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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA


CURSO: Bacharelado em História
PROFESSOR: Alessandra Izabel de Carvalho
DISCIPLINA: História Moderna
ALUNA: Cheyenne Hilgenberg Haag, Emilly e Samuel

Jacques-Bénigne Bossuet
Política extraída das próprias palavras da Sagrada Escritura

Ponta Grossa
2024
Quem foi Jacques-Bénigne Bossuet

Jacques-Bénigne Bossuet, conhecido como "Águia de Meaux", foi um destacado clérigo


francês, nascido em 27 de setembro de 1627 em Dijon e falecido em 12 de abril de 1704 em
Paris. Ele exerceu funções como bispo, pregador e escritor dentro da Igreja.
Bossuet ganhou reconhecimento como um dos primeiros pregadores de renome, sendo
lembrado por seus sermões e orações fúnebres. Sua produção escrita é extensa e abrange
temas como espiritualidade, a educação do herdeiro do trono francês, questões polêmicas
anti-protestantes e debates diversos, incluindo uma controvérsia com Fénelon sobre o
quietismo. Em 1671, ele foi eleito membro da Academia Francesa.
O Cardeal Grente o considerou "talvez o maior [orador] que o mundo já conheceu".
Jacques-Bénigne Bossuet nasceu em uma família ligada ao meio jurídico, sendo filho de
Bénigne Bossuet, advogado e conselheiro parlamentar, e Marguerite Mochet, também de
origem jurídica. Sua formação inicial ocorreu no colégio jesuíta de Dijon, proporcionando-lhe
uma base clássica e um interesse pelas línguas antigas, como o grego e o latim. Devido à
sua dedicação aos estudos, ele ganhou o apelido de "bos suetus aratro" ("boi habituado ao
arado").
Aos 15 anos, Bossuet mudou-se para Paris para continuar seus estudos no Collège de
Navarre, sob a tutela de Nicolas Cornet, onde se aprofundou em filosofia e teologia. Apesar
de sua vocação eclesiástica, ele também desfrutou de atividades sociais, como apreciar as
obras de Corneille, escrever poesia refinada e frequentar o Hôtel de Rambouillet. Sua
integração nesses círculos parisienses pode ter sido facilitada pelo apoio de seu primo,
François Bossuet, conhecido como o Rico, que era um influente financiador no reino.
Bossuet deu início à sua carreira eclesiástica após ser ordenado subdiácono em Langres
por Sébastien Zamet em 1648. Nesse período, ele passou por uma experiência de
conversão religiosa, abandonando sua vida anterior de mundanidades. Esse momento foi
marcado pela escrita de sua obra "Meditação sobre a Brevidade da Vida", que apresenta
elementos que se refletiriam em suas futuras produções. No mesmo ano, Bossuet expôs
grande parte de suas ideias sobre o papel da Providência em sua obra "Meditação sobre a
Felicidade dos Santos".
Em 1652, Bossuet obteve o título de doutor em teologia e foi ordenado sacerdote. Ao
mesmo tempo, assumiu o cargo de arquidiácono de Sarrebourg e, posteriormente, em
1654, o de Metz, onde se estabeleceu.
No dia 21 de setembro de 1670, Charles-Maurice Le Tellier, que posteriormente se tornou
arcebispo de Reims, consagrou Jacques Bénigne Bossuet como bispo de Condom, com a
aprovação do papa. A cerimônia ocorreu na igreja do convento dos Cordeliers em Pontoise.
No entanto, no ano seguinte, Bossuet renunciou ao bispado e assumiu o papel de tutor do
delfim, filho de Luís XIV. Em reconhecimento a seus serviços, o rei concedeu a Bossuet o
Priorado de Plessis-Grimoult.
Sua obra: Política Tirada das Sagradas Escrituras

