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Escatologia

Prof. Itamir Neves


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ESCATOLOGIA

a doutrina das
últimas coisas

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I – O ENSINO ESCATOLÓGICO DE JESUS

1. Preliminares
A. O que é reino?
B. É a vida eterna? É a atitude de coração? É a Igreja? É o plano de Deus
sendo cumprido?
C. Quando estamos pedindo "venha o teu reino" estamos pedindo a volta de
Jesus?

2. Conceitos do Reino
A. Teocêntrico - É Deus no centro. A nação só age através da ordem de Deus.
B. Dinâmico - É quando o reino está crescendo. Envolve nossa participação.
C. Térreo - É geográfico. Isto acontecerá quando Jesus voltar.
D. Ético - É o reinado de Jesus em nossos corações. Jesus é nosso Rei. Nossa
conduta é diferente da do mundo.

3. O Sermão Escatológico
A. O Contexto do Sermão
A.1. Aconteceu na tarde de terça-feira
A.2. Jesus e seus discípulos sentados no Monte das Oliveiras olhando para
Jerusalém e o templo.

B. O Diálogo entre Jesus e os discípulos


B.1. Os discípulos (admirados e.empolgados) mostram a Jesus a construção
do templo.
B.2. Jesus respondeu que tudo aquilo será destruído

C. As Perguntas dos Discípulos


Diante da resposta de Jesus os discípulos fazem duas ou três perguntas:
C.1. Quando sucederão estas coisas?
C.2. Que sinal haverá da tua vinda?
C.3. Que sinal haverá da consumação dos séculos?

D. A Resposta de Jesus
Ao responder estas questões, Jesus não as separou, entretanto na sua
resposta podemos ver algumas divisões:
D.1. O contexto mundial
Assim como nos dias de Noé
D.2. Os sinais
a) Falsos cristos - v.5; b) Notícias (rumores) de guerras - v.6; c) Nação contra
nação; d) Reino contra reino; e) Fome; f) Terremotos - v.7; g) Tribulação,
perseguição, açoites, entrega às sinagogas, aos sinédrios, aos governadores;
h) Morte; i) Ódio contra os cristãos - v.9; j) Escândalos - v.10; l) Traição e ódio
mútuos - entre familiares; m) Multiplicação da iniquidade; n) Falsos profetas -
v.11; o) Coisas espantosas - grandes sinais nos céus; p)14 - Desmaios por
terror da expectativa; 15 q) - O evangelho será pregado por todo mundo.
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D.3. A nossa atitude
a) não devemos ser enganados; b) não devemos nos assustar; c) não devemos
nos preocupar com o que falar - Lc 21.14-15; d) devemos estar atentos
(vamos ser entregues) - v.16; e) devemos vigiar e orar continuamente; f)
devemos perseverar ate o fim - veja a recomendação de Lc 21.34-36; g)
devemos exultar e erguer nossas cabeças porque a nossa redenção está
próxima - Lc 21.28.

D.4. As promessas
a) Esses dias serão abreviados por causa dos escolhidos;
b) O Espírito Santo nos dará palavras para o testemunho quando formos
exigidos

D.5. A data histórica


É necessário interpretar corretamente essas palavras de Jesus: "em verdade
vos digo que não passara esta geração sem que tudo isto aconteça" - Mt 24.34.
a) Já ocorreu com os judeus no ano 70 dC. quando Jerusalém e o templo
foram destruídos pelos romanos sob o comando de Tito. (Tasker, R.V.G. -
Mateus Intr.e Comentário, pg. 179) diz que milhares de judeus foram mortos
(vários crucificados) naquela terrível ocasião. Outros afirmam que muitos
cristãos por se lembrarem das palavras de Jesus, fugiram para Pela salvando-
se daqueles dias horríveis.
b) Ocorrerá após a volta de Israel Rara Palestina (terra prometida); o que
ocorreu em 1948; alguns concluíram que esse acontecimento desencadearia
outros que deveriam ocorrer por volta de 1985 (Champlin, Russell Norman, O
NTI vr. por vr., Vl.I, pg. 555).

E. A vinda de Jesus
É possível notar-se nos textos dos evangelhos alguns sinais específicos:
E.1. Sinais
a) O sol escurecerá Mt 24.29;
b) A lua não dará sua claridade Mt 24.29;
c) As estrelas cairão Mt 24.29;
d) Haverá perplexidade por causa do bramido do mar Lc 21.25;
e) Os homens desmaiarão de terror pelo que poderá acontecer Lc 21.26

E.2. Manifestações
a) Será como um relâmpago, que corre do oriente até o ocidente Mt 24.27
b)Todos os povos verão a Jesus Mt 24.30
c)Todos os povos se lamentarão Mt 24.30
d) Jesus virá sobre as nuvens, assim como subiu - Mt 24.30; At 1.9-11

E.3. Como será


Com grande poder e muita glória - Mt 24.30; Lc 21.27
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II – ESCATOLOGIA GERAL

DEFINIÇÃO

Escatologia é o capítulo da teologia que estuda as últimas coisas. Escatologia é o


estudo das questões ligadas à consumação da história, à complementação da obra
de Deus no mundo.

DIFERENCIAÇÃO ENTRE AS ESCATOLOGIAS

É importante distinguirmos entre a escatologia individual e a escatologia cósmica,


que são as experiências que se colocam, uma no futuro do indivíduo e, outra, no
futuro da raça humana e de toda a criação.
Em relação a escatologia individual esta ocorrerá a cada indivíduo na hora da sua
morte. Em relação a escatologia cósmica esta ocorrerá a todas as pessoas,
simultaneamente, em conseqüência dos eventos cósmicos, decorrentes da
segunda vinda de Cristo.

IMPORTÂNCIA

O estudo da escatologia reveste-se de importância nesses últimos anos, em


primeiro lugar, devido ao desenvolvimento da tecnologia, das conseqüentes
mudanças em nossa cultura e da realidade da globalização. Diante das profundas
mudanças, os homens, as empresas e os órgãos públicos necessitam prever o
futuro e se prepararem para ele. Assim, a curiosidade quanto ao futuro traz um
interesse crescente em todos os sentidos, inclusive no sentido cósmico.
Mas além dessa, outras causas podem ser apontadas para o crescente interesse
pela escatologia:
2 – o desenvolvimento do Terceiro Mundo e sua rápida evangelização; 3 – a força
do comunismo, sua dialética materialista e sua queda no final do século frustraram
a expectativa que se tinha ao apontá-lo como a esperança mundial de um futuro
melhor; 4 – algumas escolas de psicologia, que misturam existencialismo e
psicanálise, passaram a salientar a esperança como a razão pela qual alguns
homens conseguem viver em condições de suportar todas as situações que a vida
lhes apresenta, destacando-se nesse sentido a logoterapia; e, por fim, 5 – a
ameaça de destruição que constantemente ameaça a raça humana diante do
arsenal atômico que se tem espalhado não apenas pelas grandes potências mas
por nações sobre as quais não se têm nenhuma segurança.
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TENDÊNCIAS

Dentro do universo teológico e ministerial observamos duas tendências que


contrastam entre si: 1 – a “escatomania”, que subdivide-se em dois grupos:
daqueles que estão com a Bíblia numa das mãos e os jornais na outra sempre
vendo, observando e interpretando todos os acontecimentos, principalmente aos
que se referem a Israel, como “sinais dos tempos”, e os que fizeram da
escatologia toda a sua teologia. Mas, contrastando com essa tendência,
encontramos a: 2 – “escatofobia”, que se define como um medo da escatologia,
uma aversão a ela ou, pelo menos, uma recusa em tratar do assunto, mas
certamente um reflexo da dificuldade e obscuridade de muitas de suas questões.

