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METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR

A preparação precária do professor universitário brasileiro


dade. Muitos ainda pensam que basta o domínio do conteúdo
quer disciplina, ignorando a necessidade de um sistemático
ção pedagógica.

Alguns professores já tomaram consciência de que a reversão do


educação nacional precisa ser realizada com urgência. Nesse
profissionais, oriundos de diversas áreas, vêm procurando um
de seus conhecimentos e habilidades pedagógicas. Contudo, isto
principalmente em nível de ensino fundamental e médio.

Com este livro, o autor procura abordar os problemas específicos.

. . .
professores universitários. Não se trata de um compêndio de
pedagógicas, mas de um manual prático para orientar todos
nam no ensino superior e verificam a necessidade de conciliar
gias de ensino-aprendizagem a uma ordenação sistemática
serem apresentados.

APLICAÇÃO

Livro-texto para as disciplinas METODOLOGIA DO ENSINO


TICA DE ENSINO SUPERIOR e PRÁTICA DE ENSINO SUPE
pós-graduação. Leitura de interesse para professores universitári<
de programas de formação e aperfeiçóamento de pessoal de

publicoçoo ol:lo.r
www.EditoraAtlas.com.br

METODOLOGIA DO
ENSINO SUPERIOR

ANTONIO CARLOS GIL é licen-


ciado em Pedagogia e em Ciências
Sociais. É mestre e doutor em Ciên-
cias Sociais pela Fundação Escola "~,,~~
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de Sociologia e Politicá de São .. "'~~ ,:p'J.'' '"í,"''fi>

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Paulo e doutor em Saúde Pública \\~~,~~*'~\)~~~~t:~.'c;.s~-
pela Universidade de São Pau- «-"'
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lo. É professor de Metodologia do
Ensino Superior e Didática do En-
sino Superior em cursos de pós-
graduação. ~
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© 1990 by Editora Atlas SA ~o"g~
1. ed. 1990; Z. ed. 1994; 3. ed.1997; 4. ed. ZOOS; 5. reimpressão 2009 f~w\
~I>1R..
Capa: Paulo Ferreira Leite ~~ .F/
"',.........,.,~
Composição: Formato Serviços de Ediroração Ltda.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Gil, Antonio Carlos


Metodologia do ensino superior I Anronio Carlos GiL- 4. ed.- 5. reimpr.- São Paulo: Atlas,
2009.

Bibliografia.
ISBN 978-85-224-3975-1

1. Ensino superior- Metodologia 2. Professores universitários - Formação profissional-


Bras!! I. Título. "-

93-3003 CDD-3 78.17

Índice para catálogo sistemático:

1. Ensino superior : Metodologia 378.17

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ou por qualquer meio. A violação dos direitos de autor (Lei n11 9.610/98) é crime
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Depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Decreto n!! 1.825, de 20 de dezembro de 1907.

Impresso no Brasii!Printedin Brazil

À memória de
lf
Edirora Atlas SA
Antonio e Maria, meus pais.
AAnna Maria, minha mulher.
Rua Conselheiro Nébias, 1384 (Campos Elísios) A Fernando, Luciano,
01203-904 São Paulo (SP)
Te!.' (0__11) 3357-9144 (PABX)
Antonio Marcos e Maria !nfs,
www.EditoraAtlas.com.br meus filhos.
Sumário

Apresentação, 13

1 O PROFESSOR UNIVERSITÁRIO, 15
1.1 Formação do professor universitário, 15
1.2 Requisitos básicos do professor universitário, 17
1.2.1 Requisitos legais, 17
1.2.2 Requisitos pessoais, 18
1.2.3 Requisitos técnicos, 19
' 1.3 Metodologia e didãtica do ensino superior, 21
Leituras recomendadas, 22

2 COMPROMISSO SOCIAL DO PROFESSOR, 23


2.1 Educação e sociedade, 23
2.2 Perspectivas educacionais, 24
2.2.1 Perspectiva clássica, 24
2.2.2 Perspectiva humanista, 25
2.2.3 Perspectiva moderna, 26
2.2.4 Perspectivas em contraste, 26
2.3 Ensino e aprendizagem, 27
2.3.1 Uma questão de ênfase, 27
2.3.2 Ênfase no ensino, 28
2.3.3 Ênfase na aprendizagem, 29
Leituras recomendadas, 30
8 Metodologia do Ensino Superior Sumário 9

3 PLANOS DE ENSINO, 32 5.2.5 Utilidade, 54


3.1 Planejamento das atividades educacionais, 32 5.2.6 Adequação ao nível dos alunos, 54
3.2 Níveis de planejamento, 33 5.2. 7 Adequação ao tempo, 55
3.2.1 Planejamento educacional, 33 5.3 Ordenação dos conteúdos, 55
3.2.2 Planejamento curricular, 33 Leitura recomendada, 56
3.2.3 Planejamento de ensino, 34
3.3 Elaboração de planos de ensino, 35 6 ESTRATÉGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM, 57
3.3.1 As várias modalidades de planos, 35 6.1 Conceituação de aprendizagem, 57
3.3.2 Plano de disciplina, 36 6.2 Processo de aprendizagem, 57
3.3.3 Plano de unidade, 38 6.2.1 Complexidade do problema, 57
3.3.4 Plano de aula, 40 6.2.2 Diferenças individuais, 58
Leituras recomendadas, 40 6.2.3 Motivação, 58
6.2.4 Concentração, 59
4 FORMULAÇÃO DE OBJETIVOS, 42 6.2.5 Reação, 59
4.1 Função dos objetivos, 42 6.2.6 Realimentação, 60
4.2 Histórico dos objetivos educacionais, 42 6.2.7 Memorização, 60
4.3 Objetivos gerais e específicos, 43 6.2.8 Transferência, 61
4.4 Características dos objetivos úteis, 44 6.3 Como aplicar princípios psicológicos à aprendizagem?, 62

4.4.1 Referências ao desempenho dos alunos, 44 6.3.1 Reconhecer as diferenças individuais, 62
4.4.2 Clareza e precisão, 45 6.3.2 Motivar os alunos, 62
4.4.3 Realismo, 46 6.3.3 Manter os alunos atentos, 63
4.5 Classificação dos objetivos de aprendizagem, 46 6.3.4 Estimular reações dos alunos, 63
4.5.1 Domínios da aprendizagem, 46 6.3.5 Fornecer feedback, 64
4.5.2 Domínio cognitivo, 46 6.3.6 Favorecer a retenção, 64
4.5.3 Domínio afetivo, 47 6.3.7 Criar condições para possibilitar a transferência, 64
4.5.4 Objetivos psicomotores, 48 6.4 Como ser um facilitador da aprendizagem, 65
4.6 Vantagens e limitações da formulação de objetivos, 49 6.5 Estratégias de ensino-aprendizagem, 65
Leitura recomendada, 51 Leituras recomendadas, 66

5 CONTEÚDOS, 52 7 AULA EXPOSITIVA, 68


5.1 Função dos conteúdos, 52 7.1 Caracterização, 68
5.2 Critérios para seleção dos conteúdos, 53 7.2 Fundamentos teóricos da exposição, 68
5.2.1 Vinculação aos objetivos, 53 7.2.1 Modelo clássico de exposição, 68
5.2.2 Validade, 53 7.2.2 Exposição no contexto da moderna ciência da comunicação, 69
5.2.3 Significação, 53 7.3 Aplicação dos princípios de comunicação em sala de aula, 70
5.2.4 Flexibilidade, 54 7.3.1 Em relação à fonte, 70
Sumário 11
1O Metodologia do Ensino Superior
10.2.1 Em relação à atenção, 94
7.3.2 Em relação à mensagem, 71
10.2.2 Em relação à compreensão e à aplicação de conhecimentos, 94
7.3.3 Em relação ao canal, 72
10.2.3 Em relação à retenção, 95
7.3.4 Em relação aos receptores, 72
10.2.4 Em relação à avaliação, 95
7.4 Uso adequado da aula expositiva, 73
10.3 Desvantagens dos recursos audiovisuais, 96
Leituras recomendadas, 75
10.4 A diversidade de recursos audiovisuais, 97
10.5 Uso do quadro-de-giz, 98
8 A DISCUSSÃO, 76
10.5.1 Vantagens de sua utilização, 98
8.1 Valor pedagógico da discussão, 76
10.5.2 Técnicas de utilização, 98
8.2 Discussão com a classe toda, 77
10.6 Uso do retroprojetor, 99
8.2.1 Problemas de aplicação, 77
10.6.1 Vantagens de sua utilização, 99
8.2.2 Início da discussão, 78
10.6.2 Preparação das transparências, 100
8.2.3 Formulação de perguntas, 79
10.6.3 Cuidados na utilização do retroprojetor, 100
8.2.4 Estímulo à participação, 79
10.7 B1ocodepape1 (jlipchart), 101
8.2.5 Como vencer as resistências dos alunos, 80
10.8 Álbum seriado, 101
8.3 Seminário, 80
10.9 Videocassete, 102
8.4 Discussão em pequenos grupos, 82
10.10Projetor multimídia, 102
8.4.1 Fracionamento, 82
Leituras recomendadas, 104
8.4.2 Painel integrado, 82
8.4.3 Grupo de verbalização e grupo de observação (GV/GO), 83
11 AVALIAÇÃO DAAPRENDIZAGEM, 105
8.4.4 Grupos para formulação de questões, 83
11.1 Importância da avaliação, 105
8.4.5 "Grupo de cochicho", 83
1 1.2 Fundamentos de uma avaliação adequada ao ensino superior nos tempos
Leituras recomendadas, 84
atuais, 106
11.2.1 A avaliação é parte integrante do processo de aprendizagem, 106
9 SIMUlAÇÕES, 85
11.2.2 A avaliação vincula-se diretamente aos objetivos da
9.1 Conceituação, 85 aprendizagem, 107
9.2 Aplicações das simulações, 86 11.2.3 A avaliação deve ser contínua, 107
9.3 Modalidades de simulações, 86 11.2.4 A avaliação deve ser objetiva, 107
9.3.1 Demonstração, 87 11.2.5 A avaliação deve abranger os diversos domínios da
9.3.2 Estudo de caso, 88 aprendizagem, 108
9.3.3 Processo do incidente, 88 11.2.6 A avaliação deve envolver também o julgamento dos alunos, 108
9.3.4 Dramatização, 88 11.3 Técnicas de avaliação, 109
Leituras recomendadas, 91· 11.3.1 Diversidade de técnicas, 109
11.3.2 Provas discursivas, 110
10 RECURSOS AUDIOVISUAIS, 93 11.3.3 Provas objetivas, 111
10.1 Comunicação e recursos audiovisuais, 93 11.3.4 Provas práticas, 114
10.2 Vantagens dos recursos audiovisuais, 94
12 Metodologia do Ensino Superior

11.3.5 Provas orais, 114


11.3.6 Observação, 115
11.3.7 Entrevistas, 115
11.3.8 Questionários, 115
11.3.9 Diários de curso, 115
Leituras recomendadas, 116 Apresentação
Bibliografuz, 119

A preparação do professor universitário ainda é bastante precária. Seguramente, a


maíoria dos professores brasileiros que lecionam em estabelecimentos de ensino su-
perior não passou por qualquer processo sistemático de formação pedagógica. E ainda
mostra certo vigor a crença de que o fundamental para o exercício do magistério nesse
nível é o domínio adequado da disciplina que o professor se propõe a lecionar.
Felizmente, porém, já se pode vislumbrar alguma mudança neste quadro. É gran-
de o número de professores universitários que reconhecem a necessidade de conheci-
mentos e habilidades pedagógicas para o desempenho adequado da função docente.
' As autoridades educacionais vêm incentivando o desenvolvimento de programas de
formação e aperfeiçoamento de professores para o ensino superior. E nas universida-
des e nos estabelecimentos isolados de ensino superior é cada vez maior o número de
cursos de Metodologia e de Didática do Ensino Superior que são oferecidos em nível
de especialização.
Como, porém, essas ações em prol da preparação de professores universitários são
de desenvolvimento recente, a bibliografia a esse respeito é ainda bastante escassa.
Como conseqüência, em muitos desses cursos de especialização vêm sendo utilizados
t.extos elaborados prioritariamente para a formação de professores do ensino médio e
fundamental. Naturalmente, os professores conseguem, sem muita dificuldade, trans-
ferir o material aprendido a partir desses textos a situações de ensino em nível supe-
rior. Todavia, para se conferir maior eficiência a esses cursos, torna-se necessário dis-
por de livros destinados a auxiliar o professor no trato de problemas específicos da
docência em nível superior.
Nesse sentido é que apresentamos o presente livro, que foi elaborado com base
em nossa experiência didática em cursos de graduação em diversas áreas e de prepa-
ração de pessoal docente tanto para o ensino superior quanto para programas de trei-
namento e desenvolvimento de recursos humanos. Trata-se de trabalho modestO em
suas pretensões. Procuramos torná-lo mais um manual prático para orientar as ações
do professor do que um compêndio de teorias e técnicas pedagógicas. Mas, para o
14 Metodologla do Ensino Superior

professor que desejar aprofundar-se em algum aspecto específico, são oferecidas no


final de cada capítulo as referências bibliográficas pertinentes.

Antonio Carlos Gil


1 O Professor Universitário

1.1 Formação do professor universitário

Os professores de ensino fundamental e médio, de modo geral, passam por um


processo de formação pedagógica, desenvolvido no âmbito do curso Normal ou de li-
cenciatura. Nestes, os professores cursam, entre outras, as disciplinas: Psicologia da
Educação, Didática e Prática de Ensino, que têm por objetivo capacitá-los para o de-
sempenho de arividades docentes.
O mesmo não ocorre com os professores de nível superior. Ainda que muitas ve-
zes possuindo títulos como os de Mestre ou de Doutor, os professores que lecionam
• nos cursos universitários, na maioria dos casos, não passaram por qualquer processo
sistemático de formação pedagógica.
Alega-se, como justificativa a esta situação, que o professor universitário, por Ii-
dar com adultos, não necessita tanto da formação didática quanto os professores do
ensino médio e fundamental, que lidam principalmente com crianças e adolescentes.
De acordo com este raciocínio, o mais importante para o desempenho do professor
universitário é o domínio dos conhecimentos referentes à matéria que leciona, aliado,
sempre que possível, à prática profissional. Seus alunos, por serem adultos e por te-
rem interesses sobretudo profissionais, estariam suficientemente motivados para a
aprendizagem e não apresentariam problemas de disciplina como em outros níveis de
ensino.
Estas suposições durante muito tempo foram aceitas, sobretudo em decorrência
do caráter elitista do ensino superior, observado no Brasil desde a constituição dos pri-
,_ meiros cursos. De fato, como os alunos dos cursos universitários eram poucos e selecio-
nados com rigor, seu comportamento de saída tendia a ser considerado bastante ade-
quado. Como conseqüência, a qualidade da universidade e o desempenho de seus
docentes não se tornavam alvo de maiores questionamentos.
Este quadro se altera, no entanto, à medida que maior número de pessoas chega
à universidade, que seus cursos se tornam mais específicos e que o controle sobre a
qualidade do ensino e a capacitâção dos docentes decai. Todos estes fatores, aliados a
uma visão mais crítica do ensino) conduzem à identificação da necessidade de o pro-
16 Metodologia do Ensino Superior O Profesror Universitário 17

fessor universitário dotar-se de conhecimentos e habilidades de natureza pedagógica. É natural que numa universidade assim concebida os conhecimentos e habilida-
Tanto é que se torna muito freqüente alunos de cursos universitários, ao fazerem a des pedagógicas do professo! sejam pouco considerados. E que, por conseqüência, este
apreciação de seus professores, ressaltarem sua competência técnica e criticarem sua não se esforce por adaptar os conteúdos de ensino às características e necessidades dos
didática. estudantes.
Muitos professores universitários reconhecem a necessidade da formação peda- Todavia, à medida que se analisa detidamente o problema do magistério de nível
gógica. Também as autoridades educacionais. Tanto é que os cursos de especializa- superior, fica evidente a necessidade da formação pedagógica dos professores. Forma-
ção, conhecidos também como pós-graduação lato sensu, incluem obrigatoriamente dis- ção esta que enfatize não apenas os métodos de ensino, mas também a incorporação
ciplinas de formação pedagógica. E em algumas instituições de ensino universitário já de conceitos acerca do papel do professor em relação ao aluno, à escola e à própria
se nota a presença de assessores pedagógicos para auxiliar os professores em relação sociedade.
ao planejamento e condução das atividades docentes.
A preparação pedagógica do professor universitário, todavia, não constitui tarefa
fácil. Primeiro porque não há uma tradição de cursos destinados à preparação desses 1.2 Requisitos básicos do professor universitário
professores. Depois porque, em virtude de acomodação, temor de perda de status ou
de não-reconhecimento da importância da formação pedagógica, muitos professores 1.2.1 Requisitos legais
negam-se a participar de qualquer programa de formação ou aperfeiçoamento nessa
área. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases:
Para justificar a postura contrária à preparação pedagógica dos professores univer- "Art. 66. A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á
sitários, chega-se mesmo a invocar razões de ordem etimológica. A palavra pedagogia em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e
vem do grego (paidós = criança e gogein = conduzir). Assim, a pedagogia referir-se-ia doutorado.
apenas à educação das crianças. Por essa razão é que a1guns autores preferem falar em
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por faculdade com curso de
androgogia (do grego: andragos = adultos) para s~referir aos esforços sistemáticos
doutorado em área afim, poderá suprir a exigência de título acadêmico."
destinados à formação de adultos.
Essa distinção é desnecessária, pois por pedagogia entende-se hoje o conjunto de A LDB estabelece também que as universidades deverão apresentar "um terço do
doutrinas, princípios e métodos de educação tanto da criança quanto do adulto. To- corpo docente, pelo menos, corri titulação acadêmica de mestrado ou doutorado". Nada
davia, não há como deixar de reconhecer que tradicionalmente a maioria dos estudos esclarece, entretanto, em relação aos demais estabelecimentos de ensino superior.
e ações práticas neste campo tem sido dirigida principalmente às crianças. Mesmo os Assim, os critérios para exercer o magistério superior continuam a ser os defini-
trabalhos que tratam especificamente da educação de adultos referem-se, na maioria dos pela Resolução n° 20/77, do então Conselho Federal de Educação, publicada no
dos casos, à educação das pessoas que entram tardiamente na escola ou às atividades Diário Oficial da Unido, de 6-1-78, que estabelece:
de preparação de recursos humanos para as empresas.
Boa parte da responsabilidade acerca da desvalorização da preparação pedagógica
"Art. 50- Para a aceitação de docentes, além da qualificação básica, serão
dos professores deve-se à própria universidade, que nem sempre valoriza o professor considerados, entre outros, os seguintes fatores relacionados com a matéria ou
no desempenho de suas funções docentes. O prestÍgio de uma universidade é medi- disciplina para a qual é feita a indicação:
do por seus cursos de pós-graduação e pelas pesquisas que promove. O professor, por a) título de Doutor ou de Mestre obtido em curso credenciado no País,
sua vez, tende a ser valorizado por sua titulação e por seus trabalhos científicos. Seu ou em instituição idônea no País ou no exterior, a critério do Conselho, ou,
mérito enquanto professor não é avaliado. Chega-se, portanto, à irônica condusão de ainda, título de Livre-docente obtido conforme a legislação específica;
que, "nas instituições denominadas de ensino superior, o 'ensino' nem sempre é leva- b) aproveitamento, em disciplinas preponderantemente em área de con-
do em conta" (Godoy, 1988, p. 31). centração de curso de pós-graduação senso strictu, no País, ou em instituição
A própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- LDB (Lei n" 9.394/ idônea no País ou nQ exterior, a critério do Conselho, com carga horária com-
96) não contribui para que se altere essa situação, pois em seu art. 65 estabelece: provada, de pelo menos trezentas e sessenta (360) horas;
c) aproveitamento, baseado em freqüência e provas, em cursos de espe-
"A formação docente, exceto para a educação superior, incluirá a prática cialização ou aperfeiçoamento, na forma definida em Resolução específica
de ensino de, no mínimo, trezentas e sessenta horas."
deste Conselho;
18 Metodologia do Ensino Superior O Professor Unive~itário 19

d) exercício efetivo de atividade técnico-profissional, ou de atividade


docente de nível superior comprovada, durante no mínimo dois (2) anos;
e) trabalhos publicados de real valor. Físicas e fisiológicas: • resistência à fadiga
§ 1nA aceitação de professor responsável é válida para o mesmo curso ou • capacidade funcional do sistema respiratório
habilitação, na mesma ou em outra instituição de ensino, nesta última hipó- • clareza vocal
tese mediante nova indicação, e é subordinada ao atendimento a uma das se- • acuidade visual
guintes exigências: (I) o preenchimento da condição da alínea 'a'; ou (II) o • acuidade auditiva
preenchimento simultâneo de uma das condições das alíneas 'b' ou 'c' com uma
Psicotemperamentais: • estabilidade emocional
das condições das alíneas 'd' ou 'e'.
• versatilidade
§ z.o: A aceitação de professor auxiliar é condicionada ao preenchimento • iniciativa
da exigência da alínea 'b' ou da exigência da alínea 'c'. • autoconfiança
§ 30 No caso de matérias profissionais, poderá ser aceita a título excep- • disciplina
cional e a critério do Conselho a atuação de professor que comprove, além da • paciência
• cooperação
titulação básica, capacidade técnico-profissional pertinente e no caso de pro-
• estabilidade de ritmo
fessor responsável acrescida de, pelo menos, dois (2) anos de experiência di- • atenção difusa
dática em instituições de ensino superior, na matéria ou disciplina que será
lecionada.." Intelectuais: • inteligência abstrata
• inteligência verbal
• memória
1.2.2 Requisitos pessoais • observação
• raciocínio lógico

A determinação dos requisitos para desempenhar uma função é feita mediante os • rapidez de raciocínio
procedimentos técnicos conhecidos como análise e descrição de cargos. Conhecendo • precisão de raciocínio
as características de determinada função, é possível definir as aptidões físicas, expe- • imaginação
riência, iniciativa, criatividade e outros requisitos a serem exigidos da pessoa que irá • discriminação
• associação
desempenhá-la. Algumas funções, porém, revestem-se de tal complexidade que as
• orientação
tentativas para identificar os requisitos desejados para o seu adequado desempenho • coordenação
nem sempre se mostram satisfatórias. E uma dessas funções é a de professor. • crítica
As atividades desempenhadas pelo professor, além de complexas, dão muita mar-
gem a considerações valorarivas. As explanações acerca das qualidades que deve ter o
professor não raro envolvem discussão de natureza ideológica. Logo, qualquer tenta-
tiva de arrolar as características requeridas do professor universitário será incompleta. 1.2.3 Requisitos técnicos
E quanto mais detalhado se mostrar um empreendimento desta natureza, maior será
provavelmente a sua vulnerabilidade. A- PREPARO ESPECIALIZADO NA MATÉRIA
Existem, entretanto, algumas características pessoais que são reconhecidas pela
maioria dos especialistas em educação como desejáveis para os professores universitá- Para ministrar determinada disciplina, o professor precisa conhecê-la com profun-
rios. Estas são apresentadas no Quadro 1.1. didade bem maior do que a exigida no programa. Isto é importante para que ele possa
ressaltar os seus aspectos fu~damentais e esclarecer acerca de suas aplicações práti-
Cabe recomendar, entretanto, que essas características sejam analisadas de for-
cas. E também para solucionar eventuais problemas formulados pelos alunos ao longo
ma crítica, pois não podem ser tratadas como requisitos absolutamente indispensáveis.
do período letivo.
As pessoas vocacionadas para o magistério, que manifestam entusiasmo pelo ensino e
que sentem prazer em lecionar, não raro conseguem exercer com eficiência a profis- No caso de disciplinas de cunho mais prático convém também que o professor
são, mesmo não possuindo todas essas características. detenha sólida experiência na área. Seria descabido, por exemplo, um professor se
·q
-.i'I
j O Professor Universitário 21
20 Metodologia do Ensino Superior
I
dispor a lecionar Direito Processual Civil sem ter exercido atividade profissional nes- 1.3 Metodologia e didática do ensino superior
se campo. I I O reconhecimento da necessidade da preparação pedagógica do professor univer-
I sitário tem levado muitas instituições de ensino superior a desenvolver programas com
B- CULTURA GERAL I vistas a alcançar objetivos dessa natureza, sobretudo depois que o Conselho Federal
de Educação, por meio da Resolução nu 12/83, determinou que os cursos de Especia-
Embora especializado em determinada área, o professor precisa possuir também
lização (Pós-graduação lato sensu) destinassem pelo menos um sexto de sua carga ho-
cultura geral. Isto é importante porque todas as áreas do conhecimento se inter-rela-
rária mínima para disciplinas de conteúdo pedagógico.
cionam. É fácil verificar como qualquer comportamento humano, por mais específico
que seja, apresenta inúmeros condicionamentos- económicos, sociais, políticos etc. Observando essa determinação, a maioria dos atuais cursos de Especialização, nas
mais diversas áreas, vem oferecendo a seus alunos disciplinas dessa natureza, sendo
C- CONHECIMENTOS E HABILIDADES PEDAGÓGICAS : que as mais freqüentes são Metodologia do Ensino Superior e Didática do Ensino Superior.
Ao se analisarem os currículos dessas disciplinas, tal como são oferecidas pelas
Ficou claro desde o início deste capítulo que o professor precisa dispor de conhe- diversas entidades, fica claro que o seu objetivo é o de capacitar os professores sobre-
cimentos e habilidades pedagógicas, que podem ser obtidos e aperfeiçoados median- tudo para ministrar aulas. Também se pode notar que, embora com títulos diferen-
te leituras e cursos específicos. Estes conhecimentos e habilidades podem ser defini- tes, essas disciplinas costumam apresentar conteúdos muito semelhantes. Assim, pa-
dos como requisitos técnicos e envolvem: -~~_f;;rece relevante aclarar o significado dessas disciplinas.
A Metodologia do Ensino Superior é uma disciplina que procura caracterizar-se pelo
a) Estrutura e Funcionamento do Ensino Superior: o professor deve
rigor científico. Envolve os procedimentos que devem ser adorados pelo professor para
ser capaz de estabelecer relações entre o que ocorre em sala de aula com
alcançar os seus objetivos, que geralmente são identificados com a aprendizagem dos
processos e estruturas mais amplas. Isto implica a análise dos objetívos a
alunos. Assim, um curso de Metodologia do Ensino Superior procura esclarecer o profes-
que se propõe o ensino universitário brasileiro, bem como dos problemas
sor acerca da elaboração de planos de ensino, formulação de objetivos, seleção de con-
que interferem em sua concretização. E exige conhecimentos relativos à
teúdos, escolha das estratégias de ensino e instrumento de avaliação da aprendizagem.
evolução histórica das instituições universitárias e à legislação que as rege.
A Didática do Ensino Superior, por sua vez, apresenta um domínio mais amplo e
b) Planejamento de Ensino: a eficiência na ação docente requer planeja-
também mais complexo. Costuma-se definir Didática como "a arte e a ciência do en-
mento. O professor precisa ser capaz de prever as ações necessárias para
sino". Desta forma, a Didática do Ensino Superior envolve não apenas conteúdos que se
que o ensino a ser ministrado por ele atinja os seus objetivos. Isto exige a
pretendem verdadeiros em função das evidências científicas, mas também componen-
cuidadosa preparação de um plano de disciplina e de tantos planos de uni-
tes intuitivos e valorativos. Os conteúdos propostos para esta disciplina costumam
dade quantos forem necessários.
apresentar pontos de contaro com a Metodologia do Ensino Superior. Todavia, tornam-
c) Psicologia da Aprendizagem: o que o professor espera de seus alunos se distínros à medida que, ao considerarem a utilização de conhecimentos e habilida-
é que aprendam o conteúdo da disciplina que pretende lecionar. Nesse des pedagógicas, enfatizam "a maneira artística com que o professor desempenha a sua.
sentido, conhecimentos de Psicologia poderão ser muito úteis, pois escla- ação em sala de aula" (Godoy, 1988, p. 45).
recem acerca dos fatores facilitadores da aprendizagem.
Cabe ressaltar que este problema não se verifica apenas no Brasil. A ênfase na
d) Métodos de Ensino: a moderna Pedagogia dispõe de inúmeros métodos produção acadêmica e, conseqüentemente, na pesquisa é um fenômeno que pode ser
de ensino. Convém que o professor conheça as vantagens e limitações de observado mundialmente (Pachane, Pereira). Donald Kennedy (1997), que foi reitor 1;
cada método para utilizá-los nos momentos e sob as formas mais adequa- da Universidade Stanford por 12 anos, afirma que nos programas de doutorado nos
dos. Estados Unidos confere-se pouca atenção aos aspectos docentes, pois os alunos são
e) Técnicas de Avaliação: não se pode conceber ensino sem avaliação. Não pressionados a finalizar suas teses ou a colaborar nas pesquisas desenvolvidas por seus
apenas a avaliação no final do curso, mas também a avaliação formativa, orientadores.
que se desenvolve ao longo do processo letivo e que tem por objetivo fa-
cilitar a aprendizagem. Assim, o professor universitário precisa estar ca-
pacitado para elaborar instrumentos para a avaliação dos conhecimentos 'i
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e também das habilidades e atitudes dos alunos. ,,
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22 Metodologia do Ensino Supertor

Leituras recomendadas

ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. 5. ed. São Paulo: Papirus, 2003.

