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INTRODUÇÃO

Não há dúvidas de que o reformador do século XVI, Martinho Lutero, nascido em 1483,
na cidade de Eisleben, Alemanha, constitui-se um dos personagens mais controvertidos e
polêmicos da história ocidental moderna.
Conhecido como reformador religioso e grande mentor intelectual da reforma
protestante, o monge Agostiniano que ousou atacar os alicerces da igreja romana, ainda hoje
tem atraído a atenção de historiadores e estudiosos de diversas áreas.
Embora profundamente envolvido e motivado por suas convicções religiosas, a
influencia e obra de Lutero, ultrapassam com grande vitalidade o âmbito teológico, atraindo assim
a atenção de lingüistas, educadores, cientistas políticos e sociais, além de historiadores, como
Lucien Febvre, Jean Delumeau, Quentin Skinner, entre vários outros.
Com uma personalidade marcante e dada ao confronto, irmão Martinho, como era
chamado por seu superior Staupitz, não se furtava a um bom debate, legando assim uma vasta
obra, composta por cartas, manifestos, panfletos, tratados, sermões, catecismos, e outros.
Segundo Delumeau: “Lutero foi sempre um trabalhador e sua obra dá a impressão de
uma “plenitude torrencial”.1 E Lucien Febvre ainda destaca o caráter intenso e polemista da obra
do reformador, descrevendo-a da seguinte maneira:
“E muito naturalmente, o grande artesão da palavra, esse orador nato que sente a
necessidade de possuir o seu público, utiliza para os seus discursos, os seus panfletos,
os seus apelos apaixonados, as fórmulas, as injúrias, as imagens que lhe oferecem,
mas é puro em suas intenções”2.

Diante do desafio de perscrutar o legado de uma obra tão ampla e diversa como é a de
Martinho Lutero, não poderíamos negar a necessidade de delimitar um tema, afim de não
incorrer no risco de demasiada superficialidade.
Optamos então por um tema com ampla repercussão, a saber; O pensamento político
de Lutero, dentre este destaca-se especialmente a tensa relação entre a Igreja e o Estado,
polêmica que se arrastava desde a idade média e encontra grande ressonância no pensamento
do reformador.
O historiador Quentin Skinner tem prestado particular atenção a este tema em sua obra;
As Fundações do Pensamento Político Moderno, originalmente publicada em 1978 e a quem
pretendemos recorrer com maior freqüência, sem contudo, dispensar a contribuição de outros
historiadores já mencionados, assim como de dialogar com pensadores de outras áreas.

1
DELUMEAU, Jean. Nascimento e Afirmação da Reforma . Trad. João Pedro Mandes. São Paulo: Pioneira,
1989. p. 98
2
FEBVRE, Lucien. Martinho Lutero: Um Destino. 1ª Ed. Em Português. Trad. Maria Elizabeth Cabral. Livraria Bertrand.
1976. p. 143
A leitura desta historiografia que deu-nos a base da pesquisa, também desafiou-nos a
ler os textos referenciados do reformador, tarefa que nos dispensou particular prazer e com
certeza enriqueceu-nos o conhecimento. Portanto documentos famosos de Lutero, como o
Manifesto à Nobreza Cristã da Nação Alemã, de 1520; Da Autoridade Secular, até que ponto se
lhe deve obediência, 1523, texto que Skinner destaca como um dos documentos essenciais no
pensamento político e social de Lutero, entre outros, também serão referenciados como fontes
de pesquisa.

“OS DOIS REINOS”: IGREJA E ESTADO NO PENSAMENTO POLÍTICO DE LUTERO.

Quando pensamos em Lutero apenas como um reformador da igreja, passamos a


limitar o alcance de sua atuação. Mais do que reformas religiosas, Lutero ambicionava reformas
sociais e políticas, o que fica bem claro em um de seus mais famosos escritos; O manifesto a
nobreza cristã da Alemanha, que após a primeira semana de publicação já tinha os 4.000
exemplares esgotados3.
Ao enviar o texto, primeiramente para a apreciação do colega, Nicolau Von Amsdorf,
Lutero expõe o seguinte sobre seus propósitos:
Passou o tempo de calar, chegou o tempo de falar, como diz Eclesiastes. De acordo
com nosso propósito, reuni algumas propostas para a melhoria do estamento cristão,
para apresentá-las a nobreza cristã da nação Alemã. (...) Envio tudo isso a vossa
reverência, para julgá-lo e corrigi-lo onde necessário. Sei que não deixarão de me
censurar por ser demasiadamente ousado que eu, pessoa desprezada e retirada do
mundo, me atreva a dirigir-me a tão elevados e magnos estamentos em assuntos de
tamanha relevância. Como se não houvesse ninguém no mundo se não o doutor Lutero
para se preocupar com o estamento cristão e dar conselho a pessoas tão inteligentes.
Ponho de lado minhas desculpas, censurem-me quem quiser... 4