PROPÓSITO

Devemos nos posicionar em algum ponto entre esses dois extremos e


encararmos a escatologia com uma postura madura. Conseguiremos isso se
entendermos que o propósito das verdades escatológicas na Palavra de Deus
é nos consolar e nos dar segurança, como vemos em 1 Ts.4.13 e 18.

IMPLICAÇÕES DO ESTUDO DA ESCATOLOGIA

Além de outras, as verdades sobre o estudo da escatologia apontam para essas


implicações: 1 – estudo sério das Escrituras com o propósito de perceber os
acontecimentos em nossos dias, com a finalidade de discernirmos a obra de Deus
sem sermos enganados; 2 – vigilância e prontidão na expectativa do futuro; 3 –
diligência nas atividades que Jesus nos prescreveu; 4 – cuidado com a confiança
desmedida por entendermos que conseguimos conhecer todas as coisas relativas
ao fim; e, 5 – cuidado com a predição dogmática quanto à ocorrência de certos
eventos escatológicos

DIRETRIZES PRÁTICAS

É importante, depois do estudo desse tema, termos convicção sobre alguns


pontos básicos: 1 – certeza da segunda vinda de Cristo; 2 – certeza da vida após a
morte; 3 – descoberta do significado espiritual do estudo desse tema; 4 –
descoberta de aplicações práticas para os princípios aprendidos; e, 5 –
preocupação séria e constante com a pureza e santificação em nossas vidas.
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III – A MORTE

A REALIDADE DA MORTE

1 – Um fato inegável no futuro de todos as pessoas é a sua morte. A Bíblia diz em


Hb. 9.27 que: “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois
disto o juízo”.

2 – Essa verdade fica evidente em textos como o capítulo 15 de 1 Coríntios, onde


aprendemos sobre a universalidade da morte quando Paulo afirma a verdade da
ressurreição de Cristo, e, apesar de no final do capítulo (v.54 e 56) dizer que a
morte foi derrotada e seu aguilhão foi removido pela ressurreição, de forma
alguma ele insinua que não iremos morrer. Ainda alguns outros textos, em Paulo,
nos ajudam a perceber que o próprio apóstolo espera a sua morte ( 2 Co.5.1-10;
Fp.1.19-26; 2 Tm.4.6-8).

3 – Embora seja essa uma dura realidade que os homens tentam amenizar com
palavras como “descansar”, “dormir”, e com cemitérios ajardinados, o cristão
deve encarar a morte de uma maneira firme. É Paulo, outra vez, que reconhece a
realidade da morte, presente no mundo: “Porque nos, que vivemos, somos
sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus
se manifeste em nossa carne mortal. De modo que, em nós, opera a morte, mas,
em vós, a vida” (2Co. 4.11-12).

Portanto, embora seja essa uma dura verdade, que alguns de nós não gostam de
lembrar ou pensar, a morte é real e todos nós a enfrentaremos.

A NATUREZA DA MORTE

1 – A morte física, ou seja, o cessar da vida em nosso corpo físico é claramente


afirmada nas Escrituras e deve ser entendida como a “separação do corpo e da
alma (ou espírito)”. Morte física é portanto o cessar da vida em seu estado
corpóreo. Passagens como Ec. 12.7; Mt. 10.28; Jo. 13.37-38; Tg. 2.26 são textos
que comprovam a morte física.
Mas, não podemos entender a morte física como a não existência, a extinção ou o
aniquilamento. A morte física deve ser entendida como uma transição para um
outro estado de existência.

2 – A Bíblia, além de falar na morte física, fala também da morte espiritual. Um


estado de separação entre o homem e Deus, provocado pelo pecado humano. A
morte espiritual é a separação entre o ser humano e Deus. A morte espiritual
refere-se a um estado pecaminoso, onde a pessoa não é capaz de reagir a
questões espirituais e é totalmente insensível às questões espirituais. Essa é a
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descrição do homem “morto em seus delitos e pecados” que Paulo tão bem nos
mostra em Ef. 2.1-3.
3 – A morte eterna, também apresentada como 2ª morte, em Ap.21.8, é a
concretização desse estado de separação. Essa segunda morte é algo separado
da morte física normal e subseqüente a ela. A morte eterna ou segunda morte é
um período infinito de punição e separação da presença de Deus, a concretização
do estado de perdição do indivíduo que estiver espiritualmente morto no momento
da sua morte física. Portanto, podemos afirmar com segurança que os
verdadeiros cristãos não passarão por esta segunda morte porque: “bem
aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; pois sobre
esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de
Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos” (Ap.20.6).

A MORTE FÍSICA NÃO ERA NATURAL

Devemos entender que a morte física não fazia parte da condição humana
original. Mas é verdade também que a morte sempre esteve presente como uma
ameaça, caso o ser humano pecasse (Gn.2.17 e 3.3). Tanto isso é verdade que o
ser humano foi expulso do Jardim do Éden, para que não comesse da árvore da
vida e vivesse eternamente, sendo pecador (Gn.3.22-23). Quando Paulo se refere
à morte, em 1 Coríntios 15, ele certamente se refere à morte física: “visto que a
morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos
mortos” (v.21), demonstrando que a morte física, sendo conseqüência do pecado
humano, é um dos males vencidos pela ressurreição de Cristo.
Mas, como viveria e como deixaria de viver o ser humano se não tivesse pecado,
a Bíblia não nos esclarece, mencionando apenas que sem pecado o homem
poderia se alimentar da árvore da vida (Gn.2.16), mas, exatamente por terem
pecado, homem e mulher foram expulsos do Éden (Gn. 3.23).

OS EFEITOS DA MORTE

1 – Para o descrente a morte é uma maldição, uma penalidade, um inimigo, pois


embora não traga a extinção, traz a eterna separação entre o homem e Deus.

2 – Para o cristão, para os que crêem em Cristo e foram justificados, a morte


possui um caráter de bênção e de glorificação. Cristo se fez maldição (Gl.3.13) para
os crentes e, assim, mesmo sujeitos à morte física, a morte não lhes é mais
maldição (1 Co.15.54-57).

3 – Mas, pergunta-se ainda: por que se exige que o crente passe pela morte? Se
a morte física e a espiritual foram conseqüências do pecado, tendo sido
perdoados, por que é necessária a morte física? A resposta a esta questão nos
leva a perceber que temos que distinguir entre as conseqüências temporais e
eternas do nosso pecado. A conseqüência eterna pelo pecado foi anulada, pelo
maravilhoso sacrifício de Cristo, ao morrer por nós. Mas as conseqüências
temporais do pecado podem persistir, mostrando que Deus não muda o curso da
história.
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A Bíblia afirma a realidade universal da morte, mas insiste em que ela possui
significados diferentes para o crente (bênção) e o descrente (maldição)!

IV – O ESTADO INTERMEDIÁRIO

DEFINIÇÃO

A doutrina do estado intermediário refere-se à condição dos homens, entre a morte


e a ressurreição. A pergunta que surge é: Qual a condição do indivíduo durante
esse período?

A IMPORTÂNCIA DO ASSUNTO

Ao mesmo tempo em que esse assunto é significativo é tremendamente


problemático. Mas, sem dúvida é real.
Perguntas que se ouvem durante os funerais ou nas proximidades dos túmulos,
podem transmitir a realidade e a pertinência do assunto. Essas perguntas são
assim apresentadas: Onde a vovó está agora? Ela já está com Jesus? Será que ela
já se encontrou com o vovô? Eles sabem o que nós estamos fazendo? Essas
questões mostram a necessidade do ser humano saber o que acontece logo após
a morte.
Durante os primeiros momentos de luto, a Bíblia indica que devemos ministrar,
consolando-nos uns aos outros, mas existem duas razões pelas quais muitos
cristãos não ministram efetivamente: 1 – em primeiro lugar, devido a escassez de
referências bíblicas, quanto ao estado intermediário, muitos não se aventuram a
responder tais questões; 2 – em segundo lugar, devido a diversidade de
interpretações relativas ao estado intermediário, muitos não se sentem
confortáveis em assumir uma posição bem clara.

