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1 INTRODUÇÃO

Dentro do curso de Educação Física a arte da dança é apresentada em uma única


disciplina que permeia toda construção desde o entendimento do “outro” pelo corpo ao
alcance do “outro” pelo processo educacional. Quando pensamos no desenvolvimento deste
trabalho já tínhamos a certeza de que a tarefa seria árdua tendo em vista a escassez de material
bibliográfico que tratasse da dança afro-brasileira como processo para educação de crianças e
jovens, mas gratificante, pela contribuição que este poderá proporcionar as entidades, escolas,
grupos e a dança de modo geral.
Temos descoberto no tear deste trabalho à importância de uma metodologia de
ensino capaz de fazer da pesquisa e da arte um espaço de diálogo, de transformação e
educação, “não é preciso ser artista ou possuir uma formação em arte, é preciso usar o método
artístico: descobrir sempre, inquietar-se e não render-se” Lima (2008) ensinar e aprender
como nos afirma o método freiriano do saber, tais quais são ferramentas de educação e de
defesa da vida, filosofia do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia,
ponto de apoio e formação do grupo Dançarte que é o objeto de estudo desta pesquisa,
utilizando-se da Arte e da Cultura, como mecanismo de educação, oferecendo gratuitamente
aulas de Teatro, Capoeira e Dança para a população que vive em situações de vulnerabilidade
sociais residentes na cidade de Açailândia – MA e região, atendendo mais de 500 crianças e
adolescentes envolvidos diretamente nas atividades. Assim assimilamos a arte da dança à arte
de educar.
A Construção dessa pesquisa foi realizada em um período de 10 meses, sendo o
objetivo apresentar o grupo como proposta de desenvolvimento do ensino/aprendizagem da
dança afro-brasileira, sistematizando o trabalho realizado no Centro de Defesa, demonstrando
que a dança é um mecanismo que possibilita aos praticantes um aprendizado que vai além de
realizar movimentos, refletindo sobre a prática pedagógica no ensino informal e assistemático
da Dança. Trabalhamos na realização da pesquisa de campo, procurando o aprofundamento de
uma realidade específica, por meio da observação das atividades do grupo e de entrevistas por
questionários, na busca de informações, sendo abordados aspectos do desenvolvimento do ser
humano, configurando a presente pesquisa como exploratória, norteado pela problematização
de como a dança é instrumento de educação e cultura pelo e no processo de ensino
aprendizagem, envolvendo levantamento bibliográfico e estudo de caso.
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No processo de formação das linguagens artísticas acima citadas, os educandos


têm a oportunidade de pesquisar, vivenciar, discutir e desenvolver, além da dança, teatro e
capoeira, vários outros conteúdos. Os conteúdos abordados estão sempre ligados à área de
interesses do público alvo – crianças e adolescentes, e da instituição formadora – CDVDH,
dentre eles podemos citar: gravidez na adolescência, drogas, prostituição infantil, cidadania,
voluntariado, exploração do trabalho infantil e escravo, meio ambiente e outros.

Como resultado do trabalho desenvolvido, mesmo que de forma informal, pelo


CDVDH, obtemos resultados significativos no cotidiano dos educandos, como melhoria no
rendimento escolar, facilidade na vivência grupal, desenvolvimento das potencialidades
críticas, redução da timidez, respeito às diferenças sociais, etnia, sexo, religião dentre outros.
Tudo isto permeia nossa vontade em realizar esta pesquisa, vivenciando a prática de ensino
como professor de Dança nessa instituição pudemos ao longo da nossa atuação, constatar a
necessidade de uma formação e/ou estruturação pedagógica no âmbito de declarar meios reais
para o objetivo desta investigação que se propõe o grupo Dançarte, modelo de
desenvolvimento de ensino/aprendizagem da dança afro-brasileira no núcleo de apoio aqui
apresentado, para tanto se fez necessário uma formação acadêmica com referenciais teóricos e
subsídios para a caracterização do processo educacional.

Como principal agente responsável pelas atividades de dança no CDVDH, três


(03) aspectos de extrema relevância nos levaram a refletir sobre a abordagem metodológica da
nossa prática de ensino, desenvolvida ao longo desses oito anos, dentre elas: as dificuldades
de separação de turmas por faixa etárias, dificuldades de organização de turmas por níveis de
aprendizagens (iniciantes, intermediários e avançados) e o que fazer com aqueles educandos
que participam do grupo há mais de 03 anos e que gostariam de se profissionalizar em dança?

Deste modo, com o conhecimento acadêmico em desenvolvimento no Curso


Superior de Licenciatura Plena em Educação Física, sentimo-nos desafiados a discutir a
Dança nos seus aspectos didáticos, pedagógicos e metodológicos, e buscar uma proposta de
desenvolvimento sistemático de ensino/aprendizagem da Dança Afro-Brasileira.
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2 HISTÓRIA DA DANÇA

Não se sabe exatamente como surgiu, o que se sabe é que ela existe desde o início
da humanidade. “A dança nasceu da necessidade de expressão uma emoção, de uma plenitude
particular do ser, de uma exuberância instintiva, de um apelo misterioso que atinge ate o
próprio mundo animal” (CAMINADA, 1999, apud FERREIRA 2004, p17).
Segundo os estudos Fahlbush (1990) apud Bregolato (2000, p. 73), “os primeiros
documentos sobre a origem pré-histórica dos passos de dança, são provenientes de
descobertas das pinturas e esculturas gravadas nas pedras lascadas e polidas das cavernas”. Na
África e no sul da Europa, foram encontradas pinturas rupestres de dançarinos nas paredes das
cavernas. Em determinada época os homens “primitivos” só registravam nas paredes coisas
importantes, como afirma as bases teóricas da arqueologia, ciência que estuda o homem em
suas manifestações artísticas e culturais, tais como “a caça, a alimentação, a vida e a morte, é
possível que essas figuras dançantes fizessem parte de rituais de cunho religioso” (FARO,
1986, p. 13).
Alguns estudiosos como Portinari citado por Ferreira (2004, p. 17), em suas
expressões artísticas e sua leitura histórica aponta a existência da dança antes mesmo da
própria existência do homem, “a dança precedeu o homem”. A dança nasceu da necessidade
que o homem tinha de se expressar e da ligação do homem com os deuses e a natureza. “O
homem se movimenta a fim de satisfazer uma necessidade”. Laban (1978, p. 19). A arte da
dança se fazia presente em todos os acontecimentos do homem primitivo: morte, guerra,
nascimento, colheitas, casamento, acasalamentos e outros e tinha muitos significados.
Segundo, Caminada (1999) apud Ferreira (2005, p. 17):

A dança se manifesta através de movimentos que imitam as forças da natureza que


parecem mais poderosas ao homem e que trazem consigo a idéia de que esta
imitação tornará possível a posse dos poderes dessas forças. Pode-se afirmar que no
seu primórdio a dança foi uma manifestação naturalista. Os gestos se apresentavam
desordenados e a repetição sincronizada desses gestos pode ser considerada a
primeira técnica desenvolvida pelo ser humano.

Os estudos sócio-antropológicos acreditam que a dança exerceu um papel


importante na caça e em muitas outras atividades ao longo da história, em especial na África
onde temos como base cientifica o surgimento da espécie humana, caracterizando uma
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abordagem analítica ao movimento negro pela dança. No campo das ciências, pesquisadores
acreditam que estudando a dança de várias culturas, dentre elas a de origens afro, os estilos e
formas de dançar de um povo/nação podem revelar muita coisa sobre seus costumes, valores e
em geral seu modo de vida. Os antropólogos e arqueólogos “assumem que o homem
‘primitivo’ dançava como sinal de exuberância física, rudimentar tentativa de comunicação e,
posteriormente, já como forma de ritual”. (PORTINARI, 1989 apud FERREIRA, 2004, p.
18). Para FARO (1986, p. 13) “A arqueologia não deixa de indicar a existência da dança como
parte integrante de cerimônias religiosas, parecendo correto afirma-se que a dança nasceu da
religião, se é que não nasceu junto com ela”. Assim como as ciências sociais mantêm a
relevância de estudo sobre o surgimento da dança afro e suas influências na construção
cultural do povo brasileiro, manifestações essas ainda presentes em cultos religiosos não só de
ordem africana, como também no sincretismo que envolve as demais religiões no país. Ainda
Faro (1986, p. 13) nos relata que:

A dança é fruto da necessidade de expressão do homem. Essa necessidade liga-se


ao que há de básico na natureza humana. Assim, a dança, provavelmente, veio da
necessidade [...] de aplacar os deuses ou de exprimir alegria por algo de bom
concedido pelo destino.

Podemos constatar que a dança exerce um papel importante em várias áreas do


conhecimento e é parte integrante da vida do homem. A dança contribui muito no
desenvolvimento e afirmação da identidade dos povos, seja na era primitiva ou na
contemporânea. No Egito as pinturas, esculturas e relatos históricos deixados através da
dança, foram de fundamental importância para o estudo e conhecimento desses povos e das
suas danças:

As pinturas, esculturas e escritos do antigo Egito fornecem informações sobre os


primórdios da dança egípcia. Este povo dedicava-se principalmente à agricultura,
por isso suas festas religiosas mais importantes se concentravam em danças para
homenagear Osíris, o deus da vegetação. A dança também servia como
entretenimento. Os escravos, por exemplo, dançavam para divertir as famílias ricas
e seus convidados. (ORIGEM..., 2007).

