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O estado natural de Thomas Hobbes e a necessidade de uma instituição política e


jurídica
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Dayse Braga Martins

01/10/2001 às 00:00

1. INTRODUÇÃO
Este trabalho é dedicado ao estudo da Filosofia de Thomas Hobbes, uma filosofia afeita
sobretudo à política.
Ao longo deste trabalho tentamos sempre desmistificar interpretações equivocadas
feitas por alguns autores da filosofia de Hobbes.
Defensor do absolutismo estatal do Rei, Thomas Hobbes criou uma teoria que
fundamenta a necessidade de um Estado Soberano como forma de manter a paz civil.
Em sua construção hipotética partiu do contrário, ou seja, iniciou sua teoria a partir dos
homens convivendo sem Estado, para depois justificar a necessidade dele. Esse estágio
do convívio humano sem autoridade, onde tudo era de todos, recebe o nome de estado
natural.
A conseqüência deste estado natural é a ameaça da manutenção da humanidade, que
leva os homens a pactuarem entre si, transferindo o direito de autodefesa existente
no estado natural para o Estado, que garante a efetividade do contrato.
Além da sua inteligente construção teórica que justifica a necessidade do Estado
Soberano, Thomas Hobbes inovou em diversos pontos da política, a serem analisados
no decorrer deste trabalho.

2.O FILÓSOFO THOMAS HOBBES


Este breve relato da vida de Thomas Hobbes, possibilitará uma melhor compreensão de
sua filosofia:
Thomas Hobbes, nasceu na Inglaterra, em Westport, Malmesburry, em 05 de abril de
1588, vindo a falecer em 04 de dezembro de 1679. Seus pai, um vigário humilde,
entregou-lhe, ainda criança, ao tio, que lhe proporcionou uma boa educação.
Teve a oportunidade de, desde os sete anos de idade, estudar os clássicos com Robert
Latimer. Interessando-se pelo estudo, aos quatorze anos, Hobbes ingressou na
universidade de Oxford, "Magdalen Hall", foi um estudante mediano. Nesta época,
morre Elizabeth I e assume seu primo Jaime I, iniciando a dinastia dos Stuart.
Depois de formado, com vinte anos, foi indicado para ser preceptor do filho de uma
família de prestígio. Naquela época os filhos de famílias ricas tinham uma espécie de
professor particular, era o chamado preceptor. Esta profissão não rendia muitos ganhos,
mas Hobbes pôde usufruir do conforto da casa e da vasta biblioteca, possibilitando o
aprofundamento de seus conhecimentos. Além disso, viajou pela França e Itália, onde
aperfeiçoou seus idiomas.
Em 1629, Hobbes foi o primeiro a traduzir para o inglês a obra "Guerra do Peloponeso",
do importante historiador grego, indicado como inventor da história racionalista,
Tucídides. A partir daí, o filósofo começa a mostrar suas tendências políticas.
Além do acesso aos pensamentos racionalistas de Tucídides, Hobbes foi secretário de
Francis Bacon, empirista, e, em suas viagens, leu a obra de Euclides, racionalista; teve
oportunidade de discutir, através do Padre Mersenne, com René Descartes; e depois, na
Itália, esteve com Galileu.
Com este conhecimento eclético, Hobbes formulou sua própria metodologia para a
fonte do conhecimento, o empirismo racionalista. Esta metodologia original foi aplicada
em sua ciência política, ao analisar os fatos sociais, deduzindo conceitos, nominando-os
e, por fim, pondo-os em uma ordem sistematizada. Esta transformação de conceito para
palavra é o chamado nominalismo.
Hobbes fazia construções lógicas, deduzidas dos conceitos formulados da realidade da
natureza humana.
Sempre mostrou grande interesse pelos problemas sociais, sendo fiel defensor do
despotismo político. É o que comprova seus escritos: "Elementos de Lei Natural de
Política"(publicado em 1640, época em que voltou para França em decorrência de
atritos políticos); "O Cidadão"(publicado em 1642. Fala do homem em seu estado
natural.); "Leviatã" (publicado em 1651). Era preceptor do príncipe de Gales, que
depois veio a ser Rei Carlos II da Inglaterra).
Apenas a título de informação, "Leviatã" é um monstro bíblico citado no Livro de Jó,
40-41, muito poderoso, sem medo de nada e com um coração de pedra. Hobbes atribui a
uma de suas obras mais importantes o nome deste monstro bíblico, Leviatã,
comparando-o ao Estado.
Depois de tantas lutas políticas, tendo sido alvo de muitas perseguições, dentre outros,
por acharem suas obras "O Cidadão" e o "Leviatã" ateístas, aos setenta e dois anos,
Hobbes volta aos estudos dos clássicos e suas traduções. Seus últimos anos de vida
foram de paz.
Thomas Hobbes faleceu em 1679, com noventa e um anos. E, só dez anos depois de sua
morte, as idéias liberais que tanto combatia triunfaram.
Depois das breves considerações sobre a vida de Hobbes, é oportuno transcrever a
Cronologia constante na Introdução do livro "Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um
Estado Eclesiástico e Civil"(1):
"1588 – A 5 de abril, nasce Thomas Hobbes, na aldeia de Westport, Malmesbury,
Inglaterra.
1603 – Morre Elizabeth I, a última dos Tudor. Sucede-a seu primo Jaime I, que inicia a
disnatia dos Stuart. Hobbes ingressa no Magdalen Hall, Oxford.
1608 – Termina seu bacharelado em Oxford e é indicado para preceptor do filho de
Lorde Cavendish.
1610 – Faz sua primeira viagem ao continente.
1625 – Morre Jaime I, sucedendo-o no trono seu filho Carlos I.
1629 – Hobbes publica um tradução da Guerra do Peloponeso, de Tucídides.
1640 – Produz seu primeiro tratado, Elementos de Lei Natural e Política. Em face dos
acontecimentos políticos ingleses, retira-se para a França, onde permanece onze anos.
1642 – Publica Sobre o Cidadão. Inicia-se na Inglaterra a Guerra Civil, quando Carlos
O é decapitado, e inicia-se o período da Commonwealth, sob a liderança de Cromwell.
1645 – Hobbes é nomeado preceptor do príncipe de Gales, que virá a ser o Rei Carlos II
da Inglaterra.
1651 – Publica na Inglaterra o Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de uma Comunidade
Eclesiática e Civil.
1652 – É banido da corte inglesa no exílio e volta definitivamente à Inglaterra.
1654 – Publica Sobre o Corpo.
1658 – Publica Sobre o Homem. Morte de Cromwell.
1660 – Restauração dos Stuart com Carlos II.
1668 – Hobbes traduz, em versos ingleses, partes da Ilíada e da Odisséia.
1679 – Morte de Hobbes em Hardwick."

