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SOBRE O APRENDIZADO
NAS ESCOLAS PÚBLICAS
DA CIDADE DO RECIFE
Renato Duarte
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3. Perfil Familiar dos Alunos entrevistados não souberam informar qual
A distribuição dos alunos pesquisados era era o nível de escolaridade dos seus pais.
de 70% matriculados no ensino fundamental Somando-se os percentuais dos pais dos
e 30% no ensino médio. Por turnos letivos, a alunos que tinham cursado o ensino funda-
maior concentração (41%) estudavam à noi- mental, havendo concluído ou não, cons-
te, 30% no turno da tarde e 28% no da ma- tata-se que a sua escolaridade era baixa,
nhã. A maioria (71%) dos estudantes embora consistente com a realidade edu-
entrevistados dedicavam-se exclusivamente cacional dos habitantes das áreas periféri-
aos estudos, enquanto 18% estudavam e tra- cas das cidades nordestinas. A escolaridade
balhavam (com ou sem registro na carteira das mães era um pouco melhor, visto que
profissional). No tocante à situação do aluno 46% delas tinham o curso fundamental in-
entrevistado na sua família, 80% afirmaram completo e 8% haviam concluído esse cur-
ser economicamente dependentes, enquan- so. Quanto às que tinham freqüentado o
to 13% se disseram contribuintes e 5% eram ensino médio, 14% haviam concluído e 5%
chefes ou arrimos de família. Entre os que não possuíam o certificado de conclusão.
não eram chefes ou arrimos de família, 41% Três por cento dos alunos afirmaram que
afirmaram que o seu pai era o provedor, en- suas mães tinham curso superior, sendo 2%
quanto 37% revelaram que a sua mãe exer- completo e 1% incompleto. As mães analfa-
cia esse papel. Motivo de preocupação - betas eram 5%, o mesmo percentual das que
adicionalmente aos indícios de desestrutura- sabiam ler e escrever, segundo a informa-
ção familiar contidos na informação anterior, ção dos entrevistados. O percentual (13%)
em que mais de um terço dos lares eram che- dos alunos que não sabiam qual era o nível
fiados por mulheres - é a revelação, pelos de escolaridade das suas mães era metade
alunos entrevistados, de que somente 37% dos que não sabiam a dos seus pais (26%
dos chefes das suas famílias tinham empre- como foi visto acima).
go com carteira assinada. Somando-se os A renda domiciliar da maioria (78%) das
percentuais de chefes das famílias dos entre- famílias dos alunos era de até 2 salários
vistados que tinham emprego sem carteira mínimos mensais, sendo que 37% dos en-
assinada (10%), que eram autônomos (15%) trevistados informaram que a renda mensal
ou faziam bico (8%), chega-se ao percentual da sua família era de até 1 salário mínimo.
de 33% de chefes de família que se dedica- Tem-se aí um quadro de pobreza que deve
Efeitos da
violência sobre o vam a atividades informais. O percentual de influenciar negativamente o desempenho
aprendizado escolar dos estudantes.
nas escolas chefes de família desempregados era, segun-
públicas da cidade do os alunos, de 12%. 4. Perfil Funciona! dos Professores
do Recife
Mais da metade (55%) dos alunos con- e Diretores
Renato Duarte sultados afirmaram que seus pais não vivi- A idade média dos professores entrevis-
am juntos, 42% revelaram que residiam tados era de 43 anos e a dos diretores de 49
com os pais (pai e mãe) e 41% disseram anos, o que leva à conclusão de que eram
que viviam somente com a mãe. Quinze por pessoas dotadas de experiência profissional.
cento informaram que não viviam com os Mais da metade (58%) dos professores pos-
pais, e sim com outros parentes. De acor- suía o diploma de licenciatura, 39% tinham
do com a informação dos estudantes en- especialização e apenas 6% haviam concluí-
trevistados, a escolaridade dos seus pais do o curso de mestrado. Entre os diretores
era: ensino fundamental incompleto (29%), de escola entrevistados, 58% tinham especi-
fundamental completo (9%), médio comple- alização, 42% haviam concluído o curso de
to (10%), médio incompleto (6%), sabia ler licenciatura e nenhum tinha diploma de mes-
e escrever (5%), analfabeto (7%) e superi- trado. Quanto às jornadas de trabalho, 83%
or completo (1%). Vinte e seis por cento dos dos diretores trabalhavam os três turnos (ma-
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nhã, tarde e noite), 25% dos professores leci- centual era bem mais elevado do que os 31%
onavam pela manhã e à tarde e 21% davam de alunos que admitiram não se sentir segu-
aulas à tarde e à noite. Vinte e nove por cento ros na escola onde foram entrevistados. In-
dos professores ensinavam somente pela dagados acerca do nível - se alto, médio ou
manhã, 13% apenas à tarde e 8% leciona- baixo - da violência, metade dos professores
vam nos três turnos. Compreensivelmente, e diretores classificaram como médio, 25%
83% dos diretores exerciam a função na mes- disseram ser alto e 17% consideravam baixo.
