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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS

E METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL I

SERVIÇO SOCIAL E ABORDAGEM


FENOMENOLÓGICA

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Descrever o método fenomenológico;

2. caracterizar a metodologia de entrevista numa abordagem fenomenológica;

3. identificar os avanços e limites da perspectiva fenomenológica no Serviço Social;

4. identificar os aspectos constitutivos da Metodologia Genérica proposta por Anna Augusta de Almeida.

Iniciaremos esta aula comentado um pouco sobre a perspectiva fenomenológica e a sua apropriação pelo serviço

social.

Você estudará a Metodologia Genérica proposta por Ana Augusta de Almeida e a Metodologia da Entrevista

apresentada por Anézia de Carvalho. Dentro da perspectiva fenomenológica, o Serviço Social parte de uma

proposta em que se busca conceituar o sujeito como ser, como pessoa, usando o diálogo como instrumento

adequado à sua intervenção profissional. Vamos lá?

1 Matriz fenomelógica
Para Brandão (2007, p. 36), a matriz fenomenológica é introduzida em um momento de transformação social e

de necessidades crescentes de produzir ações sociais transformadoras. Os paradigmas teóricos do Positivismo

passam a ser questionados pelo Serviço Social, há uma busca por alternativas metodológicas para a pesquisa e a

ação que articulem a teoria e a prática e, neste contexto, a fenomenologia é inserida como uma alternativa.

Observe!

O homem é visto como um sujeito relacionado com o mundo, com significação para si e para os outros, é um ser

de relação, sendo esta relação o fundamento de sua existência. Reconhecer esta relação significa o

estabelecimento de reciprocidade, de realização plena de uma relação. Para isto, é necessário aceitar o outro na

sua totalidade. Isto ocorre através do diálogo, do encontro, onde cada um se volta para o outro, percebendo e

aceitando reciprocamente.

Sob o ponto de vista etimológico, a palavra fenomenologia significa “estudo dos fenômenos”, e, por extensão,

“ciência dos fenômenos”. Este termo foi utilizado inicialmente por Hegel em 1807, dando título a uma de suas

obras, “Fenomenologia do Espírito”.

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Posteriormente, foi a denominação adotada por Husserl para caracterizar o movimento filosófico por ele

iniciado na Alemanha, bem como a ciência, a doutrina e o movimento decorrente de tal movimento.

A Fenomenologia propõe a compreensão do ser humano como sujeito, e não mais do objeto, isto é, compreender

um comportamento e percebê-lo do ponto de vista da intenção de quem o anima.

Humano e o distingue de um movimento físico. É exatamente o humano em sua essência que a fenomenologia

procura perceber. É um método voltado para uma descrição mais próxima da realidade, por meio do fenômeno

da experiência.

Nesta perspectiva, o homem deve ser visto na sua totalidade, sendo que só assim poderá compreender a si

mesmo. É na estrutura universal, na experiência concreta do vivido, que a fenomenologia busca compreender o

homem.

“A fenomenologia é uma ciência voltada para o vivido, propõe-se a estudar a realidade social concreta,

compreensiva e interpretativa”.

Na fenomenologia, segundo Dartigues (1973), não há ponto de chegada que não seja também um ponto de

partida em direção a horizontes imprevisíveis, assim:

O que parecia dever ser apenas descrições, torna-se por fidelidade ao dado, busca dos fundamentos.

O que se orienta em direção a uma filosofia das essências converte-se em filosofia da existência.

O que se definia como retorno à subjetividade e acaba em idealismo transcendental torna-se uma filosofia do ser.

2 Método Fenomenológico
Características

Caracteriza-se pela exigência de rever as perspectivas sobre o sentido da existência humana.

Em que consiste?

Consiste, pois, em reconsiderar tudo que aparecer na consciência, isto é, os fenômenos. Em vez de

examinar se tais conteúdos são reais ou irreais, ideais ou imaginários, passa-se simplesmente a examiná-

los como aparecem.

