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Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7

Cadernos PDE

VOLUME I I
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
Produção Didático-Pedagógica
2009
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

CADERNO TEMÁTICO

OS TROPEIROS

MARIA ELIZABETH RIBEIRO DE OLIVEIRA

CASTRO
2010
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

MARIA ELIZABETH RIBEIRO DE OLIVEIRA

OS TROPEIROS
Material Didático-Pedagógico

elaborado para definir diretrizes

de ação do Programa de

Desenvolvimento Educacional -

PDE Secretaria de Estado da

Educação - Paraná.

Orientador: Profº. Ms. Marco


Aurélio Monteiro Pereira

Castro

2010
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 5

1 CAMINHO DAS TROPAS 11

TEXTO 1 OS CAMINHOS 12

1.1 Caminho da Praia 12

1.2 Caminho dos Conventos 12

1.3 Caminho do Viamão 13

1.4 Caminho das Missões 13

Mapa da Rota dos Tropeiros 15

2 CASTRO E PONTA GROSSA: POUSOS DE 16


TROPEIROS E SUAS TROPAS

TEXTO 1 CASTRO E O TROPEIRISMO 17

TEXTO 2 PONTA GROSSA E O TROPEIRISMO 20

3 O TROPEIRO E A TROPA 22

TEXTO 1 TROPEIRISMO 23

TEXTO 2 A TROPA 25

TEXTO 3 O POUSO – USOS E COSTUMES 28

4 O COTIDIANO E AS DIMENSÕES CULTURAIS NO 30


TROPEIRISMO

TEXTO 1 MÚSICA 31

TEXTO 2 DANÇA 33

TEXTO 3 ALIMENTAÇÃO 35
3.1 Comida Tropeira 35

3.2 Dieta do Tropeiro 38

3.3 Café Tropeiro 38

TEXTO 4 LINGUAJAR 40

TEXTO 5 DICIONÁRIO SERTANEJO 41

TEXTO 6 PRÁTICAS DE CURA TROPEIRA NAS PARAGENS 57


DO IAPÓ

6.1 Algumas Simpatias 58

TEXTO 7 A MEDICINA CASEIRA 60

TEXTO 8 A INDUMENTÁRIA DO TROPEIRO 61

5 SUGESTÕES DE ATIVIDADES 62

CONSIDERAÇÕES FINAIS 63

REFERÊNCIAS 65
APRESENTAÇÃO

Este Caderno Temático destina-se ao registro de textos e sugestões de


atividades para, a serem desenvolvidos na Proposta de Intervenção
Pedagógica na Escola, como parte integrante do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do
Paraná, política de formação continuada e de valorização dos professores da
Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná em parceria com o Ensino
Superior, tendo como objetivo melhorias na Educação.
Nesse contexto, o material didático se propõe a desenvolver um
processo de investigação sobre os elementos culturais do viver cotidiano dos
tropeiros, que, mesmo tendo passado por constantes transformações, ainda
conservam elementos que têm alguma relação com os costumes e hábitos do
cotidiano dos muitos municípios que têm formação ligada ao movimento do
tropeirismo, abrindo, assim, possibilidades de reflexões e aprofundamentos das
questões propostas pelo tema.
Sua organização é pautada sobre pressupostos teórico-metodológicos,
buscando contribuir com a implementação do projeto na escola, sendo que o
mesmo está articulado com os pressupostos metodológicos das Diretrizes
Curriculares.
As Diretrizes Curriculares do Ensino de História (2008) enfatizam a
importância de uma metodologia que contribua para que os alunos possam se
apropriar dos fundamentos teóricos necessários para pensar historicamente.
Este processo pedagógico tem por objetivo desenvolver a consciência
histórica.
Consideramos importante abordar o tropeirismo neste Caderno
Temático, pois observamos que os materiais didáticos para consulta,
disponíveis para os professores nas escolas, e para auxílio dos alunos em suas
pesquisas, em grande parte não enfocam a História Regional, especialmente a
História do Paraná.
Quando a apresentam, como é o caso do livro didático público, tratam
o assunto com superficialidade, não contemplando maiores discussões sobre
temáticas regionais, como é o caso do tropeirismo no Paraná.
Sobre a importância da história local na construção da identidade dos
alunos, Circe Bittencourt faz uma reflexão, ressaltando que:

A história local tem sido indicada como necessária para o ensino por
possibilitar a compreensão do aluno, identificando o passado sempre
presente no vários espaços de convivência – escola, casa,
comunidades, trabalho e lazer, e igualmente por situar os problemas
significativos da história do presente. (BITTENCOURT, 2004)

Aprender História nesta perspectiva contribui para que o ensino dessa


disciplina se configure em habilidade, para o indivíduo se orientar na vida e
formar uma identidade histórica coerente e segura.
Este Caderno Temático foi elaborado com o objetivo de propiciar aos
alunos um maior conhecimento e sensibilização acerca da memória e história
local e favorecer o aluno, no processo de ensino de História, com um enfoque
histórico e cultural sobre o tropeirismo na região dos Campos Gerais.
O tema tropeirismo faz parte da história econômica e cultural do Brasil,
do Paraná e da história da região dos Campos Gerais. Assim, este trabalho
busca resgatar e consequentemente valorizar a memória das origens das
cidades de formação tropeira da região.
Desta maneira, o presente trabalho se justifica por estar relacionado
com a ocupação e desenvolvimento da região Meridional do Brasil, mais
particularmente com a região dos Campos Gerais. Pode-se afirmar que, para
preservar os costumes e tradições de uma cidade, é necessário conhecer as
suas origens, para que ela não se perca com os passar dos anos. Recuperar a
memória local desperta no aluno a consciência histórica, tornando-o atuante,
crítico, capaz de entender e transformar a realidade que o cerca.
Jörn Rüsen (2007), afirma que os sujeitos têm que se orientar
historicamente e têm que formar sua identidade para viver melhor, para poder
agir intencionalmente.
São muitos os desafios para trabalhar com a história local. Existe o
preconceito de que a história local seja menos significativa do que a nacional
ou mundial. Na maioria dos estudos locais os trabalhos visam apontar heróis
que foram ou são importantes para a região.
São poucos os trabalhos onde a pesquisa histórica, principalmente
aquela voltada para construir subsídios para o ensino, inicia-se pelo município,
articulando-se com realidades maiores. A realidade próxima do aluno fica num
segundo plano.

Nessa perspectiva é que surge a importância do Projeto de Intervenção


Pedagógica contribuindo para que os alunos se percebam também como
sujeitos de um processo construído dentro de um contexto histórico sobre o
tropeirismo, que ultrapassa os limites do tempo e se fazem presentes na
realidade vivida em seu cotidiano, em seus diversos aspectos, resgatando os
valores culturais que identificam um povo.
É neste sentido que este Caderno Temático vem ao encontro do
objetivo proposto nas DCEs de História, que é o de trazer à tona todos os
elementos essenciais na construção cultural de um povo, partindo da cultura
comum para se compreender as relações de trabalho e as relações de poder
estabelecidas entre os sujeitos históricos, permitindo, assim, que o aluno possa
conhecer o passado que se faz tão presente na atualidade. Permite, também
compreender que esse processo é feito por pessoas como ele, reais e que
interpretam os seus significados, partindo da história vivida para a
compreensão da macro história. Na concepção de História atual deve existir
um diálogo com várias vertentes historiográficas, como propõe as Diretrizes
Curriculares de nosso estado (PARANÁ, 2007, p.13)
O desafio de romper com o ensino tradicional, metódico e positivista,
que nos dias de hoje ainda permeia o ensino de História, é muito grande.
Torna-se necessária uma reflexão sobre as novas correntes teóricas para o
ensino de História, bem como uma revisão no procedimento metodológico da
disciplina, cujo objetivo central é a formação do pensamento histórico.
Refletindo sobre as novas correntes historiográficas e fazendo uma
revisão dos procedimentos metodológicos para o ensino de História, e tendo
como ponto de partida a realidade do aluno, a investigação histórica é
significativa para atingir o objetivo de formação do pensamento histórico, pois
percebe-se que o aluno torna-se participante do processo de ensino-
aprendizagem quando consegue compreender que a sua história e de sua
comunidade são valorizadas.
Isso não diminui a importância do conhecimento histórico geral, mas
contribui para que os sujeitos históricos se percebam protagonistas da história,
agentes sociais da mesma.
Como o objeto deste Caderno Temático é o tropeirismo, vamos buscar
entender e desmistificar quem foram esses sujeitos sociais, os tropeiros; quais
eram seus hábitos, costumes, como se organizavam, quais eram seus destinos
e sob quais condições econômicas, sociais e culturais, se dissolveram as suas
raízes?
Objetiva-se, com esse material, desenvolver um processo de
ressignificação da influência do tropeirismo na região, utilizando a herança
deixada pelos diversos aspectos da cultura tropeira, como uma das alternativas
para que se possam reconhecer os elementos deixados pelos tropeiros ainda
presentes no imaginário e no cotidiano dos habitantes da Região dos Campos
Gerais do Paraná.
Dentro do campo da História cultural, pode-se dizer que o ser humano
é fruto de seu tempo histórico, das relações sociais e culturais e do espaço
onde está inserido; porém é também um ser singular que atuante no mundo a
partir das concepções pelas quais o constrói, compreendendo os recursos que
possui e as formas possíveis de participação na construção e transformação de
sua realidade. Concepções que marcam uma mudança de atitude no processo
de construção histórica, elaborada a partir de um novo olhar epistemológico.
As informações sobre o tropeirismo são, na maioria das vezes,
fragmentadas e superficiais. Na maioria dos trabalhos encontrados os dados
pontuais sobre o tropeirismo são utilizados como pano de fundo para
contextualizar análises sobre o surgimento de determinadas cidades ou para
caracterizar determinados modos de vida. A forma como estes dados são
apresentados acaba permitindo aos leitores conhecer apenas alguns aspectos,
muitas vezes desconexos, a respeito do assunto.
Diante dessa observação, e sentindo a carência de material de
subsídio para maiores esclarecimentos sobre o tema, o presente caderno
temático pretende ampliar os horizontes temáticos e histórico-culturais sobre as
dinâmicas específicas e a influência tropeira nos Campos Gerais,
contemplando os seguintes os seguintes temas e subdivisões:
1 - Caminhos das tropas:
• Caminho da Praia
• Caminho dos Conventos
• Caminho do Viamão
• Caminho das missões
2 - Castro e Ponta Grossa: pousos de tropeiros e suas tropas
3 - O Tropeiro e Tropa
4 - O Cotidiano e as Dimensões Culturais no Tropeirismo
• Música

• Dança
• Alimentação
• Linguajar
• Medicina tropeira
• Religiosidade
• Indumentária
5 - Sugestões de Atividades
CÓDIGO DO TROPEIRO

Não deixar porteira aberta.

Respeitar a propriedade alheia.

Saudar a todos que encontrasse em caminho.

Nunca chegar à casa de alguém pelo lado da cozinha.

Respeitar as mulheres.

Ser leal aos companheiros.

Ser correto nos negócios e,

Honrar a palavra dada


1 – CAMINHO DAS TROPAS

Como na época a locomoção era mais lenta em função dos caminhos


difíceis, os tropeiros não andavam mais do que 30 quilômetros por dia
conduzindo os animais. E seus pontos de parada, com o passar dos anos,
viraram aldeias, povoados, até se transformarem em cidades, graças ao fluxo
tropeiro. No Paraná, isso pode ser percebido na distância entre onze cidades -
de Rio Negro a Sengés. Elas ficam em média de 30 a 40 km de distância uma
da outra: Rio Negro, Campo do Tenente, Lapa, São Luiz do Purunã, Palmeira,
Ponta Grossa, Castro, Piraí do Sul, Jaguariaíva e Sengés.
Os tropeiros foram os homens
dos caminhos, riscaram grande
parte do país seguindo antigos
caminhos indígenas e outros,
silenciosamente integrando o sul
ao restante do país. (Fonte:
Monumento aos Tropeiros (Poty
Lazzarotto), Lapa (PR), Brasil.)
TEXTO 1 – OS CAMINHOS

1.1 Caminho da Praia

Até 1737, no futuro caminho tropeiro, somente existiam as povoações


de Colônia do Sacramento e Montevidéu, no Uruguai e Laguna (SC), no Brasil.
Partindo da Colônia do Sacramento e passando por Montevidéu,
seguia-se por Taim, Rio Grande, São José do Norte, Estreito, Bojuru, Tavares,
Mostardas, Pinhal, Tramandaí, chegando a Torres, divisa do Rio Grande do Sul
com Santa Catarina. Daí para frente, Araranguá, Morro dos Conventos e
Laguna. A distância entre Colônia de Sacramento e Laguna é de cerca de 600
km. Pelo mapa, vê-se que esse Caminho da Paia é uma estreita faixa entre o
mar e as lagoas Mirim e Patos.
A estrada da Praia é também conhecida como “Estrada do Inferno”
devido aos atoleiros. Após a derrota dos índios tapes, o Caminho da Praia foi
abandonado. Esses índios ocupavam as terras divisórias de águas, entre os
rios Piratininga e Camaquã, a oeste da Lagoa dos Patos. Os Tapes eram
guaranis.
A tropa vinda do sul, da Colônia de Sacramento, atual território do
Uruguai, passava pela atual cidade do Rio Grande, ao sul da Lagoa dos Patos
(RS).
Na localidade de São José do norte há um canal pelo qual, durante a
maré baixa, a tropa deveria passar para ter acesso ao Caminho ou Estrada da
Praia. Trata-se de uma estreita faixa de terra, desenvolvendo-se para o norte-
nordeste entre o Atlântico e a Lagoa dos Patos. Por essa via deixa-se o
Viamão e Porto Alegre a oeste e se alcança Torres (RS). Cruzando a divisa de
Santa Catarina, passa-se por Araranguá, com destino ao porto de Laguna.