Segundo Altmann, a palavra Estamento, usada neste documento, que muitas vezes
também foi traduzida por “estado”, deve ser entendida menos como instituição política no sentido
moderno, e antes como uma posição social de diversos seguimentos hierarquicamente
estratificados. Quer dizer, é a situação da cristandade em geral que devia ser melhorada de
acordo com o reformador5. Segundo ele é neste documento que vai destacar-se pela primeira
vez o perfil reformador de Martinho Lutero.
Neste texto Lutero ataca duramente o que ele denomina de as três muralhas de
proteção da Igreja, a saber, o direito da igreja sobre o poder secular, o direito de exclusividade
sobre a interpretação das Escrituras Sagradas e a prerrogativa de que apenas o papa poderia
convocar um concílio, e em seguida passa a explanar 26 sugestões de reformas não apenas no

3
FISCHER, Joachim. Martinho Lutero: Obras Selecionadas. Trad. Ilson Kayser. São Leopoldo: Sinodal, 1995. p.278.
4
LUTERO, Martinho. À Nobreza Cristã da Nação Alemã, acerca da Melhoria do Estamento Cristão, 1520 . In: Martinho
Lutero Obras Selecionadas. 1524. Trad. Ilson Kayser. São Leopoldo: Sinodal, 1995. p. 279
5
ALTMANN, Walter. Lutero e Libertação. São Paulo: Editora Ática, 1994. p. 187

2
âmbito religioso, mas também social e político, como a erradicação da mendicância, acordos de
paz com a Boêmia, entre outras.
De acordo com Skinner, a teologia de Lutero trazia consigo implicações políticas da
maior importância, que somadas, respondem pelo que é mais distintivo e influente em seu
pensamento social e político. Ele assume um claro compromisso de repudiar a idéia, segundo a
qual a Igreja possui poderes de jurisdição, e por isso detém autoridade para dirigir e regular (...)
as objeções formuladas por Lutero a posição social e aos poderes da igreja, o levaram a repelir
toda e qualquer pretensão das autoridades eclesiásticas a exercer jurisdição sobre os assuntos
temporais6.
Isto porque segundo o entendimento medieval clássico, o papa era detentor das duas
espadas, tanto a espiritual quanto a secular, estando em sua competência delegar esta última ao
imperador.
A supremacia papal sobre os governantes foi afirmada já em 494 pelo papa Gelásio I,
numa carta ao imperador Anastásio que dizia; “Há duas maneiras pelas quais este mundo é
basicamente governado, a autoridade sagrada dos sacerdotes e o poder real, dessas, a
responsabilidade dos sacerdotes é a mais séria...”7
O que foi chamado de “inflação galopante das exigências papais” durante o milênio que
separou Lutero de Gelásio I, pode ser traçada nos ditos de Gregório VII, Inocêncio III e Bonifácio
VIII. Na Bula Unam Sanctam (1302), Bonifácio afirma que, visto que tanto a autoridade temporal
quanto a espiritual residiam na igreja, o papa tinha o direito de depor governos seculares quando
contrariassem a sua vontade.8
O próprio Lutero, em seu manifesto “À Nobreza Cristã da Nação Alemã”, em 1520,
denunciava com fúria práticas representativas deste pensamento.
De forma alguma deve-se permitir a diabólica arrogância de que o imperador beije os
pés do papa ou se assente aos seus pés ou, como se diz, lhe segure o estribo e o
cabresto da mula ao montar, muito menos ainda deve ele jurar obediência e fiel sujeição
ao papa, conforme o têm exigido descaradamente os papas, como se tivessem direito a
isso. (...) Não cabe ao papa elevar-se acima do poder secular se não em funções
espirituais como pregar e absorver9.