ma escola, enquanto 42% dos professores Enquanto 13% dos professores indicaram que
ensinavam em mais de uma escola. o nível de violência na escola era muito alto,
A questão salarial é um indicador rele- nenhum diretor teve essa avaliação.
vante para se conhecer os estímulos e as 5. Formas de Violência na Percepção
condições de trabalho dos profissionais de dos Entrevistados
ensino. A pesquisa mostrou que os profes- Esta parte do artigo contém informações
sores eram mal remunerados, visto que
sobre as formas de violência que, segundo
63% recebiam salários correspondentes a
alunos, professores e diretores entrevistados,
até 4 Salários Mínimos. (O valor do S. M.
eram mais freqüentes nas escolas. A Tabela
na época da pesquisa era de R$260,00).
1 apresenta os tipos de violência apontados,
Os diretores eram melhor remunerados,
merecendo destaque as semelhanças entre
porquanto 50% ganhavam mais de 5 S. M.
as três categorias de informantes. Alunos, pro-
e 33% recebiam salários entre 3 e 5 S. M.
fessores e diretores apontaram as agressões
A avaliação do aprendizado dos alunos fei-
físicas entre os alunos como sendo a forma
ta pelos professores e diretores foi melhor
do que seria de esperar, considerando-se de violência mais freqüente nas escolas onde
as avaliações do ensino público brasileiro estudavam ou trabalhavam. As quatro respos-
feitas por estudiosos independentes. Pou- tas seguintes mostram diferença nas percep-
co mais da metade (54%) dos professores ções dos alunos em comparação com as
e um quarto dos diretores consideravam o visões dos professores e dos diretores das
aprendizado dos alunos regular; 11% dos escolas. Talvez isso se explique porque, pelo
professores e nenhum diretor classificaram menos em princípio, aquelas ações violentas
o aprendizado insatisfatório. As principais poderiam ter os próprios alunos como prota-
causas apontadas para o desempenho re- gonistas. Registre-se, por outro lado, que 36%
gular ou insatisfatório dos alunos foram, dos alunos não identificaram qualquer forma Efeitos da
de violência, provavelmente porque, como foi violência sobre o
pela ordem de influência: desinteresse dos aprendizado
pais pela vida escolar dos filhos; falta de visto acima, a percentagem de estudantes que nas escolas
públicas da cidade
interesse dos alunos; condições econômi- afirmaram se sentir inseguros na escola era do Recife
cas precárias das famílias dos alunos; in- menor do que o percentual de professores e
segurançaiviolência dentro e fora da escola; diretores que identificaram a existência de Renato Duarte
baixos salários dos professores. ações violentas no estabelecimento onde atu-
Em relação aos instrumentos de apoio di- avam profissionalmente.
dático, a pesquisa revelou que as 12 escolas A violência no entorno das escolas pode
pesquisadas possuíam bibliotecas. No entan- ser tão ou mais nociva ao desempenho es-
to, segundo informações dos professores e colar do que dentro do próprio estabeleci-
diretores, apenas 53% das escolas promovi- mento de ensino. A pesquisa revelou
am atividades de lazer e esportes nos finais coincidência na avaliação de alunos, profes-
de semana e 67% contavam com equipamen- sores e diretores sobre essa questão. Con-
tos de informática para uso dos alunos. Dois forme se vê na Tabela 2, o roubo de objetos
terços (67%) dos professores e diretores afir- pessoais foi a agressão que apareceu com
maram que as escolas onde trabalhavam maiores percentuais. Em seguida, vieram as
haviam sofrido ações de violência. Esse per- agressões físicas - apontadas por alunos e
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Tabela 1 - Formas de Violência Envolvendo Alunos elou Diretores dentro
das Escolas(% em relação ao total de cada coluna)
Respostas Alunos Professores Diretores
Agressões físicas (brigas) entre alunos 43 71 64
Agressões verbais com ameaças entre 17 24 36
alunos e professores
Roubo de objetos pessoais 12 29 36
Roubo de equipamentos e 2 29 9
material escolar
Aliciamento para uso de drogas - 5 9
Ações de galeras 6 5 9
Outros 7 10 2
Nenhuma 36 14 9
Fonte: Pesquisa Datamétrica/Fundaj - março/2005.
