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A ESTABILIDADE DO SERVIDOR PÚBLICO DIANTE DA

POSSÍVEL REFORMA ADMINISTRATIVA

Mayara Alves Melo1


Marina Pinheiro Napoleão Amâncio2
RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma análise sobre a mudança
acerca da estabilidade do servidor público implantada pela PEC da Reforma
Administrativa, apresentada pelo governo. Procurou-se abordar essa temática devido ao
grau de destaque que o assunto vem ganhando dentro da esfera política brasileira como
também à classe concurseira, pois tal reforma só afetará aos novos concursados, haja
vista que em decorrência do direito adquirido os atuais servidores não sofrerão os
efeitos de tal Reforma. Como também esclarecer os pontos positivos e negativos que a
mudança pode trazer aos futuros servidores públicos. A metodologia aplicada é a
qualitativa composta de revisão bibliográfica e leituras de matérias jornalísticas e
artigos científicos sobre o tema. Portanto, a estabilidade do servidor público que se
consolida como direito adquirido constitucionalmente, pode passar por um processo
mais criteriosos de avaliação de desempenho, como também a um novo processo para se
estabelecer a estabilidade ao servidor, ampliando o prazo de estágio probatório e
instituindo uma espécie de “trainee”, período de experiência. A proposta de emenda a
constituição se fundamenta na ideia da redução de gastos com a contratação de
servidores e no princípio da eficiência dentro da Administração Pública.

Palavras-chave: Estabilidade; Reforma Administrativa; Serviço Público

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como principal objetivo analisar a possível reforma


administrativa formulada pelo atual governo federal, com ênfase nas mudanças que a
mesma poderá trazer ao instituto da estabilidade para os servidores públicos estatutários.
O disposto no art. 41 do Diploma Constitucional de 1988 prevê a estabilidade ao
servidor,

1
Aluna graduanda do curso de Direito da Faculdade do Vale do Itapecuru - FAI. E-mail:
mayaraamello25@gmail.com
2
que significa a garantia de permanência no serviço público, após este
cumprir alguns requisitos essenciais para a aquisição da mesma.

Com o advento da possível remodelação administrativa, o futuro servidor


público estatutário estaria sujeito a avaliações periódicas de desempenho anuais durante
toda a sua vida funcional. Como o tema se concentra em argumentos favoráveis e
contrários a respeito da periodicidade da avaliação de desempenho, buscamos esse
tema, após a avalanche que sucumbiu o cenário político brasileiro nos últimos meses,
especialmente depois dos noticiários divulgarem a possível extinção do instituto da
estabilidade para o servidor. Neste diapasão, o presente resumo tem como finalidade
apontar as possíveis modificações que tal reforma pode gerar com relação à estabilidade
dos servidores públicos da União, realizando uma breve explanação a respeito das duas
principais mudanças que versam o direito constitucional estabelecido no corpo do artigo
41 da Carta Magna Brasileira. A metodologia aplicada ao trabalho é qualitativa de
caráter exploratório e ocorreu através de consultas a artigos científicos, noticiários
jornalísticos e legislação especifica.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido a partir de uma pesquisa de cunho qualitativo com


caráter exploratório através de estudos bibliográficos e as técnicas usadas foram leituras
e análises textuais de artigos publicados na internet e de legislação esparsa. A partir
destas, a pesquisa teve como objetivo desenvolver os principais aspectos deste incidente
na seara jurídica, como também seus pontos negativos e positivos para novo cenário
administrativo do país. PERFEITO!

DISCUSSÃO E RESULTADOS

O atual governo federal divulgou através de sua Secretária Especial de


Desburocratização, Gestão e Governo Digital, do Ministério da Economia que pretende
formalizar a implementação de uma Reforma Administrativa, tendo como um dos
núcleos a análise da estabilidade no serviço público. Um dos principais motivos para a
criação deste programa de reforma seria a redução dos gastos com os futuros servidores
estáveis, estabelecendo critérios mais rigorosos na avaliação de desempenho e alterando
o caminho para se adquirir a estabilidade. A regra da estabilidade se consolidou na
Constituição de 1988, presente em seu art.41, reformada a posterioi pela EC 19/98 (que
trazia como prazo para a aquisição de dois anos), possuindo a finalidade de proteger o
servidor contra represálias e atos arbitrários da Administração, assegurando a
continuidade do exercício da função do servidor como meio de inibir os efeitos
consecutivos de um novo governo, corroborando com a honestidade e moralidade da
atividade administrativa do Estado, assegurando por fim, o respeito ao princípio da
supremacia do interesse público. Nas palavras de Alexandre Mazza, tal princípio se
apresentaria de maneira implícita na atual ordem jurídica, segundo ele:

O princípio da supremacia do interesse público seria a


demonstração de que os interesses da coletividade são mais
importantes que os interesses individuais, fazendo com que a
Administração, defensora dos interesses públicos, receba da lei
poderes especiais, situando-a em uma posição de superioridade
diante do particular. Assim, uma desigualdade jurídica entre a
Administração e administrado. (MAZZA, 2016)
Assim, a estabilidade é uma garantia constitucional ao servidor público efetivo
em decorrência de uma nomeação em concurso público. Após três anos de estágio
probatório e com avaliação de desempenho positiva concedida pela comissão, tal
estabilidade lhe é assegurada, de forma que, só pode ser demitido de sua função com
base nas hipóteses elencadas no rol taxativo do art. 41, 1º da CF/88: em virtude de
decisão judicial transitada em julgado; mediante processo administrativo, assegurado a
ampla defesa; mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, que será
instruída a partir de lei complementar, assegurando-lhe ampla defesa. A proposta da
PEC frisa exatamente a regulamentação através de lei complementar do inciso III do
art.41 da CF/88.

