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A SISTEMÁTICA DE CÁLCULO DA APOSENTADORIA DOS NOVOS

JUÍZES E DEMAIS INTEGRANTES DE CARREIRAS JURÍDICAS NO


SERVIÇO PÚBLICO.

JORGE FRANKLIN ALVES FELIPE 1

Como é de conhecimento geral os proventos de


aposentadoria dos servidores públicos efetivos, a partir da vigência da Emenda
Constitucional nº 41/2003, com a regulamentação da Lei Federal nº
10.887/2004, respeitadas as situações transitórias nela ressalvadas, deixaram
de ser apurados com base no princípio da integralidade e passaram a ser
submetidos a uma sistemática de cálculo idêntica à do regime geral de
previdência, considerando-se a média das 80% maiores remunerações durante
toda a vida do servidor, retroagindo-se a julho de 1994, para os que já se
achavam no serviço público anteriormente à referida data.
Na verdade, a regra da integralidade somente
persiste para os antigos servidores no benefício da aposentadoria por tempo de
contribuição. Para as aposentadorias por idade ou invalidez o critério da
integralidade não persiste independentemente da época em que o servidor
ingressou no serviço público. Essas modalidades de aposentadoria são sempre
calculadas segundo o critério da média já aludido.
Transcrevemos, a seguir, texto elucidativo sobre o
tema extraído de nosso Direito Previdenciário do Servidor Público, Forense, 1ª
Ed., pág. 100 e segs:

“Os benefícios de aposentadoria e pensão dos servidores públicos,


até o advento da Emenda Constitucional nº 41, baseavam-se na última
remuneração do servidor, sistemática alterada pela referida Emenda.

