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Cenári o At ua l e Fu t u r o d o Se tor
SETEMBRO
Julho || 2016
2016
isbn 978-85-64878-39-6
TRIÊNIO 2014-2016 São Paulo - Sede Rua Orlando Monteiro, nº 1 (Antiga Rua da Gávea,
nº 1390) Vila Maria • São Paulo/SP CEP 02121-020 Tel. 11 2632.1500
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Urubatan Helou I Vice-Presidente
Vander Francisco Costa I Vice-Presidente de Transporte
Antonio de Oliveira Ferreira I Vice-Presidente de Logística
Francisco Pelucio I Diretor Financeiro
Romeu Natal Panzan I Diretor Cesar Cunha Campos I Diretor
Antonio Pereira de Siqueira I Diretor Ricardo Simonsen I Diretor Técnico
Irani Bertolini I Diretor Antônio Carlos Kfouri Aidar I Diretor de Controle
Francisco Eduardo Torres de Sá I Diretor de Qualidade
Conselho Fiscal Sidnei Gonzalez I Diretor de Mercado
Antonio Luiz Leite Carlos Augusto Costa I Diretor-Adjunto de Mercado
Baldomero Taques Neto José Bento Carlos Amaral I Diretor-Adjunto de Mercado
Jacinto Souza dos Santos Jr.
equipe técnica
José Antonio Fiorot
Oswaldo Dias de Castro Manoel de Andrade e Silva Reis I Coordenador
Evandro Jacóia Faulin I Leonardo Boscolo C. Barbosa I
Vice-presidentes Regionais Guilherme de Oliveira Kater I Bruno Teodoro Oliva I
Antonio Pereira de Siqueira • BA Denise Piha I Andrea da Motta Calvo I Especialistas
Eduardo Ferreira Rebuzzi • RJ
EDITORIAL
Flávio Benatti • SP
Irani Bertolini • Região Norte Manuela Fantinato I Coordenação Editorial
José Antonio Fiorot • ES Talita Marçal I Produção Editorial
Pedro José de Oliveira Lopes • SC Patricia Werner I Coordenação de Design
Sérgio Malucelli • PA Mirella Toledo I Projeto Gráfico e Diagramação
Vander Francisco Costa • MG
Fotos: http://www.shutterstock.com
Vice-presidentes Extraordinários
O desenvolvimento deste estudo contou com a Durante o desenvolvimento deste estudo as em-
importante contribuição de diversos membros presas Expresso Jundiaí e Atlas Transportes e
da cadeia farmacêutica e, em particular, com a Logística foram adquiridas pela FEMSA Logísti-
imprescindível colaboração de José Antonio Pra- ca, que também contribuiu com o estudo.
do, consultor na área farmacêutica e de Nelson
Laboratórios
Libbos, consultor na área de saúde, que além de
contribuir com seus conhecimentos, concedeu • Bayer
entrevista que consta desta publicação. • EMS
• Eurofarma
A todos a FGV apresenta seus agradecimentos. • Hypermarcas
• Medley
Os membros da cadeia farmacêutica que con- • Novartis
tribuíram são: • Pfizer
• Sanofi
Associações
Redes de Farmácia
• NTC & Logística
• Sindusfarma • Drogasil
• Drogaria São Paulo
Transportadoras • Pague Menos
• Ativa Logística Distribuidoras de Medicamentos
• Atlas Transportes e Logística
• Expresso Jundiaí • Panpharma
• Linex – Tecnologia e Transporte Corretoras de Seguro
• Luft Logistics
• RV Ímola • Disconal Corretora de Seguros
• Shuttle • Grupo Apisul
íNDICE
Editorial������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 7
Apresentação NTC��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 11
Entrevista��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 13
Capítulo I. Panorama do Setor de Transportes de Medicamentos�������������������������������������������������������� 21
Capítulo II. Cenário Competitivo Atual������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 31
Capítulo III. Impactos das Principais Mudanças do Setor������������������������������������������������������������������������� 45
Realizado pela FGV Projetos para a NTC & Lo- mais elevadas e, portanto, inadequadas para a
gística, este estudo apresenta uma importante preservação da carga, o que pode provocar ins-
radiografia do setor de transporte de medi- tabilidades no princípio ativo do remédio e o
camentos no Brasil, que teve a contribuição comprometimento de sua eficácia.
de membros de toda a cadeia farmacêutica.
Trata-se de uma iniciativa da Câmara Técnica A ausência de precisão dos regulamentos quan-
de Transporte de Produtos Farmacêuticos da to ao transporte de medicamentos e a incapa-
NTC (CTFARMA). cidade de uma fiscalização mais rígida e abran-
gente por parte dos órgãos oficiais constituem
Nesta publicação estão sistematizados o im- outros agravantes dessa conjuntura. Outro pon-
pacto das mudanças no setor, seu atual cená- to crítico é a imprecisão na caracterização dos
rio competitivo e suas perspectivas. O estudo tipos de veículos necessários para o transporte
deixa clara a relevância do setor farmacêutico de medicamentos a longas distâncias. Nessa
para o país e sua representatividade interna- situação específica, por exemplo, são inadequa-
cional. Mostra também as transformações ex- dos os veículos isotérmicos, na medida em que
pressivas vivenciadas nos últimos anos pelo eles mantêm a temperatura por tempo limitado
transporte de medicamentos no país e apon- e também retêm calor, o que pode ser preju-
ta a necessidade de ampliar e aperfeiçoar o dicial ao medicamento. Assim, para distâncias
relacionamento entre os diversos atores da maiores, a solução ideal é a utilização de veícu-
cadeia farmacêutica. Em 2015, segundo esti- los refrigerados.
mativa da Fundação Getulio Vargas, a indús-
tria de fármacos gastou R$ 765 milhões com A falta de um piso salarial adequado para os
o transporte de medicamentos,tendo gerado, operadores de veículos constitui outro fator
em contrapartida, mais de 18 mil empregos di- sensível para o setor, visto que contribui para o
retos e indiretos. emprego de mão de obra despreparada para o
serviço. Apesar disso, é pertinente fazer a res-
Uma das principais dificuldades para o avanço salva de que os gastos com pessoal em trans-
do transporte de medicamentos no país, sobre- portadoras de medicamentos cresceram de
tudo no que se refere à logística, é a deficiência 26% para 32% dos gastos totais, conforme pes-
da infraestrutura de transportes. Apesar desse quisa realizada para este estudo com empresas
fato, os investimentos federais na área são for- do ramo. Isso representa um aumento de 6%
temente decrescentes. Em 1975, 1,84% do PIB em relação à receita líquida dessas empresas,
era destinado à infraestrutura de transportes, enquanto as demais despesas cresceram 3%.
ao passo que em 2014 esse valor foi reduzido
para 0,29%. Além disso, foi possível levantar que as empre-
sas de transporte de medicamentos participan-
Além disso, a infraestrutura logística brasileira tes da pesquisa para este estudo possuem uma
apresenta disparidades regionais que tornam frota com idade média de seis anos, contra dez
muito precário o acesso a certas regiões, como anos no mercado geral de transportadoras e 17
é o caso do Norte e do Nordeste. Isso prejudica anos para o caso de caminhoneiros autônomos.