Contudo a proposta da PSL 116/2017, um dos projetos que constam na PEC


administrativa, traz como ponto positivo a estipulação de avaliações periódicas mais
rigorosas aos servidores, contendo fatores de avalição entre qualidade, produtividade,
relacionamento funcional, inovação, capacidade de iniciativa entre outros. A avalição
levará em consideração uma escala de 0 a 10 pontos, o servidor que não alcançar a
média de 3 pontos mínimos será exonerado do cargo por ineficiência e incapacidade
para o serviço. Contudo, lhe são assegurandos o direito ao contraditório e ampla defesa.
Essa avaliação será realizada anualmente durante toda a atividade funcional do servidor
público. O ministro da economia, Paulo Guedes, em nota divulgada pelos seus
assessores, esclareceu que essa reforma não atingirá os servidores atuais, mas tão
somente os que forem contratados após aprovação da PEC. Segundo o ministro, entre as
possíveis mudanças acerca do instituto seria a perda da estabilidade à algumas carreiras,
como auxiliares administrativos, técnicos em TI (tecnologia da informação) e equipes
de limpeza. 3

Atualmente, conforme o caput do art.41 da CF/88, somente após três anos de


efetivo exercício (estágio probatório), o servidor se tornaria estável. De acordo com a
nova reforma, de forma bem negativa, os três primeiros anos passariam a ser uma
espécie de trainee, período de experiência, e a proposta prevê a exoneração automática
do servidor ao fim desse prazo, o que dependerá da avalição de desempenho do mesmo
e, após este lapso temporal se estabeleceria um contrato entre a Administração Pública e
o servidor por um novo prazo de estágio probatório consolidado por mais sete anos e,
somente vencido esses prazos, o agente que permanecer no governo ganharia a
estabilidade.

Como mencionado anteriormente, o instituto da estabilidade foi criado para que


o servidor possuísse uma autonomia em relação aos seus atos, livres de pressões
políticas, que pudessem de alguma forma atrapalhar a execução de seu trabalho. Neste
diapasão, a existência de cargos que sejam preenchidos através da meritocracia, como
os de provimento efetivo, são essenciais, mas estariam sujeitos a um processo mais
dispendioso para a sua exoneração. Estabelecendo critérios mais rigorosos nas
avaliações de desempenho a reforma traz em seu escopo um de seus pontos positivos,
mas ao revés, a dilatação do prazo do estágio probatório junto com um novo período de
experiência se consolidaria a um retrocesso ao direito constitucional estabelecido na
Carta Magna de 1988, aos futuros servidores públicos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A exoneração do servidor público por desempenho insuficiente é oportunizada


pela CF/88 em seu art. 41 para que a Administração Pública atenda ao princípio da
eficiência, mas buscando resguardar o direito ao contraditório e à ampla defesa, sob
pena de nulidade do ato. Desta forma, a matéria da PEC formulada diz respeito a um
procedimento mais detalhado e preciso de avaliação imposto ao servidor antes que se
firme o seu desligamento. Ao mesmo tempo, traz também em seu corpo normativo um
acréscimo no prazo para se adquirir a estabilidade no setor público, acrescentando um
período de experiencia de 3 anos e estabelecendo um prazo maior de estágio probatório

3
CRUZ, Valdo. G1, 12 de novembro de 2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/blog/valdo-
cruz/post/2019/11/12/reforma-administrativa-guedes-vai-negociar-com-maia-antes-de-enviar-texto-ao-
congresso.ghtml >. Acesso em: 12 de novembro de 2019.
(sete anos), propondo ao novo servidor um prazo de 10 anos para só então adquirir a
estabilidade no serviço público.

A estabilidade é uma garantia constitucional ao servidor, desde que cumpra


os requisitos legais exigidos, e só será extinta nas hipóteses enumeradas pelo
constituinte. Pelo que nos foi apresentado até o momento, a reforma se encontra em
processo de elaboração e visa, após longos vinte anos, a regulamentação do art. 41, §1,
III da CF/88 e uma readequação no prazo da estabilidade para os servidores de início de
carreira. O instituto é, portanto, uma garantia estabelecida pelo poder constituinte ao
servidor público, o que possibilita também a impessoalidade e moralidade da
Administração, como norte a persecução da supremacia do interesse público, caso a
mudança administrativa em elaboração seja contrária a esse direito adquirido,
estaríamos diante de um retrocesso constitucional, e como consequência uma possível
inconstitucionalidade na PEC.

REFERÊNCIAS

BORTOLETO, Leandro. PLS nº116 de 2017 e a estabilidade do servidor público,


Revista Jota, 08 de agosto de 2019. Disponível em: <https://www.jota.info/opiniao-e-
analise/colunas/pensando-direito/pls-no-116-de-2017-e-a-estabilidade-do-servidor-
publico-08082019 >. Acesso em: 12 de novembro de 2019.

MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 9ª ed. São Paulo: Saraiva,


2016.

VALLE, Vivian Lima López. Quem ganha e quem perde com o fim da estabilidade no
serviço público? Revista Consultor Jurídico, 06 de outubro de 2019. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2019-out-06/opiniao-quem-ganha-fim-estabilidade-
servico-publico>. Acesso em: 12 de novembro de 2019.

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