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01/10/2001 às 00:00
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho é dedicado ao estudo da Filosofia de Thomas Hobbes, uma filosofia afeita
sobretudo à política.
Ao longo deste trabalho tentamos sempre desmistificar interpretações equivocadas
feitas por alguns autores da filosofia de Hobbes.
Defensor do absolutismo estatal do Rei, Thomas Hobbes criou uma teoria que
fundamenta a necessidade de um Estado Soberano como forma de manter a paz civil.
Em sua construção hipotética partiu do contrário, ou seja, iniciou sua teoria a partir dos
homens convivendo sem Estado, para depois justificar a necessidade dele. Esse estágio
do convívio humano sem autoridade, onde tudo era de todos, recebe o nome de estado
natural.
A conseqüência deste estado natural é a ameaça da manutenção da humanidade, que
leva os homens a pactuarem entre si, transferindo o direito de autodefesa existente
no estado natural para o Estado, que garante a efetividade do contrato.
Além da sua inteligente construção teórica que justifica a necessidade do Estado
Soberano, Thomas Hobbes inovou em diversos pontos da política, a serem analisados
no decorrer deste trabalho.
6. O PACTO SOCIAL
O maior desejo do homem é manter sua vida. Hobbes atribui a este desejo o nome de
instinto de conservação. No estado natural a vida está em constante ameaça.
Os homens, em decorrência do instinto de conservação, guiados pela razão, são levados
a pactuarem entre si(8):
"(...)a condição preliminar para obter a paz é o acordo de todos para sair do estado de
natureza e para instituir uma situação tal que permita a cada um seguir os ditames da
razão, com a segurança de que outros farão o mesmo."
Novamente, Norberto Bobbio, consegue exprimir fielmente o primeiro passo para a
transformação do estado de natureza em Estado Civil, que é a criação da lei natural pela
razão(9):
" O estado de natureza, como dissemos, é a longo prazo intolerável, já que não
assegura ao homem a obtenção do ‘primum bonum’, que é a vida. Sob forma de leis
naturais, a reta razão sugere ao homem uma série de regras (...), que têm por finalidade
tornar possível uma coexistência pacífica."
A Lei Natural é formada por diversas regras, dentre elas Hobbes destaca, no Leviatã as
seguintes(10):
1ª) "procurar a paz e segui-la";
2ª) "por todos os meios que pudermos, defendermo-nos a nós mesmos";
3ª) "Que os homens cumpram os pactos que celebrarem";
4ª) "gratidão";
5ª) "complacência", "que cada um se esforce por acomodar-se com os outros";
6ª) "perdão", "Que como garantia do tempo futuro se perdoem as ofensas passadas,
àqueles que se arrependam e o desejem";
7ª) "Que na vingança (isto é, a retribuição do mal com o mal) os homens não olhem à
importância do mal passado, mas só à importância do bem futuro";
8ª) "Que ninguém por atos, palavras, atitude ou gesto declare ódio ou desprezo pelo
outro";
9ª) "Que cada homem reconheça os outros como seus iguais por natureza"
Como se pode observar, as regras da Lei de Natureza são ditames morais elaboradas
pela reta razão, que quer dizer a possibilidade do homem de agir da melhor forma para
atingir os fins desejados.
Ocorre que, para estas regras terem efetividade têm que ser cumpridas por todos.
As leis naturais em si são válidas, mas não tem eficácia garantida, pois elas obrigam in
foro interno, não têm alguém que obrigue a cumpri-las . Os princípios naturais só têm
eficácia ou se forem positivadas ou se existir uma autoridade que obrigue o seu
cumprimento.
Para acabar com a insegurança entre os homens e fazer cumprir a Lei Natural é
fundamental e indispensável a presença de um Estado que esteja acima do interesse dos
cidadãos para garantir a paz civil.