2
Segundo o próprio autor, este não é um livro sério. Reúne alguns artigos redigi-
dos de maneira simples e coloquial. O primeiro deles, "sobre jequitibás e eucaliptos",
é antológico e mostra a necessidade da formação de um educador comprometido con-
sigo mesmo e com o aluno, capaz de superar a burocratização e a uniformização a que Compromisso Social
é subffietido.
do Professor
MASETTO, Marcos Tarciso. Competência pedagógica do professor universitário. São Pau-
lo: Summus, 2003.
Neste livro, que se inicia com reflexões acerca da necessidade de se discutir a
competência pedagógica e a docência universitária, o autor analisa diversos aspectos
2.1 Educação e sociedade
da atividade do professor, desde o planejamento e o discernimento de prioridades,
passando pela interação entre professor e aluno, recursos técnicos e tecnológicos, até Não é possível tratar satisfatoriamente os problemas educacionais sem fazer con-
a dimensão política de sua atuação. siderações acerca de sua historicidade e vinculação com fenômenos sociais mais am-
plos. As instituições pedagógicas são antes de mais nada instituições sociais. Cada
MOROSINI, M. C. Docência universitária e desafios da realidade nacional. ln:_ __ sociedade é levada a construir o sistema pedagógico mais conveniente às suas neces-
(Org.). Professor do ensino superior: identidade, docência e formação. Brasília: INEP, sidades materiais, às suas concepções do homem e à vontade de preservá-las. Ou, tal-
2000. p. 11-20. vez, o sistema mais conveniente à reprodução das relações de poder que se manifes-
A autora analisa as mudanças ocorridas na rela~o Estado/Universidade/Professor tam em seu seio. Quando, pois, o sistema pedagógico muda é porque a própria socie-
em decorrência da expansão quantitativa do Sistema de Educação Superior, das pres- dade mudou, ou porque mudaram as relações de poder entre seus membros.
sões da sociedade sobre a universidade e de um Estado orientado pela qualidade e O fenômeno da mudança, todavia, não ocorre de forma mecânica. Algumas socie-
excelência do ensino. dades passam por notáveis mudanças no campo político e econômico e suas institui-
ções pedagógicas permanecem. Pode-se mesmo admitir que as instituições pedagógi-
NÓVOA, António (Coord.). Osprofessoreseasuaformação 3. ed. Lisboa: Dom Quixote, cas são mais cheias de sobrevivência que quaisquer outras instituições sociais. Tanto
1995. é que muitos dos autores dos principais métodos renovadores da educação não eram
Trata-se de coletânea de renomados autores, como G. Sacristán, M. Garcia, T. pedagogos. Decroly e Claparê:de eram médicos. Maria Montessori também era médi-
Popkewitz, Donald Shõn, T. Popkewitz, P. Woods e A. P. Gomes, que analisam criti- ca. John Dewey foi, antes de tudo, um filósofo. Piaget era biólogo. Rogers era psicólo-
camente o papel do professor. go. Emília Ferreiro também é psicóloga.
Como instituições sociais que são, as instituições educacionais refletem as carac-
VASCONCELOS, Maria Lucia Marcondes Carvalho. A formação do professor do ensino terísticas do sistema social que as inclui. Mas em seu interior manifestam-se natural- F

superior. São Paulo: Thompson Pioneira, 2000. mente as contradições inerentes a esse mesmo sistema social. Daí por que ações ori- r
Livro elaborado com base numa pesquisa que teve como objetivo compreender o ginadas do interior das instituições pedagógicas podem gerar mudanças significativas j_
papel do profissional liberal-docente, sua influência e importância no processo educa- no sistema social. r,.
cional das instituições em que trabalham. Abrange~ entre outros temas, a caracteriza- Importante papel nesse processo de mudança pode ser atribuído às doutrinas lI
ção da formação profissional dos professores universitários, a identificação dos moti- pedagógicas. Essas doutrinas, oriundas na maior parte das vezes de dissensões com os i
vos que os conduziram à doCência e o levantamento de suas opiniões e dificuldades a sistemas estabelecidos, ou cerno obra de pensadores à margem do seu meio, "concor-
respeito da profissão. rem para afeiçoar os espíritos e para levantar ou degradar os caracteres, exercendo, por
conseqüência, sobre os acontecimentos históricos urna parte de influência e de ação"
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(Compayré, citado por Hubert, p. 5). I'


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24 Metodologia do Ensino Superior Compromisso Social do Professor 25

A análise de inúmeras doutrinas pedagógicas mostra como algumas nada mais fa- Mesmo nos Estados Unidos, onde os educadores progressistas conseguiram in-
zem que refletir os valores sociais dominantes. Outras apontam para mudanças que fluenciar de forma significativa a escola nos anos 30 e 40, o modelo clássico conseguiu
devam ser feitas para ajustar a sociedade a novas realidades. E outras envolvem até novo vigor a partir da década de 60. O aparecimento dosptttnik soviético teve efeito de
mesmo propostas de libertação dos oprimidos. choque nos americanos e tornou-se um importante estímulo para se retornar ao rigor
Uma história das doutrinas não é suficiente para proporcionar a análise objetiva intelectual da escola clássica.
da evolução do processo educacional. Muitas doutrinas permaneceram em relação às Cabe também considerar que o modelo clássico se mostrou bastante favorável para
instinúções sociais e outras só lograram ser aplicadas muito tempo depois de seu apa- a absorção dos programas de modificação de comportamento desenvolvidos por edu-
recimento. E muitas vezes apenas parcialmente. cadores de orientação comportamentaL Graças a esses fatores, a perspectiva clássica
pode ser vista como capaz de incorporar inovações, pelo menos no que se refere à
Para que se tenha uma história da Pedagogia, torna-se necessário, portanto, con-
siderar tanto as doutrinas pedagógicas quanto os fatos educacionais concretos, que têm tecnologia de ensino.
sua origem na ação dos governos ou de segmentos da sociedade.
Está fora dos objetivos deste livro tratar das inúmeras doutrinas que floresceram 2.2.2 Perspectiva humanista
ao longo da História, bem como da evolução das instituições educacionais. Como, po-
rém, as ações dos professores são de alguma forma influenciadas pelas doutrinas e tam- A perspectiva humanista constitui uma reação à rigidez da escola clássica. Ela
bém pela orientação definida pelas instituições educacionais, serão aqui consideradas considera que sob as formas tradicionais de educação o potencial dos alunos é apro-
as principais perspectivas pedagógicas deste século e suas relações com os modelos de veitado apenas em parte. Por considerar que cada aluno traz para a escola suas pró-
atuação do professor em sala de aula. prias atitudes, valores e objetivos, a visão humanista centraliza-se no aluno. Assim, sua
preocupação básica torna-se a de adaptar o currículo ao aluno. i'
Os adeptos da perspectiva humanista enfatizam mais a liberdade que a eficiên-
2.2 Perspectivas educacionais cia. Por isso, são classificados por seus críticos como utópicos ou românticos .
• As bases desta orientação podem ser encontradas nas obras de pensadores como
2.2.1 Perspectiva clássica Comenius (1592-1670), Locke (1632-1704) e Rousseau (1712-1788), e de educado-
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res como Pestalozzi (1746-1827) e Froebel (1782-1852). Maria Montessori (1870-
A perspectiva clássica da educação enfatiza o domínio do professor, o ensino em
1952) constitui um bom exemplo de adoção desta postura, já que seu método se ba-
sala de aula e a ênfase nos tópicos a serem ensinados. Em sua expressão mais extre-
seia no princípio de que as crianças devem ter a liberdade de prosseguir segundo o seu
mada, vê os alunos como instrumentos passivos, capazes de aprender e aceitar orien-
próprio ritmo, escolhendo e orientando suas atividades. Seus trabalhos enfatizam que
tações, mas muito imaturos para iniciar qualquer atividade significativa. Professores
as crianças estão sempre prontas para aprender, sentem prazer com o aprendizado e
associados a esta abordagem vêem sua função como a de tutores que procuram mode-
estão prontas a ensinar a si mesmas se lhes for dada a oportunidade.
lar o comportamento dos alunos mediante exposições e demonstrações.
Um grande incentivo a esta orientação foi dado pelos psicólogos humanistas, so-
A preocupação básica da escola, segundo a abordagem clássica, é a de adaptar os
bretudo por Carl Rogers (1902-1987). Para ele, a escola constitui a instituição mais
alunos à tarefa de aprendizagem. Assim, o controle das atividades dos alunos é funda-
tradicional, conservadora, rígida e burocrática de nossa época. E propõe, como antído-
mental para evitar o desperdício e a ineficiência. Por conseqüência, a abordagem clás-
to, o ensino centrado no aluno, em que o papel fundamental do professor é o de
sica valoriza a elaboração de currículos claros, com objetivos bem definidos e estraté-
facilitador da aprendizagem.
gias que possibilitam a avaliação do aproveitamento dos alunos. '~ :
A perspectiva humanista mais recentemente vem sendo influenciada por educa- ,;
O modelo clássico tem sua origem naAntigüidade Greco-romana. Foi o dominan-
dores que enfatizam o aspecto político do ato de ensinar. Paulo Freire é uma das mais ):i
te nas primeiras décadas do século XX e, a despeito dos ataques que lhe têm sido
movidos pelos educadores progressistas, ainda constitui modelo muito valorizado em
inúmeras partes do mundo. Em muitos países subdesenvolvidos, onde educação cons-
importantes expressões dessa tendência. Suas idéias, que começaram a ser propostas
na década de 60, propõem um. sistema completo de educação libertadora que iria des- r!
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de a pré-escola até a universidade. Essa proposta se opõe aos sistemas tradicionais de H
titui privilégio de uma elite, o modelo clássico aparece como o preponderante e asso-
educação e visa à transformação das estruturas econômicas, políticas e sociais de opres- Li
ciado à reprodução das relações de poder. No Brasil, é fácil verificar como esse mode-
lo ainda goza de bastante prestígio.
são do povo. u
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26 Metodologia do Ensino Superior Compromisso Social do Professor 27

2.2.3 Perspectiva moderna deixar a natureza da criança desabrochar livremente, o soviético Mak.arenko coloca a
disciplina e o esforço pessoal como exigência premente no processo educativo.
As duas tendências consideradas manifestam-se nos dias de hoje tanto sob formas
extremadas quanto mais brandas. Observa-se também a manifestação de uma tendência Cada uma das três perspectivas consideradas fundamenta-se num conjunto de
conciliatória, que procura unir a ênfase do conteúdo sistemático da visão clássica com valores, que são contrastados no Quadro 2.1.
o caráter libertário da escola humanista.
Naturalmente, esta terceira tendência constitui, de certa forma, um amálgama dos
pontos de vista clássico e humanista. Porém, consolida-se sobretudo a partir dos tra-
balhos de Decroly (1871-1932), Claparede (1873-1940) e John Dewey (1859-1952). Perspectiva Moderna
Perspectiva Clássica Perspectiva Humanista
John Dewey foi indiscutivelmente o nome mais importante vinculado ao início
deste movimento. Ele criticava a rigidez curricular da escola clássica e não via conflito • Adaptação dos • Adaptação da escola • Harmonização entre
alunos aos objetivos às necessidades dos as necessidades dos
inerente entre o conteúdo da matéria e os interesses dos alunos. Antes propunha uma
da escola alunos alunos e os valores
síntese entre as experiências anteriores da espécie humana e as experiências atuais
• Certeza • Dúvida sociais
da criança. Para ele a escola deveria harmonizar as necessidades individuais das crian-
ças com os valores coletivos e prioridades da sociedade. • Competição • Cooperação • Probabilidade
• Autocracia • Laissez-faire • Crescimento
Esta perspectiva tornou-se muito influente a partir da década de 30 e inspirou • Disciplina • liberdade • Participação
• Responsabilidade
muitos movimentos em prol das "escolas novas" e é tida em muitos meios como a mais • Reprodução • Descoberta
adequada para uma sociedade moderna e democrática. • Orientação para o • Orientação para o • Criatividade
As obras de John Dewey e o movimento progressivo da "educação moderna" re-
conteúdo método • Orientação para a
solução de problemas
ceberam consagração mundial. Primeiro nos Estados Unidos, pátria de John Dewey. • Ênfase no ensino • Ênfase na
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Depois na Europa e na Ásia, sobretudo na Inglaterra, Alemanha, União Soviética, Ja-
aprendizagem • Ênfase no processo !::
ensino-aprendizagem i
pão e Turquia. "'
Cabe considerar, entretanto, que a perspectiva modema passou a receber muitas
críticas nos Estados Unidos, sobretudo a partir da década de 50. As principais críticas 2.3 Ensino e aprendizagem
referiam-se à "moleza e ao pouco de rigor intelectual da escola nova" (Bereday e
Sprinder, 1977, p. 312). As críticas tornaram-se mais intensas depois dos êxitos so- 2.3.1 Uma questão de ênfase
viéticos na corrida espacial. As escolas americanas passaram a receber pressões gover- :·
namentais para rever seus programas e métodos; sobretudo para reforçar o ensino de Dentre os vários aspectos referentes à ação do professor, um dos mais importan- j<
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ciências. tes refere-se à ênfase colocada no ensino e na aprendizagem. Para alguns autores, es-
Críticas semelhantes foram observadas também em países da Europa. E, em fun- pecialmente Abreu e Masetto (1985, p. 5), um problema central em sala de aula é "a
ção delas, muita coisa mudou nas escolas. Entretanto, tais críticas ensejaram inúme- opção que o professor faz pelo ensino que ministra ao aluno ou pela aprendizagem que
ras pesquisas educacionais no âmbito das escolas. E hoje uma das características fun- o aluno adquire".
damentais da perspectiva moderna é a ênfase na pesquisa como elemento imprescin- Os conceitos do ensino e aprendizagem encontram-se indissociavelmente ligados.
dível para determinar a necessidade de reforma dos métodos e programas. Porém, ao se falar de ensino, evocam-se conceitos como: instrução, orientação, comu-
nicação e transmissão de conhecimentos, que indicam o professor como elemento
principal do processo. Já, ao se tratar da aprendizagem, evidenciam-se conceitos como:
2.2.4 Perspectivas em contraste descoberta, apreensão, modificação de comportamento e aquisição de conhecimentos,
que se referem diretamente a,o aluno.
Convém considerar que a definição de três perspectivas constitui uma simplifi-
A ênfase colocada no ensino ou na aprendizagem torna-se, pois, importante indi-
cação. Dentro de cada uma delas, podem ser encontradas posições significativamente
cador do modelo de atuação do professor.
diferentes. Por exemplo, os humanistas reconhecem o valor fundamental da liberda-
de na educação da criança. Mas, enquanto a sueca Ellen Key considera importante
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28 Metodologia do Ensino Superior


i Compromisso Social do Professor 29

g) o educador é o que a tua;


2.3.2 Ênfase no ensino
os educandos, os que têm a ilusão de que atuam, na atuação do educador;
Muitos professores colocam rodo o seu empenho no ato de ensinar. Vêem-se como h) o educador escolhe o conteúdo programático;
fornecedores de informação e como os principais responsáveis pelos resultados obti- os educandos jamais são ouvidos nesta escolha, acomodam-se a ele;
dos. Acreditam que, se o professor ensinou (isto é, se explicou ou demonstrou), o alu-
i) o educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcio-
no aprendeu. nal, que se opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes de-
Estes professores são especialistas em determinada matéria e cuidam que seja vem adaptar-se às determinações daquele;
conhecida dos alunos. "A sua arte é a arte da exposição" (Legrand, 1976, p. 63). Seus
j) o educador, finalmente, é o sujeito do processo;
alunos, por sua vez, recebem a informação, que é fornecida coletivamente. Demons-
tram a receptividade e a assimilação correta por meio do "dever", "tarefa", "trabalho" os educandos, meios objeros" (Freire, 1985, p. 67).
ou "prova" individuaL
As preocupações básicas destes professores podem ser expressas por indagações
2.3.3 Ênfase na aprendizagem
do tipo: "Que programa devo seguir?" "Que matéria devo dar?" "Que critério deverei
utilizar para aprovar ou reprovar os alunos?" São preocupações que refletem a adoção Os educadores progressistas, preocupados com uma educação para a mudança, colo-
dos princípios da escola clássica. cam maior ênfase na aprendizagem que no ensino. Os humanistas constituem os exem-
Uma crítica bastante áspera a esta postura pode ser encontrada em Paulo Freire plos mais claros de adoção desta postura. Para estes educadores é nos alunos que es-
(2002). Para esse educador: tão centradas as atividades educacionais; em suas aptidões, expectativas, interesses,
oportunidades, possibilidades e condições de aprender. Os alunos são incentivados a
"A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memo-
expressar as suas próprias idéias, a investigar as coisas sozinhos e a procurar os meios
rização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma
para o seu desenvolvimento individual e social.
em 'vasilhas', em recipientes a serem 'enchidos' pelo educador. Quanto mais
vá enchendo os recipientes com seus 'depôsitos', tanto melhor educador será. À medida que a ênfase é colocada na aprendizagem, o principal papel do profes-
Quanto mais se deixarem totalmente 'encher' tanto melhores educandos se- sor deixa de ser o de ensinar, e passa a ser o deajudaroalzmoaaprender. Neste contex-
rão" (Freire, 1985, p. 66). to, "educar não é a arte de introduzir idéias na cabeça das pessoas, mas de fazer brotar
idéias" (Werner e Bower, 1984, p. 1-15). Não é fazer preleções para divulgar a cultu-
Este tipo de educação, caracterizada pelo ato de depositar, transferir, transmitir ra, mas "organizar estratégias para que o aluno conheça a cultura existente e crie cul-
valores e conhecimentos, é chamado por Paulo Freire de "bancária". Nela: tura" (Abreu e Masetto, 1985, p. 11).

"a) o educador é o que educa;


As preocupações do professor que faz opção preferencial pela aprendizagem pas-
sam a ser do tipo: "Quais as expectativas dos alunos?" '<Em que medida determinado
os educandos, os que são educados; aprendizado será significativo para os alunos?" "Que estratégias serão mais adequadas
b) o educador é o que sabe; para facilitar o aprendizado dos alunos?"
os educandos, os que não sabem; Esta postura, a despeito de seus inegáveis méritos humanistas, também tem ge-
c) o educador é o que pensa; rado alguns equívocos. Certos professores exageram o peso a ser atribuído às qualida-
os educandos, os pensados;. des pessoais de amizade, carinho, compreensão, amor, tolerância e abnegação e sim-
plesmente excluem a tarefa de ensinar de suas cogitações funcionais. Alicerçados no
d) o educador é o que diz a palavra;
princfpio de que "ninguém ensina nada a ninguém", atribuído a Rogers, muitos pro-
os educandos, os que a escutam docilmente; fessores eximem-se da obrigação de ensinar. Na verdade, o que estão fazendo nada mais
e) o educador é o que disciplina; é que, mediante o argumento da autoridade, procurar dissimular sua competência
os educandos, os disciplinados; técnica.
f) o educador é o que opta e prescreve a sua opção; Guido de Almeida (1986), analisando cerca de SOO redações elaboradas por candi-
os educandos, os que seguem a prescrição; datos a um concurso público para o magistério do Estado de Minas Gerais, constatou
que boa parte dos professores não valorizava a atividade de ensinar. É ele quem diz:
30 Metodologia do Ensino Superior Compromisso Social do Professor 31-.

" ... a julgar pelas redações que analisei, qualquer pessoa poderia ser professor O livro discute os saberes que servem de base aos professores para realizarem seu
de qualquer disciplina, já que os conteúdos não contam e a aprendizagem acon- trabalho em sala de aula. São criticados os enfoques anglo-americanos que reduzem o
tece automaticamente num relacionamento de amizade, de amor entre pro- saber dos professores a processos psicológicos, assim como certas visões européias
fessor e aluno. Os candidaros revelam acreditar tanto no relacionamento, va- tecnicistas que alimentam as abordagens por competência e também se posiciona de
lorizam tanto o amor, a amizade, o carinho, que parece não fazer mais sentido forma crítica em relação às concepções sociológicas tradicionais que associam os pro-
a afirmação de que, para lecionar uma disciplina, é preciso tê-la estudado, ou fessores a agentes de reprodução das estruturas sociais dominantes.
mesmo ter estudado qualquer coisa. Basta amar, doar-se, compreender, caminhar
lado a lado, caminhar de mãos dadas, e outros lugares-comuns, usados sem a me-
nor parcimônia" (Almeida, 1986, p. 145).

Esta análise é bastante inquietadora. Almeida conclui seu trabalho considerando


que, à medida que os professores desprezam a tarefa de ensinar, nada mais fazem que
o jogo das classes dominantes. A estas interessaria um professor bem comportado, mis-
sionário de um apostolado, um abnegado; tudo, menos um profissional que tem como fun-
ção principal o ensino. Interessaria também às classes dominantes a interiorização do
princípio de que "ninguém ensina nada a ninguém", pois assim a escola se desobriga
do preparo do cidadão; todos os fracassos passariam a ser creditados individualmente
às pessoas (Almeida, 1986, p.148).

Leituras recomendadas

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 38. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
Esta é uma das obras mais importantes de Paulo Fre.ire. Nela o autor trata da con-
cepção "bancária" da educação como instrumento da opressão e da necessidade de sua
superação pela concepção "problematizadora''. Sua leitura é importante para a refle-
xão acerca da responsabilidad~ social e política do educador.

MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo:


EPU, 1987.
A autora analisa de maneira bastante sistemática as diferentes correntes do pen-
samento pedagógico.

'i
SUCHODOLSKI, Bogdan. A pedagogia e.tzs grtmdes correntesfilosófi=· 3. ed. Lisboa:
Livros Horizonte, 1994.
Neste pequeno livro, o autor apresenta duas tendências fundamentais na histó-
ria pedagógica: uma pedagogia baseada na essência do homem e outra em sua existên-
cia. Analisa o desenvolvimento de cada uma delas desde seu aparecimento e apresen- :!
ta os esforços contemporâneos para a superação do conflito.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes eformação pro]zssional. Petrópolis: Vozes, 2002. j


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Planos de Ensino 33

A fase de acompanhamento tem lugar depois de ter sido o plano colocado em ação.
Nessa fase, acompanham-se a ação educativa do professor e o aprendizado do aluno.
A fase de aprimoramento, por fim, envolve a avaliação do alcance dos objetivos

f .... ~
3 Planos de Ensino
propostos na fase de preparação. A partir dessa avaliação, procede-se aos ajustes que
se fizerem necessários para a consecução dos objetivos.
Como se pode verificar, de acordo com o enfoque sistêmico, o planejamento de
r ensino vincula-se diretamente à execução. Assim, planejamento não pode ser visto
o/- como atividade separada e envolve naturalmente o concurso de elementos relaciona-
dos às mais diversas etapas do processo educacional.

3.2 Níveis de planejamento


3.1 Planejamento das atividades educacionais
3.2.1 Planejamento educacional
O estágio atual de desenvolvimento da Humanidade exige que os homens se va-
Ihai;q. in~ensamente de suas capacidades de reflexão e de planejamenro. Mediante a O planejamento educacional é o que se desenvolve em nível mais amplo. É o que
reflexão, o homem ínterpreta a realidade em que vive de forma cada vez mais aprimo- prevê a estruturação e o funcionamento do sistema educacional como um todo. Esse
rada, favorecendo, assim, condutas inteligentes nas situações novas que lhe são apre- planejamento está a cargo das autoridades educacionais, no âmbito do Ministério da
sentadas. Mediante o planejamenro, o homem organiza e disciplina sua conduta, tor- Educação, do Conselho Nacional de Educação e dos órgãos estaduais e municipais que
nando-se capaz de desempenhar atividades cada vez mais complexas. têm atribuições nesta área.
Nos tempos atuais, tudo requer planejamenro, desde as complexas ações governa- Em relação ao ensino superior, cabem ao Ministério da Educação a identificação
mentais em campos como os da economia, seguran~ e educação até simples atividades, de necessidades de aperfeiçoamento do sistema educacional e a realização de estudos
como a realização de compras num supermercado ou um passeio de automóvel. para a formulação de diretrizes. Ao Conselho Federal de Educação, por sua vez, cabe
O planejamento assume tamanha importância a ponto de se constituir como ob- fixar o currículo mínimo e carga horária dos cursos superiores, bem como definir crité-
jeto de teorização. Tanto é que podem ser encontradas várias teorias de planejamen- rios para autorização de funcionamento e reconhecimento desses cursos. É também
to. Uma das mais modernas é a que se vincula à Teoria Geral dos Sistemas. Segundo de sua competência a definição de critérios para a formação e aceitação de docentes
este enfoque, "o planejamento envolve quatro elementos necessários e suficientes para para o ensino superior.
a sua compreensão: processo, eficiência, prazos e metas" (Carvalho, 1976, p. 14). Há ainda os Conselhos Estaduais de Educação que exercem sua competência em
A partir desses elementos, pode-se aplicar o conceito de planejamenro às mais relação aos estabelecimentos isolados de ensino vinculados ao poder público estadual
diversas atividades humanas. Assim, planejamento educacional poderia ser definido ou municipaL
como o processo sistematizado, mediante o qual se pode conferir maior eficiência às
atividades educacionais para, em determinado prazo, alcançar o conjunto das metas
estabelecidas. 3.2.2 Planejamento curricular ;
: ~

De acordo com o enfoque sistêmico, o planejamento não se extingue com a ela-


O planejamento curricular desenvolve-se no âmbito da escola. Sua função é a de
boração dos documentos correspondentes. A efetivação do planejamento implica con-
-, concretizar os planos elaborados em nível imediatamente superior, ou seja, do pla-
siderar como interdependentes as partes que constituem o conjunto sistêmico e tam-
nejamento educacional, considerando a realidade em que a escola está inserida.
bém garantir o fornecimÇ..~to de fw.dback ao longo do processo. Assim, o planejamento
educacional pode ser concebido em três etapas: preparação, acompanhamentq e aper- Este planejamento, que é de natureza multidisciplínar, envolve a direção does-
feiçoamento. tabelecimento de ensino, seu 'corpo docente e também especialistas na área. Seu re-
sultado é concretizado em planos, que definem os objetivos que a faculdade espera
Na fase de preparação, procede-se à formulação dos objetivos e à previsão de to-
atingir, o perfil do profissional que pretende formar e as estratégias a serem adoradas 'i
dos os passos necessários para garantir a concretização desses objetivos. '
para favorecer o processo de ensino-aprendizagem.
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34 Metodologia do Ensino Superior Planos de Ensino 35

O planejamento curricular constitui tarefa complexa, pois requer o contínuo es- se maior probabilidade de alcance dos objetivos, obtém-se maior segurança na direção
tudo das circunstâncias que envolvem a escola, bem como dos avanços técnicos verifi- do ensino e também maior economia de tempo e energia.
cados na área educacional. Assim, o planejamento curricular deve ser encarado como Para o planejamento do ensino, o professor inicialmente procede ao diagnóstico
atividade permanente desenvolvida no nível da escola. E que tem como objetivo fun- da realidade em que se insere sua disciplina. Essa realidade envolve as necessidades e
damental harmonizar as exigências de uma formação efetiva com os recursos huma- as expectativas dos alunos, a importância e o status da disciplina no contexto do curso,
nos, materiais e financeiros disponíveis. os recursos disponíveis para o seu desenvolvimento etc.
Durante muito tempo, as escolas superiores dispuseram de pouca margem de li- Com base nesse diagnóstico, o professor define objetivos, determina o conteúdo
berdade para realizar seu planejamento curricular. Isto porque a legislação anterior da disciplina, seleciona estratégias e recursos de ensino e também de avaliação.
caracterizava-se por excessiva rigidez, com a fixação detalhada dos currículos mínimos.
À medida que o professor vai desenvolvendo o seu curso, passa a ter condições
Mas a Lei de Direrrizes e Bases da Educação (Lei nu 9.394, de 20 de dezembro de
de receber feedback de seus alunos. Como o planejamento, de modo geral, apresenta
1996), atualmente vigente, confere autonomia às Instituições de Ensino Superior para
alguma flexibilidade, o professor pode, a partir desse feedback, proceder a alterações
fixar os currículos de seus cursos, desde que observadas as Diretrizes Curriculares
em seu curso. Assim, os alunos vão-se tornando, de certa forma, co-participantes
gerais.
desse processo.
Essas Diretrizes Curriculares são definidas pelo Conselho Nacional de Educação
Também ao longo do desenvolvimento do curso, o professor faz novas leituras,
para os diferentes cursos e asseguram às instituições de ensino superior ampla liber-
dialoga com outros professores, toma contato com novas experiências educacionais e
dade na composição da carga horária a ser cumprida para a integralização dos currícu-
procede à avaliação dos alunos, da programação e de sua própria atuação. A partir da
los, assim como na especificação das unidades de estudos a serem ministradas. Elas
obtenção desses dados, o professor faz o replanejamento de seu curso. E, muitas ve-
indicam os tópicos ou campos de estudo e demais experiências de ensino-aprendiza-
zes, alterações significativas podem ser realizadas no decorrer do próprio ano ou se-
gem que comporão os currículos, mas evitam ao máximo a fixação de conteúdos espe-
mestre letivo. Fica claro, portanto, que o planejamento efetivo constitui atividade
cíficos com cargas horárias predeterminadas, que não poderão exceder 50% da carga
contínua e flexível.
horária total dos cursos.
' asseguram ampla flexibilidade às
Assim estabelecidas, as Diretrizes Curriculares
diferentes instituições de ensino superior na elaboração de seus currículos. Dessa for-
3.3 Elaboração de planos de ensino
ma, passam a dispor de melhores condições para atender às necessidades diferenciais
de suas clientelas e às peculiaridades das regiões nas quais se inserem. O que signifi-
3.3.1 As várias modalidades de planos
ca, por outro lado, que necessitam ser mais criativas e responsáveis.
As decisões tomadas no processo de planejamento concretizam-se em documen-
tos que habitualmente são designados como planos. Assim, o planejamento educacio-
3.2.3 Planejamento de ensino nal desenvolvido pelas autoridades governamentais dá origem a planos nacionais, es-
taduais ou municipais de educação. Esses planos tendem a ser bastante abrangentes,
Planejamento de ensino é o que se desenvolve basicamente a partir da ação do
razão pela qual são, geralmente, subdivididos em programas ou projetas.
professor. Visa ao direcionamento metódico e sistemático das atividades a serem de-
sempenhadas pelo professor junto a seus alunos para alcançar os objetivos preten- Do planejamento curricular, desenvolvido no âmbito das escolas, também se ori-
didos. ginam planos. Estes, normalmente designados planos de curso, esclarecem acerca dos
objetivos dos cursos que a escola oferece, de sua estrutura curricular, da clientela a .
O professor de ensino superior, ao assumir uma disciplina, precisa tomar uma sé- ·;
quem são oferecidos, das condições para inscrição, dos procedimentos de avaliação etc.
rie de decisões. Precisa, por exemplo, decidir acerca dos objetivos a serem alcançados
pelos alunos, do conteúdo programático adequado para o alcance desses objetivos, das O professor consolida as decisões tomadas a partir do planejamento em planos de
estratégias e dos recursos que vai adorar para facilitar a aprendizagem, dos critérios de ensino. Primeiramente, elabora o plano da disciplina, que envolve de forma global as
avaliação etc. ações a serem desenvolvidas durante o ano letivo (ou semestre, conforme o caso). A d
seguir, elabora os planos de unidade, que visam orientar sua ação em relação a cada
Todas essas decisões fazem parte do processo de planejamento de ensino, que cada
uma das partes do plano da disciplina. Cada uma dessas partes ou unidades corresponde
vez mais se configura como condição essencial para o êxito do trabalho docente. De
naturalmente a ações a serem desenvolvidas ao longo de uma, duas ou mais aulas. E à
fato, à medida que as ações docentes são planejadas, evita-se a improvisação, garante-
medida que o professor especifica as realizações diárias, elabora planos de aulas. J;

