresentação
Caríssim@ alun@!
Espero que se encontre bem, que esteja mantendo seu ritmo de estudos e que esteja en-
frentando bem os desafios da pandemia, entre eles, a digitalização do mundo, algo que será
muito importante na nossa matéria! Para quem ainda não me conhece, sou Marcelo Ribeiro
de Oliveira, procurador da República desde 2006, pós-doutor pela Universidade de Salamanca,
doutor em Direito pela Universidade de Lisboa/Portugal, professor em algumas faculdades
no Brasil, na Escola Superior do Ministério Público da União e tenho a satisfação de integrar
o GRAN CURSOS e fazer este material que eu acredito que será relevante para o seu sucesso
nos concursos que virão.
Eu coloquei no começo o “@” e não o tradicional o(a) para me dirigir a você para já pas-
sar a “pegada” do nosso trabalho. Ele vai ser focado 100% paras as questões digitais e para
os desafios que a modernidade traz para o direito e, em particular, para o enfrentamento da
criminalidade.
E não se trata de uma questão filosófica, “viajante”, desconectada da realidade. A Reso-
lução 75/2009 do Conselho Nacional de Justiça, aprovada por unanimidade, inclui entre as
disciplinas obrigatórias o Direito Digital, assim especificado:
A) DIREITO DIGITAL
1 – 4ª Revolução industrial. Transformação Digital no Poder Judiciário. Tecnologia no contexto jurí-
dico. Automação do processo. Inteligência Artificial e Direito. Audiências virtuais. Cortes remotas.
Ciência de dados e Jurimetria. Resoluções do CNJ sobre inovações tecnológicas no Judiciário.
2 – Persecução Penal e novas tecnologias. Crimes virtuais e cibersegurança. Deepweb e Darkweb.
Provas digitais. Criptomoedas e Lavagem de dinheiro.
3 – Noções gerais de contratos Inteligentes, Blockchain e Algoritmos.
4 – LGPD e proteção de dados pessoais.
A partir de agora, esses temas serão explorados em nossas aulas, com enfoque no di-
reito penal.
Além disso, vários desses temas já estão caindo com frequência nos mais diversos con-
cursos públicos. É importante estar à frente da concorrência e este é o meu propósito: te
ajudar a chegar à tão sonhada aprovação.
Reforço a minha disposição e tenho certeza de que posso falar em nome de todo a equipe
do GRAN: vamos dar o máximo de dicas, teorias, exercícios, respondendo questões de pro-
vas anteriores e criando questões inéditas para que você se antecipe à banca examinadora.
Afinal, no direito (e, em particular, no mundo virtual!) estar atualizado e um passo à frente é
fundamental.
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Persecução Penal e Novas Tecnologias – Parte I
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Nesse ponto, este material poderia ser a sua bússola para a aprovação, mas sejamos
modernos: ele será seu app impresso com destino ao seu novo cargo.
As referências bibliográficas estarão presentes ao final do material e têm a finalidade de
permitir o aprofundamento nos temas, principalmente para as segundas fases. Temos mate-
riais em português e eu separei tudo aquilo que vale a pena, mas não dá para nos enganar:
nessa matéria inovadora, há muita coisa em inglês, o que não é essencial, mas ajuda bem a
encantar a banca!
Sim, o material terá transcrição de letra de lei! Para mim, é impossível vencer a fase objetiva
sem um razoável conhecimento dos textos legais e da jurisprudência dominante. O objetivo,
contudo, não é reproduzir tudo e te bombar de dados que você consegue sozinho!
O que vamos fazer é pegar as disposições, que já serão selecionadas, e destacar o mais
de importante delas, as cascas de banana e as excentricidades que podem ser usadas pe-
las bancas.
Além da bibliografia, no fim do material, ficarão as ementas, ou os trechos relevantes dos
julgados destacados no estudo, com referência cruzada ao tema a que se referem.
Tenha você, candidat@ (olha a arroba de novo!), toda a certeza de que o material foi pre-
parado com muito carinho e foco para o seu sucesso. Espero que o aprecie, o utilize e tire
suas dúvidas no Fórum do aluno e nos dê um feedback do que mais pode ser inserido ou do
que pode ser aprimorado!
Aperte os cintos! A viagem ao cyberespaço começa agora!
Um abraço,
Marcelo Ribeiro de Oliveira
@professor.marceloribeiro
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A resposta é praticamente todo tipo de crime, desde que você tenha em mente que o am-
biente virtual pode ser o meio pelo qual se comete o delito e pode, ainda, ser o objeto do delito.
Temos alguns casos bastante famosos que mostram isso que eu estou te contando agora.
Em 11 de dezembro de 2016, John Rivello, irritado com o jornalista Kurt Eichenwald por suas histó-
rias críticas sobre o suposto envolvimento com potenciais atividades criminosas de Donald Trump,
usou o Twitter @jew_goldstein para enviar um GIF (Graphic Interchange Format) – uma série de
imagens que são combinadas para criar uma animação para a conta do Twitter de Eichenwald.
Ao ver a imagem estroboscópica piscando, Eichenwald teve uma convulsão de 8 minutos que o
fez perder o controle de suas funções corporais e o deixou incapacitado por muitos dias. A esposa
de Eichenwald contatou a polícia.
Rivello achava que Eichenwald merecia ser punido por seus comentários e mensagens de texto
para amigos dizendo: “Enviamos este [GIF] com spam em [Eichenwald], vamos ver se ele morre.”
Rivello foi acusado pelo FBI de perseguição cibernética com a intenção de matar ou causar danos
corporais.
Um grande júri do Texas endossou a noção de que o GIF constituiu uma arma mortal no ataque
porque foi projetado para afetar condição física de Eichenwald.
O FBI também acusou Rivello de cometer um crime de ódio porque ele atacou Eichenwald com
base em sua identidade religiosa. O FBI identificou Rivello, apesar do uso de um celular descartável
e da conta no Twitter sem informações de identificação.
O mandado de busca do FBI mostrou que a conta do iCloud de Rivello continha uma captura de
tela de uma página da Wikipedia para a vítima, que foi alterada para mostrar um
obituário falso com a data da morte listada como 16 de dezembro de 2016. A conta iCloud de
Rivello também continha capturas de tela de epilepsy.com com uma lista de desencadeadores de
crises epilépticas comumente relatados.
(Traduzido e adaptado de: Broadhurst R., ‘Cybercrime: thieves, swindlers, bandits and privateers in
cyberspace’, in Cornish, Paul, ed. Handbook of Cybersecurity, Oxford University Press, forthcoming
2021).
Há ainda relatos de que entidades de proteção dos interesses de epiléticos sofrem reitera-
dos ataques, como podemos ver na obra Caution Social Media Cyberbullies: Identifying New
Harms and Liabilities, Jaffe, Elisabeth M. – Wayne L. Rev., 2020 – HeinOnline.
