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foi um bispo e teólogo francês, um dos maiores teóricos do absolutismo, uma das
personalidades mais influentes em assuntos religiosos, políticos e culturais da França na
segunda metade do século XVII. Foi considerado o maior de todos os oradores sacros. É
um dos grandes vultos do Classicismo francês.
Em 1642, com 15 anos iniciou o estudo de Teologia no Collège de Navarre, em Paris. Foi
ordenado padre em 1652, quando terminou o seu doutorado. Nesse mesmo ano, foi
nomeado arcebispo de Metz.
Orador Sacro
Em 1659, Jacques Bossuet deixa Metz e retornou a Paris, onde rapidamente alcançou fama
como orador sacro. Suas principias preocupações eram a pregação e a controvérsia com os
protestantes, sintetizadas em seu primeiro livro “Réfutation du Catéchisme du Sieur Paul
Ferry”. A obra foi o resultado de suas discussões com Paul Ferry, o ministro da igreja
protestante reformada de Metz.
Entre 1660 e 1661, Bossuet pregou os sermões da Quaresma em dois famosos conventos
de Metz. Em 1662, foi chamado a pregar para os membros da corte do rei Luís XIV. Foi o
encarregado de pronunciar orações fúnebres de importantes personagens como Henriette-
Marie da Inglaterra e de Henriette-Anne, cunhada do rei Luís XIV.
Em 1669, Jacques Bosset foi nomeado bispo de Condom, uma diocese no sudeste da
França, mas teve que renunciar, pois em 1670 foi nomeado preceptor do príncipe herdeiro.
Em 1671, foi eleito para a Academia Francesa.
Teoria do Direito Divino
Em 1681, Bossuet foi nomeado bispo de Meaux, deixando a corte, mas continuou mantendo
laços com o rei. Nessa época, pronunciou sua segunda série de orações fúnebres, entre
elas, a da princesa Ana de Gonzague (1685) e a do príncipe de Condé (1687). Em 1688
publicou “História das Variações das Igrejas Protestantes”.
Em 1681, quando o clero francês se reuniu para examinar a controvérsia entre o rei Luís XIV
e o papa, Bossuet, no discurso de abertura da assembleia, sustentou que a autoridade do
monarca era suprema em questões temporais, enquanto que nas questões de fé, o papa
devia apoiar-se na autoridade da igreja em seu conjunto.
Com seus argumentos conseguiu que Roma condenasse o arcebispo de Cambrai, François
Fénelon, que praticava a doutrina. Sobre o tema escreveu, “Instruções Sobre o Chamado da
Oração” (1698) e "A Relação Sobre o Quientismo" (1698).
A ambição é, entre todas as paixões humanas, a mais ferina nas suas aspirações e a mais
desenfreada nas suas cobiças e, todavia, a mais astuta no intento e a mais ardilosa nos
planos.
Anne Robert Jacques Turgot (nome completo) nasceu em Paris (França) em 10 de maio de
1727. Faleceu em 18 de março de 1781, aos 53 anos, na mesma cidade em que nasceu.
Sua principal obra foi Reflexões sobre a formação e distribuição de riqueza, publicada em
1766.
Vale lembrar que Turgot viveu no contexto histórico do Iluminismo na França. Portanto, suas
ideias e teorias econômicas possuem muita afinidade com o pensamento iluminista.
- Foi auditor geral de finanças da França, nomeado pelo rei Luís XVI, entre 1774 e 1776.
- De acordo com Turgot, a agricultura era a principal atividade para a geração de riqueza.
Marquês de condorcet
Marie Jean Antoine Nicolas de Caritat, Marquês de Condorcet é um filósofo extremamente
importante para se pensar na confluência entre a história e a filosofia da educação.Imerso
nos acontecimentos revolucionários na França do século XVIII, Condorcet estrutura uma
proposta de educação profundamente enraizada em seu pensamento político. Este, por usa
vez, constitui a um só tempo a síntese e a radicalização do ideário das Luzes francesas,
naquilo que tal ideário contém em termos de defesa da liberdade de pensamento e da
instrução como condição para a autonomia. A teoria da história de Condorcet - expressa,
sobretudo, no Esboço de um quadro histórico dos progressos do espírito humano —
estabelece o conhecimento como o fator mais decisivo da história humana: aquele que é
capaz de alterar o modo como os homens se relacionam entre si e com a natureza; e que
fará com que as conquistas da revolução tornem-se perenes, posto que um sistema de
instrução pública perpetuaria as conquistas revolucionárias nos corações e nas mentes da
juventude. Pode-se dizer que, com Condorcet e com os amigos da razão, o século XVIII
produziu a consciência do papel político da educação. Em um tempo de trevas, continua
Condorcet, “este despertar só teria durado um momento: cansados de sua independência,
os homens teriam procurado em novas correntes um sono doloroso e penoso. Em um
século de luzes, este despertar será eterno”. Se Condorcet valoriza o caráter histórico do
conhecimento, nem por isso negligencia a necessidade das ações humanas para promovê-
lo. Mesmo que o autor considere que a história siga invariavelmente a trajetória de um
estágio pior para um estágio melhor (o que é define a sua noção de progresso), nem por
isso esse progresso ocorreria sem a intervenção voluntária dos homens em suas decisões
políticas (CONDORCET, 2008, p. 258).
Ele estava convencido de que apenas as classes industriais – aquelas que realmente se
envolviam em trabalho produtivo – eram as pessoas necessárias para o avanço da
sociedade. Nesse sentido, ele criticou fortemente as classes ociosas e parasitárias que só
viviam graças ao que os outros faziam.
Além dessa posição perante a organização social, ele também acreditava que a ordem
econômica deveria prevalecer sobre a política. Nesse sentido, ele antecipou idéias que mais
tarde elevariam o socialismo e o marxismo.
O corpus de sua proposta era que a política deveria ser a base do cristianismo. Um exemplo
disso é o seu trabalho mais reconhecido, o Novo Cristianismo , no qual ele se declarou um
representante da classe trabalhadora e afirmou que o objetivo do novo regime social é
alcançar a libertação dessa classe.
Suas idéias positivistas influenciaram bastante Augusto Comte , com quem trabalhou até
que seus caminhos ideológicos se separaram. Graças à influência de Saint-Simon no
pensamento de Comte, seus postulados também foram considerados precursores da
sociologia.
Graças a seus postulados, Engels o descreveu como uma das mentes mais brilhantes de
seu tempo junto com Hegel. Após sua morte, seus discípulos criaram a escola do
sansimonismo para espalhar suas idéias. Isso se tornou um tipo de seita religiosa que se
dissolveu na década de 1930.
Biografia
Outro membro importante de sua família foi o duque Louis de Rouvroy de Saint-Simon,
conhecido por seu trabalho Memórias, no qual se dedicou a descrever em detalhes como
era a corte de Luís XIV.
Graças à sua confortável posição econômica e social, ele foi discípulo de Jean le Rond
d’Alembert, um dos representantes mais proeminentes do movimento enciclopédico francês
do século XVIII.
Trabalho no exército
Para continuar a tradição de sua família, ele se alistou no exército francês. Ele foi enviado
entre as tropas que prestaram assistência militar aos Estados Unidos durante a guerra de
independência da Inglaterra.
A influência da Revolução Francesa determinou sua carreira, então ele aumentou as listas
do Partido Republicano. Mais tarde, em 1792, ele foi nomeado presidente da Comuna de
Paris; a partir desse momento, ele renunciou ao seu nobre título e decidiu se chamar Claude
Henri Bonhomme.
Sua posição privilegiada durante a Revolução Francesa estava exausta diante de certas
acusações que ele especulara sobre os bens da nação; Além disso, sua amizade com
Danton também lhe causou alguns problemas. É por isso que ele esteve preso em 1793 até
que em 1794 ele foi libertado.
Falência
Saint-Simon viveu sua infância em uma confortável posição econômica. No entanto, sua
família nem sempre desfrutava desses benefícios.
Ele desfrutou de folga econômica durante o que é conhecido como Diretório, durante o qual
foi frequentado por personalidades como os matemáticos Monge e Lagrange.
No entanto, mais tarde a fortuna deixou seu lado e Saint-Simon entrou em uma situação
econômica precária. Nessa época, ele se concentrou em escrever inúmeras publicações
científicas e filosóficas até conseguir estabilizar suas finanças.
Mais tarde, ele voltou à pobreza. Como resultado de sua desesperada situação econômica,
ele tentou cometer suicídio, mas não conseguiu; No incidente, ele perdeu um olho.
Morte
Henri de Saint-Simon morreu em 19 de maio de 1825 em sua cidade natal, Paris. Seus
últimos anos foram enquadrados em pobreza absoluta.
Teorias em sociologia
Ele chamou os “industriais” daqueles que, com seu trabalho, incentivaram a sociedade a
avançar. Esta classe era composta por banqueiros, trabalhadores, camponeses,
comerciantes e investidores.
Nesse sentido, propôs que o Estado tivesse como objetivo principal o desenvolvimento e a
promoção da produção e industrialização como a chave para alcançar a formação de uma
nova ordem social.
Segundo Saint-Simon, graças a essa nova concepção de sociedade, uma melhoria nas
condições de vida da classe maior e mais pobre poderia ser alcançada; ou seja, o
proletariado.
