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COMPUTAÇÃO GRÁFICA

AULA 03 – COR E VISÃO

Olá!

Ao falarmos de Cor e Visão, será necessária uma abordagem sobre


o mecanismo da visão humana e como as cores são percebidas por esse
sentido. Através da visão, nós percebemos o mundo a nossa volta de
maneira imagética, explorando tons e cores das mais variadas
intensidades.
O tema aqui proposto é de suma importância para a Computação
Gráfica, pois a visão e seus pormenores são os principais responsáveis
para a percepção dos objetos criados através das técnicas de computação
gráfica.

Bons estudos!
03. A COMPUTAÇÃO GRÁFICA, A COR E A VISÃO HUMANA

De acordo com as informações fornecidas por Hoffman (2001), a formação da


imagem está relacionada à quantidade de luz refletida ou emitida pelo objeto em
questão, sendo a cor uma característica importante que pode ser descrita de três
maneiras: cor física, cor do objeto e cor percebida. A cor física é analisada com base
na energia radiante da fonte emissora de luz, enquanto a cor do objeto é a cor refletida
por ele quando iluminado por uma fonte de luz, sendo essa cor que alcança o sistema
visual do observador.
A cor percebida, por sua vez, representa a percepção imediata que temos do
objeto, sendo influenciada não apenas pelas propriedades físicas do objeto ou fonte
de luz, mas também pelas características do sistema visual do observador. Nas áreas
de computação gráfica e processamento de imagens, o resultado final é destinado a
um observador humano, e a interpretação desse resultado depende significativamente
da visão humana. Portanto, é importante compreender e conhecer o funcionamento
desse sentido para obter resultados de maior qualidade.
Para compreender como uma imagem é formada, é necessário entender o
processo de visão nos seres humanos. O olho humano é um órgão complexo que
converte a energia luminosa em sinais elétricos, os quais são processados no cérebro.
Esse processo tem início na córnea, onde ocorre a entrada do estímulo luminoso. A
retina desempenha um papel crucial na percepção visual, convertendo o estímulo em
sinais elétricos que são transmitidos ao cérebro através do nervo óptico.
A visão não é uma simples captura de imagens; os objetos que enxergamos
são interpretados e reconhecíveis porque aprendemos a reconhecê-los dessa forma.
O sistema visual não funciona apenas como uma câmera ou receptor de informações,
mas sim como um sistema complexo de análise e processamento de dados do mundo
exterior. O olho é o receptor seletivo da energia radiante, enquanto o cérebro
desempenha um papel essencial na integração dessas informações. A visão é uma
atividade extremamente complexa, e o cérebro aloca uma quantidade significativa de
neurônios e sinapses para processá-la.
Embora os olhos sejam sensibilizados pela luz refletida ou emitida pelos
objetos, é o cérebro que interpreta essas sensações, o que leva ao ato de "ver". É
interessante notar que os olhos não veem por si mesmos; há casos de pessoas com
funções ópticas intactas, mas incapazes de enxergar devido a lesões nas áreas do
cérebro responsáveis por interpretar as mensagens visuais.
A visão é o sentido humano que mais fornece informações para o cérebro,
sendo estimado que cerca da metade do processamento cerebral humano esteja
relacionada à visão. Isso explica por que os deficientes visuais tendem a desenvolver
e aprimorar os outros sentidos, já que a área do cérebro originalmente dedicada à
visão é redirecionada para esses outros sentidos. O cérebro não processa todo o
campo de visão, mas concentra-se apenas naquilo que captura sua atenção, tornando
pequenas alterações na imagem facilmente perceptíveis.
O cérebro humano possui duas partes interligadas, em que o hemisfério
esquerdo constrói o campo visual direito e o hemisfério direito constrói o campo visual
esquerdo. Vale ressaltar que ambos os olhos estão conectados a ambos os
hemisférios, mas devido à óptica dos olhos, a metade direita de cada olho vê a metade
esquerda do campo visual, e a metade esquerda de cada olho vê a metade direita do
campo visual, como ilustrado na Figura 1.

Figura 1 – Hemisférios e visão

Fonte: Adaptada de Hoffman (2001).