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36 Metodologia do Ensino Superior Planos de Ensino 37

• A seguir, são indicados os procedimentos usuais na elaboração de planos de disci- Nome da disciplina:
plina e planos de unidade. Curso:
Nome do professor:
Série ou semestre:
3.3.2 Plano de disciplina Ano letivo:
9 plano de disciplina constitui uma previsão das atividades a serem desenvolvi- Carga horária:
das ao longo de um ano ou semestre. Constitui, portanto, um marco de referência para Classes em que será aplicado o plano:
as ações do professor voltadas para o alcance dos objetivos da disciplina. Representa Número de alunos em cada classe:
também um instrumento para identificar a rêlação da disciplina com as disciplinas afins Monitores (quando houver):
e com o curso tomado de forma global.
Esses dados de identificação podem pafecer óbvios e mesmo dispensáveis. Toda-
De modo geral, o plano de disciplina esclarece, acerca de sua duração, objetivos via, sua inclusão é muito importante, pois o plano de disciplina constitui um documento
gerais, conteúdo programático básico, procedimentos de ensino e instrumentos de que poderá ser consultado a qualquer momento por alunos e outros professores. A apre-
avaliação. Naturalmente, para sua elaboração concorrem muitos fatores, tais como sentação desses dados com certo nível de detalhamento poderá ser importante para a
orientação da escola, habilidades do professor, recursos disponíveis etc. Todavia, al- avaliação do plano. Por exemplo, para se verificar adequação entre a duração do curso e a
guns princípios norteadores da elaboração de planos são muiro aceitos. Assim, pode- extensão do conteúdo, ou entre o número de alunos e as estratégias de aprendizagem.
se afirmar que o plano de disciplina deve:
• relacionar-se intimamente com o plano curricular de modo a garantir B- OBJETIVOS
coerência com o curso como um todo;
• àdaptar-se às necessidades, capacidades e interesses do aluno; Os objetivos representam o elemento central do plano, de onde derivam os de-
mais elementos. Esses objetivos são formulados em termos gerais e devem indicar de
• ser elaborado a partir de objetivos re~istas, levando em consideração os
forma clara a função da disciplina no conjunto do curso. Por exemplo, a disciplina Es-
meios disponíveis para alcançá-los;
tatística num curso de Psicologia poderá apresentar como objetivo geral: "Capacitar
• envolver conteúdos que efetivamente constituam meios para o alcance dos os alunos para a aplicação de medidas e testes estatísticos necessários para a realiza-
objetivos; ção de exames e pesquisas psicológicas." E o objetivo da disciplina Legislação Tribu-
• prever tempo suficiente para garantir a assimilação dos conteúdos pelos tária num curso de Administração de Empresas poderá ser assim definido: "Propor-
alunos; cionar conhecimentos básicos de legislação tributária com vistas à sua aplicação no âm-
• ser suficientemente flexível para possibilitar o seu ajustamento a situa- bito das empresas."
ções que não foram previstas;
• possibilitar a avaliação objetiva de sua eficácia. C-CONTEÚDO
Não existe um modelo rígido a ser seguido na elaboração de um plano de ensino. No plano de disciplina, o conteúdo é geralmente apresentado a partir da organi-
Todo plano, entretanto, deve apresentar numa seqüência coerente os elementos a zação seqüencial das unidades que a compõem. Por exemplo, a disciplina ivletodologia
serem considerados no processo de ens·ino-aprendizagem. O roteiro seguinte indica, Científica, que é ministrada em muitos cursos universitários, poderá apresentar o se-
de forma simples e funcional, como podem ser organizados num plano de ensino os guinte conteúdo: ·"j
seus diversos componentes:
• o conhecimento científico; ,J

A- IDENTIFICAÇÃO DO PLANO • o método científi.co;


• o planejamento da pesquisa científica;
A primeira parte do plano de disciplina é constituída por dados de identificação. • a coleta de dados;
Geralmente, nesta parte são indicados os seguintes dados: • a análise e a interpretação dos dados;
• a redação do relatório de pesquisa científica.

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38 Metodologia do Ensino Superior Planos de Ensino 39
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E comum também a indicação nesta parte da bibliografia fundamental para o de- Durante muito tempo, os professores ado taram o critério de planejar o ensino da
senvolvimentO da disciplina. disciplina por lições ou pontos. Todavia, o planejamento de unidades mostra-se mui-
to mais eficiente, pois) ao considerar um todo completo, proporciona um ensino mais
compreensivo e significativo para o aluno.
D- ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM
A elaboração de planos de unidade não impede, porém, que o professor proceda
Nessa parte, o professor esclarece os procedimentos a serem utilizados para faci- também ao planejamento de cada aula. O inconveniente estará ao pretender o profes-
litar o processo de aprendizagem. A especificação desses procedimentos é feita de sor derivar suas aulas, lições ou pontos diretamente do ternário da disciplina.
forma bastante sintética. Um professor pode, por exemplo, indicar que, para alcançar Para definir as unidades da disciplina, o professor se preocupará com que estas se-
os objetivos previstos, serão utilizadas as seguintes estratégias: jam compreensivas e significativas. Compreensivas no sentido de serem constituídas
de assuntos afins, que apresentem relação entre si. E significativas no sentido de se-
• aulas expositivas;
rem úteis e funcionais para os alunos.
• seminários;
Para que esses critérios sejam observados, as unidades poderão, muitas vezes, ser
• fracionamento; desiguais quanto à extensão. E, como regra geral, admite-se que as unidades devam
• dramatização. ser suficientemente restritas para serem compreensivas.
O plano de unidade difere do plano de disciplina sobretudo em relação à espe-
E-RECURSOS cificidade. Os objetivos são operacionais, isto é, designam clara e precisamente os com-
portamentos esperados dos alunos. Os conteúdos são muito mais pormenorizados, assim
É muito conveniente indicar os recursos necessários para o desenvolvimento da como as informações sobre estratégias de ensino, recursos auxiliares, bibliografia e
disciplina. Dessa forma, a faculdade poderá constatar a disponibilidade de tais recur- estratégias de avaliação.
sos ou, na falta dos mesmos, tomar providências para sua obtenção. Para a elaboração de planos de unidade pode-se adorar o esquema apresentado na
Existe grande variedade de recursos de ensin'b: desde os mais simples como qua- Figura 3.1. O desenvolvimento de cada uma de suas partes será apresentado ao longo
dro-de-giz, cartazes, álbum seriado e textos mimeografados até os mais complexos, dos capítulos seguintes.
como retroprojetores, gravadores e equipamentos de vídeo. Convém, portanto, que essa
previsão acerca dos recursos seja feita de forma'realista, considerando principalmente
a disponibilidade da instituição e da comunidade. Unidade: Carga horária:

Recursos de
F- ESTRATÉGIAS DE AVALIAÇÃO Objetivos Estratégias ensino e
específicos Conteúdo de ensino bibliografia Avaliação
A última parte do plano de disciplina é constituída pela indicação dos procedimen-
tos referentes à avaliação do alcance dos objetivos propostos. Essa avaliação poderá ser
feita por meio de provas objetivas, provas dissertativas, provas práticas, registros de
observação etc. Convém que na elaboração dessa parte o professor considere o siste-
ma de avaliação vigente na escola. Isso porque seus regimentos poderão limitar a atua-
ção do professor quanto à modalidade de avaliação, período de aplicação etc.

3,3,3 Plano de unidade

O plano de unidade é um documento mais pormenorizado que o plano de disci-


plina. A unidade refere-se aos assuntos da disciplina que formam um todo completo e :,:
que são desenvolvidos no espaço correspondente a uma ou algumas aulas. I~
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J)

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40 Metodologia do Ensino Superior Planos de Ensino 41

3.3.4 Plano de aula Este livro apresenta os conceitos básicos, as etapas e a estrutura do planejamen-
to. Propõe um estudo sobre objetivos, conteúdos, procedimentos, recursos de ensino
A maioria dos trabalhos relativos ao planejamento do ensino superior não trata da e avaliação do ensino-aprendizagem. Indica sugestões concretas para a elaboração de
eiaboração dê planos de aula. Estes instrumentos são muiro importantes no ensino planos de ensino, além de trazer outras opções existentes que podem interessar a
f~ndamental, em que se requer dos professores a especificação dos comportamentos educadores e planejadores da educação.
esperados dos alunos, bem como dos meios utilizados para alcançá-los.
O que distingue o plano de aula do plano de unidade é que este é bem mais res- VASCONCELOS, Celso dos Santos. P!anejamento: projeto de ensino-aprendizagem e
trito. De modo geral, limita-se à previsão do desenvolvimento a ser dado ao conteúdo projeto político-pedagógico. São Paulo: Libertad, 2002.
da matéria e às atividades de ensino-aprendizagem propostas de acordo com os obje-
Este livro trata do planejamento em seus diferentes níveis. Mostra-se particular-
tivos no âmbito de cada aula. Isto não significa que o plano de aula seja dispensável.
mente útil para as instituições que estão elaborando ou revisando os seus projetas
Muito pelo contrário_. Até há professores que elaboram planos de aula sem que tenham
políticos. Aborda os seguintes temas: A problemática atual do planejamento na Edu-
feito planos de unidade nem mesmo planos de disciplina. A rigor, aqueles não consti-
cação; Re-significação da prática do planejamento; Fundamentos histórico-antropoló-
tuem planos de aula, mas planos de discurso, pois o que a maioria dos professores faz,
gicos do planejamenro; Processo de planejamento; Tipos e níveis de planejamento;
quando não 'elabora planos de disciplina ou de unidade, é a ordenação de sua fala, já
Estrutura e elaboração do projeto de ensino-aprendizagem; e Estrutura e elaboração
que o conteúdo ministrado não decorre de objetivos claramente formulados.
do projeto político-pedagógico.
-,-,y_.

Leituras recomendadas

FARIA, Wilson. Teorias de ensino e p!anejammto pedagógico. São Paulo: EPU, 1995.
O autor trata •cto planejamento do ensino sob as perspectivas não diretiva e
libertária. Assim, enfatiza o planejamento de ensinÓ baseado na investigação e nades-
coberta.

MEDEIROS, João Bosco. Redação científu:a: a prática de fichamentos, resumos e rese-


nhas. 6. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
Os planos de ensino devem ser apresentados em linguagem técnica. Assim, reco-
menda-se este livro por tratar dos cuidados a serem tomados em relação à estrutura
do texto, estilo e aspectos gráficos de sua redação.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Superior. Diretrizes


curriculares para os cursos de graduação. Disponível em: <http://www.mec.gov.br/
Sesu/diretriz.shtm>. Acesso em: 19 set. 2004.
Acessando essa página do site do Millistério da Educação e Cultura, entra-se em
contato com os pareceres do Conselho Nacional de Educação que aprovam as diretri-
zes curriculares para cursos de graduação, a serem observadas na organização curricular
das Instituições de Ensino .Superior.

SANT'ANNA, Flavia; CANCELLA, André Lenir; TURRA, Clodia Maria Godoy;


DELCIA, Enricone. P!anejamento de ensino e avaliação. 11. ed. Porto Alegre: Sagra-
Luzzatto, 1996.
Formulação de Objedvos 43

Foi Franklin Bobbit que no início do século XX propôs o estabelecimento de ob-


jetivos em termos bem definidos. Objetivos gerais, segundo ele, devem ser evitados,
pois são inúteis para .a construção do currículo. Sua obr"a How to make a curriculum,

4 publicada em 1924, constitui-Importante marco no movimento de objetivos explíci-


tos em educação.
Ralph Tyler, em Í949, publica o livro Princípios básicos demrrú:ulo e ensino, quere-
Formulação de Objetivos presenta novo marco na história dos objetivos. Nessa obra, Tyler define com clareza
-uma metodologia para estabelecer os objetivos de ensino. E justifica a necessidade de
sua formulação explícita, com vistas a:

• capacitar o professor para planejar as etapas a serem seguidas pelos estu-


dantes;
• auxiliar o estudante quanto ao direcionamento e à ênfase na matéria a ser
4.1 Função dos objetivos
aprendida;
A elaboração de um plano de ensino) qualquer que seja o seu nível, inicia-se com • auxiliar o professor na avaliação do desempenho dos alunos.
a formulaÇão de objetivos. Todo planejamento conseqüente procura, antes de mais
Em 1956, Benjamin Bloom e seus colegas das Universidades de Chicago e de
nada, definir com precisão o que se espera que o aluno seja capaz de fazer após a con-
Michigan publicam a Taxionomia dos objetivos educacionais. Essa taxionomia, que não
clusão de um curso, disciplina ou unidade de ensino.
chegou a -ser completada por Bloom, tem suscitado grande número de pesquisas e obras
Os objetivos de ensino são geralmente expressos em termos de comportamento de divulgação referentes aos objetivos educacionais. E hoje constitui referência obri-
esperado dos alunos. Dessa forma, o estabelecimento dos objetivos serve para orien- gatória para todos os educadores que planejam suas ações a partir de objetivos.
tar'6-1'fflfessor quanto à seleção do contéúdo, escolha de estratégias de ensino e ela-
Em 1962, Robert Mager lança um livro que, a despeito de sua extensão (62 pági-
boração de instrumentos para avaliação do desemp~nho do aluno e do seu próprio. E
nas), passa a exercer signiftcativa influência sobre os educadores, a ponto mesmo de
também serve para orientar o alUno acerca do que dele se espera nesse curso, de sua
muitos professores admitirem que a história dos objetivos educacionais subdivide-se
utilidade e, ainda, em relação ao que será objeto de avaliação.
em dois grandes períodos: antes e depois de Mager.
Pode-se dizer que em torno da formulação dos objetivos gravita todo o trabalho
No Brasil, o movimento em prol dos objetivos educacionais manifesta-se a partir
do professor. Definir objetivos significa definir a aprendizagem do aluno, bem como
de meados da década de 70, com a tradução das obras de Tyler (1974), Bloom (1972)
tudo o que deverá ser feito para torná-la mais fácil, agradável e significativa.
e Mager (1976) já citadas. Sua receptividade foi boa nos cursos de formação de pro-
fessores de primeiro e segundo graus. Como, porém, o aprendizado em relação aos
objetivos refere-se mais à mudança de atitudes que à aquisição de conhecimentos, não
4.2 Histórico dos objetivos educacionais se pode dizer que esse movimento já tenha sido bem aceito pela maioria dos profes-
sores·, no ensino universitário, principalmente, já que seus professores, de modo ge-
É verdade que o interesse pela formulação dos objetivos em termos de compor- ral, não recebem formação didático-pedagógica.
tamento mensunivel é algo recente. Porém, desde o século XIX, verificam-se inú-
meras tentativas para definir os objetivos gerais da educação. Herbart (1776-1841)
e Spencer (1820...:1903) são considerados os pioneiros no movimento de objetivos ex-
plícitos na educação. Suas obras indicam a necessidade da definição clara de propó- 4.3 Objetivos gerais e específicos
sitos de ensino.
É comum classificar os objetivos em gerais e específicos. Os primeiros têm cará-
As contribuiÇões de Hérbart e Spencer são iinportantes como diretrizes filosófi- ter finalístico; referem-se àquilo que o aluno será capaz de fazer após a conclusão da
cas para o ensino. Porém, apenas em fins do século XIX, com a pressão em prol da edu- disciplina ou do curso. Podem ser identificados com os objetivos do plano da discipli-
,cação para as massas e com o sucesso do movimento da Administração Científica, é na. Por exemplo, os objetivos gerais da disciplina Psicologia Aplicada à Administração
que os professores se encorajaram a tratar cientificamente do problema da formulação poderão ser "capacitar os alunos para a ap1icação de princípios e técnicas psicológicas
dos objetivos.
Fonnu!ação de Objetivos 45
44 Metodologia do Ensino Superior

com vistas à solução de problemas de relacionamento interpessoal no âmbito das or- 4.4.2 Clareza e precisiW
ganizações".
Um objetivo claro e preciso é aquele que exclui a possibilidade de que seu propó-
Os objetivos específicos têm caráter intermediário. São utilizados para identifi-
sito seja confundido com outro qualquer.
car os comportamentos esperados dos alunos ao final das unidades da disciplina ou das
aulas ministradas. São também denominados objetivos instrucionais ou objetivos de Em Português, como em qualquer outro idioma, existem palavras que, embora
aprendizagem. muito utilizadas no dia-a-dia, são abertas a inúmeras interpretações. Por exemplo, as
palavras compreender e saber não deixam muito claro o que se pretende comunicar. Já
Naturalmente) os professores iniciam seu planejamento a partir de objetivos bas-
as palavras desenhar e escrever não suscitam muitas interpretações.
tanté gerais. Objetivos muito explícitos nos momentos iniciais do planejamento po-
dem ser limitadores e afastar os professores de ações potencíalmente produtivas. Ao se redigirem objetivos de aprendizagem, torna-se necessário, pois, utilizar pa-
lavras que não suscitem muitas interpretações. Por isso, sugere-se que os objetivos
A partir da formulação dos objetivos gerais de sua disciplina, o professor passa a
sejam expressos com frases iniciadas com verbos de ação, ou seja, verbos que expres-
elaborar a lista de conteúdos de ensino. Na prática, as coisas nem sempre ocorrem nessa
sem claramente o comportamento esperado do aluno.
seqüência, pois muitas vezes os objetivos são elaborados depois de terem sido defini-
dos os conteúdos. Todavia, quando o conteúdo de uma disciplina é criteriosamente Considerem-se os verbos:
elaborado, o professor já tem claros os seus objetivos; talvez não tenham sido redigi- compreender definir
dos, mas certamente foram "pensados».
conscientizar citar
Após terem sido definidas as unidades da disciplina, o professor estará em condi-
saber identificar
ções de elaborar os objetivos específicos.
aprender apontar
gostar comparar
4.4 Características dos objetivos úteis entender sublinhar

4.4.1 Referências ao desempenho dos alunos


• acreditar grifar
Os verbos da coluna da esquerda são abertos a múltiplas interpretações. Quando
Os objerivos de aprendizagem referem-se ao desempenho do aluno, ou seja) indi- um objetivo é expresso com esses verbos, não fica claro o que se pretende do aluno.
cam o que se espera que o aluno será capaz de saber ou fazer ao final de determinada Seja, por exemplo, o objetivo: "Os alunos serão capazes de compreender Gramática."
unidade de ensino. O que se espera é que os alunos definam o conceito Gramática? Ou que identifiquem
Uma forma bastante prática de formular objetivos que atendam a esse requisito regras gramaticais? Ou que apliquem essas regras em determinado texto?
consiste na utilização da fórmula "ao final da unidade o aluno será capaz de", seguida Já os verbos da coluna da direita facultam poucas interpretações. Por exemplo: "Os
da descrição dos desempenhos esperados. Por exemplo, num curso de Metodologia alunos serão capazes de citar o nome das capitais dos Estados brasileiros." Este obje-
Científica, em que a primeira unidade se intitulasse "O Conhecimento Científico", tivo é claro e preciso. Não se confunde com outro qualquer. Não significa que os alu-
seus objetivos poderiam ser assim definidos: nos serão capazes de localizar as capitais no mapa, ou de dizer o seu número de habi-
tantes; mas tão-somente capazes de citar seus nomes.
"Ao final desta unidade os alunos serão capazes de:
Fica claro que verbos dessa natureza tornam os objetivos mais precisos, mais es-
• definir o conceito de Ciência; pecíficos. Por isso mesmo, o professor, ao utilizar esses verbos, terá necessidade de
• identificar as principais características do conhecimento científico; elaborar listas mais extensas de objetivos para cada unidade.
• contrastar o conhecimento científico com outras formas de conheci- Os objetivos assim expressos são considerados operacionais, pois possibilitam, ao
mentos; final de cada unidade, verificar em que medida foram alcançados pelos alunos. Seja
• analisar o papel da Ciência no mundo contemporâneo." agora o exemplo: "Os alunos serão capazes de identificar os requisitos legais necessá-
rios para o exercício do magistério superior." Será possível ao professor, mediante tes-
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te, questionário ou argüição oral, verificar se de fato o objetivo foi alcançado? '~~
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46 Metodologia do Ensino Superior Formulação de Objetivos 47

4.4.3 Realismo do respectivo material ou idéia. Não se torna, porém, capaz de relacioná-
lo a outro material ou de perceber suas implicações mais complexas. Os
Os objetivos devem ser propostos pelo professor de forma tal que possam ser objetivos dessa categoria podem ser expressos pelos verbos: ilustrar,
realmente alcançados pelos alunos. Isso significa que o professor, ao formulá-los, exemplifu:ar, traduzir etc. Por exemplo: "Exemplificar as regras de concor-
precisa estar seguro de que os alunos apresentam os pré-requisitos necessários e dância verbal."
de que ele dispõe dos recursos e do tempo requeridos. Não pode, portanto, o pro- c) Aplicação: uso de abstrações em situações particulares e concretas. As
fessor estabelecer objetivos para sua disciplina com a justificativa de que foram abstrações podem apresentar-se sob a forma de idéias gerais, princípios
propostos em cursos anteriores tidos como modelares. A adequada formulação de técnicos ou regras de procedimento que devam ser aplicadas. Os objeri-
objetivos decorre de um processo de planejamento em que os dados originam-se da vos dessa categoria podem ser expressos pelos verbos: aplicar, demonstrar,
realidade observada. usar, inferir etc. Por exemplo: "Aplicar o princípio da resistência a situa-
ções práticas em Aerodinâmica."
d) Análise: separação de um todo em partes componentes. Em sua forma
4.5 Classificação dos objetivos de aprendizagem mais elementar, a análise envolve uma simples relação de elementos. Num
nível mais elevado, implica determinar a natureza do relacionamento entre
4.5.1 Domínios da aprendizagem esses elementos. Os objetivos dessa categoria podem ser expressos pelos
verbos: analisar, distinguir, categorizar, discriminar etc. Por exemplo: "Dis-
Os objetivos de aprendizagem podem ser classificados em três domínios:
tinguir juízos de fato de juízos de valor."
cognitivo, afetivo e psicomotor. O domínio cognitivo refere-se aos objetivos ligados
a conhecimentos, informações ou capacidades intelectuais. É o domínio a que se dá e) Sfutese: combinação conjunta de certo número de elementos para formar
maior atenção nas escolas superiores atuais. O domínio afetivo abrange os objetivos um rodo coerente. Envolve o processo de trabalhar com peças, partes ou
relacionados com sentimentos, emoções, gostos ou atitudes. O domínio psicomotor, elementos, dispondo-os de forma a constituir um padrão ou estrutura que
por fim, envolve os objetivos que enfatizam o usç e a coordenação dos músculos. antes não estava evidente. Os objetivos dessa categoria podem ser expres-
sos pelos verbos: resumir, compor, formular, deduzir etc. Por exemplo: "Re-
Bloom e seus colaboradores (1972) desenvolveram taxionomias de objetivos edu-
sumir uma obra literária."
cacionais nos domínios cognitivos e afetivos. Essas taxionomias possibilitam a orde-
nação dos objetivos eduCacionais em certo número de categorias distribuídas ao longo f) Avaliação: julgamento acerca do valor do material e dos métodos para pro-
de um contínuo de complexidade. pósitos determinados. Essa categoria constitui o mais alto nível da
taxionomia no domínio cognitivo. Seus objetivos podem ser expressos
pelos verbos: avaliar, criticar,julgar, decidir etc. Por exemplo: "Avaliar um
4.5.2 Domínio cognitivo plano de disciplina, levando em consideração o conteúdo programático e
o nível de conhecimento dos alunos."
O domínio cognitivo envolve seis categorias:
a) Conhecimento:' evocação de algo que tenha sido aprendido. Os objeti- 4.5.3 Domínio afetivo
vos dessa categoria podem ser expressos pelos verbos: citar, identificar,
listar, definir etc. Por exemplo: "Definir o conceito de Administração O domínio aferivo envolve cinco categorias:
Científica."
a) Receptividade: disposição para tomar consciência de um fato e de pres-
b) Compreensão: reafirmação do conhecimento sob novas formas. Nesse
tar atenção ao mesmo. Essa categoria constitui o nível mais baixo da
nível, o indivíduo conhece o que está sendo comunicado e pode fazer uso
taxionomia, e seus objetivos podem ser expressos pelos verbos: escutar,
atender, perceber, aceitar etc. Por exemplo: "Escutar o que os colegas dizem."
• Bloom et ai. (1956) falam em conhecimento (know/edge}, mas num sentido que envolve b) Resposta: reação a um fato. Nesse nível) o estudante vai além da sim-
pouco mais do que simples memorização. Tanto é queAnderson e Krathwohl (2001), numa revisão da ples receptividade; ele está disposto a receber o estímulo dado, não o evi-
taxionomia, propõem que o primeiro nível dos objetivos cognitivos seja designado pelo verbo recordar tando. Os objetivos dessa categoria podem ser expressos pelos verbos: con- ;~
(remember). I
Iii

~
48 Metodologia do Ensino Superior
Formulaçáo de Objetivos 49

cardar, acompanhar, responder etc. Por exemplo: "Acompanhar com aten- e) Movimentos de habilidade: movimentos complexos eficientemente
ção a exposição do professor." executados. Esses movimentos são executados com facilidade e graça,
c) Valorização: reconhecimento do valor de uma coisa, fenômeno ou com- quase como se nenhum esforço ou imaginação estivesse envolvido. Exem-
portamento. Entre os verbos que expressam objetivos dessa categoria plos de verbos associados a essa categoria: datilografar, mergulhar, patinar,
estão: reconhecer, apreciar, aceitar etc. Por exemplo: "Reconhecer a impor- esgrimir etc.
tância das relações humanas no trabalho." f) Comunicação não discursiva (abrangendo desde expressões faciais até
d) Organização: organização de valores num sistema. Quando o estudante coreografias de danças). Exemplos de verbos associados aos objetivos dessa
encontra mais de um valor relevante para uma situação, ele os organiza, categoria: gesticular, expressar, comunicar etc.
determina a inter-relação e aceita um como o dominante. Os verbos orga~ A classificação dos objetivos correspondentes ao domínio psicomotor não tem preo-
nizar,pesar,jormar, desenvolver e discutir são utilizados para expressar obje- cupado muito os educadores. Possivelmente porque se referem a comportamentos que
tivos dessa categoria. Por exemplo: "Formar seu próprio código de con- de modo geral são muitO mais concretos que os referentes aos outros dois domínios.
duta como dirigente de uma entidade.n São muito simples, por exemplo, estes objetivos psicomotores: "Discriminar pelo ta to
e) Caracterização por um valor ou complexo de valores: nesse nível, objetos porosos e não porosos", "serrar caibros", "lapidar diamantes" etc.
que é o mais elevado do domínio afetivo, o estudante age firmemente de
acordo com os valores que aceita, tornando-se este comportamento parte
de sua personalidade. Os verbos revisar, mudar, reJeitar e acreditar expres-
4.6 Vantagens e limitações da formulação de objetivos
sam objetivos dessa categoria. Por exemplo: "Revisar sua filosofia educa-
cional a partir da análise das obras de Paulo Freire." A formulação de objetivos comportamentais é matéria que ainda gera polêmica nos
meios educacionais. A maioria dos autores admite que os objetivos de alguma forma
devem aparecer nos planos de ensino. Mas há autores que vêem sérias implicações
4.5.4 Objetivos psicomotores éticas e ideológicas no movimento em prol da formulação de objetivos comportamen-
'
tais. Para Sacristán (1985), os objetivos ressaltam mais as possibilidades adaptativas
Bloom e seus colaboradores não publicaram um manual referente à classificação
que as criadoras; propiciam a homogeneidade, em vez de promover a individualidade
dos objetivos psicomotores. Coube a A. J. Harrow (1972), independentemente de
e as capacidades diferenciadoras; enfatizam as hierarquias e a centralização do siste-
Bloom, elaborar esse esquema, que envolve seis categorias:
ma escolar; e levam a enfocar os problemas educativos sob uma ótica empresarial.
a) Movimentos reflexos: respostas motoras involuntárias aos estímulos. A redação de objetivos comportamentais é matéria que ainda gera polêmicas nos
Para esse nível, não há necessidade de formulação de objetivos, pois os meios educacionais. Argumentos pró e contra têm sido gerados e os debates a esse
movimentos não são aprendidos, são reflexos dos estímulos. respeito são muito freqüentes. Fica claro, porém, a partir da análise desses argumen-
b) Movimentos básicos fundamentais: padrões inerentes ao movimento tos, que os mais fortes são em favor do uso dos objetivos. Os argumentos contrários
corporal, baseados nos princípios estabelecidos pelos movimentos refle- são na realidade argumentos contra o comportamentismo que freqüentemente apare-
xos. Geralmente, há pouca necessidade de redação de objetivos para este ce associado ao movimento em favor do uso dos objetivos.
nível de classificação, a menos que o aluno esteja tendo dificuldades e Os argumentos mais utilizados contra o uso dos objetivos são os seguintes:
necessite de um programa terapêutico. Os verbos agarrar, saltar, alcançar,
rastejar e engatinhar expressim objetivos correspondentes a esse nível. • os objetivos mais comuns são os mais fáceis de operacionalizar. Como con-
seqüência, os objetivos mais complexos podem ser subestimados;
c) Habilidades perceptivas (discriminações visuais, auditivas, cinestésicas,
habilidades coordenadas olhos-mãos, olhos-pés etc.). Os verbos discrimi- • por se referirem a mudanças comportamentais, os objetivos desconsideram
nar, distinguir e coordenar são alguns dos mais utilizados para expressar resultados educacionais importantes, como a mudança nas atitudes fami-
objetivos dessa categoria. liares e profissionais, nos valores sociais etc.;
• planejar como o aluno deve comportar-se após a instrução é um procedi-
d) Habilidades físicas (velocidade, persistência, esforço, fleJâbilidade etc.).
Entre os verbos que expressam objetivos nesse nível estão: tolerar, parar, I mento autoritário;
resistir. I
I ln;,
f
ii Iii
50 Metodologia do Ensino Superior Formulação de Objetivos 51

• o estabelecimento dos objetivos específicos impede o professor de tirar O comportamento é realmente tão simples como algumas pessoas no
proveitO das oportunidades de aprendizagem que aparecem inesperada- movimento dos objetivos nos fazem supor?
mente na sala de aula; Os objetivos podem ser usados como um padrão para a realização e ava-
• os objetivos operacionais visam à mensuração do comportamento, o que liação?''
de certa forma é desumano;
• muitas vezes, os resultados mais importantes são os que não foram ante-
cipados. Assim, os objetivos pré-especificados podem tornar o avaliador Leitura recomendada
inatento ao imprevisto.
VARGAS, Julie. Como formular objetivos comportamentais úteis. São Paulo: EPU, 1974.
Em favor do uso dos objetivos, são apresentados, entre outros, os argumentos:
Este é um texto de auto-instrução em que se apresentam, de modo prático, e atra-
• os objetivos constituem a base do planejamento racional do ensino; vés de testes, exercícios e pós-testes, os princípios que habilitam a formular objetivos
• a formulação dos objetivos incentiva os professores a pensar e a planejar comportamentais úteis, discutindo o que deve ser ensinado e por quê.
em termos específicos;
• os objetivos fornecem a base racional para a avaliação da aprendizagem;
• os objetivos auxiliam na escolha das estratégias e recursos de ensino;
• a apresentação dos objetivos informa os estudantes e demais interessados
acerca do que o curso se propõe a realizar;
• os objetivos auxiliam os alunos a efetuar um estudo seletívo;
• os objetivos servem para proporcionar aos alunos um sistema de
retroalimentação; ~~;
• os objetivos ajudam a rever os conteúdos mediante a verificação de suare-
levância no contexto do plano de ensino.
Naturalmente, as objeções apresentadas ao uso dos objetivos de ensino não são
suficientes para invalidá-los. Porém, servem para mostrar aos professores e especialis-
tas em educação que seu valor é relativo. E que. por conseqüência, devem ser objeto
de ampla reflexão, antes de serem propostos para fundamentar os planos de ensino.
Nesse sentido, tornam-se úteis as questões propostas por Davies (1999, p. 83) aos
professores:

"De onde vêm os objetivos?