Obs: A soma das colunas pode ultrapassar 1000% porque cada entrevistado podia apresentar mais de uma resposta.
professores—, depois foram mencionadas as alunos afirmaram que tinham fido objetos pes-
ameaças de galeras - destacando-se, aqui, soais roubados e 25 (10,2%) responderam
o percentual de diretores que fizeram refe- que haviam sofrido agressões físicas. Três
rência a esse problema - e a venda de dro- professores e um diretor disseram ter sofrido
gas, lembrada pelos diretores e professores, agressões físicas, três diretores afirmaram ter
mas não mencionada pelos alunos. sofrido agressões verbais e dois professores
Indagados se haviam sofrido alguma vio- tiveram objetos pessoais roubados. Um dire-
lência nas proximidades da escola, 27(11,1%) tor declarou ter sofrido ameaça de galeras.
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Uma divergência identificada nas informa- esse paradoxo aparente poderia ser a de as
ções dos alunos comparativamente com as armas brancas, por terem volume menor,
dos professores e diretores diz respeito ao poderem ser camufladas junto ao corpo, ou
conhecimento sobre a entrada de armas nas escondidas nas bolsas e mochilas, mais fa-
escolas pesquisadas. Apenas 15% dos alu- cilmente do que o revólver. A Tabela 3 mos-
nos responderam afirmativamente, enquanto tra ainda que os percentuais de alunos que
54% dos professores e 42% dos diretores revelaram conhecimento da entrada de ca-
declararam ter conhecimento desse proble- nivetes e facas nas escolas eram bem me-
ma. A Tabela 3 mostra os tipos de armas que nores do que os de diretores e professores.
os entrevistados afirmaram ser as mais fre- Indagados se tinham conhecimento do
qüentemente introduzidas nas escolas pes- consumo de drogas dentro da escola, 70%
quisadas. Dentre os alunos que afirmaram ter dos alunos, 58% dos professores e 50% dos
conhecimento (15% dos entrevistados) da diretores responderam negativamente, como
entrada de armas na escola com colegas se vê na Tabela 4. Vê-se nessa Tabela, por
seus, 73% mencionaram o revólver como a outro lado, que a metade dos diretores e 42%
arma mais comum, enquanto 22% mencio- dos professores entrevistados tinham conhe-
naram a entrada de estilete, 11% fizeram re- cimento do consumo de substâncias ilegais
ferência a canivetes e 8% a facas. A exemplo no interior das escolas. Considerando que um
dos alunos, os professores e diretores que maior percentual de respostas afirmativas por
tinham conhecimento da entrada de armas parte dos alunos equivaleria a uma espécie
com alunos nas escolas pesquisadas, o revól- de delação dos colegas, deduz-se que as res-
ver foi a mais citada, como se vê na Tabela 3. postas dos diretores - principalmente destes,
Chamam a atenção nessas respostas os que lidam com os assuntos administrativos e
elevados percentuais dos que afirmaram ser disciplinares das escolas - e dos professores
o revólver a arma mais freqüentemente in- são mais merecedores de crédito.
troduzida nas escolas pesquisadas. Não A pesquisa revelou coincidência entre
deixa de ser surpreendente o fato de o re- alunos, professores e diretores quanto ao
vólver - uma arma não facilmente acessí- tipo de droga mais consumida pelos alunos
vel, pelas restrições legais ao seu uso e pelo nas escolas pesquisadas: a maconha. Como
valor comercial relativamente alto - ser le- se vê na Tabela 5, 44% dos alunos, 80% dos
vada às escolas pesquisadas em maior professores e 17% dos diretores entrevista-
quantidade do que armas mais leves e de dos mencionaram aquela droga como a mais FW1,1 da
violéncia sobre o
• menor valor material como estiletes, canive- utilizada. Como a maconha é a droga mais aprendizado
tes e facas. Uma possível explicação para cara dentre as mencionadas na Tabela 5 - pubilus da cidade
do Recife
Tabela 3 - Tipos de armas introduzidas nas escolas pelos alunos, Renato Duarte
segundo os entrevistados (% em relação ao total de cada coluna)
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Tabela 4 - Consumo de drogas dentro das escolas, segundo os entrevistados
(% em relação ao total de cada coluna)
Respostas Alunos Professores Diretores
Sim 28 42 50
Não 70 58 50
Não Responderam 2 - -
Total 100 100 100
Fonte: Pesquisa OatamélricalFundaj - março/2005.
