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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO

CURSO DE PSICOLOGIA

PERCEPÇÃO E PSICOFÍSICA

Resumos das Aulas de Percepção

Ribeirão Preto

2019
Resumo da Aula do dia 08/05

A psicofísica é a área da psicologia que estuda a relação entre entre os estímulos

presentes no mundo físico e a percepção dos sistemas neurais e cognitivos envolvidos neste

processo. Esses estímulos podem ser de natureza visual, olfativa, gustativa, tátil e sonora,

O sistema responsável pela percepção visual do organismo tem como funções básicas a

percepção do brilho, da cor, do movimento e a visão binocular (o uso conjunto de ambos os

olhos). Além dessas, podem ser destacados certos conteúdos relacionados à cognição e

responsáveis pela organização dos estímulos percebidos, como o contraste, a forma, o tamanho, a

textura, a orientação e a profundidade. Estes mecanismos juntos atuarão para a detecção do

organismo dos objetos, espaço e eventos ao seu redor, sendo orientados também pelo mecanismo

da atenção para este fim.

A percepção visual somente é possível a determinadas espécies graças à reação e

adaptação do organismo à presença da luz. A luz é a onda responsável pela percepção visual do

mundo e seus diversos espectros podem ou não ser visíveis aos sujeitos - no caso dos humanos, o

espectro da luz visível vai de 400nm a 700nm) - e se manifestam através dos fenômenos da

luminância (luz refletida por uma superfície, denominada reflectância) e iluminância (luz

advinda de uma fonte de luz própria, que atinge uma certa superfície). Essas ondas podem ser de

curto, médio ou longo comprimento, sendo estas captadas por células fotossensíveis presentes na

retina (os cones) e enviadas ao encéfalo por elétrons, onde serão interpretadas como as

tonalidades azuis, verdes e vermelhas, respectivamente - que podem, a partir destas, manifestar

novas cores à percepção - estes cones são utilizados majoritariamente durante a visão diurna. À

teoria que teorizou a existência dessas estruturas foi dado o nome de Teoria Tricromática. Além
dos cones, outras células presentes nos olhos são os bastonetes, relacionadas à captação do brilho

presente no ambiente e, portanto, mais utilizados na visão noturna.

Dentro do sistema visual humano, dois fenômenos que orientam o funcionamento da

visão no cotidiano são a acomodação e a convergência. A acomodação se trata do

direcionamento do foco dos olhos em um mesmo sentido, a um ponto relativamente distante,

onde este foco não se cruza, enquanto na convergência o ponto focal dos olhos se cruza,

ocorrendo normalmente quando o objeto em foco está próximo aos olhos. Além destes, outra

estrutura importante do aparelho ocular é a fóvea, tratando-se do local onde se consegue o

melhor foco das imagens e com maior concentração de cones (os bastonetes, em contrapartida,

são mais concentrados nas regiões periféricas do aparelho visual), responsável pelos efeito da

foveação (quando a imagem chega a este foco) e do borramento (quando a imagem sai do foco) -

esses efeitos são muito utilizados na televisão para direcionar o olhar das pessoas aos pontos

desejados pelos produtores. Além destas estruturas, pode-se destacar também a presença do disco

óptico nos olhos, uma região da retina onde não existem fotorreceptores, gerando um ponto cego

na visão que, no cotidiano, é compensado pela visão do outro olho, passando despercebido.

A estrutura do aparelho ocular é bastante complexa e, além dos conteúdos tratados acima,

ainda conta com a presença, dentre uma série de outras estruturas, de um fator importante para o

seu funcionamento: os nervos ópticos. Esses nervos, localizados nos olhos e direcionados à

região nasal da face, são responsáveis pelo transporte da informação visual captada pelos cones e

bastonetes, convertendo-as em elétrons e enviando ao encéfalo. A partir disso, a informação é

levada aos hemisférios de lado oposto ao de cada olho através do quiasma óptico, sendo então

processada e interpretada nas regiões occipital, temporal inferior e parietal posterior do córtex

visual.
Resumo da aula do dia 22/08

Brilho e Contraste

O que é brilho? É uma sensação relacionada com a intensidade de luz.