Pedimos vênia para fazer uma citação um pouco extensa, pois não conseguiríamos
explicar a necessidade do poder soberano no pacto social de forma mais clara do que o
próprio filósofo(11):
"A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los das invasões
dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança
suficiente para que, mediante seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam
alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda sua força e poder a um homem, ou a uma
assembléia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de
votos, a uma só vontade. O que eqüivale a dizer: designar um homem, ou a uma
assembléia de homens, como representante de suas pessoas, considerando-se e
reconhecendo-se cada um como autor de todos os atos que aquela que representa sua
pessoa praticar ou levar a praticar, em tudo o que disser respeito à paz e segurança
comuns; todos submetendo assim suas vontades à vontade do representante, e suas
decisões a sua decisão. Isto é mais do que consentimento, ou concórdia, é uma
verdadeira unidade de todos eles, numa só e mesma pessoa, realizada por um pacto de
cada homem com todos os homens, de um modo que é como se cada homem dissesse a
cada homem: ‘Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este
homem, ou a esta assembléia de homens, com a condição de transferires a ele teu
direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações’. Feito isto, à multidão
assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim, civitas".
O Pacto da teoria hipotética de Hobbes é feito entre todos os cidadãos, que renunciam
ao direito de autodefesa. O Estado está fora do contrato.
Os cidadãos se privam da liberdade do estado natural de fazer justiça com as próprias
mãos e transferem esse direito renunciado ao Estado.
A função do Estado é de garantidor da paz civil. Ele está acima dos homens, como
beneficiário dos direitos dos cidadãos. Os cidadãos são para o Estado súditos. O Estado
tem o poder soberano.
6.1 O PODER SOBERANO
Soberania para Hobbes é o poder que está acima de tudo e de todos. Assim o Estado
Soberano está acima das leis e acima da Constituição, sendo um poder absoluto e
indivisível.
Mais uma vez, Norberto Bobbio fala com precisão das características do Estado
Soberano(12):
"O poder estatal não é verdadeiramente soberano e, portanto, não serve à finalidade
para a qual foi instituído se não for irrevogável, absoluto e indivisível. Recapitulando,
pacto de união é:
a)um pacto de submissão estipulado entre os indivíduos, e não entre o povo e o
soberano;
b)consiste em atribuir a um terceiro, situado acima das partes, o poder que cada um tem
em estado de natureza;
c)o terceiro ao qual esse poder é atribuído, com todas as três definições acima o
sublinham, é uma única pessoa."
Contudo, apesar do súdito ter que obedecer a tudo que o soberano mandar, existe uma
exceção: o súdito pode resistir ao perigo da morte. Esta exceção tem uma explicação
muito razoável, pois como poderia o homem não conservar sua própria vida, seu bem
inalienável, já que o poder soberano vem da reta razão, por sua vez, advinda do instinto
da auto conservação? Isto seria uma incoerência. Logo todos os homens têm o direito
de resistir a qualquer ato do Estado que ameace a conservação da sua vida.
6.2 AS FORMAS DE GOVERNO
O poder soberano pode ser adquirido de duas formas: pela livre vontade dos cidadãos,
que é chamado de Estado Político/Estado por Instituição; ou pela imposição aos
cidadãos, que são obrigados a acatar sob pena morte, é o Estado por Aquisição.
O Estado por instituição, na política de Hobbes, pode ser governado por três espécies:
pela Monarquia, governo de uma pessoa; por uma Democracia, governo popular, de
todos; e pela Oligarquia, governo de poucos.
A Monarquia é a melhor forma para de se governar um Estado Soberano. Hobbes
defende a autoridade absoluta do rei com única forma de se exercer um poder soberano,
já que este é uno e indivisível. A Oligarquia seria possível, mas poderia acarretar a
descontinuidade do exercício do poder soberano. A Democracia era inviável, porque
fatalmente iria acarretar a dissolução do poder soberano.
A Democracia para Hobbes é diferente da concepção de Democracia da nossa
Constituição. A Democracia que se fala na CF/88 é a representativa, já a de Hobbes é a
democracia direta, como explica Denis L. Rosenfield, no prefácio de De Cive(13):
"(...) Com efeito, Hobbes tem em vista uma forma de democracia direta, tal como era
exercida na Grécia clássica, e não o que hoje entendemos por democracia indireta ou
governo representativo. Assim, a democracia exigiria um alto grau de politização, sendo
suscetível das mais diferentes formas de instabilização proveniente da retórica dos
demagogos."
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Dayse Braga Martins
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