Também conhecida como “Política Extraída da Sagrada Escritura”, é uma obra de teoria
política escrita por Jacques-Bénigne Bossuet. Nesta obra, Bossuet busca estabelecer as
conexões entre política e religião, inspirando-se nas Sagradas Escrituras com o intuito de
promover um espaço público que esteja em conformidade plena com a lei de Deus e a
caridade evangélica. Isso se dá no contexto histórico da monarquia absoluta de direito
divino. Em 1670, Bossuet foi nomeado tutor do futuro rei, filho de Luís XIV, assumindo assim
a responsabilidade pela formação filosófica, política e religiosa do jovem Delfim. Para essa
importante missão, ele escreveu o "Tratado sobre o Conhecimento de Deus e de Si
Mesmo" (1677), uma obra de cunho religioso, e o "Discurso sobre a História Universal"
(1681), destinado a extrair lições da história.
No ano de 1679, Bossuet interrompeu a redação da obra, porém deixou anotações
acompanhadas de uma carta introdutória endereçada ao Papa Inocêncio XI, descrevendo
os avanços alcançados até então na escrita do livro. Suas atividades de tutoria terminaram
nessa época, e ele teve que aguardar vinte anos antes de poder retomar a redação do livro.
Em 1700, Bossuet havia completado o livro X e escrito a conclusão de sua obra; no entanto,
não conseguiu finalizá-la completamente antes de falecer em 1704. Após sua morte, seu
sobrinho, o Abade de Bossuet, completou seu trabalho e inseriu no livro um fragmento da
"Cidade de Deus" de Agostinho. Algumas correções editoriais foram realizadas devido a
disputas políticas e teológicas, e o livro foi finalmente publicado em 1709. Ao contrário de
seus contemporâneos, Bossuet não recorria frequentemente a fontes clássicas da literatura
antiga ou da patrística, preferindo em vez disso utilizar diretamente a Bíblia, especialmente
os livros do Antigo Testamento, para fundamentar seu sistema como derivado inteiramente
da lei divina.
Os ensinamentos da "Política Extraída das Sagradas Escrituras" abrangem a sociabilidade
humana, as relações entre sociedade civil, nação e Estado, governo, leis, patriotismo,
autoridade, direito da conquista, monarquia, sagrado, patriarcado, absolutismo, razão,
conhecimento, obediência, religião, relação Igreja-Estado, justiça, guerra, guerra civil, forças
armadas, paz, economia, família, saúde e felicidade.

A Apresentação

A apresentação abordará a relação entre poder divino e poder político conforme discutida
por Jacques-Bénigne Bossuet, destacando seus principais pontos sobre o tema. Será
explorado como Bossuet fundamenta seu argumento na teologia cristã, especialmente nas
Sagradas Escrituras, para defender a legitimidade do poder político como uma extensão da
vontade divina. Além disso, será discutida a visão de Bossuet sobre a monarquia absoluta
de direito divino, seu papel na formação do Estado e da sociedade, e como ele concebe a
autoridade política como um instrumento para promover a ordem e a justiça social. Também
serão abordados temas como a relação entre igreja e estado, o papel da religião na
governança política e os deveres do governante segundo a perspectiva bossuetiana. Por
fim, será analisada a relevância contemporânea das ideias de Bossuet sobre o poder
político e sua influência na teoria política moderna.
O principal ponto a ser discutido será a tentativa de Bossuet de conter a política
expansionista de Luís XIV, argumentando que os príncipes ambiciosos e conquistadores
são punidos por Deus. Bossuet propõe o modelo de um príncipe humilde que rejeita a
busca pela glória como ideal a ser seguido pelos governantes cristãos, alegando que tal
postura fortaleceria o poder do príncipe. A apresentação explorará como Bossuet
fundamenta esses argumentos na teologia cristã e como suas ideias influenciaram o
pensamento político da época.