Na Grécia antiga, a dança era considerada pelos atenienses, parte importante no


processo educacional dos cidadãos, tendo uma essencial relevância para a educação, para o
culto e para o teatro. O filósofo Platão acreditava que através da dança podia se desenvolver o
autocontrole e o desembaraço na arte da guerra e aconselhava que todos os cidadãos gregos
aprendessem a dançar. Já em Esparta por possuírem um espírito militar, as danças com armas
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faziam parte da educação de seus jovens. Na Idade Média, a igreja proibiu as danças teatrais,
essas danças apresentavam movimentos sensuais e exuberantes que ia de encontro aos
dogmas do catolicismo arcaico. Essa proibição tinha como objetivo abolir a dança teatral e o
culto aos deuses. Em fugas as normas impostas pelo clero, os dançarinos continuavam a
dançar e realizavam suas apresentações em aldeias e feiras, fazendo com que a dança teatral
se mantivesse viva. Já no final da Idade Média a dança passa a se tornar parte dos
acontecimentos festivos da sociedade monárquica e clerical.
No Renascimento a cultura ganha força pelo retorno da filosofia greco-romana, o
humanismo manifesta-se pela arte e a dança teve um grande desenvolvimento. Os nobres
Italianos começaram a contratar mestres de dança para criar espetáculos, que serviam de
entretenimento entre a nobreza. Nessa época essas danças eram chamadas de “balletti” ou
“balli”. Os nobres ofereciam os espetáculos uns aos outros e cada um queria preparar o
melhor e maior espetáculo. Grandes personalidades como Leonardo da Vinci eram
convidados a participar criando os figurinos. Nessa época a dança passou a ter um significado
filosófico, acreditavam que a harmonia dos movimentos da dança refletia a harmonia no
governo, na natureza e no universo, pensamento de centralização de poder e ordem exercida
pela coroa e seus governantes como princípios literários da burguesia européia. O movimento
que deu grande importância à liberdade de expressão individual e pessoal foi o Romantismo,
a dança passa a partir desse movimento a ter outras características, a maioria dos balés se
apresentavam em torno das lendas de deuses (a) e mitos, mas com o Romantismo passaram a
tratar de pessoas comuns. Muitos enredos de balés do século XIX tinham como personagens
seres imaginários, como fadas e sílfides (espíritos do ar).
No século XIX, as danças sociais, começaram a se popularizarem na América e na
Europa, levados pela expansão cultural das nações colonizadoras, enriquecendo a formação de
povos/nações mesmo que por mecanismo de desigualdades sociais. Outra vez, a nobreza em
vez de lançar moda, imitava os camponeses que dançavam valsas e polcas. A partir de 1900, a
dança começa apresentar várias formas e estilos. Com a chegada da dança moderna, que tem
como base a liberdade de expressão, a dança passa por um grande momento de transformação
e experimentação, é necessário uma abordagem critica que muitos dos modelos expressivos
da arte da dança têm seu cunho eurocêntrico e de aculturação, uma postura de posse cultural
dos mais inúmeros elementos surgidos em suas camadas de população com menor
acessibilidade à corte. Na atualidade temos a dança contemporânea que é “tudo aquilo que se
faz hoje dentro dessa arte. Não importam o estilo, procedência, os objetivos nem a forma. È
tudo aquilo que é feito em nosso tempo, por artistas que nele vivem”, FARO (1986, p. 124)
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podendo incorporar valores sociais de camadas populares, no Brasil sua marca de


modernização assimilou muito da cultura africana. Os dançarinos passam a se inspirar em
qualquer coisa para criar suas obras coreográficas: em experiências próprias, em um texto, em
problemas sociais, carregados pela memória e identidade dos anciãos, mesmo que em
momentos de suas festas ainda que religiosas.
Segundo Faro (1986, p. 10) a dança tem alcançado um verdadeiro crescimento e
progresso:

Tem sido contínuo - atualmente, chega a ser vertiginoso, com uma incrível
variedade de propostas que nos dão à medida exata, não apenas das pesquisas que
sobre ela se realizam, mas, principalmente, de sua constante e permanente
atualização. Isso nos permite dizer que a dança, em suas diversas manifestações,
está de tal modo ligada à raça humana que só se extinguirá quando esta deixar de
existir.

A presença da dança em todas as épocas e civilizações com suas várias formas e


estilos foram de grande importância para o fortalecimento das suas identidades, Segundo
Ferreira, apud Ferreira (2004, p. 19):

A dança faz parte do contexto histórico da civilização humana aparecendo em


diferentes épocas com maneiras e estilos diferentes. Existem vários estilos de
dança, como por exemplo, a dança étnica que tem vinculação com atos religiosos, a
dança folclórica, a dança social que é muito encontrada em bailes, festas, boates,
discotecas e outras comemorações e, a dança teatral que teve origem na idade
média para entreter a realeza.

Sendo a dança parte imprescindível no desenvolvimento da humanidade, dos seus


progressos e evoluções, temos que nos apropriar dessas riquezas que estão totalmente à
disposição do público, nas danças afro-brasileiras, na dança moderna, folclórica, popular e
religiosa. Como afirma Béjart apud (O QUE... [sd]):

A dança está no início de cada cultura. Os povos que guardaram o verdadeiro


sentido da cultura guardaram o sentido da dança. Se começarmos a dizer clássica,
moderna, popular, folclórica, não chegaremos a lugar nenhum. Existe a dança e isso
é tudo.

A dança como conhecemos hoje passa então por um processo de democratização,


pois todas as classes sociais passaram a ter a oportunidade de vivenciá-la, em um processo
continuo de evolução, a arte da dança deixa sua simbologia européia de arte de elite, para se
transformar num meio de diversão e cultura de todas as classes. No entanto, visamos
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apresentar a dança afro-brasileira com um mecanismo de formação sócio-educacional na


transformação do individuo e de uma sociedade.
2.1 História da Dança Afro-Brasileira

Herdamos a ginga, o molejo, o jogo de corpo e o suingue dos nossos Ancestrais


Africanos. A dança Afro tem a sua especificidade e nunca deve ser comparada com
outros modelos. É uma dança de origem primitiva, pois nas tribos Africanas a
dança era a expressão da vida. (ASSOCIAÇÃO DOS FILHOS E AMIGOS
DO ILÉ ÍYÁ OMI ÀSÉ ÒFÁ KARÉ, [sd])

Quando os africanos chegaram no Brasil pelo trafego de escravos trouxeram com


eles seus costumes, músicas, danças, cantos, instrumentos e um riquíssimo caldeirão de
culturas. Um país profundamente africanizado como o Brasil, “nos gestos, nos cultos, na
expressão linguística, na música, no jeito de ser e de viver dos brasileiros, encontramos a forte
presença negra, mesmo que nem todos os brasileiros a reconheçam enquanto tal”
(MUNANGA; GOMES, 2006, p. 139) possuem uma população marcada pela presença e
influências da cultura negra, Ribeiro (2006, p. 103) em sua obra o Povo Brasileiro, nos
direcionam a um diálogo em que as “culturas unificadas pela presença negra no país
mantinham quase tudo o que aqui se criou”.
Discutiremos nosso objetivo quanto à dança afro-brasileira nos aspectos
educacionais, culturais e sociais, entretanto, não dá para falar em dança afro-brasileira, sem
falar da questão religiosa, pois a mesma tem uma ligação direta com o seu surgimento, seus
movimentos, traços e mitos. O foco da análise com o sincretismo sugere aspectos
fundamentais que podem ser encontrados no cotidiano do negro no Brasil. Em qualquer
sociedade, os valores culturais se concretizam no modo pelo qual ela se organiza, são valores
que refletem uma imagem do e no pensamento humano. Ao relacionar o Candomblé no Brasil
como representação simbólica da religião afro, em seus cultos e inúmeras formas de
expressão pela dança, elaborados pelo movimento ritualístico do corpo, percebemos que a
religião contribui para a afirmação cultural da sociedade negra no país. Vale ainda ressaltar
que as mesmas têm como elementos e traços fundamentais para a sua manifestação, à dança, a
percussão e o canto. Segundo Luz apud (O QUE... [sd]):

No Candomblé de Angola, a dança faz a proximidade da divindade com o ser


encarnado. É o encontro do homem com a magia da espiritualidade. A dança e o
canto fazem parte desse encontro e dessa comunhão, entre os seres encarnados e
serem desencarnados. Para nós a dança favorece através dos seus movimentos e
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gestos à condição, da manifestação, da atuação, do transe, dos médiuns com os seus


protetores, sejam os guias de Umbanda, sejam os Orixás no Candomblé.

Sendo a dança um elemento de grande importância no desenvolvimento das


manifestações dos povos africanos, podemos afirmar que a mesma exerce uma base relevante
na construção da identidade cultural do povo negro.
Segundo Nóbrega:

Os negros africanos utilizavam a dança para os fatos existentes na sua vida. Para
eles, transmitir o saber era de fundamental importância, o que era feito através da
dança. Todos os fatos ocorridos, como nascimento, plantio, colheita, saúde, morte,
eram comemorados pelos ancestrais com a dança. Na África do Sul, nos conflitos
raciais, os negros dançavam contra o regime que os oprimiam. Até mesmo nos
cultos religiosos, o candomblé, a dança está presente. (Citado por OLIVEIRA,
1992, p. 31).

Mas na verdade o que é dança Afro-brasileira? Durante as pesquisas para a


produção deste trabalho, fizemos inúmeras vezes essa pergunta, sem chegar a um conceito
que abrangesse todo o sentido da palavra, a ausência de conceito nos fez refletir na
impossibilidade de formulá-lo de forma direta, diante das variedades de manifestações afros
em seus inúmeros estilos de danças, sendo ela um verdadeiro mosaico de ritmos: Côco,
Maracatu, Bumba Meu Boi, Samba, Cacuriá e muitos outros nelas estão presentes elementos
das várias tribos africanas que aqui chegaram com a influência dos índios e europeus. Está
contido toda a sensualidade, carisma, ginga, molejo, destreza, coletividade e é uma expressão
viva dos povos de origem negra.
Para Nóbrega, a dança afro-brasileira tem uma identidade própria:

Entre todas as modalidades de dança, à afro-brasileira tem ritmos, instrumentos,


movimentos e símbolos próprios. A força dos seus movimentos é transmitida por
três canais energéticos: a cabeça, o tronco e os pés. (citado por OLIVEIRA, 2007)

Observamos que a dança é considerada pelo o povo Africano, algo sagrado, que vai
além do entendimento humano. Então, porque essa dança é tão marginalizada? Apesar desses
fatos serem decorrentes de uma formação histórica social em que o negro é inferiorizado por
ideologia racista do sistema políticos/colonialistas brasileiro, apontando-o sempre como um
elemento de submissão aos mais variados dogmas culturais de raízes eurocêntricas.
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2.2 Elementos Presentes na Dança Afro-Brasileira

Os povos Africanos trazem enraizados nas suas manifestações culturais muitos


elementos que caracterizam suas origens, dentre eles a sensualidade, a roda e o espírito de
coletividade. A mesma apresenta uma postura corporal inclinada, ritmos ricos marcados no
chão com os pés, ondulações, movimentos soltos com a cabeça, ombros, braços e,
principalmente o quadril.
A experiência de Gilberto Oliveira transcrita no texto “a dança afro-brasileira
como conteúdo da educação física escolar na construção da identidade racial dos alunos
afro-descendentes” constrói valores à sensualidade, elementos estes que propiciam a
transformação de caracteres pejorativos em atributos educacionais, onde a mesma é fenótipo
africano de manejos corporais exóticos. A dança afro-brasileira e suas vertentes nos
possibilitam trabalhar sobre a sensualidade como um processo de visibilidade da arte e do
corpo, meios esses que gerenciam um mecanismo de ensino/aprendizagem em qualquer faixa
etária, cor e credo.