3. A METODOLOGIA DA TEORIA DE THOMAS HOBBES NO ESTUDO DA CIÊNCIA POLÍTICA


Thomas Hobbes, sempre voltado aos interesses políticos, vivendo num período de
muitas guerras, acreditava que somente a figura de um Estado forte poderia acabar com
esses conflitos.
Para justificar a necessidade do Estado Soberano, formulou uma teoria hipotética.
Hobbes desenvolveu sua teoria utilizando o método resolutivo-compositivo. Resolutio,
resolutivo em latim, é a análise, enquanto que compositio, compositivo em latim, é a
síntese, a composição daquilo que foi detalhadamente analisado.
No prefácio do livro De Cive, ao comparar o Estado a um relógio, ficam claras as
características de sua metodologia(2):
"Com efeito, conhecemos muito melhor uma coisa através dos elementos de que ela se
constitui. Assim como não se pode saber, num relógio mecânico ou noutra máquina um
pouco mais complexa, qual a função de cada parte ou roda, se ele não for desmontado e
separadamente examinados o material, o desenho e o movimento: assim também, para
estudar o direito da Cidade e os deveres dos cidadãos, precisamos, sem desmontar a
Cidade, considerá-la como desmontada: isto é, para compreender corretamente a
condição da natureza humana, com o uso de quais meios ela é capaz ou incapaz de dar
corpo à Cidade; de que modo hão de ajustar-se entre si os homens, se querem alcançar a
união."
O Estado é o objeto de análise de Hobbes. O elemento formador do Estado é o homem.
Ao analisar o Estado, Hobbes faz como um relojoeiro ao tentar conhecer a mecânica de
um relógio: decompõe o Estado, analisa seus elementos, que são os homens e depois
reformula o Estado.
Hobbes explica também no "Leviatã" sua metodologia no estudo da política(3):
"(...)primeiro através de uma adequada imposição de nomes, e em segundo lugar
através de um método bom e ordenado de passar dos elementos, que são nomes, a
asserções feitas por conexão de um deles com o outro, e daí para os silogismos, que são
as conexões de uma asserção com outra, até chegarmos a um conhecimento de todas as
conseqüências de nomes referentes ao assunto em questão, e é a isto que os homens
chamam de ciência. (...)a ciência é o conhecimento das conseqüências, e a dependência
de um fato em relação a outro, pelo que, a partir daquilo que presentemente sabemos
fazer, sabemos como fazer qualquer outra coisa quando quisermos, ou também, e, outra
ocasião. Porque quando vemos como qualquer coisa acontece, devido a que causas"