A PROBLEMÁTICA DO TEMA

1 – Os ortodoxos sustentam algum tipo de dualismo, crendo que o homem é


composto de corpo e alma (ou espírito), crêem também que uma parte do homem
sobrevive à morte. Os ortodoxos sustentam tanto a imortalidade da alma como a
ressurreição do corpo.

2 – Os liberais rejeitam a idéia da ressurreição do corpo, e substituem-na pela


imortalidade da alma. Sustentando essa posição descriam também da segunda
vinda corpórea de Jesus Cristo.

3 – Os neo-ortodoxos afirmam que a esperança quanto ao futuro está na


expectativa de uma ressurreição do corpo, sendo que por trás desta idéia estava o
conceito monístico do ser humano como uma unidade radical – não existindo uma
parte, mesmo que espiritual, que possa sobreviver separada do corpo.

Assim essas posições se tornam excludentes, isto é, ou “uma ou outra”, e, nunca


“uma e outra”.
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CONCEITOS A RESPEITO DO ESTADO INTERMEDIÁRIO

O SONO DA ALMA

Essa é uma idéia bem popular e consiste em afirmar que a alma durante o período
entre a morte e a ressurreição, repousa num estado de inconsciência.

Um extremo dentro dessa posição vem da posição adventista, que afirma que a
pessoa não dorme quando morte, mas de fato deixa completamente de existir e
nada daquele ser sobrevive.

A base bíblica que usam para tais afirmações está em Jo. 11.11 e 14; At. 7.60;
13.36; 1 Co. 15.6, 18, 20, 51; 1 Ts.4.13-15; todas passagens interpretadas
literalmente.

Essa posição, que afirma que o homem sendo uma entidade unitária, sem
componentes, deixa de existir quando o corpo deixa de funcionar, embora
atraente, tem problemas para os quais não tem solução. 1 – Existem referências
bíblicas claras a respeito da existência pessoal, consciente entre a morte e a
ressurreição. Dois textos em Lucas, combatem esse conceito: A parábola do rico e
de Lázaro (Lc.16.19-31), a palavra de Jesus ao ladrão que com Ele estava
crucificado (Lc.23.43), e, a própria palavra de Jesus, referindo-Se a Si mesmo
(Lc.23.46). 2 – A maneira de interpretar-se as passagens bíblicas que lhe servem
como base para suas afirmações não devem ser interpretadas literalmente, pois
são simplesmente um “eufemismo” em relação ao término da vida. Se
“adormecer” ou “dormir” não são figuras de linguagem, então isso precisa ser
provado. 3 – Se, como afirmam, nada a pessoa sobrevive à morte, qual será a
base da nossa identidade? Se a alma, a pessoa inteira, fica extinta, como haverá
ressurreição? Como é possível que as mesmas moléculas se juntem para formar
uma pessoa que já não existe?
Pela inconsistência do argumento, e pelos problemas acima apresentados, para
os quais não se têm solução, a teoria do sono da alma deve ser rejeitada por ser
inadequada.
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O PURGATÓRIO

É uma doutrina essencialmente católica romana. Diz respeito a idéia de que logo
após a morte, é determinada a condição eterna do indivíduo. E assim: 1 – os que
morrem em estado de impiedade vão diretamente para o inferno, onde percebem
de imediato que estão irremediavelmente perdidos. 2 – os que morrem num
estado perfeito de graça e penitência, os que estavam completamente purificados
no momento da morte vão direta e imediatamente para o céu. E, 3 – aqueles que
morrem, embora em estado de graça, mas espiritualmente não são perfeitos, vão
para o purgatório. O purgatório é um estado de punição temporária, para estes
que, deixando a vida na graça, ainda não estão livres dos pecados ou ainda não
pagaram tudo o que deviam pelas suas transgressões.
Existem 3 recursos pelos quais as almas no purgatório podem ser ajudadas, pelos
que ainda estão na terra, em seu progresso rumo ao céu: missa, orações e boas
obras. Assim quando essas almas chegam a um estado de perfeição, não
restando nenhum débito elas são liberadas e passam para o céu.

A base bíblica que é usada para comprovar essa doutrina é 2 Macabeus 12.43-45,
Mateus 12.32, quando Jesus afirma que se alguém falar contra o Espírito Santo,
“não lhe será isso perdoado, nem neste mundo, nem no porvir” , e ainda 1
Coríntios 3.15.

Rejeitamos essa teoria, pois sua base bíblica maios importante está num texto
apócrifo, não aceito como Escritura inspirada, e, a interpretação de Mt. 12.32 é um
tanto forçada, pois o versículo não indica de modo algum que alguns pecados
serão perdoados na vida futura. Rejeitamos também esta teoria, pois sua
afirmação implica em salvação pelas obras, sendo que os homens poderiam fazer
expiação, pelo menos parcial pelos pecados, o que é completamente contrário ao
evangelho da graça, conforme Gl.3.1-14 e Ef. 2. 8-9.

A RESSURREIÇÃO INSTANTÂNEA

Essa doutrina afirma, que logo após a morte, o crente recebe o corpo ressurreto.
Baseados em 1 Co. 15 e 2 Co 5, os que apoiam essa posição dizem que Paulo
evoluiu, entendendo que em 2 Co. o apóstolo já não cria no estado intermediário,
mas sim que por ocasião da morte, haveria uma transição imediata para o estado
final, uma recepção instantânea do corpo celestial. Refuta-se essa posição com os
textos paulinos de Fl.3.20-21 e 1 Ts.4.16-17, sendo que em outros textos vê-se
uma ênfase na segunda vinda como ocasião do livramento e glorificação (Rm. 2.3-
16; 1 Co. 4.5; 1 Ts. 1.5 – 2.12; 2Tm 4.8), isto é, Paulo associa a transformação do
nosso corpo a uma ressurreição futura, juntamente com a segunda vinda.
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UMA POSSÍVEL SOLUÇÃO

Existe alguma maneira de se resolver os problemas relativos ao estado


intermediário? Existe a possibilidade de harmonizar o ensino bíblico sobre a
ressurreição do corpo e a sobrevivência consciente entre a morte e a ressurreição?
Na elaboração de resposta para tais questões é necessário fazermos algumas
considerações:
1 – Há indicações de que os justos, ao morrerem, não descem ao Hades
(Mt.16.18-19; At.2.31[Sl.16.10]).
2 – Há indicações que os justos, ou pelo menos a alma deles, são recebidos
imediatamente no paraíso, após a morte (Lc.16.19-31; 23.43)
3 – Para Paulo, estar ausente do corpo eqüivale a estar na presença do Senhor (2
Co.5.1-10, Fl.1.19-26).

Diante disso, podemos concluir que, na morte, os crentes vão de imediato para
um lugar e um estado de bem-aventurança, enquanto os incrédulos passam a
experimentar dor, tormento e punição em lugar determinado a eles.

As experiências do paraíso e do hades sem dúvida não serão totais, como serão
no final, uma vez que a pessoa estará ainda numa condição incompleta.
E, assim, diante disso, podemos concluir que o estado intermediário
desencarnado, apresentado pelo ensino bíblico é filosoficamente plausível.

IMPLICAÇÕES PRATICAS DAS DOUTRINAS


DA MORTE E DO ESTADO INTERMEDIÁRIO

1 – A menos que estejamos vivos por ocasião da volta de Cristo, a morte deve ser
esperada por todos, crentes e incrédulos. Devemos viver de acordo com essa
realidade.

2 – Embora a morte seja um inimigo, ela já foi vencida por Cristo, portanto não
precisamos temê-la. Podemos enfrentá-la em paz, pois sabemos que agora ela
obedece aos propósitos de Deus, o propósito de chamar para si os que nEle
depositam fé.

