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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS

E METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL I

O SERVIÇO E O PROJETO POSITIVISTA DE


SOCIEDADE

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Descrever o cientificismo no pensamento filosófico de Auguste Comte;

2. relacionar as bases de sustentação do Positivismo;

3. reconhecer as implicações da apropriação do pensamento positivista pelo Serviço Social sobre a prática

profissional.

Nesta aula, vamos estudar o que foi o Positivismo e quais implicações para a prática profissional resultaram da

apropriação deste paradigma de conhecimento pelo Serviço Social.

O Positivismo, filosofia criada por Auguste Comte no século XIX, surge num contexto marcado pela queda do

antigo regime de base agrária e surgimento do Capitalismo. Constitui-se como um caminho

contrarrevolucionário que visava à manutenção da ordem e progresso para garantir a civilização. Na ideia de

progresso, está implícito o conservadorismo, pois os anseios individuais devem ser controlados para garantir a

“harmonia” social.

Com a destruição revolucionária de sua própria alienação estatal, a sociedade se torna autoconsciente de seu

protagonismo histórico, a ciência adquire um sentido messiânico na hora de remediar a situação social: o padrão

atual não é a decisão política, ética ou teleologicamente fundamentada, mas a aplicação das leis científicas que

regem a sociedade humana.

Deve-se, por conseguinte, construir positivamente a ciência social como ciência da vida coletiva. Uma fisiologia

social, constituída pelos fatos materiais que derivam da observação direta da sociedade, e uma higiene, que

contenha os preceitos aplicáveis a tais fatos, são, portanto, as únicas bases positivas sobre as quais se pode

estabelecer o sistema de organização reclamado pelo estado atual da civilização (SAINT – SIMON, op.cit.58).

1 A Racionalidade Positivista
O caráter pragmático da ciência instituído pelo Positivismo, baseado na eficácia e eficiência, defendeu a

separação entre a teoria e a prática. Para o pragmatismo, a separação entre a teoria e a prática é uma forma de

justificar um mundo eficiente, produtivista e consumista que serve à reprodução da acumulação de capital

(FALEIROS, 1982, p. 62).

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O Positivismo exprime uma intenção de um conhecimento positivo de sociedade baseado nos modelos das

ciências da natureza.

Observa-se uma tentativa de transpor o método das ciências físicas às ciências sociais.

Para Comte, é com a observação das ciências naturais que se encontra o caminho a seguir, pela observação e

experimentação descobrem-se as relações permanentes que ligam os fatos, cuja importância básica está na

reforma política e social da sociedade.

A ciência pelo método positivo se baseia no estudo dos fatos e suas relações, e tais fatos são percebidos somente

pelos sentidos exteriores. Trata-se de um dogmatismo físico por afirmar a objetividade do mundo físico.

A lógica científica é dividida em dois elementos fundamentais: a descrição e a explicação.

Descrição – medir, quantificar, exprimir fenômenos pela atribuição de números e medidas, reduzindo a

realidade a aspectos quantificáveis e mensuráveis.

“Uma das funções da quantificação, entre outras, é justamente padronizar os dados para obter o máximo de

precisão e controle. O saber vincula-se ao controle (FALEIROS, 1982, p. 63)”.

“A explicação faz-se no universo da aceitação e da contemplação, segundo uma “hipótese” formulada pelo

investigador, para, em seguida, buscar fatos que se relacionem com ela. Partindo-se da posição de observador

isolado na realidade que observa – exterioridade radical do observador “. (FALEIROS, 1982, p. 64)

Isolam-se os acontecimentos em variáveis, particularizam-se as condições causais dos fenômenos, buscando o

controle de determinada relação . A descrição pretende-se restringir ao observável, sem questionar que os

próprios sentidos são socialmente formados e que a observação depende das relações sociais.

Sujeito – Conhece o objeto, segundo a ideia de o observador estar por cima do observado. É o sujeito que

estabelece o nexo entre os fatos.

“Na perspectiva positivista, tanto a explicação como a descrição supõem uma representação das relações sociais

de forma bastante parcializada, empírica, tentado ordenar fatos sensíveis, mas submetendo-se a eles.”