De acordo com Skinner, as premissas teológicas de Lutero não somente o levaram a


atacar os poderes jurisdiciais da igreja, como também a preencher o vazio de poder assim criado,
procedendo a uma defesa das autoridades seculares e dando seu aval a uma extensão, sem
precedentes, da gama de seus poderes. Para Lutero, a tremenda batalha teológica travada
durante a idade média, entre os protagonistas do regnum e do sacerdotium, chegava
6
SKINNER, Quentin. As Fundações do Pensamento Político Moderno. Trad. e revisão técnica: Renato Janine Ribeiro.
São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 294.
7
GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1993. p.99
8
Idem.
9
LUTERO, Martinho. À Nobreza Cristã da Nação Alemã, acerca da Melhoria do Estamento Cristão, 1520 . In: Martinho
Lutero Obras Selecionadas. Trad. Ilson Kayser. São Leopoldo: Sinodal, 1995. p. 305

3
subitamente ao fim, e a idéia do papa e do imperador como poderes paralelos e universais
desaparece10.
Lucien Febvre ainda chama atenção para um dado crucial no pensamento Luterano;
isto é, a fundamentação ideológica do Estado como uma instituição divina, e destaca: “eis o
importante”. Segundo Febvre; por vinte vezes, nos seus superabundantes textos de
1529,1530,1533, Lutero desenvolve este tema, e foi ele, ele apenas, que primeiro legitimou
verdadeiramente, fundamentando plenamente em Deus, o poder absoluto dos príncipes11.
O próprio Lutero tinha plena consciência disto, e escreve orgulhosamente em 1525, “O
nosso ensinamento deu a soberania secular a plenitude do seu direito e do seu poder, realizando
assim o que os papas não tinham nunca feito nem querido fazer...12” E insistia:
"Temos que fundamentar bem o direito e a espada secular para que ninguém duvide
que ela exista no mundo por vontade e ordenação de Deus. As palavras que a fundamentam
são: Rm. 13: 1-2 e 1 Pe 2:13”13. De acordo com Skinner, a influência de Lutero contribuiu para
tornar (Rm.13;1), durante toda a era da reforma, o texto mais citado a respeito dos fundamentos
da vida política14.
A doutrina dos dois reinos, como ficou conhecida, tem um papel bastante ilustrativo no
pensamento de Lutero. Ele costumava usar esta figura para falar das atribuições ou diferentes
papeis atribuidos ao governo temporal e o governo espiritual, como também costumava
denominar as funções do Estado e da Igreja.
Segundo Lutero, Deus estabeleceu dois reinos, ambos criação de Deus, e ambos
sobre o governo de Deus. Mas um esta sob a lei (estado- poder civil) e o outro sob o evangelho
(Igreja).
Embora ambos tenham origem divina e estejam debaixo do mesmo poder, o governo
civil foi estabelecido com o intuito de restringir os perversos e limitar as consequências do
pecado, os limites de sua atuação estão restritos a questões temporais, inclusive podendo usar a
espada sempre que necessário.
Visto que são poucos os crentes e somente a minoria age como cristãos, não resistindo
ao mal, ou até fazendo ele próprio o mal, Deus criou para esses, ao lado do estado
cristão e do reino de Deus, outro regime (regiment) e os submeteu à espada, a fim de
que, ainda que o queiram, não possam praticar sua maldade e, caso a pratiquem, não o
possam fazer sem temor e em paz e felicidade15.

Oswald Bayer observa, de forma muito pertinente, que a orientação política de Lutero
resulta de uma ética da política associada à teologia do pecado, e por isso, compreende a ordem
estatal como antídoto necessário contra a natureza corrompida, orientação esta, que na era
10
Quentin Skinner. Op. Cit. P. 296-297
11
Lucien Febvre. Op. Cit. p. 233.
12
Idem.
13
Idem.
14
Quentin Skinner. Op. Cit. P. 297.
15
Martinho Lutero. Da autoridade Secular. 1524.

4
moderna, associou-se de modo influente à concepção do estado natural e do contrato social,
como defendida por tomas Hobbes16.
As palavras de Lutero a seguir nos fornecem a prova desta semelhança:
Visto que todo mundo é mau e entre mil é difícil encontrar um único verdadeiro cristão,
um devoraria o outro, de maneira que ninguém estaria em condições de ter mulher e
filhos, trabalhar pelo sustento e servir a Deus, o mundo seria devastado. Por isso Deus
instituiu os dois domínios, o espiritual que cria cristãos e pessoas justas através do
Espírito Santo, e o temporal que combate os acristãos e maus, para que mantenham
paz externa e tenham que ser cordatos contra a sua vontade17.

