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Displasia cemento óssea florida

Danilo Barral Araújo1


Isaac Vieira Queiroz1
Pedro Romero2
Antonio Fernando Pereira Falcão3

Resumo
A Displasia Cemento Óssea Florida (DCOF) é uma lesão controvertida em relação ao seu diagnostico, pelos seus aspectos
clínicos e radiográficos muito semelhantes a outras lesões ósseas esclerosantes. Acomete principalmente a mandíbula de
mulheres negras com idade acima de quarenta anos. Apresenta um aspecto radiográfico de massas densamente radiopacas,
entremeadas por faixas radiolúcidas, sem limite definido. Pode desenvolver expansão óssea alveolar, supuração e fistulação,
caso esteja associada à infecção secundaria (osteomielite), que ocorre devido à exposição da massa óssea avascular à
cavidade bucal.

Palavras-chave: lesões escleróticas; escleroses ósseas; cemento.

INTRODUÇÃO

Este trabalho objetiva relatar uma revi- uma expansão óssea alveolar e drenagem com
são de literatura sobre a Displasia Cemento Óssea processo fistuloso.
Florida, uma lesão com controvérsia em relação Uma infecção secundaria (osteomielite)
ao seu diagnóstico, já que seus aspectos clínicos ocorre caso haja a exposição da massa óssea
e radiográficos são muito semelhantes a outras alveolar à cavidade bucal devido a uma extração
lesões, como, por exemplo, Osteomielite Crô- dentaria, uso de prótese mal adaptada e biopsias.
nica Esclerosante difusa, Cementoma É importante o estudo dessa patologia
Giganteforme familiar e doença de Paget. As- para diminuir a controversa a seu respeito, favo-
sim, para sua elucidação, ilustrar-se-á com um recendo um diagnostico cada vez mais preciso.
caso clínico.
É uma lesão, que acomete principalmen-
te a mandíbula de mulheres negras, de meia REVISÃO DE LITERATURA
idade. Apresenta o aspecto radiográfico de áreas
densamente radiopacas, rodeadas por faixa A displasia cemento óssea florida (DCOF)
radiolúcida sem limite definido. Desenvolve foi descrita pela primeira vez por Melrose e cola-

1
Academico do Curso de Odontologia da Universidade Federal da Bahia. Salvador - BA
2
Preceptor de Estágio Supervisionado. Serviço de Urgência. Faculdade de Odontologia. Universidade Federal da Bahia. Salvador - BA
3
Professor Doutor da disciplina Estomatologia. Universidade Federal da Bahia. Salvador - BA

Correspondência para / Correspondence to:


Antonio Fernando Pereira Falcão
Faculdade de Odontologia
Universidade Federal da Bahia
Rua Araújo Pinho s/n - Canela
40.000-000 - Salvador Bahia Brasil
E-mail: afpfalcao@hotmail.com

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boradores em 1976. Constatou-se sua maior A DCOF é uma condição incomum,