Introdução

Neste artigo, discutiremos os esforços de Bossuet para preservar o absolutismo francês em


um momento em que ele enfrentava uma séria ameaça devido à política expansionista de
Luís XIV. Bossuet alerta o rei sobre os castigos divinos infligidos aos príncipes ambiciosos
que buscam guerras de conquista em busca de aumentar sua glória. Ele apresenta a
imagem de um príncipe humilde como um modelo a ser seguido pelo rei, visando assim
aumentar seu próprio poder. Para uma compreensão mais aprofundada do pensamento
teológico-político de Bossuet sobre este assunto, faremos uma comparação com as
reflexões de Luís XIV em suas Memórias.

BOSSUET CONTRA A ARROGÂNCIA DE LUÍS XIV

Bossuet confronta a política expansionista de Luís XIV no final do século XVII, buscando
preservar o absolutismo na França. Em seu nono livro da "Politique", escrito em 1701,
Bossuet destaca os riscos das guerras de conquista para o poder do rei. Ele alerta que
príncipes ambiciosos, como Luís XIV, são punidos por Deus por sua arrogância e desejos
de expansão territorial, citando o exemplo de Nabucodonosor como modelo de conquistador
injusto. Bossuet enfatiza a soberania divina sobre os reis e adverte que aqueles que
desobedecem aos preceitos divinos enfrentarão severas consequências. Ele argumenta que
as concessões territoriais feitas por Luís XIV durante a Guerra da Liga de Augsburgo foram
uma forma de castigo divino para humilhá-lo. Bossuet defende a ideia de que Deus dirige a
história dos homens e que os reis devem agir de acordo com Sua vontade, caso contrário
serão punidos. Sua concepção providencialista estabelece os reis como ministros de Deus
na Terra, cuja missão é manter a ordem e a justiça sob pena de sofrerem as consequências
da ira divina. Bossuet adverte sobre os castigos divinos que aguardam os príncipes
ambiciosos e conquistadores, usando exemplos bíblicos para ilustrar sua argumentação.
Ele destaca que esses líderes, ao se considerarem superiores e desejarem a glória para si,
enfrentarão a ira de Deus e serão punidos severamente. O objetivo de Bossuet é alertar
Luís XIV sobre os perigos de sua política expansionista, buscando convencê-lo a abandonar
seus desejos de conquista. Além disso, Bossuet utiliza passagens do Evangelho para
argumentar contra a busca desenfreada por glória terrena, enfatizando a importância da
salvação da alma. Ele critica os meios materiais utilizados por Luís XIV para celebrar sua
glória, destacando que apenas o espiritual tem valor diante de Deus. Para Bossuet, a
salvação está intrinsecamente ligada à religião, moralidade e ao cumprimento dos deveres
de estado. Ele aborda as condições de salvação para os ricos e os pobres, além de discutir
os desafios específicos enfrentados pelos reis. Bossuet destaca a necessidade de uma luta
contra a miséria e posicionamentos políticos que estejam alinhados com os princípios
religiosos.
O PRÍNCIPE DEVE SER HUMILDE