1.2 Caminho dos Conventos

Segundo Euclides J. Felippe, a abertura dessa rota teve início em 11-


02-1728, por iniciativa do Sargento-Mor de cavalaria Francisco de Souza Faria,
a partir do Morro dos Conventos no município de Araranguá (SC), com a ajuda
de 96 homens. Seguindo o litoral pela margem do rio Araranguá, a comitiva
chegou à Serra de São Bento na base da Serra Geral. Desse modo,
mencionando os nomes das localidades atuais, o trajeto foi: Araranguá, Bom
Jardim da Serra, Otacílio Costa, Ponte Alta, Curitibanos, cruzando o rio
Marombas, Ponte Alta do Norte e Mafra, última localidade de Santa Catarina.
Após cruzar o Rio Negro, na divisa, passou pelo município do mesmo nome
seguindo para os campos de Curitiba (PR). Foi no município de Ponte Alta que
Cristóvão Pereira Abreu, mais tarde imbicou atalho.

1.3 Caminho do Viamão

Na Argentina, desde 1553, havia grandes criatórios de muares,


destinados ao transporte na mina de Potosí. Na segunda metade do século
XVIII, depois da expulsão dos índios tapes, não havia mais necessidade de
usar o Caminho da Praia. Optou-se pelo interior do continente. Entrava-se pelo
passo de Santa Velha, um pouco abaixo da atual Uruguaiana. Daí, para o cerro
Jarau, Coxilha dos Ventenas, depois atual Alegrete. Desviando os rios maiores,
seguia-se pela crista Yapeyu, vadeava-se o Ibicuí, no passo de canapé. Subia-
se a coxilha Santa Rosa para evitar a travessia do Itapororó. Rumava-se na
direção de cerro de Loreto, atual São Vicente, atravessava-se vários rios e
avistava-se a encosta de serra, próxima a Boca do Monte, atual Santa Maria
(RS). Seguia-se na direção do rio Pardo, desviavam-se as curvas do Jacui,
vadeando-o provavelmente, no Passo das Pederneiras, onde seria fundado Rio
Pardo. Daí seguia-se para Viamão, próximo a Porto Alegre.
Rota – Caminho do Viamão, Cerro do Jarau, Coxilha dos Ventenas,
Alegrete, Xapevi (vadeando o rio Ibicuí no passo do Capané), São Vicente,
Santa Maria, Rio Pardo, Rio Jacuí, Viamão – Registro, Santo Antonio da
Patrulha – Registro, Vacaria, Lages – Divisa RS e SC, Rio Negro, Lapa, Ponta
Grossa, Castro, Itararé – Divisa PR e SP, Itapeva, Itapetininga, Araçoiaba da
Serra, Sorocaba.
O Caminho do Viamão ou Estrada Real, foi usado até o fim do século
XVIII, quando, então, foi abandonado e substituído pelo Caminho das Missões.

1.4 - Caminho das Missões

Depois da expulsão dos jesuítas, os tropeiros passaram a preferir o


deslocamento pelo oeste do (RS), favorecendo a ocupação definitiva das
Missões, através de sesmarias, concedidas à tropeiros paulistas. Os
povoamentos surgiram em torno dos pousos tropeiros. O novo traçado passava
a ser: São Borja, Santo Ângelo, Cruz Alta, Carazinho, Passo Fundo, Lagoa
Vermelha e Vacaria. Esse caminho, com o mesmo nome sofreu modificação,
feita pelo tropeiro paranaense Francisco da Rocha Loures, deslocando-se mais
a oeste: Passo Fundo, Erexim, vadeando-se o rio Uruguai, no Goio-En.
Cruzava-se o oeste catarinense, Chapecó, chegando a Palmas. Por motivos
práticos, entre as duas rotas principais: Viamão e Missões se abriram ramais.
Por exemplo, Palmas com destino a Porto União no rio Iguaçu e daí para
Palmeira, no Paraná. Podia-se também, levar a mercadoria rio acima
embarcada. Em suma: olhando-se o mapa, vê-se o trajeto Viamão, Vacarias,
Lages, Rio Negro, Lapa, Palmeira, Ponta Grossa, Castro, seguindo para
Sorocaba, (SP). De Palmeira, um ramal para Curitiba. De castro, um ramal
para Tibagi.
A estrada das Missões, em seu eixo principal, ia de Ponta Grossa para
Palmeira, Guarapuava, Chapecó, Goio-En, no rio Uruguai e Cruz Alta ou Passo
Fundo, até Vacaria (RS). De Palmeira, para União da Vitória a Palmas. Na rota
das Missões, Uruguaiana na margem esquerda do rio Uruguai, fica a 160 km
ao sul de São Borja. Do outro lado do rio, em território argentino, encontra-se
“Passo de Los Libres”.

(Fonte: Bueno, Fidelis. Geografia Tropeira: subsídios ao estudo do tropeirismo. Castro. Ed. do
autor. 2008. p. 19-23.)
(Fonte: Revista Globo Rural Especial – Os Tropeiros III – A jornada final. 2006)
2- CASTRO E PONTA GROSSA: POUSOS DE TROPEIROS E SUAS
TROPAS

Com o passar dos anos, o fato de ocorrer paradas das tropas sempre
no mesmo local, que era de grande necessidade, fez que nesses locais
estratégicos, surgissem pequenos núcleos populacionais, que iam se
desenvolvendo, crescendo, ganhando força, surgindo assim muitas cidades. A
primeira foi Castro (Pouso do Iapó), depois a Lapa (Vila do Príncipe), Palmeira
(Freguesia Nova), Piraí (Furnas), Tibagi e, entrando no século XIX, Ponta
Grossa, Jaguariaíva e Guarapuava. O tropeirismo foi responsável pelo
aparecimento de muitas cidades da região sul, sudeste e centro-oeste do
Brasil. No Paraná mais de cem municípios possuem ligação direta ou
indiretamente com alguma das etapas do movimento tropeirista.
Foi, portanto, o tropeirismo de grande importância para a economia e
colonização do Brasil, participando do processo de ocupação e integração do
país. Dos pousos de tropeiros, acabaram surgindo inúmeras cidades
brasileiras. Os próprios tropeiros resolviam muitas vezes, fixar moradia nos
locais que, em tantas ocasiões, tinham servido de pousos.
TEXTO 1

CASTRO E O TROPEIRISMO

Os tropeiros tiveram grande importância histórica, econômica e


cultural, alargando as fronteiras, conduzindo caravanas de mulas cargueiras,
único meio de transporte de pessoas, mercadorias e notícias no Brasil colonial.
Na rota percorrida pelos tropeiros surge a cidade de Castro, que abriga
o Museu do Tropeiro, um dos mais completos do país e a Casa de Sinhara,
dedicada às mulheres ligadas ao tropeirismo.

Os Campos Gerais começaram a ser explorados pelos colonizadores


portugueses e seus descendentes no século XVIII. Nessa época, poucos bens
tinham maior valor que um bom campo de pasto, ainda mais se este pasto
fosse servido de água.
Naquele tempo um rio que permitisse com facilidade a passagem de
homens e animais sem o auxílio de embarcações era tão importante que
poderia até definir um caminho, assim o Caminho do Viamão, vindo do Rio
Grande do Sul, e o caminho de Sorocaba, se encontravam nos Campos
Gerais, ali mesmo, onde o rio Iapó tinha vau.
E a paragem do Iapó transformou-se em ponte de pouso estratégico
para os tropeiros que traziam gado bovino, cavalos e mulas dos campos de
Vacaria e Viamão, no Rio Grande do Sul, para a feira de Sorocaba em São
Paulo.
Nos primeiros tempos, os animais vindos do Rio Grande do Sul eram
levados até Laguna e embarcados para o norte ou levados pelo caminho da
Praia ao Rio São Francisco. Seguindo em direção aos Campos dos Ambrósios
e para oeste por uma trilha que chegava aos Campos Gerais depois de
atravessar o Rio Grande de Curitiba, como era chamado o rio Iguaçu. O
transporte pela praia era muito penoso e o grande sonho dos tropeiros era
construir um caminho que ligasse os campos do Sul aos de Curitiba e os
Campos Gerais.
Um ousado sesmeiro dos Campos Gerais, Bartolomeu Paes de Abreu,
chegou a propor a Dom João V, em 1720, a abertura de uma estrada que
ligasse Curitiba ao Rio Grande do Sul e a Colônia do Sacramento (hoje
Uruguai).
Dez anos depois já eram muitos os envolvidos na construção do
Caminho dos Tropeiros. Alguns foram multados por não cumprirem os
compromissos na construção, mas muitos foram bem recompensados pelo
bom serviço.
As autoridades logo perceberam que as finanças da Coroa, poderiam
melhorar com a cobrança de pedágio de gado, em muitos lugares foi criado até
um cargo de provedor para fazer as cobranças.
Aos poucos começaram a surgir atividades paralelas, para abrigar os
animais em viagem, multiplicaram-se as fazendas de invernadas – pouso de
abastecimento e repouso das tropas. Muitas vezes, estas fazendas tinham sua
própria criação de gado, já que a região era favorável a pecuária.
Os bons negócios com os tropeiros, os lucros com as fazendas de
invernada e a criação de gado atraíram logo a atenção de ricos fazendeiros de
São Paulo, Santos e Paranaguá, que passaram a ocupar terras nos Campos
Gerais, instalando fazendas rudimentares para justificar o requerimento de
sesmarias. Interessados em ampliar o domínio do território da colônia, a Coroa
Portuguesa concedia, grandes áreas de terra aos requerentes, com a exigência
de que os sesmeiros cultivassem e povoassem a terra.
Em maio de 1751, a fazenda Capão Alto foi a leilão passando a
pertencer a José de Góis e Morais, filho de primeiro dono Pedro Taques
Almeida.
Na fazenda Capão Alto havia um grande potreiro construído numa
colina cercado de águas onde se abrigavam as tropas vindas do Sul, ao redor
da fazenda foi se instalando um povoado que se dedicavam a atender as
atividades dos tropeiros, os moradores confeccionavam objetos de couro,
produziam alimentos e ofereciam mão-de-obra quando necessário.
Para atrair moradores os sesmeiros erguiam capelas e autorizavam a
ocupação das terras.
A primeira capela construída na fazenda Capão Alto foi a Capela de
Santo Antonio.
No ano de 1751, o capitão-mor José Góis e Morais vende a fazenda a
Frei João se Santa Izabel, todo o trabalho da fazenda era feito por escravos.
Os carmelitas pastoreavam almas e criavam gado para alimentar os
membros da ordem em São Paulo.
O terreno onde estavam localizada a Capela de Santo Antonio era
plano, e não faltou quem desejasse se instalar ao seu redor, então para não
criar atrito com os moradores, os carmelitas que não queriam que a fazenda
fosse povoada, construíram em terras fora da fazenda a Capela de Sant Ana
do Iapó. Como queriam os frades, a nova capela atraiu o povoado para fora
dos limites da fazenda Capão Alto, formando assim a Vila Nova de Castro.
Em 1770, a fazenda Capão Alto fica sob a administração do escravo
Inocêncio, designado pelos carmelitas, já que estes resolvem voltar para São
Paulo.
Em 1870, a fazenda Capão Alto, foi vendida a Bonifácio José Baptista,
que mandou construir o luxuoso casarão da fazenda Capão Alto, Bonifácio
José Baptista se instala na fazenda, como é um intelectual forma a Biblioteca
Publica de Castro.
Mas em 1878, Bonifácio, muda-se para São Paulo, passando assim a
fazenda Capão Alto, a ser apenas casa de veraneio da família.
Bonifácio José Baptista morre em 1897 em São Paulo.
Em 1905, a ferrovia substitui o velho caminho dos tropeiros e a
paragem do Iapó é apenas uma lembrança, mas que é reconhecida até hoje na
região pela sua
importância na formação
dos Campos Gerais