a qualidade dos medicamentos, uma vez que os Assim, embora os dados demonstrem que a fro-
produtos demoram mais para serem transporta- ta das empresas em questão está sendo reposta
dos e, consequentemente, ficam expostos por de forma adequada, isso não necessariamente
mais tempo às condições do transporte, que acontece com os veículos mais indicados. Fren-
podem incluir a suscetibilidade a temperaturas te a esse panorama, é pertinente lembrar que
8
posta a temperaturas superiores a 50 graus. Isso Costumo dizer que a fiscalização da produção
faz com que haja uma degradação do princípio não deveria ser de responsabilidade dos Esta-
ativo que há naquele produto, o que leva à re- dos e, como ocorre algumas vezes, dos muni-
dução ou à perda da eficácia do medicamento. cípios. Deveria ser dos órgãos federais. Imagi-
nemos um pequeno município onde se instalou
Segundo a região em que o medicamento será uma grande companhia. Essa empresa domi-
comercializado, existe um critério de classifi- nou a mão de obra local e possui relevância
cação e controle para assegurar a estabilidade significativa para a economia municipal. O rigor
dos produtos. O Brasil, por exemplo, é zona da fiscalização pode apresentar critérios dife-
4 (zona dos trópicos). Sendo assim, para um rentes de uma inspeção feita em São Paulo. En-
produto desenvolvido nos Estados Unidos tão, infelizmente nós não utilizamos uma régua
ser fabricado e comercializado no país, a in- igual para as inspeções estaduais. A inspeção
dústria deverá respeitar critérios de produção em São Paulo talvez seja mais rigorosa do que
específicos, pois o medicamento poderá estar em alguns outros lugares do Brasil.
submetido às temperaturas médias brasileiras,
que variam de 28 a 32 graus. Frente a essa di- O que vemos também são regulações esta-
nâmica, de que adianta tanto controle se de- duais conflitantes. É possível ver no Nordeste,
pois os medicamentos são submetidos a tem- por exemplo, uma farmácia com mandado de
peraturas superiores às recomendadas? segurança que a permite vender alimentos. Já
em São Paulo não há esse tipo de situação.
Há o risco também, após a entrega da merca-
doria pelo distribuidor, de o produto não ser Hoje em dia existe uma preocupação grande
armazenado em condições adequadas, levan- da ANVISA com a rastreabilidade do produto,
do mais uma vez ao risco de degradação do quando deveriam estar mais preocupados com
medicamento. Dessa forma, compramos um a qualidade dos medicamentos em toda a ca-
produto de uma grande companhia, que cum- deia. A rastreabilidade é muito importante, mas
priu com todos os seus requisitos de qualida- há que se regular melhor a logística dos medica-
de de produção, mas que não possui a mesma mentos, que também é parte da rastreabilidade.
eficiência que apresentava quando saiu da fá-
brica. Nesse ponto, é pertinente perguntar: a O Brasil precisa estabelecer novos patama-
culpa é da indústria farmacêutica? Não neces- res para a logística, em termos de controle
sariamente, mas é ela que vai responder caso da qualidade da carga específica que está
alguém faça a acusação de que o produto não sendo transportada.
está com a qualidade adequada.
QUAL A RESPONSABILIDADE DA
E é função do Estado exercer essa fiscalização.
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA NESTE
Diante do risco da venda de um medicamento
de qualidade inadequada, todos nós saímos
PROCESSO?
perdendo: estamos aplicando o que há de
NL: As farmacêuticas têm um controle gran-
melhor no mundo em controle da produção,
de sobre os produtos de cadeia fria (que não
importação e transporte da matéria-prima
podem estar submetidos a temperaturas su-
e estamos utilizando os melhores processos
periores a 8 graus). A indústria armazena o
na fabricação e no controle da qualidade dos
medicamento adequadamente e exige que
medicamentos. No entanto, quando o produ-
o transporte seja feito da mesma maneira. O
to passa pela porta da fábrica, perdemos o
problema é que o controle da indústria não
controle. Como consequência, quem paga por
chega ao varejo. Se cuidamos da etapa da
isso é o consumidor final.
15
sa de transportes deve respeitar uma série rados ao poder das indústrias e redes. O alto
de exigências, mas também deveria existir o nível hierárquico da indústria e os altos execu-
compliance na entrega do produto no desti- tivos das redes precisam atentar para a impor-
no final. É a imagem da indústria que está em tância do transporte e do armazenamento dos
jogo se alguém tomar um medicamento e ele medicamentos. Creio que ainda não existe uma
não funcionar. Se os requisitos de qualidade consciência tão ampla quanto a isso.
necessários não forem cumpridos pelas trans-
portadoras, quem sofrerá as consequências DENTRO DESSE CONTEXTO, O QUE
são as indústrias, por seu produto não chegar
OS TRANSPORTADORES DE PRO-
às mãos dos consumidores em condições ade-
quadas de uso.
DUTOS FARMACÊUTICOS ESTÃO
FAZENDO PARA MELHORAR O DE-
Se só tivermos uma visão de custos, com cer- SEMPENHO DA CADEIA DE ABASTE-
teza estaremos perdendo a visão da qualidade CIMENTO?
e é preciso ter um equilíbrio entre ambas, prin-
cipalmente, neste setor. Serviço barato qual- NL: Para responder a essa pergunta basta
quer um pode fornecer, mas não vai oferecer olharmos para o número de transportadores
o melhor serviço. que quebraram nos últimos anos. Como foi
dito anteriormente, os transportadores são pe-
QUAL O PAPEL ATUAL DA INDÚS- quenos para brigar com os grandes (indústria,
TRIA FARMACÊUTICA E DAS REDES redes de farmácia e distribuidores). Então, vão
DE FARMÁCIAS E DISTRIBUIDO- absorvendo os custos dos serviços exigidos,
sem a possibilidade de repassá-los, até o limi-
RES NA EVOLUÇÃO DA CADEIA DE
te em que a empresa quebra. Nesse cenário,
ABASTECIMENTO DE PRODUTOS
quase não há espaço para os transportadores
FARMACÊUTICOS? melhorarem o desempenho da cadeia.
NL: Não vejo evolução significativa do pon- O histórico do setor tem mostrado que as
to de vista da preocupação com a qualidade transportadoras estão passando e ainda vão
com que o produto chega ao ponto de venda. passar por momentos difíceis. O que pior é
A evolução que ocorreu foi somente econômi- que chegaremos a um momento em que o
ca: buscaram-se ganhos de eficiência por meio custo do transporte vai estourar no Brasil:
de ganhos de economia no transporte e no ar- quando a oferta for baixa e as transportadoras
mazenamento. Frequentemente esses setores estabelecerem um preço. O ideal é mantermos
dizem, por exemplo, que só recebem determi- a concorrência dentro de um nível de rentabi-
nada mercadoria paletizada, mas ela não saiu lidade adequado. Quando não temos isso, não
paletizada da indústria. É do transportador/ temos concorrência, o que leva ao monopó-
operador logístico a responsabilidade de fazer lio. Quando existirem poucas transportadoras
essa operação? Deveria ser de responsabilida- grandes, elas terão poder para negociar com
de dos dois entes negociadores [indústria e as indústrias e redes.
rede de farmácia/distribuidor].
Um problema sério no Brasil é que o frete de ida inadequadas. Precisamos ter certeza absoluta
nem sempre encontra a carga na volta. Assim, de que o consumidor final está recebendo um
temos que cobrar um valor de frete que pague a produto de inteira qualidade, lembrando que
ida e a volta. Se o Brasil tivesse uma distribuição nada é de graça. Se exigimos um transporte
industrial menos concentrada, teríamos custos com determinadas condições, seu custo, logi-
de frete menores. E menores ainda se utilizás- camente, será mais caro.
semos as vias fluviais, ferrovias e a cabotagem.