4. O CARÁTER HIPOTÉTICO DA TEORIA


A teoria de Hobbes é por vezes mal interpretada. E, para melhor entender sua teoria,
antes de nos aprofundarmos, vamos tentar resolver esta problemática, analisando um
trecho do livro de Paulo Nader, "Filosofia do Direito" (4):
"... em Leviatã (1651), o filósofo inglês partiu da crença no chamado status naturae,
durante o qual os homens teriam vivido em constante medo diante das ameaças de
guerra. Nessa fase que aconteceu à formação da sociedade não haveria em favor do
status societatis se fizera por conveniência, pelo interesse em se obter garantia e tutela."
Paulo Nader fala na "crença" de Hobbes num "status naturae". Esta palavra "crença"
leva os leitores a pensar que o estado natural de Hobbes é um fato histórico. Ocorre
que toda sua teoria é uma construção hipotética, criada somente na sua mente.
Daí a importância de conhecer as fontes originais dos autores a serem estudados. Não
só porque alguns intérpretes destorcem os pensamentos dos autores, mas também,
porque são obscuros, deixando uma grande margem de erro para o leitor leigo no
assunto.
Assim, importante sempre lembrar que tudo que falarmos sobre a teoria de Hobbes
– estado natural, estado de natureza dos homens- é sempre hipoteticamente, dentro da
teoria criada por ele.

5. 1ª ETAPA DA TEORIA HIPOTÉTICA DE HOBBES: A NATUREZA HUMANA


Ao fazer a decomposição do Estado para sua análise, estuda-se seu elemento, que é o
homem. Hobbes estuda o homem no seu estado natural, sem interferência de nenhuma
autoridade. Ele imagina os homens convivendo sem Estado.
Hobbes analisa a natureza humana dentro da sua teoria hipotética sobre o prisma
realista. Ele não estuda a essência dos homens, mas sim, as condições objetivas dos
homens no seu estado natural.
A convivência dos homens sem um Estado que os tutele, acarreta uma igualdade
aproximada que leva à "guerra de todos contra todos".
Neste estado de natureza todos os homens têm direito a todas as coisas. E, sabendo que
os bens são escassos, quando duas pessoas desejarem um só objeto indivisível, estas são
livres para lutar com todas as armas para satisfazer seu desejo.
A igualdade dos homens no estado de natureza da teoria de Hobbes é a igualdade no
medo, pois a vida de todos fica ameaçada. Esta igualdade é na capacidade de um
destruir o outro. Nem o mais forte está seguro, pois o mais fraco é livre para usar de
todos os artifícios para garantir seus desejos e sua vida.
"Todos são iguais no ‘medo recíproco’, na ameaça, que paira sobre a cabeça de cada um,
da ‘morte violenta’. Os homens ‘igualam-se’ neste medo da morte." (5)
A "guerra de todos contra todos" pode ser melhor entendida, também, com as palavras
do próprio autor, que no livro "Leviatã" (6) escreve:
"Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é
inimigo de todo homem, o mesmo é válido também para o tempo durante o qual os
homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria
força e sua própria invenção. Numa tal situação não há lugar para a indústria, pois seu
fruto é incerto; consequentemente não há cultivo da terra, nem navegação, nem uso das
mercadorias que podem ser importadas pelo mar; não há construções confortáveis, nem
instrumentos para mover e remover as coisas que precisam de grande força; não há
conhecimento da face da Terra, nem cômputo do tempo, nem artes, nem letras; não há
sociedade; e o que é pior do que tudo, um constante temor e perigo de morte violenta. E
a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta."
A teoria de Hobbes é também mal interpretada quanto a sua concepção antropológica.
A exemplo do professor da Universidade de Bonn, Hans Welzel, que em sua obra
"Derecho Natural y Justicia Material"(7), afirma:
"Todas estas fuentes tan diversas robustecen la idea pesimista que Hobbes tiene del
hombre como un ser dinámico y peligroso como un lobo, que, al revés que los otros
lobos, no tiene instintos sociales, y sólo es animado por el ansia de dominación sobre
los demás."
Em sua teoria hipotética, Hobbes não tem uma concepção pessimista do homem, e sim,
uma visão realista.
No estado natural onde os homens encontravam-se numa total insegurança era
impossível haver moralidade, os homens teriam que estar sempre preparados para a
guerra, sob pena de comprometer seu bem mais precioso, a vida.
Contudo, quando o homem passa a viver numa sociedade, com uma autoridade para lhe
reger, as tensões se acabam e, em conseqüência, os homens vivem relativamente bem,
pois a desconfiança que existia entre os homens em seu estado de natureza era racional,
e não como alguns autores afirmam, homem essencialmente mal.