Este último texto ainda comenta a prática de racismo em May v. Chrysler Group, no qual
havia mensagens ameaçadoras na caixa de correio de funcionário da companhia. A questão
ali tomou contornos também da relação de emprego e da falha do empregador.
Esses crimes, ou ilícitos, em um sentido mais amplo, já que abrangem também aspectos
criminais, estão praticados totalmente dentro da internet, mas aí vem a seguinte pergunta:
podemos falar em crimes que são “acidentalmente” feitos pela internet ou que possuem na
internet o seu canal de execução, mas que se distanciam do meio virtual?
Sem dúvida!
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Temos uma série de crimes que se relacionam à prática de instigações feitas no ambiente
virtual, mas que não se limitam a esse espaço.
Um exemplo bem conhecido dessa alegação pode ser visto no famoso caso da “baleia azul”!
Apenas recapitulando:
O desafio da Baleia azul teve sua origem na Rússia e, através da mídia social, chegou ao
mundo em pouco tempo. A origem do nome Baleia azul faz referência à suposta tendência
suicida que tem a Baleia Azul, um dos maiores animais marítimos do planeta, pois busca en-
calhar em locais de difícil resgate na tentativa de suicidar-se, informação que é impugnada
pela comunidade cientifica.
O jogo consiste numa série de 50 desafios extremamente perigosos e que tem como
finalidade fazer com que, no último desafio, o participante tire sua própria vida.
A vítima participante desse jogo geralmente tem perfil de pessoas que sofrem de alguma
doença emocional, em especial, a depressão. Essas pessoas, por se sentirem rejeitadas, sós
e sem qualquer tipo de amparo, buscam acabar com o sofrimento pondo um fim nele, tirando
sua própria vida.
Essas doenças emocionais são silenciosas, pois, na correria do dia a dia, famílias acabam
perdendo o contato social com seus membros, não sendo capazes de perceber o quão alguns
deles carecem de atenção para então buscar um tratamento psicológico e é nesse momento
que aparece um convite que mais parece ser a cura para tal enfermidade, encorajando essas
pessoas a dar cabo de sua própria vida.
(…)
O jogo é composto por duas figuras diretas, os mediadores e as vítimas, e por uma figura
indireta, os incentivadores.
Dentre as figuras acima, os mediadores e os incentivadores cometem variados crimes,
que vão desde a prática de instigar o suicídio, passando pela lesão corporal e concluindo, em
última análise, a prática do homicídio.
(…)
Espalhar vídeos com tais conteúdos pode ser uma prática de indução ao suicídio, ainda
que indireta, pois o incentivador ao jogar na rede os vídeos de desafios, de propaganda de
tal conteúdo, estará certamente contribuindo para o alcance de mais vítimas, podendo ser
enquadrado pelo artigo 122 do Código Penal.
(MACHADO, Rafael. Baleia azul: um jogo, vários crimes, in https://jus.com.br/artigos/57258/
baleia-azul-um-jogo-varios-crimes)
Ou seja, o caso da “baleia azul” é bem claro para demonstrar a prática de crimes mate-
riais dentro do ambiente virtual. Uma questão que pode surgir, principalmente em questões
discursivas, seria a possibilidade de haver estupro por parte de mulher como sujeito ativo e
por meio do ambiente virtual.
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O ponto é exatamente entender que o crime virtual pode (é muito frequente que seja assim)
ficar parcialmente fora da internet.
Certo.
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Qual das alternativas abaixo explica CORRETAMENTE o que é o ataque cibernético, tão falado
atualmente?
a) É uma ação que consiste na instalação dos chamados vírus, que causam problemas e roubam
informações de computadores.
b) São sequestros e chantagens feitos a funcionários do setor de tecnologia da informação de
uma determinada instituição.
c) É o roubo de aparelhos tecnológicos de uma empresa ou entidade pública.
d) São ataques aos setores de processamentos de dados, que podem queimar computadores,
mesmo à distância.
Viu que bastava saber que o crime cibernético se produz pelos meios virtuais? Todas as alter-
nativas incorretas correlacionam-se com ações materiais, fora do espaço virtual.
Letra a.
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Certo, os conceitos foram apresentados, mas eles são realmente importantes? Vamos dar
uma conferida nas seguintes questões e observar que, com eles, a resposta fica relativamente
fácil, mas sem, a resolução seria bem complicada.
Ficou fácil para você que estudou o conteúdo anterior! Letra “A”, sem dúvida!
Letra a.
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A resposta correta é a letra “b” e qual a razão? O enunciado enfatizou a questão do uso do teclado,
o que é a principal característica dos keyloggers. A questão não foi um primor de formulação e
poderia gerar polêmica se houvesse alguma alternativa que pudesse ser correta, como malware,
vírus (muito genérico) ou spyware. A solução ficou fácil, também, pelo critério da exclusão: já
que “firewall” é um elemento de segurança de rede; “antispyware” é uma espécie de antivírus;
adware é um programa que insere muita propaganda (daí o nome que vem de advertisement,
propaganda) e que mapeia os hábitos do usuário (não é algo bacana, mas não se presta para os
fins de subtrair ou invadir uma conta) e spam é o formato do e-mail disseminado e não solicitado.
Letra b.
As duas primeiras assertivas estão bem dentro das conceituações estudadas. Pharming (jun-
ção das palavras phising e farming, pouco usada nos concursos jurídicos e que se liga a um
“phishing” em tráfego de site) não se relaciona com a definição apresentada. O conceito se
adequaria aos Bots, conforme a gente viu, certo?
Letra a.
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ataques cibernéticos. Uma das diversas ameaças virtuais existentes é uma técnica utilizada
para disfarçar um endereço de e-mail ou página da Web no intuito de enganar usuários, le-
vando-os a entregar informações cruciais, como senhas de acesso. Essa ameaça virtual é
especificamente chamada de:
a) Back Doors.
b) Overflowed.
c) Criptodevil.
d) Spoofing.
e) Dumpster Diving.
O examinador até achou umas expressões bonitinhas, mas que não se relacionam com o tema.
Por outro lado, a definição do spoofing, correlacionada com assunção de identidade falsa, não
merece reparo.
Letra d.
A ideia é simples. Se está relacionado com resgate do computador ou da rede, via de regra,
estamos falando de ransomware, ok?
Letra b.
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Como vimos, essa é a definição do spyware: coletar informações sensíveis, confidenciais. Mais
do que isso: vale a pena ver as demais alternativas para ficar claro que elas não se relacionam
com o enunciado da questão!
Letra c.
Bot é o malware que transforma o computador ou a rede de computadores (botnet) em zumbis, ok?
Letra a.
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As três primeiras alternativas tranquilamente não eram. Sniffing também é uma técnica de
espionagem cibernética, mas não costuma ser abordada nos concursos jurídicos; por isso não
chamei a atenção antes.