O controle da barbarie, para usar uma linguagem Hobbesiana, também era para Lutero
a justificativa para o controle do Estado. Deus instituiu o Estado, segundo Lutero, para por meio
dele controlar o pecado e maldade do mundo.

Embora ordenado por Deus, o reino temporal constituía um domínio plenamente distinto
em suas funções do reino espiritual. Em uma de suas cartas, endereçada a câmara de Danzig:
Winttenberg, em 1525, Lutero declara: “é necessário manter o regime espiritual do evangelho
bem separado do regime secular exterior, evitando a todo custo confundi-los” 18.
Todos os poderes coercitivos assim, são tratados como temporais por definição, uma
vez que os poderes dos papas e dos bispos consistem em "nada mais do que em inculcar o
verbo divino", e, portanto, não constituem "matéria de autoridade e poder", no sentido mundano19.
Assim, toda pretensão do papa ou da igreja a exercer qualquer jurisdição mundana em
decorrência de seu ofício deve representar uma usurpação dos direitos das autoridades
temporais.
Mesmo o crente, o papa, ou quem quer que seja, ainda que parte do reino espiritual,
deve também ser submisso e estar sujeito ao governo civil. A menos que este se chocassem
com principio de fé, neste caso o cristão deveria se submeter a sua fé e dizer como Pedro: Antes
importa obedecer a Deus do que a homens” Atos 5:29.
Segundo Lutero, em assuntos de fé, o súdito deve seguir a sua consciência, ainda que
para isso seja necessário desobedecer a autoridade secular e estar disposto a suportar as
conseqüências sem retaliação, ou seja, o cristão não deve praticar o mal, mas suportá-lo se
necessário. E dizia:
“Ao mal não se deve resistir, mas tolerá-lo. No entanto, não se deve aprová-lo nem
colaborar com ele ou seguir e obedecer-lhe se quer com um passo ou com um dedo20”.
Já a igreja, a quem cabe o governo espiritual, estão reservadas as questões de fé,
especialmente pregar o evangelho. Em seu manifesto de 1520, “À Nobreza Cristã da Nação
16
BAYER, Oswald. A Teologia de Martim Lutero. Trad. Nélio Schneide. São Leopoldo: Sinodal, 2007.p. 106.
17
Martinho Lutero. Da autoridade Secular. 1524.
18
LUTERO, Martinho.. Lutero à câmara de Danzig: Winttenberg, 5 de Maio de 1525 In: Martinho Lutero Obras
Selecionadas. 1525. Trad. Ilson Kayser. São Leopoldo: Sinodal, 1995. p.130.
19
Quentin Skinner. Op. Cit. P. 297.
20
Martinho Lutero. Da autoridade Secular. 1524. p.102.

5
Alemã”, Lutero faz questão de deixar muito claro seu parecer sobre as atribuições e limites do
governo espiritual.
Que não cuidem senão das questões de fé e bons costumes, deixando para os juízes
seculares aquelas que tangem a dinheiro, bens matérias e corpo ou honra. Por isso o
poder secular não deve permitir a excomunhão e processos em casos que não se
referem à fé ou vida correta. O poder espiritual deve reger os bens espirituais, tal como
o ensina a razão. Bens espirituais, entretanto, não são dinheiro nem coisas materiais,
mas fé e boas obras21.

Contudo não podemos exagerar a originalidade de Lutero, antes cabe questionar o


porquê a mensagem do reformador, especialmente suas implicações políticas e sociais, teria
exercido tamanha atração sobre países tão diferentes.
Segundo Skinner, para o historiador do pensamento político, o fator mais importante só
pode ser o dado de que as doutrinas políticas de Lutero, e as premissas teológicas em que elas
se fundavam, estavam filiadas de bastante perto a numerosas tradições bem arraigadas do
pensamento medieval tardio22. Diversas críticas já haviam sido expostas, com animosidade
crescente, no final da Idade Média, quer por teólogos que se opunham à monarquia pontifícia,
quer pelos numerosos aliados e porta-vozes das autoridades seculares.
Nomes como o de John wyclif, na Inglaterra e vários de seus discípulos clérigos de
Oxford, que deram início ao movimento lolardo. John Huss, na Boêmia, que inspirou o
movimento Hussista. Guilherme de Occam e Marsílio de Pádua, entre vários outros, respondiam
já por uma tradição de questionamentos e resistência as ambições de jurisdição da igreja.
Diante deste quadro, tão logo Lutero vozeou seu protesto, os discípulos e simpatizantes
dessas tradições tenderam a ser arrastados pelo amplo movimento de reforma religiosa,
reforçando-o com sua presença e concorrendo para garantir que a mensagem luterana fosse
primeiro, ouvida e analisada com certa simpatia, e assim pudesse adquirir uma influência
imediata e bem difundida23.