A sensualidade está presente em todas as culturas e a dança afro-brasileira nos


apresenta essa sensualidade de várias formas, como por exemplo, no samba de
roda, em que a mulher segura as pontas da saia levando-as a cintura e
movimentando, com graça, os quadris provocando seus parceiros. Questiona-se,
contudo, a forma como esta sensualidade nos é mostrada: se como parte de uma
história e um contexto sócio-cultural ou de forma banal e erótica.

A sensualidade poderá ser apresentada aos educandos sobre dois aspectos:


● Com objetivos culturais, sociais e históricos;
● Com objetivos sexuais, apelativos e eróticos.
No primeiro a sensualidade é tratada com ênfase na questão educacional, passando
a ser o objeto de pesquisa e instrumento de aprendizagem. Desta forma os educandos passarão
a entender a dança de origem negra, como uma manifestação cultural, que agregada a outras
áreas do conhecimento, poderá levar seus praticantes ao desenvolvimento do ser humano
como um todo; Já no segundo, é apresentada de forma banal e vulgar, em que não há uma
preocupação com o fazer artístico e cultural da dança, e que muitas vezes o sensual é
confundido com o sexual, o movimento passa a ser feito apenas pelo ato de realizar o
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movimento. È importante para os educandos conhecerem esses dois aspectos da sensualidade,


pois só assim eles poderão desenvolver seu pensamento crítico obtendo visão global do
assunto. Dentro desse aspecto, podemos citar a dança que nasceu na década de 80 e se
espalhou pelo Brasil no inicio da década de 90 com o grupo é o tchan, que apresenta a dança
como uma forma apelativa do uso do corpo. É o que popularmente chamam de “a dança do
bumbum”. Uma forma que podemos apresentar aos educandos (crianças e adolescentes) uma
dança sensual, sem que a mesma apresente uma conotação de vulgaridade, é substituindo os
sentimentos e os movimentos sensuais por alegres e divertidos. Ao invés de pedirmos para
que os educandos dancem com sensualidade, podemos pedir para que eles dancem com
alegria.
O trabalho desenvolvido em roda, torna a relação entre os participantes mais
fraterna e solidária, onde os educandos podem ter um contato direto com o educador e os seus
colegas. Quando a roda é estabelecida, criasse um ponto onde todos se tornam iguais, não
existe nem primeiro nem último, essa característica esta presente em grande parte das danças
de origem afro como esta presente também nos cultos afros manifestados no Brasil.
Encontramos os seguintes dizeres sobre a roda:

A roda tem um significado muito grande, é um valor civilizatório afro-brasileiro,


pois aponta para o movimento, a renovação, não tem início nem fim, o processo da
coletividade, todas as pessoas podem se ver e transmitir energia positiva.
(ALGUNS..., 2008)

Já a coletividade estar presente na vida dos povos africanos não só em suas danças
como em todos seus modos próprios de vida. Nas características de vida em coletividade o
Assman citado por Lima (2007, p. 01) diz que:

Amigos Africanos me asseguram que, em muitos idiomas nativos da África, há um


Montão de termos para ‘Caminho’ e ‘Caminhar’, com incríveis nuances: Caminhar
com uma criança, se fala de um modo; Caminhar com os pais, se fala de outra
maneira; Caminhar com os amigos, se diz de um jeito; Com a pessoa amada, de
outro. Mas apesar de tantas palavras para ‘Caminho’ e ‘Caminhar’, na língua deles
não existem nenhuma Para ‘Caminhar Sozinho’.

Essa característica de coletividade é bem latente no trabalho desenvolvido pelo grupo


Dançarte, onde é procurado sempre dividir as responsabilidades e compartilhar os resultados,
onde os educandos participam da construção das coreografias e participam junto com o
educador do planejamento das ações.
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2.3 Surgimento da Dança Afro-Brasileira em Açailândia

Não se tem registro de quando e onde se dançou pela primeira vez em Açailândia,
mas acreditamos que desde o surgimento da cidade as manifestações dançantes se fazem
presentes. De acordo com o relato do historiógrafo Evangelista Mota, assim que surgiu a
cidade de Açailândia que na época era distrito de Imperatriz – MA, tinha um clube na cidade
que foi considerado o primeiro clube social, onde aconteciam freqüentemente festas de forró,
e “as pessoas dançavam um forró meio corrido e deslizado”.
No ano de 1982, o médico Walter Maxuel que chegou a cidade no ano anterior,
relatou que soube da existência de uma manifestação cultural de bumba meu boi na cidade,
como ele era brincante de bumba meu boi na cidade de São Luís, capital do estado do
Maranhão, foi logo saber informações sobre essa manifestação cultural, e, assim ele descreve
a brincadeira:

Esse boizinho brincava no terreiro do senhor Raimundo, e ficava localizado na Vila


Bom Jardim. Era um boi de terreiro e tinha apenas uns vinte componentes e era
apresentado com fins religiosos. Lembro-me que o senhor Vavá era Miolo do Boi.
O boizinho era feito de papelão e todos os brincantes dançavam a noite toda.

Já no início da década de 90 as manifestações de dança afro-brasileira em


Açailândia na qual se tem registro pela memória da população que iniciaram a formação e
construção cultural da cidade, consideradas como o marco inicial por parte dos artistas e a
maior referência desse movimento, aconteceu com Walter Maxuel - incentivador da cultura na
época - e com o Mestre Popular Zezão. Essa época foi marcada pelos sons das matracas do
Boi FUMAÇA (nome dado ao boi do Walter e Mestre Zezão) e da disputa das escolas de
samba, Azul e Branco do carnavalesco Nestor, e Verde e Branco do Walter e Mestre Zezão.
A Dança de Rua também teve grande importância na construção do processo
cultural do município e foi um dos primeiros movimentos de dança a ter um grande número
de adeptos, sendo muito forte na cidade como movimento de camadas de base, essa população
construiu um mito em quem dançava nessa época, “eram considerado como um rei”, relatado
em entrevista com “Gordinho do Break”, referência em dança de rua em Açailândia na década
de 90.
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No ano de 2000, em ocasião à comemoração dos quinhentos anos do Brasil, o


Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia convidou um professor de
dança para coreografar uma música interpretada por Clara Nunes, intitulada: Canto das Três
Raças de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, e alguns adolescentes para participarem da
coreografia. O objetivo da coreografia era mostrar a luta do negro através da arte da dança,
utilizando elementos de capoeira e maculelê. As manifestações afro-brasileiras que temos
históricos percorreu um evolucionismo pela arte do povo e se inseriu muito dos mitos,
memória e lutas dessa gente.
Em 2001, com a criação do grupo Dançarte por iniciativa do CDVDH, começaram
a produção de várias obras coreográficas que tinham como eixo norteador às danças
afro-brasileiras. Naquela época nosso conhecimento sobre a dança afro-brasileira ainda estava
em desenvolvimento, o que conhecíamos sobre o assunto era muito pouco, mas isso não foi
obstáculo para que não realizássemos a criação de coreografias. Os elementos básicos da
dança afro-brasileira e a música, sempre tiveram grande evidencia nas coreografias. A partir
de 2002, quando o CDVDH fez uma parceria com o CCN – Centro de Cultura Negra do
Maranhão, através do grupo de dança Afro ABANJÀ, foi que a dança afro-brasileira entrou
verdadeiramente em erupção e passou a ser vista e dançada na cidade.
O grupo ABANJÀ que na língua Yorubá significa: "Na luta agora já!". Veio à
cidade nos anos de 2002 a 2005, em um espaço periódico para ministrar oficinas de danças e
percussão, palestra sobre racismo, cultura e apresentar vários espetáculos de dança
afro-brasileira.

Foto 01 – Caminhada do grupo Dançarte com o grupo Abanjá nas ruas de Açailândia 2005
Fonte: CDVDH

A partir dessas oficinas e do direcionamento de forma abrangente do grupo


Dançarte, em relação ao aprendizado adquirido sobre as questões étnico/raciais e dança
afro-brasileira, foi que buscamos inserir em nossa pratica a pesquisa, o estudo sobre assuntos
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que envolvem a temática do negro, utilizando os mesmos como norteador para o


desenvolvimento dos trabalhos no grupo. Com um trabalho de pesquisa, inovação e
conservação da dança afro-brasileira, a mesma começa a ganhar força, visibilidade e
representatividade no município de Açailândia. O grupo passou a usar a dança em seus
trabalhos, o que é mantido até hoje em um processo continuo de ensino/aprendizagem tanto
aos que compõem o grupo como para os quais participam de forma direta e indireta.
Além do grupo afro Abanjá, tiveram outras pessoas/grupos que contribuíram
muito para o desenvolvimento da dança afro-brasileira em Açailândia, dentre elas estão:
Valdeci do Vale e Zumbi Bahia do grupo Oficina Afro, de São Luís - Maranhão; Vera Passos
de Salvador – Bahia, com os seus ensinamentos de Técnica Silvestre (uma técnica de dança
afro-brasileira), Bruno Jansem também de São Luís – Maranhão, com percussão e tambor de
crioula, e muitos outros. Dentre outros exemplos, são os eventos e espetáculos produzidos na
cidade: No ano de 2002 e 2003, onde foi realizado um campeonato de dança que reuniu mais
de 60 grupos de dança de Açailândia e região e as danças apresentadas em sua maioria eram
de danças de origens negras.
O grupo Dançarte tem vários espetáculos de grande porte ligados à dança
afro-brasileira, que começaram a serem montados e ganharam uma repercussão nacional e
internacional, a partir do ano de 2005 com o espetáculo: “A Perseguição contra a Libertação”,
em 2006 na comemoração do décimo ano de vida do Centro de Defesa, foi montado o
espetáculo “10 anos de CDVDH em Açailândia”, em de 2007, Um espetáculo musical de
dança, teatro, capoeira, canto e percussão, que conta à história da escravidão antiga e a
escravidão contemporânea chamado de “Quilombagem”, com turnê já marcada em 2008, por
vários estados do Brasil e na Espanha - Europa; e em 2008 “O outro Lado da História” que
conta à história do negro a partir da visão do próprio negro, com mais de 10 ritmos de dança
de origem afro-brasileiras.
A dança afro-brasileira em Açailândia passa a ter uma grande importância e
representatividade. É uma manifestação que faz parte do contexto histórico, cultural e social
da cidade, podendo até dizer que é uma dança que se identifica com a historia de luta,
libertação e resistência da “cidade do ferro”1. Contando com o apoio de grupos, escolas,
ONG’s, associações, eventos e espetáculos a cerca da temática da cultura negra, podemos
dizer que a dança afro-brasileira faz parte do contexto de formação social, cultural e histórico
do desenvolvimento de Açailândia.
24