3 – Entre a morte e a ressurreição, há um estado intermediário em que crentes e


incrédulos experimentam, respectivamente, a presença e a ausência de Deus.
Embora essas experiências sejam menos intensas que nos estados finais, são
iguais quanto à natureza qualitativa.

4 – Tanto nesta vida como na vida futura, a base do relacionamento do crente


com Deus é a graça, não as obras.

5 – O cristão verdadeiro não precisa temer, que as suas imperfeições venham a


exigir algum tipo de “purgação” após a morte, antes de poder entrar na plena
presença de Deus!
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V – POSIÇÕES ESCATOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS

1. Escatologia Consistente - Schweitzer, Albert (1875-1965)


Ensinou que devemos entender as palavras de Jesus e dos apóstolos com o
sentido que eles mesmos queriam comunicar, ao invés de espiritualizarmos os
ditos escatológicos.
Entretanto, concluiu que Jesus foi um Messias iludido pois o que previra não
ocorreu.

2. Escatologia Realizada - Dodd, Charles H. (1884-1973)


Afirmou que os ensinos escatológicos do NT já, se realizaram após a vinda e a
exaltação de Jesus. As promessas sobre o fim já foram cumpridas na época de
Jesus.

3. Escatologia Existencial - Bultmann, Rudolf- (1884-1976)


A escatologia está colocada dentro do arcabouço da mitologia em geral.
Por isso o mito escatológico deve ser demitizado, ou reinterpretado,
procurando-se assim entender ,o mito em termos do significado existencial,
mais do que literal.

4. Escatologia da Esperança (Moltmann, Jürgem (1926- )


Encarou a escatologia não como uma principal doutrina de fé cristã, mas como
sendo a totalidade da teologia. Concluiu que o cristão é alguém que espera o
futuro de Deus e a libertação final do mundo. Porém não se pode esperar
passivamente esse futuro, deve-se buscá-lo, trazendo-o para o presente.
Deixa entretanto em aberto questões como o que se deve fazer para trazer
esse futuro para o presente.
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5. Conceitos Milenistas (considerações iniciais)

A. Amilenistas
"Não haverá um reino terrestre de Cristo de 1000 anos de duração. É
simbolismo". Agostinho (354-430) destacou-se com a interpretação de que
Apocalipse 20 trata do intervalo entre a 1a vinda de Cristo ate o fim do mundo,
quando Ele vier outra vez".

B. Pós-milenismo:
O milênio começará com a divulgação mundial do evangelho e a conversão da
maioria da humanidade. O milênio se trata de um período de paz e segurança
resultante do avanço vitorioso do evangelho pelo mundo todo. Seu início será
imperceptível.

C. Pré-milenismo
Destaca que o milênio é o reinado de Jesus aqui na terra.
Esse período será inaugurado pela 2a vinda de modo dramático ou
cataclísmico.
Uma "grande tribulação" imediatamente anterior precederá o milênio, sendo
que essa fará ressaltar os efeitos do milênio.
Satanás estará preso nesses 1.000 anos.
Perto do fim do milênio Satanás será solto por um breve tempo, haverá uma
luta final violenta, depois ele e seus demônios serão vencidos e lançados no
lago de fogo preparado para eles.
Ocorrerá ressurreição dos cristãos, para reinarem com Cristo no milênio, e
ressurreição dos ímpios para o julgamento (Ap 20.4-6).
Esses são os pontos comuns dos premilenistas. Entretanto nos detalhes que
se relacionam aos conceitos tribulacionistas existem algumas diferenças.
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6. Conceitos Tribulacionistas (considerações iniciais)

A. Pré-tribulacionismo

É a posição que dá mais atenção aos pormenores da escatologia, quando


comparada com os demais conceitos milenistas.

É considerada como sinônimo do dispensacionalismo (que na verdade é um


sistema teológico-hermenêutico de entendimento das Escrituras, do qual a
escatologia é apenas uma parte). Todos os dispensacionalistas são pré-
tribulacionistas, mas nem todos pré-tribulacionistas são dispensacionalistas.

Essa tribulação será de tal maneira, que não há precedentes na história da


Igreja.

A tribulação tem o propósito definido e duplo: a) "termino do tempo dos


gentios" (Lc 21.24); b) "preparo para a restauração e reunião de Israel ao reino
milenar de Cristo após o 2o advento.

O arrebatamento da Igreja será antes da grande tribulação (de 7 anos)

Dois acontecimentos ocorrerão:

a) os santos que estiverem com vida serão "trasladados";


b) os crentes que morreram em Cristo serão ressuscitados para acompanhar
os vivos para o encontro com o Senhor nos ares e um período com Ele nos
céus (onde ocorrerá o julgamento tribunal de Cristo dos crentes da "era da
Igreja").

Terminado esse período, Jesus voltará com a Igreja em triunfo. Isso será
visível a todos. Será acompanhada da 2a ressurreição (dos crentes que
morreram durante a tribulação) e assim o milênio será instaurado e no fim dele
ocorrerá:
a) soltura por breve tempo de Satanás e rebelião e a vitória de Cristo sobre
Satanás e rebeldes;
b) ressurreição (3a) dos ímpios para o tribunal do trono branco e eternidade .

Uma doutrina importante do pré-tribulacionismo é a da iminência - a volta de


Cristo pode ocorrer a qualquer momento. Isso porque o arrebatamento será
antes da grande tribulação
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B. Pós-tribulacionismo

O aspecto principal dessa posição é a afirmação de que a Igreja passará pela


tribulação, suportando-a pela graça e força de Deus. Depois desse grande e
terrível período é que Cristo voltará.

Segundo essa posição há distinção entre tribulação e a ira de Deus. A tribulação


será imposta pelos não cristãos e pelo diabo a toda Igreja que estiver viva
sobre a terra na ocasião. A ira da Deus coincidirá em parte com a tribulação,
mas será dirigida somente contra os ímpios; os santos de Deus serão
poupados dela.

No fim da tribulação, Cristo voltará, haverá a 1a ressurreição, dos justos, o


encontro com o Senhor nos ares e imediatamente eles O acompanharão na
Sua descida triunfante para a instalação do milênio onde reinarão com Cristo.
O texto de 1Ts 4.17 usa a mesma palavra que Mt 25.6 - que explica que o
encontro se dá para que possam acompanhar aquele que vem vindo para
determinado local e, não para que fossem para um 1ocal diferente. Esse é o
uso que Lucas também faz em At 28.15-16. Com isso elimina-se a vinda de
Jesus até os ares, a Sua volta até o céu (com os santos) e de novo a Sua vinda
para o milênio terrestre.

Após o milênio, durante um breve tempo ocorrerá a libertação de Satanás (que


estava preso por 1.000 anos) o qual promoverá uma derradeira e desesperada
luta, onde entretanto será definitivamente subjugado.

Ocorrerá a 2a ressurreição, dos ímpios, para o julgamento do trono branco e


por fim a eternidade.
No esquema pós-tribulacionista, há sinais de indicação da proximidade da
vinda do Senhor (cita-se em especial a grande tribulação).