Embora suas idéias tenham sido consideradas o germe do socialismo e do marxismo, seus
postulados contêm uma crítica ao capitalismo, ao sugerir a formação de uma nova ordem.
Isso ocorre porque as contradições entre a classe burguesa e proletária ainda não eram
evidentes, mas as encontraram em termos de ociosidade e produtividade. Por isso, ele se
considerava um inimigo da luta de classes entre proletários e burgueses.
Para Saint-Simon, a propriedade privada era positiva desde que se tornasse boa para
produção e industrialização; No entanto, ele criticou os privilégios da herança como uma
maneira de combater o acúmulo de bens ao longo das gerações.
Por esse motivo, ele propôs que fosse realizada uma reorganização moral da classe
dominante, para que a transformação realmente ocorresse em uma sociedade cuja base era
o trabalho e na qual o esforço de cada trabalhador fosse reconhecido, porque naquela
sociedade da O trabalho futuro deve ser garantido para todos, de acordo com suas
habilidades.
Como sua proposta era a de uma sociedade industrializada, Saint-Simon propôs que os
cientistas ocupassem o papel que os clérigos anteriormente tinham e liderassem a classe
mais numerosa para que pudessem melhorar suas condições de vida. É por isso que seus
postulados dão origem à tecnocracia do século XX.
Desse modo, uma nova ordem social poderia ser construída com base nos princípios do
cristianismo, cujo objetivo final deveria ser melhorar as condições de vida da classe mais
pobre.
Outras contribuições
Além das contribuições que ele fez para a concepção de sociologia e socialismo em geral
com sua proposta de socialismo utópico ou aristocrático, os postulados de Saint-Simon
também foram inovadores para o seu tempo em termos de visão da história.
Com suas idéias, ele superou o materialismo francês, uma vez que considerava que a
história não é composta de fatos concatenados pelo efeito do acaso, mas que em cada
processo há um progresso histórico específico.
Por isso, para ele, o melhor momento da história será o futuro, no qual a sociedade do futuro
será liderada pela ciência e pela indústria. Isso corresponde ao cenário ideal para Saint-
Simon.
Fases da história
Em seu estudo, ele disse que a história está organizada em três fases da evolução. A
primeira foi chamada de fase teológica, na qual a sociedade é governada por princípios
religiosos; Nesta denominação estão a sociedade escrava e feudal.
Em sua revisão da história, ele analisou a evolução da França desde o século XV até a
Revolução Francesa, concentrando-se na transferência da propriedade das mãos do clero e
da nobreza nas mãos dos industriais.
Toda essa visão da história responde a paradigmas idealistas que também abordaram a
interpretação correta, porque significam uma contribuição para o desenvolvimento da ciência
da história.
Sansimonism
Após a morte do conde de Saint-Simon, em 1825, seus seguidores o perceberam como uma
espécie de novo messias que queria promover esse “novo cristianismo”.
Para dar vida aos seus postulados, alguns de seus discípulos – como Barthélemy Prosper
Enfantin, Saint-Amand Bazard e Olinde Rodrigues – formaram um jornal, Le Producteur ,
para atacar o liberalismo.
Com o passar do tempo, tornou-se uma seita, seus líderes sendo perseguidos pelas
autoridades. Toda essa situação levou à dissolução desse movimento, que ocorreu
aproximadamente em 1864 com a morte de Barthelemy Prosper Enfantin, um líder
samsimoniano.
Trabalhos
É de 1802 ou 1803 e ele o publicou nos primeiros anos da Revolução Francesa, quando
empreendeu uma viagem pela Alemanha, Reino Unido e Suíça.
Neste texto, ele começou a vislumbrar o que mais tarde concebeu como sua teoria da
capacidade. Seu formato é muito interessante, porque são cartas que você envia a um
amigo imaginário que responde, graças às quais você pode explicar suas reflexões de
maneira didática e bastante explicativa.
Sistema industrial
Este é o segundo livro que Saint-Simon publicou e viu a luz em 1821. Este texto faz parte da
segunda etapa da vida de seu autor, definida por estudiosos, porque nessa época é quando
ele se concentra em publicações com abordagens mais práticas e circunscritas. para o
problema atual.
Este é o texto que ele dedica à classe que, de acordo com suas considerações, deve liderar
toda a mudança de ordem social.
O novo cristianismo
Este texto corresponde ao trabalho mais importante de sua carreira, publicado precisamente
em 1825, o ano de sua morte.
Neste trabalho, ele condensa todos os seus postulados políticos, econômicos e sociológicos
pelos quais Marx assegurou que Saint-Simon era sem dúvida o pai do socialismo, pois esse
pensador assegurou que a libertação da classe trabalhadora era o objetivo final de toda
nova ordem social.
Referências
1. “Biografia de Saint-Simon”. Na Biografia Retirado em 12 de novembro de 2018
de Biografia: biografia.org
2. “Conde de Saint-Simon” em biografias e vidas. A enciclopédia biográfica
online. Retirado em 12 de novembro de 2018 de Biografias e vidas:
biografiasyvidas.com
3. “Claudio Enrique Saint-Simón” em filosofias espanholas. Recuperado em 12
de novembro de 2018 de Philosophies in Spanish: filosofia.org
4. “Henri de Saint-Simon” na Enciclopédia Britânica. Retirado em 12 de
novembro de 2018 da Encyclopedia Britannica: britannica.com
5. “Saint-Simon, precursor do socialismo” em Very History. Recuperado em 12
A história para Vico é um fluxo evolutivo de acontecimentos que nos leva a uma razão
esclarecida, mas para ele existem verdades humanas que não podem ser demonstradas
através das evidências racionais como as verdades da história, da poesia, da pedagogia da
medicina, do direito, da política, da arte e da moral.
O método racional geométrico cartesiano não nos garante a verdade dos nossos
conhecimentos sobre as coisas humanas; a razão e a geometria funcionam muito bem com
os números e grandezas mas não tem a capacidade de abranger e explicar as outras
matérias, especialmente as humanas. O conhecimento e o entendimento sem defeitos é
uma característica de Deus, a nós humanos resta um pensar limitado que vamos reunindo
conhecendo algumas características dos objetos que percebemos. Nós e Deus conhecemos
as coisas que fazemos, como Deus criou o objeto real ele tem o real conhecimento de tudo,
nós conhecemos e criamos objetos ilusórios como a matemática que podemos entender
verdadeiramente pois ela é o resultado de uma operação intelectual humana. Para Deus
fazer e conhecer são a mesma coisa, para os homens não.
Vico considera que Descartes errou ao acreditar que a matemática, uma criação humana,
poderá entender o restante do universo que é uma criação divina. A razão é a consciência
do ser, mas não o conhecimento dele. A razão humana não é a causa da existência do
homem, não foi a razão que criou o meu corpo, portanto não é ela que vai entendê-lo. A
razão também não é a causa da minha mente pois a nossa reflexão é um vestígio, um
recurso utilizado pela mente para tentar conhecer, mas não é a totalidade da nossa mente.
O pensar nos dá o conhecimento da nossa existência, mas não nos garante o conhecimento
total de quem realmente somos.
Giambattista diz que os filósofos e historiadores de sua época estavam fazendo da história
uma invenção, uma ilusão criada para exaltar nações ou determinados personagens
históricos. A história como exaltação de fatos ou personalidade não representa os princípios
fundamentais do homem e da história, que é uma criação do homem. A história tem que ter
uma ligação real como o homem, caso contrário ela não se sustenta nem cria tradição.
O homem é o personagem principal da história porque é originalmente um ser sociável e ao
se sociabilizar ele cria a história. Além de ser um animal sociável o homem é livre e por isso
a história da humanidade é o resultado das escolhas dos homens de cada época. Segundo
as palavras de Vico “Enquanto animal o homem pensa somente em sua sobrevivência, mas
quando cria família, tem mulher e filhos, ele busca sobreviver junto com sua cidade”.
Seguindo um pensamento de Platão, Vico divide a história em três períodos: dos deuses,
dos heróis e dos homens, no primeiro os homens eram ignorantes, insensatos e prevalecia
a animalidade, nessa época os homens pouco ou nada usam a reflexão, estão mais ligados
aos sentidos. Na época dos heróis prevalece a fantasia, a imaginação, é um período onde a
força é a base da estruturação social. No período dos homens o que se destaca é a razão,
nessa época os homens atingem a consciência crítica e a sabedoria.
A história é o resultado também das ações divinas mas não de forma direta, para Vico a
providência divina criou ideais a serem alcançados pelos homens. Ideais como justiça,
verdade e o bem são objetivos que o homem tenta alcançar e tenta fazer isso de maneira
livre.
No estudo da linguagem, Vico acredita que o modo de falar popular testemunha com mais
veracidade os costumes de um povo. Os sistemas de comunicação que perduram em uma
determinada língua são a expressão mais fiel da vida dessas pessoas, razão pela qual não
é possível entender uma sem compreender a outra.
Sentenças:
Positivismo
Comte via o surgimento desses novos problemas e fenômenos como sintomas de uma
doença a ser curada. Ele acreditava que os problemas sociais e as sociedades, em geral,
deveriam ser estudadas com o mesmo rigor científico que as demais ciências naturais
tratavam seus respectivos objetos de estudo. Os fenômenos sociais deveriam ser
observados da mesma forma que um biólogo observa os espécimes de seus estudos.