De acordo com Hoffman (2001), caso uma pessoa sofra uma lesão
exclusivamente no hemisfério esquerdo do cérebro, especificamente na região onde
se localiza o centro responsável pelo senso cromático (circunvoluções lingual e
fusiforme, mostradas na Figura 2), ela perderá a capacidade de perceber cores no
campo visual direito, enxergando apenas tons de cinza. Algumas pesquisas realizadas
por neurofisiologistas revelaram que a atividade dos neurônios nessa área do cérebro
está diretamente relacionada à percepção das cores. Curiosamente, ao aplicar um
estímulo magnético nessa região, foi possível obter como resposta a percepção de
anéis e halos coloridos. Surpreendentemente, não é necessária a presença de luz ou
mesmo de olhos para que a percepção de cores ocorra nesse contexto.

Figura 2 – Circunvoluções lingual e fusiforme

Fonte: Adaptada de Hoffman (2001).

A visão é uma resposta ao estímulo luminoso que atravessa as camadas


transparentes da retina e, ao chegar aos cones e bastonetes, inicia reações
fotoquímicas que se convertem em impulsos nervosos. Esses impulsos são então
transmitidos pelas fibras ópticas até os centros cerebrais superiores. O sistema óptico
é constituído por um complexo esquema fisiológico que possibilita a interpretação não
apenas da sensação de cor, mas também de aspectos como profundidade, textura,
movimento e outros.
Conforme afirmado por Hoffman (2001), do ponto de vista fisiológico, várias
características importantes do olho humano estão relacionadas ao processo de visão,
incluindo acomodação, adaptação, acuidade, persistência visual, visão de cores e
campo de visão. Cada uma dessas características exerce influência, em maior ou
menor grau, no momento da análise das tarefas visuais.
A ilustração na Figura 3 apresenta o olho humano como uma estrutura esférica
com diâmetro entre 20 a 25 mm. A camada externa, conhecida como "branco do olho",
é uma membrana elástica resistente chamada esclerótica. Na frente do olho, a
esclerótica se curva para formar a córnea, que é o primeiro elemento óptico ativo do
olho. Atuando como uma lente simples, a córnea capta e concentra a luz, permitindo
assim a recepção da luz do ambiente.
Logo atrás da córnea, encontra-se uma pequena câmara preenchida com um
fluido conhecido como humor vítreo ou humor aquoso, semelhante ao fluido cerebral
que preenche as cavidades do cérebro. Evidências embriológicas demonstram que os
componentes nervosos do olho se desenvolvem a partir da mesma estrutura que
forma o cérebro.
Figura 3 – Elementos do olho em corte

Fonte: Adaptada de Hoffman (2001).

Conforme apontado por Hoffman (2001), a estrutura que forma um anel colorido
com um orifício negro no centro, visível nos olhos, é denominada íris, e a luz passa
através desse orifício negro, conhecido como pupila (Figura 4). A pupila desempenha
o papel de controlar a quantidade de luz que entra no olho, e seu diâmetro pode variar
entre 2 a 8 mm, de acordo com a intensidade do estímulo luminoso. Esse mecanismo
é fundamental para evitar o ofuscamento, protegendo as células fotossensíveis da
retina de danos causados pelo excesso de luz.
O tamanho da pupila não somente varia em resposta à intensidade da luz, mas
também pode ser influenciado por fatores emocionais, como quando uma pessoa se
encontra em uma situação de perigo. Nessas circunstâncias, uma das reações
possíveis é a dilatação da pupila, um mecanismo de defesa que busca aumentar a
vigilância e a atenção ao que está sendo vivenciado. Essa dilatação é viabilizada pelos
músculos ciliares.
No processo de percepção da imagem, é relevante mencionar que o olho
humano possui uma área conhecida como ponto cego, que é uma região do globo
ocular desprovida de células nervosas. Portanto, quando uma imagem é projetada
sobre essa região, ela não é vista pela pessoa. É também importante destacar que os
músculos responsáveis pelo controle do movimento do globo ocular permitem que ele
seja rotacionado em todas as direções, possibilitando que a imagem seja projetada
sobre as células sensíveis à luz da retina.

Figura 4 – Principais elementos do olho humano

Fonte: Adaptada de Hoffman (2001).