incidência em mulheres negras de meia idade, prevalente em mulheres negras, de causa des-
fato confirmado por diversos estudos (MELRO- conhecida (WALDRON, 1993; NEVILLE et
SE; ABRAMS; MILLS, 1976; ARIJI et al., al., 1998). É constituída por uma proliferação
1994). fibroblástica associada a trabéculas irregulares
A DCOF é uma condição não neoplásica, de osso e material irregular semelhante a
assintomática, benigna, caracterizada por múl- cemento (WALDRON, 1993).
tiplas áreas escleróticas simetricamente distri- O termo lesão fibro-óssea não indica um
buídas nos maxilares, com marcante tendência diagnóstico específico, apenas representa um
ao envolvimento bilateral. Na grande maioria grupo extenso de várias entidades. Embora não
das vezes, envolve regiões contíguas aos dentes e exista uma classificação completamente
se restringe ao osso alveolar, não sendo incomum satisfatória, é geralmente aceito que as lesões
encontrar um envolvimento extenso das regiões fibro-ósseas benignas da região bucomaxilofacial
posteriores dos quatro quadrantes. A doença podem ser divididas em três categorias: displasia
pode ser completamente assintomática e, em tais fibrosa, neoplasmas fibro-ósseos benignos e le-
casos, é descoberta somente quando radiografi- sões reativas (SOARES et al., 1998).
as são realizadas com outros fins, como também Segundo Soares e colaboradores (1998),
o paciente pode relatar dor de baixa intensida- a DCOF é, na realidade, uma forma exuberante
de e uma fístula na mucosa alveolar. Uma ou da displasia cemento óssea periapical, lesão re-
mais áreas dos maxilares podem exibir algum lativamente comum, que ocorre nos ápices dos
grau de expansão óssea. Tanto as áreas dentadas dentes com vitalidade. Mulheres negras de meia
como edêntulas podem ser afetadas, e o idade são afetadas com mais freqüência, e a maior
envolvimento parece não estar relacionado à pre- parte dos casos apresenta lesões múltiplas que
sença ou ausência de dentes (SOARES et al., envolvem o ápice dos dentes ântero-inferiores e
1998; NEVILLE et al., 1998; BEYLOUNI et raramente atinge a maxila. As lesões aparecem
al., 1998). no ligamento periodontal ou próximas a ele e,
Por causa da apresentação de sintomas não comprometendo a fixação dentaria, não pro-
usualmente associados à exposição de massas vocam mobilidade. Por vezes, as lesões localiza-
escleróticas na cavidade bucal, devem ser evita- das junto ao forame mentoniano parecem com-
das biopsia e extração dentaria (BEYLOUNI et primir o nervo homônimo, produzindo dor,
al., 1998). parestesia e ate anestesia. Pode apresentar pa-
A patogênese dessa complicação da drão radiográfico variado, pois, à medida que a
DCOF poderia ser relacionada à escassa irriga- lesão vai cronificando, mais calcificada se torna.
ção sanguínea no osso afetado e às massas A ocorrência dessa lesão está associada ao
escleróticas avasculares, particularmente suscep- ápice dentário em continuidade com o ligamen-
tíveis à infecção secundária (MELROSE; to periodontal ou em regiões de extração
ABRAMS; MILLS, 1976; SCHNEIDER; dentaria. (SOARES et al., 1998)
MESA; BRICMAN, 1987). Apesar de a OMS, desde 1992, conside-
É uma displasia limitada aos ossos rar o cementoma giganteforme familiar (CGF)
gnáticos. Não há outra evidencia dessa doença, e a DCOF sinônimos e de os achados histológicos
seja laboratorial, seja radiográfica em nenhuma serem semelhantes, os estudos demonstram di-
outra parte do corpo humano (NEVILLE et al., ferenças marcantes entre as duas entidades, pois
1998). o CGF apresenta caráter autossômico dominan-
Enquadra-se no conjunto das lesões fibro- te, ocorrendo exclusivamente em brancos, na
ósseas. Nos últimos anos, essa lesão tem atraído primeira ou segunda década de vida, com cres-
um crescente interesse dos patologistas, com o
cimento relativamente rápido, resultando em
objetivo de distinguir definitivamente essa pa-
deformidade facial proeminente (NEVILLE et
tologia e de pôr fim às discussões diagnósticas
al., 1998).
decorrentes da superposição de suas caracterís-
No diagnostico diferencial da DCOF,
ticas (SOARES et al., 1998).
deve-se incluir doença de Paget e osteomielite

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crônica esclerosante difusa (OCED). A doença As áreas radiotransparentes mais nitida-


