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CAMPO DE INFORMAÇÃO E CONSTELAÇÃO FAMILIAR

Área temática: Participação e Atuação do Representante


nas Constelações Familiares

Lindomar Afonso dos Santos


terapeutalindomar@instagran.com

Resumo: O objetivo deste estudo é poder olhar de uma forma mais ampla como é o
processo de atuação de um representante dentro do campo de informação do cliente
no desenvolvimento de uma sessão de Constelação Familiar. Para tanto haverá uma
busca apoiada nas teorias das Constelações Familiares de Bert hellinger (2001), o
Inconsciente Coletivo de Jung (1964;1980;2000) e dos Campos Mórficos de Sheldrake
(1995) que vão mostrar como seria acessada a “entrada” nesse campo de informação.
O método utilizado será descritiva bibliográfica que apresenta aspectos deste
fenômeno. Diante dos resultados demonstrados é possível ver a relação dos conceitos
revisados pelos autores já que apontam as possibilidades de se olhar para o trabalho
com cliente constelado por novos aspectos, seja pelo inconsciente coletivo seja com o
campo mórfico ou pelo campo de informação de um sistema familiar.

Palavras-chaves: Campos Mórficos, Inconsciente Coletivo, Memória Coletiva,


Constelação Familiar.
1. Introdução

Na busca da compreensão e entendimento dos fenômenos humanos é preciso entender


que esses fenômenos são de certa forma melhor explicados pela experiência direta e do
simbólico como mostram os arquétipos e o inconsciente coletivo de Jung que agrupa estudos
dos mitos, dos sonhos, dos símbolos e etc, dos campos mórficos de Sheldrade que procuram
entender como certos elementos se agregam a outros formando específicos sistemas e de Bert
Hellinger com sua grande contribuição na ajuda profissional com as Constelações Familiares
onde de forma representacional uma pessoa totalmente desconhecida do cliente a ser
constelado se coloca na área de trabalho trazendo informações desconhecidas, mas
informações do cliente. Esses autores e seus trabalhos são de grande auxílio para pensar e
olhar o homem de forma totalmente nova e diferente.

2. A Visão de Jung

Iniciando de suas experiências pessoais e o sentido da sua própria vida Jung procura
ver o ser humano dentro da perspectiva da função do simbólico. Jung busca nos sonhos como
é a simbolização do homem, já que os sonhos e suas imagens simbólicas são importantes para
a estruturação da psiquê de uma pessoa. Para ele os sonhos são “… fantasias inconscientes,
evasivas, precárias, vagas e incertas do nosso inconsciente” (JUNG, 1964).
Assim, ele retorna a alma, algo a muito esquecido e deixado de lado a muito tempo.
Jung se direciona para o inconsciente pessoal, uma área mais simples e superficial onde se
encontram os conteúdos conscientes reprimidos ou ignorados. O ego, como centro organizador
da consciência, que coordena as experiências pessoais, é uma estrutura psíquica da tomada de
decisões que vai levar para o lado inconsciente conteúdos que ele mesmo não pode refletir
(FIALHO; KEIKO; SILVEIRA, 2009). Olhando dessa forma, o inconsciente pessoal
corresponderia à figura da sombra que aparece nos sonhos.
De natureza universal que mostra o mais comum dos seres humanos está o
inconsciente coletivo com a simbologia dos antepassados, o que foi herdado, os mitos e
crenças, de conteúdos não presentes na consciência e nem adquiridos, são formas
preexistentes que Jung denomina de arquétipos. Este inconsciente contém os restos da vida
dos antepassados (JUNG, 2000). São percepções de memórias e imagens não preenchidas e
não vividas pelo indivíduo, e estas quando superadas reavivarão os quadros mitológicos de
Jung, os arquétipos e estes atuam como uma ferramenta de reprodução de ideias iguais ou
parecidas.