NL: O órgão regulador deveria discutir de ma- Nós somos um país em desenvolvimento. O
neira séria com a indústria, distribuidores e re- Estado deveria apenas se preocupar em ga-
des de farmácias o assunto do transporte para rantir a infraestrutura, em regular e fiscalizar,
assegurar que o produto chegue ao consumi- para que a iniciativa privada faça o resto para o
dor com a mesma qualidade que saiu da fá- país. Não adianta somente fazer a lei e pressu-
brica, garantindo que ele não sofreu nenhuma por que as coisas vão acontecer. Se não hou-
degradação devido à exposição a condições ver controle a lei não é implementada.
18
NL: Além do mau estado de conservação da POR QUE A INDÚSTRIA NÃO PRE-
maioria das rodovias, o fato de não termos de- FERE PAGAR MAIS AO TRANSPOR-
senvolvido devidamente outros modais, como TADOR PARA ASSEGURAR QUE SEU
o hidroviário e o ferroviário. O Brasil precisa me- MEDICAMENTO CHEGUE AO NOR-
lhorar sua infraestrutura em todos os aspectos. DESTE, POR EXEMPLO, COM A QUA-
Para isso, deve atrair investimento privado, ca-
LIDADE ADEQUADA?
pital nacional ou externo. Precisamos pôr fim à
mentalidade de que o país possui condições de
NL: Porque no modelo atual o controle da
investir sozinho em tudo.
indústria acaba quando entrega o produto à
rede ou ao distribuidor.
QUAL O IMPACTO DO CUSTO LOGÍSTI-
CO PARA A CADEIA FARMACÊUTICA? Além disso, este assunto não está sendo trata-
do, porque ninguém está considerando a real
NL: O custo logístico para a cadeia farmacêu- importância dele, nem o impacto que causa. O
tica, no que diz respeito ao armazenamento remédio está relacionado à doença, portanto,
e ao transporte, não ultrapassa 3%. E talvez seu valor só é percebido na hora em que temos
custe muito pouco para aumentarmos a efi- a cura. Além de muitas vezes a indústria far-
ciência da cadeia e garantirmos um produto macêutica ser mal vista, é comum as pessoas
absolutamente seguro na ponta. Acredito que dizerem: uma cápsula por esse preço? Não é
basta a indústria, os distribuidores, as redes e apenas uma cápsula, pois para chegar às mãos
as transportadoras negociarem a melhoria na do consumidor ela passou por um longo pro-
qualidade do transporte. cesso de desenvolvimento e fabricação.
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS DESA- dústria não ganhar dinheiro ela não consegue
FIOS DO SETOR DE TRANSPORTE DE investir em pesquisa e, sem pesquisa, nós não
teríamos evolução.
PRODUTOS FARMACÊUTICOS TENDO
EM VISTA A ATUAL EVOLUÇÃO DO
MERCADO?
“Se a cadeia se mobiliza e traz o
NL: O maior desafio é justamente trazer para governo para discutir os proble-
a mesma mesa de discussão todos os agentes
mas acabamos criando regras
da cadeia produtiva.
mais adequadas”
Somos a oitava economia de medicamentos
do mundo – éramos a sexta antes da desvalori-
zação cambial – e existem projeções da Orga-
nização Mundial de Saúde que indicam que o
QUAL ENCAMINHAMENTO O SETOR
Brasil se tornará o quarto maior mercado mun- DE TRANSPORTE DE PRODUTOS
dial. Temos que nos antecipar a esses proble- FARMACÊUTICOS DEVE SEGUIR
mas. Temos que ser um mercado de produção, PARA SUPERAR SEUS DESAFIOS?
qualidade, distribuição e logística adequadas
para que o consumidor final tenha um produto Nl: Compreendo que uma certa especialização
de qualidade. Um medicamento caro é aquele por regulação no setor de transportes poderia
que não temos quando precisamos dele para melhorá-lo ou ser o ponto de partida para se-
curar uma doença. Há alguns anos, quando al- pararmos o joio do trigo. Além disso, a indica-
guém tinha úlcera, era comum passar por uma ção de qual tipo de transporte pode ser feito
cirurgia. A indústria farmacêutica descobriu para medicamentos, qual tipo de transportador
duas drogas revolucionárias e hoje tomamos ou de serviço pode atingir o nível desejado.
um medicamento por 14 dias que cicatriza a Novamente, é necessário que a indústria, os
úlcera. Por isso, eu digo: alguém apareceu para transportadores, os distribuidores e as redes
calcular o impacto econômico (cirurgia, inter- ou associações de farmácias discutam a re-
nação, ausência do trabalho) dessa descober- gulação do setor, ou o governo terminará por
ta? Não, mas pessoas se queixam de pagar R$ fazer essa regulação de uma forma que nem
58 por 7 comprimidos para a úlcera. sempre é adequada. Sempre preferi reunir os
elementos da cadeia com o governo para for-
As pessoas não valorizam os avanços trazidos mular a melhor solução. Se a cadeia se mobili-
pela indústria farmacêutica, como o tratamen- za e traz o governo para discutir os problemas
to de câncer e contra a hepatite C. As pessoas acabamos criando regras mais adequadas e
pensam que é a indústria do lucro, que quer facilmente implementáveis, com etapas gra-
ganhar dinheiro com remédios. Mas se a in- dativas de aplicação.
20
CAPÍTULO I
2. REIS, M. A. S. Conceitos sobre Logística e SCM. Material apre- 4. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
sentado no curso para a Academia Militar das Agulhas Negras, em 5. CNT, Confederação Nacional do Transporte. Pesquisa CNT de
maio de 2015. Rodovias 2014: Relatório Gerencial, 2014. Disponível em: <http://
3. CNT, Confederação Nacional do Transporte. Pesquisa CNT de pesquisarodovias.cnt.org.br/Paginas/index.aspx>.
Rodovias 2014: Relatório Gerencial, 2014. Disponível em: <http:// Acesso em: 01/12/2014.
pesquisarodovias.cnt.org.br/Paginas/index.aspx>.
Acesso em: 01/12/2014.
23
TRANSPORTE
TRANSPORTE TRANSPORTE
OPERADOR LOGÍSTICO
6. CRF-SP, Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo. 7. Os prestadores de serviço de transporte de carga rodoviário po-
Comissão Assessora de Distribuição e Transporte, 2013. Disponível dem ser divididos em três categorias: empresas de transporte com
em: <http://portal.crfsp.org.br/comissoes-assessoras-/84-assesso- frota própria (os motoristas contratados CLT), motoristas autôno-
ras/assessoras/179-comissao-de-distribuicao-e-transportes.html>. mos ou agregados (cujos serviços são contratados por empresas
Acesso em: 19/01/2015. de transporte por meio de contrato) e motoristas terceiros (cujos
serviços são contratados de maneira avulsa).
24
Fonte: RAIS
8. Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do 11. Valor estimado a partir de dados da Pesquisa Industrial Anual
Trabalho e Previdência Social. (PIA) relativos a 2013 e do número oficial divulgado pelo IBGE para
o PIB em 2015.