___________________
1. Nome dado à cidade de Açailândia pela grande concentração de siderúrgicas.
3 HISTÓRIA DA DANÇA NA EDUCAÇÃO

A dança esta inserida dentro do campo da educação, das artes e da Educação


Física, tendo várias funções, podendo ser desenvolvida com vários objetivos. Garaudy (1989)
citado por Marques (2005, p. 15), “pessimistamente declarou ser a dança o primo pobre da
educação”, no que temos desenvolvido ao longo de 08(oito) anos com a dança afro,
acreditamos nos reais valores construídos e experimentados, que a mesma nos direcionam a
um dialogo com a educação na reconstrução social de muitos na população assistida.
De acordo o PCN Artes:

A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da


percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à
experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e
imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e
conhecer as formas produzidas por ele e pelos os colegas, pela natureza e nas
diferenças culturais.

Marques pontua que “o reconhecimento da dança como área de conhecimento a


ser trabalhada nas escolas foi oficialmente iniciada na cidade de São Paulo nos anos de
1991-92 e coroado em âmbito nacional com a sua inclusão nos parâmetros curriculares
nacionais em 1997” (2005, p.101). Em relação aos PCN`s, muitas criticas surgiram aos
conteúdos propostos, que na verdade são mínimos, a dificuldade se apresenta no fato estreito
de não caracterização do organizador da proposta política pedagógica aqui estudada, sem ao
menos situar a bibliografia referendada a partir da dança. Para Strazzacappa (2002-2003, p.
74), a critica sobre os PCN’s deve se particularizar pela presença apenas de momentos cívicos
e folclóricos, inviabilizando a pratica como mecanismo de aprendizagem e ensino.

Embora as Diretrizes situem a dança como uma das linguagens do ensino de arte
nas escolas, ela é apresentada ora como complemento das aulas de música,
sobretudo quando se estudam as manifestações populares, ora como conteúdo da
Educação Física, quando aparece nas comemorações cívicas do calendário escolar.
Quando a dança finalmente é oferecida no ambiente escolar como uma atividade
em si, aparece como disciplina optativa de caráter extracurricular.
25

Podemos entender que o próprio PCN, não trata a dança como uma área de
conteúdos e conhecimentos específicos, sendo sempre colocada ou apresentada através de
outras áreas. Não é interesse nosso nesse trabalho apresentar a dança como disciplina
especifica, mas, é imprescindível que não deixemos de perceber a importância que a mesma
exerce sobre quem a pratica. Não podemos deixar que os educandos não a vivencie, sendo
importante entendermos que a mesma exerce um papel de fundamental importância no
desenvolvimento do ser humano como um todo.
Durante a pesquisa sobre o assunto dentro do PCN artes, podemos perceber como
tem sido tratado a dança e como ela é apresentada para os nossos professores e alunos. A
ineficácia do conteúdo apresentado é contrária aos anseios dos alunos e não sastifazem as
necessidades dos professores de outras áreas do conhecimento que se apropriam da dança
como processo de educação, assim sendo, a dança passa apenas por um momento de mostra
em eventos da escola, deixando de assumir seu papel na construção do aprendizado e
verificado para orientar uma pratica de dança que venha a satisfazê-los, provocando um
processo que vá além do movimento. Segundo Marques, (2001, p. 38) “a necessidade de
valorização da arte como forma de conhecimento indispensável ao ser humano é, para mim,
inegável e inquestionável”.
“O ser humano dançou antes de falar”. Esta foi sua primeira manifestação social
que sempre serviu para auxiliá-lo a afirmar-se como membro da sociedade observa Collier
(2008). Se o ser humano dançou antes de falar, então a dança foi primeira forma de
comunicação usada pelo homem. “Cada cultura transportou seu conteúdo às mais diferentes
áreas como a Arte, a Musica e a Pintura. Dentre elas, as danças absorveram a maior parte
dessa transferência”. (CAVASIN, 2003, p. 11). Em várias épocas e povos aqui relatados,
percebemos que a dança, sempre foi usada para educar. Os povos acreditavam que a dança
desenvolvia habilidades no homem, e que essas habilidades poderiam ser usadas também, na
caça, lutas, colheitas e em vários outros momentos.
Com todos os dados históricos acima apresentados, podemos perceber a dança
sempre acompanhada de um ato de ensinar e aprender, tanto na parte religiosa, quanto
profana. Para Nóbrega (1992) apud OLIVEIRA (2007) “Os negros africanos utilizavam a
dança para os fatos existentes na sua vida, para eles, transmitir o saber era de fundamental
importância, o que era feito através da dança”.
Desde o Renascimento a dança exerceu um papel importante no processo
civilizatório da e na educação. Os nobres também tiveram parte nesse processo de evolução
histórico/educacional da dança. Para Tarkoviski (1988), citado por SANTOS; FIGUEREDO,
26

“a dança é uma das expressões significativas que integra o campo de possibilidades artísticas,
contribuindo para a ampliação da aprendizagem e a formação humana”.
Para Béjart, citado por Garaudy, (1980, p. 10):

Dançar é tão importante para uma criança quanto falar, contar ou aprender
geografia. É essencial para a criança, que nasce dançando, não desaprender essa
linguagem pela influência de uma educação repressiva e frustrante... O lugar da
dança é nas casas, nas ruas, na vida.

As obras coreográficas exercem um papel muito importante no processo de


construção do aprendizado. Na montagem de coreografia e na composição coreográfica,
quando são realizados com princípios educacionais e participativos tanto por parte do
educador e do educando, ela nos proporciona além das criações das obras o incentivo à
pesquisa e o desenvolvimento da capacidade de trabalhar em equipe. Dependendo do tema
tratado, a obra coreográfica nos leva a reflexões importantes sobre os problemas sociais,
culturais, políticos e educacionais que nos cercam.
Dentro desses propósitos a dança passa a ser uma aliada intima do processo
educacional, se tratada de forma a preservar seus valores, tanto para quem o proporciona,
direção, escolas, instituições, dentre outras, assim como, para quem faz, educandos,
bailarinos, e para quem assisti, espectador e público. Duncan apud Ossona (1988, p.09) diz
que:

A dança, em minha opinião, tem como finalidade a expressão dos sentimentos mais
nobres e mais profundos da alma humana. Aqueles que nascem dos deuses em
nós... A dança deve implantar em nossas vidas uma harmonia que cintila e pulsa.
Ver a dança apenas como diversão agradável e frívola é degradá-la.
27

4 A CRIAÇÃO DO DANÇARTE E A EDUCAÇÃO PELA DANÇA

Contudo o que temos abordado no construir da arte da dança como processo de


ensino/aprendizagem é relevante acentuar que desde sua fundação em 18 de novembro de
1996, o Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia (CDVDH).

Foto 02 - Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia


Fonte: CDVDH

Vem-se articulando com um grupo de pessoas, para a realização de alguns trabalhos


com dança. Com o passar do tempo, foi surgindo à necessidade de oficializar esse grupo, para
que o mesmo realizasse continuamente um trabalho de conscientização, formação e denuncia
dentro da filosofia do CDVDH, usando a dança como forma de linguagem e expressão,
atendendo as crianças, adolescentes e jovens de comunidades em riscos de vulnerabilidade
social, incentivado a permanência dos mesmos em sala de aula, obtendo resultados como
redução do número de reprovação, diminuição da violência escolar. No ano de 2001, com a
chegada do Educador Marcelo Grangeiro ao CDVDH, o grupo de dança passou a se chamar
Dançarte, nome sugerido pelo educando Francisco Joaquim Silva Ribeiro, conhecido como
“Jean”, tendo como data oficial de sua fundação o dia 1º de abril de 2001. Nesta data o grupo
realizava sua primeira apresentação, que aconteceu na Vila Bom Jardim em um evento
promovido pelo Centro chamado Jornada da Cidadania. Na ocasião o grupo apresentou duas
coreografias de dança afro-brasileira: “Bate lata” e “Retirante Ruralista”. Vinte e cinco
crianças e adolescentes participaram dessa apresentação.
28

Foto 03 - Coreografia Bate Lata e Retirante Ruralista – Vila Bom Jardim – Açailândia – MA.
Fonte: CDVDH

A idéia do CDVDH sempre foi desenvolver o ser humano com um todo, não só na
dança, mas, o grupo não tinha a mesma intenção, na verdade o grupo queria mesmo era
aprender a dançar para desenvolver seus potenciais como dançarino(a)s. Com o passar do
tempo, fomos percebendo que tínhamos que ir além dos movimentos de dança. Foi uma
mudança inicialmente difícil e árdua, pois nós somos submetidas a um verdadeiro massacre
pelas redes de comunicação, que bombardeiam nossa mente usando músicas superficiais
apelando para exploração do corpo, como é o caso do “Tchan” e os “Funks” de hoje “O
processo, assim, torna-se bem mais importante que o produto” Marques (2005, p. 113). O
grande desafio era buscar alternativas para resgatar a verdadeira essência da dança e descobrir
como usá-la como mecanismo de conscientização e denuncias. A partir desse momento,
surgiram diferentes coreografias, diferentes temas, músicas selecionadas e escolhidas por uma
equipe de acordo com os trabalhos que se desenvolvia no CDVDH.