O processo de focalização de um objeto, realizado, por exemplo, por uma


câmera fotográfica convencional, é também uma ocorrência na visão humana.
Quando um indivíduo olha para objetos próximos e estes são focalizados, os objetos
distantes tornam-se desfocados, e o inverso também ocorre: ao observar objetos
distantes, os objetos posicionados bem próximos ficam desfocados.
A parte responsável pela focalização na visão humana é o cristalino, que pode
ser comparado a uma lente. As alterações no tamanho do cristalino também resultam
em mudanças em sua capacidade refrativa. Essas mudanças são fundamentais para
que o ser humano seja capaz de focar objetos. Quando o cristalino reduz sua
capacidade refrativa, é possível focalizar objetos distantes, enquanto um aumento em
sua capacidade refrativa possibilita a focalização de objetos próximos.

3.1 Características Ópticas da Luz

Segundo Hoffman (2001), o universo é constituído por matéria, que é um


conjunto de partículas, e quatro forças fundamentais: gravitacional, eletromagnética,
além das nucleares forte e fraca. A luz é considerada uma radiação eletromagnética
e pode ser descrita pelo modelo onda-corpúsculo. Em meios homogêneos, como o ar
ou a água, a luz se propaga em linha reta, mas quando incide em uma interface entre
dois meios, podem ocorrer três fenômenos: reflexão, transmissão e absorção.
A reflexão é o processo em que a radiação luminosa é devolvida por uma
superfície, sem modificar a frequência dos componentes acromáticos que a compõem.
Entretanto, os componentes cromáticos geralmente são alterados durante a reflexão.
Por exemplo, quando uma luz branca é refletida por um objeto com pigmento
vermelho, todos os comprimentos de onda não-vermelhos são absorvidos pela
superfície, refletindo apenas os vermelhos. A reflexão depende da qualidade do meio
óptico em ambos os lados da interface e pode ser classificada como especular ou
difusa, dependendo da superfície refletiva.
Uma parte da luz incidente é absorvida pela superfície, e o fenômeno de
absorção ocorre quando o feixe de luz, ao incidir em uma superfície, não se propaga
para o outro meio e nem retorna ao meio de origem. Esse processo resulta no
aquecimento da superfície, pois ela absorve energia luminosa.
A transmissão é o ato de raios de luz passarem através de um meio. Esse
fenômeno é uma característica presente em certos materiais (como vidro, cristal, etc.)
e fluidos (água, atmosfera, etc.) e acontece com mais frequência quando a interface
separa dois meios transparentes. Durante a transmissão, uma parte da luz se perde
devido à absorção. A razão entre o fluxo de luz transmitida e o fluxo de luz incidente
é conhecida como transmitância ou fator de transmissão do material.

Radiação

Segundo Hoffman (2001), a radiação eletromagnética é caracterizada como a


emissão ou transferência de energia na forma de ondas eletromagnéticas ou
partículas. A radiação visível, conhecida como luz, é definida como a radiação que
tem a capacidade de provocar uma sensação visual direta. No espectro de ondas
eletromagnéticas, as ondas de luz ocupam apenas uma pequena parte.
De acordo com a teoria eletromagnética, a luz pode ser concebida como uma
onda eletromagnética que se propaga em linha reta através do vácuo com uma
velocidade de cerca de 300.000 km/s. No entanto, quando a luz atravessa um meio
material, sua velocidade é reduzida, e esse valor depende do índice de refração do
meio em questão. Galileu pode ter sido a primeira pessoa a tentar medir a velocidade
da luz.
Sua ideia era simples: dois indivíduos, separados por uma distância conhecida,
equipados com lanternas e cronômetros, deveriam medir o tempo que a luz das
lanternas levaria para percorrer o trajeto entre eles. Com a distância conhecida, seria
possível obter a velocidade da luz. No entanto, devido à velocidade rápida com que a
luz se propaga e à ausência, naquela época, de uma forma precisa de medir variações
tão pequenas de tempo, sua experiência não teve sucesso. Essa tentativa, no entanto,
foi o ponto de partida para muitas outras experiências mais avançadas.

3.2 Modelos de cores

Modelos de cores usam as bases físicas da cor para poder representá-las


adequadamente. Seu nível de abstração é apresentado na Figura 5:

Figura 5 – Níveis de abstração de cores

Fonte: Adaptada de Hoffman (2001).

