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Recursos terapêuticos manuais

Aula 02: Toque terapêutico: Conceito, atitudes e manobras

Apresentação
Em nossa aula anterior, apresentamos os fundamentos históricos e conceituais dos recursos terapêuticos manuais,
destacando a contribuição de algumas pessoas para a arte e a ciência de curar.

Nesta aula, iremos explorar o significado do toque, ressaltando sua função como um dos mais importantes meios de
comunicação não verbal, bem como apresentando o conceito e as intencionalidades do toque terapêutico.

Objetivos
Definir toque terapêutico;

Classificar toque expressivo e toque intencional;

Explicar os três elementos referenciais da intencionalidade do toque: Comunicar, avaliar e tratar.

Toque: Conceito e classificação


 Fonte: Shutterstock

O toque pode ser classificado de diferentes maneiras: Toque expressivo, caracterizado pelo contato relativamente espontâneo e
afetivo, não necessariamente relacionado a uma tarefa ou ação intencional; e toque instrumental, de contato físico deliberado,
necessário para o desempenho de uma específica tarefa e que carrega uma marca de intencionalidade gestual.

Neste contexto terminológico, identificamos o toque terapêutico como sendo instrumental e, portanto, objeto de interesse de
nossos estudos.

Veja sua definição abaixo:

O toque movido pela intenção de promover efeitos terapêuticos


manifestados pelo alívio dos sinais e sintomas apresentados e pela
ampliação da sensação de bem-estar. Deve ser orientado por
conhecimentos técnicos e por atitudes eticamente balizadas e
cientificamente respaldadas.

A intencionalidade do toque
 Fonte: Shutterstock

O toque terapêutico não é um dom ou poder místico concedido a poucos escolhidos que canalizariam um tipo de energia
curativa através das mãos. Ele pode ser aprendido e desenvolvido, pois é fruto de trabalho, estudos e treinamentos.

Quando tocamos com a intenção de tratar, pele, vasos, nervos, músculos e o cérebro reagem a essa ação, criando o que
podemos chamar de circuito terapeuta-paciente. Este circuito inicialmente simples evolui e se sofistica devido à troca intensa
de informações entre o toque e o corpo do paciente.

A observação das reações do paciente ao seu toque, associada à intenção de curar, vai construindo e ajustando o que
chamamos de toque terapêutico.

Chamo sua atenção para duas afirmações:

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O toque em uma região pode ser agradável e relaxante para Uma manobra pode aliviar a dor em alguns casos e em
uns e não ser para outros. outros não.
Dica

A intencionalidade do toque se refere ao quadro de clareza e objetividade apresentado pelo terapeuta no momento de sua
intervenção. Para sua melhor compreensão, iremos apresentar as intenções do toque terapêutico através de três verbos que
indicam ação: Comunicar, avaliar e tratar.

A intenção de comunicar
O ato de tocar está presente no dia a dia do fisioterapeuta em seus diferentes campos de intervenção, e através dele o
profissional será capaz de contribuir para a cura e manutenção do estado de saúde e bem-estar de seu paciente. Neste sentido,
estabelecemos algumas premissas sobre a ação de tocar com intenção terapêutica, baseadas no nosso trabalho:
O toque terapêutico tem a função essencial de estabelecer um canal de comunicação entre o fisioterapeuta e seu
01 paciente;

Este processo de comunicação não verbal deve ser consentido e precedido pelo esclarecimento dos objetivos
02 relacionados ao toque;

Neste viés, o ato terapêutico do toque é essencialmente informacional, e como outras estratégias de comunicação
03 possui quatro elementos básicos: Emissão, mensagem, recepção e feedback. Quando eu toco, eu sou tocado.

Caberá ao fisioterapeuta a iniciativa do toque e, portanto, a função de emissor inicial nessa estrutura de comunicação.

04 Sendo assim, a pergunta derivada dessa premissa é: O que será comunicado através desse toque preliminar? Qual
será a mensagem?

O paciente se enquadra no conceito de receptor inicial das ações do toque terapêutico. A clareza dos objetivos do
05 fisioterapeuta no ato de tocar será o principal referencial para se avaliar as respostas do receptor;

06 Chamamos de feedback as respostas ou reações do paciente mediante o toque ou a comunicação do fisioterapeuta.

Considerando o exposto, cabe-nos levantar o seguinte


questionamento: E o paciente, como ele reage ao receber o toque?

Grande parte dos padrões de resposta que habitualmente percebemos no dia-a-dia do trabalho nos campos de intervenção do
fisioterapeuta tem origem nas experiências pregressas dos pacientes, especificamente, na forma como ele foi tocado ao longo
da vida.

Mas, afinal, onde isso tudo começou?