9. Os dados da RAIS não permitem separar os estabelecimentos de
comércio atacadista de medicamentos de uso humano e veteriná- 12. Valor calculado a partir de dados da Pesquisa Anual de Serviços
rio. Esse valor é, portanto, um limite superior do número de ataca- (PAS) relativos a 2013 e do número oficial divulgado pelo IBGE para
distas de medicamentos cadastrados na base de dados da RAIS. o PIB em 2015.
10. Em 124 municípios há laboratórios e atacadistas de produtos
farmacêuticos.
25
250.000
215.520 213.151
203.421
200.000 183.063
165.557
141.660
150.000
109.403
104.513
100.000
50.000 773
631 730 765
469 457 568 613
Os R$ 765 milhões gastos pela indústria farma- da cadeia, pois propaga-se para outros setores
cêutica em 2015 representam a receita do setor da economia, gerando efeitos indiretos.
de transporte de produtos farmacêuticos que,
além de impactar diretamente o próprio setor, im- Assim, para cada R$ 1,00 gasto com o setor dis-
pactam em diferentes medidas em outros setores tribuidor de produtos farmacêuticos foi gerado
da economia, de maneira indireta e induzida. R$ 1,79 para a economia, direta e indiretamente
na forma de insumos, R$ 0,85 na forma de efei-
A cada R$ 1,00 gasto com o setor transportador tos de renda direta e induzida, e R$ 0,16 adicio-
de produtos farmacêuticos, R$ 0,43 foi destina- nal na forma de impostos. Ou seja, somando-se
do à compra de insumos, R$ 0,50 ao pagamento os efeitos diretos, indiretos, induzidos e impos-
de salários e lucro dos empresários e R$ 0,07 ao tos, é possível dizer que, em 2015, houve a ge-
pagamento de impostos. Assim, os R$ 765 mi- ração de R$ 2,79 para cada R$ 1,00 gasto, isto é,
lhões gastos pela indústria em 2015 podem ser o valor de R$ 765 milhões gasto pela indústria
divididos em: nesse setor gerou um impacto 2,79 vezes maior,
no total de R$ 2,1 bilhões, subdivididos em:
• R$ 329,0 milhões em insumos diretos
adquiridos; • R$ 1,4 bilhão em insumos diretos adquiridos;
• R$ 378,9 milhões em pagamento de salá- • R$ 646,4 milhões em pagamento de salá-
rios e lucro obtido; rios e lucro obtido;
• R$ 56,9 milhões em pagamento de im-
postos.
• R$ 118,3 milhões em pagamento de impos-
tos diretos.
No entanto, o montante destinado à compra
de insumos, pagamento de salários e lucro dos
empresários e impostos não representa o fim
26
Em termos de emprego de mão de obra, o in- Para perceber a importância do setor de trans-
vestimento realizado no setor de transporte porte, é fundamental a comparação com os
de produtos farmacêuticos gerou 11.181 empre- coeficientes de multiplicação de outros seto-
gos diretos e 6.833 empregos indiretos, totali- res importantes da economia.
zando aproximadamente 18.015 empregos.
11.181 6.833
18.015 TOTAL
DE EMPREGOS
EMPREGOS DIRETOS EMPREGOS INDIRETOS DIRETOS E INDIRETOS
setor multiplicador
TÊXTEIS 2,94
COMÉRCIO 2,43
Fonte: IBGE
28
13. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Matriz de Assim, esses efeitos consistem, especifica-
Insumo-Produto Brasil, 2000/2005. Contas Nacionais n. 23, 2008.
mente, no aumento da produção setorial em
14. FUNDAÇÃO Cide. Matriz Insumo-Produto. Estado do Rio de Ja-
neiro, 1996. resposta à demanda e nos consequentes au-
15. MONTOYA, M. A. The Input-Output Matrix of Mercosul for the mentos na renda, postos de trabalho e arreca-
Year of 1990: Sectorial Interdependence Between the Production
and the Final Demand. IPEA. Working Paper n. 29301, 2001. dação tributária gerados nos diversos setores.
16. GUILHOTO, J. J. M.; SESSO FILHO, U. A. Estimação da Matriz
Insumo-Produto Utilizando Dados Preliminares das Contas Nacio-
nais: Aplicação e Análise de Indicadores Econômicos para o Brasil Além disso, devido à grande interligação pre-
em 2005. Economia & Tecnologia. UFPR/TECPAR. Ano 6, vol. 23, sente na estrutura do país, esses choques pro-
Outubro, 2010.
GUILHOTO, J. J. M.; SESSO FILHO, U. A. Estimação da Matriz Insu- pagam-se sobre todas as demais atividades
mo-Produto Utilizando Dados Preliminares das Contas Nacionais.
Economia Aplicada. Vol. 9, n. 2, p. 277-299. Abril-Junho, 2010.
que compõem a matriz econômica brasileira
29
(impactos indiretos). Essa propagação ocorre e dos postos de trabalho gerados (impactos
em função do nível de encadeamento dos se- induzidos ou efeito-renda), e em arrecadação
tores de atividades da economia, que também tributária, permitindo às diversas esferas da
pode ser calculado por meio da matriz insumo administração pública incrementar o bem-es-
-produto. Quanto maior o nível de encadea- tar da sociedade.
mento, maior a quantidade de empregados,
ou de renda, que serão gerados nos setores Outro ponto a ser notado é que, para os cál-
fornecedores de insumo para um emprego, culos feitos neste trabalho, foram utilizados os
ou unidade de renda, que são gerados dire- coeficientes que se referem ao setor de trans-
tamente. A produção adicional requerida pela porte como um todo, e não especificamente
demanda gerada e pela necessidade de insu- ao transporte de medicamentos, uma vez que
mos adicionais em todos os setores traduz-se apenas o setor em geral está representado na
em consumo adicional em virtude da renda matriz do IBGE.
30
CAPÍTULO II
4,2% 0,4%
13,6% rodoviário
ferroviário
aquaviário
dutoviário
20,7% 61,1%
aéreo
Fonte: CNT
Vale destacar, entretanto, que o baixo valor Nesse contexto, muitas são as consequências
relativo do frete se deve a fatores como bai- provocadas pelo estado geral das rodovias do
xa qualificação da mão de obra, concorrência país, tais como: aumento no número de aci-
predatória, além de regulamentação e fiscali- dentes; aumento de tempo na realização de
zação deficientes, que possibilitam significati- viagens; incremento da emissão de material
va informalidade ao setor. particulado e de gases de efeito estufa; au-
mento do custo do transporte devido ao custo
Para possibilitar maior eficiência ao setor de adicional com combustível; maior necessidade
transporte rodoviário, além de qualificação de manutenção dos veículos e número menor
do transportador e do motorista, tal como a de viagens. Esse aumento de custo pode che-
qualidade dos equipamentos, é fundamental a gar até a 91,5%, nos casos mais extremos19.
presença de uma infraestrutura adequada.
Outros pontos críticos de destaque são as di-
ficuldades de acesso encontradas em certas
Qualidade das rodovias regiões, como Norte e Nordeste, o escasso
desenvolvimento das cadeias logísticas, espe-
Apenas 12,4% da malha rodoviária do Brasil é
cialmente no que tange a sistemas, processos
pavimentada, bem abaixo da média latino-a-
e tecnologia, e a necessidade de investimentos
mericana (26%) e da média mundial (57%).
em outros modais alternativos, como o ferro-
Além disso, cerca de 57,3% de toda a malha
viário, o fluvial e a cabotagem.
viária pavimentada apresenta qualificação tida
como regular, ruim ou péssima18.