de Paget pode acometer vários ossos e, de modo mente definidas, na exploração cirúrgica, pro-
geral, apresenta alterações sanguíneas (elevação vam ser cistos ósseos simples. Os cistos podem
da fosfatase alcalina em estagio ativo), enquanto ser solitários, como podem representar posições
as lesões da DCOF são restritas às áreas denta- relativamente grandes dentro da lesão. Esses cis-
das dos maxilares e não apresentam significantes tos freqüentemente não se curam tão rapida-
anormalidades bioquímicas (MELROSE; mente quanto cistos em pacientes mais jovens,
ABRAMS; MILLS, 1976; SCHNEIDER; que não apresentam DCOF (NEVILLE et al.,
MESA; BRICMAN,1987; ARIJI et al., 1994). 1998).
É importante termos em mente que o A tomografia computadorizada (TC), pela
diagnóstico da DCOF é baseado principalmen- sua capacidade de proporcionar perspectivas
te nos achados clínicos e radiográficos, não ha- axiais, frontais e sagitais, tem seu conhecimento
vendo necessidade, em grande parte dos casos largamente aproveitado na evolução dessas le-
de biópsia para sua confirmação. Na medida do sões. A reconstrução tridimensional dessas áreas
possível, devemos evitá-la, pois procedimentos ósseas tem sido um achado muito importante.
invasivos nas áreas envolvidas, tais como extra- Áreas hiperdensas, rodeadas por uma camada
ção dentaria, biópsia óssea e tratamento hipodensa, estão localizadas ao redor dos ápices
endodôntico sem antibióticoterapia previa têm dos respectivos dentes (BEYLOUNI et al.,
sido associados com ocorrência de osteomielite, 1998).
como uma complicação do quadro clínico (ARIJI Muitas lesões têm se diferenciado de
et al., 1994; NEVILLE et al., 1998; DCOF, e a imagem da TC pode ser usada para
BEYLOUNI et al., 1998; QUIRINO, 2000). distingui-la de outras lesões, que podem exibir
Radiograficamente, apresenta-se como aparência esclerótica semelhante em radiografi-
áreas radiopacas irregulares, lobulares e pouco as convencionais (BEYLOUNI et al., 1998).
demarcadas. (SOARES et al., 1998) Endostoses, exostoses, massas de alta den-
Quando os pacientes estão livres de sin- sidade são facilmente observadas em TC, bem
tomas, as radiografias convencionais mostram como em radiografias oclusais, e são encontra-
massas radiopacas difusas em múltiplos das em continuidade com o osso cortical. Tu-
quadrantes, por todo processo alveolar (ARIJI mores odontogênicos, especialmente o fibroma
et al., 1994). A distribuição lobular das irregu- cemento ossificante, exibem geralmente maior
laridades radiopacas, através do processo alveolar, expansão buco lingual do que o DCOF
com pobre definição de zonas, demonstra as- (BEYLOUNI et al., 1998; ARIJI et al., 1994).
pecto de “chão de vidro” (MELROSE; O valor do HU (Unidades Hounsfield)
ABRAMS; MILLS, 1976; BEYLOUNI et al., das massas hiperdensas pode ser benéfico no
1998). diagnóstico diferencial, por exemplo. Esse valor
O tecido lesionado consiste em uma massa em um Odontoma será bem maior que o da
densa esclerótica, que tem sido interpretada DCOF, já que o primeiro apresenta esmalte em
como sendo cemento e osso. A maioria das le- sua constituição (ARIJI et al., 1994).
sões típicas é altamente radiopaca e lobular na Esse valor, em áreas císticas, pode ser usa-
configuração. Essas áreas lobulares densas são do para distinguir DCOF de queratocistos
freqüentemente entremeadas com alterações odontogênicos. Os queratocistos odontogênicos,
mistas radiotransparentes e radiopacas menos algumas vezes, contêm massas de queratina no
definidas. Com o tempo, essas áreas tendem a seu interior, cujo valor do HU é mais alto que o
ficar cada vez mais calcificadas (MELROSE; encontrado em áreas císticas da DCOF (ARIJI
ABRAMS; MILLS, 1976; NEVILLE et al., et al., 1994). Do ponto de vista microscópico é
1998; WALDRON, 1993; BEYLOUNI et al., constituída de material densamente calcificado,
1998). lembrando cemento secundário, com poucas

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células e lacunas preenchidas por tecido con- ILUSTRAÇÃO DE UM CASO CLÍNICO