É possível conhecer os objetivos educacionais pelos quais você luta?
Os objetivos obstruem a inovação no desenvolvimento curricular e do
ensino?
O conteúdo é reduzido a papel instrumental pelos objetivos?
É possível para qs professores concordarem com os objetivos e valores que
eles representam?
Como devem os objetivos ser usados?
Conteúdos 53

5.2 Critérios para seleção dos conteúdos

5.2.1 Vinculação aos objetivos

5 Conteúdos
Os objetivos, numa perspectiva moderna, constituem o ponto de partida para as
ações de ensino. Dessa forma, os conteúdos devem derivar dos objetivos e não o con-
trário.
Nem sempre este ponto fica claro para os professores identificados com o ensino
tradicional, em que o conteúdo da matéria é tido como o ponto de partida do ensino.
Nesta perspectiva, o livro-texto é tido como o recurso didático básico de onde deri-
vam o conteúdo, a seqüência de ensino, as estratégias didáticas e a avaliação. Por essa
razão, muitos professores, ao serem solicitados a redigir objetivos, fazem-no a partir
5.1 Função dos conteúdos dos conteúdos.
De acordo com o esquema seguido nesta obra, o conteúdo deve ser elaborado a
A definição dos conteúdos constitui um dos itens mais importantes na elaboração partir dos objetivos. Para que isso possa ser feito sem maiores dificuldades, é necessá-
dos planos de ensino. Até algumas décadas atrás, constituía o ponto de partida para o rio que os objetivos tenham sido elaborados com clareza, precisão e realismo. Quan-
planejamento de ensino. O professor, com base nos programas elaborados pela facul- do, porém, os objetivos constituem-se simplesmente de frases que o professor foi so-
dade, desenvolvia todas as suas atividades de planejamento. Na realidade, esse plane- licitado a elaborar, estes não podem ser tratados como recursos para a seleção de con-
jamento consistia em distribuir, de acordo com o tempo disponível, os conteúdos do teúdos.
programa de sua disciplina.
Embora posturas desse tipo ainda sejam encontradas em muitas escolas superio-
res, a tendência atual é enfocar o conteúdo numa p~rspectiva mais dinâmica. O con- 5.2.2 Validade
teúdo deixa de ser visto como orientador do planejamento e passa a ser encarado como
elemento para a concretização dos objetivos. À medida que o professor coloca maior Um conteúdo é considerado válido quando é digno de confiança e, além disso, é
ênfase na aprendizagem que no ensino, a fixação dos conteúdos passa a envolver tan- representativo da disciplina de que faz parte.
to o tratamento da informação a ser passada ao aluno, quanto as suas capacidades in- Para garantir a validade dos conteúdos, o professor precisa garantir sua atualiza-
telectuais, interesses e necessidades. ção. Como os conhecimentos, sobretudo os científicos, evoluem rapidamente, o pro-
Afixação dos conteúdos segundo essa perspectiva não constitui tarefa rápida e fácil. fessor precisa proceder a uma constante revisão dos conteúdos de sua disciplina.
Exige muito conhecimento da matéria a ser lecionada e também do grupo de alunos a
quem será apresentada. Nesse sentido, pode-se dizer que o professor do passado ti-
nha suas tarefas bastante simplificadas no que se refere ao planejamento dos conteú-
5.2.3 Significação
dos. Este simplesmente tomava os programas elaborados pelas autoridades educacio-
O conteúdo deve ter significação para o aluno, isto é, precisa estar relacionado às
nais ou pelos "grandes mestres" e os passava aos alunos, pouco importando o seu ren-
experiências pessoais do aluno. À medida que o conteúdo apresenta significação, que
dimento.
se vincula à realidade do aluno, a assimilação torna-se mais rápida e mais rica.
Hoje, o professor goza de maior autonomia para elaborar o programa a ser de-
John Dewey, analisando o problema da significação na História e na Geografia,
senvolvido junto a seus alunos. Naturalmente, para que essa autonomia possa consti- lembra que:
tuir um benefício, o professor deverá utilizá-la com responsabilidade. Não será neces-
sário dizer que o planejamen~o dos conteúdos deverá servir antes à aprendizagem do " ... se a Geografia e a História forem ensinadas como matérias já feitas e siste-
aluno que ao interesse do professor. matizadas que um indivíduo estuda simplesmente porque o mandaram à es-
Para que os conteúdos sejam fixados de forma a proporcionar os resultados mais cola, é natural que aprenda igualmente grande número de conhecimentos, mas
significativos, devem ser criteriosamente seJecionados. E para que sua compreensão sobre coisas remotas e estranhas à experiência quotidiana... Aquilo que se es-
seja a mais simples, devem ser organizados de forma racional. tuda não é vivificado, nem tornado real, pela inclusão direta em uma ativida-
54 Metodologia do Ensino Superior Cúnteúdos 55

de. Nem sequer a experiência ordinária continua a ser o que era, isto é, limi- • faixa etária;
tada. mas eficaz, viva. Ao contrário, ela perde algo de sua mobilidade e sensi- • nível socioeconômico;
bilidade às sugestões, é asfixiada e posta à margem por uma sobrecarga de • aspirações profissionais;
conhecimentos inassimilados ... Um maior acúmulo de conhecimentos sepa-
• hábitos de estudo;
rados dos interesses diretos da vida petrifica o espírito; sua elasticidade desa-
parece" (Dewey, 1979, p. 230). • conhecimentos anteriores;
• motivação para estudar a matéria.

5.2. 4 Flexibilidade Algumas destas informações podem ser obtidas a partir de boletins e fichas ela-
boradas pela faculdade. Outras podem ser obtidas mediante consulta a outros profes-
A definição dos conteúdos serve para nortear a ação do professor. Todavia, esses sores e ao coordenador pedagógico. Porém, outras tantas só podem ser obtidas direta-
conteúdos devem ser elaborados com certa flexibilidade, de forma tal que o professor mente dos alunos, mediante observação, entrevistas ou questionário. Por essa razão, é
possa fazer alterações, adaptações, renovações ou enriquecimentos, a fim de atender possível que a plena definição dos conteúdos só se torne viável, muitas vezes, depois
às necessidades da classe. de iniciadas as aulas.
À medida que os conteúdos sejam elaborados com flexibilidade, o professor terá
condições para superar dificuldades e imprevistos que aparecerem ao longo do ano ou
do semestre letivo.
5.2.7 Adequação ao tempo

Pode ocorrer que duas faculdades ofereçam a seus alunos disciplinas com o mes-
mo título, porém com carga horária diversa. Naturalmente, os conteúdos das discipli-
5.2.5 Utilidade
nas apresentarão níveis diferentes de profundidade, pois não será razoável esperar que
A seleção dos conteúdos deve considerar os in~resses e as necessidades dos alu- os alunos consigam o mesmo aproveitamento se o tempo oferecido for desigual.
nos. Quando estes percebem que os conteúdos correspondem às suas expectativas, É lógico que o aprendizado do aluno não é determinado exclusivamente pelo tem-
tendem a assimilar conhecimentos e a desenvolver habilidades com muito maior rapi- po que permaneceu na sala de aula. Há que se considerar a importância do tempo
dez. E espera-se, também, que o professor se sinta mais satisfeito à medida que per- utilizado para leituras, exercícios, pesquisas etc. Porém, a carga horária constitui ge-
ceba a utilidade dos conteúdos que transmite. ralmente um indicador expressivo da profundidade que se deseja conferir à discipli-
na. Por essa razão, ao se fixarem os conteúdos de uma disciplina, será necessário con-
Isto não significa, porém, que se deva conferir ao conteúdo caráter essencialmen-
te utilitário ou pragmático. Uma postura deste tipo acabaria por dificultar a obtenção siderar o tempo de que o professor disporá para o seu desenvolvimento.
de uma visão crítica da disciplina.

5.3 Ordenação dos conteúdos


5.2.6 Adequação ao nível dos alunos
Após a seleção dos conteúdos, o professor procede à sua ordenação. Esse procedi-
Foi muito comum no passado professores selecionarem conteúdos sem se preo- mento é importante, porque uma ordenação criteriosa simplifica a compreensão dos
cuparem com as dificuldades de aprendizagem que pudessem ser manifestadas pelos conteúdos, favorecendo, portanto, o progresso da aprendizagem num espaço de tem-
alunos. Para muitos professores, os conteúdos deveriam ser transmitidos aos alunos. po mais curto.
Se estes apresentassem dificuldades, seriam exortados a "estudar mais". E caso as di- Muitos professores procuram ordenar o conteúdo de sua disciplina numa "seqüên-
ficuldades permanecessem, não haveria outra solução além da reprovação ou da depen- cia lógica", ou seja, conforme foi disposta pelos especialistas nos seus compêndios.
dência. Assim, tem sido muito freqüente, sobretudo no ensino de disciplinas científicas, ini-
Hoje, porém, considera-se importante identificar o nível de maturidade e de adian- ciar com a apresentação de conceitos e fórmulas que são tidos como importantes para
tamento dos alunos para a definição dos conteúdos. Assim, o professor, para determi- o desenvolvimento do programa. Do ponto de vista de quem vai aprender ciências, os
nar a extensão dos conteúdos e sua variedade, deverá levar em consideração, entre conceitos e as fórmulas científicas constituem, evidentemente, o ideal a atingir, mas
outros, os seguintes aspectos em relação aos alunos:
56 Metodologia do Ensino Superior

não o ponto de partida para o aprendizado. A esse respeito, John Dewey (1979, p. 242)
lembra:

6
"O aluno começa a estudar ciências em compêndios nos quais a matéria
foi coordenada de acordo com o critério do especialista. Alinham-se desde logo
conceitos acompanhados de definições. Desde logo expõem-se leis e, com elas,
no máximo, algumas poucas indicações do modo por que se chegou a desco- Estratégias de
bri-las. Os alunos aprendem 'uma ciência' em lugar de aprenderem o modo
científico de tratar o material familiar da experiência ordinária." Ensino-Aprendizagem
Cabe, portanto, ao professor considerar, na seleção dos conteúdos, também os
critérios psicológicos. Estes referem-se às condições pessoais do aluno e envolvem,
entre outros aspectos, as dificuldades de aprendizagem e a motivação dos alunos.
Muitas vezes, ao procurar estabelecer uma "seqüência lógica" para os conteúdos de 6.1 Conceituação de aprendizagem
uma disciplina, o professor inclui, logo nas primeiras unidades, tópicos que envolvem
cerra dificuldade para o seu aprendizado. Naturalmente, há situações em que o assunto O conceito de aprendizagem é dos mais importantes no domínio da Psicologia.
requer que uma unidade seja aprendida antes de outra. Todavia, as razões para utilizar Refere-se às modificações nas capacidades ou disposições do homem que não podem
esse tipo de seqüência não são tão numerosas quanto em geral julgam os professores. ser atribuídas simplesmente à maturação. Assim, pode-se dizer que ocorre aprendiza-
Ninguém precisa saber fazer os alicerces de uma casa para levantar o telhado. gem quando uma pessoa manifesta aumento da capacidade para determinados desem-
penhos em decorrência de experiências por que passou. Também se pode dizer que
Também, ao estabelecer a seqüência dos conteúdos, o professor precisa levar em
ocorre aprendizagem quando, em virtude da experiência, uma pessoa manifesta alte-
consideração a motivação dos alunos. Assim, é conveniente identificar as unidades que
ração de disposições, tais como atitudes, interesses ou valores.
despertam maior interesse nos alunos e depois interçalá-las, à medida do possível, com
as demais unidades do curso. Em termos educacionais, o conceito de aprendizagem é mais específico. Refere-
se à aquisição de conhecimentos ou ao desenvolvimento de habilidades e atitudes em
decorrência de experiências educativas, tais como aulas, leituras, pesquisas etc.
Leitura recomendada i

SANT'ANNA, Flavia; CANCELIA, André Lenir; TURRA, Clodia Maria Godoy; 6.2 Processo de aprendizagem
DELCIA, Enricone. P!anejamento de ensino e avaliação. 11. ed. Porto Alegre: Sagra-
Luzzatto, 1996. 6.2.1 Complexidade do problema
No capítulo 4 deste livro, são apresentados critérios para seleção e organização dos O processo de aprendizagem é bastante complexo. Muitos autores escreveram e
conteúdos. continuam escrevendo a esse respeito. Daí por que os livros que tratam de Psicologia
da Aprendizagem costumam enumerar vários quadros de referência teórica que já fo-
ram elaborados para estudar esse assunto.
Está fora dos propósitos deste livro tratar exaustivamente do processo de apren-
dizagem. Todavia, há aspectos comuns à maioria das abordagens modernas acerca do
problema e que são de grande relevância para os professores. Dentre estes estão: di-
ferenças individuais, motivação, concentração, reação, realimentação, memorização e
retenção.
Evidentemente, a consideração desses aspectos constitui uma simplificação. Po-
rém, isso torna-se útil para o professor interessado em conhecer um pouco mais acer-
58 Metodologia do Ensino Superior Estratégias de Ensino-Aprendizagem 59

ca da aprendizagem com vistas a se)ecionar as estratégias mais adequadas para o de- Entendido desta forma, o problema da motivação torna-se bastante complexo, pois
senvolvimento da disciplina que pretende lecionar. o professor só conseguirá de fato motivar seus alunos se for capaz de despertar seu
interesse pela matéria que está sendo ministrada. Ou quando for capaz de demons-
trar que aquilo que está sendo ensinado é necessário para os alunos alcançarem os seus
6.2.2 Diferenças individuais objetivos.

As pessoas apresentam diferenças significativas em relação à aprendizagem. É fácil


verificar que, após ser dado determinado problema de Matemática em sala de aula, 6.2.4 Concentração
alguns alunos tendem a concluí-lo mais rapidamente que outros. Alguns alunos são mais
rápidos em levantar as mãos para responder a uma pergunta, enquanto outros são A concentração desempenha importante papel no processo de aprendizagem.
mais lentos. Alguns alunos lembram-se facilmente da matéria ministrada no dia ante- Quando alguém se concentra no que está lendo ou ouvindo, tende a aprender muito
rior, enquanto outros terão se esquecido e precisarão recordá-la. mais. Quando não há concentração, a matéria apresentada tende a fixar-se apenas va-
Há muitas razões que determinam essas diferenças entre as pessoas. A herança gamente.
genética responde por parte delas. Mas também devem ser considerados outros fato- A concentração depende muito da motivação. Numa classe mediana, é possível
res como: tipo de educação recebido, background cultural, condições de vida etc. observar como os alunos que querem aprender dirigem suas energias para o exercício
A determinação do peso de cada um desses fatores constitui tarefa bastante difí- da lição. Já os menos interessados podem estar completando o exercício, mas prestan-
cil. Fica claro, porém, que, ao se analisar a população de determinada classe, suas qua- do mais atenção ao que seus vizinhos estão fazendo ou ao que acontece fora da classe
lidades (dentre as quais a rapidez na aprendizagem) tendem a distribuir-se segundo a do que a seus próprios exercícios. Mas a concentração também é influenciada pores-
famosa curva de Gauss, que apresenta a forma de um sino. tímulos do ambiente, como: dimensões da sala de aula, recursos de ensino, seqüência
De acordo com essa curva, os alunos que apresentam mediana facilidade para de apresentação da matéria, maneirismos do professor, qualidade dos textos de apoio
aprender são os mais numerosos, ao passo que os muito rápidos e os muito lentos são etc. Um aluno pode estar muito interessado em aprender e procurar ouvir o que diz o
mais raros. Há que se considerar, entretanto, que ~ssa distribuição se evidencia mais professor. Porém, não consegue concentrar-se, porque a apresentação é feita de ma-
em grandes contingentes populacionais e pode não ocorrer quando sua constituição neira desordenada ou em voz monocórdia. Igualmente, um aluno pode ler determina-
se deve a outros fatores além do simples acaso. Porém, de modo geral, a curva de Gauss do texto palavra por palavra, mas sem lograr concentração, porque o texto está mal
constitui importante instrumento para antecipar a distribuição provável das caracte- impresso ou redigido num estilo obscuro.
rísticas de uma população. Há que se considerar também outros fatores pessoais estranhos à motivação que
podem dificultar a concentração, como: indisposição orgânica, preocupações, ansie-
dade etc.
6.2.3 Motivação

É indiscutível a importância da motivação na aprendizagem. Um aluno pode ser 6.2.5 Reação


inteligente, mas, se ele não quer aprender, ninguém poderá fazê-lo aprender. Se sub-
metido a uma situação de aprendizagem, como, por exemplo, uma aula, ele provavel- Para que alguém possa aprender determinada matéria, é necessário estar envolvi-
mente dedicará sua energia e atenção a fins menos desejáveis. Por outro lado, um alu- do com ela. Alunos passivos têm mais dificuldades para aprender. Convém, pois, que
no altamente motivado provavelmente fará melhor do que um teste de inteligência a cada estímulo ou conjunto de estímulos o aluno responda, dizendo, escrevendo, ela-
pudesse ter previsto. borando ou indicando alguma coisa
Convém considerar que a motivação é algo interior. As pressões externas podem É necessário que os alunos se exercitem no sentido de reagir ao que é apresenta-
aumentar o desejo de apren<?er, mas é necessário primeiramente que se queira apren- do. E também que as situações de ensino preparadas pelo professor sejam suficiente-
der. Os psicólogos lembram que a motivação sempre tem origem numa necessidade. mente estimulantes para provocar reações nos alunos.
Esta é que determina a direção do comportamento para alvos apropriados a sua satis-
fação. Assim, quando alguém tem necessidade de obter determinado conhecimento,
dirige sua atenção e energias para leituras, cursos, palestras e outras ações capazes de
satisfazer àquela necessidade.
60 Metodologia do Ensino Superior Estratégias de Ensino-Aprendizagem 61

6.2.6 Realimentação chá



A realimentação (feedback) exerce importante papel na aprendizagem. O fato de voz
ter o aluno condições para confirmar o que está acertando ou errando auxilia-o na fixa- boi
ção da resposta e também motiva-o na continuação do processo de aprendizagem. mar
Você certamente terá memorizado mais rapidamente esta última lista. Isto por-
6.2.7 Memorização que ela consiste em palavras cujo sentido é compreensível.
Seja, finalmente, esta lista:
Tudo o que foi aprendido pode ser evocado. Todavia, com freqüência as pessoas
se esquecem do que foi aprendido após decorrido algum tempo. Daí a tendência a se Deus
falar em boa ou má memória. vê
O que se entende por memória é algo muito complexo. Relaciona-se inclusive com que
fatores já considerados, como diferenças individuais, motivação e atenção. Sabe-se que meus
os diferentes tipos de memória (auditiva, visual etc.) distribuem-se de acordo com a ais
curva de Gauss. E também que é inegável o papel da motivação e da concentração no não
-.ç;i ~~;.
são
processo de memorização. Imagine-se, por exemplo, um professor de Inglês que vá a
uma conferência sobre o ensino dessa língua. Sua motivação em relação ao assunto mats
favorece sua atenção. E sua experiência própria no ensino de Inglês indica que ele que
memorizará mais facilmente o que for transmitido na conferência que um professor dor
de Matemática. por
ti
Mas há outro elemento de fundamental import~cia a ser considerado na memo-
ó
rização. Trata-se da compreensão. As pessoas lembrarão melhor mais coisas se a me-
flor
mória for auxiliada pela compreensão. Quanto mais tempo for gasto na compreensão,
mais rápida será a tarefa de meinorização. Nesse caso, a memorização provavelmente ocorrerá ainda mais rapidamente, pois,
Pode-se fazer uma experiência que demonstra bem a importância da compreen- além de serem dotadas de sentido, as palavras formam uma frase perfeitamente com-
são na memorização. Seja a seguinte lista de sílabas: preensível.

tra
!ir 6.2.8 Transferência
<--/_'..:('~'--·
tar
gor O aprendizado que permanecer específico para a situação em que originariamen-
bur te ocorreu permanece inútil. O que foi aprendido deve poder ser aplicado a outras si-
fi r tuações. É isto que se chama transferência ou generalização.
Qualquer professor com certa experiência no magistério é capaz de identificar
Leia a lista e tente lembrar-se das sílabas. Pegue uma folha de papel e procure
situações que mostram como muitos alunos, embora rendo memorizado longos
escrevê-las de memória. Compare, então, sua lista com a original. Caso tenha cometi-
textos, são incapazes de aplicar os conhecimentos aprendidos numa situação específi-
do erros, escreva novamente as sílabas sem olhar para a lista. Repita isto até que sua
ca. Como no magistério superior os objetivos mais importantes são os voltados à
lista esteja correra.
aplicação dos conhecimentos, a memorização de fatos ou de conceitos, por si só, é
Agora, repita este procedimento com esta lista de palavras monossilábicas: insuficiente.
fé Há uma série de idéias acerca da transferência que, embora aceitas em certos meios
réu ligados ao ensino, são falsas. Uma delas é a de que a transferência é automática: uma
vez que algo é aprendido, a aprendizagem conduzirá à transferência. Na realidade, para
62 Metodologia do Ensino Superior Estratégias de Ensino-Aprendizagem 63

que a transferência efetivamente ocorra, é necessário que o aluno seja capaz de ver as 6.3.3 Manter os alunos atentos
semelhanças entre a matéria e suas aplicações. À medida que isso ocorre, o que foi
aprendido poderá ser transferido, inclusive as habilidades e as atitudes. Para que haja aprendizado, é necessário que o aluno preste atenção à exposição
do professor, aos textos que lê ou aos exercícios de que participa. Naturalmente, a aten-
ção do aluno em boa parte depende do seu grau de motivação. Contudo, papel impor-
6.3 Como aplicar princípios psicológicos à aprendizagem? tante cabe ao professor, que deverá conhecer muito bem a estrutura interna do assunto
a ser ensinado, assim como a melhor seqüência de apresentação, a fim de organizar
6.3.1 Reconhecer as diferenças individuais espacial e temporalmente os estímulos a serem apresentados.
O professor conseguirá melhores resultados em relação à atenção dos alunos se
O professor, de modo geral, pouco pode fazer em relação à composição das clas- considerar alguns pontos como:
ses em que irá ministrar suas aulas. Será, porém, de toda conveniência procurar saber
se as classes foram formadas aleatoriamente ou segundo algum critério definido. E a) Humor: professores bem-humoradas conseguem mais facilmente man-
também serão desejáveis informações prévias acerca dos alunos, obtidas a partir das ter atentos os grupos. Frases espirituosas e exemplos pitorescos consti-
fichas de inscrição. À medida que o professor dispuser dessas informações, terá visão tuem recursos bastante eficientes.
global das classes, o que poderá auxiliá-lo nas estratégias a serem aplicadas. b) Entusiasmo: o entusiasmo do professor com freqüêncía transmite-se para
Ao iniciar o seu conta to com a classe, poderá também o professor proceder à cha- os alunos. Por essa razão, convém que os professores somente se dispo-
mada avaliação diagnóstica, mediante a aplicação de testes, questionários, entrevistas nham a ministrar determinada matéria quando estiverem convencidos de
e outros procedimentos de investigação. sua importância.
Assim procedendo, o professor poderá classificar os alunos de acordo com certas c) Aplicação prática: poucas coisas são tão dispersivas quanto um longo dis-
características, como interesses, conhecimentos específicos e histórico-instrucionais curso que não indique alguma aplicação prática. Por essa razão é que se
que possam auxiliar na seleção das estratégias de ensino. tornam muito úteis os exercícios e trabalhos práticos propostos para os
' alunos.
d) Recursos auxiliares de ensino: os recursos audiovisuais são muito im-
6.3.2 Motivar os alunos portantes para manter o grupo atento. A eficiência obtida com esses re-
cursos torna-se maior ainda quando sua utilização é diversificada.
Motivar os alunos constitui atividade mais complexa do que geralmente se ima-
e) Participação: a atenção de um grupo aumenta à medida que sua partici-
gina. Freqüentemente se admite que, quando um professor utiliza múltiplos recur-
pação é solicitada. Cabe, no entanto, considerar que só convém fazer ao
sos de ensino ou conta fatos pitorescos durante a aula, ele está motivando. Isto nem
grupo perguntas que possam ser respondidas sem maiores dificuldades.
sempre é verdadeiro, porque motivar implica despertar e manter o interesse do aluno
Perguntas mais complexas podem, ao contrário, servir para inibir os par-
em aprender. A motivação envolve, portanto, o estabelecimento de um relacionamento
ticipantes.
mais intenso entre o professor e os alunos. Apenas à medida que o professor procura
identificar os interesses dos alunos é que está em condições de motivar seus alunos.
O que se pode sugerir ao professor em termos de motivação é que procure inicial- 6.3. 4 Estimular reações dos alunos
mente estabelecer um relacionamento amistoso com os alunos. Dessa forma, o pro-
fessor terá mais facilidade não apenas pira identificar os interesses dos alunos, mas O professor pode estimular os alunos a participar. Eis algumas sugestões:
também para ajudá-los a perseverar quando encontrarem dificuldades.
• favorecer a tornada de anotações;
Para manter a motivação dos alunos em nível elevado, convém que o professor
procure despertar o seu interesse. Isso pode ser feito mediante a apresentação dos • estimular os alunos a falar, a dar depoimentos pessoais, a fazer sugestões
conteúdos de maneira tal que os alunos se interessem em descobrir a resposta, que e a ampliar as idéias apresentadas;
queiram saber o porquê, e assim por diante. Convém também que o professor procure • fazer perguntas;
demonstrar o quanto a matéria pode ser importante para o aluno. À medida que este • apresentar exercícios.
sinta que o aprendizado de determinada matéria lhe é necessário para alguma coisa,
ele certamente estará mais motivado para aprender.
64 Metodologia do Ensino Superior Esnaté@as de Ensino-Aprendizagem 65