A luz que é captada mediante reflexão de um objeto (exemplo a Lua) é categorizada

como Luminância, enquanto a luz que é captada mediante sua origem (o Sol), se categoriza

como Radiância ou fluxo luminoso.

Iluminância é uma luz que paira sob uma superfície. Quanto mais distante a fonte de luz se

distanciar do objeto, menor a iluminância.

Outros fenômenos relacionados à luz é o de Reflectância (proporção de luz refletida de

uma superfície), Brilho (Impressão fenomenológica de intensidade de luz) e de Iluminância

Retinal (quantidade de luz que incide na retina).

A sensação de brilho está relacionada logaritmicamente com a intensidade (baseada em

um fotômetro).

Luminância X Brilho

O que é contraste? É uma diferença entre dois níveis de intensidade.

Observamos aqui cartões de cores em gradiente com um círculo acinzentado (de mesma

cor e intensidade) em seu interior. Verifica-se uma diferença na intensidade do círculo.

Nosso sistema visual possui:

→ um sistema que regula intensidade diurna (de alta luz);

→ um sistema que regula intensidade noturna (de baixa luz).

A unidade a ser utilizada para a Luz é dada por Candelas/m² e podem ser classificadas

segundo o seguinte gradiente:


● Escotópica (Scotopic) (10-6 até 10-1)

● Mesotópica (Mesotopic) (1)

● Fotópica (Photopic) (10 até 107)

● Danosa (Damaging) (108 até 1010)

Os cones se encontram em baixa quantidade na região periférica do eixo do Globo ocular,

estando em grande quantidade na região da fóvea. Esta região periférica por outro lado tem

bastonetes em abundância e decai na região da fóvea. Ambos os fotoceptores não estão presentes

na região denominada ponto cego ou “blind-spot”.

Cones trabalham com alta intensidade luminosa, transmitem cor e luz, enquanto os

Bastonetes são responsáveis pelas atividades de baixa intensidade luminosa e não são

responsáveis por detecção de cor e sim luz.

Observação aleatória: A região da fóvea do globo ocular recepciona mais detalhes e

informações de cor.

Efeito Purkinje (Adaptação ao Escuro)

É um efeito decorrente da transição entre a sensibilidade fotópica para a escotópica em

que há uma melhor detecção de cores mais próximas à tonalidades de cores de baixa frequência,

no caso da sensibilidade fotópica (bastante relacionada com cones); e uma melhor de detecção de

cores mais próximas de tonalidades de cores de alta frequência, no caso da sensibilidade

escotópica (relacionada com os bastonetes).

É necessário aproximadamente em torno de 30 a 40 minutos para que a transição de

captação de cones para bastonetes (supondo que a transição seja de um ambiente claro para um

escuro).
No globo ocular, próximo à região da fóvea, encontra-se um “ponto-cego” a

aproximadamente 20° do ponto focal da imagem. Enquanto a região da fóvea está

intrinsecamente relacionada com a atividade dos cones, e, portanto, o reconhecimento de

contornos, bordas e detalhes, enquanto a região periférica do globo está relacionada com o

reconhecimento de formas.

Para entender melhor o funcionamento Eletrofisiológico, Foi realizado um experimento

em que se colocou em um macaco um eletrodo no axônio de uma determinada célula ganglionar

e registrou-se a atividade deste em função do tempo. Ocorreu que algumas alguns registros

obtiveram um On Response e um Off Response, ou seja, a célula respondeu eletricamente em

condições de presença e condições de ausência de luz, respectivamente.