No spoofing, o agente finge ser alguém conhecido, o que não é o caso.
Por exclusão, a resposta correta já seria o phishing e, também, convenhamos, pelo fato de a
questão descrever bem a “pescaria” de dados da vítima!
Letra d.
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Mais uma vez a gente observa a descrição quase que integral do conceito de phishing e, pelo
que vimos antes, notamos a imprecisão dos demais conceitos. Isso sem contar que “D” e “E”
são a mesma coisa!
Letra c.
Darkweb e Deepweb
Além desses conceitos necessários para que a gente possa entender os crimes ciberné-
ticos e, de quebra, acertar várias questões conceituais e pegar algumas dicas de segurança
(de uso prático), é necessário ainda trabalhar outros conhecimentos sobre o cenário em que
as práticas criminosas são praticadas.
A figura abaixo, com algumas adaptações, é um clássico quando se fala de níveis ou
camadas de acesso à internet e elas se diferenciam pelos graus de privacidade e, também,
pelas restrições ao acesso.
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A analogia com o iceberg é inevitável porque a gente sabe que a ponta é a parte visível
para todos.
fonte: https://ifflab.org/the-layers-of-the-web-surface-web-deep-web-and-dark-web/
Com base nessa ideia inicial, relevante para o tema, julgue a assertiva:
013. (INÉDITA/2022) Darkweb e Deepweb são conceitos sinônimos cuja distinção não tem
repercussão prática, pois ambas são voltadas unicamente para atividades criminosas.
Como explicado, Deepweb é todo acesso com limitação, como login e senha e não necessaria-
mente tem correlação com alguma atividade criminosa.
Errado.
Outro tema ainda introdutório, mas fortemente ligado aos crimes virtuais diz respeito à
chamada rede TOR, que, de forma isolada, não é considerada ilícita. Contudo, diante da efi-
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cácia, em princípio, absoluta, de anonimato por ela assegurada, a rede TOR é extremamente
utilizada para a prática de atividades criminosas.
A TOR não é o mesmo que o modo privado de navegação! Esse modo, que conseguimos nos
navegadores tradicionais, apenas não registra suas pesquisas nem armazena os dados de na-
vegação. Por outro lado, o IP (internet protocol) do seu computador não é modificado.
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Na ilustração abaixo, a Amazon, loja escolhida pelo usuário, vai interpretar o seu IP como
89.79.83.166, que foi o número gerado pelo TOR, apesar de o acesso ter sido com o número
72.77.50.122:
Os sites que estão hospedados na darkweb e acessíveis pelos navegadores TOR não
possuem o final “.com”, que conhecemos, mas “.onion”, merecendo ser lembrado que “onion”
é cebola, em inglês, e o vegetal foi escolhido como símbolo justamente por fazer alusão às
várias camadas de navegação.
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014. (INÉDITA/2022) Darkweb e Deepweb são conceitos sinônimos sem repercussão prática
a distinção entre elas, pois ambas são voltadas unicamente para atividades criminosas.
Como explicado, Deepweb é todo acesso com limitação, como login e senha e não necessaria-
mente tem a correlação com atividade criminosa.
Errado.
Trata-se de um acesso anonimizado, mas que, também, pode ser usado para fins lícitos.
Errado.
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Errado.
Uma nota importante ainda é que, na Darkweb, de fato, se concentram inúmeras ativida-
des criminosas com elevado grau de anonimato e com grande intercâmbio entre criminosos
que podem ainda se juntar (e se associar como organização criminosa) em fóruns e em
ambientes para a compra de produtos e funcionalidades criminosas, comumente chamados
de marketplaces.
De modo ilustrativo, apresento duas imagens, muito divulgadas na internet, das telas de
dois dos mais famosos marketplaces, a Silk Road e o AlphaBay Market:
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JURISPRUDÊNCIA
A mera previsão do crime em tratado ou convenção internacional não atrai a competên-
cia da Justiça Federal, com base no art. 109, inciso V, da CF/88, sendo imprescindível
que a conduta tenha ao menos potencialidade para ultrapassar os limites territoriais.
CC 144072/PR,Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO,Jul-
gado em 25/11/2015,DJE 01/12/2015
AgRg no CC 132906/BA,Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA
SEÇÃO,Julgado em 14/05/2014,DJE 21/05/2014
CC 114148/PR,Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA SEÇÃO,Julgado em
09/04/2014,DJE 22/04/2014
RHC 031491/RS,Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,Julgado em 20/08/2013,DJE
04/09/2013
CC 121372/SC,Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO,Julgado em
09/05/2012,DJE 25/05/2012
JURISPRUDÊNCIA
O fato de o delito ser praticado pela internet não atrai, automaticamente, a competência
da Justiça Federal, sendo necessário demonstrar a internacionalidade da conduta ou
de seus resultados.
AgRg no CC 118394/DF,Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, TERCEIRA SEÇÃO,Julgado em
10/08/2016,DJE 22/08/2016
CC 145938/RO,Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO,Jul-
gado em 27/04/2016,DJE 04/05/2016
HC 228106/PR,Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA,Julgado em 18/06/2015,DJE
03/08/2015
CC 136257/PR,Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, TERCEIRA SEÇÃO,Julgado em 11/03/2015,DJE
20/03/2015
CC 125751/MT,Rel. Ministro WALTER DE ALMEIDA GUILHERME (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/SP), TERCEIRA SEÇÃO,Julgado em 22/10/2014,DJE 30/10/2014
CC 132279/PI,Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO,Julgado em
14/05/2014,DJE 19/05/2014
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JURISPRUDÊNCIA
COMPETÊNCIA. CRIMES. INTERNET.
Discute-se a competência para processar e julgar diversos crimes veiculados em sites da
Internet: divulgação de imagens pornográficas de crianças e adolescentes, estelionato,
facilitação de prostituição e corrupção de menores. O juízo federal reconheceu como de
sua competência o delito de divulgação de imagens pornográficas e suscitou o conflito
de competência em relação aos demais delitos. Por outro lado, o parecer do Ministério
Público Federal reconheceu a existência de conexão probatória ou instrumental (em que
o vínculo é objetivo, pois as infrações nutrem relação de causa e efeito). Por esse motivo,
todos os delitos deveriam ser apreciados pela Justiça Federal. Para a Min. Relatora, é
imprescindível verificar se, entre os crimes de estelionato, facilitação de prostituição e
corrupção de menores, haveria vínculo etiológico com o delito do art. 241 do ECA, esse
último de competência da Justiça Federal. Assim, sob esse prisma, o delito contra o patri-
mônio perpetrado por meio de outro site não tem liame instrumental, relação de causa e
efeito, para justificar a competência federal. Ademais, o fato de esse delito, em tese, ter
extravasado limites estaduais não autoriza o reconhecimento de afetação de bens jurí-
dicos da União, nem nas hipóteses elencadas no art. 109 da CF/1988. Já os crimes de
facilitação de prostituição e corrupção de menores praticados no mesmo site do crime
de divulgação de imagens pornográficas de crianças e adolescentes, em razão do reco-
nhecimento da conexão instrumental ou probatória e à luz da Súm. n. 122-STJ, devem
ser julgados na Justiça Federal. Com esse entendimento, a Seção declarou competente
o juízo de Direito da vara criminal, o suscitado, para processar e julgar o crime de este-
lionato, e o juízo federal criminal e juizado especial, o suscitante, para julgar os demais
crimes. CC 101.306-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 16/2/2009.