6.3.5 Fornecer feedback 6.4 Como ser um facilitador da aprendizagem

Fornecer feedback é uma tarefa que exige do professor, antes de mais nada, disposi- Para Carl Rogers, a arividade de ensinar tem sido superestimada. Para ele, a apren-
ção para ouvir. Muitos professores, no afã de oferecer o máximo para os alunos, falam dizagem significativa
o tempo rodo. Ora, esse comportamento é completamente equivocado. Para facilitar
a aprendizagem, o professor deve, em muitos momentos, deixar de ser emissor e as- '' ... não repousa nas habilidades de ensinar do líder, nem no conhecimento eru-
sumir o papel de receptor para saber em que medida os alunos estão compreendendo dito do assunto, nem no planejamento curricular, nem na utilização de auxí-
o que está sendo transmitido. E a partir daí informar os alunos sobre o quanto estão lios audiovisuais, nem na aprendizagem programada que é utilizada, nem nas
acertando, o que estão compreendendo. palestras e apresentações e nem na abundância de livros~ embora qualquer um
dos meios acima possa, numa ocasião ou noutra, ser utilizado como recurso de
importância. Não, a facilitação da aprendizagem significativa repousa em cer-
6.3.6 Favorecer a retenção tas qualidades de atitude- que existem no relacionamento pessoal entre o
facilitador e o estudante" (Rogers, 1986, p. 127).
Para favorecer a retenção, o professor precisa primeiramente garantir a organiza-
Rogers recomenda mudar o foco do "ensino" para a "facilitação da aprendizagem".
ção do material a ser apresentado. Quanto maior a organização, maior a compreensão
E apresenta algumas qualidades do facilitador da aprendizagem:
e, conseqüentemente, mais fácil será a memorização. Nesse sentido, recomenda-se
adorar a seqüência "todo-parte-todo". Isso quer dizer que o professor iniciará seu tra- a) Autenticidade: o facilitador deve ser uma pessoa real, autêntica, que se
balho proporcionando uma visão geral do que será estudado na unidade, para, em se- apresenta sem máscara ou fachada. O professor pode ser uma pessoa en-
guida, apresentar a matéria em pormenores e, por fim, proporcionar um resumo geral tusiasta, entediada, interessada nos alunos, zangada, sensitiva e simpáti-
da matéria. ca a eles. Por aceitar esses sentimentos como seus, não tem necessidade
Outro procedimento que favorece a retenção é a repetição. Cabe considerar, en- de impô-los aos alunos. Dessa maneira, ele constitui para os estudantes
tretanto, que a repetição deve ser criativa, pois repe~ir sempre a mesma coisa é cansa- uma pessoa, não "a corporificação anônima de uma exigência curricular ou
tivo e desestimula o interesse. O professor pode expressar a mesma coisa de maneiras um tubo estéril através do qual o conhecimento é passado de uma gera-
diferentes, utilizando recursos diversos. O que é exposto oralmente poderá ser apre- ção para outra" (Rogers, 1986, p. 128).
sentado num texto escrito, sintetizado num cartaz ou numa transparência etc. b) Apreço pelo estudante: o professor deve apreciar o estudante, os seus
Também a recapitulação pode ser utilizada com muito proveito para facilitar a sentimentos, as suas opiniões, a sua pessoa. Deve manifestar carinho pelo
retenção. A recapitulação serve para trazer à mente aquelas coisas que estavam esque- estudante~ mas um carinho que não é possessivo. Um professor deste tipo
cidas, que estavam nos limites da "memória a curto prazo". A recapitulação constitui, aceita a apatia ocasional dos estudantes e sua falta de método tanto quanto
portanto, procedimento didático bastante adequado para proporcionar o armaze- os esforços disciplinados na consecução de objetivos mais importantes
namento duradouro das informações. (Rogers, 1986, p. 130).
c) Compreensão empática: o professor deve ter a capacidade de colocar-
se na posição do estudante, de encarar o mundo através dos olhos deste.
6.3.7 Criar condições para possibilitar a transferência Quando o professor tem a capacidade de compreender internamente as
reações do estudante, adquire uma consciência sensível da maneira pela
Para que a aprendizagem não fique apenas no nível da memorização, o professor qual o processo de educação e aprendizagem se apresenta no estudante.
deverá orientar sua ação pedagógica no sentido de proporcionar a transferência da Assim, aumentam as probabilidades de uma aprendizagem significativa
aprendizagem. Para favorecer o alcance desse nível, o professor pode: (Rogers, 1986, p. 131).
• empregar exemplos que esclareçam a aplicação dos conhecimentos a si-
tuações específiCas;
• propor exercícios e trabalhos práticos; 6.5 Estratégias de ensino-aprendizagem
• favorecer a discussão acerca da aplicação dos conhecimentos; e
Para facilitar a aprendizagem dos alunos, o professor se vale de estratégias, ou seja,
• empregar jogos, estudos de caso e dramatizações. da aplicação dos meios disponíveis com vistas à consecução de seus objetivos.
66 Metodologia do Ensino Superior Estratégias de Ensino-Aprendizagem 67

O termo estratégia vem sendo o mais utilizado nos planos de ensino para indicar É a obra mais importante de Rogers sobre Educação. Não é um livro que diz aos
esses procedimentos. Todavia, é comum procedimentos dessa natureza serem desig- professores "como fazer", mas que propõe a reflexão acerca de uma nova maneira de
nados como métodos de ensino, métodos didáticos, técnicas pedagógicas, técnicas de lidar com os estudantes. Merece especial destaque o sétimo capítulo: "O relaciona-
ensino, atividades de ensino etc. mento interpessoal na facilitação da aprendizagem''.
A esses termos e expressões os diversos autores têm atribuído significados algo
diferentes. Alguns autores apresentam argumentos de natureza etimológica para in- FONTANA, David. Psicologia para professores. São Paulo: Loyola, 1998.
dicar as diferenças entre método e técnica, estratégia e atividade etc. O que se obser-
Embora dirigido sobretudo a professores que lidam com crianças, esse livro pode
va, no entanto, é que na maioria das vezes esses termos e expressões são utilizados sem
ser útil também para professores universitários, porque trata das áreas da Psicologia
maiores preocupações em determinar exatamente o que significam. E com freqüên-
de mais valor para o ensino e para a aprendizagem.
cia o significado desses termos é estipulado pelos autores dos modelos de planos de
ensino ou documentos assemelhados, com vistas a garantir uniformidade na conside-
ração dos procedimentos. MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999.
Para os fins deste livro, considera-se a expressão estratégWs de ensino-aprendizagem em O autor apresenta os fundamentos das principais teorias de aprendizagem, tais
sentido amplo, que inclui os termos métodos, técnicas, meios e procedimentos de ensino. como: a teoria behaviorista de Skinner, a teoria das hierarquias da aprendizagem de
Gagné, a teoria da mediação de Vigostsky, a teoria da aprendizagem significante de
As estratégias de ensino são em grande número. Entretanto, muitos são os pro-
Rogers, a teoria da aprendizagem significativa de Ausubel.
fessores universitários que dominam uma única estratégia, que é a da exposição. Tam-
bém há muitos professores que, embora conhecendo outras estratégias, não as aplicam
por não se sentirem seguros. E ainda há os professores que diversificam suas estraté-
gias unicamente pelo desejo· de diversificar, sem saber se são ou não adequadas aos seus
propósitos.
Ao se decidir pela aplicação de determinada ~stratégia, deverá o professor certifi-
car-se de que ela é adequada à sua clientela e também aos objetivos que pretende al-
cançar. Nesse sentido, serão apresentadas nos capítulos seguintes as estratégias mais
recomendadas para o ensino superior, com a indicação de sua aplicabilidade, vantagens
e limitações.
;J
.i

Leituras recomendadas

DIAS BORDENAVE, Juan; PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de ensino-aprendiza-


gem. 25. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
Esse livro é orientado para o aperfeiçoamento pedagógico do professor universitá-
rio. Em seu segundo capítulo- "O que é aprender"-, os autores enfocam as contribui-
ções de Piaget e Gagné à Psicologia da Aprendizagem. No terceiro capítulo- "O que é
ensinar"-, tratam dos procedimentos que podem ser adorados para tornar o ensino mais
eficiente. E no quarto capítulo - "O aluno e o professor como pessoas" -, tratam das
características pessoais dos alunos que devem merecer a atenção do professor em virtu-
de de afetarem significatiVamente o processo de aprendizagem.

ROGERS, Carl. Liberdade de aprender em nossa década. Z. ed. Porto Alegre: Artes Médi-
cas, 1986.
Aula Exposidva 69

tram rodos os seus esforços no sentido de condensar seus conhecimentos e de expô-


los de forma lógica e clara. Daí resulta que toda a iniciativa da exposição cabe ao pro-
fessor, que decide acerca da ordem, do ritmo e da profundidade a ser dada ao ensino.

7 Aula Expositiva
Quanto ao aluno, cabe ser dócil, atento e submisso à autoridade do professor. Assim, a
exposição aparece como a estratégia que melhor caracteriza a educação "bancária" de
que fala Paulo Freire.
A adoção desse modelo torna problemática a aprendizagem. O professor preocu-
pa-se em expor a matéria e negligencia a importância do interesse e da atenção do aluno.
Seu discurso inclui termos que nem sempre existem na experiência dos alunos. Tan-
tas são as idéias apresentadas, que boa parte delas não é retida pelos alunos. Alguns
professores falam tão rápido que muitas das idéias apresentadas não são percebidas
pelos alunos. Outros falam tão b:líxo e de forma tão monótona que não conseguem
7.1 Caracterização manter a atenção dos alunos. Muitos professores ficam tão entusiasmados com a ex-
posição a ponto de deixar de utilizar qualquer recurso audiovisual. Em suma, as aulas
A aula expositiva consiste numa preleção verbal utilizada pelos professores com o expositivas com freqüência caracterizam-se pelo monólogo.
objetivo de transmitir informações a seus alunos. É um procedimento bastante anti- Evidentemente, nem toda a culpa pelas deficiências da exposição deve-se ao pro-
go. Sabe-se que foi utilizado pelos filósofos daAntigüidade, pelos escolásticos da Ida- fessor. Este nem sempre dispõe dos recursos audiovisuais necessários para tornar a aula
de Média, pelos professores do Renascimento e continua sendo aplicado na maioria mais interessante. Freqüentemente, as classes são tão numerosas que dificultam a
das universidades do mundo. No Brasil, constitui seguramente o procedimento mais aplicação de estratégias mais ativas. E o que é mais grave: os alunos estão tão acostu-
empregado em todos os níveis de ensino. Em muitos cursos universitários, é utilizado mados a aulas expositivas no sentido clássico, que tendem a rejeitar inovações propostas
quase de forma exclusiva e são em grande número os professores que identificam en-
pelo professor, mantendo uma atitude de passividade e desligamento.
sino com exposição. '
Ao mesmo tempo em que é a estratégia mais utilizada, é também a mais contro-
vertida. Enquanto alguns professores defendem seu uso, sobretudo pela pra ti cidade, 7.2.2 Exposição no contexto da moderna ciência da comunicação
outros a criticam, chegando a conceituar aulaexpositiva como um processo em que os
"fatos são transmitidos das fichas do professor para o caderno do aluno sem passar pela O que fica claro é que a exposição no sentido clássico gera sérios problemas de
mente de nenhum dos dois". comunicação entre professores. Todavia, os educadores podem apelar para a Ciência
A intensa utilização da aula ex:positiva justifica-se apenas pela tradição. Para mui- da Comunicação a fim de aprimorar a qualidade de suas aulas. Esta ciência vale-se da
tos professores, a exposição foi a única forma de passagem de informações a que fo- contribuição de diversos ramos do saber, como Psicologia, Semiologia e Cibernética e
ram submetidos ao longo de sua vida acadêmica. E, ao se decidirem pelo magistério, é capaz de proporcionar modelos que tornam mais eficiente a comunicação entre as
ado taram naturalmente a exposição como a estratégia mais válida. pessoas.
Boa parte das críticas feitas à exposição é pertinente. Porém, uma aula bem pla- Toda a atividade docente pode ser entendída como um processo de comunicação,
nejada constitui estratégia adequada em muitas situações. O que importa é que o pro- conforme o esquema:
fessor identifique a exposição como uma dentre muitas estratégias possíveis, com van-
tagens e limitações, recomendável em Certas situações e contra-indicada em outras.
Decodificador

7.2 Fundamentos teóricos da exposição

7.2.1 Modelo clássico de exposição O professor é o emissor, que tem um objetivo: fazer com que os alunos aprendam
a matéria. Para tanto, precisa criar uma mensagem. Então, seu sistema nervoso cen-
A exposição, no sentido clássico, fundamenta-se na idéia de que é possível ensi~ tral ordena o seu mecanismo vocal para exprimir o objetivo. Seu mecanismo vocal,
nar os outros por meio de explicação oral. Convencidos disso, os professores concen· servindo como codificador, produz uma mensagem. Essa mensagem é transmitida por
70 Metodologia do Ensino Superior Au!a Expositiva 71

ondas sonoras, para que os alunos a recebam. Este é o canal. Os alunos são os recepto- d) Cuidar que o tom de voz, a altura e o ritmo não desagradem aos
res. Seus mecanismos auditivos são os decodificadores, que decodificam a mensagem alunos.
em impulsos nervosos e a remetem ao sistema nervoso central, produzindo o entendi-
mento da mensagem.
Caso o professor coloque a mensagem num cartaz ou no quadro negro, seu meca- 7.3.2 Em relação à mensagem
nismo de escrita, representado sobretudo pelas mãos, será o codificador. O canal será
A mensagem é constituída pela matéria a ser ensinada. Muitos equívocos são co-
constit-uído pelas ondas luminosas que transmitem a mensagem expressa no cartaz ou
metidos pelos professores em relação a esse aspecto, mesmo pelos mais eruditos. É
no quadro-de-giz. E a vista dos alunos será o decodificador.
comum um professor apresentar aos alunos uma mensagem que consiste rigorosamente
Esse esquema é extremamente simples. Porém, nem sempre os professores aten- num artigo ou no capítulo de um livro. Ora, quando existe por escrito uma mensagem
tam para todos os seus ingredientes. Muitos professores, cientes de que necessitam completa referente ao assunto a ser ensinado, há grande probabilidade de que tenha
melhorar a comunicação com os alunos, procuram aperfeiçoar sua capacidade de trans- sido escrita para um tipo de audiência diferente, ou que seja mais extensa, ou mais
missão. Há professores que chegam mesmo a procurar cursos de impostação de voz ou sucinta, ou mais complexa do que é exigido para a situação. Também há que se consi-
de expressão corporal. Não há como deixar de reconhecer que essas medidas podem derar que nem sempre a maneira pela qual uma mensagem é escrita é a melhor para
ser úteis. Todavia, é necessário considerar que informar não é comunicar. O professor ser apresentada numa aula expositiva. Não convém, portanto, que o professor simples-
pode constituir-se em excelente fonte de informação sem que consiga uma comuni- mente reproduza em aula um artigo ou capítulo de livro.
cação eficaz.
Diversos cuidados precisam ser tomados em relação à mensagem que se preten-
A comunicação é um processo de inter-relação de pessoas e sua eficácia tem a ver de passar aos alunos, como:
não apenas com as habilidades de transmissão, mas também com as características da
mensagem, com o canal em que esta é veiculada e sobretudo com a disposição do re- a) Cuidar que a mensagem se ajuste às características e necessida-
ceptor. Também desempenha importante papel na comunicação a retroinformação des dos alunos: isso exige conhecimento prévio dos alunos. Convém, pois,
(feedback), ou seja, a recepção, pela própria fonte,~ informação sobre os efeitos pro- que o professor dedique algum tempo a essa tarefa, sobretudo nas primei-
duzidos pela mensagem emitida. ras aulas.
b) Elaborar a mensagem de forma clara, precisa e concisa: uma lin-
guagem empolada e repleta de termos técnicos dificulta a compreensão
7.3 Aplicação dos princípios de comunicação em sala de aula dos alunos.
c) Planejar a seqüência dos tópicos: é recomendável a utilização da se-
7.3.1 Em relação à fonte qüência de instrução "todo-parte-todo'"'. Para começar, dá-se aos alunos
uma visão geral da unidade; depois, apresenta-se pormenorizadamente a
Na comunicação doce.nte, o professor é a fonte. Para garantir a transmissão ade- unidade e, por fim, conclui-se com um resumo.
quada de suas idéias e emoções, o professor deve tomar alguns cuidados, como:
d) Considerar não apenas a seqüência lógica, mas também a psicoló-
a) Definir com clareza os seus objetivos. Muitos professores falham por- gica: muitas vezes, convém iniciar a exposição com um elemento quedes-
que deixam de precisar exatamente o que pretendem; apenas falam so- perte a atenção dos alunos; mesmo que este, numa seqüência lógica, deva
bre a matéria. A definição clara dos objetivos favorece a seleção do mate- vir posteriormente.
rial a ser incluído na aula e ã concentração dos recursos para alcançar os e) Imprimir certo colorido emocional à mensagem.
resultados desejados. f) Incluir, quando oportuno, anedotas e fatos pitorescos.
b) Fazer com que os alunos conheçam os seus objetivos. O professor g) Propor situações problemáticas para manter os alunos em atitude
deve deixar claro aos alunos o que pretende e procurar com eles chegar a reflexiva.
uma concordância ou consenso acerca dos objetivos básicos.
h) Apresentar as idéias mais importantes de formas diversas para não
c) Organizar as idéias. Isso exige o pleno domínio da matéria e a convic- provocar monotonia.
ção de que realmente esta é importante para os alunos. Para convencer
i) Evitar a tentação de expor o tempo todo: convém entremear a exposi-
os outros, é necessário primeiro convencer-se a si mesmo.
ção com breves discussões, exercícios e realização de experiências simples.
Aula Exposidva 73
72 Metodologia do Ensino Superior

7.3.3 Em relação ao canal Essas reações dos alunos, no contexto do processo de comunicação, constituem a
retroalimentação (feedback). E muita do sucesso da comunicação docente tem a ver com
Na aula expositiva, predomina a comunicação verbal. Todavia, o professor, para a habilidade do professor em lidar com essas reações.
tornar mais eficiente sua comunicação, vale-se também de outros canais. Muitas ve- Para influir positivamente no processo de recepção e aceitação das mensagens, o
zes, interessa que a mensagem não apenas seja ouvida, mas também vista, tocada etc. professor pode:
Convém, portanto, que o professor se valha dos mais diversos meios de comunicação
para que cada um complemente e reforce o outro. Assim, o professor poderá utilizar a) Desenvolver a empatia: colocar-se no lugar do aluno é importante para
quadro-de-giz, cartazes, álbum seriado, retroprojetor e outros recursos para ilustrar a que o professor possa sentir as dificuldades que ele tem para assimilar a
exposição. exposição.
Esses recursos serão tratados de forma mais abrangente no Capítulo 10: "Os Re- b) Manter-se atento para as reações dos alunos: muitos são os profes-
cursos Audiovisuais". sores que se entusiasmam tantO com a própria exposição que nem perce-
bem o que se passa com os alunos. E, muitas vezes, estes estão frios, imó-
veis, distantes. O professor precisa, portanto, desenvolver a capacidade
7.3.4 Em relação aos receptores de perceber a classe. Hans Aebli (1982, p. 42) sugere que o professores-
teja atento à expressão corporal do aluno. A rejeição da matéria ou do pró-
Os alunos são os receptores durante a exposição. A eles é que é destinada a co- prio professor se expressa num afastamento do corpo; o aborrecimento e
municação, embora vez por outra se encontrem professores que parecem ser os úni- a ausência de atenção, num relaxamento do tono corporal.
cos destinatários da comunicação. Falam sem se preocupar com o auditório; talvez c) Criar em sala de aula um clima de apreço, aceitação e confiança:
porque gostem de ouvir a própria voz. esse clima favorece o desenvolvimento de atitudes positivas em relação
O processo de recepção é complexo e deve merecer a atenção dos professores ao professor e sua disciplina, e as mensagens, conseqüentemente, serão
interessados no aprendizado dos alunos. mais bem recebidas.
Primeiramente, é preciso considerar que, quai\do a mensagem do professor che- d) Desenvolver nos alunos uma atitude permanente de curiosidade em
ga aos órgãos sensoriais do aluno (vista, ouvidos etc.), ocorre a percepção. Esta tem uma relação à disciplina: quando o professor consegue demonstrar aos alu-
base física, porém é influenciada por fatores psicológicos. Se o aluno está interessado nos o quanto é importante dominar os conhecimentOs que estão sendo
na matéria e tem uma imagem positiva do professor, sua mensagem é mais bem per- apresentados, estes tendem a manifestar maior desejo de aprender.
cebida. A percePção que se tem da mensagem é seletiva. As pessoas vêem ou ouvem e) Identificar o nível de conhecimentos e as expectativas dos alunos:
melhor aquilo que desejam ver ou ouvir. a auto-apresentação dos participantes no primeiro dia, perguntas feitas aos
Depois que a mensagem é percebida, passa a ser interpretada. A interpretação é alunos, bem como a aplicação sistemática de exercícios são importantes
algo pessoal e exclusivo de cada aluno. Embora a mensagem possa ter certo significa- para que o professor possa "dosar" a matéria e também dar oportunidade
do objetivo, o significado real da mensagem será diferente para cada receptOr, pois cada para que os alunos mais lentos acompanhem o curso.
um deles tem um quadro de referência próprio e pessoal para sua interpretação. Como f) Criar condições para que os alunos ofereçam retroalimentação.
assinalam Diaz Bordenave e Pereira (2004, p. 192): na interpretação, o receptor se
pergunta: "Qual é o significado que devo atribuir a esta mensagem que Fulano me
transmite a respeito deste assunto, ness~ situação?" .)
7.4 Uso adequado da aula expositiva
A interpretação da mensagem produz no receptor certa tensão, que se mostra mais
ou menos forte à medida que afeta as crenças do receptor ou a sua auto-imagem. Essa Ficou claro que a aula expositiva se rorna mais eficiente à medida que o professor
tensão, por sua vez, provoca reações diversas. O receptor pode aceitar a mensagem e aplica os princípios-da comunicação científica. Porém, o professor precisa estar cons-
incorporá-la a seu repertório de conhecimentos e crenças. Pode também ficar em dú- ciente de que a aula expositiva apresenta uma série de limitações, o que a torna ina-
vida quanto à aceitação da mensagem e solicitar mais dados. Pode ignorar total ou dequada em muitas situações.
parcialmente a mensagem. E, numa situação mais extrema, reagir agressivamente con-
A ampla utilização da aula expositiva deve ser creditada não apenas a fatores di-
tra a fonte.
dático-pedagógicos, mas também econômico-administrativos, como:
74 Metodologla do Ensino Supelior Aula Expositiva 75

a) A aula expositiva mostra-se muito mais económica que outras es- Leituras recomendadas
tratégias: a média de alunos para cada professor geralmente é grande. Em
alguns estabelecimentos de ensino superior, os professores chegam a dar AEBLI, Hans. Prática de ensino: formas fundamentais de ensino elementar, médio e
aulas em grandes auditórios munidos de microfone. superior. São Paulo: EPU/EDUSP, 1982.
b) A aula expositiva é bastante flexível: o professor pode adaptá-la aos Trata-se de obra fundamentada em teorias e experiências no campo da Psicolo-
mais diversos públicos. E também pode valer-se dela independentemen- gia da Aprendizagem. No primeiro capítulo, o auror trata dos aspectos psicológicos da
te de outros recursos, como material impresso, projeções etc. comunicação intelectual e apresenta regras que facilitam a narração e a exposição.
c) A aula expositiva é um meio rápido: o conteúdo a ser aprendido é apre-
sentado em sua forma final. Do aluno requerem-se apenas o entendimento LOWMAN, Joseph. Dominando as técnicas de ensino. São Paulo: Atlas, 2004.
da mensagem e a incorporação em sua estrutura cognitiva. O Capítulo 5 desse livro é dedicado à seleção e à organização do material para
d) A aula expositiva pode ser dada por qualquer profissional que do- apresentações em sala de aula. Trata das diferentes formas de preleção, de suas van-
mine a matéria, mesmo que não disponha de maiores conhecimen- tagens e limitações, da seleção de pontos para apresentações, da organização da aula,
tos pedagógicos: ressalte-se, porém, que simplesmente "dar aula'' não do estilo geral da aula e da tecnologia audiovisual.
garante o aprendizado. A aula expositiva só se torna eficiente quando é
bem planejaqa e executada de acordo com certos princípios. Nesse sen- MASEITO, Marcos Tarciso. Aulas vivas. 2. ed. São Paulo: MG Ed., 1996.
tido, a aula expositiva pode ser considerada tão ou mais difícil do que Essa obra é produto de uma pesquisa em que o autor identificou e analisou con-
outras estratégias de ensino. dições facilitadoras de aprendizagem possíveis de ser aplicadas em sala de aula do
ensino superior, que não exijam necessariamente recursos especiais e que possam
É evidente que o professor não pode deixar de considerar esses aspectos na deci-
envolver o estudante no processo de sua aprendizagem e tornar gratificante a ativida-
são acerca da utilização da aula expositiva. Todavia, do ponto de vista pedagógico, as
de do professor.
razões que conduzem a sua adoção são outras.
O uso da exposição é adequado para: •
PUJO L BALCELLS, Jaime; MARTIN, José Luis Fons. Os métodos do ensino universitá-
• transmitir conhecimentos; rio. Lisboa: Livros Horizonte, 1985.
• apresentar um assunto de forma organizada; Esse estudo analisa de maneira pormenorizada a aula exposiriva (designada lição
• introduzir os alunos em determinado assunto; magistral). Apoiando-se em sólida bibliografia internacional, os autores esclarecem
acerca de suas vantagens e limitações e oferecem sugestões práticas para melhorar a
• despertar a atenção em relação ao assunto;
qualidade das aulas expositivas.
• transmitir experiências e observações pessoais não disponíveis sob outras
formas de comunicação;
VEIGA, llma P. A.; CASTANHO, Maria Eugénia L. M. Pedagogia universitária: a aula
• sintetizar ou concluir uma unidade de ensino ou um curso. em foco. 3. ed. Campinas: Papirus, 2002.
A aula expositiva apresenta, todavia, uma série de limitações. Embora sendo efi- Esse livro trata da origem da universidade, de suas mudanças no tempo e dos
ciente para a transmissão de conhecimentos e mesmo para possibilitar a compreensão desafios que lhe são apresentados nos tempos atuais. Ênfase especial é conferida à
da matéria, mostra-se pouco adequada quando os objetivos de ensino se referem aos reflexão sobre diversos aspectos da aula universitária, tais como as possibilidades
níveis mais elevados do domínio cognitivo: aplicação, análise, síntese e avaliação. E em interdisciplinares, a inovação e arte de narrar.
relação aos domínios afetivo e psicomotor, a aula expositiva é totalmente inadequada.
Embora a aula expositíva deixe muito a desejar, os professores universitários não
dispõem geralmente dos meios e do apoio necessários para adorar outras estratégias
mais eficazes. Para muitos professores, à frente de classes numerosas e sem dispor de
recursos auxiliares, a aula expositiva constitui na prática a única alternativa. Assim, o
que lhes cabe é cuidar que a aula expositiva, com todas as suas limitações, alcance a
maior eficiência possível.
!J
A Dlscussáo 77 'i:
i
bros do grupo não dispõem dos conhecimentos necessários como requisitos prévios.
Uma discussão sobre a reprodução dos peixes não pode desenvolver-se adequadamente
sem que os estudantes saibam alguns princípios fundamentais acerca da reprodução

8 A Discussão
animaL Urna discussão acerca do comportamento dos sindicatos de trabalhadores será
pouco provei rosa se os estudantes não tiverem conhecimentO de seus poderes e ações.
Quando os requisitos prévios não são considerados, as reuniões tendem a degenerar
-;

num jogo antipático de superar os outros colegas.