Assim, apesar de esperar-se pela fixação de datas, o que ocorre é exatamente


o contrário, visto que nessa posição não se é taxativo em marcar-se por
exemplo o tempo da tribulação (em exatamente 7 anos e outros detalhes
literais como querem os pré-tribulacionistas).
Portanto a idéia da iminência também é afetada: não se afirma que a seqüência
de eventos que inclui a vinda de Cristo está muito provavelmente próxima. O
complexo de eventos é iminente e não apenas um evento (2a vinda). O pós-
tribulacionismo tem como esperança não o livramento da tribulação futura, mas
sim a própria 2a vinda do Senhor.
Outro detalhe da interpretação é quanto aos eleitos presentes no meio da
tribulação: eles são a Igreja e não só os judeus eleitos. Desse detalhe surge
outro aspecto: não se faz grande diferença entre a Igreja e Israel, embora este
venha ocupar possivelmente um lugar especial no futuro.
Crêem também os pós-tribulacionistas na presença do Espírito Santo junto com
a Igreja na tribulação, para confortá-la e orientá-la, no seu testemunho (conf.
Mc 13.11).
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C. Posições intermediárias

a) Mid-tribulacionista - Buswell, Harrison,


A Igreja passa pela 1a parte da tribulação (grande tribulação, ou 7 anos, ou a
70a semana de Daniel). A igreja estará presente durante a tribulação, mas é
removida antes do derramamento da ira de Deus (3 anos e meio).

b) O arrebatamento parcial - Govett, Lene,


A ida para o céu é um galardão para a fidelidade e a vigilância.
Nem todos os crentes serão arrebatados ao mesmo tempo. Aqueles que são
fiéis e vigilantes serão levados antes dos outros, isto é, antes da tribulação.
Haverá também uma ressurreição parcial dos crentes, em base semelhante ao
arrebatamento.

c) Pós-tribulacionismo iminente - Payne,


A vinda de Cristo poderá ser tão rápida que não dará nenhum aviso prévio nem
oportunidade para fazer-se preparativos.
A grande tribulação, talvez não dure muito tempo: ao passo que os ocidentais
tendem. a ver a tribulação com necessariamente distante, os cristãos que são
perseguidos certamente a vêem de mm modo bem diferente. Portanto ela já
pode ter chegado sobre nós.
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VI – A SEGUNDA VINDA

DEFINIÇÃO DO EVENTO

Exceto pela certeza de que todos homens morrem, a doutrina escatológica sobre
a qual os teólogos mais concordam é a que se refere à segunda vinda de Cristo.
A segunda vinda é a base da esperança cristã, o evento que marcará o início da
complementação do plano de Deus.
O próprio Senhor Jesus declarou sobre a sua volta, em Jo.14.3, durante a ceia,
com os discípulos: “E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos
receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também”.
Além de ser uma das doutrinas ensinadas de modo amplo por todo o Novo
Testamento, o ensino referente ao segundo advento traz em seu bojo a
expectativa messiânica, que era presente entre os judeus dos tempos de Jesus,
de que com a presença do Messias, um novo tempo, de paz, de segurança, de
bênçãos e de justiça seria inaugurado. Esse novo tempo traria uma condenação
aos injustos e a concretização das promessas aos que foram justificados pela fé.

A INDEFINIÇÃO DO TEMPO DO EVENTO

Embora haja clareza na afirmação de que Jesus voltará, o tempo em que isso
acontecerá não é claro. Deus estabeleceu e definiu este tempo, mas ele não foi
revelado a nós. O próprio Jesus, quando encarnado disse que nem ele nem os
anjos sabiam o tempo do seu retorno (Mc.13.32-33, 35).
O fato de que o tempo do retorno de Jesus não foi revelado explica a insistência
com que Jesus destacando o seu caráter inesperado, insistiu também na
necessidade de vigilância por parte dos cristãos (Mc.13.35; Mt.24.44, 50; 25.13)

O CARÁTER DA SEGUNDA VINDA

1 – Ela será pessoal, isto é, o retorno de Jesus será tão pessoal em sua natureza,
quanto foi a sua partida (1 Ts.4.16).

2 – Ela será física, isto é, embora seja verdade que o significado básico de
“parousia” seja “presença”, a palavra também significa “vinda” e é esse o
significa mais proeminente no NT (At. 1.11).

3 – Ela será visível, isto é, Jesus voltará em seu corpo glorificado, plenamente
visível e identificável (Mt.24.30), e não como afirmam os Testemunhas-de-Jeová,
que afirmam que Jesus já voltou em outubro de 1914, mas por não possuir um
corpo visível, não foi percebido e identificado.

4 – Ela será inesperada, isto é, embora seja precedida de vários sinais (grande
tribulação, escurecimento do Sol, e outros sinais de Mt.24), esses sinais não
indicarão o tempo exato da sua segunda vinda. Será como um relâmpago (Mt.
24.27, 36).
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5 – Ela será triunfante e gloriosa, isto é, contrastando com a primeira vinda, em


humildade e simplicidade, na segunda vinda, Cristo “virá nas nuvens, com grande
poder e glória” (Mt.24.30., Mc.13.26, Lc.21.27), acompanhado por anjos e
anunciado pelo arcanjo (1 Ts.4.16) e, se assentará no seu trono glorioso e julgará
todas as nações (Mt.25.31-46).

6 – Ela será única, isto é, ocorrerá uma só vez, embora alguns argumentem que a
vinda de Cristo ocorrerá em duas etapas – no arrebatamento e na revelação.

Esta idéia que Jesus voltará em duas etapas é defendida pelos pré-tribulacionistas
e, a maioria deles é dispensacionalista. Eles crêem numa vinda para os santos
(arrebatamento) e noutra vinda com os santos (revelação) separadas, pela grande
tribulação. Para eles, a segunda vinda será secreta, sendo percebida apenas pela
igreja, que será arrebatada, antes da tribulação. Tal pensamento implica que a
segunda vinda será iminente, portanto, podendo ocorrer a qualquer momento,
visto que não há profecias a serem cumpridas. O arrebatamento livrará a igreja da
agonia da grande tribulação e depois de sete anos, o Senhor voltará mais uma
vez, trazendo a igreja consigo, numa grandiosa chegada triunfal e a partir daí
Cristo será estabelecido em seu reino milenar sobre a terra.

Em contraste com os pré-tribulacionistas, temos os pós-tribulacionistas que crêem


que a segunda vinda acontecerá em único evento. A diferença entre eles ocorre
pois os pré-tribulacionistas associam algumas profecias relativas à volta de Cristo
ao arrebatamento e outras à revelação, enquanto que os pós-tribulacionistas
associam todas as profecias a um único evento.

Esta divisão ocorre diante da interpretação das três mais importantes palavras
gregas que o NT usa para referir-se a segunda vinda: parousia, apokalypsis, e
epiphaneia. Os pré-tribulacionistas afirmam que parousia refere-se ao
arrebatamento – o primeiro estágio do retorno, antes da grande tribulação,
enquanto que apokalypsis e epiphaneia referem-se à revelação, quando Jesus
voltar com os santos, no final da grande tribulação. Mas quando se estuda
profundamente o uso destes termos verifica-se que não se tem base sólida que
haverá dois estágios na segunda vinda de Cristo, mas sendo que os termos são
intercambiáveis, podemos entender que a volta de Cristo será num único evento.

7 – Ela será iminente, isto é, poderá ocorrer a qualquer momento. Essa afirmação
usada principalmente pelos que defendem a vinda de Cristo pré-tribulacional é
baseada em textos como Mt.24, 25; Rm.8.19-25; 1Co.1.7; Fl.4.5; Tt.2.13; Tg.5.8-
9; Jd21. Mas Jesus indicou também, através de pelo menos três parábolas (das
virgens prudentes e néscias {Mt.25.5}, dos talentos {Mt.25.19} e do nobre que
viajou para uma terra distante {Lc.19.11}), que haveria uma demora e que certos
eventos precisavam ocorrer antes de Sua volta, como por exemplo: o evangelho
deveria ser pregado a todas as nações (Mt.24.14). O fato de dizer “vigiai” e “não
sabeis a hora” não entra em conflito com uma demora para certos eventos se
concretizem. É necessário falar da iminência desse complexo de eventos, e da
“natureza independente“ da segunda vinda em si.
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VII – CONCEITOS MILENISTAS E TRIBULACIONISTAS

A grande discussão sobre a cronologia relativa a segunda vinda de Cristo tem por
base duas questões principais:

1 – Haverá um milênio, um reinado de Jesus sobre a terra; e, se houver o milênio,


a segunda vinda ocorrerá antes ou depois desse milênio? Ao se responder que
não haverá milênio, adota-se a posição amilenista, ao se responder que a
segunda vinda de Jesus encerrará o milênio, adota-se a posição pós-milenista, e
ao se responder que a volta de Jesus inaugurará o milênio, adota-se a posição
pré-milenista.