Bossuet, em sua obra, recomenda a virtude da humildade aos reis cristãos, alertando sobre
os perigos das glórias mundanas. Ele critica as celebrações exageradas promovidas por
Luís XIV após suas conquistas militares, argumentando que a verdadeira grandeza está em
reconhecer a ajuda divina e evitar o orgulho. Bossuet destaca que a humildade é essencial
para a salvação da alma e defende que os reis devem seguir o exemplo de Jesus Cristo,
que viveu de forma humilde. Em contraste com a visão de Maquiavel, que valorizava a
glória do príncipe, Bossuet defende a moderação e a humildade como virtudes essenciais
para os governantes cristãos. Ele busca refutar as ideias do autor florentino, destacando a
importância da virtude religiosa na política e na governança. Bossuet enfatiza que a glória
terrena não deve obscurecer a consciência moral dos reis, e que eles devem resistir às
tentações do orgulho. Ele recorre aos evangelhos para mostrar que os verdadeiros líderes
devem priorizar a humildade e seguir os ensinamentos de Cristo. Ao contrário do ideal
maquiavélico de poder absoluto, Bossuet promove uma visão de governo baseada na
moderação e na busca pela salvação espiritual. Ele argumenta que os reis devem exercer
seu poder de acordo com os princípios cristãos, estabelecendo assim o reino de Deus na
Terra. Essa abordagem contrasta com a concepção renascentista de glória e poder secular,
defendida por Maquiavel, destacando a importância das virtudes religiosas na conduta dos
governantes cristãos. Na França do século XVII, Bossuet e outros pregadores lembravam
aos príncipes que, apesar de seu poder, eram igualmente frágeis, pecadores e mortais
diante de Deus. Bossuet defendia uma autoridade real submissa à razão, alertando os
príncipes para agirem com inteligência e disciplina, evitando agir por impulsos ou caprichos.
Ele fundamentava seus argumentos na Sagrada Escritura, influenciado pela tradição cristã,
considerando-a como expressão da verdade. Embora o título de sua obra "Politique" sugira
uma base exclusivamente bíblica, Bossuet compôs sua tese independentemente,
recorrendo à Escritura para fundamentá-la. Ele preferia o Antigo Testamento por sua
abundância de textos históricos e preceitos relativos ao governo. No entanto, sua
interpretação literal e restrita do Antigo Testamento pode apresentar inconvenientes, como
destacado por Truchet. Bossuet também recorria a Santo Agostinho, demonstrando uma
admiração pelo padre da Igreja em suas análises políticas e morais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para entendermos o pensamento político de um autor, é essencial considerar o contexto em


que sua obra foi escrita, sua audiência e suas intenções. Devemos analisar como o autor
interage com os problemas de sua época e como busca resolver questões contemporâneas.
Além disso, é importante reconhecer que muitas vezes o autor dialoga com tradições
anteriores. As "Memórias" de Luís XIV, escritas na década de 1660, durante seu reinado
pessoal, tinham como objetivo instruir seu filho na arte da política. Elas refletem a tentativa
do rei de consolidar e celebrar seu poder após as tumultuadas experiências da Fronda.
Nessa época, Luís XIV promoveu academias e reuniu intelectuais para exaltar sua glória
nacional e internacionalmente.
O livro nono da "Politique", escrito em 1701, durante um período de reafirmação do
absolutismo francês e críticas à política expansionista de Luís XIV, reflete as tensões e
desafios desse momento. A política agressiva do rei, especialmente suas guerras de
conquista e a questão da sucessão espanhola, geraram controvérsias tanto na França
quanto no exterior.
Bossuet, bispo de Meaux, tinha várias razões para criticar as guerras de conquista de Luís
XIV. Além das preocupações morais e humanitárias, ele defendia o absolutismo como a
melhor forma de governo, buscando instruir o rei sobre os perigos das guerras de conquista
e a importância da humildade perante Deus. Ao destacar a virtude da humildade em
oposição ao amor à glória, Bossuet se distanciava das ideias de Maquiavel e reforçava a
tradição cristã na política.

Referências Bibliográficas

Wikipédia:
https://fr.wikipedia.org/wiki/Politique_tir%C3%A9e_de_l%27%C3%89criture_sainte#:~:text=L
a%20Politique%20tir%C3%A9e%20des%20propres,saintes%20dans%20le%20but%20d'
Acesso feito no dia 15/04/2024 às 01:25 da madrugada.

BOSSUET: PODER DIVINO E PODER POLÍTICO. Artigos & Ensaios, Revista Varia
Scientia v. 06, n. 12, p. 51-68, Maria Izabel B. Morais Oliveira, Mestre em História Social
pela Universidade Federal Fluminense. Aluna do Curso de Doutorado em História
Cultural na Universidade de Brasília. Data de recebimento: 11/04/07. Data de aceite
para publicação: 17/05/07.

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