3. A experiência de Sheldrake
A hipótese dos campos morfogenéticos foi formulada por Rupert Sheldrak e segundo
essa concepção estes campos são a memória coletiva a qual recorre cada membro da espécie
e para a qual cada um deles contribui. Morfo vem da palavra grega morphe que significa
forma. Os campos morfogenéticos ou campos mórficos são campos que levam informações,
não energia, e são utilizáveis através do espaço e do tempo sem perda alguma de intensidade
depois de ter sido criado. Campos mórficos são também laços afetivos entre pessoas, grupos
de animais como bandos de pássaros, cães, gatos, peixes e entre pessoas e animais. Não é
uma coisa fisiológica, mas afetiva. São afinidades que surgem entre os animais e as pessoas
com quem eles convivem. Essas afinidades é que são responsáveis pela comunicação. Um
campo morfogenético não é uma estrutura inalterável, mas muda ao mesmo tempo em que
muda o sistema com o qual esta associado. Ao pensar nos estudos de Jung podemos imaginar
que os arquétipos são transmitidos de uma geração a outra através da ressonância
morfogenética.
Como uma construção interativa este fenômeno liga-se a outros fenômenos, dentro de
uma rede de conexões mesmo não podendo ser visto claramente, estas relações existem
independente do lugar e do tempo acontecido. Sobre essa rede de conexões (LASZLO 1993) é
visto que o sujeito conectado nela traduz as informações e reinterpretando-as, reenvia-as ao
meio o que vai fortalecer a rede cultural de interpretação de mundo. Átomos, moléculas,
cristais, organelas, células, tecidos, órgãos, organismos, sociedades, ecossistemas, sistemas
planetários, sistemas solares, galáxias: cada uma dessas entidades estaria associada a um
campo mórfico específico. São eles que fazem com que um sistema seja um sistema, isto é,
uma totalidade articulada e não um mero ajuntamento de partes. Com esta percepção de
Sheldrade (1995) as memórias coletivas registram-se no Campo Mórfico, como regiões não
materiais assim como o campo gravitacional da terra que influencia todo o universo mesmo
sendo invisível. A Ressonância Mórfica para Sheldrake é o processo difuso e não-intencional de
coletivização do conhecimento, ou em suas palavras “o processo pelo qual o passado se torna
presente no seio do Campo Mórfico”.

3. De Jung, Sheldrake e Hellinger ao Campo de Acesso a informação.

Jung fala que todos nós temos uma Persona, que definirá o papel e atuação de cada
pessoa em seu ambiente. É como uma máscara individual, quando na verdade é um meio de
expressão do coletivo, através de um desempenho pessoal. Por isso Jung afirma a cultura
como expressão de um interesse coletivo, assim olha-se para uma “realidade” conforme é
criada e desenvolvida por sua cultura. É a consciência de Clã que, segundo Bert Hellinger, atua
em função do todo maior do grupo e seus interesses. Aqui Sheldrake afirma que comparadas a
organismos vivos, a cultura tem formas herdadas e reproduzidas constantemente, sendo auto-
organizadoras em vários graus, evoluindo dinamicamente na busca do equilíbrio entre o
externo e interno. Além do mais a ressonância mórfica tende a reforçar qualquer padrão
repetitivo, seja ele bom ou mal. Por isso, cada um de nós é mais responsável do que imagina,
pois nossas ações podem influenciar os outros para que sejam serem repetidas.

4. Acessando a Memória do Campo

O Campo Mórfico de Sheldrake pode ser acessado por qualquer um de qualquer lugar e
em qualquer tempo e no mesmo sentido apontam as descobertas de Bert Hellinger desse
campo como sendo o campo do Sistema Familiar onde cada pessoa pode acessar para além do
tempo e do espaço tudo o que nesse campo existe.
E na questão do campo de atuação do representante, este quando centrado, por algum
tempo poderá acessar, na sua participação em uma Constelação familiar, informações vindas
do campo de informações do cliente, e esta informação trará a este cliente uma perspectiva de
sua verdadeira situação inconsciente do seu momento presente de vida, de uma realidade a
qual até o momento não tinha consciência, lhe proporcionando uma Imagem Diagnóstica, para
depois do desenvolvimento do trabalho, dar a este cliente uma perspectiva, o que é chamado
de Imagem de Solução.
Para ampliar um pouco mais o entendimento sobre essa consciência de Clã, Bert
Hellinger afirma que essa consciência coletiva é aquela que garante o pertencimento de todos
os membros do grupo. Assim, quatro características dessa consciência coletiva podem ser
melhor compreendidas. 1)Totalidade, onde não importa o que a pessoa tenha feito
individualmente ela continua pertencendo ao grupo familiar. Tenha ela transgredido uma lei ou
feito algo vergonhoso diante do grupo essa consciência coletiva não permitirá a exclusão e
nem negará o pertencimento a essa pessoa, pois essa consciência não permite que qualquer
um do seu clã seja excluído, esquecido ou desonrado. Se isso acontece é sob pena de que
outro membro familiar assuma o destino daquele membro excluído e esse viverá como aquele
em sua própria vida, causando grandes desequilíbrios ao sistema familiar.