2 – Cristo removerá (arrebatará) a igreja do mundo antes da grande tribulação ou


após a grande tribulação? Lembrando que esta pergunta se faz principalmente
entre os pré-milenistas, ao se responder que o arrebatamento será antes da
grande tribulação, adota-se a posição pré-tribulacionista, e ao se responder que
a segunda vinda de Cristo e o arrebatamento se dará no fim da grande tribulação
adota-se a posição pós-tribulacionista.

Todas essas posições, e ainda outras intermediárias, têm levado os cristãos às


mais diferentes interpretações, portanto é necessário conhecermos alguns
detalhes dessas posições:
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CONCEITOS MILENISTAS

AMILIENISMO

Literalmente, amilenismo é a idéia que não haverá milênio – um reinado de Cristo


sobre a terra. O grande julgamento final acontecerá logo após à segunda vinda e
resultará de imediato no estado final dos justos e dos ímpios. Os amilenistas
dizem que não devemos esperar um cumprimento literal dos eventos descritos em
Apocalipse 20. O número mil (7+3=103) significa o absolutamente completo,
conforme o Dr. B.B. Warfield. Argumentam também que seria irracional pensar
que após a vitória de Jesus e a concretização do seu reino soberano e eterno,
houvesse uma nova oportunidade para Satanás retomar o controle dos incrédulos
ainda existentes para encabeçar uma revolta contra o reino estabelecido do
Senhor. E ainda, de onde se conseguiria os rebeldes? Os amilenistas, portanto,
descartam a possibilidade de um milênio literal. Para os amilenistas o milênio
significa um símbolo da vitória completa de Cristo sobre Satanás e do gozo
perfeito dos santos no céu.
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PÓS-MILENISMO

Esta posição escatológica facilmente se confunde com o amilenismo. Segundo o


seu entender o reinado de Cristo é espiritual, não geográfico (isto é, localizado
neste mundo), de modo que onde há indivíduos que recebem a Cristo e
reconhecem Sua soberania sobre suas vidas, aí está o reino de Cristo. Esperam
também a conversão de todas as nações do mundo, e a grande maioria da
população de todos os povos da terra. Assim teríamos um longo período de paz
entre os homens no mundo, que seria o reino milenar. Os pós-milenistas, junto
com os amilenistas, não interpretam os mil anos de Apocalipse 20 literalmente.
Alguns, crêem que durará todo o período da Igreja, entre a primeira e a segunda
vinda. Outros, ainda dentre eles crêem que o milênio não literal começará com a
divulgação mundial do evangelho e a conversão da maioria da humanidade.
Homens como Jonathan Edwards, e os Hodges, famosos teólogos do Seminário
de Princeton, representavam este ponto de vista. Hoje o pós-milenismo têm
poucos adeptos, devido aos acontecimentos históricos nada animadores (1ª e 2ª
guerras mundiais e tantas outras localizadas em determinadas partes do planeta)
que demonstram o constante espírito bélico do ser humano. Tudo isto tem
contribuído para a diluição quase que total desta posição escatológica.
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PRÉ-MILENISMO

O grande destaque do pré-milenismo é a sua afirmação do reinado terreno de


Jesus Cristo, com duração de mil anos, entendendo, ao contrário do pós-
milenismo, que Jesus estará presente fisicamente durante esse tempo. Esse
reinado se dará sobre o mundo que sobreviverá à destruição e julgamento que
virão sobre a terra durante a grande tribulação. Também se crê, conforme o pré-
milenismo, que Jesus retornará de forma pessoal e física, a fim de iniciar esse
período de mil anos. Portanto, segundo essa linha de interpretação, o milênio deve
ser considerado ainda no futuro.

As afirmações mais marcantes dos pré-milenistas podem ser alistadas assim:


1 – interpretação literal da passagem de Ap. 20.2-6,
2 – interpretação literal dos mil anos,
3 – milênio, marcado por duas ressurreições, uma no início (dos santos) e outra
no fim (dos injustos), com o mesmo significado do verbo ezesan (v.4 e 5),
4 – milênio como evento marcante em relação às condições de caos estabelecidas
na grande tribulação,
5 – evento repentino, cataclísmico, totalmente perceptível,
6 – tempo de paz e justiça mundial, onde o mal estará virtualmente eliminado,
7 – tempo de grande abundância, fertilidade e renovação da terra,
8 – tempo quando ocorrerá a construção de uma Jerusalém glorificada,
9 – tempo em que a harmonia universal não ficará restrita aos homens, sendo que
a natureza e até os animais viverão em paz uns com os outros,
10 – os santos governarão com Cristo nesse período.
Embora os pré-milenistas se dividam quanto à presença ou não da igreja durante a
tribulação, concordam que a situação mundial atingirá seu pior estado logo antes
de Cristo voltar para estabelecer o milênio.
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Dentro da corrente pré-milenista destacam-se os dispensacionalistas.

Os dispensacionalistas costumam entender que o sistema deles é antes de tudo,


um método de interpretação da Bíblia. Eles entendem que a Bíblia deve ser
interpretada literalmente. Afirmam que se o significado simples faz sentido, não se
deve procurar outro na interpretação de um texto bíblico. Com isso, entendem que
as profecia devem ser interpretadas de forma literal, e assim, considerando-se de
modo bem específico até os pequenos detalhes da passagem. Para os
dispensacionalistas, especificamente "Israel" é sempre compreendido como uma
referência a Israel como nação ou etnia, e, não como a Igreja.

Os dispensacionalistas encontram, na Bíblia, provas de uma série de


"dispensações" sob as quais Deus conduziu o mundo. Essas dispensações são
estágios sucessivos na revelação divina de seus propósitos, mas embora afirmem
essa crença, entendem também que o meio da salvação vem sendo o mesmo em
todos os tempos, isto é, a salvação é de graça por meio da fé.

Por entenderem que Deus fez uma aliança incondicional com Israel, e este ser
totalmente distinto da Igreja, os dispensacionalistas não entendem que as
promessas feitas a Israel aplicam-se à Igreja, ou são nela cumpridas. Israel e
Igreja são duas entidades distintas aos olhos de Deus. Entendem também que,
Israel tendo rejeitado o Messias enviado por Deus, Jesus, o Cristo, teve
interrompida a sua relação com Deus, que só será restabelecida no final do
"período dos gentios". A Igreja é um parêntese dentro do plano geral de Deus, e
quando este parêntese terminar, então Deus novamente tratará com Israel como
nação. Para os dispensacionalistas, o final do parêntese é o arrebatamento da
Igreja, quando ele for tirada do mundo (logo antes da grande tribulação).

Percebe-se então o valor do milênio para os dispensacionalistas: nessa ocasião


Deus retomará seu relacionamento com Israel e assim, o milênio terá um caráter
notavelmente judaico, pois as promessas feitas a Israel e ainda não cumpridas
serão cumpridas nessa ocasião.