Mas é necessário que ele mesmo conheça a si próprio, tenha uma visão crítica,
saiba a extensão do seu potencial, reconheça as suas virtudes e também os seus
pontos frágeis, para que possam ser trabalhados, superados ou quando na
impossibilidade, conviver em harmonia com eles. (SAMPAIO, 2001, p.21)

Todo esse trabalho ocasionou na criação de verdadeiras obras de artes que


alegram, educam, conscientizam e denunciam. Logo após essas mudanças sofridas pelo
grupo, vieram sucessivos convites e apresentações. As coreográficas passaram então a ser
parte indispensável dos eventos que o CDVDH promoviam. Cada coreografia traz uma
mensagem de amor, indignação, denúncia, esperança e luta por dias melhores. Dentre essas
obras, vale ressaltar algumas que marcaram a história do grupo, como: Bate Lata (música
29

interpretada pela banda Beijo) em 2001, Pérola Negra (música interpretada por Daniela
Mercury) em 2002.

Foto 04 - Coreografia Pérola Negra, Clube Gigantão em Açailândia – MA.


Fonte: CDVDH

Canto das Três Raças (de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, interpretada por
Clara Nunes) em 2003.

Foto 05 - coreografia Canto das Três raças, espaço cultural do CDVDH – Açailândia – MA.
Fonte: CDVDH

Viver e não ter a vergonha de ser feliz (o que é, o que é? Interpretado por
Gonzaguinha) 2004, o espetáculo – A Perseguição contra a Libertação, em 2005.
30

Foto 06 – A Perseguição contra a Libertação, em 2005, quadra da Igreja São Francisco em Açailândia – MA.
Fonte: CDVDH
Comemoração do aniversario do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos
Humanos de Açailândia, “10 anos de CDVDH” em 2006.

Foto 07 – Espetáculo 10 anos de CDVDH, Teatro Ferreira Gullar, Imperatriz – MA.


Fonte: CDVDH
Espetáculo montado para o lançamento do Plano Estadual de Erradicação do
Trabalho Escravo no Maranhão, “Quilombagem” em 2007.

Foto 08 – Espetáculo Quilombagem em 2007, Teatro João do Vale em São Luís – MA.
Fonte: CDVDH

Espetáculo de Criação coletiva do grupo Dançarte, Turma Afixirê, “O Outro Lado


da História” em 2008.
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Foto 09 – Espetáculo O outro lado da história em 2008, espaço cultural do CDVDH – Açailândia – MA.
Fonte: CDVDH

Nas inúmeras apresentações que o grupo já realizou, acreditamos ter levado uma
mensagem de amor, indignação, alegria, denúncia e grito de liberdade, expressando nossos
sentimentos, idéias e indignações através da Arte à Serviço de uma Cultura Libertadora, de
forma lúdica, sem o detrimento da técnica. Desde a sua criação, já passaram mais de mil
crianças e adolescentes pelo grupo. No inicio, era apenas uma (01) turma mista de crianças e
adolescentes e um (01) educador. Hoje o grupo cresceu e são mais de 170 crianças e
adolescentes inseridos diretamente no grupo, sendo 06 turmas de dança: 02 de crianças de 07
a 12 anos e 04 turmas de adolescentes e jovens de 13 a 22 anos, divididas por níveis de
aprendizagem - iniciantes, intermediarias e avançadas, com 03 educadores(a) Obs.: as duas
educadoras foram iniciadas e formadas no grupo e começaram como voluntárias.

Foto 10 Turma Afixirê – Nível avançado – Foto 11 Turma Arte Movimento Negro – Nível
Adolescentes e jovens – Sede CDVDH Intermediário – Adolescentes - Sede CDVDH
Fonte: CDVDH Fonte: CDVDH
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Foto 12 Turma Arte Negra – Nível Intermediário - Foto 13 Turma Balé Negro – Nível Iniciante -
Adolescentes – Núcleo do Jacu Crianças e Adolescentes – Sede CDVDH
Fonte: CDVDH Fonte: CDVDH
Fonte: CDVDH

Foto 15 Turma Hora Certa de Brincar – Iniciante


Foto 14 Turma Hora Certa de Brincar – Iniciante
e Intermediário – Crianças de 07 a 12 anos Sede
e Intermediário – Crianças de 07 a 12 anos
CDVDH
Núcleo do Jacu
Fonte: CDVDH

O grupo se apresenta com mais freqüência em escolas, comunidades, teatros,


assentamentos e eventos em geral. As crianças e adolescentes que participam das
atividades promovidas pelo grupo DANÇARTE, se entregam de forma incrível à magia e a
ginga da dança. Através dela, acreditamos poder transformar a nossa realidade/sociedade e
a das nossas crianças e adolescentes.
A partir do objetivo principal do CDVDH, procuramos desenvolver nossas
atividades, que sempre são realizadas por uma equipe composta por: Coordenadora das
atividades culturais, agentes dos bairros e educadores, que reunidos periodicamente,
planejam, realizam e avaliam as ações. É nesta reflexão das nossas ações que procuramos
desenvolver as atividades. A busca pela forma mais correta de realizar este trabalho é
diária. Abaixo apresentamos a estrutura funcional desenvolvida no CDVDH, pelo
DANÇARTE, uma descrição dos passos que é seguido pelo grupo.

1. O Projeto: Em meados do mês de novembro de cada ano, é necessário ser


encaminhado a MANOS UNIDAS2 um projeto com o objetivo, justificativa,
33

descrições das ações de trabalho para o ano seguinte as previsões financeiras. Esse
projeto é feito pela coordenação das atividades culturais. Se projeto for aprovado, a
verba é destinada ao CDVDH em duas parcelas: uma no inicio do ano e outra no
meio do ano após prestação de contas do primeiro semestre;

_____________
2. Uma organização não governamental para o desenvolvimento (ONGD) católica, de voluntários.
Nasceu como uma campanha pontual contra a fome e a partir de 1978 tem plena personalidade jurídica,
canônica e civil, como organização, passando a se chamar Manos Unidas.
2. As Avaliações e Planejamentos: A equipe das atividades culturais, dança, teatro e
capoeira, se reúnem durante uma semana para avaliar as ações do ano ou semestre
anterior e discutir e planejar a ação para o semestre ou ano seguinte;
3. As Inscrições: Para se inscrever no grupo DANÇARTE, os educandos (menor de
idade) têm que se dirigir acompanhados dos pais ou responsáveis até a sede do
CDVDH ou ao núcleo onde será realizada a atividade, preencher uma ficha de
inscrição, as inscrições serão feitas pelos educadores com a ajuda de alguns
voluntários, nos anos anteriores às inscrições eram feitas pela coordenação;
4. O Diagnóstico: è realizado com o objetivo de saber os anseios individuais de cada
educando, as características de cada turma e suas expectativas;
5. As aulas: começam com uma parte teórica sobre dança: origem, função,
classificação e outros. Depois partimos para abordagem pratica da dança:
aquecimento, alongamento, aula “conteúdos específicos” e relaxamento; As aulas
seguem uma seqüência progressiva, para iniciar as aulas é necessário que os
educandos estejam usando uma vestimenta que não comprometa a realização dos
movimentos, essa vestimenta é doada pelo projeto após a chegada da primeira parte
do recuso e é composto por camiseta e calça/corsário; Antes de começar à aula,
realizamos uns momentos espirituais, com uma oração, respeitando todas as
manifestações religiosas;
6. Das Formações: acontecem uma vez por mês e é realizada por uma equipe de
adolescentes que compõe as atividades culturais. Geralmente as palestras são
ministradas por educandos que já participam das atividades a mais de um ano;
7. As Apresentações: é uma outra etapa importante nesse processo, na preparação das
coreografias os educandos participam da construção junto com o educador, os
mesmos pesquisam, questionam e criam as coreografias. Tais coreografias são
34

temáticas e sempre estão tratando sobre momentos vivenciado ou ações do


CDVDH.

Nas atividades culturais desenvolvidas no grupo DANÇARTE, o mais


importante são os meios que conduzem ao resultado final. Brikman (1989, p. 25) confirma
essa opinião com o seguinte dizer: “é mais valioso o próprio processo de desenvolvimento
que o eventual resultado que se obtenha”. Dentro dessa perspectiva temos como objetivos
desenvolver a capacidade de trabalhar em equipe, a responsabilidade, o lidar com as
diferenças tanto de etnia, sexo e/ou religião, respeitar a vida, cuidar do meio ambiente
entre outros. Segue abaixo uma estrutura criada pelo CDVDH a partir da socialização dos
trabalhos desenvolvidos, com o objetivo de facilitar a realização dos encontros e a
execução das ações. O grupo pensa no processo de formação dos educandos como um
todo: corpo, alma, coração, mente e espírito, e não como um ser dividido. O objetivo é
desenvolver o ser humano por completo, nos campos: intelectuais, artísticos, motores,
psicológicos, humanos. Nunca imaginamos em desenvolver nos educandos só habilidades
especificas, seja em teatro, dança ou capoeira, até porque não acreditamos que isso possa
ser possível.
Para Nidelcoff (1982, p. 21) em livro uma escola para o povo, nos diz que: “Se
não possuímos objetivos claros, não somos educadores”. Durante o desenvolvimento das
aulas, de forma critica, fomos percebendo o que faltava para alcançar nossos objetivos,
sabíamos que tínhamos que desenvolver o ser humano como um todo, lhe proporcionando
habilidades, no que diz respeito à formação em busca da cidadania. A questão é qual
mecanismo usar para alcançar esse objetivo? Nesse sentido iniciamos a busca de parcerias
e a pesquisar sobre outras entidades que já tinham um trabalho com essa linha de atuação.
Percebemos também que nos faltava referências teóricas, e sabíamos que tínhamos uma
jornada longa e que todo ainda estava por ser construído. Mesmo com todas essas
dificuldades os resultados alcançados pelo CDVDH através do grupo DANÇARTE são
espetaculares, sendo realizado de forma intuitiva e apaixonante.
35