Cabe considerar que a discussão não visa à aprendizagem específica de alguma
coisa, mas à transferência do que foi aprendido. Nesse sentido, Gagné (1971, p. 265)
acentua:
"Transformar a discussão no principal tipo de exercício para o ensino se-
ria, então, ignorar deliberadamente a necessidade fundamental e primária da
8.1 Valor pedagógico da discussão aprendizagem, isto é, ter certeza de que ela realmente ocorreu. Fazer com que
ela se realize é ainda o seu problema básico. As condições que acarretam a
Foi lembrado no Capítulo 7 que a exposição constitui estratégia adequada quan-
aprendizagem não se identificam às da discussão em classe. A maior exigên-
do os objetivos de ensino se referem aos níveis iniciais do domínio cognitivo, sobretu-
cia para que uma discussão seja coroada de sucesso, resultando assim na trans-
do à memorização. Já nos níveis mais elevados, bem como nos domínios aferivo e
ferência do conhecimento, é certamente a aprendizagem anterior."
psicomotor, é pouco recomendáveL Assim, o professor universitário precisa, em mui-
tos momentos, adorar outras estratégias para facilitar a aprendizagem. Também convém considerar que a velocidade de transmissão de discussão de
Uma estratégia que vem sendo adorada com proveito (embora nem sempre com informação é baixa num grupo de discussão. Como nos cursos universitários o tempo
a freqüência recomendada) é a discussão, que responde a vários objerivos, como: disponível para as diversas disciplinas é restrito, nem sempre a discussão se torna uma


'
favorecer a reflexão acerca de conhecimentos obtidos mediante leitura ou
estratégia eficiente.
A despeito de todas as suas limitações, a discussão pode ser considerada uma das
exposição;
estratégias mais válidas para o ensino superior. Todavia, o professor precisa saber que
• desenvolver novos conhecimentos mediante a utilização de conhecimen- existem modalidades diversas de discussão, cada qual aplicável a uma circunstância
tos e experiências anteriores; diferente.
• favorecer o enfoque de um assuntO sob diferentes ângulos;
• dar oportunidade aos alunos para formular princípios com suas próprias pa-
lavras e sugerir aplicações para esses princípios; 8.2 Discussão com a classe toda
• ajudar os alunos a se tornarem conscientes dos problemas que aparecem
na informação obtida a partir de leituras; 8.2.1 Problemas de aplicação
• facilitar a aceitação de informações ou teorias contrárias às crenças tradi-
A discussão com a classe toda vem sendo adorada como a principal alternativa à aula
cionais ou idéias prévias.
expositiva. O professor que a adora experimenta a sensação de estar sendo mais demo-
Por essas razões, a discussão tem sido recomendada como uma das mais impor- crático, ao mesmo tempo em que obtém feedback acerca do estado de conhecimento e
tantes estratégias de ensino, sem contar que uma discussão bem-sucedida pode ser 'compreensão dos estudantes. E, à medida que as discussões sejam bem-sucedidas, o
bastante agradável tanto para os alunos corno para o professor, pois se rorna um verda- professor passa a reconhecê-la como estratégia mais adequada para a formulação de pro-
deiro divertimento intelectual. E sem contar, também, que a discussão constitui im- blemas e o desenvolvimento do pensamento crítico dos estudantes. Todavia, a adoção
portante exercício de liberdade. Daí por que para muitos professores a discussão em dessa estratégia nem sempre é ·bem-sucedida, pois exige considerável habilidade didá-
classe é concebida como o protótipo da aprendizagem democrática. tica do professor. Quando não são bem conduzidas, as discussões podem produzir efei-
A despeito, porém, dessas inestimáveis vantagens, a discussão em classe apresenta tos indesejáveis, como: baixo nível de participação dos alunos, fuga dos objetivos, ani-
também algumas limitações. As discussões podem não ser eficientes quando os mem- mosidade entre os participantes, descontrole em relação ao tempo etc.
78 Metodologia ào Ensino Superior A Discussão 79

A eficácia da discussão como estratégia de ensino tem merecido inúmeros estu- vel que surjam discordâncias acerca das contribuições apresentadas. Contudo, será
dos e pesquisas, inclusive experimentais. Wilbert McKeachie, da Universidade de melhor o professor procurar, com a contribuição do grupo, reformular as contribuições
Michigan, um dos grandes estudiosos do assunto, lembra que a maioria das discussões polêmicas do que persuadir para que sejam retiradas.
em sala de aula pode ser classificada como "desenvolvente", ou seja, discussões cujo
propósito é desenvolver um conceito e suas implicações ou resolver problemas. Em-
bora seja uma estratégia orientada para uma série de objetivos, o papel do professor 8.2.3 Formulação de perguntas
nesse tipo de discussão não consiste em manipular o grupo de maneira que este siga
passos predeterminados e alcance conclusões preestabelecidas, mas em ajudar o gru- Formular perguntas é importante para manter a discussão. Os professores, porém,
po a progredir mediante a divisão do problema em suas partes componentes, que po- tendem freqüentemente a cometer o erro de indagar acerca de coisas para as quais
derão ser resolvidas em etapas. Sua função é mais a de formular os problemas que a de existe apenas uma resposta correta. Como já foi lembrado, a estratégia da exposição é
sugerir soluções. O professor procura guiar a discussão através de certas linhas, mas pouco útil quando se deseja obter respostas a questões sobre fatos em si. As pergun-
não conduzi-la para longe do interesse e aceitação do grupo (Walker e McKeachie, 1969, tas numa discussão devem ser estruturadas para analisar relações, implicações ou cau-
p. 53). sas de faros ou fenômenos. Em lugar de uma pergunta do tipo "qual a definição
Uma discussão deste tipo requer do professor uma série de habilidades didáticas, de .......... ?'', formule-se uma assim: "Como a idéia..... se aplica a....... ?" Esta última pro-
para iniciar a discussão, para fazer perguntas, para estimular a participação e vencer as vavelmente suscitará muito mais discussão que a primeira.
resistências dos alunos. Outro erro muito comum na formulação de perguntas consiste em fazê-las num
nível de abstração imprópria para o grupo. Os alunos tendem a participar mais quando
sentem que têm uma experiência que de alguma forma poderá contribuir para adis-
8.2.2 Início da discussão cussão. Assim, convém que as questões sejam formuladas como problemas que têm
algum significado para os estudantes. Esse trabalho será facilitado se o professor tiver
Um dos maiores problemas na discussão em sala de aula refere-se exatamente ao conhecimento de antecedentes pessoais dos alunos.
seu início. Convém que as discussões sejam precçdidas por alguma outra atividade, Outra técnica adequada para estimular a discussão consiste em provocar ou des-
como a leitura de um texto, uma preleção, demonstração ou dramatização. Quando isso tacar desacordos. Porém, é importante que isso seja feito de forma tal que a discussão
ocorre, a discussão tende a desenvolver-se quase espontaneamente. Porém, quando o mantenha um caráter mais intelectual do que emocional.
professor decide iniciar a discussão sem que qualquer experiência concreta tenha ocor-
rido, a participação dos alunos torna-se difícil.
A vantagem da atividade anterior à discussão está no fato de cada um dos alunos 8.2.4 Estímulo à participação
ter passado pela mesma experiência e, conseqüentemente, saber alguma coisa a res-
peito do assunto. E à medida que a discussão se refere a alguma coisa concreta, os alu- Embora a formulação de questões seja muito útil na condução de uma discussão,
nos tendem a manifestar menos constrangimento em revelar suas próprias opiniões ou nada se aproxima em importância à atitude do professor. É necessário que ele crie um
sentimentos. clima em que nenhuma contribuição importante seja desperdiçada e os estudantes com
Alguns professores utilizam com sucesso a técnica de colocar no quadro-de-giz idéias relevantes se sintam livres para expressar suas opiniões.
problemas propostos pelos alunos ou respostas a um problema que ele propõe. Por Para que isso ocorra, o professor precisa, logo no seu início, demonstrar quão im-
exemplo, um professor de Economia interessado em discutir as causas da inflação portante é a discussão para que os objetivos do curso sejam alcançados. E, ao longo do
poderia solicitar dos alunos que apreseritassem fatores capazes de provocar inflação. processo, esforçar-se no sentido de estimular a participação dos alunos.
Sua função seria, então, a de registrar no quadro as respostas oferecidas pelos grupos. Naturalmente, o incentivo à participação tem muito a ver com as características
É importante que o professor esteja disposto num primeiro momento a aceitar rodas pessoais do professor e com sua experiência na condução de grupos de discussão. To-
as contribuições, mesmo que não sejam significativas. A rejeição de alguma contribui- davia. podem ser identificadas algumas ações que são reconhecidamente eficazes nesse
ção poderá desestimular a Participação. sentido:
A colocação das contribuições dos alunos no quadro-de-giz favorece a discussão.
Recomenda-se, porém, que o professor procure manter uma atmosfera mais favorável • dispor os alunos em círculo;
à aceitação do que à crítica. Isso exige considerável habilidade ao professor. É inevitá- • solicitar a participação dos alunos nas áreas em que tenham reconhecida
competência;
80 Metodologia do Ensino Superior
A Discussão 81

• chamar os alunos pelo nome; assunto e planejar a apresentação. No final da apresentação, cabe-lhe ainda coordenar
• reforçar a participação dos alunos mediante agradecimentos, sorrisos ou a sessão de crítica e fazer comentários acerca da exposição.
sinais de aquiescência; Quando bem conduzidos, os seminários apresentam resultados bastante apreciá-
• demonstrar respeito pelas opiniões pessoais dos alunos. veis. Mostram-se muito úteis sobretudo para:

• identificar problemas;
8.2.5 Como vencer as resistências dos alunos • reformular problemas a partir de seu enfoque sob ângulos diferentes;
• propor pesquisas para solucionar problemas;
Nem sempre a participação dos alunos nas discussões se mostra tão satisfatória
• formular hipóteses de pesquisa;
quanto desejariam os professores. Comumente, os alunos mantêm certas barreiras que
dificultam sua participação. As mais freqüentes são: • acompanhar o desenvolvimento de pesquisas;
• comunicar os resultados obtidos em pesquisas;
a) Informação insuficiente: quando isso ocorre, os alunos manifestam gran-
• apreciar e avaliar os resultados de estudos e pesquisas.
de dificuldade para sustentar a discussão. Nesses casos, convém que o
próprio professor dê as informações necessárias, ou que adie a discussão Fica claro que o seminário constitui estratégia das mais adequadas aos objetivos
para um período posterior e peça aos alunos que obtenham as informações. do ensino superior. E nos cursos de pós-graduação muitas disciplinas podem ser de-
b) Conclusões prematuras do professor: é comum o professor dar uma senvolvidas inteiramente sob essa forma. Todavia, convém considerar que um semi-
conclusão prematura da discussão sem que os alunos tenham oportunidade nário, para surtir efeitos, exige a tomada de inúmeros cuidados. Quando isso não ocor-
de explorar o problema com a adequada profundidade. Convém, pois, que re, a estratégia torna-se pouco útil e não raro conduz à descrença dos alunos em rela-
o professor desenvolva a habilidade para fazer o resumo da discussão no ção ao seu valor.
momenro adequado. Para que um seminário cumpra o seu papel, que é mais o de ser fonte de idéias
c) Consenso prematuro dos alunos: tterifica-se freqüentemente a preo- que meio de informação, cumpre observar alguns requisitos. Primeiramente, é neces-
cupação dos alunos para chegar a um consenso. Enrretanro, esse não deve sário que o aluno ou grupo responsável pela apresentação esteja convencido de que o
ser o objetivo mais procurado nas discussões. É importante que o profes- mais importante no seminário não é "expor o tema", mas criar condições para a sua
sor procure desenvolver a sensibilidade dos alunos para pontos de vista discussão. Por essa razão, convém que os trabalhos sejam apresentados por escritO com
divergentes. O conflito pode ser muito útil para que bons resultados se- cópias suficientes para rodos os alunos, distribuídas com antecedência.
jam alcançados por meio da discussão. Cuidados especiais devem ser tomados pelo professor na fase que sucede a apre-
sentação. Ele deve assumir primeiramente o papel de coordenador do grupo de dis-
cussão. Cabem aqui, naturalmente, as mesmas recomendações que se fazem em rela-
8.3 Seminário ção·à discussão com a classe toda. E no final do seminário, cabe-lhe fazer comentários
sobre a exposição. Esses comentários serão certamente de natureza crítica, mas sobre-
O seminário é um tipo especial de discussão que vem sendo utilizado com freqüên- tudo orientadora.
cia cada vez maior no ensino superior. O nome dessa técnica vem da palavra latinasemen O desenvolvimento de um seminário pode assumir diferentes formas. Um esquema
(em português = semente). Daí por que o seminário é tido como estratégia das mais bem interessante é o calcado na experiência desenvolvida pelo Prof. Antonio Rubbo
adequadas para semear ou fertilizar idéiâs. Müller nos seminários da Escola Pós-graduada de Ciências Sociais da Fundação Esco-
Num sentido bastante amplo, o seminário é constituído por um grupo de pessoas la de Sociologia e Política de São Paulo. Esse esquema prevê as fases:
que se reúnem sob a coordenação de um especialista com o objetivo de estudar um
• preleção feita pelo responsável pelo tema;
tema. Nos cursos superiores, o seminário se desenvolve geralmente no âmbito de uma
classe, sendo o seu coordenador o professor de uma disciplina específica. Esse profes- • sabatina (perguntas feitas pelos participantes ao orador);
sor elabora um calendário para as apresentações dos trabalhos e orienta-os acerca da • depoimentos dos participantes; e
procura de fontes, tais como: livros, revistas, relatórios de pesquisa, pessoas e insti- • criatividade (formulação e discussão de problemas referentes ao tema
tuições. Muitas vezes, o professor também auxilia os alunos no sentido de organizar o apresentado).
82 Metodologia do Ensino Superior A Discussão 83

8.4 Discussão em pequenos grupos 8.4.3 Grnpo de verbalização e grupo de observação (GVJGO)

8.4.1 Fracionamento Nessa estratégia, metade dos alunos da classe forma um círculo central (grupo de
verbalização) com a finalidade de discutir um tema, enquanto a outra metade forma
Essa estratégia consiste em fracionar um grupo grande em pequenos grupos de um círculo exterior a esse (grupo de observação) com o objetivo de proceder à análise
modo a facilitar a discussão. É chamada também de Phillips 66 porque seu difusor do comportamento do primeiro grupo. Essa análise pode referir-se tanto ao conteúdo
Donald Phillips propôs que grupos de seis pessoas discutissem um assunto durante do que está sendo discutido quanto ao funcionamento do próprio grupo.
seis minutos. Na verdade, esses números não são fixos; os grupos podem ter quatro a No primeiro caso, os observadores poderão ser instruídos para observar, por exem-
seis membros e o tempo destinado à discussão pode chegar até uns dez minutos. plo, se o tema está sendo discutido com a precisão, a.objetividade e a profundidade
Essa estratégia é útil para obter informação rápida sobre expectativas, necessida- requeridas. Já no segundo caso, os observantes podem ser solicitados a verificar se todos
des, problemas e propostas dos alunos. Também ajuda a despertar o interesse da au- os participantes têm oportunidade para falar, se o grupo estabelece normas de fun-
diência e a criar atitudes favoráveis ao aprendizado. E apresenta também como vanta- cionamento para si mesmo, ou se o grupo procura organizar-se em relação à tarefa que
gem o fato de possibilitar a participação de todos os alunos, o que conduz a uma at- lhe foi atribuída, considerando o tempo disponível.
mosfera informal, participativa e democrática.
Para que a estratégia do fracionamento possa ser adorada com bons resultados, é
necessário que os alunos identifiquem claramente os objetivos da discussão e estejam 8.4.4 Grupos para formulação de questões
preparados para serem concisos em suas intetvenções. Convém, também, que o gru-
Essa estratégia consiste em dividir a classe em pequenos grupos com a tarefa de
po escolha, logo no início da discussão, um representante para proceder ao relato das
elaborar questões ou propor problemas ao professor, especialista ou colegas responsá-
conclusões no final. O professor poderá auxiliar os grupos, movimentando-se entre eles
veis pela apresentação de um tema em classe. É uma estratégia muito eficaz para es-
para prestar esclarecimento e avaliar o seu progresso. Se for necessário, o tempo po-
timular os alunos a falar. Diante de dois ou três colegas, os alunos têm mais facilidade
derá ser prorrogado, mas o professor deverá avisar o grupo de seu esgotamento um
para dizer o que pensam do que individualmente. Por outro lado, o grupo d~ colegas
minutO antes. O professor cuidará também que todo~ os grupos apresentem suas con-
serve para fazer uma espécie de triagem das questões levantadas, eliminando o que
clusões ao '"grupão" (todos os alunos da classe).
for irrelevante ou impertinente.
Para serem obtidos melhores resultados com esta estratégia, convém que os gru-
8.4.2 Painel integrado pos não tenham mais do que quatro ou cinco elementos e que escolham antecipada-
mente um representante para colocar o que o grupo elaborou.
O painel integrado é uma estratégia de fracionamento que se desenvolve em dois
momentos. No primeiro, a classe é dividida em pequenos grupos, cada qual com uma
tarefa diferente, que deve ser debatida e concluída dentro de determinado prazo. A 8.4.5 "Grnpo de cochicho"
seguir, formam-se novos grupos, desta vez constituídos por um elemento de cada um
dos grupos, formados anteriormente. Nesses novos grupos, cada participante relata o É a mais simples estratégia para discussão em grupo. Consiste em subdividir a
que foi discutido no grupo anterior e a conclusão a que se chegou. O grupo passa, en- classe em grupos de duas pessoas para discussão de um tema qualquer. Apresenta, pois,
tão, a rediscutir as conclusões, completando-as se for o caso e anotando as modifica- certa semelhança com a estratégia de fracionamento ou Phillips 66.
ções sugeridas. O "Grupo de cochicho" é uma estratégia bastante informal, de fácil organização,
Essa estratégia pode apresentar desenvolvimentos diversos. Todavia, o mais co- aplicável a grupos grandes, que favorece a participação total da classe. Mostra-se mui-
mum é os alunos voltarem ao grupão e um representante de cada um dos grupos apre- to útil para criar o máximo de oportunidade à participação individual e para possibili-
sentar oralmente as conclusões a que chegou o seu grupo. tar a expressão das características heterogêneas dos membros em relação a conheci-
mentos, experiências e opi.niões pessoais. Também serve para proporcionar alguma
A grande vantagem da adoção dessa estratégia está no fato de promover rigoroso
descontração aos alunos depois de uma exposição mais ou menos longa.
controle do trabalho da equipe, eliminando o parasitismo. Através do painel integra-
do, todos tomam conhecimento do trabalho realizado nos pequenos grupos. O painel
funciona como motivador e pressionador.

I'
84 Metodologia do Ensino Superior

Leituras recomendadas

GODOY, Arilda Schimidt; CUNHA, Maria Alexandra Veiga Cortez da. Ensino em
pequenos grupos. ln: MOREIRA, Daniel A. (Org.).Didáticadoensinosuperior: técnicas
e tendências. São Paulo: Pioneira, 1997.
As autoras discutem as habilidades requeridas no ensino em pequenos grupos e
9 Simulações
apresentam de maneira bem aprofundada o desenvolvimento do seminário.

LOWMAN, Joseph. Dominando as técnicas de ensino. São Paulo: Atlas, 2004.


O Capítulo 6 desse livro é dedicado à discussão enquanto estratégia de ensino.
Aborda o valor da discussão para a promoção da aprendizagem, descreve as diferentes
modalidades de discussão e apresenta um conjunto de técnicas para conduzir discus-
sões. 9.1 Conceituação

Há uma série de estratégias que têm em comúm o fato de simular algum aspecto
MINICUCCI,Agostinho. Técnicasdotraba!hodegrupo. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001. da realidade. Nessas estratégias, genericamente denominadas simulações, os alunos
Esse livro apresenta, de maneira bastante detalhada, as principais técnicas utili- assumem papéis existentes na vida real e comportam-se de acordo com eles. As con-
zadas para promover a discussão em grupo. Esclarece as vantagens e limitações de cada seqüências do desempenho desses papéis são percebidas pelos alunos, que são solici-
técnica, bem como os cuidados a serem tomados para garantir sua eficácia. tados a refletir a esse respeito. São, portanto, estratégias que colocam o aluno bem
próximo de situações reais e que possibilitam um feedback imediato acerca das conse-
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. São Paulo: qüências de seus comportamentos, atitudes e decisões.
Cortez, 2002. ' As simulações tendem a ser bem aceitas pelos alunos, pois, de modo geral, trazem
O Capítulo 4 desse livro é dedicado a seminário. O autor indica os usos do semi- certo grau de satisfação aos participantes. E, por terem sido incorporadas ao ensino
nário no ensino superior, esclarece a elaboração do texto-roteiro e apresenta um es- superior há relativamente pouco tempo, são reconhecidas como estratégias modernas.
quema geral de desenvolvimento do seminário. Essas razões, associadas a experiências que demonstram a sua eficiência, fazem
com que as simulações sejam vistas como estratégias adequadas para uma série de
objetivos. Entretanto, sua utilização no ensino superior nem sempre se faz de forma
adequada. Como as simulações são muito bem aceitas pelos alunos, muitas vezes sua
escolha por parte do professor se dá mais em virtude do clima que se cria em sala de
aula do que por qualquer outra razão de ordem pedagógica.
Naturalmente, a visão moderna de educação preconiza um clima agradável em sala
de aula e não há nenhum inconveniente em "aprender brincando". Todavia, é preciso
ficar claro que simulações não são brinquedos e que, se o professor as utiliza basica-
mente para promover entretenimento, está fazendo mau uso dessa estratégia.
Também cabe lembrar que algumas modalidades de simulação conduzem a certa
catarse. Por essa razão, podem evoluir para alguma forma de psicoterapia, o que é in-
conveniente, pois as simulações em sala de aula têm uma finalidade essencialmente
pedagógica.

i.
86 Metodologia do Ensino Superior Simulações 87
j;
9.2 Aplicações das simulações no ensino superior. Assim, serão considerados aqui quatro tipos de simulação que de !
alguma forma são aplicáveis ao ensino superior: demonstração~ processo do incidente,
As simulações no ensino podem ser utilizadas para alcançar inúmeros objetivos. estudo de caso e dramatização.
Seu uso tem sido mais freqüente em programas de treinamento e desenvolvimento
de pessoal do que na educação formal. Isso porque os objetivos do treinamento e de-
senvolvimento são mais imediatos; referem-se a tarefas correspondentes ao próprio 9.3.1 Demonstração
cargo do treinando. Assim, para muitas situações~ a simulação aparece como a estraté-
gia mais adequada. Há alguns tipos de treinamento, com objetivos predominantemente A demonstração é a mais antiga de todas as estratégias de ensino usadas pelo ho-
psicomotores, que requerem mesmo a utilização de simuladores. É o caso, por exem- mem. De modo bem amplo, refere-se à comprovação de qualquer coisa por meio de
plo, do treinamento para pilotos. Nesse caso, o treinando é colocado num simulador raciocínio concludente. Assim, a demonstração envolve tanto a comprovação teórica
de vôo que apresenta um painel semelhante ao de um avião e é solicitado a compor- ou prática de um enunciado ou de uma teoria quanto a revelação dos procedimentos
tar-se exatamente como se estivesse dirigindo um avião. necessários para a execução de uma tarefa qualquer.
No ensino superior, o uso de simulações é mais restrito, pois seus objetívos, de Neste último sentido é que a demonstração pode ser entendida como uma forma
modo geral, são mais amplos, não se referindo a tarefas tão específicas. Pode-se dizer de simulação.
que as simulações no ensino superior dirigem-se mais a objetivos situados no domínio Enquanto estratégia de ensino, a demonstração aplica-se mais ao ensino de habi-
afetivo, ou seja, têm em vista sobretudo o desenvolvimento de atitudes dos alunos. lidades manuais ou de processos rotineiros. É, portanto, mais recomendada quando se
Convém, pois, ao professor que, ao se decidir pelo uso de algum tipo de simula- deseja alcançar objetivos no domínio psicomotor.
ção, esteja seguro de que essa estratégia será adequada aos objetivos que pretende A demonstração, por ser uma estratégia bastante simples e de certa forma natu-
alcançar. ral, tende a ser desenvolvida freqüentemente de maneira informal. Porém, para evi-
Os principais objetivos para os quais se recomenda algum tipo de simulação são: tar o dispêndio de tempo e de material, bem como para garantir maior racionalidade
do seu desenvolvimento, convém que a demonstração se faça de maneira planejada, o
• estimular a reflexão acerca de determinado problema;
que envolve as fases:
• promover um clima de descontração entre os alunos;
a) Preparação: nessa primeira fase, o professor elabora o plano da demons-
• favorecer o autoconhecimento;
tração, prevendo todos os recursos necessários, bem como a forma de di-
• desenvolver a empatia; rigir a atenção dos alunos para aquilo que irão aprender.
• analisar situações de conflito; b) Apresentação: aqui o professor mostra e explica as operações necessá-
• desenvolver atitudes específicas; e rias para a execução da tarefa. Convém lembrar que limitar-se a dizer as
• desenvolver habilidades específicas. coisas não é ensinar. O professor consciente demonstra as operações de-
vagar, passo a passo. Depois disso, ou em intervalos entre as partes da de-
monstração, chama a atenção para alguns aspectos que os alunos podem
não descobrir por si mesmos. Previne contra os erros mais comuns, sa-
9.3 Modalidades de simulações
lientando os pontos-chaves. Também faz perguntas que forçam os alunos a
As estratégias que podem ser designadas como simulações são em grande núme- pensar e a descobrir coisas sobre a operação por si mesmos.
ro. E, naturalmente, podem ser classificãdas segundo diversos critérios. Assim, num c) Aplicação: nessa fase, o professor leva os alunos a repetir a demonstra-
primeiro momento é possível classificá-las em três grandes grupos: simulação homem- ção e a corrigir seus erros, quando for o caso.
máquina, simulação homem-computador e simulação com pessoas. Cada um desses d) Verificação da aprendizagem: nessa última fase, o professor deixa os
grupos, por sua vez, enseja s_ua subdivisão em grupos menores. alunos por conta I?rópria, a fim de verificar se conseguem executar a tarefa.
Está fora dos objetivos deste livro proceder a uma classificação rigorosa das simu-
A análise das fases do seu desenvolvimento deixa claro que a demonstração só pode
lações. Primeiramente porque os conceitos utilizados para designá-las nem sempre
ser desenvolvida adequadamente em pequenos grupos. Em classes numerosas, o pro-
possibilitam identificar onde começa e onde termina um ou outro tipo de simulação.
fessor tem condições apenas de proceder à apresentação. Isso torna a demonstração
E depois porque as simulações são mais aplicáveis no treinamento de pessoal do que
muito pobre, pois o desempenho do aluno é fundamental para a aprendizagem.
88 Metodologia do Ensino Superior Simulações 89 I
9.3.2 Estudo de caso psicodrama pedagógico, que se caracteriza sobretudo pela dramatização (ou "jogo de I
papéis"; em inglês = role playing).
O estudo de caso consiste em apresentar fatos ou resumos narrativos de situações A dramatização pode ser utilizada nas mais diversas disciplinas: Línguas, Histó-
ocorridas em empresas, órgãos públicos ou em outras instituições com vistas à sua ria, Geografia etc. Todavia, no Ensino Superior sua aplicação se dá sobretudo em dis-
análise pelos alunos. A situação é apresentada sem qualquer interpretação, podendo ciplinas do campo das Ciências Humanas. Nos cursos de Psicologia, é aplicada com
incluir declarações das personagens envolvidas, organogramas, demonstrativos finan- muita adequação a várias disciplinas, sobretudo naquelas que enfatizam a utilização
ceiros, cópias ou trechos de relatórios ou, simplesmente, descrições verbais. Os alu- da técnica da entrevista. Nos cursos de Pedagogia, a dramatização também se mostra
nos, individualmente ou em grupo, passam a trabalhar, podendo consultar as fontes bastante útil, sobretudo nas disciplinas Didática e Prática de Ensino. Nos cursos de
que desejarem. As soluções, apreciações ou críticas dos alunos são finalmente apresen- Serviço Social, sua aplicabilidade torna-se bem evidente, especificamente em Servi-
tadas à classe e discutidas, para que sejam apontadas as mais válidas. ço Social de Caso e de Grupo. Também nos cursos de Administração e de Direito são
O estudo de caso é muito empregado em certos cursos, notadamente de Admi- encontradas muitas oportunidades para a utilização da dramatização.
nistração, para a análise de problemas e tomada de decisões. Recomenda-se sua utili- Recomenda-se a utilização da dramatização sobretudo quando se deseja alcançar
zação para proporcionar ao aluno uma vivência dos fatos que possam ser encontrados objetivos no domínio afetivo. Mais especificamente, quando se deseja desenvolver nos
no exercício da profissão e para habituá-lo a analisar situações sob seus aspectos posi- alunos determinadas atitudes.
tivos e negativos, antes de tomar uma decisão. A dramatização é uma das estratégias de ensino mais atraentes. Todavia, para que
seja eficiente, exige cuidadoso planejamento, talvez até mais rigoroso que o da aula
expositiva, porque nesta o professor controla o seu desenvolvimento, o que não ocor-
9.3.3 Processo do incidente re na dramatização. Aqui, os atores formulam suas próprias frases, determinando a di-
reção da cena, e o professor precisa estar preparado para fazer com que a dramatização
O processo do incidente é uma variação do estudo de caso. Aqui, o professor apre- se torne uma experiência útil para a aprendizagem.
senta à classe uma ocorrência ou incidente de forma resumida, sem oferecer maiores O desenvolvimento da dramatização pode assumir formas bastante variadas. To-
detalhes. A seguir, coloca-se à disposição dos alunos para fornecer-lhes os esclareci- davia, o roteiro que se segue mostra-se bastante adequado para utilização no Ensino
mentos que desejarem. Finda a sessão de perguntas, a classe é subdividida em peque- Superior.
nos grupos e os alunos passam a estudar a situação, em busca de explícações ou solu-
ções. Depois, os grupos, por intermédio de um relator, expõem para a classe as suas
conclusões, que são colocadas no quadro-de-giz. Por fim, as conclusões do grupo são A- DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS
debatidas pela classe toda.
Para que a dramatização seja eficiente, seus objetivos devem ser claramente defi-
O processo do incidente requer muito mais preparo do professor e muitas vezes o nidos. Isso porque deles depende todo o desenvolvimento da dramatização. Tome-se,
preparo de materiais especiais. É, no entanto, muito mais rico, sobretudo porque alerta por exemplo, uma situação cujo propósitO é o de que os alunos aprendam a entrevis-
os alunos sobre a necessidade de maior quantidade de informações quando se deseja tar. Esse objetivo é muito genérico para proporcionar orientação a uma sessão de
analisar fatos não presenciados. dramatização. O que se pretende realmente? Que os alunos sejam capazes de "que-
brar o gelo" na entrevista? Ou de estimular o entrevistado a falar de si? Ou, então, de
registrar de maneira discreta as respostas dadas?
9.3. 4 Dramatização Quando os objetivos são muito amplos, sobretudo na área das relações inter-
pessoais, o que tende a ocorrer é a demonstração da capacidade teatral dos participantes
A dramatização é uma estratégia de ensino relativamente recente que tem sua e a preocupação em divertir a audiência. Quando, porém, os objetivos são bem delinea-
origem nos trabalhos desenvolvidos em Viena, pelo médico e sociólogo Jacob Levy dos, a atenção dos alunos tende a concentrar-se mais na situação do que nas habilida-
Moreno. des dos participantes.
Moreno desenvolveu a técnica psicoterapêutica conhecida como psicodrama, que
consiste na utilização da livre improvisação dramática, visando à catarse e ao desen-
B -ELABORAÇÃO DO ROTEIRO
volvimento da espontaneidade do indivíduo. Alguns dos princípios do psicodrama
passaram a ser utilizados também com objetivos educacionais, dando origem ao Normalmente, o professor, para estruturar a situação a ser dramatizada, elabora
um roteiro ajustado aos objetivos que se deseja que os alunos alcancem. Convém que
90 Metodologia do Ensino Superior Simulações 91

seja suficientemente detalhado para que todos percebam as circunstâncias que envol- los de seus papéis com um dia de antecedência. E também discutir com cada partici-
vem a situação, mas sem descrever minuciosamente as ações das personagens. E con- pante para acostumá-lo a pensar de acordo com o papel que irá representar.
vém, também, que a situação seja bastante semelhante à que ocorre na realidade. A audiência também precisa ser preparada para a dramatização. Convém que o
Suponha-se que um professor tenha como objetivo analisar o problema dos atra- professor lembre que o grupo não está ali para fins de entretenimento, mas para ana-
sos dos empregados de uma firma. Um roteiro adequado para ressaltar a necessidade lisar o desempenho dos participantes. Se o grupo for grande, será melhor dividi-lo em
de serem os chefes cordiais e criteriosos no trato de problemas dessa natureza pode subgrupos de três ou quatro e pedir a cada um que preste atenção a algum aspecto
ser assim elaborado: específico durante a dramatização.
"João na semana passada chegou duas vezes atrasado por mais de quinze
minutos. O trabalho dos outros funcionários da seção depende dos papéis que F- REPRESENTAÇÃO
saem de sua mesa. O chefe da seção sabe que João tem dois filhos pequenos e
A representação constitui o elemento central da dramatização. Por isso, só deverá
um deles tem estado doente. Mas percebe também que o trabalho dos demais
ocorrer quando houver garantia de que as fases anteriores foram adequadamente de-
funcionários da seção está sendo prejudicado pelo seu atraso na distribuição
.senvolvidas. Caso contrário, a representação poderá tornar-se um bom "espetáculo",
dos papéis."
mas sem concorrer para o alcance dos objetivos pretendidos.