12,5%
30,2% ótimo
6,3%
bom
regular
16,1%
ruim
péssimo
34,9%
Fonte: CNT
18. O Estado Geral das Rodovias é avaliado pela CNT com base em 19. CNT, Confederação Nacional do Transporte; SEST, Serviço So-
eventuais deficiências no pavimento, na sinalização e/ou na geo- cial do Transporte; SENAT, Serviço Nacional de Aprendizagem do
metria da via e considerou 100 mil quilômetros de rodovias pavi- Transporte. Pesquisa CNT de Rodovias 2015: Relatório Gerencial,
mentadas. 2015, p. 368.
33
1,40%
1,22%
1,10%
1,02%
1,03%
0,91%
0,82%
0,07%
0,70%
0,68%
0,58%
0,54%
0,40%
0,39%
0,36%
0,33%
0,30%
0,30%
0,28%
0,30%
0,29%
0,28%
0,25%
0,24%
0,22%
0,24%
0,23%
0,20%
0,20%
0,19%
0,19%
0,18%
0,16%
0,16%
0,15%
0,14%
0,12%
0,07%
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Fonte: CNT
20. CNT, Confederação Nacional do Transporte; SEST, Serviço So- 22. CNT, Confederação Nacional do Transporte; SEST, Serviço So-
cial do Transporte; SENAT, Serviço Nacional de Aprendizagem do cial do Transporte; SENAT, Serviço Nacional de Aprendizagem do
Transporte. Pesquisa CNT de Rodovias 2015: Relatório Gerencial, Transporte. Pesquisa CNT de Rodovias 2015: Relatório Gerencial,
2015, p. 356. 2015.
21. MPOG, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Pro-
grama de Investimento em Logística, 2015.
34
100%
6,4 6,6 6,6
12,5 10,5 25,7
90% 29,1
17,6 37,3
29,0
80% 30,2
40% 28,0
30% 20,4
20%
14,8 18,2 17,6
16,1
13,5
10% 14,7
6,3 6,1 5,1 3,0 5,1
0%
brasil norte nordeste centro-oeste sudeste sul
Nota: O relatório da CNT abrange toda a malha rodoviária federal pavimentada e os principais trechos estaduais também pavimentados.
Fonte: CNT
23. ILOS, Instituto de Logística e Supply Chain. Panorama ILOS: 24. ILOS, Instituto de Logística e Supply Chain. Panorama ILOS:
Custos Logísticos no Brasil 2014, 2014. Custos Logísticos no Brasil 2014, 2014.
25. REIS, M. A. S. Conceitos sobre Logística e SCM. Material apre-
sentado no curso para a Academia Militar das Agulhas Negras, em
maio de 2015.
35
4,7%
2,1%
1,9%
Fonte: ILOS
procedimentos ALFANDEGÁRIOS 74 82 78 94
INFRAESTRUTURA 49 37 46 54
ENTREGA INTERNACIONAL 75 65 41 81
COMPETÊNCIA LOGÍSTICA 49 34 41 50
RASTREAMENTO 65 36 33 62
CUMPRIMENTO DE PRAZOS 71 20 49 61
27. Resolução RE nº 01 da ANVISA, de 29 de julho de 2005. Disponí- 28. Resolução da Diretoria Colegiada nº 346 da ANVISA, de 16 de
vel em: <http://www.anvisa.gov.br/medicamentos/legis/01_05_re_ dezembro de 2002. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
comentada.pdf>. Acesso em: 23/01/2015. saudelegis/anvisa/2002/anexos/anexos_res0346_16_12_2002.
pdf>. Acesso em: 19/01/2015.
29. ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Taxas de vi-
gilância sanitária sofrem revisão após 16 anos, 2015.
38
30. ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Endereço 31. NTC & LOGÍSTICA, Associação Nacional do Transporte de Car-
das Vigilâncias Sanitárias dos Estados e Municípios, 2014. gas e Logística. Escassez de Motoristas pode Elevar Custos do TRC,
2014.
39
Algumas dessas mudanças trouxeram impac- e nos prazos de entrega, que precisaram ser
tos sensíveis, do ponto de vista de custos, ao alongados dadas as jornadas mais curtas. Tam-
setor de transportes. A Norma Euro V promo- bém traz a necessidade de aumento do quadro
veu um aumento de cerca de 15%32 no custo de de profissionais, sejam motoristas ou auxiliares,
aquisição de caminhões, sem a percepção de bem como de investimentos em novos veículos.
uma economia de combustível que compense A NTC & Logística estima aumento nos custos
esse aumento de custo, conforme esperado. operacionais de carga farmacêutica na ordem
Já a Lei do Motorista traz reflexos nos custos de 23,5% por unidade transportada, decorrente
operacionais, devido à queda na produtividade da redução de produtividade por veículo.33
4,4% 1,8%
nenhuma
16,8%
entre 0,1% e 2,5%
faixas de distância (km) R$/t (antes da Lei) R$/t (depois da Lei) % de aumento
32. NTC & LOGÍSTICA, Associação Nacional do Transporte de Car- 33. NTC & LOGÍSTICA, Associação Nacional do Transporte de Car-
gas e Logística. Meio Ambiente: Norma Euro V elevou Custos do gas E Logística. Crise do TRC: O Modelo “ganha-perde” e o Apagão
Transporte, 2014. Logístico, 2015.
40
Nota: A relação de 1:1 significa 1 motorista por caminhão, enquanto que a relação 1:1,3 considera 1,3 motoristas por caminhão, número suge-
rido pela NTC & Logística, devido às exigências de legislação.
34. CNT, Confederação Nacional do Transporte. Expectativas Eco- 37. SEST e SENAT, 2015.
nômicas do Transportador, 2014. 38. NTC & LOGÍSTICA, Associação Nacional do Transporte de Car-
35. NTC & LOGÍSTICA, Associação Nacional do Transporte de Car- gas e Logística. Restrições Municipais, 2015.
gas E Logística. Escassez de Motoristas pode Elevar Custos do
TRC, 2014.
36. NTC & LOGÍSTICA, Associação Nacional do Transporte de Car-
gas E Logística. Escassez de Motoristas pode Elevar Custos do
TRC, 2014.
41
Por outro lado, a falta de estrutura, organização atribuições do serviço de transporte, mas que
e/ou pessoal qualificado para o manuseio da podem ser solicitadas pelos clientes ou ofe-
carga, tanto no embarcador (indústria) como recidas pelas transportadoras como comple-
no destinatário (distribuidoras e redes), transfere mento. As mais comuns são paletização, taxa
grande parte das mudanças para o transporta- de agendamento de entrega, devolução de
dor. Além disso, o custo decorrente de quaisquer canhotos (comprovação de entrega), veículos
danos sobre a mercadoria, no período entre a dedicados e coletas/entregas fora do horário
saída do laboratório e a chegada ao distribuidor, comercial. Essas taxas possuem um grande
é de responsabilidade dos transportadores. impacto sobre o setor de transporte de me-
dicamentos, em que as transportadoras pas-
Pensando nisso, a NTC & Logística publica saram a incorporar atividades antes exercidas
anualmente uma Planilha Referencial de Car- por distribuidores e redes de farmácias, sem
gas Secas Fracionadas, ou seja, mercadorias que houvesse um aumento da remuneração.41
de vários embarcadores para vários destina-
tários, geralmente, incluindo coleta e/ou en- Além dos serviços adicionais, surgiram novas
trega, também chamada de LTL (Less Than demandas no segmento farmacêutico, como o
Truckload). Essas planilhas são elaboradas sob aumento do tempo de descarga, com duração
supervisão da Câmara Técnica de Transporte de até três dias, e o envio ou contratação de um
de Carga Fracionada (CTF), com base em seu ajudante para cada 200 a 300 volumes a serem
método de apuração de custos, que reflete a descarregados em terminais. Nesse sentido, a
estrutura de custos de uma empresa operando NTC & Logística recomendou, em um estudo
em regime de eficiência. Os custos assim cal- realizado em 2013, a cobrança de algumas ta-
culados são divididos em dois tipos: os Com- xas adicionais, específicas para as entregas em
ponentes Tarifários Básicos e as Generalidades grandes redes de farmácia e distribuidores de
do Transporte.40 medicamentos.42 As principais são: ajudante
para descarga, agravamento de GRIS (Gestão
As Generalidades do Transporte correspon- de Risco) e allowance para avarias.
