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Montesquieu
Charles de Montesquieu foi um filósofo, escritor e teórico político iluminista, grande crítico da política
e dos poderosos de sua época e influente nos meios intelectuais.
Leia também: John Locke – filósofo moderno que propôs uma teoria do conhecimento que
defendia o empirismo
Biografia de Montesquieu
Charles de Secondat nasceu no Castelo de La Brède, propriedade próxima à cidade de
Bordeaux, França, no ano de 1689, numa família nobre, mas não tão tradicional. Obteve a
primeira educação em casa e partiu para a educação formal colegial aos 11 anos de idade no
Colégio de Juilly, instituição frequentada por filhos da elite local. Os padres que dirigiam o
colégio eram da Congregação do Oratório, tendo uma orientação bastante intelectualizada e
pautada pelo que o espírito iluminista considerava como um bom princípio educativo: as luzes
e a razão advindas da filosofia moderna e da ciência.
Em 1715, o pensador casou-se com Jeanne de Lartigue, tendo com a esposa três filhos. Apenas
um ano após o seu casamento, Charles herdou, em razão do falecimento de sua mãe, o título
que havia sido de seu pai, o Barão de Montesquieu, o que lhe rendeu também o direito sobre as
terras equivalentes ao baronato e um cargo no Parlamento de Bordeaux.
Era fato que Montesquieu não precisaria mais trabalhar. Então ele passou a administrar sua
fortuna e a estudar ciências da natureza, filosofia e direito. Com os escritos de seus estudos,
vieram também escritos literários. Em 1721, Montesquieu concluiu a escrita das Cartas Persas.
Por trás do humor satírico das Cartas Persas, encontra-se um polêmico crítico, que aparece
depois, por diversas vezes, para estabelecer uma crítica política, muitas das vezes com igual tom
satírico. Com as Cartas Persas, Montesquieu conseguiu o estrelato e logo passou a frequentar
os círculos sociais reais e o Salão Literário da Madame Lambert.
Em 1728, após Montesquieu deixar a Câmara de Bordeuax por vontade própria e partir rumo a
Paris, ele ingressou na Academia Francesa|1|. Um dos acadêmicos, o Cardeal André-Hercule de
Fleury, clérigo influente política e intelectualmente na França, colocou-se duramente contra a
eleição de Montesquieu para a cátedra na Academia por conta de sátiras contra a Igreja Católica
postadas em Cartas Persas. No entanto, Montesquieu foi eleito e se tornou um dos imortais da
instituição.
A partir de 1728, o filósofo passou a viajar pela Europa a fim de aprimorar-se intelectualmente,
conhecendo novos filósofos, escritos, pensamentos e lugares. É certo que essas viagens
influenciaram a visão política liberal do pensador. O pensador passou pela Áustria, pela Hungria,
pela Itália e pela Inglaterra. Na Inglaterra estabeleceu-se por um tempo, até 1731, onde se
tornou membro da Academia Real e entrou para a maçonaria. Ele retornou ao Castelo de La
Brède e ficou recluso até 1734, escrevendo diariamente. Esse retiro intelectual deu origem a três
escritos e é considerado pelos estudiosos o período de maturidade intelectual de Montesquieu.
Entre 1739 e 1746, Montesquieu esteve ocupado com a escrita e revisão de sua obra-prima, o
livro Do Espírito das Leis, que foi publicado em 1748. Esse tratado tornou Montesquieu um
notável filósofo e pensador da política. A recepção de uma obra que defendia o liberalismo
político e ideais republicanos não ecoou bem entre grande parte da nobreza francesa e do clero.
Até mesmo intelectuais e acadêmicos se colocaram contra o polêmico (e sensato) escrito.
Montesquieu escreveu Defesa do Espírito das Leis em 1750 e, em 1751, o livro foi oficialmente
proibido ao ser incluído no Index Proibitorium. Toda a repercussão do livro aumentou a fama de
Montesquieu, que o fez se envolver ainda mais com os círculos intelectuais e salões literários de
Paris. D’Alembert, um dos editores e fundadores da Encyclopédie, encomendou a Montesquieu
verbetes sobre política no grande compilado do conhecimento universal fundado junto a Denis
Diderot. No entanto, Montesquieu preferiu escrever sobre o gosto e a estética.