JURISPRUDÊNCIA
COMPETÊNCIA. FURTO MEDIANTE FRAUDE. TRANSFERÊNCIA. VALORES. CONTA-COR-
RENTE. INTERNET.
A fraude eletrônica para transferir valores de conta bancária por meio da Internet Banking
da Caixa Econômica Federal constitui crime de furto qualificado. Assim, o juízo compe-
tente para processar e julgar a ação penal é do local da consumação do delito de furto,
ou seja, de onde foi subtraído o bem da vítima, saindo de sua esfera de disponibilidade.
Precedentes citados: CC 86.241-PR, DJ 20/8/2007, e CC 67.343-GO, DJ 11/12/2007. CC
87.057-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 13/2/2008.
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Como se vê, a falta de resposta pronta é perceptível. Os detalhes das narrativas dos fatos
tornam-se fundamentais tanto para solução dos casos concretos como para as questões
levantadas em concursos:
Letra b, uma vez que não há transnacionalidade do delito e o crime de injúria racial não é clas-
sificado como crime militar.
Letra b.
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Essa questão, claro, traz outros componentes sobre competência e a letra “C” seria fácil se ob-
servarmos que o tributo em questão (ISSQN) não é federal, o que já, efetivamente, nos permitiria
concluir pela competência estadual. Com relação à questão da internet, que é o nosso interesse
no momento, observa-se que a narrativa fática é muito similar à do caso CC 103.011-PR, Rel.
Min. Assusete Magalhães, julgado em 13/3/2013 trazido na comparação entre as situações
limítrofes para definição de competência, não tendo sido narrada nenhuma circunstância factual
que pudesse sugerir transnacionalidade ou afetação a bens, interesses ou serviços federais.
Letra c.
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lescentes. Nessa situação, como o crime ocorreu entre estados da Federação, firma-se a com-
petência da justiça federal.
c) Foi divulgada, pela Internet, carta publicada em blog de conhecido jornalista, na qual se im-
putava, falsamente, fato definido como crime a funcionário público federal, em razão do exer-
cício de suas funções institucionais. Nessa situação, o foro para julgar a ação será somente o
do lugar do ato delituoso, que se considera como aquele de onde partiu a publicação do texto,
isto é, o lugar onde está hospedado o servidor de Internet, ainda que fora do território nacional.
d) Rogério foi denunciado pela prática de crime praticado por meio da Internet, por ter subtraído
valores da conta corrente de clientes de determinado banco, mediante operações de transferência
e saque, sem o consentimento dos correntistas. Nessa situação, há crime de furto qualificado
pela fraude, sendo competente para julgamento do feito o juízo federal com jurisdição sobre o
lugar da agência da conta lesada.
e) Maria, brasileira, maior, capaz, ao requerer visto de entrada nos Estados Unidos da América,
na seção consular da embaixada desse país, no Rio de Janeiro – RJ, foi presa em flagrante por
utilizar documentos falsos – contracheque de empresa pública federal, extrato bancário e decla-
ração de imposto de renda – para instruir o requerimento, com passaporte nacional verdadeiro,
tendo sido comprovado que a documentação falsificada fora utilizada única e exclusivamente
para esse fim. Nessa situação, a competência é da justiça federal para processar e julgar o feito.
f) Nenhuma correta!
Resposta correta, em razão da adaptação/atualização: O gabarito oficial foi letra “D”, mas,
como vimos e ainda será passado com mais calma ao falarmos especificamente dos crimes
de furto e de estelionato (atualmente, a fraude eletrônica), só haveria que se falar em crime
federal quando há lesão a interesses, bens e serviços federais e, ainda, quando evidenciada a
transnacionalidade do delito.
O banco capaz de atrair a competência federal seria a Caixa Econômica Federal, por se tratar de
empresa pública. O Banco do Brasil, sociedade de economia mista, não atrairia a competência
federal. Sem essa especificação, entende-se que o gabarito está equivocado.
Em relação ao nosso tema, ainda há de se falar, pelas mesmas premissas de fundamentação,
no desacerto da letra “B”, cabendo frisar que o crime interestadual não torna o caso federal e
que, na letra “C”, o equívoco está em se considerar o local em que foi produzido o texto como
o do servidor de internet, quando o correto seria o domicílio do responsável pela divulgação.
Nesse sentido:
JURISPRUDÊNCIA
STJ (CC 106625)
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Crimes contra a honra praticados por meio de reportagens veiculadas pela internet ense-
jam a competência do Juízo do local onde foi concluída a ação delituosa, ou seja, onde
se encontrava o responsável pela veiculação e divulgação de tais notícias.
Letra d.
JURISPRUDÊNCIA
...o entendimento adotado pelo acórdão recorrido está alinhado com a jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal no sentido de que, “definida, pela imputação, a competên-
cia da Justiça Federal para o processo e o julgamento de crime estadual e federal, em
razão da conexão ou continência, a absolvição posterior pelo crime federal não enseja
incompetência superveniente, em observância à regra expressa do artigo 81 do Código
de Processo Penal e ao princípio da perpetuatio jurisdicionis.
(HC 112.574, Rel.ª Min.ª Rosa Weber)
(RE 1002034, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, julgado em 16/12/2016, publicado
em PROCESSO ELETRÔNICO DJe-017 DIVULG 31/01/2017 PUBLIC 01/02/2017).
Pontualmente, com relação aos delitos de internet, mais uma vez entendeu-se o local em que
se encontrava o emissor das ofensas como o competente para o feito.
Letra e.
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Esse tema possui particular importância para as bancas examinadoras, tendo em vista
que foi objeto de recentes alterações, o que pode ser explorado na sua prova!
Antes de mais nada, vale conferir as disposições legais relacionadas:
• Furto cibernético (art. 155, do Código Penal):
§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é
cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computa-
dores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso,
ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei n. 14.155, de 2021)
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso:
(Incluído pela Lei n. 14.155, de 2021)
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização
de servidor mantido fora do território nacional; (Incluído pela Lei n. 14.155, de 2021)
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável.