dem à iniciativa dos transportadores, interme-
diada pela NTC & Logística, para a formulação A cobrança dessas taxas depende, contudo,
de taxas extras que lhes permitam repassar de um maior alinhamento entre os três elos
para a indústria farmacêutica, ao menos par- da cadeia – embarcador/laboratório, transpor-
te dessa elevação de custos. As Generalidades tador e cliente/distribuidor e rede – porque,
vêm sendo aplicadas desde 2005 e considera embora as exigências sejam feitas pelo cliente,
11 taxas no total. quem paga as taxas adicionais é o embarca-
dor. Assim, é importante que essas demandas
Além disso, as empresas transportadoras sejam consideradas pelo embarcador na hora
podem cobrar taxas relativas a serviços adi- de contratar o frete, evitando problemas no
cionais, isto é, atividades extras que não são momento da entrega.
40. NTC & LOGÍSTICA, Associação Nacional do Transporte de Car- 41. NTC & LOGÍSTICA, Associação Nacional do Transporte de Car-
gas e Logística. Restrições Municipais, 2015. gas e Logística. Recomendações para as Empresas Transportado-
ras de Medicamentos (Produtos Farmacêuticos), 2013.
42. NTC & LOGÍSTICA, Associação Nacional do Transporte de Car-
gas e Logística. Recomendações para as Empresas Transportado-
ras de Medicamentos (Produtos Farmacêuticos), 2013.
CAPÍTULO III
evolução da participação das despesas sobre o total de gastos das empresas de transporte de
medicamentos participantes do estudo
100%
28% 27% 29% 30% 33% 32% 33%
90%
80%
50% 46%
outras
45% 45% 46%
44%
42%
40% operacionais
30%
mercadorias e combustíveis
20%
10%
9% 9% 7% 7% 7% 7% 7%
0%
evolução da participação das despesas sobre a receita líquida das empresas de transporte de
medicamentos participantes do estudo
100%
90%
30%
27% 29%
80%
24% 26%
23% 22%
70%
60% pessoal
17% 18%
7% 15% 16% 14% 13%
50% outras
43%
40% 40% operacionais
38% 38% 37%
36% 36%
30%
mercadorias e combustíveis
20%
10%
6% 6% 5% 6% 6% 6% 6%
0%
no grupo de empresas no período analisado, utilizando os valores do IBGE como base, per-
apresenta comportamento de aumento bas- cebe-se que, em 2009, esses gastos das em-
tante acentuado em comparação com a mé- presas eram 15% maiores e passaram a ser, em
dia da indústria, utilizando os dados da PAS do 2013, 38% maiores. Por fim, essa elevação do
IBGE. É possível observar que este grupo tem total resultou numa pressão na margem destas
despesas operacionais mais altas que a média empresas, avaliando-se somente tais gastos.
da indústria, chegando a diferença a 15%, em Considerando-se a margem porcentual destas
2013, último ano disponível dos dados do IBGE. empresas em 2009 como base, houve uma re-
Da mesma forma, ao comparar a variação dos dução de 44%, em 2015, mesmo após uma recu-
gastos com Pessoal das empresas com os da- peração em 2014.
dos da pesquisa do IBGE (média da indústria),
evolução dos gastos como Porcentual da Receita das Empresas de Transporte de Medicamentos
Participantes da Pesquisa do estudo
4,0%
3,0% 1,7%
1,2% 1,3%
2,0% 0,9% 0,9% 0,9% 1,0%
1,0%
0,0%
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
50,0%
44,8% 44,4%
43,7% 43,2%
45,0%
40,3%
40,0%
35,0% 31,8% 31,0%
30,0% 29,8% 29,4%
30,0%
25,0%
20,0%
15,0%
10,0%
5,0%
0,0%
2009 2010 2011 2012 2013
160
138
140 127
115 115 118
120
100 100 100 100 100
100
80
60
40
20
Fonte: Dados fornecidos pelas empresas participantes e dados públicos da PAS/IBGE referentes ao setor de
Transporte Rodoviário de Carga como um todo
10,0% 0,0%
0,0%
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
-10,0% -5,6% -21,8%
-20,0% -1,5%
-30,0%
-40,0%
margem
Fonte: Dados fornecidos pelas empresas participantes. Nota: A “Margem” foi calculada como diferença entre o fatur-
amento líquido destas empresas e a soma dos custos, despesas operacionais e gastos com pessoal.
50
possuírem um maior risco de acidente. De fato, Observa-se que essas aquisições acompa-
para certos tipos de carga, existem limites má- nham as tendências do faturamento, mas as
ximos para a idade da frota, por exemplo, no variações são mais acentuadas. Assim, entre
caso da carga química.45 2011 e 2012, enquanto o faturamento caiu me-
nos de 10 pontos porcentuais, o volume de veí-
As transportadoras que participaram do estu- culos novos comprados diminuiu cerca de 60
do possuem uma frota cerca de quatro anos pontos porcentuais.
mais nova que a média do mercado para em-
presas. A frota autônoma é ainda mais velha, Os dados levantados com empresas parti-
alcançando 17 anos de idade, em média. cipantes do estudo sugerem que a decisão
de investir seja fortemente influenciada pelo
Assumindo-se que as empresas de transpor- faturamento, mas existem outros fatores im-
te de medicamentos participantes do estudo portantes. De fato, as expectativas dos em-
compram apenas veículos novos, foi possível presários em relação ao futuro também afe-
calcular o volume de frota adquirido a cada ano. tam o nível de investimento, sobretudo, em
circunstâncias de forte incerteza.
20
18 17
16
14
12
10
anos
10
8
6
6
Fonte: Dados fornecidos pelas empresas participantes e dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres
(ANTT). Nota: A frota total inclui caminhões, furgões, utilitários e veículos de apoio.
140 131
123
120
102 124
100
100
102 103
índice base 100 = 2009
100 98 95
80
60
63
40
36
20
0%
Nota: Assume-se que as empresas compram apenas veículos novos, logo a data de fabricação equivale à de compra.
Fonte: Dados fornecidos pelas empresas participantes.