(Fonte:
http://www.studiomostarda.com.
br/ws/images/capao-alto)

TEXTO 2

PONTA GROSSA E O TROPEIRISMO

(Aquarela de Jean Baptiste Debret –


primeira imagem a respeito de Ponta
Grossa – 1827)

Ponta Grossa nasceu às


margens do Caminho das Tropas,
em terras pertencentes às
sesmarias de Pedro Taques de Almeida, filhos e genros, localizadas entre os
rios Yapo, Pitanguy e Tibagy.
Em 1727, doaram à Companhia de Jesus uma parte destas áreas, em
local chamado Itayacoca onde foi construída uma Capela sob a invocação de
Santa Bárbara que se tornou marco de ocupação desta região, surgindo em
seu entorno conhecido pouso de tropeiro.
A referência mais antiga denominando “paragem de Ponta Grossa”
aparece em 1741 quando o local ainda era somente passagem e pouso de
tropas e tropeiros. Porém com a abertura mais tarde de novos caminhos
alcançando os campos de Guarapuava, criou-se ali uma situação de
encruzilhada de caminhos, o que aumentou muito o trânsito de tropas e pela
abundância de aguadas e capões para obtenção de lenha, muitas pessoas
começaram a estabelecer negócios para atendimento ás necessidades dos
tropeiros, tais como, armazém de secos e molhados, selaria, ferraria, tafonas e
engenhos, barbearia, o que propiciou o aparecimento de um povoado.
Pertencente a vila Nova de Castro, foi elevada a Freguesia em 1823,
emancipando-se como cidade em 1862 e ainda pouco desenvolvida,
enfrentava limitações como dificuldade de comunicação com a capital.
Nesta época havia uma só viagem semanal de diligencia a Curitiba que
levava 3 dias de ida e 3 dias de volta, condição que só veio a melhorar com a
chegada da estrada de ferro em 1894 ligando Ponta Grossa à Curitiba e depois
em 1912 com a ligação para São Paulo e Rio Grande do Sul, o que novamente
consolidou-a como um grande entroncamento, desta vez ferroviário,
produzindo um grande crescimento local.
Contribui significativamente também a chegada de imigrantes ao final
do século XIX.

(Fonte: encarte da Rota dos Tropeiros)

Vista parcial de Ponta Grossa


3 - O TROPEIRO E A TROPA

Pela importância, pelo valor imenso do trabalho que realizaram, os


tropeiros se constituíram sem sombra de dúvida, no fator predominante de
permanência e fixação dos núcleos populacionais que se localizavam no
interior do sul do país. Com a finalidade de fazer com que os educandos
possam conhecer e entender essa influência optou-se pelo seguinte texto:
TEXTO 1

TROPEIRISMO

(Fonte:
http://www.asminasgerais.com.br)

O Ciclo do
Tropeirismo teve início por
volta de 1730, quando
Cristóvão Pereira de Abreu,
um rico negociante da Colônia
de Sacramento, nascido em
Portugal, foi o chefe da primeira tropeada sulina, o “primeiro tropeiro”. Durante
13 meses, entre 1731 e 1732, ele permaneceu no planalto, fazendo um
reconhecimento da picada já aberta e de toda a região.
A chamada Estrada Real ou Caminho do Viamão que passava por
Santo Antônio da Patrulha, São Francisco de Paula, Campos de Vacaria,
Campos de Lages, Campos Gerais, Itararé e Sorocaba foi aberta por volta de
1732 quando Cristóvão Pereira de Abreu acompanhado de 60 homens
conduziu cerca de 500 cabeças de gado a São Paulo. Retornou ao sul para
refazer a viagem com três mil cavalos. Esse caminho encurtava as distâncias,
além de ser mais seguro e de acesso mais fácil. Desde então, a intensificação
das tropas foi cada vez maior, visto que na região das minas gerais era
necessário um meio de transporte rústico, forte o suficiente para carregar
mercadorias e caminhar pelos caminhos tortuosos. O tropeirismo foi o maior
ciclo cultural e social que existiu no Brasil e um dos maiores contribuintes da
economia e colonização da região Sul.
Os tropeiros partiam dos campos gaúchos logo que terminava o
inverno. Viajavam lentamente e procuravam acampar onde houvesse
abundante pasto, para que os animais não perdessem peso. A tropa se
recuperava muito bem na região dos Campos Gerais, pois apresentava
características excelentes – sal, boa água e excelentes pastagens. Não foi sem
razão que Saint-Hilaire no seu livro Viajem pela Comarca de Curitiba apelidou
os Campos Gerais de paraíso terrestre do Brasil.
A viagem do Rio Grande do Sul até Sorocaba era muito longa e os
tropeiros precisavam parar para descansar. Às vezes geava, chovia muito, ou
rios alagavam, obrigando os tropeiros a permanecerem acampados por vários
dias seguidos. Esses locais eram chamados “pousos”. Os pousos eram locais
com bom pasto e boa água, onde descansavam os homens e os animais.
Sorocaba sempre foi ponto de comércio de muares. Partindo do sul em
direção às minas, era esta vila um ponto certo de passagem, pois constituía a
única via de acesso existente. A primeira Feira de Sorocaba ocorreu por volta
de 1750, e foram fixando-se de fins de abril até início de junho para facilitar o
encontro de vendedores e compradores de animais. Devido a diversidade de
serviços e produtos a Feira de Sorocaba era local de encontro de vários
profissionais.
O tropeiro foi o propagador das relações econômicas, pois foi a partir do
comércio de mulas que surgiram as fazendas criadoras de animais, a locação
de campos de descanso nos pousos e a conseqüente colonização do Sul do
Brasil.
(Fonte:http://adonato.files.wordpress.com/2009/01/tropa4.jpg)
TEXTO 2

Quem eram os tropeiros e quem mais trabalhava nessa atividade?


Para saber mais a respeito da organização, quem era a figura de maior
poder, enfim quem eram as pessoas que compunham a tropa, o texto a seguir
apresenta-se como meio de se obter tais informações.

A TROPA

A tropa podia ser conduzida por um capitalista que não participava da


jornada, mas contratava um tropeiro profissional para fazê-lo, ou pelo próprio
dono do empreendimento, que participava como comandante da viagem,
supervisionando tudo e negociando ao longo do caminho.
Havia dois tipos de tropa: a chucra, que era adquirida no sul e levada
para ser vendida em Sorocaba. Eram animais rústicos, de grande resistência e
caminhavam bem por caminhos difíceis. Era guiada pela égua madrinha e
pelos tocadores.
O outro tipo de tropa era a cargueira ou arreada, composta por animais
mansos com cangalhas onde se prendiam as bruacas, os cestos ou as
canastras. Essa tropa era destinada especificamente para o transporte de
mercadorias. Nas bruacas e canastras dos tropeiros sempre havia novidades.
Quando este tipo de tropa acampava junto aos povoados, os moradores logo
se aproximavam em busca das coisas negociáveis, como roupas, água de
cheiro, remédios, ferramentas, armas, objetos de utilidade doméstica,
sementes, enfim, tudo que era raro no interior.
A tropa era regida pela divisão do trabalho, ou seja, as tarefas eram
distribuídas entre os companheiros com o objetivo de manter a ordem, a
disciplina e o maior rendimento na execução dos afazeres. Assim cada função
era essencial no cuidado da tropa.
Madrinheiro: Seguia à frente, junto à égua madrinha e seu trabalho
principal era preparar a comida. Chegando ao pouso, cabia-lhe acender o fogo
e armar a trempe. Feito e servido o feijão e o café, encerrada a janta, cabia
depois ao madrinheiro lavar os trens de cozinha e guardar os mantimentos.
Tocador: O tocador era o homem responsável pela condução do lote e
pela carga. Cabia a ele buscar as mulas no pasto, por os cabrestos,
encangalhar a carga. Em seguida o tocador jogava o ligal sobre a carga,
arrochava e soltava os burros um a um até estar pronto seu lote. Iniciada a
viagem o tocador seguia a pé, conduzindo as bestas e batendo na cangalha
para o animal firmar o passo. Ao chegar a novo pouso cabia-lhe descarregar e
descangalhar as mulas para o descanso.
Arrieiro: O arrieiro ou arredor tinha por função a orientação do trabalho
dos demais homens da tropa, zelando para que cada um desempenhasse da
melhor forma sua tarefa. A ele também cabia consertar os arreios, ferrar os
animais fazer-lhes curativos e conferir a carga a cada pouso.

(Fonte: http://adonato.files.wordpress.com)

Além desses integrantes permanentes, a tropa dependia também do


trabalho de outros homens, os artesãos, que embora não fossem participantes
da tropa, tinham nela uma participação indispensável.
Cangalheiro: Artífice que esculpia a madeira dando-lhe a forma de
cangalha. Sua técnica dominava desde a escolha da árvore de madeira mais
apropriada até a forma adequada de escavar o gancho para que este se
encaixasse perfeitamente ao lombo do animal, pois este encaixe perfeito
prevenia esfolamentos e pisaduras.
Seleiro: Confeccionava os complicados arreamentos dos animais de
sela ou de carga usando instrumentos variados, capazes de dar ao couro cru
ou curtidos diversos formatos e acabamentos, como desenhos em relevo de
diferentes flores, quadrados, pontos, etc., que enfeitavam de maneira ímpar
montarias e madrinhas.
Trançador: Com trabalho semelhante ao do seleiro, porém menos
artístico, cabia ao trançador a confecção de laços, cabrestos, rédeas e chicotes
de couro cru. A habilidade do trançador se revelava na perfeição do trabalho,
produzindo peças firmes e bem acabadas, sem falha no trancamento.
Cesteiro: O cesteiro ou jacazeiro era o artesão das fibras vegetais.
Trançando taquara, bambu ou cipó colhido nos meses “sem erre” o cesteiro
fazia peças de formatos diversos, que variavam conforme a utilidade, pois nos
cestos transportava-se milho, aves, mantimentos, ferramentas.
Funileiro: Provia a tropa de cincerros, canecos, lamparinas,
chiculateira e panelas feitas de cobre, latão ou ferro batido nas oficinas à beira
dos caminhos. Socorria ainda os tropeiros com o trabalho de solda nos
apetrechos.
Ferreiro: Produzia a ferradura uma a uma, aquecendo o ferro na forja
e batendo na bigorna até este assumir a curvatura natural do casco do animal.
Depois se vazavam os buracos de encaixe dos cravos e ferradura estava
pronta.
TEXTO 3

O POUSO – USOS E COSTUMES

.Dentro do assunto cotidiano na vida tropeira, os textos a seguir,


ressaltam a importância do mesmo para a construção da identidade e a
influência nos aspectos históricos, sociais e urbanos das cidades surgidas com
o tropeirismo.

(Fonte:http://www.klepsidra.n
et/klepsidra4/parada.jpg}

Sendo a viagem
do Rio Grande até
Sorocaba muito longa,
se fazia necessário parar
em alguns pontos do
caminho a fim de descansar. Geralmente paravam apenas durante o tempo
preciso para os animais descansarem, porém às vezes geava, chovia muito, ou
rios alagavam, obrigando os tropeiros a permanecerem acampados por vários
dias seguidos. Esses acampamentos eram chamados “pousos”.
Os pousos eram lugares com bom pasto e boa água, onde
descansavam homens e animais. Havia até quem adquirisse campos próximos
aos pousos para alugar às tropas.
No início, os tropeiros armavam o pouso com os próprios instrumentos
de viagem: canastra, pelegos, etc. Mais tarde, começaram a construir ranchos,
muito rudimentares, mas que apresentavam um pouco mais de conforto nas
noites de chuva ou geada.
Com freqüência se encontravam no mesmo pouso várias tropas. Havia
certo ritual quando isso acontecia: a primeira tropa a chegar ocupava apenas
um canto do pouso, de modo a deixar espaço para outras. Quando chegava
outra tropa, os arrieiros daquela que já estava instalada levantavam-se em
silêncio e ajudavam a descarregar a carga. Enquanto isso acontecia, o
cozinheiro da primeira tropa preparava o café que seria oferecido aos
companheiros que chegavam. Tudo isso era feito sem conversa, só havendo
confraternização depois de terminadas as tarefas.
Depois de descarregados, os animais eram alimentados com milho.
Enquanto comiam, eram inspecionados pelos arrieiros, que cuidavam das
feridas produzidas pelas cangalhas passando gordura quente de porco. Ainda
limpavam os cascos, consertavam ferraduras, etc. Em seguida os levavam até
a água onde matavam a sede, seguindo o pasto a fim de descansar.
Chegava à vez da refeição dos arrieiros, que consistia no eterno feijão
tropeiro, cozido com toucinho, carne seca e sempre acompanhado de farinha
de milho ou mandioca. O feijão era cozido na trempe, ou tripé, instrumento de
três paus encaixados de onde pende uma corrente que suspende o caldeirão.
No mesmo instrumento era feito o café: pendia-se a chaleira na trempe até
ferver a água, quando era colocado o pó. Colocava-se então um tição de brasa
na mistura. Imediatamente o pó assentava no fundo da chaleira e era só
adoçar e beber o café.
Após a refeição costumava-se cantar e tocar viola, ou ainda contar
histórias. Depois alguns arrieiros iam fazer a ronda dos animais, enquanto os
demais dormiam. De madrugada, antes de nascer o sol já estavam em pé,
carregando os animais, e organizando a tropa.
O tropeiro iniciava cedo na profissão: por volta dos dez anos de idade
já acompanhava o pai, aprendendo tudo sobre a lida tropeira.