Dentro do grupo DANÇARTE, a dança sempre foi pensada como um


movimento que possibilita um resgate, ou uma aproximação do ser humano com os
problemas sociais. O trabalho desenvolvido também de forma curiosa nos faz experimentar
o gosto da pesquisa e de suas possibilidades. Acreditamos também necessitar solucionar
questões que favoreceriam o desenvolvimento do grupo, como acompanhamento
pedagógico, psicológico e de assistência social. Os educandos têm muitos problemas,
dentre esses os de comunicação familiar, gerando inúmeras perturbações psíquico-sociais,
relatados pelos mesmos, como preconceito, violência e descriminação, ao chegarem ao
Centro de Defesa às crianças, adolescentes e jovens compartilham suas mais diversas
experiências conosco, na medida em que os problemas são comunicados vamos tentando
resolver ajudando-os a elaborarem uma percepção critica e que contribua a melhorias do
mesmo e de sua família, o critério que usamos para minimizar esses problemas é o bom
senso e a lógica com “diálogo” e a Legislação a partir dos Direitos Humanos em ônus de
“punição”.
O grupo tem buscado diretrizes e parâmetros para o ensino da dança, muitas
formas foram usadas para nortear esse trabalho, fomos tradicionalistas no processo de
aprendizagem e ensino da mesma, contudo evoluímos na compreensão do ato de ensinar e
aprender, chegando hoje a exercermos realmente o que pregamos ser: democráticos,
solidários, fraternos. Mantendo como filosofia do nosso grupo: “defender a vida onde for
mais ameaçada e os direitos humanos onde forem menos reconhecidos, com atenção
privilegiada aos mais pobres e oprimidos” (grifo nosso).

4.1 Arte de educar no DANÇARTE.

O grupo conta hoje com uma equipe de três educadores, para ser um educador
de dança do grupo precisa passar por um verdadeiro caminho de mudanças intrapessoais.
Tem que ser um educador como descreve Freire (2007): “As palavras a que falta a
corporeidade do exemplo pouco ou quase nada valem. Pensar certo é fazer certo”. Um
educador no CDVDH e no grupo DANÇARTE, tem que assumir que os seus atos falarão
muito mais que suas palavras, seu comportamento muito mais que os seus passos de dança.
O educador de dança tem que ser um exemplo de vida, assumindo um comportamento de
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cooperação, companheirismo, de amizade e sobre tudo o papel de educar o educando como


um todo: Cabeça, Alma, Corpo, Mente e Coração. Os educadores precisam além de saber
compartilhar seus conhecimentos, proporcionar aos educandos a sua produção, precisa
intervir e ou modificar a realidade em que ele vive. “Dinamismo, criatividade,
espontaneidade deverão ser características principais dos programas de aprendizagem
motora” (NANNI, 2001, p.29).
“É pensando criticamente a pratica de ontem que se pode melhorar a próxima
pratica” Freire (2007). Dentro dessa perspectiva de ação e avaliação é que podemos
realizar as ações do grupo, tanto os educadores são avaliados por eles mesmos como por
uma equipe que sempre se coloca a disposição para ajudar, essa é equipe é chamada de
secretária executiva do CDVDH, cargo esse exercido por 09 pessoas que são responsáveis,
pela articulação das equipes estruturais do Centro de Defesa, Balcão de Direito, Atividades
Culturais, CODIGMA (Cooperativa para a Dignidade do Maranhão) dentre outras. Reza o
estatuto social da entidade que os mesmos devem ser escolhidos em Assembléia Geral,
formada por sócios do CDVDH.
Essa equipe é chamada de educadores sociais, são as pessoas que estão à frente
do CDVDH, como se diz numa analogia: é o coração do Centro, tem como
responsabilidade estimular, articular e orientar todos os trabalhos desenvolvidos. Os
educadores de Dança do CDVDH são pessoas contratadas através do Instituto de Dança do
Sul do Maranhão – IDASULMA, entidade essa que disponibiliza os educadores para o
CDVDH, por tempo determinado, esses contratos duram em torno de 11 a 12 meses que
correspondem ao tempo de execução de cada projeto, após avaliação anual, se recontrata
ou não os educadores, não se tem um critério totalmente definido para a contratação dos
educadores, no caso de editais. A importância da formação acadêmica não é fator
determinante para a contratação de um educador, vale mais o critério e o conhecimento
como ser humano do que como acadêmico, embora os conhecimentos específicos em cada
área de trabalho precisem ser satisfatório. O Centro prefere apostar no crescimento
individual a partir das experiências coletivas. Sempre oferece cursos de capacitações em
diversos temas, desde os psicológicos, religiosos, específicos em cada área de trabalho,
palestras e outros.
Além de proporcionar uma forma de lazer artístico e cultural alternativo e de
forma gratuita, o grupo ainda se preocupa com a formação profissional dos educandos, isso
se dá através da criação de projetos paralelos aos projetos ditos fixos. Dentre outros
37

projetos temos o projeto denominado Curso de Formação de Agentes Populares em Dança:


afro e popular projeto esse desenvolvido e oferecido pelo CDVDH através do grupo
DANÇARTE, Todo esse processo de formação foi de grande importância para o
desenvolvimento dos nossos educandos que a partir do inicio de 2007, começaram a
exercer o oficio de educadores sociais em dança, compartilhando seus conhecimentos com
as crianças e adolescentes de vários bairros de Açailândia e região.

5 A PESQUISA: seus aspectos metodológicos e análise dos dados.

A Pesquisa foi realizada de agosto de 2007 a maio de 2008, com o grupo


Dançarte do CDVDH, localizado na cidade de Açailândia / MA. Como procedimento
metodológico, foi realizada uma pesquisa de campo de natureza aplicada, procurando o
aprofundamento de uma realidade específica, por meio da observação das atividades do
grupo apresentado e de entrevistas por questionários com pessoas que participam na
construção do projeto, dentre eles a família, a escola, agentes de bairro, educadores, na
busca de informações, no qual foram abordados vários aspectos do desenvolvimento do ser
humano, configurando a presente pesquisa como exploratória proporcionando maior
familiaridade com o problema, de como a dança é instrumento de educação e cultura pelo e
no processo de ensino aprendizagem, envolvendo levantamento bibliográfico, entrevistas
com pessoas experientes no campo do objeto pesquisado, assumindo a forma de pesquisa
bibliográfica e estudo de caso.
Foram elaborados questionários para educandos do Dançarte, 02 educadoras do
grupo, 01 coordenadora das atividades culturais do CDVDH, 02 professores da Escola
estadual Carlos Drumond de Andrade que tem um maior número de alunos participando do
grupo Dançarte, 01 agente de bairro e 03 famílias, cada seguimento propiciou dados
relevantes para fomentação desta pesquisa. Dentre professores, coordenadores, educadoras,
agentes de bairros e familiares, persistimos em 04 perguntas, a análise destas segue sobre a
forma a ordem de relatos apresentados abaixo:
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1 Como você acha que o grupo Dançarte contribui com a formação humana dos
educandos?
Educadora 01: Abrindo nossa mente para enxergar o mundo lá fora e construir
a nossa própria identidade. Além de aprender a dançar; Educadora 02: A questão das
formações que eles recebem e podem está usando lá fora na vida. Coordenação: Ao longo
destes anos, pude perceber que a auto-estima, a relação com o seu corpo e do outro, a
socialização tem crescido de uma forma bem perceptível e isso vem se estendendo para o
meio social em que eles vivem. Família 01: Depois que ela começou a participar das aulas
ela melhorou muito em casa e na escola. Família 02: Antes dela participar do grupo, ela era
muito quieta agora ela está mais animada e interessada e melhorou muito a socialização
com os colegas. Família 03: Minha filha desenvolveu muito, cresceu pessoalmente e minha
sobrinhase tornou-se mais responsável com os seus afazeres, acho que isso é por causa das
aulas no grupo. Agente do Bairro: Os meninos que estão envolvidos nas atividades se
distanciam das drogas e da prostituição. O que é ensinado não é só dança, mas a viver e ter
dignidade. Professor 01: O que dar para percebermos é que eles não aprendem só a dançar;
Professor 02: Com o aceso à arte e a cultura de forma gratuita.

2 Você acha que os educandos que participam do grupo Dançarte tem


comportamento diferente de outros (a) crianças, adolescentes e jovens da mesma
faixa etária? Por quê?
Educadora 01: A grande maioria sim. Acredito que eles já se cobram mais e
sabem o que certo é errado. Educadora 02: A forma com que eles se comportam em
eventos por exemplo: não jogando lixo no chão, respeitando os artistas que estão se
apresentando, já pode ser um ponto diferente.; Coordenação: São mais inteligentes e
espontâneos, talvez pelo fato de terem que prestar mais atenção na musica que os embala e
agregar isso na coreografia, trazendo para estes um maior poder de concentração e
assimilação de idéias consequentemente o cérebro trabalha mais rápido e responde mais
rápido aos comandos. Professor 01: Integração grupal e maior facilidade em
interpretação/apresentação em sala de aula, às vezes nas disciplinas que envolvam cálculos
haja algum tipo de dificuldade, que não chega a prejudicar com tanta intensidade.
Professor 02: A principal diferença está na capacidade de maior participação,
principalmente em atividades direcionadas ao público. Família 01: Acho que tem, vejo
muitos meninos lá fora desrespeitando os pais e os mais velho, os que estão aqui no grupo
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não os vejo fazendo isso. Família 02: Às vezes sim às vezes não, mas acredito que é mais
pra sim. Família 03: O grupo Dançarte trabalha a pessoa como um todo procura
desenvolver e conscientizar o caráter humano de cada participante. Agente do Bairro:
Sim, os que participam se comunicam mais.