PERSPECTIVAS
Os fatores relevantes para a análise sobre as mente. Além disso, também impactam o nível
perspectivas para a cadeia de abastecimento do serviço prestado, a estrutura de custos das
de medicamentos no Brasil, com foco no papel empresas e a estrutura competitiva da cadeia,
exercido pelos transportadores e na dinâmica conforme exposto adiante.
de funcionamento existente entre os elos da
cadeia, são:
Legislação Sanitária e de
• interação dos elos da cadeia com o setor Transportes
público e suas respectivas implicações,
visto que as formas de interação interna e Em relação a este item, o texto a seguir apre-
externa são fundamentais para o entendi- senta os principais desafios na opinião dos
mento de grande parte dos desafios a se- transportadores de medicamentos.
rem enfrentados pelo setor como um todo, Os principais desafios estão relacionados às
sobretudo pelos transportadores. dúvidas sobre a aplicação da legislação sanitá-
• necessidade de maior integração e diá- ria e de transportes, ausência de contrapartida
logo entre os diferentes elos da cadeia em infraestrutura para a aplicação das normas,
farmacêutica. como qualidade das rodovias, informalidade
(fruto de assimetrias na fiscalização) e a inde-
• impacto das possíveis mudanças na le-
finição ou até mesmo inexistência de normas
gislação sobre o nível de serviço e as fi-
que são consideradas relevantes para o bom
nanças das transportadoras
funcionamento do setor.
• estrutura competitiva das transportadoras
A dificuldade na aplicação das novas normas
Complementadas por algumas visões da FGV, tem levado os transportadores a pressionar o
as considerações apresentadas baseiam-se governo. Em relação à legislação dos transpor-
nas entrevistas realizadas com representantes tes, mais especificamente no que diz respei-
de todos os elos envolvidos na cadeia de abas- to à Lei do Motorista (Lei nº 12.619/2012), os
tecimento de medicamentos (indústrias far- transportadores já conseguiram uma primeira
macêuticas nacionais e internacionais, trans- mudança, através da Lei n° 13.103/2015, que
portadoras, distribuidores, redes de farmácias abriu a possibilidade de estender a jornada
e seguradoras). diária de 8 horas, por até duas horas extraordi-
nárias ou, se previsto em convenção ou acordo
coletivo, por até quatro horas extraordinárias.
Os principais desafios colocados
No entanto, ainda existe uma preocupação
pelo Poder Público sobre a ca-
com a falta de pontos de parada adequados
deia de abastecimento de medica-
nas estradas, principalmente nas regiões Norte
mentos no Brasil
e Nordeste. Logo, na visão dos transportadores,
Muitas das dificuldades apresentadas pelos a legislação deveria evoluir no sentido de regu-
entrevistados estão condicionadas a fatores lamentar os pontos de parada, não só nas rodo-
diretamente ligados ao poder público, sobre- vias concessionadas, que já são reguladas pela
tudo no que se refere à regulação, legislação Portaria do Ministério do Trabalho e Emprego/
sanitária e de transportes, tributação, infraes- MTE nº 944 de 8 de julho de 2015, mas também
trutura e fiscalização. Esses elementos influen- nas rodovias geridas pelos vários níveis de go-
ciam a operação logística de todos os elos da verno. Adicionalmente, defendem a introdução
cadeia, em graus distintos, direta ou indireta- de legislações de “implementação gradativa”,
54
isto é, com metas intermediárias, que reduzam está sendo discutida. Assim, a possibilidade de
a informalidade. No caso da Lei do Motorista, os novas mudanças tanto na legislação sanitária
entrevistados julgam que o aumento do tempo como na de transporte também tem contribuí-
de parada (para refeição, para descanso diário, do para uma situação em que a maioria das
noturno e semanal) poderia ter sido gradativo, transportadoras está postergando a realização
até que fossem garantidas as condições de in- de novos investimentos.
fraestrutura adequadas.
da temperatura é visto como um desafio impor- devem ser adotadas em outras capitais, é signi-
tante pelos laboratórios, principalmente na pon- ficativo porque traz importantes dificuldades e
ta final da cadeia, ou seja, nos pontos de venda custos logísticos para a operação de transporte
(são mais de 70 mil farmácias no Brasil). Como de medicamentos.
consequência, a tendência é uma maior exigên-
Se por um lado os transportadores podem ter
cia logística tanto dos laboratórios como dos
um papel central no sentido de pressionar o
distribuidores e redes sobre os transportadores.
governo por mais transparência na elabora-
Embora a necessidade do envolvimento do ção e aplicação das normas e leis e por me-
poder público seja clara, no que diz respeito à lhores condições de infraestrutura, no que diz
legislação sanitária, à reforma tributária e aos respeito à Lei da Rastreabilidade, por exem-
investimentos em infraestrutura, a visão dos plo, ocupam um papel secundário, conforme
laboratórios é de que o setor de transporte de exposto a seguir.
medicamentos não tem se envolvido suficien-
temente nessas questões: os transportadores
precisariam se organizar melhor para reivindi- Necessidade de maior integração da
car junto ao governo melhorias relacionadas cadeia
à infraestrutura, à legislação e às barreiras fis-
A maior integração e diálogo entre os dife-
cais. A maioria das empresas mantém uma po-
rentes elos da cadeia farmacêutica é essencial
sição reativa, isto é, esperam a promulgação
para superação dos desafios apresentados.
de uma nova legislação para então levantar as
Neste sentido, o estudo constatou que tanto
dificuldades de aplicação e recorrer, em vez
os transportadores como os laboratórios con-
de envolver-se na própria elaboração da lei.
sideram importante a realização de um traba-
Para os laboratórios, ainda são poucas aque-
lho conjunto, para montar um plano de ação
las transportadoras que demonstram alguma
que permita adequar os serviços de transpor-
iniciativa nesse sentido.
te às exigências dos clientes (distribuidores e
redes farmacêuticas). Para os laboratórios é
Assimetria na Fiscalização particularmente importante devido a tendên-
cia de maior pulverização da indústria e à con-
A assimetria na fiscalização é um dos princi-
centração do varejo farmacêutico.
pais desafios enfrentados pelos distribuidoras
e redes de farmácias, pois recai principalmente As redes de farmácias estão ganhando cada
sobre a ponta final da cadeia. Dada esta situa- vez mais poder de mercado, comparativamen-
ção, os distribuidores adotaram uma postura te à indústria. Com a redução do poder da in-
ativa em relação ao poder público e tem in- dústria, ter o produto na gôndola ficou ainda
vestido fortemente em logística e pressionam mais importante, e isto depende da eficiência
o restante da cadeia para fazer o mesmo. Para e eficácia da logística. Nesse contexto, o diálo-
os distribuidores, tornar mais homogênea a go e a troca de informações entre a indústria,
fiscalização ao longo da cadeia poderá trazer os transportadores e os distribuidores e redes
importantes benefícios em termos de segu- de farmácias é essencial, inclusive com o ob-
rança para o consumidor final. jetivo de conquistar melhorias para o setor de
forma geral.