(Incluído pela Lei n. 14.155, de 2021)
§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com a
utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes
sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio
fraudulento análogo. (Incluído pela Lei n. 14.155, de 2021)
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso,
aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de
servidor mantido fora do território nacional. (Incluído pela Lei n. 14.155, de 2021)
Em termos comparativos:
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JURISPRUDÊNCIA
1. No furto qualificado, a fraude tem o escopo de reduzir/burlar a vigilância da vítima
para que, em razão dela, não perceba que a coisa lhe está sendo subtraída, enquanto
no crime de estelionato a fraude visa induzir a vítima a erro e, assim, entregar o bem,
espontaneamente, ao agente.
2. Mostra-se devida a condenação do recorrente pelo delito de furto, e não pelo de este-
lionato, quando verificado que o acusado se valeu de fraude – clonagem de cartões –
para burlar o sistema de proteção e vigilância do Banco, com o objetivo de retirar inde-
vidamente valores pertencentes aos titulares das contas bancárias.
(RHC 21.412/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
06/05/2014, DJe 29/09/2014)
JURISPRUDÊNCIA
1. A 3a. Seção desta Corte definiu que configura o crime de furto qualificado pela fraude
a subtração de valores de conta corrente, mediante transferência ou saque bancários
sem o consentimento do correntista; assim, a competência deve ser definida pelo lugar
da agência em que mantida a conta lesada.
(CAt 222/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 11/05/2011, DJe 16/05/2011)
JURISPRUDÊNCIA
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Algumas questões que podem ser aproximadas com relação ao tema dizem respeito ao
cabimento de institutos despenalizadores em relação a esses delitos. Em outras palavras, o
furto cibernético e a fraude eletrônica admitem suspensão condicional do processo, transação
penal e acordo de não persecução penal?
Com relação aos dois primeiros, a resposta é desenganadamente negativa. A suspensão
condicional exige a pena mínima inferior a um ano; a transação, a pena máxima não superior
a dois. Como esses crimes possuem, no tipo qualificado, a pena de quatro a oito anos, não
há dúvidas de que não cabem tais figuras.
O ANPP (acordo de não persecução penal) pode render mais debate. O art. 28-A, do Código
de Processo Penal, estabelece que:
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstan-
cialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior
a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições
ajustadas cumulativa e alternativamente:
Uma vez que as penas mínimas dos delitos não são inferiores, mas iguais a quatro anos,
também não cabe o ANPP, pouco importando se o enunciado da questão tente te confundir e
fale, por exemplo, que os crimes foram sem violência ou grave ameaça. Além de ser um requi-
sito normativo para o ANPP, é da essência do furto cibernético e do estelionato, de fato, não
serem cometidos com esses elementos de afetação à integridade física ou psíquica da vítima.
Por outro lado, muita atenção: se os delitos em questão se produzirem na modalidade
tentada (art. 14, do Código Penal), ou seja, se não foram consumados por razões alheias à
vontade do agente, ou, ainda, se houver a situação de arrependimento posterior, na forma do
art. 16, do Código Penal, haverá incidência de causas de diminuição de pena e o ANPP pode,
em princípio, ser celebrado.
Por ficarem com as penas na casa dos quatro anos, marco divisor para fixação do regime
de cumprimento de pena, os delitos também exigem especial cautela para se saber qual o
regime inicial.
Se a pena é fixada no mínimo legal, se se trata de réu primário e as circunstâncias judiciais
(art. 59, do Código Penal) são favoráveis, os delitos levariam ao início do cumprimento em
regime aberto:
Art. 33. A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de
detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.
§ 2º As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o
mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência
a regime mais rigoroso
(...)
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b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito),
poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o
início, cumpri-la em regime aberto.
§ 3º A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos
critérios previstos no art. 59 deste Código.
Se a pena for um dia que seja acima do mínimo legal, o cumprimento inicial já iria para o
regime semiaberto. Sendo que, nesse ponto, sobretudo, para a área federal, é importante lem-
brar o § 4º-C, do art. 155, inciso I, que prevê o aumento de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços),
se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional,
disposição similar ao § 2º-B, do art. 171, do Código Penal.
Sendo verificadas tais hipóteses, o ANPP é descartado e o regime inicial de cumprimento
de pena, no mínimo (vai que há outras circunstâncias que levem a pena para mais de oito
anos!), será o semiaberto.
Essas observações ainda se aplicam também relativamente à possibilidade ou não de
haver substituição das penas privativas de liberdade por restritivas de direitos:
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade,
quando: (Redação dada pela Lei n. 9.714, de 1998)
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com
violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
(Redação dada pela Lei n. 9.714, de 1998)
II – o réu não for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei n. 9.714, de 1998)
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como
os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. (Redação dada
pela Lei n. 9.714, de 1998)
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade,
quando: (Redação dada pela Lei n. 9.714, de 1998)
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com
violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
(Redação dada pela Lei n. 9.714, de 1998)
II – o réu não for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei n. 9.714, de 1998)
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III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como
os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. (Redação dada
pela Lei n. 9.714, de 1998)
Além disso, não raramente, os delitos em questão são associados a práticas reiteradas e
ao cometimento por meio de organizações criminosas. Evidentemente, com a necessidade
de observância do caso concreto ou aos detalhes de fato introduzidos na questão, a prisão
preventiva pode ser decretada em relação aos delitos em exame. De modo exemplificativo:
JURISPRUDÊNCIA
4. No caso, a manutenção da prisão preventiva está justificada, pois a sentença con-
denatória que a manteve fez menção à periculosidade do paciente, que integra orga-
nização criminosa fortemente estruturada e voltada para a prática de furtos mediante
fraude bancária consumados através de “mensagens [que] continham um link no qual
eram capturadas as credenciais de acesso dos correntistas junto ao Internet Banking”,
além da lavagem do dinheiro proveniente desses crimes, fundamento que justificou a
imposição da segregação cautelar durante o feito. Assim, demonstrada a necessidade
da prisão provisória como forma de assegurar a aplicação da lei penal.
(HC 573.453/DF, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado
em 19/05/2020, DJe 25/05/2020)
JURISPRUDÊNCIA
2. Em tais situações, a fraude é caracterizada pelo ato de ludibriar o sistema informati-
zado de proteção de valores, mantidos sob guarda bancária. Nesse sentido, invariavel-
mente, haveria, também, prejuízo da instituição bancária na medida em que, sendo ela
a responsável pela implementação de mecanismos de proteção dos valores e bens sob
sua guarda, será dela o ônus de arcar com o prejuízo advindo de eventual falha em tais
mecanismos.
3. Entretanto, nas situações em que o cartão furtado traz a senha anotada junto a ele,
não há como se vislumbrar o emprego de meio fraudulento para ludibriar o sistema de
segurança da instituição bancária no saque efetuado pelo investigado sem o consen-
timento da vítima. Isso porque a instituição bancária adverte expressamente seus cor-
rentistas da importância de manter as senhas de suas contas bancárias e cartões em
sigilo e em locais de difícil acesso.