exceção feita, talvez, a alguns medicamen- tores entrevistados, as drogas eram introdu-
tos, que, de qualquer maneira, eram consu- zidas nas escolas pelos alunos consumido-
Efeitos da midos em menores quantidades, conforme res. O papel desempenhado pelos alunos
violência sobre o declararam os alunos e os professores en- repassadores das drogas foi destacado pe-
aprendizado
nas escolas trevistados, a resposta é surpreendente. A los diretores (33% dessa categoria) e por 30%
públicas da cidade
do Recife pergunta sobre os locais dentro da escola dos professores. Somente 4% dos alunos en-
onde os alunos consumiam as drogas, a trevistados destacaram o papel dos alunos re-
Renato Duarte maioria (53% dos alunos, 60% dos profes- passadores de drogas. A introdução de drogas
sores e 67% dos diretores) apontaram os nas escolas por pessoas estranhas ao ambi-
banheiros. Quarenta por cento dos profes- ente foi apontada por 20% dos professores,
sores, 33% dos diretores e 13% dos alunos 17% dos diretores e 10% dos alunos. Tem-
mencionaram, também, as áreas de recreio. se, nesse caso, o reconhecimento de falta de
As salas de aula foram apontadas por 19% controle relativamente ao livre trânsito de pes-
dos alunos, 10% dos professores e 17% dos soas estranhas ao funcionamento das esco-
diretores entrevistados. las. Vê-se, nos dados apresentados na Tabela
Alunos, professores e diretores coincidi- 6, que as drogas entravam nas escolas, pre-
ram também na percepção das formas de dominantemente, conduzidas pelos alunos
entrada das drogas nas escolas pesquisadas, consumidores, que provavelmente utilizavam
como se vê na Tabela 6. Segundo 79% do as dependências do prédio para dar vazão
alunos, 80% dos professores e 67% dos dire- ao seu vício. Os alunos repassadores (vulgo
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Tabela 6 - Formas de entrada de drogas nas escolas,
segundo os entrevistados (% em relação ao total de cada coluna)
Respostas Alunos Professores Diretores
Com alunos consumidores 79 80 67
Com alunos repassadores 30 33
Com pessoas estranhas à escola lo 20 17
Não sabem/Não responderam 12 17
Fonte: Pesquisa Datamáfflca/Fundaj - março/2005.
Obs: A soma das colunas pode ultrapassar 100% porque cada entrevistado
podia apresentar mais de uma resposta.
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6. Impactos da Violência sobre o percentual elevado em se tratando de uma
Aprendizado dos Alunos questão tão delicada como essa. Solicitados
Esta secção aborda a problemática da vi- a avaliarem os efeitos das ações violentas so-
olência nas escolas pesquisadas a partir da bre os principais indicadores de desempenho
formulação de perguntas distintas feitas aos escolar dos alunos, os professores e diretores
alunos e aos professores e diretores. Indaga- deram as respostas que estão apresentadas
dos se achavam que o seu aprendizado era na Tabela 9.