Inibição Lateral

É um funcionamento que atua no contraste entre cores. Para isso é preciso entender que,

ligado a mais de um cone e bastonete, encontra-se células ganglionares. Uma observação é que

na região periférica do globo ocular, essas células encontram-se em uma proporção de entre 1/8 a

1/10 enquanto na região da fóvea do globo ocular, essa proporção é reduzida. Cada célula

ganglionar é dotada de um campo receptivo que pode ser excitatório e/ou inibitório. Geralmente

se a luz incide no centro deste campo receptivo, ocorre a excitação (ON Response), mas também

existe a possibilidade de que a luz venha a incidir na periferia deste campo receptivo excitando-a

(OFF Response).

O funcionamento ocorre da seguinte maneira: se apenas a região do campo receptivo que

é inibitória for iluminada, ocorre a inibição das sinapses de uma célula que está em repouso,

reduzindo os impulsos. Se as regiões inibitória e excitatória forem afetadas, as sinapses se


anulam e prevalece aquela que está sob maior montante, ou seja, se a região excitatória for mais

estimulada, a célula irá emitir impulsos e vice versa.

Bandas de Mach

É um efeito de ilusão ótica em que se aparenta que há uma pequena linha entre cada

transição de cor de um gradiente. Essas bandas aumentam o contraste entre duas cores do

gradiente.

Redes de Hermann

É um efeito em que um círculo em uma rede muda de cor devido ao campo receptivo da

célula ganglionar. Se um círculo é focado, seu campo receptivo se reduz, pois a região da fóvea

possui um campo receptivo mais reduzido de fotorreceptores, e, portanto a região inibitória e a

excitatória não sofrem estimulações contrastantes de luz e sombra. O que significa que a célula

está em repouso. Agora, se os campos receptivos estão no cruzamento, ele possui seu campo

inibitório mais estimulado do que se estivesse nas regiões que não são cruzamentos. Portanto

nessas regiões de cruzamento, a resposta neural é menor (pela maior taxa de inibição), em

relação às faixas claras em que a região inibitória do campo receptivo é menos estimulada.

Resulta-se daí menor luminosidade nestas intersecções e portanto, os pontos pretos.

Efeito de Craik-Cornsweet

Se há uma mudança abrupta de cor entre duas formas, há a melhor percepção desta

forma, por outro lado, caso seja uma mudança mais difusa, menos abrupta e mais gradiente, há

uma menor percepção da mesma. Esse efeito insere um gradiente mais claro “contornando” um

formato, o que resulta na ilusão de que a forma “contornada” é de uma intensidade luminosa

quando na verdade não é. Segundo esse esquema, as células se excitam quase exatamente como
no processo de inibição temporal excetuado de que quando a célula ganglionar passa a ser

completamente excitada, atividades a níveis corticais interferem provocando uma maior

influência do campo receptivo inibitório.

Frequência Espacial

Pode ser descrita de maneira bastante similar à frequência temporal, enquanto a primeira

estipula a presença de algum estímulo em função do espaço, a segunda irá tratar da quantidade

presente de uma estimulação em função do tempo.

Acuidade Visual

É considerada como a sensibilidade de discriminar detalhes sob condições de um 1° a seis

metros de distância.

Resumo da Aula do dia 29/05

Percepção de Movimento

Dois sistemas são importantes para a detecção de movimento, o sistema imagem-retina e

o sistema olhos-cabeça, no primeiro tem-se a estimulação eficaz para a percepção do movimento

é a estimulação sucessiva de receptores retinianos adjacentes, o olho é mantido parado e uma

série de imagens produzidas por um estímulo de movimento se desloca pela retina, já no segundo

mesmo que nós mexamos a cabeça, a imagem que vemos permanece estável através de

movimentos oculares precisos que buscam compensar os movimentos do alvo.

A percepção de movimento depende de mudanças de luminância no espaço e no tempo

que são captadas por detectores fisiológicos. Uma importante evidência dos mecanismos que

atuam na percepção de movimento é o pós-efeito de movimento, os fenômenos de pós-efeito

podem acontecer pela adaptação ou fadiga da região retiniana a tornando menos responsiva e
podendo ocasionar distorções na percepção de outros estímulos, da mesma forma uma exposição

prolongada a um objeto em movimento leva à adaptação e uma gradual diminuição da da

velocidade percebida. Exemplo: ilusão da queda d'água.