Comte propunha uma ciência da sociedade, capaz de explicar e compreender todos esses
fenômenos da mesma forma que as ciências naturais buscavam interpelar seus objetos de
estudo.
O estado positivo, por sua vez, segundo Comte, caracteriza-se pela subordinação da
imaginação e da argumentação à observação. Assim sendo, o processo de construção do
conhecimento humano deve ocorrer a partir da experimentação própria do método científico.
Isso, no entanto, não quer dizer que Comte posicione-se a favor de um reducionismo
empírico, isto é, reduzir todo conhecimento à apreensão de fatos isolados observáveis.
Comte compreendia que, por mais que fosse possível apreender leis de regras gerais de um
fenômeno, as relações constantes entre fenômenos são diversas. Portanto, ainda que se
estabeleçam leis imutáveis nas relações de fenômenos diferentes, fixá-los a partir da
pretensão de que todos se comportam de uma mesma maneira é um engano.
É no estado positivo que Comte designa à Sociologia o papel de condução do mundo social.
Para ele, a sociologia seria responsável por interpelar os problemas sociais de nosso
mundo, entender as leis que regeriam seu funcionamento e produzir soluções para esses
problemas.
Montesquieu
Biografia de Montesquieu
Montesquieu (1689-1755) foi um filósofo social e escritor francês. Foi o autor de
"Espírito das Leis". Foi o grande teórico da doutrina que veio a ser mais tarde a
separação dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. É considerado o
autêntico precursor da Sociologia Francesa. Foi um dos grandes nomes do
pensamento iluminista, junto com Voltaire, Locke e Rousseau.
Com a morte de seu pai, Montesquieu herdou o título de Barão de La Brède. Mais
tarde, herdou de um tio uma propriedade rural produtora de vinho, que manteve pelo
resto da vida, e o título de Barão de Montesquieu.
Cartas Persas
A Filosofia de Montesquieu
Em 1748, Montesquieu publicou sua obra principal “O Espírito das Leis”, obra de
grande impacto, editada inúmeras vezes e traduzida para outras línguas. Nela,
Montesquieu elabora sua teoria política e o resumo de suas ideias.
Para Montesquieu não existia uma forma de governo ideal que servisse para
qualquer povo em qualquer época. Em “O Espírito das Leis” Montesquieu elaborou
uma teoria sociológica do governo e da lei, mostrando que a estrutura de ambos
depende das condições em que cada povo vive.
Assim, para criar um sistema político estável tinha que ser levado em conta o
desenvolvimento econômico-social do país e até determinantes geográficos e
climáticos influenciavam decisivamente na forma de governo.
Montesquieu considerava que cada uma das três formas de governo era baseada
por um princípio: a democracia baseia-se na virtude, a monarquia na honra e o
despotismo no medo.
Sua contribuição mais conhecida foi a “Doutrina dos três poderes”, baseada em
Locke, em que defendia a divisão da autoridade governamental em três setores
fundamentais: o executivo, o legislativo e o judiciário, cada um independente e fiscal
dos outros dois.
Obras
Biografia
Filho de Marie Françoise de Pesnel, de origem inglesa e Jacques Secondat, de descendência
francesa, Charles-Louis de Secondat, nasceu em Bordeaux, França, no dia 18 de Janeiro de
1689. Pertencente à uma família aristocrática, Charles ficou conhecido como Barão de La
Brède e principalmente, por Montesquieu. Teve uma boa educação e com apenas 16 anos
ingressou na Universidade de Bordeaux, no curso de Direito.
Em Paris, estudou na Academia Francesa donde fazia parte dos grandes círculos
intelectuais da cidade. Viajou pela Europa expandindo seus conhecimentos e acrescentando
à sua formação intelectual, segundo ele: “Quando vou a um país, não examino se há boas
leis, mas se as que lá existem são executadas, pois boas leis há por toda a parte”. Em
Londres, iniciou-se na maçonaria e, em 1729, foi eleito membro da "Royal Society". Por fim,
aos 66 anos, faleceu em Paris, dia 10 de Fevereiro de 1755, vítima de uma febre.
Principais Ideias
Foi um crítico do absolutismo e do catolicismo, defensor da democracia, sendo sua obra
mais destacada “O Espirito das Leis”, publicada em publicação em 1748, um tratado de
teoria política, no qual aponta para a divisão dos três poderes (executivo, legislativo e
judiciário).
● Filósofos Iluministas
● Monarquia Constitucional
● Poder Moderador
Principais Obras
Proficiente leitor e escritor, divulgou suas ideias por meio de muitas obras, das quais se
destacam:
Frases
● “O estudo foi para mim o remédio soberano contra os desgostos da vida, não
havendo nenhum desgosto de que uma hora de leitura me não tenha consolado.”
● “As conquistas são fáceis de fazer, porque as fazemos com todas as nossas forças;
são difíceis de conservar, porque as defendemos só com uma parte das nossas
forças.”
● “Se quiséssemos ser apenas felizes, isso não seria difícil. Mas como queremos ficar
mais felizes do que os outros, é difícil, porque achamos os outros mais felizes do
que realmente são.”
● “As viagens dão uma grande abertura à mente: saímos do círculo de preconceitos do
próprio país e não nos sentimos dispostos a assumir aqueles dos estrangeiros.”
● “A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus
princípios.”
● “Sempre vimos boas leis, que fizeram com que uma pequena república crescesse,
transformarem-se depois num peso para ela, depois de grande.”
● “É preciso saber o valor do dinheiro: os pródigos não o sabem e os avaros ainda
menos.”
Curiosidade
● Montesquieu também contribuiu para a concepção da célebre Enciclopédia
(Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers), juntamente com Denis
Diderot (1713-1784) e Jean le Rond D'Alembert (1717-1783).
O filósofo alemão Karl Marx baseou sua explicação histórica para as relações
sociais em pilares economicistas. Segundo Marx, é a economia que interfere na
vida social em todas as suas formas, gerando frutos em sua conseqüência. Para
explicar o impacto da economia na vida social, Marx utiliza-se de ferramentas
como o materialismo dialético e o caráter teleológico.
Wilhelm Dilthey
Biografia de Wilhelm Dilthey
Wilhelm Dilthey (1833-1911) foi um filósofo historicista alemão que deixou importante
contribuição para a metodologia das Ciências Humanas. É considerado o criador do
historicismo.
Contestou a ampla influência que as doutrinas positivistas possuíam sobre as
ciências humanas, especialmente as sociais, as históricas e as do psiquismo.
Historicismo
O Método Hermenêutico
A partir dos preceitos levantados anteriormente pelo filósofo e teólogo
Schleiermacher, Wilhelm Dilthey adotou a hermenêutica como metodologia para o
que ele chamava de ciência do espírito assumindo uma função de interpretação
histórica.
Publicou “Ideias Sobre uma Psicologia Descritiva e Analítica” (1894) e “Os Tipos das
Filosofias” (1911) em que estabelece como elemento criador da atividade psíquica
superior a “experiência”, que o psicólogo tem de “compreender” até chegar ao
“significado” da obra cultural humana.
Para Dilthey a cultura é a fonte das reais condições psíquicas e históricas do homem
no tempo, e por meio dela é possível entender a humanidade de forma mais
abrangente. O uso da hermenêutica levaria à interpretação das mudanças culturais
dentro do seu contexto histórico.
A Experiência e a Poesia
Para alguns críticos, a obra mais importante de Dilthey é “A Experiência e a Poesia”,
que abriu novos caminhos para a interpretação das obras de Goethe, Lessing,
Novalis e Hölderin.
Morte
Dois dias depois o prisioneiro enviou uma carta a seu amigo, o economista Piero Sraffa. 2
Nela, Gramsci relatou rapidamente que estava em ótimas condições de saúde e lhe
encaminhou um pedido:
A resposta de Sraffa veio rápida, como se pode ver pela carta que Gramsci encaminhou a
sua cunhada Tania no dia 19 do mesmo mês, informando que “o amigo Sraffa me
escreveu que abriu para mim uma conta corrente ilimitada em uma livraria de Milão”
(Idem, p. 23).3 Dois dias depois, o prisioneiro escreveu a seu amigo agradecendo-lhe a
oferta, informando que já havia feito uma primeira encomenda e contando um pouco de
seus planos. Na ilha, os confinados haviam organizado uma série de cursos elementares
de cultura geral. Amadeo Bordiga, que também se encontrava preso no local, era o
responsável pela “sessão científica” e Gramsci pela “sessão histórico-literária”; “eis
porque encomendei determinados livros”, explicou a Sraffa.
O primeiro projeto de pesquisa para os Quaderni del carcere data de 19 de março de 1927
e encontra-se em uma carta que o prisioneiro do fascismo enviou a sua cunhada Tatiana
Schucht.4 Já nele é possível identificar sua intenção de investigar a função ocupada por
Benedetto Croce na vida intelectual da península. Dentre os temas que Gramsci afirmava
querer estudar destacava-se:
Seu objetivo era retomar aquele ensaio sobre a questão meridional, escrito em 1926, no
qual havia delineado uma análise dos intelectuais como uma questão política italiana.
Segundo apontou naquele ensaio, a sociedade meridional era um grande bloco agrário
que contava em seu vértice com os grandes proprietários rurais e os grandes intelectuais.