A segunda característica 2) vai para Além da Morte, ninguém diminui ou perde o direito
de pertencer porque morreu. Isso inclui crianças abortadas ou natimortos, os avós, pessoas
assassinadas ou que se suicidaram. A terceira característica 3) vai para além da expiação, diz
que apesar de não trazer nenhuma solução baseada no amor o indivíduo acredita que se sofrer
algo por alguém que sofreu antes dele, voltará a ter uma boa consciência. No entanto, esse
tipo de sofrimento compensatório não reabilita ninguém perante a consciência coletiva. E
finalmente a quarta característica 4) vai para além da vingança, quando então uma pessoa é
excluída do grupo familiar por ser condenada moralmente a consciência coletiva busca sua
reinclusão. Desta forma algum membro da família que não tem culpa pessoal acaba sofrendo o
destino daquele que foi excluído como uma vingança. Mas ela tem um alívio momentâneo que
não resulta em nada até que a pessoa esquecida seja reconhecida, honrada e incluída
novamente ao seio de sua família e de seu clã.
De forma similar (SHELDRAKE, 1995) falando sobre a conexão com o campo e a
ressonância mórfica pode-se afirmar que, os indivíduos que participam deste processo de
construção do conhecimento, aceitando os valores coletivos, promovendo-os entre seus pares
e confirmando-os com suas vivências exemplares, tanto se beneficiam da aceleração de seu
próprio aprendizado a partir dos aprendizados gravados no Campo, como do conforto que a
sua aceitação pelo grupo lhes oferece. Para estes indivíduos que aparentam estarem em
equilíbrio, as dificuldades só aparecerão quando forem provocados a enfrentar mudanças dos
valores que os sustentam.

5. Conclusões

Com esses diálogos de Hellinger, Jung e Sheldrake neste artigo, é possível perceber
sobre o inconsciente coletivo apresentado por Jung que este pode estar sendo transmitido por
meio da ressonância mórfica de Sheldrake, pois as experiências de uma pessoa estão gravadas
no campo mórfico como um arquivo coletivo da memória e de acesso a todos. Esse campo e
esse inconsciente é bem delineado por Hellinger na sua apresentação da Consciência de Clã.
Quando em um trabalho de constelação familiar, um representante pode acessar
momentaneamente o campo de informação do cliente, este tem os benefícios de uma
consciência ampliada de seu próprio sistema, levando-o a fazer diferente em sua própria vida,
não precisando mais estar emaranhado e em algum tipo de fidelidade a alguém de seu clã.
Os arquétipos como conteúdos inconscientes presentes nos mitos, lendas, sonhos e
fantasias se reproduzem nas ideias míticas parecidas e expressadas pela cultura. Assim, as
experiências de uma pessoa são vivências de sua informação de vida junto com as lembranças
de outros com experiências semelhantes, dão forma a memória coletiva.
Um acesso sem limites é desencadeado às informações ou conhecimentos gravadas no
campo mórfico, faz com que novas e possíveis ações, descobertas, percepções possam ser
melhor concretizadas a partir desse contato imediato, o que pode gerar grandes e positivas
ações humanas. Para os três autores é possível se compreender no aqui e agora tomando-se
seus conceitos e estudos como ponto de partida. Cada autor facilita o entendimento com seu
trabalho, quando os pontos comuns são aproximados das ideias do outro autor.
7. Referencias

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FERREIRA JUNIOR, Jackson José de Jesus. “Rupert Sheldrake e os Campos Morfogenéticos:


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_____. Os arquétipos e o inconsciente coletivo.

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MACHADO, D.C. Aprendendo metodologia sob o olhar de uma principiante em pesquisa.


Rastros - Revista do Núcleo de Estudos de Comunicação 96 Ano VIII - Nº 8 - pág 96 - pág 107
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http://143.107.83.121/ojs/index.php/rastros/article/viewFile/5519/5032 Acessado em:
24/10/2008

SHELDRAKE, Rupert. A ressonância mórfica & a presença do passado: os hábitos da natureza.


Lisboa: Instituto Piaget, 1995.

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