(CC 149.752/PI, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, jul-
gado em 14/12/2016, DJe 01/02/2017)
JURISPRUDÊNCIA
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. INQUÉRITO POLICIAL EM FASE INICIAL. QUA-
DRILHA. FURTOS MEDIANTE FRAUDE, VIA INTERNET BANKING, CONTRA CONTAS DA
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, CLONAGEM DE CARTÕES, ROUBO DE SENHAS. SUPOSTA
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Antes de passarmos às questões desse ponto vale falar, até para a conexão com a parte
introdutória, que entre as técnicas mais empregadas para os furtos estão a captura de dados,
com posterior uso ou mesmo revenda nos marketplaces hospedados na Darkweb, a instalação
de bots nos computadores vitimados e a criação de boletos falsos (há relatos desse tipo de
golpe também em QR Code), de modo a fazer com que a vítima pague uma conta pessoal,
com aparência de legítima, mas, na verdade, está a creditar uma conta de interesse dos cri-
minosos, normalmente, em nome de “laranjas”.
Há, ainda, a possibilidade de que os criminosos se valham de carregamento de cartões
pré-pagos (habilitados em nome de laranjas, de terceiros que tiveram dados furtados ou mes-
mo de pessoas falecidas), o que dificulta imensamente o rastreio. E como usariam os dados
de falecidos ou de desconhecidos? Lembra-se dos comentários iniciais, agora e ao falar da
Darkweb, sobre a captura de dados e a disponibilização deles em fóruns e markeplaces? Pois
é… Um dos usos é para ocultar o produto da atividade criminosa, não sendo difícil associar
tais crimes também com a prática de lavagem de dinheiro.
Passada a temática desses delitos patrimoniais, vamos às questões já trabalhadas em
bancas examinadoras a respeito deles:
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e) conduta atípica.
Veja a controvérsia sobre furto e estelionato que falamos anteriormente! A questão deixa clara
a inexistência de comportamento ativo da vítima, o que afasta o estelionato. As demais alter-
nativas, por outro lado, em nada guardavam pertinência!
Letra d.
A letra “d” está de acordo com a Lei n. 8072/1990, de enorme relevo para qualquer concur-
so! Confira:
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei n. 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela Lei n.
8.930, de 1994) (Vide Lei n. 7.210, de 1984)
I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que
cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII);
(Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019)
I – A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2º) e lesão corporal seguida de
morte (art. 129, § 3º), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144
da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei n. 13.142, de 2015)
II – roubo: (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019)
a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V); (Incluído pela Lei
n. 13.964, de 2019)
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de
arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B); (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º); (Incluído pela Lei n.
13.964, de 2019)
III – extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou
morte (art. 158, § 3º); (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019)
IV – extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2º e 3º); (Inciso
incluído pela Lei n. 8.930, de 1994)
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V – estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º); (Redação dada pela Lei n. 12.015, de 2009)
VI – estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º); (Redação dada pela Lei n. 12.015,
de 2009)
VII – epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º). (Inciso incluído pela Lei n. 8.930, de 1994)
VII – A – (VETADO) (Inciso incluído pela Lei n. 9.695, de 1998)
VII – B – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos
ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, com a redação dada pela Lei n. 9.677, de 2
de julho de 1998). (Inciso incluído pela Lei n. 9.695, de 1998)
VIII – favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adoles-
cente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). (Incluído pela Lei n. 12.978, de 2014)
IX – furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum
(art. 155, § 4º-A) (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados: (Redação dada
pela Lei n. 13.964, de 2019)
I – o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei n. 2.889, de 1º de outubro de 1956;
(Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
II – o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei n.
10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
III – o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei n. 10.826, de 22 de
dezembro de 2003; (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
IV – o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da
Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
V – o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou equiparado.
Além de aproveitar para destacar uma lei reiteradamente cobrada em concurso, dentro do nosso
material, o principal objetivo era destacar a letra “A”, fraude eletrônica praticada contra pessoa
idosa, que não é crime hediondo, mas possui uma causa de aumento expressiva. Segundo o
Código Penal,
Importante: não é qualificadora, mas causa de aumento. As bancas costumam buscar confusão
desses conceitos. Destaca-se ainda que Código Penal traz previsão similar no caso de furto:
Letra d.
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Comete crime de furto mediante fraude o agente que utiliza de um artifício ou ardil para retirar
a vigilância da vítima e conseguir pegar a res furtiva.
A afirmação está correta e se reflete em todas as espécies de furto mediante fraude, aplican-
do-se também ao furto cibernético.
Certo.
A alternativa certa é a “A” porque o crime de armazenamento não depende do ingresso de usuá-
rios. De toda forma, vamos trabalhar isso no momento de cuidar dos crimes do ECA. Por ora,
a questão foi destacada por trazer o furto na letra “D”, quando o a transferência entre contas
já era considerada qualificada, por se tratar de furto mediante fraude. Agora, a questão é ainda
mais explícita e não suscita polêmica, ao menos, nesse ponto.
Letra a.
Outro tema que também possui atualização legislativa e vem sendo muito explorado pelas
bancas, talvez até mais que os furtos e os estelionatos, é o relacionado à invasão de dispo-
sitivo informático, incluído pela Lei n. 12.737, de 2012, que também é conhecida como “Lei
Carolina Dieckmann”, justamente por se relacionar com a hipótese de invasão de computador,
visando à obtenção de vantagem ilícita.
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Persecução Penal e Novas Tecnologias – Parte I
Marcelo Ribeiro
JURISPRUDÊNCIA
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No momento, o nosso conhecimento específico excluiria as letras “D” e “E”, justamente pela
necessidade de representação. A letra “B” emerge como certa porque o crime de injúria racial
independe de representação. De toda sorte, o “revenge porn” dependente de representação e
será tratado em outra aula nossa, para que não pairem dúvidas!
Letra b.
O bem jurídico tutelado e isso pode ser visto até pela “topografia” (em que parte do Código está
o dispositivo legal) quanto pela efetiva intenção do legislador em proteger essa dimensão da
autodeterminação. Os demais itens são os meios vulnerados para a afetação do bem jurídico
em questão, exceto a “E”, que não tem nenhum sentido.
Letra d.
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A afirmação está correta e pode ser confirmada pelo caput do art. 154-A:
Art. 154-A. (...) com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização
expressa ou tácita do usuário do dispositivo ou de instalar vulnerabilidades para obter vantagem
ilícita.
Certo.
A afirmação está errada e cai justamente nas exceções do art. 154-B, do Código Penal:
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo
se o crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes
da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços
públicos.”
Errado.
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Exatamente o tema que estamos cuidando. A banca tentou confundir o candidato pelas situa-
ções funcionais do autor e da vítima, mas, se observar, o bem jurídico lesado é a privacidade
dessa última, sem nenhuma vinculação com o trabalho dos envolvidos.
Letra d.