Caberia a estes últimos as funções de centralização e dominação da vida cultural:
“Giustino Fortunato e Benedetto Croce representam, por isso, a pedra angular do sistema
meridional e, em certo sentido, são as duas maiores figuras da reação italiana” ( Gramsci,
1978, p. 150).5
Mas Gramsci demorou para dar início à redação dos Quaderni por razões “técnicas”,
como costumava dizer, e seu projeto inicial passou por sucessivas revisões. Foi só no
começo de 1929 que recebeu autorização para fazer anotações em um caderno e o
material necessário para tal. Enquanto isso não deixou de estudar febrilmente e de
avançar em sua pesquisa. É interessante acompanhar as encomendas que fez à livraria de
Milão e as requisições a seus correspondentes, principalmente sua cunhada.
Os livros que encomendou entre dezembro de 1926 e janeiro de 1927 eram, em sua
maioria, obras de literatura, história e economia. Os pedidos estão de acordo com os
anúncios feitos em dezembro de dedicar-se a estudar “economia e história” e de ter se
encarregado da “sessão histórico-literária”. Mas em 27 de janeiro de 1927 fez uma
encomenda de quatro livros de Benedetto Croce que destoou das antecedentes: Teoria e
storia dela storiografia, Storia dela storiografia italiana nel secolo decimonono, Saggio
sullo Hegel e Estetica. Aparentemente Gramsci não recebeu alguns desses livros ou não
pôde carregá-los consigo quando foi transferido de prisão, pois no dia 14 de novembro de
1927 pediu a sua cunhada que lhe enviasse mais uma vez “Benedetto Croce, Teoria e
Storia della Storiografia (Bari, Editori Laterza)” (Gramsci, 1973, p. 145).6 Depois, em abril de
1928 solicitou “Benedetto Croce, Storia d’Italia dal 1871 al 1915” (Idem, p. 198); e em
dezembro pediu alguns livros que haviam ficado no cárcere de Roma, entre eles “Ben.
Croce – La poesia di Dante (Bari, Laterza)”, “Ben. Croce – Poesia e non poesia (Bari,
Laterza)” e “o n. de setembro da Critica de Benedetto Croce” (Idem, pp. 243-244).
No dia 8 de fevereiro de 1929, Gramsci começou seu trabalho de redação dos Quaderni
com uma anotação na qual elencou dezesseis temas sobre os quais pretendia trabalhar.
Nesse plano, era apresentada a intenção de organizar uma investigação sobre a “teoria da
história e da historiografia”. A obra de Croce era um objeto importante dessa
investigação, uma área de pesquisa cujo nome remetia ao livro do filósofo italiano, Teoria
e storia della storiografia. A insistente requisição desse livro na correspondência
precedente é um sintoma de seu interesse. Tatiana provavelmente confundiu-se com os
títulos e lhe enviou equivocadamente o livro Storia della storiografia italiana nel secolo
XIX, o qual, como visto, Gramsci já havia requisitado à livraria de Milão, embora não seja
possível afirmar que o tenha recebido. Sobre os dois livros, comentou em uma carta de
dezembro de 1927:
A “utilidade carcerária” de Croce estaria, desse modo, fortemente situada de acordo com
essa carta de 1927, no âmbito de uma pesquisa sobre a teoria da história e da
historiografia. Mas a pesquisa planejada não se restringia apenas a Croce, como as
requisições de livros que se seguem podem ajudar comprovar. No dia 11 de março de
1929 escreveu a sua cunhada pedindo que lhe enviasse alguns livros que estavam em sua
casa de Roma, dentre eles, mais uma vez, “Benedetto Croce, Storia della storiografia
italiana nel sec. XIX”, o qual, segundo afirmava “já [...] comprei três vezes e sempre me é
roubado” (Idem, p. 259). E, no dia 25 do mesmo mês, solicitou mais três livros do filósofo
– “Benedetto Croce – Elementi di politica”, “B. Croce – Breviario di estetica” e,
novamente, “B. Croce – Hegel” – os quais haviam ficado em Roma quando de sua prisão.
Esta última requisição era acompanhada de uma síntese daqueles pontos elencados no
Primo Quaderno na qual a intenção de investigar a respeito dos intelectuais italianos era
reafirmada:
As recomendações de Gramsci mostram o valor que dava às ideias de Croce e o lugar que
destinava a elas em suas pesquisas. Mas também revelam sua preocupação em ter ao
alcance as fontes necessárias para sua investigação, o caráter minuciosamente planejado
de seus estudos e sua concentração no trabalho previamente estipulado. A carta acima
citada permite perceber as oscilações no programa de pesquisa gramsciano. Nessa
segunda e sintética versão Gramsci restringiu sua pesquisa sobre os intelectuais italianos
ao século XIX, o que permite concluir que, neste caso, Benedetto Croce seria uma fonte,
mas não um objeto de pesquisa, uma vez que sua atividade mais relevante como
organizador da cultura teve início apenas na virada do século, com o lançamento da
revista La Critica, em 1903. Essa restrição temporal implicava em um reenquadramento
daquela pesquisa que havia tido início em 1926 com a redação de La questione
meridionale, ensaio no qual o tema dos intelectuais encontrava seu lugar no século XX.
O plano resumido nessa correspondência permite inferir que Gramsci estaria pensando
em excluir Croce de sua investigação sobre os intelectuais italianos e limitar seu interesse
na obra do filósofo italiano a seus aspectos historiográficos, ou seja, apenas na medida
em que ela fosse uma fonte incontornável para uma pesquisa sobre a “teoria da história e
da historiografia”, na qual encontraria lugar sua reflexão sobre a filosofia da práxis. Mas
as primeiras notas redigidas para o Primo Quaderno revelam que esse plano de trabalho
ainda não se encontrava consolidado e que o ponto de vista de Gramsci a respeito
mudava à medida que a pesquisa avançava.
Benedetto Croce
Benedetto Croce (Pescasseroli, 25 de fevereiro de 1866 - Nápoles, 20 de
novembro de 1952) foi um filósofo, historiador e político italiano que escreveu
sobre diversos assuntos, incluindo filosofia, história, historiografia e estética.
Biografia
Croce nasceu em Pescasseroli, na região de Abruzos, no seio de uma família
rica, influente e conservadora.[3] A sua educação foi marcada por uma
atmosfera fortemente religiosa, da qual o jovem Croce cedo se distanciaria.
Em 1883, perdeu os pais, Pasquale e Luisa Sipari, assim como a irmã, Maria,
todos mortos num terremoto que acometeu a vila de Casamicciola Terme, na
ilha de Ísquia, onde a família passava férias. Nesta ocasião, o próprio Croce
permaneceu soterrado por longo tempo, tendo corrido sério risco de morte.
Após a fatalidade, ele herdou a fortuna da família, o que lhe permitiu viver em
relativo conforto, e dedicar tempo à reflexão filosófica.
“ Como filósofo e crítico, não receio nenhum pensamento, por
radical e destrutivo que pareça; e, como homem, aceito as mais
duras provas. E, no entanto, quando me surpreendo a sonhar,
sabeis qual aspiração encontro no fundo de minha alma? Um
convento setecentesco napolitano, com suas celas brancas e
seu claustro, que tem no meio um pátio de laranjeiras e
”
limoeiros, e, fora, o tumulto da vida faustosa e soberba que em
vão vem bater nas suas muralhas.[4]
Nessas fugazes referências fica claro que Croce era uma fonte de pesquisa, uma fonte de
inspiração e uma referência incontornável para compreender a cultura italiana. Não
tardaria muito, entretanto, para que Croce aparecesse como um objeto de investigação.
Mas ao contrário do que se poderia deduzir a partir da análise da correspondência, essa
primeira aparição se deu no âmbito de uma ampla pesquisa sobre a formação dos
intelectuais italianos e não no interior de uma investigação sobre a teoria da história.
Se não era nas universidades que as correntes mais dinâmicas da vida cultural italiana
poderiam ser achadas, onde elas, então, estariam? Para Gramsci era nas revistas que as
tendências intelectuais mais ativas e inovadoras se encontravam; era por meio delas que
a vida cultural e política italiana se expressava e o pensamento se organizava. Revelar as
linhas principais de estruturação da vida cultural exigia dar atenção às revistas político-
culturais. Gramsci já havia percebido isso e, por essa razão, naquele plano inscrito na
primeira página do Primo Quaderno imaginou uma investigação sobre as “Revistas-tipo:
teórica, crítico-histórica, de cultura geral (divulgação)”.
Essa força era destacada no importantíssimo § 43, do Primo Quaderno, intitulado “Riviste
tipo”. O conteúdo do parágrafo indica o caráter histórico e político de sua reflexão sobre
as revistas italianas. Nele Gramsci retomou ideias esboçadas pouco antes da prisão, em
sua análise do Mezzogiorno italiano, destacando o lugar dos intelectuais meridionais na
vida política nacional. Era a questão dos intelectuais a que se sobressaía: “Benedetto
Croce e Giustino Fortunato estão à frente, no início deste século, de um movimento
cultural que se contrapõe ao movimento cultural do Norte (futurismo)”. Este rapidíssimo
enunciado voltaria a aparecer no § 44 (“Direzione politica di classe prima e dopo l’andata
al governo”), uma nota na qual a questão dos intelectuais aparece associada a temas-
chaves da reflexão política gramsciana – a hegemonia das classes dirigentes, a revolução
passiva e o transformismo. De acordo com Gramsci:
[...] neste século, se realiza um certo bloco “intelectual” que tem à frente B.