O ponto de partida de toda a doutrina fenomenológica é a imediata relação do ser com o mundo, mundo este que

neste método tem a realidade manifestada em toda sua plenitude, nele toda intuição primordial é fonte legítima

de conhecimentos, e tudo que se apresenta por si mesmo na instituição deve ser aceito simplesmente como o

que se oferece e tal como se oferece, ainda que somente dentro dos limites nos quais se apresenta. (PAVÃO,

1981, p. 17).

Ponto de partida

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O ponto de partida de toda a doutrina fenomenológica é a imediata relação do ser com o mundo, mundo este que,

fenomenologicamente, é um simples fenômeno, um significado.

Relevância

A consciência é o ponto relevante, pois é a origem de todo o significado – é doadora de significado do mundo. A

consciência é sempre consciência de algo.

“A fenomenologia não parte de fatos, mas de idealidades inteligíveis, de significados puros, os quais se

apresentam como inteiramente independentes das contingências e dos próprios fatos. Na perspectiva

fenomenológica devemos abandonar todas as premissas, todos os princípio, todos os hábitos de pensar e voltar

às próprias coisas, como estas se apresentam na sua pureza original. Em outros termos, devemos prescindir do

caráter existencial das coisas, voltando nossa atenção para a essência das mesmas. Qual um rio que caminha

para o oceano, o método fenomenológico caminharia para a região das essências, até atingir o núcleo eidético, a

estrutura invariante do fenômeno.” (MARTINELLI,1987, p. 32)

O sujeito e o objeto dos problemas filosóficos tradicionais são colocados entre parênteses (epoché).

Intencionalidade é que faz o mundo aparecer como fenômeno, é que faz perceber que o ser do mundo não é

mais a sua realidade existencial, e sim, o seu significado.

Método

Este método assume a tarefa de penetrar diretamente o fenômeno, entrando em contato efetivo com o mesmo,

livre de preconceito e pressuposições.

No que pressupõe?

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Pressupõe a compreensão e a participação, pois visa, por meio do diálogo e do acolhimento do outro, a uma

interação entre sujeitos. Essa interação evidencia a compreensão de que os fenômenos vivenciados se

relacionam a diferentes níveis de interação que são historicamente distintos, mas estão, no entanto, relacionados

entre si e com o todo, sugerindo, assim, uma integração efetiva.

Contudo, Brandão (2007) afirma que a matriz fenomenológica é introduzida em um momento de transformação

social e de necessidade crescente de produzir ações sociais transformadas. Nos paradigmas metodológicos para

a pesquisa e a ação social, há uma busca por alternativas metodológicas para a pesquisa e ação que articulem

teoria e prática e, neste contexto, a fenomenologia é inserida como uma alternativa.

3 Perspectiva Fenomenológica Social


Anna Augusta de Almeida: A Proposta de uma Metodologia Genérica

Metodologia genérica pensada a partir da descoberta, no processo de ajuda psicossocial, de um sentido novo.

Diálogo
• Como ajuda psicossocial.
• Processo no qual o assistente social e cliente realizam uma experiência com todo o seu ser no contexto
da história humana.
• Processo gerador da transformação social.
• Nesta concepção, a verdade só pode ser encontrada naquilo que dá sentido novo à realidade de suas
vidas. Nela é uma exigência da ajuda a ser pensada.
• A falta de conhecimento do saber do cliente no processo de diálogo, para a proposta, é considerada um
erro profissional.
• O assistente social também sofre a mesma experiência > experiência que permite conhecer o
desconhecido.
SEP – Situação Existencial Problematizada

Estas colocações estarão no processo, dialetizadas numa dupla dimensão entre indivíduo e sociedade (na visão

ser no mundo) e entre pessoa e comunidade (visão ser sobre o mundo).