3 Você acha que a ideologia do CDVDH e do grupo Dançarte “defender a vida onde
for mais ameaçada e os direitos humanos onde forem menos reconhecidos com
atenção privilegiada aos mais pobres e oprimidos” é verdadeiramente vivida dentro
do grupo? Justifique sua resposta.
Educadora 01: Não é vivida. Eu acredito que o entendimento com o objetivo
eles tem, mas, falta mais tempo ou uma abertura de mente maior para ter isso como foco
principal para começar a viver a filosofia do Centro; Educadora 02: Ainda não, muitos
estão no grupo pela dança, ainda não amadureceram como ser humano para abraçar a causa
do CDVDH; Coordenação: Acredito que este artigo constado no Estatuto do CDVDH é o
combustível que faz mover as ações do nosso dia-a-dia. Não poderia ser diferente com as
atividades culturais, neste caso a dança. Digo isso porque todas as coreografias trabalhadas
ao longo destes oito anos, todas as musicas selecionadas para tais montagens tem uma
proposta que é levar uma mensagem de vida, esperança e arte, sobretudo para os menos
favorecidos; Agente do Bairro: Minha resposta é não, mas não sei dizer por quê.

4 O que você percebe de positivo e negativo dentro do grupo?


Educadora 01: Negativo: às vezes as pessoas não criam seu espaço e não
ajudam em certas atividades extras que o CDVDH propõe; Positivo: Acho que é o espírito
de união, solidariedade, companheirismo, que sempre estão em evidências; Educadora 02:
Positiva é igualdade, por mais que haja uma diferença entre os educandos todos procuram
se tratar de forma igual. Negativo: Não concordo mais com a idéia de ser grupo Dançarte,
o projeto cresceu tanto que se criaram vários grupos dentro dele, então acho que deveria
ser projeto DANÇARTE contendo vários grupos apoiado pelo projeto; Coordenação:
Positivo é a capacidade de socialização e aceitação, o amor que a cada dia cresce pela
dança, o poder de criatividade tanto do educando quanto dos educadores. A mensagem que
eles levam a quem precisa através da dança; Negativo é o risco do estrelismo, do fechar-se
em si mesmos. Esse risco todo grupo é suscetível de ter pelo apreço que às vezes
despertam por uma atividade bem feita e que às vezes possam não encarar com humildade.
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Professor 01: De positivo destacamos o acesso à arte e a cultura; Negativo é que o grupo
poderia se destacar mais no cenário regional e nacional; Professor 02: Eu acho que só em
possibilitar que esses jovens artistas se apresentem com uma identidade cultural definida é
um avanço; Negativo é que eles precisam se preparar mais; Família 01: Positivo é o
aprendizado que eles podem ter; De negativo acho que tem alguns que vem para a aula e
ficam brincando; Família 02: Positivo, estimula o interesse pelo aprendizado na escola;
Negativo, muitas crianças não levam as aulas a sério; Família 03: Positivo é a organização
como um todo e negativo às vezes sem perceber deixando algumas crianças magoadas;
Agente do Bairro: Positivo é as próprias aulas e a participação deles e negativo tem
momentos que me acho excluída, isso pra mim é negativo.
Partindo das informações apresentadas pelos entrevistados, se faz necessário
justificarmos a escolha desses questionamentos, por entendemos que a entrevista com
pessoas de acesso aos educandos foi primordial para descobrirmos como, e se o grupo
Dançarte contribui com a formação humana dos educandos, nossas questões norteadoras se
construíram por base da filosofia do grupo e vivencias com a comunidade pesquisada.
Demonstrar esse diálogo com os entrevistados nos permitiu visualizarmos os
resultados do ponto de vista positivo e negativo, sobre a fala aqui apresentada é perceptível
pontos discordantes no momento de convivência direta entre família, professores,
coordenação, este fato se revela pela postura de função de contato exercido por cada
entrevistado, além de pontuarmos sobre a convivência, é instigante a rotina no que se refere
à filosofia aplicada como processo de ensino/aprendizagem aos educandos, muitos se
encontram no Centro de Defesa pela arte de aprender a dançar, sem ao menos conseguir
assimilar tais modificações em um espaço de tempo inicial, que beneficiem sua própria
conduta de vida, é comum observado pelas entrevistas, as mudanças comportamentais a
quem já participa do grupo em tempo de permanência continua, no resgate de valores, no
desenvolvimento da cidadania plena, e pontuarmos apenas os momentos positivos desse
encontro não nos garantiriam a sobrevivência do mecanismo de trabalho e o ordenamento
das estruturas funcionais pelo CDVDH.
Na base foco da pesquisa, manteve a abordagem quantitativo com o método
estático para apresentar o resultado da entrevista realizada com 73 educandos que
compreende o gênero masculino e feminino entre a faixa etária de 07 a 23 anos sendo
selecionados por amostragem das atividades vinculadas em um período de 01 semana com
intuito de analisar aspectos de formação sócio educacional aos que estão no grupo num
41

espaço de 02 meses aos mesmos que estão num período de 07 anos. Os dados apresentados
abaixo percorrem dois momentos, um que se direciona a questionarem os educandos antes
da sua entrada no grupo e o segundo depois de sua estada no grupo, também podemos
refletir nos resultados colhidos quanto à experiência e capacidade de entendimento
atendendo aos seus limites de idade, sexo, religião e intelectualidade.
No quadro demonstrativo segue questões norteadoras para entrevista com os
alunos do grupo Dançarte, foi selecionado questões comparativas na estruturação e leitura
dos gráficos apresentados em seqüência.
Questionário de pesquisa com o grupo DANÇARTE
Antes de entrarem no grupo você apresentava? SIM NÃO

a) Dificuldades para se enturmar? (socialização) 39 34


b) Comportamentos de falta de respeito com os seus professores e/ou 16 57
colegas?
c) Dificuldades em obedecer a regras? 30 43
d) Dificuldade em se concentrar em atividades escolares? 45 28
e) Facilidade em participar de atividades em grupo? 46 27
f) Você tinha liderança entre os seus amigos? 47 26
g) Você possui comportamentos de insegurança ou medo? 55 18

Depois que você entrou no grupo DANÇARTE, o que mudou? SIM NÃO

a) Sua relação com as outras melhoraram? 70 3


b) Passou a ser mais comprometido em suas atividades? 66 7
c) Aumentou sua capacidade de expressão? 69 4
d) Melhorou o aproveitamento em atividades ou disciplinas da escola? 65 8
e) Passou a ser uma pessoa mais criativa? 69 4
f) Passou a ser uma pessoa mais critica? 54 19
g) Melhorou o comportamento de insegurança ou medo? 62 11

A análise dos dados nesse momento gerenciou o conhecimento dos métodos


estatístico em abordagem quantitativa, vale a pena ressaltar que todo critério ético assumido
na entrevista mantém em forma de relatos apenas os itens que fomentou a relevância da
proposta de formação sócio-cultural do educando, a abordagem qualitativa torna-se
necessário ao transparecer elementos de entendimento do processo de ensino/aprendizagem
e de organização da leitura dos resultados.
42

Questionário de pesquisa do grupo DANÇARTE


Antes de entrarem no grupo você apresentava? SIM NÃO
% %
a) Dificuldades para se enturmar? (socialização) 53,42 46,58
b) Comportamentos de falta de respeito com os seus professores e/ou 21,91 78,09
colegas?
c) Dificuldades em obedecer a regras? 41,09 58,91
d) Dificuldade em se concentrar em atividades escolares? 61,64 38,36
e) Facilidade em participar de atividades em grupo? 63,01 36,99
f) Você tinha liderança entre os seus amigos? 64,38 35,62
g) Você possui comportamentos de insegurança ou medo? 75,34 24,66

Depois que você entrou no grupo DANÇARTE, o que mudou? SIM NÃO
% %
a) Sua relação com as outras melhoraram? 95,89 4,11
b) Passou a ser mais comprometido em suas atividades? 93,15 6,85
c) Aumentou sua capacidade de expressão? 94,52 5,48
d) Melhorou o aproveitamento em atividades ou disciplinas da escola? 89,04 10,96
e) Passou a ser uma pessoa mais criativa? 94,52 5,48
f) Passou a ser uma pessoa mais critica? 73,97 26,03
g) Melhorou o comportamento de insegurança ou medo? 84,93 15,07

Apresentaremos os gráficos em seqüência das questões propostas no quadro


superior.
Na questão quanto às dificuldades do educando para se enturmar, manter uma
socialização prazerosa com os demais colegas de sala de aula foi constatado que antes do
ingresso no grupo de dança 53,42% dos entrevistados disseram senti-la, sua melhoria e
beneficio próprio veio ser evidenciado nos dados que demonstram sua relação com os
outros colegas de turma e de grupo no que concerne 95,89% do total de 73 educandos.
Observar gráfico 01 e 02.

Gráfico 01: Antes de entrar no grupo você apresenta.


43

Gráfico 02: Depois que você entrou no grupo Dançarte, o que mudou.

De todos os relatos em entrevistas com professores e coordenadores, desde aqueles


que fomentam a escola publica já mencionada anteriormente ate ao que compõem o grupo
Dançarte é verificável a grande melhoria na condição de comportamento dos educando no
que diz respeito à atenção, criatividade, e seu comprometimento com as atividades
propostas, onde 93,15% dos educandos melhoraram seu rendimento escolar. A falta de
respeito com seus professores e/ou seus colegas também foram trabalhadas em entrevista,
onde percebemos um avanço significativo na mudança comportamental dos mesmos e que
configura 78,09%. Verificar gráficos 03 e 04.
44

Gráfico 03: Antes de entrar no grupo você apresenta.

Gráfico 04: Depois que você entrou no grupo Dançarte, o que mudou.

Quando questionados sobre as dificuldades em obedecerem a regras 41,09%


mantiveram sua afirmação que SIM, que obtinham essa dificuldade, ao adentrarem no
grupo de dança, pela necessidade continua de doação e persistência na elaboração de
passos e ensaios foram conduzidos a uma melhoria em suas capacidades de expressão por
modelarem seus anseios e configurarem sua realidade aos objetivos onde 94,52%
identificaram essa melhoria. Ver gráficos 05 e 06.
45

Gráfico 05: Antes de entrar no grupo você apresenta.

Gráfico 06: Depois que você entrou no grupo Dançarte, o que mudou.

Muitos dos problemas enfrentados com alunos de baixa renda se restringem na fala
do educador pela sua dificuldade em se concentrar nas atividades escolares e no índice de
repetência, assim como, de desistência escolar, apesar dos processos avaliativos não
estarem em discussão nessa proposta de pesquisa verificamos que as atividades
disciplinares vinculadas a atividades artístico-culturais têm valorizado o mecanismo de
ensino e facilitado resultados com os mesmo, em dados 61,64% tinham inúmeras
dificuldades escolares, a coordenação verificou menor evasão e mais tranqüilidade para
transmissão dos conteúdos em 89,04% dos participantes do grupo. Ler Gráficos 07 e 08.
46

Gráfico 07: Antes de entrar no grupo você apresenta.