(Fonte: http://folcloresenzala.com/estudos/tropei)
4- O COTIDIANO E AS DIMENSÕES CULTURAIS NO TROPEIRISMO

(Fonte: Acervo do museu Campos Gerais – visita de D. Pedro II ao Paraná – 1880)

Aqueles interessados em Brasil não podem ignorar a contribuição do


tropeirismo praticamente em todo o território nacional. As manifestações da
cultura tropeira estão presentes diariamente, na religiosidade, na gastronomia,
na vestimenta nos ditados populares, nas profissões como: seleiro, ferreiro,
curtidores de couro, domadores, tenteiros, criadores de animal de tração; enfim
em hortas e quintais, na medicina caseira, nos hábitos de convívio com o meio
ambiente ainda presente em nosso cotidiano. As observações de metereologia,
de astrologia e nos acordos firmados no fio de barba ou de bigode. Enfim, o
tropeirismo faz parte da nossa história, pois foi responsável pela criação de um
grande corredor cultural unificando o Brasil e influindo nos hábitos e costumes
da população. Os textos a seguir mostram parte da herança cultural legadas
pelos tropeiros.
TEXTO 1

MÚSICA

Moda de Viola - Segundo o pesquisador de Música Popular Brasileira, Zuza


Homem de Mello, a música caipira tem local certo de nascimento: compreende
o espaço entre Sorocaba, Tietê e Botucatu. Se aqui nasceu, foi divulgada pelos
tropeiros e se difundiu para todo o Brasil, especialmente Minas, Mato Grosso,
Goiás e Paraná.
As primitivas modas de viola apresentavam uma estrutura mais longa, uma
história completa e detalhada sobre um personagem ou um acontecimento.
Viola - A viola era a grande companheira dos tropeiros em suas longas
viagens, nos pousos e nas vilas por onde passavam. Foram eles os
responsáveis pela difusão da moda de viola.
Depois do trabalho, todos se reuniam para comer e esperar a noite
chegar. Então, a música da viola e da sanfona fazia o fundo para as histórias e
os causos que eram contados por um e outro.

Tropear é Preciso
(Letra e música de Silvestre Alves)
Ei, vida tropeira
Sol, chuva, cerração
Ei, vida tropeira
Levar a tropa eu vou

Rumo a São Paulo, pela trilha vou seguindo


Levo a coragem pra trovar o meu destino
Meu bem ficou lá no começo do caminho
Uma saudade machuca o coração
(Refrão)
E na pousada, uma viola me consola
Busco, nas cordas, conforto pro coração
E o chiado da chaleira me convida
Pra brindar a vida na roda de chimarrão
( Refrão)
A alvorada vai desbotando as estrelas
E o passaredo anuncia o sol nascer
Sobre uma trempe, aroma de café tropeiro
O sabor da vida é pra quem sabe viver
(Refrão)
No vai-e-vem deste destino ventureiro
Busco primeiro, a divina proteção
Pois os perigos desta vida de tropeiro
Leva, primeiro, quem não tem a devoção
(Refrão)
TEXTO 2

DANÇA

Fandango - De origem espanhola, o fandango é a dança tradicional dos


tropeiros, executada na época por homens e acompanhada pela viola. Dança
de desafio, marcada por sapateado, palmas e exibição de destreza. Os passos
mantêm denominações que remetem à tradição rural e tropeira: bate-na-bota,
varginha simples, palmeada, cerradinho, quebra-chifre, entre outras. Dançava-
se o fandango nos pousos e festas. Os participantes utilizam chapéus, botas,
lenços amarrados no pescoço e chilenas, isto é, esporas cujas rosetas
denteadas são substituídas por rosetas de metal, que retinem nas batidas dos
pés.
No Brasil, o ritmo do fandango pode haver diversas interpretações,
tanto no modo de tocar, dançar; como no dia que se comemora, brinca; ou se é
bailado, ou apenas batido com os pés. Isso depende da região em que ele é
tocado, época e por quem foi trazido à cultura brasileira.
A origem do Fandango de Chilena começou na descoberta do ouro,
final do século 17, quando os bandeirantes estavam eufóricos a desbravar o
país em busca de riquezas, momento em que surgem os tropeiros que
viajavam meses no meio do mato, fazendo trilhas, até chegar ao lugar
explorado. E quando caía a noite e a tropa resolvera descansar, sempre tinha
um tropeiro com a viola nas costas disposto a por a turma toda pra dançar. Eis
que surge o Fandango de Chilena. Chilenas são as esporas de grandes
rosetas com astes arqueadas, vindas do Chile e responsáveis pelo barulho do
sapateado. Esta dança carrega uma riqueza cultural inquestionável. Confira
alguns passos do fandango:
Varginha Simples – Lembra as Campinas tranqüilas por onde a tropa
passava, também seria uma forma de aquecimento para as demais danças que
viriam a seguir.
Bate na Bota – Lembra o gesto de bater as botas antes de calçá-las, pois pode
haver uma aranha ou outra coisa dentro da mesma.
Pula Sela – Lembra os peões em exibição pulando as selas dos seus cavalos.
Vira Corpo – Lembra os cavalos rolando no chão para descansar (se espojar)
como diz o caboclo.
Quebra Chifres - Lembra as brigas dos touros durante a caminhada, porém
durante a dança nós batemos com os pés um com os outros.
O Passo da Tropa – Como o próprio nome diz, lembra a cadencia dos
passos da tropa nas estradas. E outros como a Varginha Palmeada,
Dança do Chapéu, Mandadinho, Palmeadinho, Serradinho.

(Fonte: http://www.fandangodechilena.ubbihp.com.br/ acesso em: 20\06\2010)


TEXTO 3

ALIMENTAÇÃO

Ser tropeiro era uma arte e um ofício que tinha de ser aprendido desde
cedo. Uma figura importante na caminhada da tropa era o cozinheiro. Ele era
responsável pelas refeições e tinha que usar toda sua criatividade para
prepará-la com ingredientes que os tropeiros conseguiam carregar. Os
principais alimentos eram o arroz, a carne seca, a farinha de mandioca e o
feijão tropeiro.
Quando a tropa acampava, enquanto o cozinheiro preparava a refeição, os
outros cuidavam de diversos afazeres: Era preciso reparar as ferraduras dos
cavalos, curarem ferimentos dos animais, levá-los ao pasto e para beber água.
O lugar escolhido para descanso dos tropeiros tinha que ser muito especial.
O chimarrão passava de mão em mão. Após a primeira refeição,
sempre acompanhada do mate e do café, era hora de partir.

(Fonte: Schimidt, Maria Auxiliadora, M.S., História do cotidiano paranaense. Curitiba: Letrativa,
1996. 128 p.)

3.1 Comida Tropeira

A comida do tropeiro era feita por mão de homem. Na tropa não havia
mulheres, e mulheres também não iam ao rancho. As romarias eram as
exceções.
Os trens da cozinha vinham no jacá de caldeirão, alceado sempre no
burro culatreiro. Também no culatreiro vinha a comitiva, saco de munição ou
saco de mantimentos, ou jacá de munição ou de mantimentos. O jacá de
caldeirão era estreito, “ da largura mesmo de um caldeirão comprido. Do
próprio trançado de taquara saía, de um lado, a tampa, que se fechava para
fora”. Nele ia os trens de cozinha, que eram da responsabilidade do
madrinheiro: um caldeirão de ferro com tampa, para o feijão; uma panela de
ferro de três pés, sem tampa, para fritar o torresmo e fazer o arroz; uma
ciculateira (chocolateira) de cobre ou de folha; o coador e sua armação; as
xícaras de folha, ferro batido ou canequinhas esmaltadas; a cuia de meia
cabaça. Nos vãos, calçados de palha de milho, iam os pratos louçados ou
esmaltados de ágata, as colheres, canecas de estanho e mesmo as
lamparinas, com torcida de algodão cru, para o querosene, que era levado em
garrafas.

O feijão, pó de café, farinha de mandioca ou de milho, carne de porco,


toucinho, sal e açúcar iam na jacá ou saco de munição. Muito usado era o
açúcar mascavo, conhecido como barro-de-telha, o pernambuco, o
mascavinho, o demerara, o mé-de-tanque, que por ser muito úmido ia pingando
pelo caminho. Algumas tropas usavam o açúcar cristal, e muitas, o açúcar
rapadura. Outras levavam mesmo arroz.
O fogão do até tropeiro era a trempe, que muitos chamam de trempa.
Era uma armação de três varas, que tanto podiam ser de ferro como de pau
verde, colhido na hora. Firmadas em triângulo no chão, distantes uma da outra
pouco mais de meio metro, as três varas se uniam no alto, ficadas por uma
correia. Desta descia uma corrente de ferro, de uns vinte e cinco centímetros,
que tinha à ponta um gancho, às vezes duplo. Sob a trempa se amontoavam
os gravetos e se acendia o fogo, colocando-se nesse borralho a ciculateira com
água para o preparo do café. Era com esse fogão improvisado, raramente com
fogareiro de ferro, ou com duas forquilhas aramadas, que o madrinheiro
preparava a comida simples do tropeiro.
Pela madrugada, iniciando o dia, o menino armava a trempa e acendia
o fogo. “Punha o toucinho pra fritar na panela. O caldeirão vinha do outro fogo”
com feijão cozido, e ficava de um lado, esperando. “A ciculateira já estava ali
no borralho, aquentando a água”. Frito o torresmo, era retirado. “Repartia a
gordura, punha sal com alho nela, fritava, pegava o torresmo com a colher,
punha no caldeirão de feijão, amassava bem o feijão com a colher, punha no
caldeirão de feijão, amassava bem o feijão com a colher, bem amassado com
farinha, punha pra esquentar”. Com a água já fervendo, era coado o café.
“Virado com torresmo, que usava engulir com o café pelo meio”. Essa
era a refeição matinal dos tropeiros. Comiam-na com colher, em prato de
ágata, tomando o café nas canequinhas de ferro batido, de folha ou mesmo
louçadas. Enquanto comiam, era cozido no fogo o feijão sem tempero, para a
próxima refeição,
Terminada essa lida, enquanto o tocador cuidava do encangalhamento
das bestas, era o madrinheiro que lavava todos os trens de cozinha,
devolvendo-os ao jacá de caldeirão, sendo a roupa guardada nos sacos, para
que tudo fosse recolocado, como dobro, na tropa já carregada.
Á tarde depois da jornada cumpriria novamente ao menino madrinheiro
a tarefa da refeição. No novo pouso seria feito fogo e. sobre ele aramada uma
vez mais a trempa. Enquanto no borralho seria colocada a ciculateira com
água, fritando-se uma vez mais o toucinho, para o preparo do feijão.
Em algumas tropas, depois de preparado o feijão, ou simultaneamente,
se a trempa tinha dois ganchos, na panela se fritava o arroz, preparado com a
mesma gordura usada no feijão.
Feijão: Havia variantes no preparo do virado, para a refeição do tropeiro.
“Fritam-se na panela de ferro pedaços de gordura picada para torresmo. Tiram-
se os torresmos de lado, frita-se aí o tempero e um pouco de feijão. Põe-se
essa fritura no feijão que já está no caldeirão, e deixa-se ferver. Põe-se no
prato, mistura-se com farinha de mandioca e come-se com o torresmo.
“Cozinha-se o feijão na véspera. No dia, frita-se bastante torresmo já
salgado. Na gordura que restou, frita-se o feijão, e deixa-se ferver para secar
bem. Mexe-se com farinha e torresmo.
“O feijão deve ser cozido e lavado, para ficar solto o grão. Na panela,
fritam-se alguns torresmos de toucinho com sal e com alho. Joga-se aí o feijão,
deixando ficar tudo bem sequinho. Por último, coloca-se farinha de mandioca e
mexe-se. Os torresmos são picados bem miúdo”.
“Alguns tropeiros cozinhavam o feijão com pé de porco e costela já
salgados e algumas tiras de carne, temperando depois de cozido. Fritava-se o
torresmo para comer junto, misturando tudo com farinha”.
Arroz: Igualmente havia poucas variantes no preparo do arroz.
“Ferve água com banha e sal com alho, carne de porco ou lingüiça.
Quando ferver, solta aí o arroz e deixa cozinhar”.
“O arroz fica melhor feito com banha, sal com alho e carne seca (de
vaca). O arroz não deve secar muito, ficando meio mole”.
“Pega um punhado de carne seca e frita com sal com alho. Depois
pega umas duas mãos de arroz e cozinha junto”.
Café: O pó de café era sempre de preparo doméstico. Café sem coador: “Põe
água pra fervê com açuca mascavo, demerara ou mesmo cristal. Bota o pó aí
junto. Quando subi a fervura, joga um tição de fogo dentro. O pó baixa e o café
ta pronto”.
Muitos tropeiros, porém, já levavam o saco do coador, em uma
armação de um aro de ferro com uma haste em ângulo reto, que se enterrava
no chão, para passar o café diretamente na ciculateira.