6. O PACTO SOCIAL
O maior desejo do homem é manter sua vida. Hobbes atribui a este desejo o nome de
instinto de conservação. No estado natural a vida está em constante ameaça.
Os homens, em decorrência do instinto de conservação, guiados pela razão, são levados
a pactuarem entre si(8):
"(...)a condição preliminar para obter a paz é o acordo de todos para sair do estado de
natureza e para instituir uma situação tal que permita a cada um seguir os ditames da
razão, com a segurança de que outros farão o mesmo."
Novamente, Norberto Bobbio, consegue exprimir fielmente o primeiro passo para a
transformação do estado de natureza em Estado Civil, que é a criação da lei natural pela
razão(9):
" O estado de natureza, como dissemos, é a longo prazo intolerável, já que não
assegura ao homem a obtenção do ‘primum bonum’, que é a vida. Sob forma de leis
naturais, a reta razão sugere ao homem uma série de regras (...), que têm por finalidade
tornar possível uma coexistência pacífica."
A Lei Natural é formada por diversas regras, dentre elas Hobbes destaca, no Leviatã as
seguintes(10):
1ª) "procurar a paz e segui-la";
2ª) "por todos os meios que pudermos, defendermo-nos a nós mesmos";
3ª) "Que os homens cumpram os pactos que celebrarem";
4ª) "gratidão";
5ª) "complacência", "que cada um se esforce por acomodar-se com os outros";
6ª) "perdão", "Que como garantia do tempo futuro se perdoem as ofensas passadas,
àqueles que se arrependam e o desejem";
7ª) "Que na vingança (isto é, a retribuição do mal com o mal) os homens não olhem à
importância do mal passado, mas só à importância do bem futuro";
8ª) "Que ninguém por atos, palavras, atitude ou gesto declare ódio ou desprezo pelo
outro";
9ª) "Que cada homem reconheça os outros como seus iguais por natureza"
Como se pode observar, as regras da Lei de Natureza são ditames morais elaboradas
pela reta razão, que quer dizer a possibilidade do homem de agir da melhor forma para
atingir os fins desejados.
Ocorre que, para estas regras terem efetividade têm que ser cumpridas por todos.
As leis naturais em si são válidas, mas não tem eficácia garantida, pois elas obrigam in
foro interno, não têm alguém que obrigue a cumpri-las . Os princípios naturais só têm
eficácia ou se forem positivadas ou se existir uma autoridade que obrigue o seu
cumprimento.
Para acabar com a insegurança entre os homens e fazer cumprir a Lei Natural é
fundamental e indispensável a presença de um Estado que esteja acima do interesse dos
cidadãos para garantir a paz civil.
Pedimos vênia para fazer uma citação um pouco extensa, pois não conseguiríamos
explicar a necessidade do poder soberano no pacto social de forma mais clara do que o
próprio filósofo(11):
"A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los das invasões
dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança
suficiente para que, mediante seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam
alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda sua força e poder a um homem, ou a uma
assembléia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de
votos, a uma só vontade. O que eqüivale a dizer: designar um homem, ou a uma
assembléia de homens, como representante de suas pessoas, considerando-se e
reconhecendo-se cada um como autor de todos os atos que aquela que representa sua
pessoa praticar ou levar a praticar, em tudo o que disser respeito à paz e segurança
comuns; todos submetendo assim suas vontades à vontade do representante, e suas
decisões a sua decisão. Isto é mais do que consentimento, ou concórdia, é uma
verdadeira unidade de todos eles, numa só e mesma pessoa, realizada por um pacto de
cada homem com todos os homens, de um modo que é como se cada homem dissesse a
cada homem: ‘Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este
homem, ou a esta assembléia de homens, com a condição de transferires a ele teu
direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações’. Feito isto, à multidão
assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim, civitas".
O Pacto da teoria hipotética de Hobbes é feito entre todos os cidadãos, que renunciam
ao direito de autodefesa. O Estado está fora do contrato.
Os cidadãos se privam da liberdade do estado natural de fazer justiça com as próprias
mãos e transferem esse direito renunciado ao Estado.
A função do Estado é de garantidor da paz civil. Ele está acima dos homens, como
beneficiário dos direitos dos cidadãos. Os cidadãos são para o Estado súditos. O Estado
tem o poder soberano.
6.1 O PODER SOBERANO
Soberania para Hobbes é o poder que está acima de tudo e de todos. Assim o Estado
Soberano está acima das leis e acima da Constituição, sendo um poder absoluto e
indivisível.
Mais uma vez, Norberto Bobbio fala com precisão das características do Estado
Soberano(12):
"O poder estatal não é verdadeiramente soberano e, portanto, não serve à finalidade
para a qual foi instituído se não for irrevogável, absoluto e indivisível. Recapitulando,
pacto de união é:
a)um pacto de submissão estipulado entre os indivíduos, e não entre o povo e o
soberano;
b)consiste em atribuir a um terceiro, situado acima das partes, o poder que cada um tem
em estado de natureza;
c)o terceiro ao qual esse poder é atribuído, com todas as três definições acima o
sublinham, é uma única pessoa."
Contudo, apesar do súdito ter que obedecer a tudo que o soberano mandar, existe uma
exceção: o súdito pode resistir ao perigo da morte. Esta exceção tem uma explicação
muito razoável, pois como poderia o homem não conservar sua própria vida, seu bem
inalienável, já que o poder soberano vem da reta razão, por sua vez, advinda do instinto
da auto conservação? Isto seria uma incoerência. Logo todos os homens têm o direito
de resistir a qualquer ato do Estado que ameace a conservação da sua vida.
6.2 AS FORMAS DE GOVERNO
O poder soberano pode ser adquirido de duas formas: pela livre vontade dos cidadãos,
que é chamado de Estado Político/Estado por Instituição; ou pela imposição aos
cidadãos, que são obrigados a acatar sob pena morte, é o Estado por Aquisição.
O Estado por instituição, na política de Hobbes, pode ser governado por três espécies:
pela Monarquia, governo de uma pessoa; por uma Democracia, governo popular, de
todos; e pela Oligarquia, governo de poucos.
A Monarquia é a melhor forma para de se governar um Estado Soberano. Hobbes
defende a autoridade absoluta do rei com única forma de se exercer um poder soberano,
já que este é uno e indivisível. A Oligarquia seria possível, mas poderia acarretar a
descontinuidade do exercício do poder soberano. A Democracia era inviável, porque
fatalmente iria acarretar a dissolução do poder soberano.
A Democracia para Hobbes é diferente da concepção de Democracia da nossa
Constituição. A Democracia que se fala na CF/88 é a representativa, já a de Hobbes é a
democracia direta, como explica Denis L. Rosenfield, no prefácio de De Cive(13):
"(...) Com efeito, Hobbes tem em vista uma forma de democracia direta, tal como era
exercida na Grécia clássica, e não o que hoje entendemos por democracia indireta ou
governo representativo. Assim, a democracia exigiria um alto grau de politização, sendo
suscetível das mais diferentes formas de instabilização proveniente da retórica dos
demagogos."
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Sobre a autora
Dayse Braga Martins

advogada em Fortaleza (CE), mestranda em Direito Constitucional pela Universidade de


Fortaleza – UNIFOR
Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

MARTINS.. O estado natural de Thomas Hobbes e a necessidade de uma instituição política e


jurídica. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 6, n. 51, 1 out. 2001.
Disponível em: https://jus.com.br/artigos/2117. Acesso em: 6 mar. 2023.
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