C- DEFINIÇÃO DOS PAPÉIS G- ANÁLISE DA REPRESENTAÇÃO


Após a elaboração do roteiro, procede-se à definição dos papéis. Aqui, cabe consi- Esta é a última fase da dramatização. Representa o ponto em que a habilidade do
derar duas situações. Se o objetivo básico da dramatização se refere ao estudo de de- professor se torna fundamental para garantir que a dramatização se constitua efetiva-
terminado papel, convém especificar em pormenores a situação e deixar os ''atores" mente numa estratégia capaz de promover aprendizagem.
desenvolverem o papel naturalmente. Se, por outro lado, o objetivo é o de estudar uma A análise da dramatização é coisa muito complexa e como tal não pode ser desen-
situação, convém definir com maior clareza os Papéis das pessoas envolvidas na volvida a partir de um conjunto de fórmulas. Depende fundamentalmente dos conhe-
dramatização e deixar os participantes atuarem de acordo com o papel definido. cimentos profissionais do professor e de sua capacidade de observação. Todavia, há
alguns pontos que devem ser considerados em qualquer análise: O que aconteceu? Que
D- SELEÇÃO DOS PARTICIPANTES fatores determinaram esses acontecimentos? Como se sentiram os participantes no
desempenho dos papéis? Como agiriam em situações diferentes?
Os participantes são escolhidos entre os alunos da classe. É preferível que o pro- Naturalmente, o professor é o elemento mais importante nessa fase. Porém, ele
fessor indique os participantes, em vez de solicitar a colaboração de voluntários, por- não a desenvolve sozinho. Cabe-lhe incentivar os alunos a discutir as cenas. Assim,
que os voluntários tendem a identificar-se mais com os papéis e a favorecer demons- deixarão de ser espectadoreS passivos e a dramatização poderá alcançar a máxima efi-
trações caricaturais e preconceituosas. ciência como estratégia facilitadora da aprendizagem.
Quando o professor dispõe de conhecimentos acerca das características dos alu-
nos, os resultados da dramatização poderão ser melhores. Por exemplo, se um aluno é
conhecido por ser rude no trato com os colegas, poderá ser solicitado a desempenhar Leituras recomendadas
um papel que envolva relacionamento com pessoa que tenha aquelas características.
Essa experiência poderá ser mais eficiente para lhe mostrar a inconveniência daquele KROENERT, Gary. Jogos para treinamentos em recursos humanos. Barueri: Manole, 2000.
comportamento do que qualquer exposição ou leitura a esse respeito. Embora destinado a treinamento em recursos humanos, este manual apresenta
jogos apropriados para o alcance de múltiplos objetivos de aprendizagem, tais como:
E- PREPARAÇÃO DOS PARTICIPANTES E DA AUDIÊNCIA integração de grupos, aperfeiçoamento de habilidades comunicativas, desenvoltura para
falar em público e auto-avaliação.
Os participantes precisam estar bem informados acerca dos papéis e das situações
em que estarão envolvidos. Em certos casos, poderá mesmo ser conveniente informá- UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. O manual do método de casos. São
Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie. Faculdade de Ciências Econômicas,
92 Metodologia do Ensino Superior I
Contábeis e Administrativas, 2004. Disponível em: <http://www.mackenzie.eom.br/
universidade/fceca/estudo_ casos/manual.htm>. Acesso em: 8 out. 2004.
Esse manual esclarece acerca dos procedimentos adorados na elaboração de casos
e em sua aplicação em sala de aula.
10 Recursos Audiovisuais

10.1 Comunicação e recursos audiovisuais


,,,.;.·

Um problema facilmente observado na comunicação docente é o Vefbalismo, ou


seja, a transmissão de conhecimentos e habilidades mediante o emprego exagerado de
palavras. Como conseqüência desse verbalismo, muito do que é passado aos alunos nas
aulas constitui-se em palavras vazias, sem significado. Os esforços verbais dos profes-
sores muitas vezes são suficientes apenas para que os alunos "decorem a matéria", sem
que se tornem capazes de compreender o seu significado ou aplicá-la a situações con-
cretas .
• As limitações das explicações verbais são facilmente verificadas. Tente descrever a
alguém a planta de uma casa e depois peça-lhe que desenhe com base apenas na descri-
ção verbal. Proponha a alguém montar uma máquina a partir de instruções escritas, sem
olhar as ilustrações. Ou, então, peça a uma pessoa que chegue a uma rua desconhecida
por meio de indicações verbais e a outra por meio de um mapa da cidade.
Com vistas a tornar a comunicação mais clara e precisa, os professores, com fre-
qüência cada vez maior, vêm lançando mão dos recursos conhecidos como audiovisuais,
que vão desde os simples desenhos ou diagramas até os sofisticados equipamentos e
programas de multimídias. Os recursos audiovisuais são hoje em tão grande número e
têm passado por um processo de aperfeiçoamento tal que já se fala em tecnologia de
ensino (tanto no sentido de "equipamentos" quanto no de utilização de teorias de
aprendizagem). Nesse contexto, os recursos audiovisuais constituem-se em importan-
- ,.;_;~ ,, tes ferramentas que são colocadas à disposição dos professores para facilitar a comuni-
cação docente.
Geralmente, os trabalhos referentes à utilização de recursos audiovisuais são des-
Í:inados a professores do ensinO básico. De fato, é nesses níveis que eles têm-se mos-
trado mais úteis. Todavia, o .professor de nível superior também pode valer-se desses
recursos para melhorar sua comunicação. Para tanto, é necessário que esteja cons-
ciente de suas vantagens e limitações, bem como dos cuidados a serem tomados em
sua utilização.

J
94 Metodologia do Ensino Superior Recursos Audiovisuais 95

10.2 Vantagens dos recursos audiovisuais em locais diferentes, permitindo assim que o aluno tenha uma aprendizagem bem
próxima da realidade (Parra e Parra, 1985, p. 10).
10.2.1 Em relação à atenção Pode-se argumentar que os recursos audiovisuais não substituem a realidade. Ocor-
re, porém, que a realidade nem sempre está didaticamente organizada e, conseqüente-
Percebe-se facilmente que a exposição tradicional, fundamentada exclusivamen- mente, o contato direro do estudante com ela não constitui garantia de aprendizagem.
te na verbalização, vem-se mostrando estratégia pouco eficiente para garantir a aten- Por exemplo, um professor pode estar interessado em que seus alunos aprendam acerca
ção dos alunos. O mundo exterior à sala de aula é extremamente rico em estímulos
que despertam a atenção das pessoas, inclusive dos alunos. Recursos tecnológicos, como I do sistema penitenciário. Os presídios não foram certamente construídos com objetivos
didáticos. Os pavilhões foram dispostos obedecendo a critérios de funcionalidade e se-
aparelhos de vídeo e microcomputadores, constituem fontes de atração para estudan-
tes universitários. Por outro lado, as mensagens veiculadas pela televisão, pelo cine-
ma, pelos jornais, pelas revistas e mesmo pelos cartazes publicitários são tão bem ela- l gurança. Assim, uma visita dos alunos a um presfdio poderá ser suplementada em classe
por outras atividades, entre as quais a apresentação de organogramas e fluxogramas, que
auxiliariam na compreensão organizada da realidade.
boradas que dificilmente passam despercebidas.
Os estudantes universitários, como a população de modo geral, são intensamente
estimulados pelos meios de comunicação de massa. Por essa razão, se os professores
I 10.2.3 Em relação à retenção
desejarem comunicar-se de forma eficiente, não poderão ignorar os meios de comuni-
cação de massa. Embora os educadores possam criticar o conteúdo das mensagens Dentre os fatores que concorrem para a retenção, os mais importantes são o inte-
veiculadas pelo rádio, televisão, jornais etc., não poderão negar que, de modo geral, estas resse do aluno, a concretude da experiência, a organização da matéria e sua repetição.
são elaboradas com grande competência, sobretudo no que se refere à capacidade de Assim, os recursos audiovisuais tornam-se muito úteis para proporcionar uma apren-
despertar a atenção do público. dizagem mais permanente.
Ao se recomendar aos professores a utilização de uma linguagem mais moderna, Além de servir para despertar a atenção e proporcionar experiências concretas,
não se está, absolutamente, propondo que transformem suas aulas em espetáculos, mas como foi visto nos itens anteriores, os recursos audiovisuais favorecem apresentações
que reconheçam a concorrência que as escolas sofrêm dos meios de comunicação de bem organizadas. Os s/ides, as transparências e as folhas de álbum seriado, por exem-
massa, no intento de conseguir a atenção do público. Nesse sentido, os recursos plo, costumam ser organizados numa seqüência. Isto favorece a apresentação igualmen-
audiovisuais tornam-se bastante úteis. Quando bem elaborados e apresentados opor- te organizada da matéria, o que leva a uma retenção maior do aprendido.
tunamente, são capazes de despertar a atenção dos alunos de forma bem superior à Também os recursos audiovisuais favorecem a retenção à medida que possibili-
exposição oral. tam a freqüente repetição da matéria sem monotonia. O que é diro oralmente pode
ser relembrado com a projeção de uma transparência, apresentação de um cartaz etc.

10.2.2 Em relação à compreensão e à aplicação de conhecimentos


10.2.4 Em relação à avaliação
É indiscutível que uma exposição bem preparada constitui estratégia inigualável
quando o que se almeja é a transmissão de conhecimentos. Quando se deseja, porém, Recursos audiovisuais podem ser utilizados também para a avaliação da aprendi-
que os alunos evoluam para outros níveis, como a compreensão e a aplicação, a aula zagem.
expositiva mostra-se bem mais limitada. Aí os professores precisam valer-se de outros O uso de gravadores mostra-se muito útil para avaliação da comunicação e expres-
recursos e os audiovisuais mostram-se bastante adequados. são oral. Como agravação pode ser repetida tantas vezes quantas forem necessárias e
Pa1:~ -~.AAaçar a compreensão e a aplicação, recomenda-se a realização de expe- submetida a vários especialistas, torna-se um recurso bastante adequado para a ava-
riências práticaS. Todavia, a realização dessas experiências nem sempre é fácil. Algu- liação das diversas dimensões da comunicação oral, tais como: altura da voz, enronação,
mas, por sua extensão, não podem ser trazidas para a sala de aula. Outras, por serem ritmo etc.
muito rápidas ou muito lentaS, também não podem ser repetidas. Assim, os audiovisuais Outro recurso bastante empregado em situações de avaliação de ensino é o
tornam-se recursos importantes à medida que possibilitam superar as barreiras que se videocassete. Dentre seus inúmeros empregos, cabe lembrar aqui o treinamento de
apresentam para a realização dessas experiências. Mediante fotografias, desenhos, professores mediante a técnica do "microensíno". Durante um pequeno período de
diapositivos, filmes e outros recursos, torna-se possível apresentar aos alunos "expe- tempo (cerca de 10 minutos), o professor dá uma aula a um reduzido número de alu-
riências" imensas ou microscópicas, distantes no tempo e no espaço, ou fragmentadas
96 Metodologia do Ensino Superior

nos. Essa aula é gravada e a seguir analisada e discutida por uma equipe juntamente
rI 10.4 A diversidade de recursos audiovisuais
Recursos Audiovisuais 97

com o professor que a ministrou. Após essa discussão, a aula é repetida a um grupo
diferente de alunos. Como o professor teve oportunidade de se ver ministrando a aula
e de ouvir comentários acerca de sua avaliação, pode assumir uma atitude corretiva em
I Os audiovisuais são em tão grande número e tão diversificados entre si a ponto de
terem sido elaborados vários sistemas de classificação. Todos são arbitrários e passí-
relação às falhas anteriores. veis de crítica, pois se referem a uma das áreas em que as inovações tecnológicas têm
sido mais intensas. Um dos mais antigos é o de Dale (1957), que, apesar de bem ela-
borado, é insuficiente para classificar até mesmo alguns recursos que já são considera-
dos clássicos. O mesmo acontece com o sistema brasileiro proposto por Parra e Parra
10.3 Desvantagens dos recursos audiovisuais (1985).
A despeito de todas as vantagens já enumeradas, a utilização de recursos audiovi- Está fora dos propósitos deste livro tratar exaustivamente do assunto. No entan-
suais também pode, em certas circunstâncias, apresentar aspectos negativos. É evi- to, ensaia-se aqui um sistema de classificação que apresenta os recursos mais utiliza-
dente que os audiovisuais servem para emprestar um caráter moderno ao ensino. De dos em visuais, auditivos, audiovisuais tradicionais, audiovisuais integrados ao compu-
modo geral, agradam aos alunos. Por isso, muitos professores tendem a adorar esses tador e audiovisuais baseados na Internet (Quadro 10.1).
recursos não tanto por motivos de ordem pedagógica, mas simplesmente para tornar
suas aulas mais atraentes.
Se o professor estiver interessado não apenas em agradar, mas também em favo-
recer realmente a aprendizagem dos alunos, deverá considerar cuidadosamente a uti-
lização dos recursos audiovisuais. Recursos Visuais Recursos Audiovisuais Tradicionais
• quadro-de-giz • diapositivos com som
O principal problema dos audiovisuais é que, à medida que são utilizados exaus- • flanelógrafo • diafilmes com som
tivamente - sobretudo os filmes e as coleções de slides -, desestimulam a adoção de • imantógrafo • cinema sonoro
um papel mais ativo por parte do aluno. Uma coleção de slides bem organizada poderá • cartazes • televisão
ser muito interessante; mas, se o professor não fa3orecer a participação dos alunos, • mapas • videocassete
mediante perguntas, comentários, ou a adoção de uma atitude exploratória, não esta- • flíp chart (bloco de papel)
rá fazendo bom uso desse recurso. • álbum seriado Recursos Audiovisuais Integrados
Outro problema muito comum ocorre quando as aulas são direcionadas pelo uso • diapositivos ao Computador
• diafilmes • CD-ROM
de determinado recurso. É o caso das aulas elaboradas de tal forma que se tornam in-
• transparências • bases de dados
teiramente dependentes do retroprojetor. O professor que assim procede se sente à • fotografias
vontade, pois pode dispensar tanto as "fichas de aula" quanto o quadro-de-giz. Toda- • pacotes estatísticos
• mural didátíco • projetar multimídia
via, essa postura do professor não facilita a aprendizagem. O retroprojetor, assim corno • objetos
qualquer outro audiovisual, deve ser reconhecido como recurso auxiliar de ensino e não • holografia
como direcionador do processo didático. Recursos Audiovisuais Baseados
na Internet
Também cabe lembrar que os recursos audiovisuais, por mais simples que sejam, Recursos Auditivos • bases de dados
requerem conhecimentos e habilidades técnicas para sua utilização. Mesmo no qua- • rádio • e-mail
dro-de-giz, que é utilizado de forma quase natural por muitos professores, requer a • discos • áudio e videoconferências
observância de algumas técnicas a fim de serem obtidos bons resultados. • fita magnética
Em suma, o professor, ao se decidir pela utilização de audiovisuais, deverá consi-
derar que estes, apesar de serem atraentes e agradáveis, deveriam, em primeiro lugar,
estimular o interesse pela matéria e não despertar a atenção sobre si mesmos. Uma No ensino superior, os r<?cursos mais utilizados são: o quadro-de-giz, o retroprojetor,
regra básica para sua utilização poderia ser assim enunciada: "A realização dos objeti- o bloco de papel, o álbum seriado, o videocassete e o projetor de multirnídia, que se-
vos da disciplina seria prejudicada se os recursos não fossem utilizados?" Se a resposta rão considerados de forma mais pormenorizada a seguir.
for "não", o recurso deverá ser reconsiderado, a fim de justificar sua utilização.
98 Metodologia do Ensino Superior
Recursos Audiovisuais 99
10.5 Uso do quadro-de-giz
a) O planejamento da utilização: o professor precisa primeiramente ve-
rificar se o quadro-de-giz é o recurso adequado para a transmissão dos as-
10.5.1 Vantagens de sua utilização
suntos que ele deseja. Em caso positivo, ele precisa definir o que irá colo-
O quadro-de-giz é o mais simples e acessível recurso audiovisuaL Se apenas um car no quadro-de-giz: sumários, gráficos, desenhos etc. Precisa também
recurso pudesse ser selecionado, provavelmente a maioria dos professores o escolhe- definir se irá necessitar de régua, esquadro, compasso, giz de cores diver-
ria. E não sem razão, pois o quadro-de-giz apresenta uma série de vantagens, como: sas etc. Por fim, o professor precisa planejar a seqüência e a harmonização
dos elementos no quadro-de-giz; o que exige, sobretudo, que sejam con-
a) Acessibilidade: o quadro-de-giz é muito fácil de ser encontrado. Torna- sideradas as suas dimensões.
se mesmo difícil imaginar uma sala de aula sem esse recurso. b) Limpeza: antes de iniciar qualquer explicação, convém apagar totalmente
b) Praticidade: o uso do quadro-de-giz não exige habilidades especiais do o quadro-de-giz. A limpeza constitui requisito indispensável para uma boa
professor nem equipamentos dispendiosos. Em qualquer momento que apresentação. Convém sempre que, para apagar o quadro-de-giz, o profes-
o professor deseje esclarecer um diagrama, ou explicar um fluxograma, ou sor o faça de cima para baixo e da esquerda para a direita.
ainda demonstrar o funcionamento de uma máquina, ele pode pegar o giz c) A seqüência de utilização: também para escrever ou desenhar o pro-
e criar seu próprio recurso para facilitar a exposição. fessor deve observar a seqüência: de cima para baixo e da esquerda para a
c) Versatilidade: o quadro-de-giz pode ser adequado ao nível de informações direita. Quando o quadro for muito largo, o professor poderá utilizar pri-
da classe. O professor poderá utilizá-lo de forma diferente, conforme o pro- meiramente a sua metade esquerda e depois a sua metade direita.
gressivo interesse demonstrado pelos alunos em relação à matéria. d) A postura do professor: não é conveniente escrever ou desenhar no qua-
d) Possibilidade de participação: o quadro-de-giz, ao contrário de outros dro-de-giz em silêncio. Falar à medida que se escreve ajuda o acompanha-
recursos, não inibe a participação da classe. Pode ser mesmo utilizado como mento da classe, a fixação dos conceitos. Também não convém dar as
elemento estimulador. costas para os alunos; o professor deve procurar escrever um pouco de lado,
e) Estímulo ao interesse pela disciplina: por ser um recurso a que os alu- falando e olhando, freqüentemente, para a classe. O uso de um ponteiro
nos estão acostumados desde os primeiros anos de escola, o quadro-de- é sempre recomendáveL
giz não favorece a concentração sobre si mesmo. Assim, o professor pode
mais facilmente estimular o interesse pela disciplina- o que poderia ser
mais difícil com uma projeção de filme, por exemplo. 10.6 Uso do retroprojetor

10.6.1 Vantagens de sua utilização


10.5.2 Técnicas de utilização
O retroprojetor é um dos equipamentos audiovisuais mais utilizados no ensino
Como o quadro-de-giz é um recurso muito simples e ao qual tanto o professor superior. De fato, é um instrumento muito útil, que oferece inúmeras vantagens ao
quanto os alunos estão acostumados desde as primeiras séries do 12 grau, pode pare- professor e aos alunos:
cer estranho falar em técnicas para a sua apropriada utilização. Todavia, exatamente
por ser um recurso tão simples e tradicional é que sua utilização deve cercar-se de cui- • não exige escurecimento da classe;
"-" dados técnicos. Quando utilizado sem maior critério, o quadro-de-giz não terá· ames-··---~­ • pode ser colocado em posição que favoreça a movimentação do professor
ma capacidade de atrair a atenção dos alunos que um retroprojetor ou um aparelho de e o seu contato visual com os alunos;
vídeo. • sua operação é extremamente simples;
Para conseguir bons resultados no ensino superior, o professor necessita tomar • pode ser utilizado satisfatoriamente mesmo quando os alunos estejam dis-
certos cuidados. Estes em sua maioria são muito simples, mas, quando tomados, auxi- postos em círcuJos;
liam muito para manter a atenção dos alunos. A seguir, são apresentados alguns des- • pode substituir com vantagem o quadro-de-giz para a apresentação de grá-
ses cuidados: ficos, desenhos e outros materiais cuja elaboração é mais complexa.

>'\t;
1 00 Metodologia do Ensino Superior RecursosAudiovisuais 101

10.6.2 Preparação das transparências • limite a quantidade de tamanhos e tipos de letras;


• use cores intensas que contrastem com o fundo;

lI
O material utilizado para retroprojeção é constituído por rolo de acetato sobre o
• mantenha um estilo homogêneo;
qual se escreve ou desenha no momento da apresentação ou por diapositivos de gran-
de tamanho, confeccionados com plástico transparente, celofane ou filmes especiais~ • apresente apenas uma idéia em cada visual;
designados como transparências. • exclua todos os elementos dispensáveis;
A preparação de uma transparência deve orientar-se pelo princípio da simplicida- • retire tudo o que for dispensável ou incompatível com a mensagem.
de, o que significa que deve conter desenhos simples e claros e letreiros e legendas
breves. De modo geral, uma transparência não deve conter mais do que dez linhas e
escrita com no máximo sete palavras por linha. 10.7 Bloco de papel (jlip chart)
As transparências podem ser preparadas sem maiores dificuldades pelo professor,
com utilização de folhas transparentes de papel celofane, plástico ou acetato. Este O bloco de papel, também conhecido comoflipchart (do inglês:flip =piparote;
último material é o mais adequado e sobre sua superfície pode-se escrever com lápis- chart = carta, quadro), é constituído por um bloco grande de papel ou cartolina fina,
cera, lápis dermatográfico, canetas de tinta nanquim ou canetas hidrográficas espe- sustentado por um cavalete, em que se escreve com pincel hidrográfico ou lápis de cera.
ciais para transparências. A forma de utilização, vantagens e limitações do bloco de papel são praticamente
Quando o professor desejar um visual com desenhos, gráficos ou letreiros mais as mesmas do quadro-de-giz. Uma vantagem a mais em relação a este está em que no
elaborados, poderá valer-se de transparências especiais que possibilitam a obtenção de quadro de papel o que foi escrito não precisa ser apagado, podendo, portanto, ser con-
cópias idênticas aos originais. Essas transparências são revestidas por uma película sultado a qualquer momento.
infravermelha e podem ser preparadas com o auxilio de uma máquina copiadora do tipo
thermofax.
• 10.8 Álbum seriado
10.6.3 Cuidados na utilização do retroprojetor O álbum seriado consiste em uma coleção de folhas organizadas, que contém
mapas, gráficos, textos, organogramas etc. Assim como o f!ip chart, o álbum seriado
Para a obtenção de melhores resultados com o retroprojetor, convém que sejam
também é sustentado por um cavalete de madeira.
tomados alguns cuidados. É melhor que esteja na posição diagonal em relação à sala; o
seu cabeçote deverá estar paralelo à tela para evitar distorções na imagem. Embora sendo de grande valor pedagógico, o álbum seriado tem sido pouco utili-
zado no Ensino Superior. Seu- uso tem sido mais intenso em programas de educação
O professor deve permanecer junto ao retroprojetor, frente aos alunos, mantendo
sanitária, em campanhas de esclarecimento e em escolas de IQ_ grau. Alguns professo-
contara visual com o grupo. Para tornar mais fácil a colocação e a retirada das transpa-
res alegam que sua confecção, movimentação e circulação são dispendiosas. Todavia,
rências, convém que o retroprojetor seja colocado sobre uma mesa suficientemente
com materiais simples e um pouco de imaginação, os professores podem produzir bons
grande para possibilitar a formação de uma pilha de transparências de cada lado: uma
álbuns seriados.
para as já projetadas e outra para as que ainda não o foram.
Entre as principais vantagens do álbum seriado estão:
Para assinalar algum ponto da projeção, o professor deverá fazê-lo na própria trans-
parência e não na tela. Para tanto, poder? valer-se de um lápis ou de um ponteiro. • orientar a seqüência da exposição;
Para que as apresentações com retroprojetor se tornem eficazes, requer-se muito • desenvolver nos alunos expectativa em relação à matéria a ser apresen-
cuidado na elaboração das transparências. Assim, recomenda-se em sua confecção: tada;
• coloque um tít~lo em cada transparência; • manter a atenção dos alunos no tópico que está sendo desenvolvido;
• escreva com letra legível; • possibilitar a imediata retomada de qualquer folha já apresentada;
• use poucas linhas; • possibilitar a utilização de materiais diversos: fotografias, desenhos, gra-
vuras etc.;
• crie frases curtas;
• assinalar os pontos essenciais de cada tópico apresentado.
ReeursosAudiovisuais 103
1 02 Metodologia do Ensino Superior

• projeção de imagens da tela do computador, filmadora, videocassete etc.;


10.9 Videocassete
• apresentação de gráficos, textos e planilhas, com a possibilidade de uso
O videocassete até o momento é o recurso audiovisual mais utilizado no ensino de som e animação;
superior. Seu potencial para favorecer a aprendizagem é indiscutível, embora nem • projeção de imagens em cores brilhantes e saturadas, mesmo com as lu-
sempre venha sendo usado de maneira adequada. zes acesas;
Entre as vantagens do videocassete estão: • fácil locomoção, visto ser compacto e leve;
·• custo razoável; • projeção direta do que é digitado ou desenhado na tela do computador;
• qualidade de imagem; • comando de sua apresentação a distância;
• sincronização som-imagem; • leitura do material projetado sem que o professor tenha necessidade de
olhar para a tela.
• disponibilidade de material especialmente preparado para os mais diver-
sos conteúdos; Como todos os recursos que apresentam alto nível de tecnologia, o projetar
• possibilidade de observação de detalhes, em virtude da utilização da câ- multimídia também pode ser mal utilizado. A sedução que exerce sobre os professo-
mara lenta; res é muito grande. Por isso, convém que, antes de se decidir por sua utilização, o pro-
• possibilidade de apresentação de experiências desenvolvidas pelo próprio fessor se pergunte acerca de sua conveniência.
professor ou pelos alunos. Como se pode facilmente verificar, o projetor multimídia é um recurso que subs-
titui com vantagem todos os outros recursos audiovisuais. Mas, como qualquer recur-
Não será demais ressaltar que o videocassete deve ser reconhecido apenas como so, apresenta limitações. O custo de sua aquisição e manutenção ainda é relativamen-
um recurso inserido em um programa de ensino. Quando utilizado como um fim em si te alto. Para manuseá-lo adequadamente, são necessários conhecimentos de Infor-
mesmo, ou com a finalidade explícita de entretenimento, as conseqüências certamente mática. Precisa ser acoplado ao computador para projeção de material disponível em
serão desfavoráveis.