Seus principais postulados são os seguintes:


1 – Existem sete dispensações na história da salvação desde a criação (Inocência –
Gn.1.28; Consciência – Gn.3.7; Governo humano – Gn. 8.15; Promessa – Gn.12.1;
Lei – Êx. 19.1; Igreja – At.2.1; e, Reino – Ap.20.4);
2 – A chave para a compreensão do futuro se encontra em Dn.9.24-27, sendo que
estamos na 6ª dispensação, a da Igreja (o “mistério” revelado a Paulo e autores do
NT), enquanto o relógio de Deus está parado;
3 – As 69 semanas de Daniel já terminaram com a crucificação de Jesus, rejeitado
como o Messias, por Israel;
4 – No fim desse intervalo – época da graça, ou dos gentios – ocorrerá o
arrebatamento da igreja, num evento maravilhoso, sem aviso prévio;
5 – Será reativado o relógio profético com a atenção de Deus voltada para Israel; 6
– A 70ª semana de Daniel, marcará os sete anos da grande tribulação; e,
7 – O milênio acontecerá, com Cristo reinando sobre a terra.
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Para os dispensacionalistas a 70ª semana brevemente nos fará vivenciar os


seguintes acontecimentos:

1 - Israel estará no centro do plano divino para a humanidade e reconstruirá o


Templo e restabelecerá os sacrifícios levíticos;
2 – O poder político internacional será exercido pelo Anticristo, a Besta ou o
Homem da iniqüidade;
3 - O cristianismo apóstata - unindo o catolicismo, os ortodoxos e o modernismo
protestante - chamado de Meretriz, se aliará ao Anticristo e prosperará durante um
tempo;
4 - O pecado aumentará entre os homens e terá uma profundidade e intensidade
jamais vistas, a não ser na época do dilúvio;
5 – A ira de Deus será derramada sobre a terra numa série de julgamentos
cataclísmicos;
6 - Quando a besta - Anticristo - romper com Israel, provocará uma crise
internacional que atingirá seu auge na guerra do Armagedom; e,
7 - Jesus voltará com os santos (parousia) no final dos sete anos de tribulação,
derrotando o reino do Anticristo e Cristo passará a reinar por mil anos. Depois do
milênio Satanás será solto, liderará uma revolta com os incrédulos, mas ela será
esmagada. Haverá o julgamento do trono Branco (Ap.20.11-15) e a 2ª ressurreição
dos injustos, para o castigo eterno.
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As sete dispensações - nomes e características:

1. Dispensação da Liberdade ou Inocência


1.1. Responsabilidade – Gn 2.16-17
Não comer do fruto.
1.2. Fracasso – Gn 3.6
Comeram o fruto proibido.
1.3. Julgamento – Gn 3.23
Expulsão do jardim.
1.4. Graça – Gn 3.21
Deus providenciou vestimentas.

2. Dispensação da Autodeterminação ou Consciência


2.1. Responsabilidade – Hb 9.22
Oferecer sacrifício de sangue.
2.2. Fracasso – Gn 4.3
Caim ofereceu sacrifício vegetal.
2.3. Julgamento – Gn 6. 7
Dilúvio.
2.4. Graça – Gn 6.8, 13-14
A arca que salvou Noé e família.

3. Dispensação do Governo civil ou Governo humano


3.1. Responsabilidade – Gn 9.1
Enchei a terra.
3.2. Fracasso – Gn 11.4-9
Aglomeração em Babel.
3.3. Julgamento – Gn 11.9
Confusão de línguas e dispersão.
3.4. Graça – Gn 12.1-2
Deus chamou Abrão para
Constituir um povo.

4. Dispensação da Promessa
4.1. Responsabilidade – Gn 12.1, 7
Sair e ir para onde Deus mandasse.
4.2. Fracasso – Gn 12.10
A fome os levou para o Egito.
4.3. Julgamento – Gn 46.6
Escravidão no Egito.
4.4. Graça – Gn 50.20
Preservação.
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5. Dispensação da Lei
5.1. Responsabilidade – Êx 19.8
Obedecer toda a Lei (Tg 2.10).
5.2. Fracasso – Êx 32.1-10 (At 7.51-53)
Desobediência ao espírito da Lei.
5.3. Julgamento – Dt 28.63-66
Dispersão mundial.
5.4. Graça – Rm 9.27; 11.5
Preservação do remanescente fiel.

6. Dispensação da Graça
6.1. Responsabilidade – Jo 1.12
Crer em Cristo (Ef 2.8-9)
6.2. Fracasso – Jo 5.40
Rejeição de Cristo.
6.3. Julgamento – Mt 24.21
Grande tribulação (Ap 6.17).
6.4. Graça – 1Ts 4.16-17
Arrebatamento dos salvos.

7. Dispensação do Reino
7.1. Responsabilidade – Ap 20.1-6
Submissão ao Messias no milênio.
7.2. Fracasso – Ap 20.7-10
Rebelião final liderada por Satanás.
7.3. Julgamento – Ap 20 11-15
Grande trono branco.
7.4. Graça – Ap 21-22
Eternidade no céu.
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Dentro do pré-milenismo encontramos também os pré-milenistas históricos.

Estes discordam de algumas posições dos dispensacionalistas, das quais se


destacam as seguintes: 1 - Não aceitam a distinção tão absoluta entre Israel e a
Igreja; 2 - Não crêem que haverá um arrebatamento secreto (quando Jesus vier
para os santos - buscar a Igreja), antes da tribulação; 3 - Entendem que a
ressurreição dos santos junto com a transformação dos crentes (1Co. 15.51-57)
precederá imediatamente a segunda vinda de Cristo em grande poder e glória.

Existem outras diferenças que devem fazer parte de outra abordagem mais
detalhada.
As afirmações mais marcantes dos pré-milenistas podem ser alistadas assim:
1 - interpretação literal da passagem de Ap. 20.2-6,
2 - interpretação literal dos mil anos,
3 - milênio, marcado por duas ressurreições, uma no início (dos santos) e outra no
fim (dos injustos), com o mesmo significado do verbo ezesan (v.4 e 5),
4 – milênio como evento contrastante em relação às condições da tribulação,
5 - evento repentino, cataclísmico, totalmente perceptível,
6 - tempo de paz e justiça mundial, onde o mal estará virtualmente eliminado,
7 - tempo de grande abundância, fertilidade e renovação da terra,
8 - tempo quando ocorrerá a construção de uma Jerusalém glorificada,
9 - tempo em que a harmonia universal não ficará restrita aos homens, sendo que
a natureza e até os animais viverão em paz uns com os outros,
10 - os santos governarão com Cristo nesse período.

Embora os pré-milenistas se dividam quanto à presença ou não da igreja durante a


tribulação, concordam que a situação mundial atingirá seu pior estado logo antes
de Cristo voltar para estabelecer o milênio.
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DEFINIÇÃO DE POSICIONAMENTO

Qual dessas posições deve ser adotada? Para esta resposta deve-se observar um
princípio: a posição que tem menos dificuldades de interpretação bíblica deve ser
aceita.

Os pós-milenistas encontram dificuldades em relação à sua interpretação, que


afirma a proclamação universal do evangelho e a melhoria do ser humano. Como
se vê pelos constantes conflitos bélicos e o domínio opressor pelos poderosos,
mas, também diante das palavras de Jesus que afirmou que nos tempos do fim
teríamos um quadro bem diferente do que o desejado: "e, por se multiplicar a
iniqüidade,o amor se esfriará de quase todos..,11(Mt.24.12), esta realidade oposta
aos que os pós-milenistas defendem os colocam em dificuldades.

Os amilenistas encontram dificuldades em relação à sua interpretação relativa às


duas ressurreições (Ap.20). Os dois significados que se dá ao verbo ezesan no
mesmo contexto (sendo a primeira ressurreição, espiritual e a Segunda
ressurreição, corpórea) demonstram incoerência de interpretação, além do fato das
profecias não ocuparem um lugar importante no seu conceito, pois segundo
entendem, elas devem ser vistas como históricas ou simbólicas ao invés de
futuristas ou literais. Estas são suas dificuldades.