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c) Mané Pervertido, mediante grave ameaça, constrange a vítima Maria Inocente a praticar
ato libidinoso em si mesma (masturbação) enquanto ele a observa, sem contato físico entre
o agente e a vítima. Nesse caso, Mané Pervertido responderá pelo crime de estupro (art. 213,
caput, do CP).
d) O posicionamento atual do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça é que
o emprego de arma de brinquedo ou de arma imprópria não qualifica o crime de roubo pela
ausência da capacidade vulnerante (ofensividade).
É fora do nosso escopo específico, mas o item correto perfaz a exata descrição do tipo asso-
ciada à compreensão de que, para caracterização de estupro, segundo os tribunais superiores,
de forma pacífica, não há necessidade de contato físico entre a vítima e o agente.
Especificamente como tema de nosso interesse, vale refletir um pouco sobre o item “B” e ex-
plicar que o crime do art. 154-A, do Código Penal, não está caracterizado porque não houve,
nos termos do enunciado, nenhuma violação de segurança, elemento inerente à conduta do
referido tipo legal.
Letra c.
Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade
física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo
ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. (Incluído pela Lei n. 14.132, de 2021)
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. (Incluído pela Lei n. 14.132, de 2021)
§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido: (Incluído pela Lei n. 14.132, de 2021)
I – contra criança, adolescente ou idoso; (Incluído pela Lei n. 14.132, de 2021)
II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste
Código; (Incluído pela Lei n. 14.132, de 2021)
III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego de arma. (Incluído pela
Lei n. 14.132, de 2021)
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. (Incluído
pela Lei n. 14.132, de 2021)
§ 3º Somente se procede mediante representação.
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Outro delito que também merece destaque é o do art. 147-B, que criminaliza a prática de
dano emocional à mulher, definida nos seguintes termos:
Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento
ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante
ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização,
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica
e autodeterminação: (Incluído pela Lei n. 14.188, de 2021)
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais
grave. (Incluído pela Lei n. 14.188, de 2021)
O destaque a esses dois crimes se dá em razão de poderem se produzir por meios virtuais,
nosso foco, e, ainda, por serem objeto de alteração legislativa em 2021, prato cheio, portanto,
para serem explorados pelas bancas examinadoras.
Em relação ao crime de stalking, três aspectos merecem particular atenção: o primeiro
deles é que a conduta já era punida, mas a título de contravenção penal, prevista no art. 65
da Lei de Contravenções Penais (o que afastava a competência da justiça federal em 100%
dos casos, por falta de previsão constitucional e como consolidado pelo Enunciado 38, da
Súmula do Superior Tribunal de Justiça).
O segundo diz respeito à continuidade das ações, que leva à punição pelo delito mais
grave de eventual conduta permanente, na forma do Enunciado 711, da Súmula do Supremo
Tribunal Federal:
JURISPRUDÊNCIA
A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
No caso, houve sucessão ou continuidade normativa, com o advento de lei mais grave.
Associado ao segundo ponto e que também se destaca, traz-se como terceira nota a na-
tureza permanente da conduta de perseguir, tanto que o tipo faz alusão a “reiteradamente”.
Essa condição faz com que o crime não admita a modalidade tentada.
Curioso notar que, em Portugal, que também prevê o crime de perseguição (art. 154-A. do
CP/Portugal), há previsão da punição por tentativa, o que acaba não tendo aplicação prática
e que foi duramente criticado pela doutrina:
Como o stalking pressupõe uma conduta reiterada, poder-se-ia pensar que a tentativa ocorre com
a prática de um acto de execução de entre vários, como o envio de um e-mail, contudo, só por si,
tal não preenche o tipo de ilícito. Ora, sabemos que não é necessário que a vítima se sinta inquie-
tada na sua liberdade de agir, mas tão só a idoneidade das condutas lesarem o bem jurídico, o
que deixa em aberto o modo como a tentativa poderá ser punível já que tudo depende, ainda, do
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cerne íntimo da pessoa que está a ser alvo de perseguição. Assim, o simples envio de mensagens
escritas pode consubstanciar a prática efectiva deste ilícito; será que, como tentativa, se pode aqui
considerar mensagens escritas de teor impertinente que não chegaram a ser enviadas e, por isso,
não entraram na esfera de conhecimento da vítima?
(…)
Também podemos ponderar a hipótese de A seguir B, todos os dias depois do trabalho deste e
sem o seu conhecimento. A perseguição está consumada devido ao modo reiterado como o agente
pretende constranger a vítima; contudo, como nem a pessoa lesada se apercebe de que está a ser
seguida, este poderá ser mais um caso de tentativa de perseguição, cuja aplicabilidade é bastante
reduzida, já que a vítima não fará uso do seu direito de queixa; aliás, muito dificilmente poderão
terceiros intervir e denunciar tal tentativa devido aos contornos irrisórios da situação.
Em suma, esta opção do legislador é bastante questionável. Aliás, a própria natureza semi-pública
do crime acaba por ser incompatível com a tentativa pois, para que se inicie o procedimento cri-
minal, o ofendido ou um terceiro têm de exercer o direito de queixa e denunciar que o próprio ou
alguém, respectivamente, está a ser vítima de uma tentativa de perseguição / assédio persistente,
cenário este deveras inimaginável
(AMARO, Ana Teresa Paiva Costa. O Crime de Perseguição: Subsídios para a sua Compreensão no
Contexto da Sociedade da Informação. Dissertação de Mestrado. Universidade do Minho).
... temos dificuldade em alcançar de que forma pode ser punida a tentativa de perseguição. Ape-
sar de ser pacífico que o crime em análise pode envolver uma verdadeira campanha de assédio
ou perseguição à vítima, parece-nos só fazer sentido que se punam as condutas de perseguição
se esta tiver conhecimento delas, pois se a vítima não sabe que está a ser perseguida, não ficará
afetada na sua liberdade de autodeterminação pessoal, dada a falta de aptidão das condutas para
violar o bem jurídico tutelado pela norma do art.º 154ºA do CP.
(DAVID, Marisa Nunes Ferreira. A Neocriminalização do Stalking. Dissertação de Mestrado em
Medicina Legal e Ciências Forenses, apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de
Coimbra, 2017).
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Conforme problematizado anteriormente, as afirmações “C” e “E” são descartadas pela sucessão
normativa anteriormente explicada. O relevante em relação ao item “A” é o reconhecimento de
que o delito é de mera conduta, se consumando pela produção de atos tendentes, ainda que
a vítima não se abale psiquicamente. De outra parte, não há nenhum relevo a manutenção do
contato com o autor, cabendo destacar, por outro lado, que o delito imprescinde da representa-
ção, ou seja, exige a representação, na forma do § 3º, art. 147-A, do Código Penal.
Letra d.
Letra a.
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I – A imagem é de um funcionário público estadual que, sem autorização, faz a inserção de da-
dos falsos em sistema de informações do Governo, o que caracterizaria uma das modalidades
de peculato.