Croce e Giustino Fortunato e que se ramifica por toda a Itália; em cada
pequena revista de jovens que tenham tendências liberal-democráticas e, em
geral, se proponham o rejuvenescimento da cultura italiana, em todos os
campos da arte, literatura, política (Idem, Q 1, § 44, p. 48).
A passagem acima foi escrita em março de 1930. Poucos meses depois, em maio do
mesmo ano, Antonio Gramsci iniciou a redação do Quaderno 4 com uma nova seção,
denominada “Appunti di filosofia. Materialismo e idealismo. Prima serie”. O título registra
a intenção de um estudo sistemático sobre a filosofia, que não se encontrava previsto nos
sumários anteriormente redigidos e uma nova ênfase que não havia sido anteriormente
indicada em lugar algum sobre as controvérsias entre as concepções filosóficas
materialista e idealista. O título foi repetido de modo idêntico em uma “Seconda serie”,
presente no Quaderno 7, e em uma “Terza serie”, no Quaderno 8.
Fabio Frosini afirmou que com os “Appunti di filosofia” Gramsci inaugurou um programa
de pesquisa teórico sobre o materialismo histórico no qual a centralidade de Croce se
justifica pela sua importância. Ao contrário da pesquisa anterior, inscrita no ensaio sobre
a questão meridional, dessa vez seriam investigados os pressupostos filosóficos que
tornariam possível o surgimento e consolidação dessa figura intelectual (Frosini, 2003, pp.
43-44). Ao acompanhar a evolução da pesquisa gramsciana pode-se perceber que esse
programa de pesquisa eminentemente teórico integrava de maneira criativa as dimensões
filosófica, histórica e política.
Nesse caso seria fundamental distinguir as obras “que ele [o autor] conduziu até sua
conclusão e publicou, daquelas inéditas, porque não concluídas”. E no caso de Marx,
porque era esse o autor do qual falava, também seria importante distinguir “obras
publicadas sobre a responsabilidade direta do autor” daquelas “não publicadas sob a
responsabilidade direta do autor”. Recomendava ainda cautela no estudo dos materiais
preparatórios das obras publicadas, bem como do epistolário (Idem, Q 4, § 1, pp. 419-420).
Toda a ênfase de Gramsci estava posta no desvelamento do “ritmo do pensamento”, no
Leitmotiv de um autor. O risco maior estaria em confundir o processo de investigação
com seu resultado, confundir as fontes mobilizadas durante a pesquisa com a concepção
de mundo resultante. Segundo o marxista sardo:
Para avançar na pesquisa Gramsci propôs duas tarefas: “1° biografia, muito minuciosa
com [2°] exposição de todas as obras, até mesmo as mais depreciadas, em ordem
cronológica, divididas segundo os vários períodos: de formação intelectual, de
maturidade, de posse e aplicação serena do novo modo de pensar”. Mas essas tarefas
não seriam senão os primeiros passos da pesquisa, elas permitiriam criar as ferramentas
necessárias para a investigação, mas não seriam o ponto de chegada da investigação.
Segundo Gramsci, essas tarefas seriam “o fundamento do trabalho” de investigação
(Idem, Ibidem).
Esse parágrafo esboçava um método para o estudo sistemático da obra de Marx, o qual
também poderia ser útil para um programa de pesquisa sobre as ideias de Benedetto
Croce. Mas Gramsci, paralelamente a esse programa de pesquisa, apresentou outro
programa de investigação sobre a difusão e apropriação do marxismo no mundo
contemporâneo. Esse programa está exposto no § 3 daqueles “Apuntti di filosofia”. De
acordo com o sardo, o marxismo havia se transformado em um momento da cultura
moderna, determinando e fecundando outras correntes intelectuais. Um fenômeno por ele
denominado de “dupla revisão” e “dupla combinação” havia tido lugar no final do século
XIX e início do século XX. Por um lado “alguns elementos seus, explícita ou
implicitamente, tem sido absorvidos por algumas correntes idealistas (Croce, Sorel,
Bergson etc., os pragmatistas etc.); por outro os marxistas ‘oficiais’, preocupados em
encontrar uma ‘filosofia’ que contivesse o marxismo, encontraram-na nas derivações
modernas do materialismo filosófico vulgar ou ainda em correntes idealistas como o
kantismo (Max Adler)”. A questão que organizava a investigação de Gramsci era assim,
por que “o marxismo teve essa sorte, de aparecer assimilável, em alguns de seus
elementos, tanto aos idealistas como aos materialistas vulgares?” Para responder essa
pergunta considerava que seria necessário fazer “a história da cultura moderna depois de
Marx e Engels” (Idem, Q 4, § 3, pp. 421-422. Grifos meus).
O caráter histórico da pesquisa fica mais evidente, entretanto, naquela investigação sobre
o pensamento de Benedetto Croce. O objetivo de Gramsci era, nessa pesquisa, revelar o
ritmo do pensamento do filósofo italiano e estabelecer uma periodização de suas
diferentes fases. No § 15 desses “Appunti di filosofia”, essa periodização foi estabelecida
da seguinte maneira:
§ 15. Croce e Marx. Os acenos que Croce faz a Marx devem ser estudados nos
diversos períodos de sua atividade de estudioso e de homem prático. Ele se
avizinha de Marx quando era jovem, quando deseja que “as tendências
democráticas” entrem em acordo [...] Se afasta nos períodos de democracia
até [19]14. Retorna durante a guerra (cf. especialmente o prefácio de 1917 a
Materialismo storico ed economia marxistica; e cf. seu juízo, referido por De
Ruggiero, de que a guerra era a guerra do materialismo histórico) mas se
afasta no primeiro e, particularmente, no segundo pós-guerra, quando uma
grande parte de sua atividade crítico-prática tem o objetivo de minar o
materialismo histórico porque sente e prevê que ele vai se reafirmar com vigor
extremo após a embriaguez das abstrações pomposas das filosofias oficiais
mas especialmente como consequência das condições práticas e do
intervencionismo estatal (Idem, Q 4, § 15, p. 436).
Para compreender o historicismo não bastaria estudar uma de suas linhas. Também não
seria possível reduzir essa corrente a um movimento exclusivamente filosófico ou
historiográfico. Para Gramsci: “É necessário estudar todas estas correntes de
pensamento em suas manifestações concretas: 1º como correntes filosóficas, 2º como
correntes historiográficas, 3º como correntes políticas” (Idem, Q 4, § 24, p. 43). O estudo
deveria ser integral. Gramsci esboçou nesse parágrafo uma questão metodológica que se
tornaria crucial em sua crítica a Croce: a unidade entre filosofia, história e política. Apenas
concebendo de maneira unitárias as manifestações filosóficas, históricas e políticas de
uma corrente de pensamento seria possível uma história integral da cultura moderna. Mas
faltava ainda desenvolver esse método.
No mesmo dia em que redigiu essa carta, Gramsci teve uma crise hemorrágica que
prenunciou o agravamento de suas condições de saúde.7 Poucos dias depois, Piero
Sraffa leu essa carta, endereçada originalmente a Tatiana Schucht, mas sem saber das
novas condições de saúde do prisioneiro. Imediatamente o economista entrou em contato
com Tatiana, reclamando a respeito das vacilações de seu amigo: “certo, para fazer uma
história perfeita dos intelectuais é necessário voltar ao Império romano, e para isso é
necessário ter à disposição uma grande biblioteca: mas por que não fazê-la, no momento,
imperfeita? E depois aperfeiçoá-la quando tiver a liberdade e o acesso às bibliotecas”
(Sraffa, 1991, p. 23).8 Essa carta de Sraffa foi transcrita de modo quase literal por Tatiana e
enviada a Gramsci no dia 28 de agosto (Gramsci e Schucht, 1997, pp. 776-778).
Para aquilo que diz respeito às anotações que escrevi sobre os intelectuais
italianos não sei exatamente de que lado começar; elas estão esparsas em
uma série de cadernos, misturadas com várias outras notas e deveria
primeiramente colocá-las juntas para ordená-las. Este trabalho me custa
muito, porque tenho frequentemente as enxaquecas que não me permitem a
concentração necessária, também porque a coisa é, do ponto de vista prático,
muito cansativa por causa da maneira e das condições nas quais é preciso
trabalhar. Se puder mande-me cadernos, mas não como aqueles que enviou
há algum tempo atrás, que são incômodos e muito grandes; deverias escolher
os cadernos de formato normal como aqueles escolares, e com não muitas
páginas, no máximo 40-50, de modo que não se transformem,
necessariamente, em calhamaços miscelâneos sempre mais confusos.
Gostaria de ter estes cadernos pequenos precisamente para reordenar estas
notas, dividindo-as por argumento e assim sistematizando-as; isso me fará
passar o tempo e me será útil pessoalmente para atingir uma certa ordem
intelectual” (Gramsci, 1973, p. 576).