juntivo e poucos vasos sanguíneos. A reduzida
vascularização faz com que esse osso esclerótico A paciente ASS, sexo feminino, cor negra,
responda mal ao trauma e a bactérias bucais, o sessenta e três (63) anos, chegou ao ambulatório
que pode ocasionar uma osteomielite (SOARES da disciplina de Estomatologia I da Faculdade de
et al., 1998). Odontologia da Universidade Federal da Bahia.
A reabsorção das raízes dos dentes apre- Portadora de hipertensão arterial, no momento da
sentava-se em poucos casos, estes acima de seis anamnese apresentou pressão arterial de
anos (MELROSE; ABRAMS; MILLS, 1976). 160x100mmHg, pulso de 69bpm e freqüência
Histopatologicamente, as lesões mostram respiratória de 25ipm. Faz uso do Ancoron. Rela-
proliferação fibroblástica associada a trabéculas ta distúrbios cardiovasculares, e informa que os
irregulares de osso trançado e material seme- irmãos apresentam os mesmos problemas.
lhante ao cemento. As massas lobulares densa- A referida paciente deu entrada ao
mente escleróticas são compostas de glóbulos ambulatório, solicitando realização de extração
em camadas, ou fundidas, de material relativa- dos dentes, únicos no arco superior (2.2; 2.3;
mente acelular, interpretado pela maioria dos 2.4; 2.5), sendo que o 2.2 se apresentava como
patologistas como representante do cemento resto radicular, fraturado há aproximadamente
(NEVILLE et al., 1998). Essas leões são consi- dois anos e reabilitação protética, após exodontia
deradas como displasias ósseas, porque o desses dentes remanescentes. Desde então,
cemento se mantém indistinguível do osso apresenta sintomatologia dolorosa.
(ARIJI et al., 1994). Ao exame físico intrabucal, verificou-se o
Nos pacientes assintomáticos, bem como já relatado. É importante ressaltar que a paciente
naqueles pacientes portadores de próteses to- apresentava seqüela cirúrgica na maxila direita,
tais, o melhor tratamento consiste em exames que terminou por promover uma comunicação
periódicos com profilaxia e reforço das instru- buco-antro-nasal, devido a hemimaxilectomia
ções de higiene bucal, para controlar a doença por Lesão Central de Células Gigantes. Essa
periodontal e prevenir a perda dos dentes. Para condição provoca incômodos tanto estéticos
os pacientes que apresentam alguma como funcionais e fonéticos. No arco inferior,
sintomatologia, o manejo é mais difícil. Nesse foi notada a presença de sete (7) dentes (4.2,
estágio, um componente inflamatório está pre- 4.3, 4.4, 4.5, 3.2, 3.3, 3.4). Nenhuma das
sente, e o processo é basicamente uma unidades remanescentes apresentava, cárie,
osteomielite crônica, que envolve cemento e osso restaurações ou mobilidade, e todas se
displásico. Antibióticos podem estar indicados, apresentavam com vitalidade pulpar.
mas não necessariamente serão efetivos. A Observou-se abaulamento mandibular na
sequetração de massas de material tipo cemento região de pré-molares esquerdos até a região de
esclerótico podem ocorrer lentamente, seguida molares direitos; houve também expansão em
de cicatrização. A eliminação desses seqüestros toda maxila esquerda, por vestibular.
pode acelerar a cicatrização (NEVILLE et al., Durante o exame das mucosas, verificou-
1998). se a presença de fistulação e drenagem purulen-
A condução da sintomatologia do paci- ta. Devido à infecção, optou-se preliminarmen-
ente é mais difícil por causa da inflamação crô- te por um tratamento anti-infeccioso.
nica e de infecções desenvolvidas dentro do te- Diante dos achados clínicos, foram soli-
cido denso mineralizado. Quando antibióticos citadas radiografias: panorâmica e periapical.
são administrados, têm um pobre padrão de Analisando os resultados radiográficos, detectou-
difusão nos tecidos e têm pouca efetividade. Os se a presença de extensas lesões que acometiam
seqüestros da massa de cemento ocorrem vaga- a mandíbula, anteriormente e do lado esquerdo
rosamente, seguidos de cura da área (ARIJI et até a região de pré-molar, e do lado direito,
al.,1994). estendendo-se ate à região retromolar. Notou-

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se também a presença dessas características na (4698). Os demais dados de exames


maxila esquerda. laboratoriais, como hemograma, leucograma,
As lesões se apresentavam como densas índice hemático e ensaios bioquímicos
massas radiopacas lobulares irregularmente (creatinina, glicemia e uréia), apresentavam-se
delimitadas, separadas do osso adjacente por dentro dos valores normais. A suspeita
faixa radiolúcida de limites imprecisos, atingindo diagnóstica de Displasia Cemento Óssea Florida
múltiplos quadrantes, o que caracterizava, dessa foi confirmada pelo exame histopatológico.
forma, a referida displasia.
O caso apresentou bom prognóstico. O
A partir da ánalise dos exames
plano de tratamento incluiu uma primeira etapa
laboratoriais, constatou-se uma significativa
cirúrgica, para uma curetagem óssea e, em
diminuição nos achados dos neutrófilos
segmentados, que apresentavam um valor de seguida, reabilitação implanto-protética.
32% (2592). Por outro lado, havia uma eleva- As figuras 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 ilustram
ção nos valores dos linfócitos típicos 58% o caso ora descrito.

Figura 1 - Arcada dental inferior onde se constata a presença Figura 4 - Presença de fistulação após drenagem puru-
de 7 unidades dentais. lenta na parte anterior da mandíbula

Figura 2 - Radiografia panorâmica na qual são observadas


densas massas radiopacas compatíveis com a
DCOF e seqüela cirúrgica na maxila direita.