Apesar de nobre, Montesquieu era completamente contrário ao absolutismo. Ele era a favor de
um Estado politicamente liberal, onde houvesse um corpo de leis que regesse a atuação
daqueles que cuidam do Estado e dos cidadãos em geral. Para que não houvesse abusos, o
Estado deveria ser repartido em três esferas de poder. Ele era completamente contra o poder
despótico (o poder absoluto concentrado nas mãos de um tirano). Seu modelo defendia o
respeito à liberdade e à vida, além dos direitos políticos dos cidadãos. Havia, para Montesquieu,
três formas de governo centrais, sendo duas legítimas e uma ilegítima.
Monarquia legítima: são regidas por um monarca (um rei), mas o poder desse rei não é
irrestrito e absoluto. O monarca está submetido ao poder das leis e existe um corpo
legislativo (um Parlamento) que cria as leis. Esse corpo, apesar de atuar em conjunto com o
monarca, não pode ser por ele destituído, corrompido, dissolvido ou atacado, a menos que
por justa causa.
Veja também: Formas de governo – modo como um governo organiza seus poderes
Tripartição do poder
Para Montesquieu, um governo legítimo e bem estruturado deveria ter um corpo de leis, e o
poder estatal deveria ser separado em três esferas. A defesa da separação dos poderes estava
assentada na necessidade de um poder vigiar o outro (verificar se a Constituição é cumprida) e
garantir que não haja abusos de poder. Um poder é complementar ao outro e nenhum pode se
sobrepor ao outro. Para fazer uma analogia didática, a tripartição do poder é como um triângulo
equilátero, onde não há um lado maior que o outro e os três pontos de ligação entre as arestas
do triângulo têm tamanho igual e igual distância entre si|2|.
Judiciário: é composto pelo corpo de magistrados. O Poder Judiciário deve julgar aqueles
que atentam contra a lei e fiscalizar a atuação dos outros dois poderes.
Cartas Persas: nessa obra literária epistolar, Montesquieu criou dois personagens persas,
Usbek e Rica, que viajam pela Europa e chegam a Paris. Vivem aventuras e desventuras e
trocam cartas com conterrâneos contando seus feitos. Cartas Persas foi escrito em tom
cômico e satírico. É uma forte sátira política, social e religiosa da França dos séculos XVII e
XVIII e tornou o filósofo Montesquieu conhecido na França.
Do Espírito das Leis: o título dessa obra é um pouco maior do que essa redução. O título
completo é “O Espírito das Leis: Ou das Relações que as Leis devem ter com a Constituição
de cada Governo, com os Costumes, o Clima, a Religião, o Comércio etc.”. Esse livro
condensa toda a teoria política de Montesquieu. Ele fala das leis e da necessidade de criação
de um corpo de leis para garantir, inclusive, a liberdade. Fala também da importância do
governo e do Estado, além de expor a teoria da tripartição do poder.
Frases de Montesquieu
“Liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem.”
“Não há mais cruel tirania do que aquela que exerce à sombra das leis e com as
cores da justiça.”
“A liberdade, esse bem que nos permite desfrutar dos outros bens.”
“É uma infelicidade que existam tão poucos intervalos entre o tempo em que somos
Notas
|1| A tradicional Academia Francesa é uma instituição científica, literária e linguística da França que nomeia 40 “imortais”
para ocuparem suas cátedras devido à notória contribuição para o povo francês. Ela foi o modelo de inspiração para
Machado de Assis, Ruy Barbosa, Joaquim Nabuco, Olavo Bilac e mais sete grandes escritores brasileiros fundarem a
Academia Brasileira de Letras no final do século XIX.
|2| Lúcio Costa, o urbanista que projetou Brasília, utilizou a figura do triângulo equilátero e a inspiração iluminista para
projetar a Praça dos Três Poderes em Brasília. Defensor da igualdade comunista, mas também inspirado pelos ideais de
igualdade, liberdade e fraternidade iluministas, Lúcio Costa colocou em cada ponto do triângulo da Praça dos Três Poderes
um dos palácios que abrigam o mais alto grau do poder que representam. Lá estão o Palácio do Planalto, sede da
Presidência da República; o Supremo Tribunal Federal, onde trabalham os ministros da Suprema Corte, ou seja, os chefes do
Poder Judiciário; e o Congresso Nacional, que abriga o Senado Federal e a Câmara dos Deputados Federais, ou seja, os
chefes do Poder Legislativo.
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