Outras ilusões de movimento que podem acontecer são as de movimento aparente como o

phi fenômeno, descrita por cientista da gestalt Max Wertheimer, em dois pontos luminosos

separados acendem e apagam alternadamente. Nesse caso, há o efeito do intervalo entre os

estímulos que não resulta em movimento aparente quando for curto ou longo, apenas quando

tiver duração intermediária. Também percebemos com certas rapidez e facilidade movimentos

que sejam análogos a movimentos de seres humanos e outros animais, o que faz sentido do ponto

de vista evolutivo. O movimento induzido é outra ilusão perceptual em que se percebe objetos

estáticos em movimento e pode ser induzido pelo movimento de outros estímulos, nesse caso há

um movimento físico de um dos estímulos, mas esse é atribuído perceptualmente ao estímulo

errado.

Percepção de Formas e Objetos

Para que possamos perceber formas, o fundamental é que detectemos contornos e bordas,

ou seja, o sistema visual precisa detectar onde ocorrem mudanças bruscas de luminância e/ou

cromaticidade na área para onde se está olhando. O sistema visual utiliza-se de movimentos

microssacádicos, minúsculos e inconscientes, para causar mudanças de luminância sobre a retina,

assim, os olhos nunca param de se mover, mesmo quando estão aparentemente fixos em um

objeto. Caso não sejamos capazes de perceber mudanças de luminância no campo visual por um

longo período de tempo, a visão de estímulos se torna impossível, como ocorre no efeito

Ganzfeld. O campo Ganzfeld, é um campo de brilho uniforme e completamente sem textura que

tem como consequência perceptual um ambiente sem orientação, desestruturado e ambíguo.


Nós percebemos figura e fundo de acordo com suas propriedades físicas diferentes e com

base em outros fatores como possuir forma definida e bastante nítida, entre dois campos

homogêneos de cores diferentes o campo maior tende a ser considerado como fundo e o menor

como figura, principalmente se o primeiro o envolver. A relação figura-fundo pode também ser

ambígua quando os campos se configuram de forma em que nenhum envolve o outro e têm em

comum o mesmo contorno, é a atenção que seleciona o que é figura e o que é fundo nesses

casos.

Há diversas abordagens teóricas em percepção de forma, duas delas são a abordagem do

Estruturalismo de Tichnner (1914) e a Gestalt de Wertheimer, Koller e Kofka (1924). Para o

estruturalismo, a percepção de forma seria a soma de “sensações”, já para a Gestalt, a percepção

de forma é regida por princípios de organização e não pela simples “soma de elementos”, tais

princípios de organização perceptual são: proximidade; similaridade; boa continuidade; a Lei do

Fechamento e a Lei da Pregnância (regularidade, simplicidade e simetria).

Alguns elementos são essenciais para o reconhecimento de objetos

O reconhecimento de objetos depende dos princípios de organização perceptual e encontra

evidências neurofisiológicas além de ser um processo cognitivo (aprendizagem). Existem

diversos modelos dedicados a explicação do reconhecimento de objetos, entre eles o modelo de

Treinsman (1986) que compreende a descrição da segmentação (essencial para o reconhecimento

de objetos, pois preserva elementos fundamentais destes) e o modelo de Bierdeman (1987) que

compreende a noção dos Geons.

A percepção e reconhecimento de faces é outro tema importante em vista de seu papel

fundamental no comportamento social humano relacionado à: identificação, gênero, idade,

atratividade, emoção e comunicação. No entanto, quando uma face é uma face? Para
reconhecermos um estímulo como face, ele deve obedecer certa configuração, os elementos

isolados não são capazes de definir o que é uma face, isso depende do tipo de processamento que

estiver sendo feito no momento da identificação, se este é global ou local.

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