1
Juiz aposentado do Estado de Minas Gerais. Advogado. Conselheiro da JUSPREV. Professor de Direito
Previdenciário da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora.
As aposentadorias por invalidez, idade e compulsória passam, agora,
a ser calculadas pela média das contribuições, só se podendo cogitar da
adoção do critério da última remuneração, na hipótese de direito adquirido.
Nas aposentadorias por tempo de contribuição adota-se, também, o
critério da média das contribuições quando a aposentadoria for concedida com
base na regra permanente do art. 40, ou na regra prevista no art. 2º da
Emenda Constitucional nº 41.
Só há falar-se, pois, em integralidade, quando a aposentadoria, por
tempo de contribuição, for concedida com base na regra do art. 6º da Emenda
Constitucional nº 41, ou com fundamento na Emenda Constitucional nº 47.
Em ambos os casos, no entanto, os proventos não podem
ultrapassar a remuneração do servidor na atividade, para cujo conceito,
segundo entendimento que domina nos Tribunais de Contas, só entraram as
parcelas permanentes da remuneração.
O benefício previdenciário não pode ter valor inferior ao salário
mínimo, como resulta do disposto no art. 39, §3º, c.c. art. 201, §2º, da
Constituição Federal e art. 1º, §5º, da Lei nº 10.887/2004.
Muda o sistema de cálculo dos proventos de aposentadoria e
conseqüentemente pensões. Antes, o benefício era calculado com base na
antiga redação do § 3º do art. 40, ou seja, a remuneração do servidor na época
da aposentadoria, desde que o servidor, naturalmente, estivesse no cargo há
mais de cinco anos. Agora, a lei dispõe sobre esse cálculo, que considera as
remunerações utilizadas como base para as contribuições, tanto ao regime
próprio, como ao regime geral, o que já sucedia com os cálculos dos benefícios
pagos pelo INSS. Passa a haver, pois, uma média, em que as remunerações
serão atualizadas (§ 17) e não mais se considera a última remuneração. No
regime geral, essa média, por força da Lei nº 9.876/99, é de todo o período de
contribuições para os que ingressaram no sistema a partir de sua vigência e a
partir de julho de 1.994, para os antigos segurados. A perda é manifesta para o
servidor público com o novo critério. No âmbito do serviço público a matéria foi
regulada à semelhança do sistema do INSS pela Lei n 10.887/2.004, que
considera a média das 80% maiores contribuições a partir de julho de 1.994.
Com a situação jurídica atual, trazida pela EC nº 41, houve uma
modificação no sistema de cálculo dos proventos de aposentadoria e pensões,
que passam a ser calculados segundo a média dos vencimentos do servidor,
afastada a integralidade dos proventos. A paridade, ademais, deixa de existir
na regra permanente, ou seja, na aplicada aos novos servidores, que terão
direito, apenas, ao reajustamento do benefício para preservar-lhe o valor real
(mas o legislador constitucional manteve a paridade para todos os atuais
aposentados e pensionistas e, ainda, os que se acham em situação de direito
adquirido. Previu, ainda, a paridade para os que se aposentarem preenchendo
os requisitos do art. 6º), benefício que também contempla os que se
aposentarem com fundamento na Emenda Constitucional nº 47. Antes, o
benefício era calculado com base na antiga redação do § 3º do art. 40, ou seja,
a remuneração do servidor na época da aposentadoria, desde que o servidor,
naturalmente, estivesse no cargo há mais de 5 anos. Agora, a lei disporá sobre
este cálculo, que considerará as remunerações utilizadas como base para as
contribuições, tanto ao Regime Próprio, como ao Regime Geral, o que já
sucede com os cálculos dos benefícios pagos pelo INSS.
Consignou-se na EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS DA EMENDA:
“41 – Uma primeira alteração trata de modificar a forma de cálculo
dos benefícios de aposentadoria e pensão dos servidores. Atualmente, como
antes referido, os proventos de aposentadoria, por ocasião da sua concessão,
são calculados com base na remuneração do servidor no cargo efetivo em que
ocorrer a aposentadoria, correspondendo invariavelmente, à totalidade da
remuneração.
42 – Conforme demonstrado, o valor dos proventos não guarda
relação com a contribuição efetuada pelo servidor ao longo de sua carreira,
além de permitir que os valores recolhidos para o Regime Geral de Previdência
Social, limitados ao respectivo teto, sejam considerados para efeito de cálculo
do tempo de contribuição.
43 – Seguindo a diretriz determinada pelo caput do art. 40 da
Constituição Federal em relação ao equilíbrio financeiro e atuarial, propõe-se
que a nova fórmula de cálculo dos benefícios, contida no novo texto do art. 40,
§ 3º, seja orientada pelo cômputo das contribuições que o servidor verteu para
os regimes de Previdência Social a que esteve vinculado durante a sua vida
laboral, inclusive para o Regime Geral de Previdência Social, garantindo,
assim, que o valor do benefício reflita o caráter contributivo do sistema,
estabelecendo, de maneira consistente, os fundamentos do seguro social.
44 – Tais disposições serão regulamentadas na forma da lei,
remetendo ao legislador infraconstitucional a tarefa de garantir que a nova
metodologia para cálculo dos proventos tenha eqüidade e eficiência, isto é,
seja justa e operacionalmente viável. Desta forma, o cálculo das
aposentadorias nos regimes do funcionalismo passa a guardar mais
proximidade conceitual com a forma de cálculo das aposentadorias por tempo
de contribuição do Regime Geral de Previdência Social, onde é apurada uma
média dos salários-de-contribuição, que tende a incluir, futuramente, um
período de contribuição equivalente aos 80% melhores meses de contribuição
de toda a vida laboral do segurado do INSS.
45 – Vale ressaltar que a regra atual no regime do funcionalismo
