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Relações entre populismo, mídias digitais e pós-verdade1

Pedro Henrique Lisboa Fontana2

Esta pesquisa aborda as estratégias discursivas populistas em ambientes digitais,


com o objetivo de refletir criticamente sobre as interações comunicacionais, suas
configurações nas redes sociais, e a potencialização do populismo no contexto da
pós-verdade. Para tanto, far-se-á uma pesquisa bibliográfica a partir da qual se pretende
explicitar o conceito de populismo como uma ideologia política maniqueísta e
beligerante, partindo de uma ideia ilusória e reducionista da realidade social, centrada
nas noções de povo, elite e vontade geral, e acirrando a polarização política e a
intolerância, sobretudo em épocas de crise das democracias representativas (Mudde &
Kaltwasser, 2017). Em segundo lugar, apresenta-se a pós-verdade (Guareschi, 2018)
como uma força de moldagem das ambiências comunicacionais contemporâneas, cujo
principal efeito é o desenvolvimento de uma indiferença generalizada com a verdade
dos fatos e um profundo descaso com as fontes, sendo o principal critério de validação
das informações os apelos emocionais e a reafirmação de crenças pessoais. Além disso,
serão investigados os padrões de funcionamento das redes sociais digitais e seus
mecanismos algorítmicos de distribuição de conteúdo, a fim de refletir sobre como se
formam as chamadas bolhas ideológicas ou câmaras de eco (Recuero, R.; Zago, G. &
Soares, F. B, 2017 e Pariser, 2012).
Ao final, conclui-se que há grande compatibilidade entre os discursos populistas
e os ambientes digitais (Prior, 2019). Isso porque, por um lado, a forma de comunicação
característica das mídias digitais e o controle dos fluxos de informação nas plataformas,
pelos algoritmos, formam ambientes pós-verdadeiros, propícios à disseminação de
mentiras organizadas, intolerância e polarização política. Do outro lado, em
consonância com o exposto, o populismo é uma ideologia sustentada por discursos
reducionistas, ilusórios e agonísticos, promovendo intolerância e polarização política.

1
Trabalho apresentado à Sessão Paralela Democracia em Crise e Populismos, das II Jornadas
de Ciências da Comunicação FLUC, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
Coimbra, Portugal, 14 e 15 de junho de 2022.
2
Mestrando em Comunicação na Contemporaneidade na Faculdade Cásper Líbero (FCL).
Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). E-mail:
fontanapedro1865@gmail.com
Referências Bibliográficas

Guareschi, P. (2018). Psicologia e Pós-Verdade: a Emergência da Subjetividade Digital.


PSI UNISC, 2(2), 19-34. https://doi.org/10.17058/psiunisc.v2i2.12242

Mudde, C. Kaltwasser, & C. R. (2017). Populism: A Very Short Introduction. Oxford


University Press.

Pariser, E. (2012). O filtro invisível. O que a internet está escondendo de você. Zahar.

Recuero, R.; Zago, G. & Soares, F. B. (2017). Mídia social e filtros-bolha nas
conversações políticas no Twitter. Anais do XXVI Encontro Anual da Compós. São
Paulo, Faculdade Cásper Líbero.

Prior, H. (2019). Em nome do povo: o populismo e novo ecossistema mediático. In J.


Figueira & S. Santos (Orgs.), As Fake News E a Nova Ordem (Des)Informativa Na Era
Da Pós-Verdade, 123–145. https://doi.org/10.14195/978-989-26-1778-7_8

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