Este reordenamento das notas encontrou seu lugar nos chamados Quaderni speciali, os
quais reúnem o ponto mais avançado da elaboração gramsciana e nos quais a pesquisa
sobre Benedetto Croce foi reorganizada. Percebendo uma nova fase no trabalho de
pesquisa de seu amigo, Sraffa pediu a Tatiana que lhe propusesse escrever uma resenha
sobre a Storia d’Europa nel secolo decimonono de Benedetto Croce (1999), publicada no
início de 1932. Tatiana enviou uma carta a Gramsci no dia 12 de abril, propondo-lhe a
resenha: “Receberás dentro de pouco um livro de Croce, La storia d’Europa. Deverias
fazer uma resenha porque me interessa muito e tuas observações poderiam ser muito
úteis para meu trabalho” (Gramsci e Schucht, 1997, p. 972). Sraffa, que não sabia dessa
carta, insistiu com Tatiana no dia 21 de abril: “Quando escrever para Nino você deveria
insistir para que encaminhe, por carta, uma espécie de resenha do livro de Croce” (Sraffa,
1991, p. 58).
A resposta a essa pergunta não era ambígua. Segundo Gramsci a atividade literária e
filosófica de Croce havia adquirido um novo sentido com a Guerra Mundial. 11 A partir
desse evento trágico o empreendimento intelectual do filósofo napolitano estaria voltado
a encontrar as possibilidades de soluções mediadas e de compromisso entre as várias
forças históricas em conflito: “Croce vê sempre no momento da paz o momento da guerra
e no momento da guerra o da paz e volta sua atividade para impedir que seja destruída
toda possibilidade de mediação e compromisso entre os dois momentos” (Idem, p. 608).
Embora trabalhasse intensamente em sua pesquisa sobre Benedetto Croce, ainda tinha
dúvidas se conseguiria terminar o prometido ensaio sobre os intelectuais italianos. 12 A
sequência de sua investigação sobre Croce está registrada na carta a Tatiana datada de 2
de maio, na qual retomou a questão referente à intenção revisionista do empreendimento
filosófico e historiográfico croceano, destacando desta vez que “esse trabalho de
pensamento nestes últimos vinte anos está guiado pela finalidade de completar a revisão
com vistas a torná-la uma liquidação” do marxismo (Idem, p. 615).
Essa nova ênfase foi percebida por Sraffa, que por meio de Tatiana acompanhava a
reflexão de Gramsci a respeito de Croce e procurava fornecer-lhe novas informações e
ideias para a pesquisa. Em uma carta a Tatiana de 30 de abril, o economista narrou ter
encontrado um amigo de Croce, o qual teria lhe dito que o filósofo abruzês estava
convencido de que o “materialismo histórico não tem nenhum valor, nem como cânone
prático de interpretação” (Sraffa, 1991, p. 62).13 Gramsci reagiu no dia 9 de maio a essa
provocação intelectual expondo sua interpretação sobre a história ético-política de Croce,
a qual suprimia na análise “o momento da força e da luta” (Gramsci, 1973, p. 619). Essa
supressão teria uma motivação fundamentalmente prática e um maquiavelismo que
levaria Croce a mudar de lado de acordo com as circunstâncias:
Sem saber da resposta de Gramsci nessa carta, Sraffa voltou a tocar no tema em uma
carta de 16 de maio de 1932 na qual pediu que Gramsci desenvolvesse melhor sua visão a
respeito da relação de Croce com o marxismo:
Tatiana transcreveu para seu cunhado de modo literal essas perguntas em uma carta de
30 de maio de 1932. Gramsci respondeu no dia 6 de junho, demonstrando um pouco de
irritação com as perguntas, afirmando não entender a importância delas e dizendo que já
as havia respondido nas cartas precedentes. Ainda assim procurou escrever sobre aquilo
que não havia ainda refletido na correspondência anterior. A questão de fundo continuava
a ser o lugar de Croce na cultura italiana. Gramsci questionou a ideia de que Croce tivesse
perdido “o terreno sob seus pés e se encontrava isolado”: “você talvez exagere a posição
de Croce no momento presente, considerando-o mais isolado do que está” (Gramsci,
1973, p. 632).
Gramsci argumentava nessa missiva que Croce, longe de encontrar-se sozinho, havia
penetrado na própria cultura do fascismo italiano e suas ideias eram divulgadas em
revistas como Politica, dirigida pelos fascistas Francesco Coppola e Alfredo Rocco. Para
certos dirigentes fascistas as ideias do filósofo napolitano eram de grande utilidade para a
educação dos novos grupos dirigentes que haviam surgido depois da guerra. O processo
de conformação dos grupos dirigentes italianos desde 1815 tinha ocorrido por meio da
constante absorção das forças políticas de oposição nascidas no interior dos movimentos
de massa. Esse processo, conhecido como transformismo e já tratado por Gramsci no
Primo Quaderno, havia assumido uma importante conformação depois da guerra, quando
o esgotamento das velhas classes dominantes tornara-se evidente e novos grupos sociais
pressionavam para ingressar na vida política. As ideais de Croce revelaram-se funcionais
para esse processo, elas constituíam a própria filosofia e historiografia do transformismo
político. Segundo Gramsci:
Era, pois, sobre a relação entre Croce e o fascismo e o processo de conformação de uma
nova hegemonia burguesa que Gramsci julgava urgente escrever e por essa razão rompeu
a regra de autocensura previamente estabelecida, abandonando as cautelas usuais. 14 É
provável que o prisioneiro tivesse percebido sinais de recrudescimento da censura e, por
essa razão, julgado necessário um último e arrojado movimento. De fato, Sraffa escreveu
ainda uma carta no dia 21 de junho de 1932 solicitando alguns esclarecimentos pontuais a
respeito do argumento de Gramsci, os quais foram transmitidos por Tatiana em uma
correspondência de 5 de julho (Gramsci e Schucht, 1997, pp. 1041-1042; Sraffa, 1991, pp. 72-
73). Esse intercâmbio intelectual por intermédio de Tatiana foi, entretanto, suspenso
devido às limitações impostas pelas autoridades prisionais, as quais restringiram ainda
mais a correspondência dos presos, e pelo simultâneo agravamento das condições de
saúde de Gramsci.15
1. Não procurar em Croce um “problema filosófico geral”, mas ver em sua filosofia
aquele problema ou aquela série de problemas que mais lhe interessam no
momento dado, que são, isto é, mais aderentes à vida atual e são como seu reflexo
[...].
2. É necessário estudar atentamente os escritos “menores” de Croce, isto é, além de
suas obras sistemáticas e orgânicas as coletâneas de artigos, de anotações, de
pequenas memórias que têm uma ligação maior e mais evidente com a vida, com o
movimento histórico concreto.
3. É necessário estabelecer uma “biografia filosófica” de Croce, isto é, identificar as
diversas expressões assumidas pelo pensamento de Croce, a diversa colocação e
resolução de certos problemas, os novos problemas que surgem de seu trabalho e
se impõem a sua atenção [...].
4. Críticos de Croce: positivistas, neo-escolásticos, idealistas atualistas. Objeções
desses críticos (Gramsci, 1977, Q 10/II, p. 1239).17
Resulta interessante comparar essa nota com aquele § 1 do Quaderno 4 ao qual já foi feita
referência. Ao contrário da nota precedente, Gramsci se mostrava, nesta última, menos
interessado nos aspectos “tornados estáveis e permanentes” e mais interessado no
próprio ritmo do pensamento. Ou seja, reencontrar esse ritmo deixava de ser um meio
para revelar um “problema filosófico geral” e passava a ser a razão da própria pesquisa.
Pois era nesse ritmo que a filosofia se conectava com a vida prática. Era por meio dele
que a política e a história impregnavam o pensamento de um autor “como seu reflexo”.
Por essa razão os escritos filosóficos menores, os mesmos que haviam sido
desvalorizados naquela nota do Q 4, ganhavam uma nova importância no Q 10. As
“coletâneas de artigos, de anotações, de pequenas memórias” registrariam o movimento
do pensamento de um autor e a maneira pela qual este enfrentaria filosoficamente os
problemas políticos do cotidiano e “o movimento histórico concreto”. Uma revalorização
desses escritos menores permitiria construir a “biografia filosófica” de um autor,
particularmente de Croce, mapeando as diversas soluções dadas a certos problemas e os
novos problemas que teriam sido colocados pelo desenvolvimento de seu trabalho de
investigação.
Por último, Gramsci chamou a atenção de que não era possível reconstruir essa biografia
filosófica e nem mesmo o ritmo do pensamento de um autor sem estudar, ao mesmo
tempo, as críticas que ele recebeu em seu tempo e as respostas que formulou a essas
críticas. Para compreender o movimento do pensamento seria necessário restabelecer o
diálogo crítico de um autor com seus contemporâneos. O resultado final da investigação
não poderia deixar de ser, desse modo, um amplo afresco do ambiente cultural e político
de sua época.
O pressuposto teórico a esse método pode ser encontrado poucas páginas adiante no § 2
do Quaderno 10/II no qual era anunciada a identidade entre filosofia, história e política.
Trata-se de uma nota que não se encontrava precedentemente nos cadernos miscelâneos
e que foi redigida especialmente para esse estudo sobre Benedetto Croce presente no
primeiro dos cadernos especiais. Gramsci afirmou nesse parágrafo que a identidade entre
história e filosofia posta pelo filósofo napolitano era “imanente no materialismo histórico”
e se perguntava se Croce não teria encontrado essa identidade na obra de Antonio
Labriola.