Com vistas a garantir a eficácia do ensino mediante o uso do videocassete, con-
disquete, em CD ou na Internet. Seu manuseio requer conhecimentos de Informática.
Para projeção adequada, é necessário o escurecimento da sala.
vém que se considerem os seguintes itens: O principal uso do projetar multimídia nos cursos superiores tem sido a apresen-
• o material utilizado deverá estar relacionado com os objetivos de ensino; tação eletrônica; para isso existem vários programas, sendo o mais conhecido o
PowerPoint. A apresentação eletrônica exerce muita sedução sobre os professores, pois
• os filmes deverão preferencialmente ter curta duração; poucas são as si-
tem uma série de vantagens em relação a outros tipos de apresentação. Alterações no
tuações que requerem apresentações com mais de 20 ou 30 minutos;
material podem ser feitas até o último minuto. As animações de texto e os elementos
• as apresentações devem ser complementadas pela comunicação oral do gráficos ajudam a prender a atenção do público e a ilustrar a aula. Podem ser utiliza-
professor; dos efeitos de multimídia, como o som e o vídeo. Com a apresentação eletrônica, po-
• obtém-se uma aprendizagem mais eficaz quando sua apresentação é se- dem ser apresentados dados numéricos sob a forma de gráficos pictóricos, o que con-
guida de discussão pelos alunos; tribui para ampliar o interesse dos participantes e para mostrar padrões e tendências
• convém estabelecer um sistema de avaliação tanto da aprendizagem quan- que as tabelas não permitem. Com um pouco de arre, as mensagens se tornam muiro
to da reação dos alunos para promover as alterações que se fizerem neces- atraentes, principalmente quando se utiliza a animação. Quando se passa para o item
sárias. seguinte de uma animação, os itens anteriores podem ser esmaecidos, ocultos e alte-
rados para uma cor diferente. E pode-se também criar mais de uma animação por slide
e determinar a ordem em que serão apresentadas.
10.10 Projetor multimídia Como todos os recursos que apresentam alto grau de tecnologia, o projetar
multimídia exerce sobre os· professores uma atração muito grande. O que faz com que
O projetor multimídia constitui hoje o recurso mais avançado de tecnologia também seja mal utilizado em muitas circunstâncias. Por isso, convém que, antes de
audiovisual de que dispõem os professores universitários. Suas vantagens em relação se decidir por sua utilização, o professor se pergunte acerca de sua conveniência. Muitas
a outras tecnologias são bem evidentes, já que ele permite: vezes, um recurso mais simples torna-se o mais adequado.
1 04 Mewdologia do Ensino Superior
I
Leituras recomendadas

FERREIRA, Oscar M. de C.; SILVAJR., Plínio Dias da. Recursos audiovisuais no proces-
so ensino-aprendizagem. São Paulo: EPU, 1986.
Os autores tratam da elaboração de cartazes, transparências para retroprojeção,
I 11
diapositivos diafilmes e de seqüências sonorizadas de diapositivos. Também esclare-
cem acerca do uso de filmes, da televisão e de computadores em sala de aula. I Avaliação da
LEITE, Ligia Silva. (Coord.). Tecnologia educacional: descubra suas possibilidades em
Aprendizagem
sala de aula. 2. ed. Perrópolis: Vozes, 2004.
O livro oferece informações que auxiliam no planejamento da utilização de
tecnologias educacionais em qualquer ambiente de aprendizagem, e também subsí-
I
I
dios para a sua utilização em sala de aula. 11.1 Importãncia da avaliação

MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda A Novos tecno- ú'· Poucas coisas costumam ser tão desagradáveis para o professor universitário quanto
logias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000. a necessidade de avaliar o aprendizado dos alunos. Não apenas pelos esforços que são
requeridos, mas também pelo constrangimento que representa avaliar e, como conse-
Es~e livro discute a introdução da informática e da telemática na educação. Den-
qüência, reprovar adultos. Para muiros professores, a avaliação constitui, também, pro-
tre outros temas, os autores abordam as propostas de integração e utilização do com-
cedimentO bastante crítico, o que os leva a duvidar dela e a aplicá-la apenas por ser
putador e da Internet na escola.
exigência da escola e das autoridades educacionais.

PARRA, Nélio; PARRA, Ivone C. da Costa. Técnicus'audiovisuaisdeedzu:tlfÕO. 5. ed. São


I De fato, a avaliação apresenta muitos aspectos críticos. As provas e os exames, que
co11stituem os procedimentOs mais adorados para a avaliação de alunos nos cursos su-
Paulo: Pioneira, 1985.
periores, vêm sendo objeto de sérias acusações, como:
Trata-se de obra clássica neste campo. Apresenta as vantagens e limitações do uso
de técnicas audiovisuais e esclarece acerca dos cuidados a serem tomados em cada uma • provocar situações de ansiedade e de stress;
delas. O texto, no entanto, requer atualização, pois não trata dos recursos audiovisuais • conduzirem a injustiças, em virtude da liberdade concedida aos profes-
baseados no uso do computador. sores;
• reduzirem-se geralmente ao controle da retenção de conhecimentos, dei-
WEISS, James M. G. Aplicações da tecnologia de informação à edvctZfão: tendências e pers- xando de lado aspectos importantes da inteligência e da personalidade;
pectivas. ln: MOREIRA, Daniel A (Org.). Didática do ensino superior: técnicas e ten- • apresentarem-se, com freqüência, desvinculados dos objetivos do curso;
dências. São Paulo: Pioneira, 1997.
• serem realizados com alto grau de subjetividade;
Esse texto apresenta um panorama das tecnologias de informação existentes, dos
• serem muito influenciados pelos estereótipos e pelo efeito de halo;
recursos de hardware e software disponíveis e de seus usos nos processos educacionais.
• consumirem demasiado tempo e energia dos professores e dos alunos;
• enfatizarem mais a forma do que o conteúdo;
• desestimularem a expressão dos juízos pessoais do aluno;
• incentivarem a fraude;
• favorecerem a especulação com a sorte;
• exaltarem o desempenho individual em detrimento do trabalho de
grupo;
• valorizarem demasiadamente o espírito de competição;

j
I
106 Metodologia do Ensino Superior
Avaliação da Aprendizagem 107

• fazerem com que o professor ensine em função das provas; formação universitária. Nesse contexto, a principal função da escola passa a ser a de
promover o desenvolvimento do indivíduo. Ou, em outras palavras, sua principal tare-
• dificultarem aos alunos avançar segundo o seu próprio ritmo; e
fa é a de fornecer aos alunos os conhecimentos e as habilidades necessárias para vive-
• não respeitarem o saber elaborado pelos alunos. rem de forma eficiente numa sociedade complexa.
I
Todas estas objeções são, pelo menos em parte, verdadeiras. Não se pode negar Numa escola com estas características, a avaliação deixa de ser vista como instru-
mento de seleção e de fiscalização, externo ao processo de aprendizagem, mas como
que os exames tenham sido utilizados de forma tão abusiva a ponto de viciar a ação
educativa da escola. Não são raros os casos de alunos cuja carreira foi seriamente pre-
I um método de coleta e análise dos dados necessários à melhoria da aprendizagem dos
judicada por exames. Uma análise atenta e crítica dos exames pode mesmo identificá- alunos; como parte integrada e essencial desse processo.
los como privilegiados instrumentos do imobilismo social (Bourdieu e Passeron, 1976;
Luckesi, 2003; Berbel, 2001). I
11.2.2 A avaliação vincula-se diretamente aos objetivos da aprendizagem
Daí, porém, concluir que os exames e as provas possam ser eliminados soa como
algo utópico. O processo de avaliação encontra-se intimamente relacionado com o pro- Uma avaliação entendida como parte do processo de aprendizagem exige, antes
cesso de aprendizagem. Não se pode pensar em educação por objetivos sem conside- de mais nada, que se considerem seus objetivos. São estes que determinam o que será
rar algum tipo de avaliação. avaliado, com que instrumentos, em que nível etc.
O fato de os exames terem sido tradicionalmente mal utilizados nas escolas su- No início do ano letivo (ou do semestre, conforme o caso), o professor precisa
periores não significa que sejam destituídos de valor. Em favor deles pode-se dizer que: deixar bem claro para si e para os alunos que mudanças espera que neles ocorram como
• embora a medida rigorosa seja talvez impossível, é possível a obtenção de resultado do curso. A partir destes objetivos, ele poderá não apenas escolher as estra-
resultados bastante satisfatórios do ponto de vista estatístico; tégias mais adequadas para facilitar a aprendizagem, mas também os procedimentos
para avaliar em que medida aqueles objetivos foram alcançados.
• são úteis para que os alunos possam situar-se em relação à matéria e aos
outros alunos; ~
• constituem uma forma de controle do trabalho dos professores; 11.2.3 A avaliação deve ser contínua
• representam uma forma privilegiada de fornecimento de feedback para o
professor e para o aluno. Tradicionalmente, concebe-se a avaliação como algo que ocorre no fim de um ci-
clo didático. Porém, a avaliação deve ser contínua durante o curso.
À medida que os alunos são submetidos a contínuas avaliações, cria-se um siste-
11.2 Fundamentos de uma avaliação adequada ao ensino superior ma de feedback, que lhes possibilita identificar o que lhes falta aprender para alcançar
nos tempos atuais os objetivos do curso. Dessa forma, a avaliação passa a ter um caráter mais formativo
que controlador.
11.2.1 A avaliação é parte integrante do processo de aprendizagem

A avaliação ao longo dos últimos séculos vinculou-se quase exclusivamente à fun- 11.2.4 A avaliação deve ser objetiva
ção seletiva da escola. Grande parte dos esforços dos professores foi dedicada para
determinar quais os alunos que seriam eliminados em cada uma das etapas do proces- A avaliação deverá considerar o desempenho do aluno em relação ao que foi pla-
so educacional. Assim, as instituições educacionais passaram a dirigir sua atenção pri- nejado. Para tanto, deverá ser elaborada mediante dados objetivos, coletados a partir
mordial ao aluno raro, o que teve como efeito a eliminação da maioria das crianças pro- de instrumentos adequados.
venientes das classes operárias e a oferta de vantagens especiais aos filhos de profis- Muitos são os professores que infelizmente julgam seus alunos com base em cri-
sionais liberais (Bioom et ai.; 1983, p. 5). térios puramente subjetivos. Em conseqüência desse julgamento, cujos critérios mui-
Essa concepção de avaliação, bem como a própria idéia de utilização da escola para tas vezes não são totalmente conhecidos pelo próprio professor que o elabora) os alu-
fins de seleção, está completamente ultrapassada. Não apenas por razões de ordem nos tidos como "bons" têm muito mais chance de aprovação do que os tidos como "fra-
humanística, mas também em decorrência de fatores socioeconômicos. Os países, à cos" ou "maus".
medida que se desenvolvem, passam a necessitar de maior percentual de pessoas com
108 Metodologia do Ensino Superior A"aliação daAprendiugem 109

A superação da subjetividade não constitui tarefa simples, pois esse tema envol- A auto-avaliação constitui item ainda mais complexo. Sua aplicação depende do
ve questões bastante polêmicas. Há mesmo aurores que vêem a subjetividade não como grau de maturidade dos alunos. É uma atividade que exige o desenvolvimento de ha-
um problema, mas como um elementO a ser trabalhado positivamente, já que ela é bilidades por parte do aluno para avaliar seu próprio desempenho e compará-lo com o
inerente ao processo de elaboração dos instrumentos de avaliação e sua interpretação dos demais de forma honesta. Exige também um clima de cooperação e confiança en-
pelo aluno (Hoffmann, 1998). tre professor e aluno.

11.2.5 A avaliação deve abranger os diversos domínios da aprendizagem 11.3 Técnicas de avaliação
O sistema de avaliação aplicado nas escolas superiores tem privilegiado a área in-
11.3.1 Diversidade de técnicas
telectual, mais especificamente a memorização. A aprovação em muitas disciplinas e
mesmo a conclusão de cursos têm sido freqüentemente decorrência do que os alunos Tendo reconhecido a importância da avaliação no processo de aprendizagem, o
foram capazes de memorizar. professor deverá procurar a estratégia que melhor se ajuste aos objetivos que preten-
O processo de avaliação deve transcender esse nível e procurar verificar em que de alcançar. É verdade que algumas estratégias já se impuseram pela tradição, porém
medida o aluno foi capaz não apenas de memorizar, mas também de transferir o que o professor deverá estar consciente de suas vantagens e limitações antes de decidir por
foi aprendido para situações práticas. sua utilização.
Uma educação integrada deverá estar preocupada também em avaliar as áreas Muitas vezes, o professor verifica que as estratégias disponíveis não são perfeita-
psicomotora e socioafetiva. Afinal, a escola não tem como objetivo apenas proporcio- mente adequadas para atingir os seus propósitos. Nesses casos, ele poderá adaptar
nar conhecimentos, mas também desenvolver as habilidades e as atitudes de seus algumas das disponíveis, ou mesmo criar novas estratégias; considerando sempre que
alunos. estratégias são meios e, como tal, utilizadas de acordo com as necessidades.
Embora no ensino superior a avaliação venha sendo feita quase sempre da mesma
' forma, o professor dispõe de grande diversidade de estratégias que podem ser utiliza-
11.2.6 A avaliação deve envolver também o julgamento dos alunos das conforme os diversos objetivos de aprendizagem.
Para muitos professores, deve existir apenas a heteroavaliação, ou seja, a avalia- O quadro que segue apresenta as principais estratégias aplicáveis ao ensino supe-
ção dos alunos pelos professores. Todavia, uma educação moderna e democrática apóia- rior, que serão posteriormente detalhadas e relacionadas aos objetivos a que se ajus-
se também nos julgamentos dos alunos, que envolvem a sua auto-avaliação, bem como tam. Naturalmente, este quadro não tem a pretensão de ser completo, inclusive por-
a avaliação dos professores. que muitas das estratégias adoradas por professores constituem na realidade variações
ou adaptações de estratégias tradicionais.
Esses pontos são bastante críticos. É provável mesmo que muitos professores re-
lutem em aceitá-los, por admitirem que os alunos não tenham capacidade para avaliar
seus professores, nem maturidade para proceder à sua própria avaliação.
De fato, experiências desta natureza nem sempre são confortáveis para os profes-
sores. Aceitar a avaliação dos alunos acerca de sua capacidade docente pode ser
traumatizante. E compartilhar seu "pode~" de avaliação com os próprios alunos pode
ser visto como inaceitável forma de abdicação.
O temor da avaliação do professor pelos alunos só se justifica quando o processo
de avaliação é o tradicional de caráter seletivo: avalia-se o professor para decidir se ele
deve ou não continuar. Porém, com um sistema de avaliação voltado para a aprendiza-
gem, a avaliação do professor passa a constituir um mecanismo de feedback. Através dela
o professor pode obter informações acerca de seu desempenho, o que constitui impor-
tante elemento para o seu próprio desenvolvimento.
11 O Metodologia do Ensino Superior
Ava!ia~.ão da Aprendizagem 111

Outro tipo de prova discursiva é aquela em que se permite ao aluno consultar li-
vros e apontamentos. Muitas vezes, é aplicada em face das solicitações dos alunos.
Dissertações Todavia, o professor precisa considerar que uma prova dessa natureza é adequada para
Discursivas Com perguntas breves avaliar em que medida o aluno é capaz de aplicar os conhecimentos aprendidos. Se,
Provas Escritas no entanto, o objetivo do professor for avaliar os conhecimentos sobre a matéria, as
{ Com consulta
Feitas em casa provas com consulta poderão ser vistas como uma espécie de "cola autorizada".
Estratégias Também se pode falar em provas "feitas em casa", muitas vezes designadas como
de Escolha múltipla "trabalhos". São constituídas por fichas de leitura, resumos, monografias etc. Quando

l
Avaliação Associação bem orientadas, podem ser muito úteis à medida que possibilitam aos alunos desen-
Objetivas Ordenação volvê-las segundo o seu próprio ritmo, ao mesmo tempo em que servem de treinamento
Certo-ou-errado para pesquisa bibliográfica ou documental. Em virtude, porém, do baixo nível de con-
Práticas Completamente trole por parte do professor, essas provas ficam freqüentemente sujeitas à "colabora-
Orais ção externa".
Observação
Entrevistas
Questionários 11.3.3 Provas objetivas
Diários de curso
As provas objetivas são compostas de questões elaboradas de forma tal que só
admitam uma resposta correta. São muito comuns nos vestibulares e, com freqüência
cada vez maior, vêm sendo utilizadas por professores de diversas matérias ao longo do
curso.
11.3.2 Provas discursivas
' A aplicação desse tipo de prova no Ensino Superior tem sido, no entanto, objeto
As provas discursivas constituem a mais tradicional estratégia adorada para a ava- de inúmeras críticas. Alega-se que não é adequada aos propósitos de seus cursos, pois
liação da aprendizagem dos alunos do Ensino Superior. E parece ser a mais adorada mediria apenas a capacidade de memorização. Também contra ela se afirma que ini-
nos dias a ruais, embora nem sempre seja a mais adequada aos objetivos de aprendiza- be a criatividade dos alunos, que os desestimula a escrever, que é uma loteria, que
gem. degrada o trabalho escolar etc.
Uma das modalidades de prova discursiva é a dissertação. O professor apresenta É bem verdade que o ensino brasileiro vem passando por uma fase de degradação
um tema que é desenvolvido_pelos alunos. É muito adequada para avaliar o raciocínio nas últimas décadas. Também é verdade que a utilização das provas objetivas, tanto
lógico dos alunos, a capacidade de análise e de síntese, a organização de idéias e a cla- para os concursos vestibulares quanto para a avaliação do desempenho dos alunos ao
reza de expressão. Apresenta, porém, uma série de limitações. Sua correção é muito longo do curso, se tornou mais intensa exatamente nesse período. E também não há
influenciada pela subjetividade do professor; abrange parte limitada da matéria; em como negar que com freqüência as provas objetivas têm sido elaboradas com tão pou-
virtude de sua facilidade de preparação, favorece a improvisação por parte do profes- ca competência que seus efeitos se mostram negativos. Porém, culpar as provas obje-
sor; e, de modo geral, não é suficiente para proporcionar um feedback adequado para o tivas por esse estado de coisas é no mínimo um exagero. Prova é urna estratégia de
aluno. avaliação, não de ensino; é um instrumento de diagnóstico, não de tratamento.
A prova com perguntas é outra modalidade de prova discursiva. O professor apre- Uma prova objetiva (assim como qualquer outra), quando bem elaborada e apli-
senta algumas questões abertas, que os alunos responderão livremente. Essas ques- cada, contribui para o oferecimento de informações úteis para facilitar o processo de
tões geralmente se iniciam com um verbo que esclarece o objetivo pretendido pelo ·aprendizagem. Está fora dos propósitos deste livro fazer a apologia das provas objeti-
professor: defina, relacione,· compare, analise, justifique, critique etc. Em relação às vas, porém é evidente que ~las apresentam muitos pontos positivos, tais como:
provas dissertativas, apresenta a vantagem de cobrir mais extensamente a matéria.
• julgamento imparcial;
Porém, dependendo da maneira como forem formuladas as questões (muito ampla ou
muito restrita), poderão facilitar tanto os ''rodeios" por parte dos alunos quanto as • rapidez na correção;
respostas memorizadas. • oferecimento imediato de feedback ao aluno;
112 Metodologia do Ensino Superior Avaliação da Aprendizagem 113

• verificação extensa da matéria; Coloque dentro dos parênteses a letra correspondente ao autor das obras
• identificação das deficiências individuais; indicadas na coluna da direita:
• comparação segura entre turmas; e a- Relíquias de Casa Velha Jorge Amado ( )
• avaliação do trabalho docente. b- À Margem da História José Lins do Rego ( )
c- Menino de Engenho Euclides da Cunha ( )
O que precisa ficar claro é que as provas objetivas exigem de seu preparador cer-
tos conhecimentos e habilidades técnicas. Cabe lembrar que o psicólogo francês Henri d -Mar Morto Machado de Assis ( )
Piéron (1881-1964) chegou mesmo a definir as bases de uma verdadeira ciência dos e-Sagarana Graciliano Ramos ( )
exames: a Docimologia. Quando, portanto, um professor se propõe a elaborar uma prova f- Memórias do Cárcere Guimarães Rosa ( )
objetiva desconhecendo seus princípios e técnicas (e isso é muito freqüente), é pou-
co provável que os resultados obtidos sejam satisfatórios. Questões desta natureza são apropriadas para os casos em que as mesmas opções
Não seria possível no curto espaço destinado a este capítulo tratar dos procedimen- são respostas plausíveis para uma série de elementos (definições, autores, personagens,
tos a serem observados na elaboração de provas objetivas. Por essa razão, são indicadas capitais, classes gramaticais erc.)·:··''Y'ri-
no fim do capítulo algumas obras que tratam especificamente desse assunto. Uma das grandes vantagens desse tipo de questão é reduzir a probabilidade de
Cabe ainda lembrar que são diversas as modalidades de prova objetiva, que são aceno devido ao acaso. Sobretudo quando numa coluna há mais elementos do que na
aplicáveis com maior ou menor propriedade aos diversos objetivos específicos de apren- outra, o que torna impossível o acerto apenas por exclusão.
dizagem. As mais usadas são: O emprego das questões de associação, entretanto, é limitado a situações em que
há relação evidente entre os dois conjuntos de elementos. Por exemplo: autor e obra,
A- QUESTÕES DE ESCOLHA MÚLTIPLA causa e efeito, personagem e época etc.

Diante de uma pergunta ou enunciado incompieto, o aluno deve optar por uma C- QUESTÕES DE ORDENAÇÃO
das respostas apresentadas. Exemplo:
Nesse tipo de questão, o aluno é solicitado a arrumar, segundo determinada or-
A qualidade de uma prova que mede o que realmente pretende medir é a sua: dem, os elementos de um conjunto. Por exemplo:
( ) precisão ( ) fidedignidade
Numere por ordem cronológica os movimentos revolucionários, a come-
( ) validade ( ) objetividade
çar pelo mais antigo:
( ) adequação ao grupo
Guerra dos Emboabas ( )
De todas as provas objetivas esta é a que apresenta mais vantagens:
Guerra de Canudos ( )
• adapta-se às mais variadas situações; Guerra dos Mascates ( )

• não se apóia apenas em memorização, pois requer a capacidade de com- Cabanagem ( )
parar e analisar as possíveis respostas; Confederação do Equador ( )
• não depende de um padrão absoluto de verdade, pois geralmente pede a Revolução Pernambucana ( )
melhor opção;
• reduz a probabilidade de acerto por acaso (de 20% no caso de cinco op- A construção dessas questões é bastante simples, porém só pode ser utilizada com
ções). material passível de algum tipo de ordenação lógica.

B- QUESTÕES DE ASSOCIAÇÃO D- QUESTÕES DE "CERTO OU ERRADO"

Nessas questões, os alunos estabelecem associações entre elementos que são Nessas questões, cabe ao aluno indicar se considera certa ou errada cada uma das
apresentados em dois grupos. Por exemplo: afirmações que lhe são apresentadas. Por exemplo:
\_,

114 Metodologia do Ensino Superior Avaliação da Aprendizagem 115

As principais fontes do Direito são: a lei, a jurisprudência, a doutrina e os oralmente. Todavia, são recomendadas apenas para comprovar habilidade para tarefas
costumes. que exijam locução, como a de entrevistador, intérprete ou defensor. Isso porque esse
tipo de prova apresenta muitas limitações: toma muito tempo; não deixa um produto
Certo ( Errado ( ) i
I
concreto que possa ser examinado em caso de dúvida; é influenciado pela subjetivi-
dade do professor ao atribuir a nota, pois a aparência física, o desembaraço e a fluência
Essas questões são de preparo bastante simples e podem ser respondidas com
verbal do aluno prejudicam a apreciação do conteúdo das respostas.
presteza. Porém, só podem ser formuladas em relação a pontos indiscutivelmente cer-
tos ou errados. Freqüentemente, são elaboradas de forma capciosa, o que vem a desa-
gradar principalmente aos melhores alunos. 11.3.6 Observação

E- QUESTÕES DE COMPLETAMENTO A observação é uma estratégia privilegiada para a avaliação do desempenho dos
alunos. Entretanto, para que possa ser útil, precisa ser realizada de forma sistemática,
Nessas questões, o aluno é solicitado a completar uma ou mais frases, preenchendo em intervalos regulares e com listas exaustivas de verificação. É preciso, também, que
lacunas nelas existentes. Por exemplo: o professor esteja treinado para observar. Fica claro, portanto, que essa estratégia só
pode ser aplicada com eficiência em turmas pequenas e em disciplinas de cunho emi-
O país mais populoso da América Central é ............................................... .
nentemente prático.
A região dos Grandes Lagos situa-se entre ....................... e ....................... .
Questões desta natureza são redigidas com muito mais simplicidade que outras
11.3.7 Entrevistas
questões objetivas. E a probabilidade de acerto por sorte é significativamente menor.
Porém, mostram-se pouco úteis para avaliar a capacidade de aplicar princípios a fatos, As entrevistas, muitas vezes, se confundem com as provas orais, pois ambas colo-
de perceber relações complexas e de concluir acerca de fenômenos apreciados em cam professor e aluno face a face. Porém, enquanto na prova oral o objetivo fundamental
conjunto. • é avaliar conhecimentos, nas entrevistas o que geralmente se pretende é identificar
crenças, opiniões, sentimentos, preferências, valores, padrões de ação etc. Trata-se,
pois, de um instrumento adequado para a avaliação da aprendizagem no domínio
11.3.4 Provas práticas afetivo.
As provas práticas são muito adequadas para a avaliação da aprendizagem no do-
mínio psicomotor. Algumas dessas provas são acompanhadas durante toda a sua exe-
11.3.8 Questionários
cução, como, por exemplo, provas de natação ou de manejo de material cirúrgico. Outras
são julgadas apenas-pelo seu produto final, como, por exemplo, as provas de desenho, Os questionários apresentam certa semelhança com as provas escritas. Entretan-
de escultura etc. to, cabe notar que num questionário não existem questões verdadeiras ou falsas. O que
O problema mais comum nesse tipo de prova é o da coerência dos critérios de se pretende com esse instrumento, à semelhança da entrevista, é identificar opiniões,
julgamento. Para sua atenuação, convém que os professores se valham de um roteiro sentimentos etc.
prévio e minucioso dos comportamentos requeridos dos alunos e de um instrumento Em contraste com a entrevista, o questionário tem a vantagem de poder ser apli-
de verificação. Este pode ser constituído por uma lista de cotejo em que para cada pon- cado coletivamente e de tornar mais simples a análise de seus resultados. Em contra-
to o professor anote "sim" ou "não", tanto no decorrer da prova como na apreciação do partida, apresenta uma séria limitação: as questões geralmente são em pequeno nú-
seu produto final. mero e apresentam nível relativamente baixo de profundidade.

11.3.5 Provas orais 11.3.9 Diários de curso


As provas orais podem ser utilizadas para avaliar inúmeros itens, como: profundi- O diário de curso é constituído pelo registro diário e conciso das atividades reali-
dade e extensão dos conhecimentos, opiniões, atitudes e habilidade de se expressar zadas no curso. Para que se torne útil, o diário deve apresentar visão crítica do curso,
116 Merodologia do Ensino Superior AvaliaçãodaAprendiz:agem 117

tanto no referente à forma de sua apresentação quanto à utilidade de seus conteúdos Coletânea de artigos críticos sobre avaliação da aprendizagem. Os textos procu-
e de seu desempenho pessoal. ram analisar o fenômeno da avaliação, considerando suas implicações sociológicas,
O diário de curso é uma estratégia que envolve a auto-avaliação e serve fundamen- políticas e pedagógicas.
talmente para avaliar a atitude do aluno em relação ao curso. Requer, portanto, todo
um trabalho do professor e do aluno para que este, de forma honesta, seja capaz de MEDEIROS, Ethel Bauzer. Provas objetivas, discursivas, orais e práticas. 9. ed. São
observar a si mesmo, relacionar o seu desempenho com os objetivos propostos e reco- Paulo: FGV, 1989.
nhecer tanto os seus sucessos quanto as suas falhas. Trata dos mais diversos tipos de provas utilizadas para avaliar o aprendizado. Es-
clarece acerca dos procedimentos a serem adorados na elaboração das provas, sobre-
tudo das objetivas. Embora sendo de natureza técnica, é apresentado em linguagem
Leituras recomendadas simples e direta) ficando a parte estatística restrita a noções e medidas bastante ele-
mentares.
BERBEL, Neusi Aparecida Navas. Avaliação da aprendizagem no ensino superior. Londri-
na: UEL, 2001.
Esse livro, fundamentado em pesquisa empírica, trata dos problemas enfrentados
tanto por professores quanto por alunos em relação ao processo avaliarivo. Trata, en-
tre outros tópicos, da coerência entre o ensinado e o avaliado, da coerência entre a forma
de ensinar e de avaliar e a preparação do estudante para a avaliação.

DE LANDSHEERE, Gilbert. Avaliação contínua e exames: noções de docimologia. 3. ed.


Coimbra: Almedina, 1976.
Importante obra no campo da avaliação de ensiô.o. Trata principalmente dos pro-
cedimentos adorados na elaboração de provas, envolvendo, inclusive, os procedimen-
tos estatísticos requeridos. Não deixa, porém, de analisar criticamente as provas, res-
saltando suas vantagens e limitações.

FELTRAN, Regina Célia de Santis (Org.). Avaliação na educação superior. Campinas:


Papirus, 2002.
Esse livro apresenta temas pouco presentes nas obras que tratam de avaliação do
ensino, tais como: avaliação do professor nos âmbitos teórico, metodológico e prático,
decorrências legais e pedagógicas da repetência na universidade e avaliação do juízo
moral de universitários.

HOFFMANN, Jussara.Avaliação mediador-a: uma prática em construção da pré-escola


à universidade. 17. ed. Porto Alegre: Mediação, 1998.
A autora propõe que a avaliação seja feita com base em uma postura pedagógica
que respeite o saber elaborado pelo aluno. O livro apresenta uma experiência no ensi-
no superior desenvolvida sob esse enfoque.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendzzagem escolar. I S. ed. São Paulo: Correz,
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