Figura 5 - Primeira etapa cirúrgicas após curetagem óssea


e realização das exodontias

Figura 3 - Presença de fistulação e drenagem purulenta Figura 6 - Radiografia panorâmica que demonstra a
situada na parte anterior da mandíbula. conclusão da primeira etapa cirúrgica

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dentes (NEVILLE et al., 1998). Com base aná-


lise da radiografia panorâmica, pôde-se consta-
tar a presença da lesão em áreas dentadas e em
áreas edêntulas.
Sintomas como dor intensa e drenagem
estão quase sempre associados com exposição de
massas ósseas escleróticas na cavidade oral
(BEYLOUNI et al., 1998). A drenagem foi um
aspecto bastante marcante, porém dor e exposi-
Figura 7 - Resíduos removidos na primeira etapa cirúr- ção de massas ósseas à cavidade oral não foram
gica relatadas.
A maioria das lesões típicas é altamente
radiopaca e lobular na configuração. Essas áreas
lobulares densas são freqüentemente
entremeadas com alterações mistas
radiotransparentes e radiopacas menos bem
definidas (NEVILLE et al., 1998). Radio-
graficamente, a lesão apresentou-se nitidamente
Figura 8 - Radiografia panorâmica da segunda etapa ci- lobular radiopaca, entremeada com áreas
rúrgica para a reabilitação implanto-protética radiolúcidas menos bem definidas, sem limites
precisos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
DISCUSSÃO
A partir dos resultados obtidos, pode-se
A DCOF é uma condição incomum, chegar a uma conclusão de que a DCOF é uma
prevalente em mulheres negras, de causa lesão de etiologia desconhecida, que acomete
desconhecida, e traz muita discussão a seu mais freqüentemente mulheres negras de meia
respeito (WALDRON, 1993; NEVILLE et al., idade, sendo comum o acometimento dos
1998). Essa situação enquadra-se perfeitamente maxilares bilateralmente, principalmente na
no caso da paciente ASS, melanoderma e sem região anterior da mandíbula.
história de trauma. A osteomielite também é uma
A doença pode ser completamente característica marcante, apesar de ser um sinal
assintomática e, em tais casos, é descoberta secundário, sem necessariamente exposição das
somente quando radiografias são realizadas com massas escleróticas à cavidade oral. Drenagem e
outros fins. Uma ou mais áreas dos maxilares supuração também são eventos freqüentes, em
podem exibir algum grau de expansão óssea conseqüência da osteomielite.
(SOARES et al., 1998). Essas características A dor é um sintoma que não deve,
foram confirmadas durante o acompanhamento brigatoriamente, estar presente.
do caso, já que a paciente relatou outras queixas Não existem relatos de sua presença em
sem fazer nenhuma alusão a essa lesão. Notou- nenhum outro sítio do corpo, seja por expressão
se moderada expansão óssea na região anterior clínica, radiográfica ou laboratorial.
da mandíbula, apesar de a lesão também aparecer A lesão apresenta-se com aspecto
radiograficamente em outros sítios, embora sem imaginológico misto: massas radiopacas
expansão nítida. entremeadas por áreas radiolúcidas.
Tanto as áreas dentadas como as edêntulas Deve-se lançar mão de métodos
podem ser afetadas, e o envolvimento parece não complementares modernos, como, por exemplo,
estar relacionado à presença ou ausência de

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a tomografia computadorizada, em associação ção tecidual e um melhor prognostico para a


com os métodos de diagnostico convencionais. lesão, o que possibilitaria intervenções cirúrgi-
Dessa forma, as lesões seriam cada vez mais cedo cas cada vez mais conservadoras.
diagnosticadas, proporcionando menor destrui-

Florid cemento osseous dysplasia


Abstract
Florid cemento osseous dysplasia is a controversial disease in terms of diagnosis sinceclinical and
radiographic findings are similar to those of other osseous sclerosing lesions. It affects most often the man-
dible of black women, older than 40 years.The radiographic findings include radiopaque masses and
radiolucent strips with badly-defined borders. Alveolar osseous expansion, suppuration and fistulization
may develop in case of secondary infection (osteomyelitis), which occurs due to exposure of avascular bone
mass to the oral cavity.

Keywords: sclerosing lesions; osseous sclerosing lesions; cemento osseous dysplasia.

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Recebido em / Received: 21/07/2005


Aceito em / Accepted: 16/09/2005

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