Embora esse postulado croceano fosse dos mais ricos para o desenvolvimento da
filosofia da práxis, ele se encontrava incompleto. Segundo Gramsci, “1º essa [a identidade
entre filosofia e história] é mutilada se não atinge também a identidade de história e de
política [...] e, 2º também a identidade de política e de filosofia” (Idem, Q 10/II, § 12, p.
1241). A afirmação da identidade entre filosofia, história e política permitia redesenhar
cada um desses conceitos, abolindo as fronteiras estabelecidas pelo sistema croceano.
Os impasses desse sistema ficavam claros na Storia d’Europa. Separando por meio da
dialética dos distintos a realidade em movimento do conceito de realidade, seu autor teria
produzido “uma história formal, uma história dos conceitos e, em última análise, uma
história dos intelectuais; aliás, uma história autobiográfica do pensamento de Croce, uma
história de presunçosos” (Idem, Q 10/II, § 11, p. 1241). A historiografia croceana
investigava o processo por meio do qual ideias geravam autonomamente ideias. Esse viés
fortemente idealista poderia ser, entretanto, superado concebendo a historiografia como
um ato político:
A identidade entre filosofia, história e política deve ser compreendida como uma
“equação”, de acordo com Gramsci,18 ou seja, no sentido de que os diferentes momentos
expressam o mesmo conteúdo sob diferentes formas, assim como ocorre em uma
equação matemática (a respeito, Frosini, 2010, p. 30). Não se trata, pois, de dissolver a
história ou mesmo a política na filosofia, como ocorre frequentemente na obra de
Benedetto Croce, mas de destacar o conteúdo político que a história e a filosofia podem
assumir.
Concebida como uma equação, essa identidade entre a filosofia, a história e a política
permitiria compreender melhor o lugar do filósofo e do historiador como políticos, ou
seja, em que medida a filosofia e a historiografia seriam também atos políticos,
intervenções intelectuais em contextos determinados. Ora, para uma perspectiva
historicista que destaque a identidade entre filosofia, história e política não seria nem
necessário nem desejável entender o corpo de um pensamento, puramente ou até
principalmente, dentro da intenção consciente do autor. Os efeitos práticos de seu
pensamento seriam tão importantes para o intérprete quanto o que ele realmente desejaria
transmitir: “uma corrente filosófica deve ser criticada e avaliada não por aquilo que
pretende ser, mas por aquilo que realmente é e se manifesta nas obras históricas
concretas” (Gramsci, 1977, Q 10/I, § 12, p. 1235).
Conclusão
A história intelectual perdeu sempre que a pesquisa se reduziu a uma mera ilustração do
método de investigação. Por essa razão, é preciso ter em mente que “toda pesquisa
científica cria um método adequado, uma lógica própria” (Idem, Q 6, § 180, p. 826). Foi
com essa perspectiva que Gramsci pesquisou a história dos intelectuais italianos e a
posição que Benedetto Croce ocupou nela. O método que esboçou para essa investigação
pode ser encontrado nos pequenos fragmentos metodológicos nos quais procurou
explicitá-lo, mas principalmente na própria pesquisa. É um método que se revela à medida
que a investigação avança.
Os Quaderni del carcere de Antonio Gramsci não são uma obra terminada. Eles são
inacabados, fragmentários e assistemáticos. Registros de uma pesquisa em ato, são o
laboratório no qual as ideias de seu autor foram destiladas. Por essa razão não é possível
distinguir em seu interior entre o método de investigação e o método de exposição.
Ambos encontram-se amalgamados a tal ponto que reconstruir o argumento do autor
exige, também, a reconstrução de seu método de investigação.
Esse método fornece algumas soluções interessantes para o debate atual entre as
abordagens históricas e filosóficas da história das ideias. A fusão de tais abordagens em
um método comum, o qual considera filosofia, história e política diferentes formas de um
mesmo conteúdo permite superar certos formalismos presentes na discussão
contemporânea que se desenvolveu a partir da publicação da conhecida contribuição de
Quentin Skinner (1969). Gramsci denominou esse método de “filologia da história e da
política” (Idem, Q 16, § 13, p. 1845), uma abordagem atenta à “individualidade” dos fatos
particulares.
Arnold Toynbee
O historiador Arnold Toynbee e
a teoria dos desafios e respostas
O que não se dá, por outro lado, com o realismo marcante do enfrentamento
de desafios. O tema do desafio e da resposta é — de alguma forma — convite
para o enfrentamento, mera lembrança de que na dificuldade crescemos,
ainda que não possamos desprezar a advertência de Roberto Mangabeira
Unger, para quem a tragédia não pode ser a parteira do progresso, pelo que
não podemos depender das catástrofes para que modifiquemos nossas rotinas
e arranjos institucionais. Para Mangabeira, não há porque esperarmos a
passagem de um cometa, como um anúncio que devemos mudar. A mudança
é imediata, porque de respostas vive a vida, que nos coloca desafios.
Robin G Collingwood
Filho do professor, William Gershom Collingwood, professor de Belas Artes na
Universidade de Reading [ 1 ] ingressou na Universidade de Oxford em 1908,
onde estudou Filosofia, foi apontado como "guardião" do Pembroke College
em 1912. Collingwood, que realizaria todas as suas A instituição se tornou
conhecida por seu trabalho sobre a história antiga, devido às inúmeras
escavações realizadas entre 1911-1934. Sofreu influência de idealistas italianos
como Benedetto Croce, Giovanni Gentile e Guido de Ruggiero, este último era
um amigo íntimo. Outras influências importantes foram como Immanuel Kant
, Giambattista Vico ,FH Bradley , Alfred North Whitehead e Samuel Alexander .
[2]
Obra
Filosofia
História
Arqueologia
HEGEL
Georg Wilhelm Hegel pensava que a consciência deveria passar
por uma série de desenvolvimentos para superar as contradições
percebidas em conceitos que seriam aparentemente opostos;
buscou uma interpretação racional da multiplicidade sensível,
tentando enxergar no finito o que havia de absoluto. Pode-se
identificar seu ponto de partida conceitual em elementos das
teorias de Immanuel Kant e Johann Gottlieb Fichte.
Enquanto estudou em Tübingen, fez duas amizades que o
marcaram pessoal e filosoficamente. Fascinou-se com a
democracia na Grécia antiga, por influência do famoso poeta
alemão Johann Friedrich Hölderlin, e acompanhou criticamente
os desdobramentos da Revolução Francesa (1789), evento que
teve grande influência em seus pensamentos. Entusiasmou-se
com a possibilidade de ver nesse evento a manifestação da
liberdade moderna, mas esse não se elevou à condição de
racionalidade esperada.
O início de seu desenvolvimento intelectual esteve muito
próximo ao de Friedrich Wilhelm von Schelling, que já havia
adquirido certa notoriedade, o que se torna explícito em seu
primeiro livro Diferença entre os sistemas filosóficos de Fichte e
de Schelling (1801). Essa proximidade e consequente amizade
acabam poucos anos mais tarde, já que ambos começam a
expressar e publicar ideias conflitantes.
Hegel foi um dos principais
nomes do idealismo alemão.
Biografia de Hegel
Pensamento de Hegel
● Fenomenologia do espírito
“A certeza sensível experimenta, assim, que sua essência nem está no objeto nem no Eu,
e que a imediatez nem é imediatez de um nem de outro, pois o que 'viso' em ambos é,
antes, um inessencial [...] Com isso chegamos a [esse resultado de] pôr como essência da
própria certeza sensível o seu todo, e não mais apenas um momento seu — como ocorria
nos dois casos em que sua realidade tinha de ser primeiro o objeto oposto ao Eu, e
depois o Eu.”
● Filosofia do direito
“O domínio do direito é o espírito em geral; aí, a sua base própria, o seu ponto de partida
está na vontade livre, de tal modo que a liberdade constitui a sua substância e o seu
destino e que o sistema do direito é o império da liberdade realizada, o mundo do espírito
produzido como uma segunda natureza a partir de si mesmo.”
VOLTAIRE
François Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo
Voltaire, foi um dos mais importantes filósofos do iluminismo.
Defensor das liberdades individuais e da tolerância, foi uma das
principais inspirações da Revolução Francesa. Para Voltaire,
deve ser garantido às pessoas o direito à liberdade de
expressão, à liberdade religiosa e à liberdade política. Por suas
defesas, o filósofo foi perseguido pela Igreja Católica e pelo
Estado absolutista francês.
Leia também: Direitos Humanos – categoria mais básica de
direitos assegurados a todos os cidadãos
Biografia de Voltaire
Filósofo,
poeta, teórico político e escritor francês iluminista, Voltaire é uma das
personalidades mais importantes de sua época.
Ainda nos tempos de estudo no Liceu, Voltaire foi introduzido
por seu padrinho em círculos literários de Paris e no Salão
Literário da Cortesã Madame Ninon de Lenclos. Ninon quis
conhecer o afilhado do abade de Châteauneuf e gostou da
personalidade do menino de apenas 13 anos, deixando, em
testamento, uma quantia significativa de dinheiro para Voltaire
comprar livros.
A morte de Madame Ninon aconteceu pouco tempo depois. Ela
era uma mulher livre, letrada e hedonista, amante da vida e
inspirada pelo epicurismo. Todos que frequentavam seu salão de
leitura também o eram, o que fascinou o jovem François Marie.