Quanto à operação de transporte, para todos
os segmentos que participaram da pesquisa Distribuidores e redes de farmácias concordam
as mudanças na legislação não vêm acompa- com a necessidade de maior interação e coo-
nhadas dos devidos avanços nas condições de peração entre os elos da cadeia. A redução dos
infraestrutura. Nesse sentido o caso das restri- índices de ruptura da cadeia farmacêutica de-
ções à circulação que vêm sendo adotadas em pende dessa interação, principalmente, de uma
cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, e que
56
maior troca de informações entre os elos, que VIII – médico, odontólogo e veterinário
permita identificar os problemas e definir as (inscrição no conselho de classe dos
melhores estratégias de ação, aumentando efi- profissionais prescritores)”.
ciência e reduzindo custos. Para todos os agen-
Fica patente, na quantidade de informações
tes da cadeia essa troca de informações pode
que se pretende levantar, a complexidade do
vir a ser viabilizada pela Lei da Rastreabilidade.
sistema, que vai exigir importantes investimen-
tos em tecnologia e equipamentos, principal-
A Lei da Rastreabilidade mente por parte da indústria de medicamen-
tos. O principal objetivo da introdução desse
A Lei da Rastreabilidade, Lei nº 11.903, de 14 de
sistema é o de diminuir o roubo e a falsificação
janeiro de 2009, criou o Sistema Nacional de
de produtos farmacêuticos e veterinários, bem
Controle de Medicamentos (SNCM), envolven-
como a evasão fiscal. Por isso, o SNCM vai re-
do a produção, comercialização, dispensação
querer o levantamento e armazenamento das
e a prescrição médica, odontológica e vete-
informações do medicamento, toda vez que
rinária, assim como os demais tipos de movi-
ocorrer uma mudança de propriedade.
mentação previstos pelos controles sanitários.
De acordo com o Art. 3° da Lei o controle será No entanto, os prazos para a implantação e
realizado por meio de sistema de identificação os procedimentos de execução do SNCM ain-
exclusivo dos produtos, prestadores de servi- da estão sendo discutidos e, em princípio, os
ços e usuários, com o emprego de tecnologias agentes que lançarão dados no sistema serão
de captura, armazenamento e transmissão os laboratórios, distribuidores e redes de far-
eletrônica de dados. Para cada medicamento, mácias. Logo, embora o serviço de transporte
deverão ser obtidas as seguintes informações: figure como parte dos dados que deverão ser
armazenados no sistema, o papel dos trans-
“I – fabricante (autorização de funcio-
portadores ainda não foi definido, e por isso,
namento, licença estadual e alvará sa-
eles não foram envolvidos no processo de
nitário municipal dos estabelecimen-
elaboração da Lei. Algumas transportadoras
tos fabricantes);
já se colocaram à disposição para integração
II – fornecedor (atacadistas, varejistas, de sistemas de Tecnologia da Informação,
exportadores e importadores de medi- mas o órgão regulador ainda não demandou
camentos); seu envolvimento.
vimento de encarar a logística como uma ativi- A situação econômica atual das empresas de
dade estratégica é recente e tem a tendência a transporte de medicamentos é pautada por
aumentar. Entre as novas práticas que poderiam dois fatores: a tendência crescente dos custos
ser adotadas, os representantes da indústria de operação, a necessidade de investimentos
mencionaram a utilização de índices de desem- e a consequente tendência decrescente da
penho, maior controle da operação e, inclusive, rentabilidade da carga farmacêutica. De fato,
a implementação de programas de desenvolvi- o custo fixo do transporte de medicamentos é
mento de transportadores. Entre outras coisas, elevado, pelas exigências legais e operacionais.
alcançar esses objetivos vai depender da supe- Adicionalmente, considerando que o preço dos
ração de dificuldades regionais (principalmente medicamentos é controlado pelo governo e o
nas regiões Centro-Oeste e Nordeste), do maior frete é, também, função do valor transportado,
envolvimento dos transportadores, bem como os transportadores enfrentam dificuldades no
de uma padronização das exigências dos distri- repasse do aumento de seus custos. Portanto,
buidores e das redes de farmácia, sendo as últi- para alguns transportadores, o curto e médio
mas as mais exigentes. prazo vão ser desafiadores, porque o valor do
frete não deve aumentar o suficiente para com-
O mercado de varejo farmacêutico, também pensar os investimentos realizados, nem para
passou por importantes mudanças nos últimos permitir novos investimentos.
cinco anos, segundo os entrevistados do setor.
A consolidação do mercado com o surgimen- Algumas transportadoras também ressalta-
to de grandes redes de farmácias e a pesada ram os impactos das falhas de fiscalização,
fiscalização sobre a ponta final da cadeia tem na medida em que permitem a existência de
pressionado por uma mudança de postura com uma concorrência predatória por concorren-
respeito à logística. Porém, na visão dos distri- tes atuando na informalidade. Esse quadro di-
buidores e redes de farmácia, essa moderni- ficulta ainda mais as finanças e investimentos
zação não atingiu todos os elos da cadeia por das transportadoras que já realizaram ou pre-
igual. Embora a indústria tenha um forte inte- tendem realizar os investimentos exigidos pela
resse em melhorar a logística, devido à maior legislação e demandados pelo mercado. Na
concorrência, os transportadores ainda não se ausência de melhorias nesse sentido, algumas
envolveram no processo de mudança. Logo, transportadoras estão perdendo parte da mo-
com a introdução de práticas inovadoras, e tivação para continuar no ramo farmacêutico,
uma preocupação cada vez maior com o nível e começam a diversificar suas cargas.
de serviço e de desempenho, os transportado-
Já outras transportadoras possuem uma visão
res precisam especializar-se e talvez, inclusive,
mais otimista do futuro, porque acreditam que
regionalizar-se (os entrevistados levantaram a
há ainda muito espaço para crescimento no setor
possibilidade de criação de nichos de opera-
de transporte de medicamentos. Existem fatores
ção, nas rotas para o Nordeste, por exemplo).
estruturais que ainda tornam o mercado muito
atraente. Além dos medicamentos possuírem uma
sazonalidade baixa por serem produtos de alta
Estrutura de Custos
necessidade e constituírem uma carga de alto va-
Outro ponto de grande preocupação do se- lor agregado, a expectativa de vida da população
tor são os impactos, no futuro, que as mu- brasileira é crescente, o que deve aumentar o con-
danças na legislação e a pressão por um sumo de medicamentos no médio-longo prazo.
maior nível de serviço podem ter sobre as
Adicionalmente, a tendência de endurecimen-
finanças e investimentos das empresas de
to da legislação sanitária, inclusive com a Lei
transporte. Entre os transportadores há vi-
da Rastreabilidade, e de modernização do
sões otimistas e pessimistas.
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mercado de varejo farmacêutico devem ofere- devem estar diminuindo, por causa da eleva-
cer oportunidades expressivas. Assim, na visão ção dos custos e do número de serviços exigi-
de alguns entrevistados, é importante dar con- dos. Adicionalmente, o contexto de incerteza
tinuidade ao processo de modernização e es- com respeito às mudanças na legislação difi-
pecialização do transporte de medicamentos, culta a decisão de investir. No entanto, como
de forma a oferecer mais serviços e de melhor as exigências têm tendência a aumentar, o ca-
qualidade, podendo permitir um aumento no minho passa obrigatoriamente pela adaptação
valor do frete. e modernização do setor de transporte, assim
como já aconteceu no resto da cadeia.
O principal desafio das transportadoras que
enxergam oportunidades de crescimento por
meio da especialização e da modernização do A estrutura competitiva
serviço é a necessidade de organização e pa- das transportadoras
dronização entre as próprias transportadoras.
Esta visão coincide com a dos representantes Dadas as dificuldades impostas pelas exigên-
dos laboratórios, de que as transportadoras cias e pela legislação, e a situação financeira
têm evoluído de forma muito lenta até agora. fragilizada das empresas de transporte de me-
Segundo eles, as margens das transportadoras dicamentos, outro tema abordado na pesquisa
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Abafarma
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO ATACADO FARMACÊUTICO