prejudicado pela violência e pela inseguran- Essa Tabela mostra que, na opinião dos
ça na escola, 61% dos 244 alunos entrevista- professores e dos diretores entrevistados, as
dos responderam afirmativamente. A Tabela ações violentas tinham algum impacto so-
8 mostra as maneiras como, segundo os alu- bre a evasão escolar, sendo, porém, que
nos entrevistados, os atos de violência afeta- mais da metade considerava os efeitos bai-
vam o seu aprendizado na escola. xos ou inexistentes. De qualquer maneira,
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Tabela 9 - Efeitos das Ações Violentas sobre Alguns Indicadores de Desempenho
dos Alunos (% em relação ao total de cada coluna)
Respostas Professores Diretores
1.Evasã o Escolar
Alto 17 -
Médio 8 33
Baixo 38 26
Nenhum 29 33
Não sabem/Não responderam 8 8
Total 100 100
2. Expulsão de Alunos
Alto
13
Médio -
Baixo 29 42
Nenhum 50 58
Não sabem/Não responderam 8 -
Total 100 100
3.Repetição de Ano
Alto 8 8
Médio 22 34
Baixo 33 25
Nenhum 33 25
Não sabem/Não responderam 4 8
Total 100 100
4.Nível de Rendimento Escolar
Alto 42 8
Médio 29 58
Baixo 13 17
Nenhum 16 8
Não sabem/Não responderam 8
Total 100 100
S. Desestimulo aos Professores
Alto 58 17 Efeitos da
violência sobre o
Médio 8 33 aprendizado
Baixo 17 25 nas escolas
17 públicas da cidade
Nenhum 17 do Recife
Não sabem/Não responderam 8
Total 100 100 Renato Duarte
Fonte: Pesquisa DataméthcalFundaj - março/2005.
sores e 66% dos diretores afirmaram e clas- do de Pernambuco mantém patrulhas esco-
sificaram os efeitos como altos ou médios. lares e a administração do município insti-
Quanto ao desestímulo que a violência den- tuiu guardas municipais com a finalidade de
tro das escolas causava aos professores, oferecerem segurança às escolas do Reci-
66% destes declararam que era alto ou mé- fe. Indagados acerca da eficácia desses efe-
dio. As informações contidas na Tabela 9 tivos de segurança, 71% dos professores e
mostram que as ações violentas vedficadas 58% dos diretores entrevistados responde-
nas escolas pesquisadas tinham, sim, efei- ram negativamente. Em princípio, os direto-
tos nocivos sobre o rendimento escolar dos res têm informação mais precisa sobre esse
alunos ali matriculados. O governo do esta- assunto, por se tratar de matéria adminis-
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trativa, do que os professores, que se dedi- escolas públicas no Brasil, mais além do pro-
cam prioritariamente às tarefas em salas de blema da insegurança. Vê-se nessa Tabela
aula. Os motivos apresentados pelos direto- que o setor público, as famílias, os profes-
res para a ineficácia das patrulhas escola- sores e diretores e os alunos, cada qual no
res/guardas municipais foram, pela ordem seu papel, teriam que contribuir não só para
decrescente de percentuais de informantes: a diminuição da violência, mas também para
raramente apareciam (71%); apareciam mais a melhoria na qualidade do ensino, o que,
durante o dia (29%); permaneciam pouco de fato, mostra a Tabela 10. Vale observar,
tempo na escola (14%); nunca apareciam por outro lado, que os alunos, os professo-
(14%). Essas respostas - que foram corro- res e os diretores apresentaram diferenças
boradas pelos professores entrevistados - quanto à prioridade das medidas apontadas,
são suficientemente esclarecedoras do por- o que aliás é compreensível, considerando-
quê da avaliação negativa dos esquemas de se o papel representado por cada categoria
segurança implementados pelos governos no ambiente escolar.
do estado e do município. 7. Considerações Finais
Alunos, professores e diretores foram Este trabalho revelou que a insegurança
convidados a apresentar sugestões para a é um dos problemas que afetam o rendimen-
redução das ações violentas nas escolas to didático e o desenvolvimento intelectual
Tabela 10— Sugestões para a redução dos atos violentos nas escolas
pesquisadas (% em relação ao total de cada coluna)
Respostas Alunos Professores Diretores
Colocar mais policiamento nas escolas 44 8 17
Incentivos à prática de esportes e lazer 22 25 8
Melhorar a infra-estrutura escolar 19 29 42
Aumentar os programas de inclusão 11 46 42
social
Melhorar a qualidade do ensino 10 29 17
Efeitos da
violência sobre o Integrar as famílias dos alunos à escola 8 46 58
aprendizado
nas escolas
públicas da cidade Oferecer acompanhamento psicológico 7 13 8
do Recife aos alunos
Remunerar melhor os profissionais da 5 17 17
Renato Duarte educação
Aumentar o tempo de permanência dos 3 17 25
alunos na escola
Outros 10 24
Não sabemfNâo responderam
Fonte: Pesquisa DatamétricalFundaj - março/2005.