Os pré-milenistas não encontram passagens bíblicas que não conseguem


abranger ou interpretar de modo adequado. As críticas que recebem é que a
interpretação pré-milenista é mais difícil que a amilenista (que é mais simples) e
que toda a sua concepção baseia-se numa única passagem (Ap20). Para
defenderem-se, argumentam eles: se há uma passagem difícil, temos que
perceber qual das posições explica melhor essa mesma passagem e, no caso de
Ap.20 os pré-milenistas não têm dificuldades com sua interpretação. E, também,
em relação a basearem-se numa só passagem bíblica, defendem-se,
demonstrando que não estão só baseados em Ap 20, mas em outras referências
que apontam para esse tempo (do milênio): Paulo em 1 Co 15:22-24 usa dois
advérbios (depois e então) que indicam uma seqüência temporal e, em relação às
duas ressurreições citam outras passagens como Lc.14.14; 20.35; 1Co.15.23;
Fp.3.11; 1Ts. 4.16, junto com Dn.12.2 e Jo.5.29).

Assim, depois desse apanhado geral, a concepção pré-milenista, em nosso ponto


de vista, é a mais adequada entre as três já estudadas.
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CONCEITOS TRIBULACIONISTAS

PRÉ- TRIBULACIONISMO

As idéias defendidas pelos pré-tribulacionistas relacionam-se com a natureza da


tribulação.
1 - Será uma grande tribulação sem paralelos na história.
2 - Será um período de transição, encerrando o período em que Deus lidou com os
gentios.
3 - A tribulação não deve ser entendida como um período de disciplina para os
crentes ou de purificação da Igreja.
4 - O arrebatamento da Igreja acontecerá logo antes da tribulação. Seu objetivo é
livrar a Igreja da tribulação, pois conforme 1Ts 1.10 e 5.9, não estamos mais sob a
ira de Deus.
5 - Essa vinda de Jesus será secreta (para os santos).
6 - Nessa vinda, Jesus não chegará a terra, pois o encontro será nos ares (1Ts.
4.17). A segunda vinda se dará em dois estágios.
7 - Haverá três ressurreições: a 1a será a ressurreição dos justos que estiverem
mortos quando do arrebatamento; a 2a será a ressurreição dos santos que tiverem
morrido durante a tribulação e, a 3a será a ressurreição dos injustos, no final do
milênio.
8 - A volta de Jesus é iminente, isto é, uma vez que seu retorno precederá a
tribulação, nada resta para ser cumprido antes do arrebatamento, podendo esta
volta acontecer a qualquer momento, ou mesmo neste exato segundo.
9 - Jesus voltará de forma visível e gloriosa (com os santos).
10 - Haverá dois julgamentos. A Igreja será julgada quando do arrebatamento, e
será nesse momento que serão distribuídos os galardões pela fidelidade. Mas no
final do milênio haverá o julgamento dos ímpios, diante do trono Branco.
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PÓS-TRIBULACIONISMO

O grande postulado dessa corrente escatológica é que Jesus voltará somente


após a grande tribulação.

Os pós-tribulacionistas caracterizam-se por:


1 - Evitar o uso do termo "arrebatamento" porque não é bíblico e porque indica que
a Igreja escapará ou será livrada da grande tribulação.
2 - Serem menos literais que os pré-tribulacionistas (p.ex.: a palavra {semana} que
para os pré-tribulacionistas é interpretada literalmente {isto é, 7 dias = 7 anos},
para eles, não é tão literal. Ou em relação ao próprio milênio - os pré-
tribulacionistas entendem que serão mil anos, iniciados quando os pés de Jesus
tocarem no Monte das Oliveiras (Zc.14.14), para os pós-tribulacionistas o milênio
não tem a necessidade de ser exatos mil anos.
3 - Entenderem que a igreja estará presente na grande tribulação e sofrerá com
ela. O termo eleitos usado em Mí. 24.29-31, deve ser compreendido de acordo
com o seu significado em outras partes da Bíblia, isto é, eleitos = crentes, santos,
Igreja. O Senhor preservará a Igreja na tribulação, mas não a livrará dela.
4 - Fazerem distinção entre a ira de Deus e a tribulação. A ira de Deus recai sobre
os ímpios (Jo.3.36; Rm.1.18; Ap.6.16-17; 14.10; 16.19; 19.15), enquanto os
crentes "serão salvos por ele (Cristo) da ira" (Rm.5.19).
5 - Terem base bíblica sólida sobre os crentes passarem pela tribulação: Mt.24.9,
21, 29; Mc.13.19, 24; Ap.7.14) enfrentando não a ira de Deus, mas a ira de
Satanás, do Anticristo e dos perversos.
6 - Entenderem, baseados em Lc 21.36 e Ap 3.1O, que a Igreja será afastada do
centro da tribulação, mas não que será afastada da tribulação, tal como aconteceu
com Israel durante as pragas no Egito.
7 - Interpretarem de modo preciso 1Ts.4.17, pois a palavra apantesis = encontro,
só é usada mais duas vezes no NT (em Mt.25.6 e At.28.15, pois Mt.27.32 é
textualmente impreciso). Nas duas oportunidades esse "encontro" descreve a
aproximação de alguém com outrem e o conseqüente acompanhamento desse
para o seu destino. Portanto, essa deve ser a interpretação de 1 Ts.4.17: os
salvos se encontram com o Senhor nos ares e o acompanham de forma
maravilhosamente gloriosa e grandiosa em sua vinda a terra.
8 - Entenderem que só existe uma segunda vinda, em uma só etapa!
9 - Entenderem que só acontecerão duas ressurreições: a dos crentes no final da
tribulação e início do milênio, e, a dos ímpios, no final do milênio.
10 - Entenderem que a série de eventos do fim que formam uma unidade é
iminente, sem querer dizer que a própria segunda vinda é iminente. Para estes a
segunda vinda é impendente, isto é, está a ponto de acontecer.
Escatologia
Prof. Itamir Neves
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POSIÇÕES INTERMEDIÁRIAS

Diante das dificuldades causadas pelo pré-tribulacionismo e pós-tribulacionismo


foram criadas algumas posições intermediárias. Elas são de três tipos principais:

MESOTRIBULACIONISMO
Esta posição afirma que a Igreja enfrentará a parte menos severa (os primeiros
três anos e meio) da tribulação, mas depois será removida antes que a ira de Deus
seja derramada contra o mundo. Essa posição é baseada em Dn 7.25; 9.27; 12.7 e
11; Ap 12.14

ARREBATAMENTO PARCIAL
Esta posição afirma que haverá uma série de arrebatamentos. Sempre que um
grupo de cristãos estiver pronto, este será removido da terra.

PÓS-TRIBULACIONISMO IMINENTE
Esta posição afirma que embora o retorno de Cristo não acontece antes do final da
tribulação, pode-se esperar que ele venha a qualquer momento, pois a tribulação
pode já estar acontecendo.

DEFINIÇÃO DE POSICIONAMENTO

Depois de avaliar as diversas considerações aqui apresentadas, existem alguns


motivos pelos quais a posição pós-tribulacionista surge como a mais provável:
1 - O pré-tribulacionismo encontra dificuldades sérias: 1 - na divisão da 2a vinda
em dois estágios; 2 - na afirmação de que haverá 3 ressurreições, 3 - na divisão
bem definida entre Israel e Igreja, 4 - no cumprimento das profecias somente para
Israel, e, 5 - no milênio com um caráter especialmente judaico.

2 - O pós-tribulacionismo interpreta melhor vários textos escatológicos. Mt.24.29-


31 e Ap.3.10, indicam claramente que a Igreja estará presente durante a tribulação
mas, será guardada da severidade divina. 1Ts.4.17 é corretamente interpretado
quando aponta para o subseqüente acompanhamento dos santos a Jesus na Sua
segunda vinda.

3 - O teor geral do ensino bíblico alerta para vários julgamentos e provações a


serem enfrentados pelos cristãos. Não é prometido o afastamento das
dificuldades, mas a capacitação para a igreja poder enfrentá-Ias e vencê-Ias.
Escatologia
Prof. Itamir Neves
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BIBLIOGRAFIA BÁSICA
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