(FALEIROS, 1982, p. 65)

Na perspectiva positivista, não havia questionamentos, e sim a procura de leis, observa-se o mundo ao

invés de inventá-lo.

Para Comte, a humanidade passa por três estados que são incompatíveis entre si:

Estado em que o espírito humano explica o fenômeno por meio de vontades transcendentes ou

teleológico – agentes sobrenaturais. Neste estágio, a imaginação se sobrepõe à razão, inventando um ser

físico absoluto que explica todas as coisas e soluciona problemas.

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Estado os fenômenos são explicados por meio de forças ou entidades ocultas e abstratas. A

metafísico imaginação ainda predomina sobre a razão, as divindades foram substituídas por

ou abstrato entidades ou conceitos abstratos como os de essência, alma etc.

Estado

positivo – os fenômenos são explicados por meio de leis experimentalmente demonstradas.

científico

Para o Positivismo, o objeto da ciência é somente o positivo, ou seja, aquilo que está sujeito ao método de

observação e da experimentação.

A sociedade compreendida por Augusto Comte era um organismo cujas partes constitutivas são heterogêneas,

mas solidárias, pois se orientam para a conservação do conjunto. Assim, a semelhança do organismo encontra-se

na divisão das funções especiais em que se nota a presença de espontaneidade, da necessidade, da imanência e

da subordinação de todas as suas partes a um poder central superior (RIBEIRO JUNIOR, 1982).

Comte concebe a sociedade de forma harmônica, refletindo as diversas fases da vida de um homem. Assim, os

organismos não podem mudar bruscamente, não se passa da infância à velhice de forma abrupta. É a sociedade

sendo incompatível com a revolução violenta, levando a sociedade de um estado a outro, mas de forma paulatina,

pois a sociedade está sujeita à mesma norma de evolução.

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2 Positivismo no Brasil
No Brasil, o Positivismo foi divulgado aproximadamente no século XIX por Luiz Pereira Barros Pinto.

Os positivistas brasileiros eram os alunos da Faculdade de Direito, pertencentes à classe burguesa, e os alunos

das escolas técnica e militar, que defenderam que a burguesia deveria participar do comando político do país,

substituindo os monarcas e os latifundiários.

Os militares que participaram da queda da república se basearam nos ideais comtistas.

Você sabia que o lema da bandeira nacional “Ordem e Progresso” foi inspirado no Positivismo?

A quinta e última bandeira do Brasil veio com a Proclamação da República.

A bandeira do Brasil foi projetada em 1889 por Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos, com desenho de

Décio Vilares. Ela é inspirada na bandeira do Império, desenhada pelo pintor francês Jean Baptiste Debret, com a

esfera azul-celeste e a divisa positivista "Ordem e Progresso" no lugar da coroa imperial. Benjamim Constant que

a sugeriu a Raimundo Teixeira Mendes. A expressão foi extraída da fórmula máxima do Positivismo: "O amor por

princípio, a ordem por base, o progresso por fim", que se decompõe em duas divisas usuais - Uma moral, 'Viver

para outrem' (altruísmo - termo criado por Comte), ou seja, colocar o interesse alheio acima de seu próprio

interesse, e outra estética, 'Ordem e Progresso', ou seja, cada coisa em seu devido lugar para a perfeita

orientação ética da vida social. Dentro da esfera está representado o céu do Rio de Janeiro, com a constelação do

Cruzeiro do Sul, às 8:30 horas de 15 de novembro de 1889, dia da Proclamação da República. As estrelas foram

inspiradas nas que, realmente, brilhavam no céu do Brasil, na histórica madrugada de 15 de novembro de 1889.