Conhecimento novo que, ao construir o projeto social, provoca uma nova forma de pensar o mundo natural.
• Conhecimento novo que os constrói, assistente social e cliente, e que provoca uma abertura maior para o
mundo e para os outros.
• Conhecimento que dá sentido à vida humana.
• Conhecimento reflexivo de um sujeito concreto que se desenvolve na busca da verdade, dela
participando.
Pessoa
• Homem total que é sujeito, logo livre e racional.
• Preocupação é com o sujeito, não determinado por antecipação, mas transformado numa relação
dialetizante.
Transformação Social

• Capacitação – provocação desse esforço intencional para conhecimento do mundo, que exige a saída de

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• Capacitação – provocação desse esforço intencional para conhecimento do mundo, que exige a saída de
si para aberturas de horizontes.
• Caracteriza-se por dois momentos.
A descoberta de um novo sentido - análise crítica.
• Trabalhar com o novo a partir dessa descoberta - projeto.
• É interação humana de singularidades que se enriquecem porque se transformam na relação
dialetizante de exigência (provocação de intenção) e sequência (resposta à provocação).

Agora você terá a oportunidade de identificar os aspectos constitutivos das metodologias propostas por Anna

Augusta e por Anésia de Carvalho.

Metodologia Genérica

Anna Augusta de Almeida

1°. Movimento > Objetivação da SEP

Diálogo entre AS e cliente

Colocação da SEP

2°. Movimento > Análise crítica da SEP

Gerada na sequência do diálogo pelas tentativas de análises-criticas que opera em diferentes níveis, uma síntese.

3°. Movimento > Síntese crítica da SEP Hipótese

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Avaliação significativa

Apreciação situacional

4°. Movimento > Construção de um Projeto

Atividade de criatividade gerada na sequência do diálogo.

5°. Movimento > Retorno Reflexivo

Comunicação na sequência do diálogo.

Questionar os resultados, comparar o que foi alcançado com o que se pretendia alcançar.

Metodologia da Entrevista: Uma Abordagem Fenomenológica

Anésia de Carvalho

Inspirada em um pensamento não causal.

Referência não é a explicação, mas a compreensão.

Respeito à autodeterminação e à dignidade humana do indivíduo, valores que se colocam

ao nível de um conhecimento na primeira pessoa.

Compreensão não é explicação, mas refere-se a vivências e sentidos - um movimento da

vida (DILTHEY).

Interpretar compreensivamente a linguagem do cliente é a percepção dessa linguagem

como veículos de significações.

Perceber o gesto do cliente em movimento.

Entrevista não é intervenção ou tratamento.

Entrevista é um "ver" que não é "pensamento de ver", mas efetivação de uma consciência de si, a do cliente a

consciência que o cliente tem de sua maneira de estar no mundo e de se posicionar face às situações.

"Ver e "Observar" captar a maneira do cliente "vivenciar o mundo".

(...) a entrevista fenomenológica é uma maneira acessível ao cliente de penetrar a verdade mesma de seu exis ir,

seja ela qual for sem qualquer falseamento ou deslize, sem qualquer preconceito ou impostura. Na

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intersubjetividade do diá logo e na forma de significar o mundo por seu comportamento, explicita para si mesmo

tudo aquilo que teria dito ou realizado, deixado de dizer e deixado de realizar, desvelando também o que pode

ser realizado e o que não será" (CARVALHO, 1987, p.35).

Siga a dica!

Para melhor organizar o seu estudo, procure definir os seguintes conceitos abordados nesta aula:
• Intencionalidade
• Essência
• Núcleo eidético
• Pessoa
• Situação existencial problematizada
• Diálogo
• Transformação social
• Fenomenologia

O que vem na próxima aula


• Mary Richmond;
• o conceito de diagnóstico social;
• a noção de caso social e de casework;
• o modelo psicossocial.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Conheceu os conceitos de fenomenologia, método fenomenológico, as perspectivas fenomenológicas e o
serviço social. Além disso, pôde verificar a metodologia genérica de Anna Augusta de Almeida e a
metodologia da entrevista de Anésia de Carvalho.

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