(Fonte: Maia, Tom. O folclore das tropas, tropeiros e cargueiros no Vale do Paraíba. Rio de
Janeiro: Instituto Nacional do Folclore/São Paulo, Secretaria de Estado e Cultura: Universidade
de Taubaté, 1981, p. 73-77)

3.2 Dieta do Tropeiro

A dieta do tropeiro era farta, embora pouco variada: resumia-se quase


exclusivamente ao feijão, charque, farinha de mandioca, torresmo, bolos de
polvilho e café, ou seja, mantimentos que não estivessem sujeitos à ação do
tempo, pois no longo caminho não eram muitas as paradas em que pudesse
reabastecer a despensa. O “armazém de porta aberta” só existia mesmo nas
vilas mais desenvolvidas. A prevenção era, portanto, a melhor maneira de
evitar possíveis privações.
O preparo da comida era feito por mão masculina, geralmente do
menino madrinheiro, que se adiantava para chegar ao pouso a tempo de fazer
o fogo, botar o feijão e o charque a cozinhar e coar o café; logo a tropa
chegava, os camaradas mal soltavam os animais no pasto, corriam para o
prato e a caneca.

(Fonte: FLÜGEL, Amélia P. (elaboração). Tropeirismo – Castro- Paraná nº 2, 2008)

3.3 Café Tropeiro

O café de tropeiro deve ser preparado em fogão de lenha ou fogo de


chão de maneira que possa aquecer a água em fogo de lenha. O bule deve ser
de ágata ou dos grandes, de alumínio. Coloca-se no fundo do bule a
quantidade de pó de café necessária para a quantidade de bebida que se quer.
Pode-se adicionar o açúcar. Acrescenta-se, no bule, a quantidade de água
fervendo para a quantidade do pó já colocado. Espera-se tempo (pouco) para o
líquido ficar “mais forte”. Em seguida, coloca-se um pedaço de lenha em brasa
dentro do bule (comprida o bastante para poder segurá-lo na outra ponta),
tirando imediatamente, o pau de lenha de dentro do bule. Fumaça e vapor vão
subir, enquanto o pó que flutuava vai descer para o fundo do bule. Servir,
enchendo as canecas cuidadosamente (para que o pó que ficou no fundo do
bule não se misture à bebida).

(Fonte: a própria autora da pesquisa)


TEXTO 4

LINGUAJAR

Ainda é possível encontrarmos expressões e provérbios típicos do


tropeirismo presentes no cotidiano de nossa população como segue o texto
abaixo:
- Burro velho não pega trote - Com o passar dos anos, é mais difícil aceitar as
mudanças.
- Quem lava cabeça de burro perde o trabalho e o sabão - Discutir com teimoso
é trabalho perdido.
- Onde vai o cincerro vai a tropa - onde o líder vai, leva consigo o grupo.
- Pela andadura da besta se conhece o montador - Pelos atos se conhece a
pessoa.
Picar a mula - Ir embora.
- Deu com os burros n'água - Trabalho ou coisa que não deu certo.
- Teimoso como uma mula.
- Tem caveira de burro - Coisa azarada.
- Estar com a tropa ou estar com o burro na sombra - Estar tranqüilo, com
sucesso.
- De tanto pensar, morreu um burro – ficar acomodado, não agir.
- Quando um burro fala o outro murcha a orelha – quando alguém fala o outro
deve ouvir
- Burro velho também gosta de capim novo – o mais velho aprecia o novo
- Burro amarrado também pasta – mesmo preso se alimenta.
- Deixar de ser besta – deixar de cínico, debochado
- Ser uma besta quadrada – ser desorientado
- Ficar emburrado – bravo - quieto
- Fazer burrice - bobagem
- Dizer besteira- coisas sem sentido
- Cor de burro quando foge -
TEXTO 5

DICIONÁRIO SERTANEJO

Brasileirismos, arcaísmos e corruptelas coligidos por Cornélio


Pires e empregados na "Musa Caipira", "Scenas e paisagens de minha
terra", "Quem conta um conto...", e em muitas de suas obras literárias.
Foi mantida a ortografia da época por respeito ao trabalho do autor.

Abancamos - Sentamo-nos em bancos.


Abrir-o-pala - Fugir correndo.
Agarrar ou Garrar - Principiar. Segurar. Tomar um caminho -"Garrei a estrada".
Agregado - Indivíduo que vive parasitariamente em terra alheia.
Agua-de-assucar - Agua com assucar.
Aguado - Diz-se do cavallo que adoece vendo os outros comer ou beber tendo
elle fome e sede
Alimá - Animal cavallar ou muar.
A'me! - Exclamativo: "homem"!
Amiudá - Diz-se quando os gallos vão diminuindo o canto ao amanhecer.
Amóde - Por causa de...
Andasso - Epidemico.
Apalermado - Boquiaberto. Abobarrado.
Ara. . . se - O'ra. . . se. . . Vale a pena
Arejar - Estupôr no cavallo que apanha golpe de ar estando suádo
Arriba! - Acima! "Arriba o samba"! Sús!
Arrebentado - Fallido. Empobrecido.
Arrotar - Fazer-se valente. Provocar com arrôtos e escarros. Gabolice.
Arma-penada - Duende. Assombramento. Espirito que paira sem destino.
Arma do padre Aranha - Celebre assombração que perseguia os tropeiros.
As-coisa-feito - Feitiçaria. Magia negra. Bruxaria.
Atiçar - Açular. Instigar
Atrodia - (istrodia - strudia - trodia - estrodia) - Noutro dia. Ha poucos dias.

Avacalhar-se - Desdizer-se. Retratar-se. Abandonar seus companheiros em


politica, sem-vergonhamente, a pretesto de tranzigencia.
Azoretado - Irritadiço. Nervoso. Zangado.
Azucrinado - A mesma coisa que "Azoretado".

Bacaiáu - (Bacalhau). Instrumento de tortura usado noutros tempos contra


escravos. Era um mixto de relho e chicote, com quatro tiras de couro no
extremo, em logar da tala.
Baderna - Bebedeira acompanhada de desordem.
Baguá - Bagoal. Cavallo inteiro. Grande. Volumoso.
Bandeirantes - Desbravadores dos sertões brasileiros eram, geralmente,
paulista de tempera jamais igualada, pois sem estradas e bussolas,
percorreram todo o Brasil á cata de ouro e pedras preciosas. Levaram os
hespanhóes até o Rio da Prata e chegaram a collocar marcos de posse em
pleno centro do Perú. Os bandeirantes demarcaram as fronteiras da Patria,
dilataram a Nação, e fizeram o Brasil.
Muitos delles só se dedicavam á escravisação dos indios.
Banzé - Desordem. Conflicto. "Rôlo".
Barba-de-bode - Capim (graminea) de terra exgotada. Marca de terra ruim.
Bardeado - Transportado.
Barróca - Despenhadeiro. Valle. Grota. Sulco profundo na terra.
Batê-boca - Discussão. Altercação.
Batuque - Dansa de pretos. Formam roda de sessenta e mais pessoas, que
cantam em côro os ultimos versos do "cantador" e ao som dos tambús, - tubos
de madeira com uma pelle numa das extremidades e que produz sons altos
com diversas graduações, - requebram e saltam homens e mulheres, dando
violentas umbigadas uns contra os outros. Usa-se tambem nessas dansas, o
quingengue - semelhante ao tambú, tendo inteiriça a metade do volume. O
compasso é marcado também com palmas. - Hoje raramente dansa-se o
batuque. Confundem-no com o jongo e este com o samba. . . Batuque é dansa
de negros e o samba é dansa de caboclos...
Bebudo - beudo - Alcoolisado. Embriagado.
Beicinho - Movimento de pouco caso com os labios. Distensão do labio inferior,
prenunciando chôro e desaponto.
Berne - Verme que se introduz na pelle das aves e no couro dos animaes.
Bobagem - Tolice.
Bocó - Vasilha feita de couro ou crosta do tatú: sem tampo o bocó está sempre
aberto, d'ahi chamarem "bocó" ao "bocca-aberta", palerma ou bobo, ou "bobó".
Bocó - Pateta.
Bodoque - Arma rustica de pau em arco, com cordas e malha para arremesso
de pedras ou pelote de barro.
Bolo - Pancada com a mão, palmatoria ou regua, na palma da mão.
Botá-a-cuié-torta - Intrometter-se onde não é chamado.
Botá - Pôr. Collocar.
Branca - Aguardente de canna.
Bragado - Cavallo manchado de branco e zaino.
Brascuiá - Vasculhar.Remexer no fundo do bolso.
Broca - Ferida profunda que só ataca as mãos, não os pés, do cavallo ou burro.
Bruaca - Grandes bolsas de couro crú, para transporte em lombo de animal -
Duas bruacas formam o cargueiro.
Bruaca - (pejorativo) - Mulher velha, imprestavel.
Bufar - Dizer-se valente.
Bugio - Macaco barbado. Engenhoca para canna; produz sons na moagem
iguaes ao roncar do bugio.
Bugre - Selvicola - Indio do Brasil
Burcão - Bulcão - "Cummulus" prenunciadores de chuvas.
Burbuia - Bolhas de ar que sóbem á tona d'água; bolhas de puz. Do tupy-
guarany "bubúi": sobre-nadar.
Buxa - Logro, velhacamente preparado num negocio ou barganha.