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A Igreja Positivista do Brasil foi fundada no dia 11 de maio de 1881 por Miguel de Lemos, na atual rua

Benjamin Constant, n. 74, no bairro da Glória, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro.

http://www.igrejapositivistabrasil.org.br

“Dominado as consciências das classes privilegiadas, o Positivismo irá repercutir intensamente nas escolas,

influenciando a mocidade, cuja cultura intelectual era mais literária do que científica. Na época, só os militares,

os médicos e os engenheiros entregavam-se aos estudos científicos”

(RIBEIRO JÚNIOR, 1982, p. 67)

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3 Serviço Social e o Positivismo
• O Positivismo aparece no Serviço Social em oposição ao conhecimento que se baseava na subjetiva
interpretação pessoal da situação – problema verificado no psicologismo filosófico.
• A presença desta perspectiva no Serviço Social fez com que a profissão passasse a se preocupar mais
com o “como” do que com “o quê”, acentuando-se consequentemente a sua tendência à neutralidade
(MACEDO, 1986, p. 43).
• Fundamentada na perspectiva Positivista, a prática do Serviço Social se caracterizava como instrumento
da sociedade para alcançar determinado nível de bem-estar.
Segundo Faleiros (182, p.65), "o objetivo desta prática era eliminar carências, disfunções, problemas de

condutas desviadas. Buscava-se melhorar a sociedade existente, sem, entretanto, colocá-la em questão".

Os profissionais, baseados no empirismo de ensaio e erro, tratavam cada uma das problemáticas de forma

fragmentada. Além da fragmentação, também se observa um formalismo, desenvolvido pela tecnocracia, no

sentido de envolvê-lo em técnicas de planificação, controle e administração.

As técnicas utilizadas eram destinadas a reconduzir os desviados e marginalizados à sociedade, para a

manutenção da ordem através da utilização de esquemas de observação, medição e controle da vida cotidiana de

indivíduos e grupos.

3.1 Serviço social

“A prática do assistente social usa a técnica de interpretação da conduta individual, considerando-a de acordo

com os valores e parâmetros estabelecidos. Essa interpretação se baseia numa série de pesquisas, dados,

amostras, fichas e outros instrumentos descritivos. Cada indivíduo passa a constituir um caso, que é enquadrado

entre vários problemas classificados como econômico, psicológico, social, religioso, moral, dividindo não só a

realidade estrutural, mas o próprio indivíduo“ (FALEIROS, 1982, p. 66)

O Serviço Social desenvolve uma abordagem focal, voltada para as possíveis causas dos desajustamentos ou

problemas de indivíduos ou grupos, para trazer a ordem a uma sociedade ou grupo em desordem.

Nesta perspectiva, a produção de conhecimento pelo Serviço Social destinava-se a uma compreensão da

realidade para enquadrá-la em parâmetros observáveis e não para transformá-la.

Conforme Pinto (1993, p. 40):

“Os conhecimentos produzidos exclusivamente através de um método positivista, o método hipotético dedutivo,

não são suficientes e adequados para orientar o fazer profissional do assistente social. Por privilegiar o âmbito

do imediatamente dado (observável) e, consequentemente, por priorizar a quantificação e a formalização, tal

método gera conhecimentos que, via de regra, não vão além do meramente descritivo, excluindo uma visão

crítico-compreensiva do social, que estimule e favoreça sua transformação”.

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Organizando o estudo: Bases do Pensamento Positivista

Integração

Adaptação

Correção

Controle

Organização

Harmonização

Conservação

Racionalização

Cientificismo

Neutralidade Científica

Repercussões da perspectiva Positivista para a prática profissional do Serviço Social.


• Prática do Serviço Social na perspectiva positivista.
• Adaptação do Homem ao meio social.
• Questão social comparada ao desajustamento social.
• Pseudo ideia de uma sociedade perfeita e harmônica.
• Busca da eficácia e eficiência.
• Ações profissionais voltadas para o controle e ajuste da sociedade.
• Burocratização das atividades institucionais.

O que vem na próxima aula


Na próxima aula, você estudará sobre os assuntos seguintes:
• O estrutural – funcionalismo;
• Talcott Parsons;
• Emile Durkheim;
• a Perspectiva Funcionalista e o Serviço Social.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Descreveu o cientificismo no pensamento filosófico de Auguste Comte;
• relacionou as bases de sustentação do Positivismo;
• reconheceu as implicações da apropriação do pensamento positivista pelo Serviço Social sobre a prática
profissional.

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