Obs: A soma das colunas pode ultrapassar 100% porque cada entrevistado podia apresentar mais de uma resposta.
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presentes e perturbavam o cotidiano dos es- ção: a entrada de drogas - maconha, predo-
tudantes e dos funcionários dessas escolas. minantemente - e de armas - revólveres, em
Se a violência inexistisse, ou se a sua inci- especial - nas escolas pesquisadas. Aparen-
dência fosse menor, certamente o aprendi- temente, essas armas não são utilizadas com
zado dos alunos seria melhor. Como se viu muita freqüência pelos alunos dentro das es-
neste artigo, a insegurança é apenas um colas, a julgar pela ausência de notícias a esse
dentre os muitos e distintos problemas que respeito na imprensa diária do Recife. Se o
interferem negativamente no desempenho fosse, dada a gravidade do problema, com
escolar dos alunos. As informações colhidas certeza não passaria despercebido aos pro-
através da pesquisa levam à dedução de que fissionais responsáveis pela cobertura jorna-
a sensação de insegurança sentida por alu- lística dos acontecimentos policiais. A entrada
nos, professores e diretores dentro e no en- de drogas nas escolas, além de ser uma trans-
torno das escolas onde estudam ou gressão às normas comportamentais, pode
trabalham não difere daquela vivenciada, por transformar os estabelecimentos de ensino
exemplo, nos bairros onde residem, ou em em locais para a iniciação dos jovens no ví-
outros locais da cidade. cio. É uma triste ironia que uma escola, que
Em outras palavras, existe insegurança deveria ser o local de aprendizado, de socia-
nas escolas públicas porque a sociedade bra- lização e de desenvolvimento intelectual, seja
sileira vive permanentemente em clima de transformada em lugar de circulação de ar-
insegurança, especialmente nas grandes ci- mas de fogo e de drogas, desvirtuando, des-
dades. Seda ingênuo esperar que em cida- se modo, os requisitos de uma boa formação
des violentas as escolas constituíssem intelectual e profissional e de modelagem do
verdadeiras ilhas de segurança e tranqüilida- caráter dos estudantes.
de. É sabido que nas escolas da rede privada A pesquisa mostrou também que os atos
não são registrados episódios tão fortes e tão violentos representam apenas um dos mui-
freqüentes de violência. A natureza diferenci- tos problemas enfrentados pelos alunos das
ada dessas escolas permite que nas escolas escolas públicas do Recife no seu dia-a-dia.
da rede privada sejam criados ambientes se- Pelo que foi mostrado neste artigo, as con-
guros, em que a violência, no mais das ve- dições materiais - identificados pelos baixos
zes 1 se resume às rusgas comuns entre níveis de renda familiar - e psicológicos -
crianças e adolescentes. Além de as escolas por viverem, muitos deles em lares deses-
particulares terem condição de proporcionar truturados - não proporcionam as condições
Efeitos da
segurança internamente e no seu entorno, os adequadas ao bom desempenho escolar dos violência sobre o
pais de família também se ocupam, direta ou alunos. Os níveis de segurança nas comu- aprendizado
nas escolas
indiretamente, da segurança pessoal dos seus nidades onde vivem e nos entornos das es- públicas da cidade
filhos no trajeto dele para a escola. colas que freqüentam tampouco são do Recife
dos na rede pública de ensino fundamental e sores são mal remunerados e, portanto,
médio do Recife. Ficou demonstrado, através desprestigiados na sua função docente. As
das respostas de alunos, professores e dire- escolas carecem dos instrumentos e dos ma-
tores, que os atos violentos assumem, como teriais didáticos requeridos pelas modernas
seria de esperar, diversas formas, umas mais, técnicas de ensino. Como se vê, mesmo que
outras menos graves. Casos como os de a educação pública venha a se tornar efeti-
"bullying", brigas, ou furtos de objetos pesso- vamente uma prioridade no Brasil, ter-se-ia
ais existem em toda parte, até mesmo em es- que cuidar, não somente da segurança, mas
colas de países mais ricos e desenvolvidos. de todos os obstáculos internos e externos
Duas informações que este trabalho revelou que, de uma forma ou de outra, afetam a
são, no entanto, motivo de grande preocupa- qualidade do ensino público no país.
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Referências Bibliográficas
Efeitos da
violência sobre o
aprendizado
nas escolas
públicas da cidade
do Recife
Renato Duane
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