C
Caieira - Monte de lenha que, logo depois de aceza, toma o nome de fogueira.
Caiçara - Caboclo ruim, incorreto. Não uzam os caipiras do planalto a
expressão caiçara, como denominação de caipira da beira-mar. No tupy
guarany, "caaiçá" quer dizer "cerca de ramos a que se recolhem os peixes
pescados". "Caí" tambem quer dizer o gesto do macaco tapando o rosto. . .
Gesto commum ás crianças, caipiras. . . Caiçára tambem quer dizer trincheira,
paliçada, arraial.
Caipira - Por mais que rebusque o "etymo" de "caipira", nada tenho deduzido
com firmeza. Caipira seria o aldeão; neste caso encontramos no tupy guarany
"Capiabiguára". Caipirismo é acanhamento, gesto de occultar o rosto; neste
caso, temos a raiz "caí" que quer dizer: "Gesto do macaco occultando o rosto".
"Capipiara", quer dizer o que é do mato. "Capia", de dentro do mato: faz
lembrar o "capiáu mineiro. "Caapi", - "trabalhar na terra, lavrar a terra" -
"Caapiára", lavrador. E o "caipira" é sempre lavrador. Creio ser este ultimo caso
mais acceitavel, pois, "caipira" quer dizer "roceiro", isto é, lavrador.
Sinonimos de "caipira" conheço apenas os seguintes-"Capiáu", em Minas;
"quejeiro", em Goyaz; "matuto", Estado do Rio e parte de Minas; "mandy", sul
de S. Paulo; guasca ou gaúcho no Rio Grande do Sul; "tabaréo", Districto
Federal e alguns outros pontos do paiz; "caiçara", no litoral de S. Paulo e em
todo o paiz, "sertanejo".
Caipóra ou capóra - Infeliz - Do tupy-guarany: "Caapó" -mateiro. Pessôa do
mato. Duende sertanejo, protector das caças, anda montado num grande porco
selvagem.
Cambuquira - Grelos, brotos de aboboreira.
Campear - Procurar.
Cambaio - Perna torta. Que puxa por uma perna no andar.
Cambito - Pernil de porco. Peça para apertar correias e arreios.
Capêta - Diabo - Satanaz.
Capoeira - Mata de foice, ou mata nova nascida depois de derrubada a mata
virgem. Do tupy-guarany: "Caa - mata- "poera" - que foi.
Capoeirão - Capoeira grossa quasi como mata-virgem: "capoeira de machado".
Capim - Graminea - Do tupy guarany "Caapim".
Carona - Peça de couro collocada sob o arreio e sobre os baixeiros. Gozar sem
pagar um divertimento.
Capanga - Indivíduo assalariado para guarda de alguem, e que obedece
quando o pagante manda agredir ou matar. Em Minas, Goyaz e Norte, tambem
têm o nome de "jagunço".
Capanga - Pequeno sacco que se traz a tiracolo
Carreiro - Trilho feito e seguido pelas caças.
Carreira - Rima obrigatoria nas danças caipiras. Ha a carreira do "Sagrado"
(toda a rima em ado), ha a de S. João, do Itararé, do Marruá etc.
Carreador - Caminho improvisado na lavoura para se tirar em carros o producto
da lavoura.
Cavorteiro - Velhaco.
Caraminguás - Miudezas. Dinheiro miúdo achado no fundo da algibeira ou da
mala. Tupy guarany: "Carameguá" -caixa ou cesto para miudezas.
Cerne - Amago da madeira. Pau que dentro d'agua não apodrece. Estar no
cerne (homem) resistir o tempo; não envelhecer.
Cerrado ou cerradão - Mata rachitica e escassa em terras que absolutamente
nada produzem; nem capim de bôa qualidade.
Cerigote - Arreio semelhante ao lombilho.
Ceriema - Ave pernalta dos campos.
Cerelepe - Espécie de esquilo. Canxinguelê, do Norte.
Chavié ou xavi - Desinchabido - Desapontado.
Charrôa - Remate de uma obra de couro trançado.
Chilenas - Esporas grandes.
Chilique - Desmaio.
Chucro - Bebado - Cavallo não domado ou amansado.
Chupim - Passaro preto menor que o vira-bosta. Come os óvos do tico-tico e
põe os seus no lugar, criando o tico-tico os filhos do chupim, apesar da enorme
differença. O tico- tico é rajado e o chupim é preto.
Chupim - Marido de professora quando sustentado por ella.
Chumbeado - Bebado.
Cobre - Dinheiro mesmo em papel moeda.
Cócre - Pancada com os "nós dos dedos" na cabeça, tendo a mão fechada.
Cócre de - Cocoras. Sentado sobre os proprios calcanhares
Cogote - Toutiço, cangote.
Coivara - Galhos e ramos que resistiram o fogo das queimadas, ficando apenas
com as cascas queimadas ou chamuscadas. Geralmente os autores têm
confundido "coivara" com "encoivarar", que quer dizer reunir as "coivaras" para
queimar, afim de "destrancar" a roça.
Comeu-chão - Venceu grande distancia, em marcha.
Convencido - Soberbo. Emproado. Vaidoso.
Coró - Verme. Bicho de pau pôdre.
Corruira - Passarinho caseiro insectivoro. Carriça - Cambaxirra, do Norte. Ha a
"corruira d'agua" que faz seus ninhos labyrinthicos de milhares de pausinhos,
impenetrável para as cobras e mais inimigos.
Cren-dós-padre - Creio em Deus, Pae.
Cria - (estar com) - Filho novo de animal cavallar, caprino, ovino ou bovino.
Curupira - (No tupy guarany não ha r forte). Duende selvagem. do Norte, pouco
conhecida é a sua lenda em S. Paulo.
Cuzarruim ou Coiza-ruim - Satanaz - Diabo.
Cuéra - Decidido. Valente. Bom. No tupy-guarany quer dizer convalescente.
Currução - Molestia nervosa. Deita-se a victima, sem dores, e não ha o que a
faça deixar o leito. Come se lhe dão comida, sinão, pouco se incomoda.Há
moléstia semelhante que na França chamam "corru"
Curtindo - Suportando, triste, uma paixão ou ciume.
Cururú - Dansa em que tomam parte os poetas sertanejos, formando roda e
cantando cada um por sua vez, atirando os seus desafios mutuos. Os
instrumentos usados são: a "puyta", (Instrumento africano trazido pelos
escravos), rouquenha, em forma de um pequeno barril tendo o fundo de couro
de cabra com uma varinha ao centro; a trepidação produzida com um panno
molhado empalmado pelo executante, produz o som, um verdadeiro ronco; o
"réqueréque" que é um gommo de bambú, de meio metro, dentado, em que o
tocador passa compassadamente uma palheta do mesmo vegetal, secco; o
"pandeiro", os "adufes", e a celebre "viola". Os "cururueiros" cantam sem
amostras de cansaço, desde o anoitecer até o amanhecer.
É uma dansa mixta do africano e do bugre.

D
Dante - Antigamente. N'outros tempos.
Dar-volta - Exterminar. Acabar. Matar.
Debruços - Em decubito dorsal.
Decumê - Comida aos porcos. Comida.
De-já-hoje-já-hoje - Ainda pouco. Agora pouco. A poucos momentos.
Desgranhado - Desgraçado. "Maldito"!
Desguaritado - Extraviado. Desorientado. Sem guarida.
Depindura - Na imminencia de uma queda ou de empobrecimento.
Diá... - A crendice faz com que o caipira não pronuncie ou nunca complete a
palavra diabo. Ou diz: "Diá - Dianho
Tinhoso - Capeta - Malino - Bicho - Pé de pato - Bóde preto - Tentação -
Cuizarruim - Satanais - Cifé", etc.
Dourado - Peixe de escamas, d'agua doce - É o Piraju dos indios - "pira" peixe -
"jú" (ba) amarello.
Douradilho - Cavallo meio dourado.

E
Eá! - Exclamação uzada pelas mulheres, quando muito admiram. Montoya
registra no seu livro: "Lingua Guarany" essa exclamação só uzada pelas
mulheres.
Eito (de tempo) - Extensão. Pedaço. Parte da lavoura entregue ao capinador.
Embira - Resistente fibra da madeira chamada jangada.
Encrenca - Embrulho. Desordem. Atrapalhada. Pendencia.
Encambitar (atraz delle) - Correr em perseguição de alguém.acompanhar.
Entojado - Cheio de si. Vaidoso. Emproado.
Escorar - (um homem). Enfrentar o inimigo, fazendo-o parar.
Espigado - Rapaz de corpo direito. Desenvolto.
Esquentado - Impulsivo.
Esquesito - Fóra do natural. Não commum.
Esquisitice - Sensação extranha. Excentricidade.
Estaqueô - Parou bruscamente.
Estanhados (olhos) - Fixo
Estaca - Pau fincado na parede á guiza de cabide. Pau fincado na lavoura para
marco de lugar em que tem de ser plantado o café ou a vinha.
Estiada - Paragem momentanea da chuva no tempo das aguas, prosseguindo
logo a chuva.
Estaqueá - Parar bruscamente. Cahir morto.
Estrupicio - Grande quantidade. Asnice.
E-vê - Parece-me. Parecido. Similhante.
F
Facho - Vegetaes seccos facilmente inflammaveis, nas queimadas.
Famia - Filho ou filha.
Fazenda - Grande propriedade agricola.
Fazendeiro - O dono da "fazenda".
Festa do Divino - a festa em honra do Espirito Santo, que se reveste de grande
brilho, na cidade de Tietê. Os caboclos têm como obrigação cumprir a
promessa de seus antepassados, que desciam em numero de sessenta ou
mais, nos grandes batelões, pelo rio Tietê, e subiam esmolando entre o povo
ribeirinho, durante vinte e mais dias. As casas, na passagem das canôas, são
enfeitadas com palmas e arbustos, sendo offerecidas lautas mesas aos
canoeiros e ao povo do bairro, que afflue nessas occasiões. Onde pousa o
Divino e toda a comitiva, organisam-se interessantissimas diversões, reunindo-
se no sitio mais de mil pessôas.
Será esta festa uma reminiscencia da partida dos bandeirantes?
Feiticeiro - Mago. Bruxo.
Forgá - Dansar o batuque ou o samba.

G
Gadeiúda - Cabelluda. Guedelhuda. Cabellos em desordem.
Garapa - Caldo de canna de assucar.
Garrar - Tomar (um caminho). Começar (a pensar).
Garupa - A anca do animal arreado.
Gateado - Cavallo assignalado de branco e amarelíado.
Gavião - Ave de rapina. A parte volteada interna da foice.
Gaúcho - Vivedor. Parasita. Filante. O caipira paulista chama o rio-grandense
do sul: sulista; paranaense: paranista; a todo o nortista, baiano; não fazendo
referencias aos catharinenses, que são raros nos outros Estados.
Geringonça - Qualquer machinismo complicado.
Geribita - Pinga. Aguardente.
Górpe - Gole grande. Trago.
Guarapa - Agua com assucar preto ou escuro.
Guampa - Vazo de chifre em que o viajante toma agua.
Guainxuma - Vegetal. Aramina propria para vassouras.
I
Ichú - Casa de vespas cassununga, marimbondos e outras.
Impalamado - Pallido. Amarellado pela doença.
Incarangada - Entrevada pelo rheumatismo. Paralitica.
Inguiçá - Açular. Estimular. Influir. Insinuar.
Inferno - Sorvedouro onde cae a agua depois de mover uma roda ou monjollo.
Inorar - Criticar. Observar censurando o trajar da pessoa.
In-riba - Em cima.
Ingerizar - Irritar. De ogeriza.
Intojado - Cheio de si.
Invernada - Campo para engorda dos animais
Isqueiro - Tubo de metal, bambú ou taquara em que se colloca a isca, algodão
queimado, para, ferindo a pedra de fogo, arranjar com que accender o cigarro.

J
Jacaré - Arvore de casca serriforme, similhante á "serra" do jacaré, animal.
Jacú - Ave gallinacea selvagem.
Jararaca - Variedade de cobra. Mulher velha enfurecida.
Jaguané - Typo de boi. Do tupy-guarany - yaguá - "onça", "tigre" - "né" - certo -
"certo é um tigre!" Tambem quer dizer ladrido de cães.
Jaguatirica - Gato do mato. Onça pequena, do tupy-guarany.
Judiação - Mao tratamento desnecessario.

L
Lagarto - Reptil.
Lambedô - Adulador.
Lambancero - Arreliento. Embrulhão.
Lambuja - Vantagem. Lambugem.
Lameu - Bartholomeu.
Lambary - Pequeno peixe de escama, d'agua doce, sendo da mesma familia o
"tambiú", "piquirantan", "piquira" e "guarú-guaru"'.
Lapiana - Facão. Fabricada na Lapa?
Lavano-cachorro - (sem sabão). Vadiando.
Lavage - Lavagem de fressuras de porco, no rio, afim de atrair peixes.
Lazão - (cavallo). Alazão.
Levante - Descoberta do veado pelo cão que o faz saltar e o persegue com
latidos especiaes que atraem outros cães.
Ligá - Peça de couro crú com que cobrem os cargueiros.
Liquidô - Matou.
Limá - Animal cavallar ou muar.
Lobizóme - Duende representado por um grande cão preto comedor de
estrume de gallinhas e que sae às sextas-feiras em procura de crianças, não
baptisadas, que devora, tendo, porisso, fiapos de baêta vermelha dos cueiros
entre os dentes.
Lombriga-assustada - Medo.
Lonca - Couro de cavallo.

M
Mãe d'agua - Duende protector dos peixes. Persegue rapazes e lavadeiras.
Mãe de oro - Duende que occulta o ouro. Crêm ser "Mãe de Ouro", qualquer
bolide.
Male-e-má - Mais ou menos. Pouquissimo. Feito por cima, sem capricho.
Mandy - Peixe de couro, da familia do bagre.
Mandioca - Raiz feculenta, é o pão dos pobres. Tupy-guarany-"Mandiog".
Mangueira - Grande terreiro cercado para o gado.
Matungo - Cavallo forte, castrado.
Mãozinha preta - Assombramento. Era uma pequena mão que a tudo attendia
com grande rapidez, inclusive varrer casa, baldear agua e dar palmadas nas
crianças manhosas.
Mardade - Puz. Materia putrida das chagas.
Massapé - Terra de optima qualidade para cultura: muita liga e muito humus.
Moda - Poesia sertaneja.
Moquetear - Dar murros com a mão fechada. Dar com a "móca", cacete.
Morrudo - Grande. Bem criado e gordo.
Munheca - Pulso.
Muchirão, puchirão ou mutirão - Do tupy-guarany "Apotyrõ" -
roçada? - É a applicação do auxilio mutuo, bello exemplo de solidariedade. Os
lavradores da visinhança, do bairro, determinam um dia e vão trabalhar
gratuitamente para o mais necessitado, e, nesse único dia, fazem grandes
roças. Algumas vezes fazem além da roçada, as capinações e colheita.
Durante o trabalho é costume cantar em côro, numa toada interessante e
agradavel. - o trabalho e a festa ao mesmo tempo.