Gráfico 08: Depois que você entrou no grupo Dançarte, o que mudou.

Com a inserção da dança em praticas continuas de aprendizagem e com os alunos


que recebemos em sua maioria de escolas publicas a aplicação do ensino da dança
afro-brasileira facilitou em 94,52% a criatividade dos mesmos e 63,01% sua integração a
movimentos de caráter social na comunidade. Avaliar Gráficos 09 e 10.

Gráfico 09: Antes de entrar no grupo você apresenta.


47

Gráfico 10: Depois que você entrou no grupo Dançarte, o que mudou.

Quanto à liderança dos educandos exercidas em sala de aula, como em seu


convívio social 64,38% dizem possuírem e 73,97% passaram a possuir uma postura mais
critica, efeitos esses dos já aqui citados projetos que discutem as formações sociais,
culturais e a própria realidade de vida da comunidade. Observar Gráficos 11 e 12.

Gráfico 11: Antes de entrar no grupo você apresenta.


48

Gráfico 12: Depois que você entrou no grupo Dançarte, o que mudou.

Dentre as inúmeras melhorias verificáveis pelo processo de ensino/aprendizagem


o comportamento dos educandos diante da insegurança social e os medos construídos pela
própria vivencia, traz como um triste resultado 75,34% dos que chegam ao Centro de
Defesa em busca de ajuda, das mais diversas possíveis outrora apresentado nessa pesquisa,
mas a certeza que os seus envolvimentos com as atividades tem garantido uma
49

perseverança e real mudança em 84,93% dos educandos, esses dados são diagnosticado
pelos acompanhamentos com seus familiares. Ver Gráficos 13 e 14.

Gráfico 13: Antes de entrar no grupo você apresenta.

Gráfico 14: Depois que você entrou no grupo Dançarte, o que mudou.
50

6 CONCLUSÃO

Os resultados percebidos durante o processo de pesquisa e elaboração deste


trabalho foram importantes na perspectiva de compreendermos e afirmarmos a dança
afro-brasileira como mecanismo de educação, arte e cultura que proporciona aos seus
praticantes além de benefícios físicos, valores humanos, sociais e educacionais, sendo o
mesmo um aliado importante no processo educacional de crianças, adolescentes e jovens
tanto no ensino informal quanto no ensino formal.
Com o objeto de pesquisa aqui estudado percebemos que o fato do mesmo ser
desenvolvido de forma informal permite uma maior participação na construção da
aprendizagem, até pelo próprio fato dos educandos não precisarem de notas como processo
de avaliação para mensurar o grau ou nível dos seus conhecimentos, sendo o mesmo
observado nas mudanças comportamentais dos educandos, com isso facilita a participação
dos educandos no processo educacional com os resultados, agindo de forma direta na vida
social, escolar e familiar dos que dele participam.
Observamos também, que o grupo apresentou um crescimento de forma
impressionante e que hoje com mais de 170 participantes, não pode ser mais considerado
51

apenas como um grupo, mais como um projeto que oportunizou o aparecimento e


crescimento de várias outras equipes distribuídos em 07, e que todos seguem a mesma
linha de trabalho usando a dança afro-brasileira e a filosofia do Centro, como norteador
dos seus trabalhos. Torna-se importante ressaltarmos que cada grupo possui várias
características que os diferenciam, fazendo assim com que a diversidade de idéias,
objetivos e formas seja fator predominante no que diz respeito aos resultados dos trabalhos
desenvolvidos pelo grupo. Há uma necessidade de apoio de profissionais de outras áreas do
conhecimento como psicólogos assistentes sociais e pedagogos, mesmo diante de todos
problemas o grupo não fez com que os trabalhos deixassem de acontecer alcançado
resultados impressionantes. A partir das experiências por nós vivenciadas dentro do
Dançarte e da pesquisa realizada, acreditamos que a presença desses profissionais
influenciará diretamente nos resultados alcançados pelo grupo que poderão ser ainda mais
satisfatórios.
Um outro ponto como sugestão é que o grupo organize seus trabalhos de forma
progressiva, sem perder suas características e raízes, para que os educandos saibam quando
podem entrar no grupo e quando poderão “sair”, até pela própria questão de rotatividade,
mas, falta uma estrutura de periodização. Não é nossa intenção transformar o grupo
Dançarte em uma escola de dança, mas pelo trabalho aqui apresentado acreditamos que
essa estrutura organizada é um dos fatores que poderá contribuir para um salto de
qualidade tornando o grupo uma referência ainda maior do processo de
ensino/aprendizagem da dança afro-brasileira.
A dança afro-brasileira como processo de ensino/aprendizagem é uma grande
aliada da educação formal, mas temos que levar em consideração como ela é apresentada.
Para Vianna, (2005, p. 34) “o desnivelamento existe, e cada caso é um caso”, temos que
entender que quando iniciamos um trabalho com a dança afro-brasileira é importante
levarmos em consideração o que os educandos conhecem sobre a dança, a sociedade em
que eles estão inseridos, os movimentos da dança, para que possamos realmente
apresentá-la de forma positiva e como meio de educação.
Uma sugestão das escolas públicas nesta pesquisa apresentada em relação aos
educandos do grupo é que os mesmos possam contribuir com a escola no intuito de
articular e incentivar a formação de novos grupos artísticos no espaço escolar.
Tecer esse trabalho monográfico foi gratificante mesmo diante de todas
dificuldades enfrentadas na elaboração de dados teóricos, com a ausência de material
52

bibliográfico especifico, com a falta de registros escolares sobre a inserção da dança no


processo educacional. Por parte do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de
Açailândia – CDVDH, obtivemos total incentivo na elaboração da pesquisa, outrora somos
sabedores dos caminhos arduamente percorridos ate aqui e o quanto temos ainda que
percorrer, para darmos forma a valorização da dança no campo cientifico, a academia
necessita de uma releitura da própria forma de criar, bebendo na dança afro-brasileira
alcançamos o molejo, a ginga, o espírito de coletividade, para contribuirmos com uma
sociedade que se inova dia pós dia em um processo continuo e evolutivo da humanidade,
onde nossas raízes permaneçam vivas e onde buscamos nos fundamentar na construção da
nossa identidade usando a arte a serviço de uma cultura libertadora.

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VIANNA, Klauss. A dança. colaboração de Marco Antonio de Carvalho 2. ed. São Paulo:
Summus, 2005.
55

ANEXOS
56

PERFIL SÓCIO POLÍTICO E ECONÔMICO DO PÚBLICO ENVOLVIDO NAS


ATIVIDADES CULTURAIS – CDVDH

1. TURMA: ( ) Dança ( ) Teatro ( )Capoeira Sede – Núcleo - Turma

1.1 QUANTIDADE DE INSCRIÇÕES EFETUADAS POR TURMA: 36


1.2 SEXO: ( ) masculino; ( ) feminino.

1.3 ESCOLA: __ rede municipal; __ rede estadual; __ particular __ Sem informação

1.4 FAIXA ETÁRIA: __5 a 7 anos; __ 8 a 10 anos; __ 11 a 13 anos;


__ 14 a 17 anos; __18 a 20 anos; __ acima de 21 anos.

2. SITUAÇÃO ECONÔMICA:
___menos de um salário; __ um salário __mais de um salário __ ñ consta informação

3. CONDIÇÕES DE MORADIA:
57

__ alvenaria; __ taipa; __ madeira; __ outro

3.1. CONDIÇÕES DO IMOVEL:


__ própria; __ cedida: __ alugada; __ outro.

3.2, COM QUEM MORAM:


__ pai; __mãe; __ pai e mãe; __ avós; __ outros __ ñ consta

3.3 Portadores de necessidades especiais:_______________qual________________

4.POLITICAS PÚBLICAS:
__ Bolsa Família; ____ Vale Gás; __ Bolsa Escola; ____ PETI;
_______________ outro, qual? ___; Ñ consta
OBS.:

5. TENTAR VISUALISAR QUEM FEZ REMATRICULA E QUANTOS O


FIZERAM POR TURMA._____

5.1 NUMERO DE NOVAS INSCRIÇÕES:_____


Assinatura do educador: Marcelo Grangeiro dos Santos______
Assinatura da agente da cidadania:________________________________
Coordenação: Terezinha Soares_______________________________

Açailândia, fevereiro de 2008.


58
59
60

APÊNDICE

Questionário de pesquisa do grupo DANÇARTE


Educandos

Nome completo:
Turma:
Idade:
Quanto tempo participa do grupo Dançarte?

Assinale com sim ou não as repostas abaixo:

Antes de entrar no grupo você apresentava:

a) Dificuldades para se enturmar?


b) Comportamentos de falta de respeito com os seus professores e/ou
colegas?
61

c) Dificuldades em obedecer regras?


d) Dificuldades em realizar passos de dança?
e) Comportamentos agressivos?
f) Dificuldade em se concentrar?
g) Facilidade em participar de atividades em grupo?
h) Boa coordenação motora?
i) Facilidade em aprender novos passos de dança?
j) Boa flexibilidade;
l) Bom ritmo musical;
m) Liderança com os seus amigos?
n) Comportamentos de insegurança ou medo?

Observações:

Depois que você entrou no grupo Dançarte, o que mudou?

a) Melhorou sua postura corporal?


b) Sua relação com as outras pessoas?
c) Melhorou sua afetividade?
d) Passou a ser mais organizada?
e) Passou a ser mais responsável?
f) Apresentou melhora no ritmo musical?
g) Teve melhora na coordenação motora;
h) Aumentou sua capacidade de expressão?
i) Você se tornou uma pessoa mais alegre e espontânea?
j) Passou a ser uma pessoa mais criativa?
l) Melhorou o equilíbrio emocional?
m) Aprendeu a controlar sua impulsividade?
n) Melhorou o aproveitamento em outras atividades ou disciplinas da escola?

o) Passou a ser uma pessoa mais critica?


p) Melhorou o sentimento de insegurança ou medo?
62

Observações:

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