21
LUTERO, Martinho. À Nobreza Cristã da Nação Alemã, 1520. p. 302.
22
Quentin Skinner. Op. Cit. P. 303
23
Idem.

6
CONCLUSÂO

Não é em vão que Lutero tenha sido considerado um dos personagens mais
controvertidos da historiografia moderna. Para muitos, o grande herói da reforma protestante e
arauto da liberdade de pensamento e expressão, tendo assim prestado grande contribuição ao
desenvolvimento cientifico moderno. Para outros, Lutero não passou de um monge alucinado e
sem papas na língua, que trouxe divisão a igreja e contribuiu para os desmandos cometidos
posteriormente pelo Estado absolutista.
Seu pensamento político também foi e continua sendo interpretado de diversas formas.
Alguns vêem Lutero como um grande conservador em relação à política e atrelado aos
interesses econômicos e políticos de seu tempo. Outros o tratam como um grande idealista, que
apesar de rude e por vezes bastante radical, tinha a melhor das intenções, como é o caso de
Lucien Febvre.
O que não podemos negar é à força de seu pensamento. Suas doutrinas,
especialmente no âmbito político, como o ataque aos poderes de jurisdição temporal da igreja,
representada pela “doutrina dos dois reinos” influenciaram pensadores posteriores e contribuíram
para a demarcação dos limites funcionais entre igreja e Estado.
Contudo, vale aqui uma importante ressalva, não podemos pensar esta distinção em
termos de separação no sentido moderno-liberal entre igreja e Estado, uma “secularização
radical” do âmbito político, o que de fato se propiciou com o advento do iluminismo.
Mas também não podemos negar que as propostas de Lutero, tenha de certa forma
contribuído para isso, como sugere Walter Altmann. Segundo ele: “a pesquisa mostra que houve
luteranos no Estado Unidos que encontraram na “doutrina dos dois reinos” legitimação para a
separação de igreja e Estado adotada naquele país24”.
Contudo, seguramente a maior influência do pensamento político de Lutero deu-se
através de sua contribuição ao absolutismo do século XVI e XVII. Relação esta que Skinner
aponta como um dos fundamentos do pensamento político moderno.

24
Ibdem. p. 161.

7
BIBLIOGRAFIA

ALTMANN, Walter. Lutero e Libertação. São Paulo: Editora Ática, 1994.

BAYER, Oswald. A Teologia de Martim Lutero. Trad. Nélio Schneide. São Leopoldo: Sinodal,
2007.

DELUMEAU, Jean. Nascimento e Afirmação da Reforma . Trad. João Pedro Mandes. São Paulo:
Pioneira, 1989.

FEBVRE, Lucien. Martinho Lutero: Um Destino. 1ª Ed. Em Português. Trad. Maria Elizabeth
Cabral. Livraria Bertrand. 1976

FISCHER, Joachim. Martinho Lutero: Obras Selecionadas. Trad. Ilson Kayser. São Leopoldo:
Sinodal, 1995.

GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1993

LUTERO, Martinho. À Nobreza Cristã da Nação Alemã, 1520. In: Martinho Lutero Obras
Selecionadas. V. 2. Trad. Ilson Kayser. São Leopoldo: Sinodal, 1995. p. 277-340.

LUTERO, Martinho. Da Autoridade Secular, até que ponto se lhe deve obediência. In: Martinho
Lutero Obras Selecionadas. V.6 1524. Trad. Ilson Kayser. São Leopoldo: Sinodal, 1995. p. 79-
114.

LUTERO, Martinho.. Lutero à câmara de Danzig: Winttenberg, 5 de Maio de 1525 In: Martinho
Lutero Obras Selecionadas. V.6 Trad. Ilson Kayser. São Leopoldo: Sinodal, 1995. p.127-131

LUTERO, Martinho.Um Conselho do Doutor Martinho Lutero: se é permitido resistir com razão ao
imperador se ele quer usa de violência contra alguém por causa do Evangelho. 6 de Março de
1530. In: Martinho Lutero Obras Selecionadas. V.6. Trad. Ilson Kayser. São Leopoldo: Sinodal,
1995. p.132-137

SKINNER, Quentin. As Fundações do Pensamento Político Moderno. Trad. e revisão técnica:


Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

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