N
Negacear - Atacar sorrateiramente.
Nervosa - Preocupação de espirito.
Negro atôa - Preto vadio.
Nhapindá - Arbusto espinhento tambem chamado "arranha-gato".
Nhô - Senhor.
Nhá - Senhora.
Nome-feio - Qualquer palavra contra a moral.

O
Ôta - Equivalente, entre os caipiras, da interjeição, "olá". Ao que parece, no
tempo de Camões, se pronunciava como hoje o caipira. Encontra-se no grande
épico o conhecido verso: "Oulá, Velloso amigo. .
Ôta! - Equivalente á exclamação "O!" (Assisti o "aluito".
(especie de lucta romana) o Bastião venceu! "Ota" cabra sarado!" O caipira
tanto emprega ôta como "êta".

P
Paió - Depósito de milho.
Paineira - Arvore que produz a paina, fibra mais alva que o algodão.
Palmito - Parte da palmeira de onde sahem as folhas, amago, uzado como
optimo alimento.
Palanque - Pau roliço fincado no meio do terreiro onde se amarram animaes
chucros para curar ou encilhar.
Pala - Chale manto furado ao centro, para homem.
Pamonha - Bolo de extracto de milho verde. Pateta. Bobo. (azeda) Idiota.
Pampa - Cavallo com grandes manchas brancas pelo corpo.
Panquéca - Vadiação. "Dolce far niente".
Pangaré - Cavallo de cor entre alazão e zaino claro.
Papuan - Variedade de capim.
Paqueiro - Cão caçador de paca. Rufião.
Pareiada - Faca com cabo e bainha de prata.
Pareiado - Tudo que é trabalhado em prata. "Zarreio pareiado": Arreio
prateado.
Parêlhas - Corrida de cavallos em raia recta para dois animaes.
Passageira - Trem diurno de passageiros. Com o estabelecimento dos
nocturnos já os caipiras não dizem a passageira, mas "urno" (diurno) e "turno"
(nocturno).
Passarinhar - Caçar passaros com bodoque. Com espingarda é"matar
passarinho".
Passarinheiro - Cavallo de vista curta que, se assustando, foge bruscamente
derrubando o cavalleiro.
Passando estreito - Vivendo com grande difficuldade.
Patrona - Bolsa de couro, a tiracollo, com chumbeiro, polvarinho, etc.
Patuá - Pequeno envolucro contendo orações, reliquias e pedras sagradas que
os caipiras caboclos e pretos trazem ao pescoço.
Pau-de-fumo - Pejorativo - Negro. Paula-Souza - o chumbo mais grosso que
ha. Perdigoto.
Pé de moleque - Rapadura com amendoim torrado.
Pé d'ouvido - Golpe de mão aberta sobre o ouvido do adversario.
Pereréco - Briga cheia de peripecias.
Pereréca - Sem parada. Bater de azas do passaro ferido -Do tupy-guarany
pererég". Certa busina de automovel.
Perna-molle - Fracalhão. Medroso.
Pião - Domador de cavallos.
Picuman - Fuligem.
Picada - Caminho improvisado nas matas.
Pica-pau - Ave trepadora. Espingarda de um só cano de carregar pela bocca.
Picaço - (Cavallo) Pigarço.
Pida - Do verbo pedir, corresponde a "peça-lhe".
Pileque - Bebedeira.
Pinga - Aguardente de canna.
Pinicão - Dentada do peixe na isca.
Pinduca - Rima para Juca. Brincam as crianças provocando os José: - "Juca,
pinduca; ladrão de assuca".
Piquete - Pequeno pasto cercado.
Piranha - Peixe de dentes aguçados e raivoso.
Piracanjuba - Peixe de escama, d'agua doce. Do tupy-guarany: "Pira", peixe -
"acã", cabeça - "juba", amarella.
Piroá - Milho de pipoca não arrebentado. "Piruá", bexiga, no tupy-guarany.
Piracêma - Migração de peixes.
Pirapóra - Tupy-guarany; logar onde o peixe pula.
Pitanga - Fructa do campo - "Guabirapitã", dos indios.
Pitiço - Cavallo pequeno e grosso.
Pito - Cachimbo. Descompostura.
Potro - Poldro - Cavallo novo não castrado.
Porunga ou porungo - Cabaça.
Porquêra - Desordem. Briga.
Pontear - (a viola) Tirar acordes.
Ponche - Capa de roda inteira com abertura ao centro para a cabeça.
P'ros quinto - Para os 5º dos infernos.
P'ramóde - Por amor de...
Pulador - Cepos collocados de cada lado da cerca para que o homem pule o
cercado e os animaes não possam passar.
Pururuca - Quebradiço. O couro torrado de leitôa é "pururuca".

Q
Quentão - Aguardente quente com gengibre e assucar.
Querencia - Logar predileto. "E, estando em casa da namorada está na sua
querencia." "Procurou o animal na baixada, junto á figueira: é a querencia
delle".
Quibebe - Cosido de picadinho de abobora madura.
Quilombolá - V. Canhimbóra.

R
Rabo de boi - Capim que estraga o pasto, verdadeira praga.
Rabo-de-tatu - Chicote com quatro tiras de couro no extremo.
Raleando - Escasseando. Tornando raro.
Rancho - Casa tosca de sapé.
Redomão - Cavallo ou burro recem-domado.
Refugar - Vacillar para avançar. Recuar.
Rêngo - Que puxa uma perna. Descadeirado.
Ressaca - Máo estar após a embriaguez alcoolica.
Resa - Funcçáo - Fandango. Festa de sitio a pretexto de orações.
Roça - Terra com culturas. Terra lavrada.

S
Sabiá - Passaro canoro.
Sacy - Duende representado por um negrinho, moleque de seus onze a doze
annos, de uma perna só, sempre risonho, de olhos vermelhos, dentes
salientes, topete alevantado, a arreliar quem passa, fazendo mil diabruras nas
cruzes de estrada e encruzilhada, não perdoando cavalleiro que passe á noite
de sexta-feira: trepa-lhe na garupa a fazer-lhe cocegas puxando o cavallo pelo
rabo. À noite vae trançar a crina dos cavallos. Vêm-se realmente crinas
trançadas tosca-mente. . . por morcegos.
Safada (terra) - Improductiva. Cansada.
Samba.- Dansa de caboclos. Nada tem com o jongo africano hoje dansado em
todo o Brasil. O samba é dansa de caboclos, com violas, adufes e pandeiros.
Ao canto e côro os dansarinos em tregeitos tiram as damas e estas aos
cavalheiros, sem se tocarem, dansam e voltam aos seus lugares.
Samambaia - Vegetal da familia do feto. Praga das terras cansadas.
Sanhaço - Passaro frugivoro.
Sangrador - Regos nas estradas para desvio de aguas pluviaes.
Sapé - Vegetal com que se cobrem casas toscas no campo.
Sapecar - Tupy-guarany "çapec" - Chamuscar.
Sapiroca - Que tem os olhos inflamados. Do tupy-guarany "çapiron", chorar.
Sara-cura - Ave pernalta ribeirinha. "Siri-cóia" no Norte.
Sarado - Invencivel. Bom para tudo.
Saúva - Grande formiga devastadora de lavouras. A maior praga do Brasil.
Sentenciado - Condemnado pelo jury.
Serraia - Verdura nativa nas lavouras. Optimo alimento.
Serigote - Arreio de montaria.
Sinhá - (Em desuzo) Antiga proprietaria de escravos. Senhora.
Siá - Senhora.
Siô - Senhor.
Sô - Senhor.
Sôr - Senhor.
Sôres - Senhores.
Siriluia Formiga com azas, no tempo da procriação.
Sarará A mesma cousa. Ave de Mato Grosso. Conta-se que o sarará macho
morre de paixão durante o choco da femea.
Siri-siri - Passaro amarello menor que o "bem-te-vi"!
Sitiante ou situante - Proprietario de pequena lavoura.
Sitio - Pequena lavoura.
Socado - Arreio parecido com o lombilho.
Sucre - Assucar.
Sunga-munga - Idiota meio paralitico.
Sururuca - Peneira grossa.

T
Tacar ou tocar - Atacar. Pôr em acção: "Tacar fogo".
Tala - Chicote.
Tambiu - Variedade de lambary.
Tan-tan - Bobo. Em tupy-guarany: "Tapaná".
Taquara - Canna ôca, silvestre, mais delicada que o "bambú". Do tupy-guarany:
"Taqua" canna ôca. "Taquaratin" ou "Taquaritinga" taquara massiça.
Tapéra - Casa velha abandonada. Do tupy-guarany: "Taba", casa povoada,
"puêra", que foi. "Tapé", "tabapuêra" que foi moradia.
Tarecos - Objectos velhos. Miudezas estragadas.
Tento - Fita de couro com que se fazem obras trançadas.
Tiguéra - Roça de milho depois de colhida. Talvez venha do tupy-guarany:
"Abati" milho - "coéra" ossos; pois as cannas do milho dão impressão de ossos.
Ossos do milharal.
Trabuco - Espingarda de um canno, de carregar pela bocca,-grosso calibre,
para salvas.
Trama - Barganha. Negocio.
Tranqueira - Coivaras velhas em meio da capoeira, impedindo o transito pela
mata.
Traira ou taraira - Peixe pequeno, de escama, de tanques e ribeirões, feroz, de
dentes aguçados.
Trem - Qualquer objecto. Individuo inutil.
Tropicão - (cavallo) Que tropeça ou dá topadas sobre objectos resistentes.
Truco - Jogo de cartas em que tomam parte quatro parceiros:a maior carta, o
"zape" é o "Quatro-páus"; jogado a dois recebe o nome de truco-de-mano.

Urucubaca - Azar. Infelicidade. Febre eruptiva.

Virado - Farnel. Matula.


Virar bicho - Zangar-se.
Váo - Ponto do rio que dá passagem sem ser preciso nadar.
Vendido - Enganado. "Não é por ahi o caminho, vancê tá vendido". De
"invidado".
Você, vancê, vacê, voncê, acê, ocê, cê - Quer dizer vossa-mercê.

(Fonte: Este glossário foi extraído de livro de autoria de Cornélio Pires (Musa
Caipira e As Estrambóticas Aventuras do Joaquim Bentinho), editado pela Prefeitura
de Tietê, em 1985, em comemoração ao Centenário de nascimento do autor.)
TEXTO 6

PRÁTICAS DE CURA TROPEIRA NAS PARAGENS DO IAPÓ

Nos tempos dos tropeiros as estradas eram simples carreiros. As


longas viagens eram cansativas e repletas de obstáculos e perigos.
Não existia médico nem veterinário a disposição. O ferreiro, além do
ferrageamento e outros serviços, também “curavam animais”. Era o “médico
veterinário” da época. Algumas vezes o animal doente ficava em alguma
fazenda ou pouso.
As mulas e os tropeiros tinham que enfrentar o frio, sol forte, geadas,
chuva, além do cansaço da longa jornada.
Os muares têm enorme capacidade de adaptação e apresentam
extraordinária resistência, mas mesmo assim acidentes e doenças ocorriam
muitas vezes com a perda do animal. Os animais sofriam quedas,
afogamentos, e escoriações pelas pesadas cargas, bicheiras (miases),
ervamentos (envenenamentos por plantas tóxicas), picadas de cobras
(ofidismo) e várias doenças.
Os tropeiros também às vezes adoeciam. Era comum levarem além do
flame (lâmina para sangria), ferro para cauterizar, pinga, cinza, querosene com
fumo e sal contavam também com as plantas medicinas da região. Os
tratamentos eram baseados em recursos empíricos, plantas, na fé (rezas) e
nas crendices (simpatias), método ainda utilizado no interior.

(Fonte: http://www.guiadasemana.com.br/photos)
6.1 Algumas Simpatias

Parar chuvarada - Colocar um ovo no palanque para Santa Clara.