Não gostando do ambiente em que o filho estava, o pai de
Voltaire arranjou um trabalho para ele após a conclusão dos
estudos básicos no Liceu. Voltaire seria assistente do Marquês
de Châteauneuf em uma viagem diplomática à Holanda. Lá ele
conheceu e apaixonou-se por uma moça protestante, Olympe
Dunoyer, e queria que ela fosse morar com ele em Paris. Tramou,
então, uma situação para convencer os padres e o bispo local de
que trazer a moça e convertê-la seria uma obra caridosa, mas os
padres não atenderam ao pedido e o romance dos dois foi
interrompido.
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Ideias de Voltaire
Livros de Voltaire
FRANCIS BACON
Filósofo, escritor, cientista e político, esta última foi a principal
ocupação de Francis Bacon, um dos mais importantes
pensadores da Modernidade. Bacon é o responsável por um
método que inaugura o modo moderno de fazer-se ciência: o
método baseado no conhecimento indutivo, que visa a
uniformizar os processos de pesquisa científicos para tornar a
ciência uma fonte de conhecimento seguro. Bacon influenciou
cientistas e filósofos de sua época e deixou as bases para a
formulação de uma filosofia empirista que permanece atual.
Leia também: Racionalismo – corrente filosófica que se opõe ao
empirismo
Teoria de Bacon
RENÉ DESCARTES
René Descartes
O pensamento do francês René Descartes destaca-se na Modernidade.
O primeiro racionalista moderno defendeu que o conhecimento era
inato ao ser humano e propôs um método dedutivo como ponto inicial
de qualquer conhecimento que se pretenda verdadeiro, claro e distinto.
Exímio matemático, suas contribuições para as ciências exatas foram
essenciais para o maior desenvolvimento da geometria analítica, por
meio do plano de coordenadas cartesiano, e a física moderna também
contou com significativas contribuições do filósofo.
Saiba mais: Pitágoras – assim como Descartes, contribuiu para a
filosofia e matemática
→ Racionalismo
→ Cogito
A dúvida metódica e hiperbólica de Descartes fê-lo alcançar o que ele
diz ser o primeiro conhecimento seguro por meio da dedução: o cogito.
A seguir, descrevemos o passo a passo percorrido pelo filósofo para
chegar-se ao cogito:
1. Eu devo duvidar de tudo para atingir um conhecimento
verdadeiro;
2. Ao duvidar de tudo, duvido da minha existência;
3. Ao duvidar, eu estou pensando;
4. Se penso, logo eu existo.
Obras
Frases
SANTO AGOSTINHO
A concepção de História de Santo
Agostinho
A concepção de História de Santo Agostinho deriva da tradição
judaico-cristã e entende toda a história humana a partir da
encarnação de Cristo.
Santo Agostinho, filósofo e teólogo
medieval, sistematizou uma concepção cristã da História
Santo Agostinho (354 d.C. a 430 d.C.), que foi bispo na cidade africana
de Hipona (na atual Argélia), foi também um dos maiores filósofos e
teólogos de todos os tempos. Sua filosofia possuía forte influência da
tradição platônica difundida por filósofos como Plotino. No âmbito
teológico, acirrou o combate às heresias que tratavam de questões
relativas ao mal e ao pecado original, bem como à Trindade Santa. No
pensamento desse filósofo há uma concepção de História que foi
erigida a partir dos dogmas cristãos, como a encarnação, morte e
ressurreição de Cristo.
Em sua obra Confissões, há um esforço de compreensão sobre a
condição do homem enquanto ser que partilha da eternidade, posto
que é dotado de uma alma imortal, e da temporalidade, já que seu
corpo é material, corruptível e suscetível à morte. Em outra obra, a mais
importante do filósofo, A Cidade de Deus (dividida em três volumes),
Santo Agostinho procura ampliar suas reflexões sobre o tempo e a
eternidade e dedica-se a pensar a própria dinâmica da história humana
à luz da encarnação do Verbo Divino – nome dado à pessoa de Cristo,
segundo a teologia trinitária.
Um dos elementos mais característicos da concepção de História
agostiniana é a questão da interpretação tipológica ou figurativa, isto é:
as histórias do Antigo Testamento (da tradição judaica) contêm,
segundo essa interpretação, figuras (ou tipos) dos fatos que serão
realizados no Novo Testamento. Por exemplo: o sacrifício de Isaque
(ou, melhor dizendo, o quase sacrifício de Isaque) por seu pai, Abraão,
narrado no livro do Gênesis, seria a figura antecipadora do sacrifício de
Deus, haja vista que, nesse episódio, Deus enviou um cordeiro para
substituir Isaque, assim como enviaria seu filho, Jesus Cristo – tido
como o cordeiro de Deus – para ser sacrificado.
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Em obras como A cidade de Deus, Agostinho desenvolveu um grande esquema interpretativo sobre a dinâmica da História
KANT
Immanuel Kant (1724 – 1804) nunca escreveu uma obra de história. Compreender a Idéia
de História por ele apresentada a partir da relação estabelecida entre as obras histórico-
políticas (textos práticos) e as três Críticas, não deve ser uma missão estranha à
historiografia, ao menos àquela preocupada com a teoria da história. A importância deste
pensamento em fins do século XVIII insere-se em um momento de crise estabelecido em
relação ao conhecimento e às concepções de mundo e do homem. Crise que provoca - e é
provocada por - um redirecionamento não apenas da teoria do conhecimento, mas da
fundamentação ontológica da metafísica elaborada por Kant – que dela emerge, ao mesmo
tempo, a sua idéia da história. Tal redirecionamento estabelece um compromisso filosófico
em relação à razão pura, à faculdade de juízo e à razão prática ao impor, num mesmo
lance, um compromisso político a partir da exigência crítica em relação ao posicionamento
do homem no mundo, o que nos move a pensar a história enquanto um projeto crítico, que
se apresenta como horizonte ético de espaço de ação do homem no mundo. O ponto do
qual trata a Idéia de História é este breve lumiar ou, talvez, essa permanente sombra, que o
pensamento kantiano impôs de uma vez por todas à História: o criticismo, do qual a
historiografia tenta por vezes se livrar para tentar garantir seu lugar ao sol. A filosofia crítica
kantiana não pode ser reduzida a uma teoria do conhecimento, a uma epistemologia em
concorrência com outras de seu tempo. Ela transtorna, deforma, torce o pensamento de tal
forma que qualquer tentativa de estabilização e aquietação do saber é logo chamada a se
justificar desde o interior de suas premissas independentemente de seu objeto. Se Kant
nunca elaborou uma teoria da história é porque seria um contra-senso ao seu sistema fazê-
lo; é porque a História não pode ser pensada em termos de uma lógica ou de uma ciência
causal sustentada por um juízo determinante conforme as ciências da natureza. A História é
para Kant, antes de tudo, um devir e um dever dado que está ligada a realização da
liberdade do homem segundo um determinado conjunto de expectativas componentes de
um horizonte ético que combina o ANPUH – XXIII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA –
Londrina, 2005. 1 desenvolvimento da Cultura com a natureza. Se a história possui um
sentido para Kant, este não é outro que a realização da natureza humana: ou seja, da
liberdade dos homens sob a lei moral. Este raciocínio inscreve-se no binômio liberdade –
natureza: o que, para a filosofia da história inglesa e francesa, apresenta-se como um rasgo
contraditório, para Kant como para boa parte da tradição alemã deste período, os homens
são tomados como parte da natureza, de modo que suas faculdades estão aí inscritas de
acordo com uma astúcia, um fio condutor, que tem como base a liberdade da razão e como
fim o estado ético (ou a Paz perpétua). A novidade encarada por Kant deste ponto de vista é
que a História perde a naturalidade com que era tratada como um pano em branco onde os
homens ou os deuses imprimem suas cores, e se torna parte integrante e movente dessa
mesma tela. Aquela pretensão do pensamento moderno de se separar radicalmente do seu
objeto a ponto de olhá-lo por todos seus ângulos e apreendê-lo em sua completude é
transformada na auto-consciência da limitação do poder da razão aliada ao fato do sujeito
ser tomado pelo objeto do qual se trata no momento em que isto acontece; a separação
entre o lado interno e o lado externo do sujeito perde agora essa tênue película. Ao mesmo
tempo, a História ganha um peso que não poderá mais se desvencilhar: o criticismo. A
atitude crítica é essa sombra que atormenta a consciência histórica sempre indagando,
sempre questionando a legitimidade de um discurso em termos epistemológicos e éticos:
Kant não nos deixa esquecer a que tipo de conhecimento serve um que expõe e critica seus
métodos e objetivos, e outro que busca entronizar-se em fórmulas e ditames. O peso da
história é, com o perdão da citação, uma insustentável leveza, pois ela não exige para si
matéria alguma, conteúdo algum para tornar-se digna ou meritória, mas antes se conforma
totalmente enquanto uma simples formalidade que atende às exigências dos limites da
razão e de seus interesses práticos, quais sejam: o de desenvolvimento da liberdade, da
razão pública e da reflexão crítica acerca do próprio presente e do conhecimento que está
sendo produzido. O fato de Kant não ter elaborado um sistema de pensamento, com o
devido rigor históricocientífico ou uma doutrina para a história, é um dos fatores para o
desprestígio e a secundarização de seu ANPUH – XXIII SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA – Londrina, 2005.
HERODOTO
Historiador grego (485-425 a.C.). Foi somente por meio de seus relatos que
podemos ter informações precisas sobre a Antiguidade.