II – A imagem é de um funcionário público estadual que, utilizando do seu conhecimento em
informática, acessa o computador de uma modelo famosa e passa a exigir-lhe dinheiro sob a
ameaça de divulgar ao seu esposo que ela possui um relacionamento extraconjugal com uma
conhecida lutadora de sumô, o que caracterizaria o delito de furto eletrônico, nos termos do art.
155, § 4º B do Código Penal.
III – A imagem é de um funcionário público estadual que, utilizando do seu conhecimento em
informática, acessa o computador de um jovem violinista e passa a assediá-lo com o intuito de
manterem relação sexual, o que caracterizaria o delito de assédio sexual, nos termos do art.
216-A do Código Penal.
IV – A imagem é de um funcionário público estadual que, utilizando do seu conhecimento em
informática, acessa do computador de uma cantora as suas redes sociais e e-mails, de forma
a persegui-la virtualmente, perturbando sua privacidade, o que caracterizaria o crime de perse-
guição ou “stalking”, nos termos do art. 147-A do Código Penal.
V – A imagem é de um funcionário público estadual que, utilizando do seu conhecimento em
informática, acessa o computador de sua ex-namorada e, inconformado com o fim do namoro,
passa a importuná-la, ameaçando-a, humilhando-a com efetivo prejuízo a sua saúde psicológica
e autodeterminação, o que caracterizaria o delito de violência psicológica, nos termos do art.
147-B do Código Penal.
Após a análise, estão CORRETAS apenas as afirmativas:
a) I, II e IV.
b) I, IV e V.
c) II, III e IV.
d) II, III e V.
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Essa questão é bem diferente, ainda mais por vir com ilustração e por pedir ao candidato que
correlacione com as descrições feitas e, após, julgar as assertivas. Essencialmente, o objetivo
era perguntar se as alternativas corresponderiam a descrições corretas de crimes virtuais.
Nós vamos examinar a questão, sobretudo, em razão do aspecto ligado ao stalking, mas se trata
de uma situação que dá para evoluir também com uma boa técnica de resolução de questões.
Se olharmos as alternativas, de saída, julgando as frases II e IV, já haveria uma grande chance
de eliminarmos boa parte ou todas as alternativas erradas.
E, curiosamente, isso ocorre quando vemos a frase II. Ela faz alusão a uma prática de extorsão
(pedido de dinheiro com ameaça de mal injusto e grave), que foi erroneamente chamado de
furto eletrônico. Com essa frase errada, já sobraria apenas a alternativa “B”, para ser marcada.
Vendo as demais frases, apenas para uma análise mais completa, tem-se que, sim, podemos
ter o delito do art. 313, como previsto na frase I; a frase III está errada porque, como aponta o
art. 216-A do Código Penal, é necessário que o agente se valha “... da sua condição de superior
hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”. A frase IV é o
que mais trabalhamos nesse tópico e configura a prática de perseguição ou stalking, que, sim,
pode ser feita pelos meios virtuais e, por último, a frase V traz uma descrição precisa de uma
das formas de execução do crime previsto no art. 147-B, do Código Penal.
Letra b.
Cabe observar que a alternativa “B” poderia derrubar alguém mais desatento porque a pena
ali prevista é a que está logo acima da descrição do crime de perseguição e corresponde ao
preceito secundário do crime de ameaça. Contudo, a pena que nos interessa, no momento, é a
de reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, sem prejuízo das causas de aumento e
sem prejuízo das penas correspondentes à violência.
Letra c.
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As afirmações II e III estão corretas. Para o nosso objeto de estudo era importante a II, que é a
literal disposição do art. 147-A, do Código Penal. Já aproveitando, vejamos as demais e quais
são os erros de I e IV e o acerto de III:
I – Errada.
Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:
(...)
IV – maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.
III – Certa.
IV – Errada.
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I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
Letra b.
A questão veio para resgatar o tema e mostrar que continua caindo. Deep web não é ilegal, mas
de uso restrito, diversamente da ideia que norteia a dark web. Com essas premissas, você já
derruba as letras A, B e D. Darkweb e deepweb não são sinônimos e deepweb não é ilegal. C
poderia dar algum engano em uma leitura desatenta porque você acessa a entrada de conteú-
dos deepweb pelos buscadores, mas não o conteúdo em si, que possui proteção (senha, por
exemplo) para manter a privacidade do usuário ou do detentor da informação, como, em parte,
a Letra E, correta, destaca.
Letra e.
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Essa agora ficou fácil, não? O examinador forçou confusão entre os conceitos de darkweb e
deepweb. Lembre-se de que não os navegadores tradicionais, mas outros navegadores (o mais
conhecido é o TOR) conseguem acessar a darkweb
Letra e.
Apesar de ter ficado mais fácil ainda, vale o alerta do quanto esse tema vem sendo cobrado…
Atenção com ele. Darkweb pode ser acessado pelo TOR. Firefox é buscador tradicional e que
não consegue acessar a darkweb.
Letra d.
Atenção com essa questão com a questão por ser CEBRASPE! Atenção aqui para o reconhe-
cimento de que a conduta antes contravenção penal (art. 65 – Decreto/lei 3.688/41) – impor-
tunação, ainda que seja infração penal de menor potencial ofensivo com pena de reclusão (6
meses a 2 anos, e multa). A pena é aumentada de metade se:
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contra criança, adolescente e idoso; contra mulher por razões da condição do sexo feminino;
mediante concurso de 2 ou mais pessoas ou com emprego de arma, ou seja, em situações a
mais do que as previstas na questão e, por fim, se trata de ação penal pública condiocionada
à representação.
Letra c.
A questão é bastante importante porque trata de três temas cibernéticos e ainda dialoga com
outras questões de direito pena,como o alcance do tratamento das questões fundadas em vio-
lência de gênero. Como sempre sugiro nessas questões de julgar as frases, peço para que se
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olhem as afirmações repetidas nas alternativas e que podem abreviar demais a resolução. Essa
é uma das situações: veja, a frase I diz que o stalking é sujeito à ação pública incondicionada,
o que é falso. De saída, você já elmina as alternativas de A a C e nem precisa ler a III, que está
correta e nem a IV que não está nas alternativas. Resta avaliar a II e a V. A II está errada porque
o stalking não tem apenas a mulher como vítima
Letra d.
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RESUMO
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Procurador da República desde 2006. Atualmente, é Secretário Adjunto de Cooperação Internacional da
Procuradoria-Geral da República. Compõe o Grupo de Lavagem de Dinheiro do Ministério Público Federal
e da Comissão Permanente de Assessoramento em Leniência e Colaboração Premiada. Integrante
da delegação brasileira no Working Group on Bribery da OCDE 2017-2021. É bacharel e mestre pela
Universidade de Brasília e doutor pela Universidade de Lisboa.
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