Picada de cobra:
- Estrume de porco preto misturado com água. O estrume pode ser de porca ou
leitão, mas o bicho tem que ser preto.
- Um pedaço da cobra cortado no meio e colocado na ferida, ela gruda e chupa
o veneno.
- Um ovo cozido até ficar roxo cortado ao meio e colocado na picadura também
tem o mesmo resultado.
- Fumo com querosene.
- Cal viva ou uma moeda com azinhavre sobre a ferida.
- As fezes frescas da cobra após morta eram colocadas sobre o ferimento.
- Enterrar a parte picada em terra recém cavada.
- Fumo e cebola aplicados na ferida.
- Ervas como alecrim do campo, erva de lagarto, banana, coentro e mil homens
também eram usados para o mesmo fim.
- Uma cabeça de alho tinha o poder de espantar as cobras e torná-las mansas,
assim como ter fé e pedir proteção para Santa Bárbara. O benzedor, figura
importante, era sempre solicitado, algumas vezes cobrava pelo seu serviço.
Contra picadas de abelhas, vespas e aranhas - usavam amoníaco puro,
vinagre quente, plantas como salsa, malva, alho ou cebola pisada, sobre a
cissura ou o que tinham em mão no caminho como aguardente, estrume de
vaca ou simplesmente retirava-se o ferrão e aplicava-se barro amassado com
saliva.
Picadas de pernilongos, mutucas e borrachudos – além da fumaça, uma
pitada de sal desmanchada na saliva.
Piolho – querosene ou benzina. Um bom remédio é preparar: vinagre,
paparraz em pó, mel, enxofre e óleo de oliva. Limão, arruda, aniz, fumo,
babosa e pau amargo.
As sarnas - também eram um problema tanto para os animais como para as
pessoas. Existiam muitos tratamentos. Alguns costumavam usar receitas com
vinagre, carbonato de sódio ou pedra ume, além do costumeiro enxofre. Até a
sangria era usada. As plantas usadas para curar esse mal eram arruda, limão,
fumo, erva de bicho e maria mole. Porém o tratamento mais prático e fácil é a
velha mistura de banha de porco com enxofre em pó.
Vermes: “bichas” – verminoses era um problema tanto para os animais como
para os humanos. O animal enfraquecido precisava ser tratado. Existiam
muitos remédios, recorria-se a natureza, as simpatias e aos benzimentos. Alho
amassado com leite ou então 2 ou 3 onças* de sementes de abóbora socadas
com 4 onças de açúcar. Também se pode usar chá de hortelã com raspa de
chifre queimado. Hortelã com vinagre, beldroega, ruibarbo, até enxofre. Mas a
melhor é erva de Santa Maria socada com açúcar misturada com leite.
No fim da tarde, já no pouso com a mulada examinada e as doentes
tratadas, todos procuravam descansar, os tropeiros eram muito religiosos e
supersticiosos. Em dia santo ninguém é doido de viajar e encontrar a mula sem
cabeça ou o saci. Não abusavam.
TEXTO 7

A MEDICINA CASEIRA

As plantas medicinais eram identificadas pelo perfume e pelo aspecto


físico. A planta era testada e pelos seus efeitos benéficos e tornava-se uma
nobreza vegetal, respeitada, não capinada como as demais.
O mesmo acontecia com as benzedeiras de cobreiros, torcicolos,
verrugas. Havia uma conotação antropológica na benzedura. O toucinho, por
exemplo, com que eram besuntadas as verrugas deviam ser colocados pelo
paciente debaixo de uma pedra, no caminho de regresso à própria casa. Tão
logo as formigas o tivessem devorado, o paciente estaria livre das verrugas.
A marcela fazia efeito terapêutico, recolhida na sexta-feira santa, antes
do nascer do Sol. Os ramos de oliveira, bento nos domingos de ramos,
queimados a janela em dias de tormenta, acalmariam as tempestades.
O trigo teria boa safra, nos anos em que as noites de Natal fossem
límpidas.
É preciso salientar que, por falta de recursos técnicos medicinais bem
como pela distância em se obter um médico, os colonizadores apropriavam-se
dos conhecimentos populares, tanto para buscar remédios caseiros como para
efetuar partos e pequenas cirurgias.
Tais conhecimentos passavam de pai para filho como um ritual onde a
crença pura e simples estava acima de qualquer suspeita maléfica que tais
medicamentos pudessem acarretar.
TEXTO 8

A INDUMENTÁRIA DO TROPEIRO

A indumentária do tropeiro exigia resistência, pois ele era obrigado a


enfrentar o sol intenso do sertão, as tempestades e varar caminhos estreitos
nas matas cerradas.
Em geral, traziam na cabeça um chapelão de feltro, quase sempre
cinzento, que era a cor preferida, de abas viradas; vestiam camisa e calça
marrons, de pano forte, e usavam botas de couro flexível, tão compridas que
alcançavam a metade da coxa, embora pudessem ser dobradas. Jogado sobre
os ombros, um grande pala, com uma abertura no centro para enfiar a cabeça.
As botas de couro até o meio da coxa tinham sua vantagem ao
atravessar alagados e córregos e defender as pernas do cavaleiro dos galhos e
espinhos que margeavam as trilhas.
Armava-se com longas espadas, facões e armas de fogo.
O traje do tropeiro em nada se parceria com o traje do gaúcho
contemporâneo, a não ser pela coincidência do pala.

(Fonte:http://farm4.static.flickr.com)

O traje de tropeiro - O comum era


calça e camisa de pano grosso e botas até os
joelhos; os tocadores de lotes (personagens
mais humildes), provavelmente andavam
descalços ou com simples alpercatas de
couro; o chapéu era de abas largas, sendo a
da frente, algumas vezes, presa à copa.
Usavam ainda o facão sorocabano (largo e de
ponta curva), a guaiaca (cinto de couro com divisões), o xiripá (grande faixa
enrolada entre as pernas e que muitas vezes se reduzia a uma simples tira à
volta da cintura).

5 - SUGESTÕES DE ATIVIDADES

Filme - Documentário - DVD –

Tropeiro @lma sem fronteira. Direção Homero Camargo.

Tropeiros somos, no caminho andamos. Direção Josélia Maria Loyola de


Oliveira. Ponta Grossa: 1994. DVD, 18 min.

CD – Cancioneiro da Rota. Silvestre Alves

Tomando por base, filmes e documentários sobre o Tropeirismo, organize um


debate com seus alunos, caracterizando o Tropeiro – as roupas, costumes
comidas e linguagem.
Em grupo os alunos deverão organizar uma exposição com os trabalhos
realizados, objetos e documentos selecionados sobre o tropeirismo.
Organizar uma visita as cidades que fazem parte da Rota dos Tropeiros.
Visita a cidade de Castro ao Museu do Tropeiro, Casa de Sinhara e Fazenda
Capão Alto.
Organizar o dia da “Culinária Tropeira” apresentando os vários pratos tropeiros
para serem degustados.
Montar painéis retratando a cultura legada pelos tropeiros.
Organizar apresentação de dança e música tropeira para os alunos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A abordagem do tema tropeirismo neste Caderno Temático é relevante,


em razão dos materiais didáticos disponíveis para consulta aos professores e
auxílio dos alunos em suas pesquisas nas escolas, em grande parte não
apresentam a história do Paraná.
Quando apresentam, as informações sobre o tropeirismo são na
maioria das vezes fragmentadas e superficiais não contemplando maiores
discussões sobre o assunto, dados pontuais relativos ao tema são utilizados
como “pano de fundo” para contextualizar análises sobre o aparecimento de
determinadas cidades, processo de desenvolvimento de certas regiões do país
ou para caracterizar determinados modos de vida. A forma como essas
informações são apresentadas acaba por permitir aos leitores conhecer alguns
aspectos, muitas vezes desconexos, a respeito do tropeirismo.
O objetivo deste trabalho é propiciar um maior conhecimento e
sensibilização acerca da memória e história local relacionado com a ocupação
e desenvolvimento da região Meridional do Brasil, mais particularmente com a
região dos Campos Gerais, onde a ação dos tropeiros foi imensa.
Podemos afirmar que, para preservar os costumes e as tradições de
uma cidade se tornam necessário conhecer as suas origens, para que ela não
se perca com os passar dos anos.
O Tropeirismo foi uma fase de grande importância na História do Brasil.
Se os bandeirantes alargaram as nossas fronteiras, os tropeiros consolidaram
as fronteiras e mudaram a história das relações comerciais do país. Servindo
de elemento integrador, pois por onde passavam eram os festeiros tocadores
de viola e sanfona, emissários oficiais, transmissores de notícias, recados e
receitas. Desenvolveram uma cultura própria que chega até os nossos dias por
meio da história oral, culinária, da música, da religiosidade e no estilo de vida.
Com isso, buscou-se apresentar as diferentes representações
afloradas no contexto sobre a figura do tropeiro e/ou o tropeirismo responsável
pela transmissão da cultura brasileira em todos os cantos por onde se fez
presente direta ou indiretamente cumprindo seu papel de não apenas um
transportador de mercadorias, mas também de tendências, modismos e novos
hábitos e costumes.
Espera-se que esse trabalho sirva de subsídio para o desenvolvimento
do conhecimento sobre o tropeirismo e que traga alguma contribuição não só
para novas pesquisas na área, mas, principalmente para a compreensão da
necessidade do resgate da memória social de nosso povo.

“A invocação do passado
constitui uma das estratégias
mais comuns nas
interpretações do presente. O
que inspira tais apelos não é
apenas a divergência quanto
ao que ocorreu no passado e o
que teria sido esse passado,
mas também a incerteza se o
passado é de fato passado,
morto e enterrado, ou se
persiste, mesmo que talvez sob
outras formas”.
(Edward Said)
REFERÊNCIAS

ALMA sem fronteiras. Direção: Homero Camargo. Produção: Sandro Alves e


Zinho de Oliveira. Ponta Grossa: 01 filme; 1 DVD. Son., color.
ALMEIDA, Aluisio de. Vida e Morte de Tropeiro. São Paulo: Editora Martins,
1971.
ALVES, Silvestre. Cancioneiro da Rota. Manaus. Áudio Digital Curitiba, 2009.
1 CD
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes (Org.). O saber histórico na sala de
aula. 11. ed. São Paulo: Contexto, 2006.
BORBA, Oney B. Os Iaponenses. Curitiba: Litero-Técnica, 1986.
BUENO, Fidelis. Geografia Tropeira: subsídios ao estudo do tropeirismo.
Castro: Ed. do autor, 2008. P.19-23.
CASCUDO, Luis da Câmara. História da Alimentação no Brasil. 3. ed. São
Paulo: Global, 2004, 954 p.
DINIZ, João Maria F. A Medicina Tropeira nas Paragens do Iapó. Castro:
2007.
GOULART. José Alípio. Tropas e Tropeiros na Formação do Brasil. Rio de
Janeiro: Conquista. 1961.
NETTO, Luiz Romaguera. Erro Histórico e outros ensaios. (artigo Batendo
as bruacas – Código do Tropeiro).
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Educação
Básica. Diretrizes da Educação Básica História. Curitiba: SEED, 2008.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte. Fazenda Capão Alto.
Curitiba: SECE, 1985. (Cadernos do Patrimônio. Serie Estudos, 1).
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares – Da
Educação de Jovens e Adultos no Estado do Paraná – Versão Preliminar –
Janeiro 2005.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de
História para a Educação Básica. Curitiba: 2006.
PARANÁ. Secretaria de Estado e Cultura. Coordenadoria do Patrimônio
Cultural. Tropeirismo: um modo de vida. Curitiba: 1989, 99p.
PARANÁ. Secretaria de Estado do Turismo (Org.) Rota dos tropeiros:
emoção, fé e aventura. Curitiba: (s.d.) ,04p.
RÜSEN, Jörn. História Viva: Formas e funções do conhecimento histórico.
(Tradução Estevão de Rezende Martins) Brasília: Ed. UNB
SAINT- HILAIRE, Auguste de. Viagem a Curitiba e Província de Santa
Catarina. São Paulo: Itatiaia, 1978.
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pela Comarca de Curitiba. Curitiba:
Fundação Cultural, 1995
SHIMIDT, Maria Auxiliadora. M.S, História do cotidiano paranaense. Curitiba:
Letrativa, 1996. 128 p.
STRAFORINI, Rafael. No Caminho das Tropas. Sorocaba, São Paulo: TCM,
1961.
TRINDADE, Jaelson Bitran. Tropeiros. São Paulo: Editoração Publicações e
Comunicações Ltda., 1992, 160 p.
TROPEIROS somos no caminho andamos. Direção: Josélia Maria Loyola de
Oliveira. Ponta Grossa: 1 documentário; 1 DVD, 18 min. Son. Color. 1994.
TROPEIRISMO. 2008, Castro. Encarte. Castro: 2008. Associação de Amigos
do Museu do Tropeiro.
WACHOWICZ, Ruy C. História do Paraná. Curitiba: Ed. Gráfica Vicentina
Ltda. 1995.

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