compromete de maneira sensível o equilíbrio atuarial dos regimes próprios de
Previdência Social, haja vista, conforme já assinalado, a inexistência de relação
entre a contribuição e o benefício a ser percebido, uma vez que é possível o
servidor optar por ingressar mais tarde no serviço público, contribuir com pouco
tempo e obter o benefício pelo resto de sua vida em razão da garantia de
contagem de tempo recíproca entre os regimes.
53 – Tal medida visa, inspirada nos Princípios da Igualdade e da
Solidariedade, homogeneizar os regimes de Previdência Social existentes no
País, em razão de os trabalhadores da iniciativa privada estarem vinculados,
obrigatoriamente, ao Regime Geral de Previdência Social gerido pelo Instituto
Nacional do Seguro Social, cujos benefícios são limitados atualmente a um teto
de R$ 1.561,56 (um mil, quinhentos e sessenta e um reais e cinqüenta e seis
centavos) e, a partir deste valor, os que quiserem garantir uma renda maior
para sua aposentadoria contribuem, facultativamente, para a previdência
complementar. Cabe apontar que a presente Emenda Constitucional submete a
Vossa Excelência a proposta de elevação do teto de benefícios e contribuição
do Regime Geral de Previdência Social, o qual serve de referência para a
instituição do teto nos regimes próprios do funcionalismo, para R$ 2.400,00
(dois mil e quatrocentos reais) a partir do momento de promulgação desta
Emenda.
54 – Os futuros servidores públicos estarão, assim, submetidos a
princípios similares aos trabalhadores da iniciativa privada, com o que se
cumpre o Programa de Governo de Vossa Excelência, submetido ao sufrágio
das urnas em outubro de 2002. Proporciona-se mais racionalidade e eqüidade
ao sistema previdenciário vigente no país, à medida que se desenha uma
estrutura igualitária que abrange todos os trabalhadores e, ao mesmo tempo,
fortalece um modelo de previdência que tem como corolários, em primeiro lugar
a proteção social com base no princípio da solidariedade, bem como a adesão
voluntária à previdência complementar, que, ademais, participa da formação de
poupança de longo prazo capaz de gerar riquezas e postos de trabalho.”
Do PARECER DO RELATOR NA CÂMARA consta (textos
esparsos):
“O conjunto de mudanças dirige-se à inclusão social e resgata
reivindicações históricas dos trabalhadores brasileiros. Para o sistema de
Previdência do setor público, as mudanças de regras têm como objetivo fazer
com que esses servidores recebam suas aposentadorias com base na
contribuição que fizeram buscando-se, de maneira criativa, similitude com o
regime do INSS. Essa semelhança deve ser aferida menos pela forma e mais
pelo conteúdo. Materializam-se mudanças pontuais nas regras válidas para os
atuais servidores. Para os futuros servidores, que ingressarem no serviço
público após a Reforma, pretende-se fixar o mesmo teto de benefícios
estabelecido para o Regime Geral de Previdência Social e permitir a
constituição de fundos de pensão fechados, sem fins lucrativos e administrados
de forma paritária pelos entes federados e por representantes dos servidores.
Com isso, busca-se proteger a poupança previdenciária desses trabalhadores,
que estará também sob sua administração, e evitar desvios políticos que tanto
comprometeram a Previdência no passado
Coerente com a concepção de fazer aproximar as regras dos
regimes previdenciários próprios dos servidores daquelas vigentes para o
regime geral da previdência social, a PEC 40-A/03 determina que os proventos
da aposentadoria, por ocasião de sua concessão, como regra geral, passem a
ser calculados considerando as remunerações utilizadas como base para as
contribuições recolhidas aos regimes de previdência aos quais o servidor tenha
estado vinculado ao longo de sua vida laboral. Os proventos deixarão, então,
de corresponder à última remuneração, critério vulnerável a promoções
fraudulentas de última hora, que já haviam sido inibidas, em parte, pela
exigência de cinco anos no cargo para a concessão de aposentadoria. Em seu
lugar, passa-se a considerar o histórico de remunerações percebidas pelo
servidor, com base nas quais tenham sido recolhidas suas contribuições
previdenciárias, adotando critério mais equilibrado, que respeita o caráter
contributivo do regime previdenciário, determinado pelo caput do art. 40 da
Carta.”
Assim, os servidores que ingressaram no serviço público após o
advento da Emenda Constitucional nº 41/2004 têm, na previdência
complementar, uma opção para a complementação dos proventos da
aposentadoria por tempo de contribuição.
Mas o prejuízo não existe apenas para os novos servidores. Nas
hipóteses de aposentadorias por idade ou invalidez, mesmo aqueles que
ingressaram no serviço público anteriormente à Emenda Constitucional nº
41/2004, podem sofrer prejuízos na sua renda mensal, o que significa que,
também para eles, a previdência complementar representa uma opção para
complementação de proventos.
Mas não se pode olvidar, ainda, a regra do art.40, §14, da
Constituição Federal que prevê a limitação do valor das aposentadorias e
pensões ao teto máximo do regime geral de previdência, na hipótese do ente
federativo instituir regime de previdência complementar, o que se acha na
exclusiva dependência do legislador local. Esse regime, que não se confunde
com a JUSPREV, será baseado no critério de contribuição definida, que não
garante o valor de benefício definido. O segurado sabe, na verdade, quanto
paga e tem apenas uma estimativa de quanto vai receber.
Essas razões e outras mais levam à reflexão sobre a importância da
previdência privada no contexto econômico nacional e, em particular, como
instrumento de complementação de proventos, quer no regime geral, quer no
regime próprio de previdência.

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