Um modelo de cor é um sistema utilizado para organizar e definir cores


conforme um conjunto de propriedades básicas que são reprodutíveis. Uma das
formas mais eficientes de descrever a cor usa os elementos matiz, saturação e
intensidade.

• Matiz determina a cor propriamente dita, definindo sua personalidade, sua


identidade; está associado aos seus diferentes comprimentos de onda. É um
atributo da cor que permite, por exemplo, distinguir o verde do azul ou o
amarelo do vermelho.
• Saturação determina a pureza da cor, o quanto uma cor não está diluída pela
luz branca. A pureza de uma luz colorida é a proporção entre a quantidade de
luz pura da cor dominante e a quantidade de luz branca necessária para
produzir sua sensação. É através da saturação que, por exemplo, o rosa é
distinguido do vermelho, e o azul-marinho, do azul-claro.
• Intensidade, também chamada de valor (value), brilho (brightness) ou
luminosidade (lightness), determina a intensidade de luz que uma superfície
tem a capacidade de refletir ou uma fonte luminosa de emitir. Cada cor pode
ter diferentes valores, de acordo com o grau de energia que emite. Por
exemplo, uma mesma lâmpada de uma mesma cor pode ser percebida de
maneira diferente se for alterada a intensidade de corrente que a faz acender,
por um potenciômetro.

3.3 Características das Cores

De acordo com Ilda (1995), as imagens intermitentes, como as do cinema e da


TV, são percebidas como se fossem contínuas graças à memorização e à capacidade
de integração dos estímulos pelo sistema visual humano. O mesmo acontece com a
percepção de cores porque, ao se olhar simultaneamente para objetos de diversas
cores, há interferência entre as cores, o que também ocorre quando se olha uma
sucessão rápida de diversas cores. Esses fenômenos são chamados de contraste
simultâneo e contraste sucessivo, respectivamente.
No contraste simultâneo, as cores apresentam sensações de modificação de
claridade e de saturação na presença de outras cores. Johann Wolfgang Goethe
comentou: “Uma imagem cinza apresenta-se muito mais clara sobre fundo negro do
que sobre fundo branco”. Ou seja, objetos de mesma cor, sobre fundos diferentes,
aparecerão com diferenças de saturação e claridade. Da mesma forma, uma cor ao
lado de outra mais escura parecerá mais clara do que realmente é, enquanto se torna
ainda mais escura pela aproximação daquela mais clara. A lei de contraste simultâneo
de cores, proposta por Michel-Eugene Chevreul, foi baseada nas observações de
Goethe sobre as cores.
Na Figura 6 pode-se observar que um quadrado claro na sombra tem a mesma
tonalidade de cinza que um quadrado escuro fora da sombra. A tarja na figura da
direita é para facilitar essa comparação.

Figura 6 - Exemplo do efeito de contraste simultâneo

Fonte: Adaptada de Ilda (1995).

Segundo Ilda (1995), o contraste sucessivo ocorre em função da memória


visual que o ser humano mantém por alguns segundos após observar uma dada
imagem. Esse fenômeno faz com que, ao fixar o olhar sobre uma determinada cor, o
ser humano retenha na memória sua cor complementar. Assim, se um observador
fixar o olhar em um objeto vermelho durante algum tempo e depois deslocar
rapidamente os olhos para uma superfície branca, será conservada a imagem do
objeto na sua cor complementar, que no caso consiste na cor ciano (verde + azul).
Uma outra experiência similar seria a de olhar durante 30 segundos, fixamente,
para um círculo vermelho sobre um papel branco, recebendo uma luz muito forte
(como a luz solar), depois, tapando-se um dos olhos, o desenho aparecerá na retina
com a cor complementar. Isso se deve ao fato de que, devido à persistência visual, a
intensidade muito forte da luz representou uma agressão e a retina compensou isso
produzindo a cor complementar que, junto com a cor básica, produziu a cor preta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HOFFMAN, D. Inteligência visual: Como criamos o que vemos. Rio de Janeiro:


Editora Campus, 2001.

IIDA, I. Ergonomia: Projeto e produção. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda.,
1995.

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