Tudo tem início dentro do útero materno. O bebê responde
ao estimulo tátil gerado por seus movimentos contra as
paredes do útero e pela reação da mãe ao colocar a mão na
área tocada pelo bebê. Após o nascimento, principalmente
no primeiro ano de vida, ser tocado é a forma mais
importante de comunicação com o bebê; somos treinados a
“responder” ao toque.

Sim, aprendermos a ser tocados faz parte do


desenvolvimento cerebral.

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Um bom exemplo de resposta positiva do bebê ao toque é


quando ele chora e, instintivamente, a mãe pega o bebê. Ela
não sabe o motivo do choro, mas, invariavelmente, ele
acalma e para de chorar.

A explicação plausível para este fato é a de que, ao pegar e


envolver o bebê nos braços, a memória sensorial de
proteção e acolhimento proporcionada pelo ambiente
intrauterino seria “lembrada” por ele. O ato de acolher,
somado ao toque com a intenção de curar, gera sensação
de acolhimento e proteção.

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Somos treinados a acalmar quando alguém vem em nosso socorro; isto


também aprendemos na infância.

Atenção

Pessoas que tiveram uma infância afetivamente negligenciada demoram a responder ao toque terapêutico. Mas há jeito pra
tudo: Uma das soluções é o amor fraternal, necessário ao desempenho do trabalho terapêutico.
Dica

Para o fisioterapeuta, o acolhimento é a humanização e a demonstração de que nos importamos com as queixas e
necessidades do paciente.

Antes de prosseguir, vamos revisar o que aprendemos até agora.

1 2

Somos treinados a responder ao toque; O toque gera a sensação de acolhimento e


proteção;

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Somos treinados a acalmar quando alguém O toque terapêutico pode ser aprendido e
vem em nosso socorro; desenvolvido.

 Você gosta de tocar qualquer pessoa?

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Antes de avançar, convido você para um minuto de reflexão sobre um assunto pouco abordado, mas fundamental para
desenvolver o toque terapêutico.

Você gosta de tocar qualquer pessoa?

Se a resposta for não, você não precisa desistir.

Na maioria das vezes, tocamos por gostar de alguém, ou por ter algo em comum. Por outro lado, evitamos tocar em
pessoas das quais não gostamos, que não têm nada em comum conosco. Não se desespere, isso é normal.

A Fisioterapia é a profissão em que a proximidade com o paciente é intensa, tocar é necessário. Vamos nos deparar
com todo tipo de pessoa, pele, cheiro e comportamento. Tudo isso deverá ser superado pela vontade de diminuir o
sofrimento de quem nos procura; você deverá buscar uma maneira de se adaptar.

Eu encontrei uma que deu certo para mim, e por isso faço questão de compartilhar.

No início, quando eu tinha problemas por não ter empatia com um paciente, eu imaginava um bebê; funcionava
imediatamente.

Com o passar do tempo, você não vai precisar fazer nada para criar um laço de empatia terapêutica.

Mas por que isso é importante?

Para explicar, preciso pedir uma pausa acadêmica para falar sobre o amor, especificamente, o amor fraterno.

Amor fraternal é um sentimento de carinho muito forte, de dedicação, de interesse pela figura do outro, gerando
sentimentos positivos e construtivos, podendo até, em certos momentos, levar o indivíduo a fazer grandes sacrifícios,
que só seria capaz de fazer por ele mesmo.

Ashley Montagu (1988), em seu livro Tocar: O significado humano da pele, cita a Dra. Judith Smith, da escola de
enfermagem da Universidade da Pensilvânia, que traduz o que dissemos anteriormente:

“O significado de curar é o que o curador comunica. O meio eficaz de estabelecer uma transação com a pessoa doente
é o amor, o cuidado, o profundo desejo de ajudar. O curador está comunicando de modo ativo sentimentos de
preocupação, interesse, cuidado, e o paciente responde com uma esperança confiante. Dentro dessa perspectiva,
pode-se presumir que os gestos e manipulações do curador, no Toque Terapêutico, funcionem como uma forma de
comunicar a atitude do curador” (p.384).

Repare que o relato localiza a intenção, atitude e a ativação das memórias adquiridas durante a gestação e a infância
como sendo atributos do Toque Terapêutico.

Fique atento: não é somente o tocar, precisamos estar preparados e treinados para isso. Em síntese, o toque
terapêutico se aprende e se ensina.

Desenvolver as competências relacionadas ao toque terapêutico cabe a você. O foco mental é condição indispensável
para o desenvolvimento da referida competência. Uma das maiores ameaças à manutenção da concentração e do
foco é, sem dúvida alguma, o telefone celular.

Durante o trabalho, largue o celular e concentre sua atenção em:

Observar;
Reconhecer;
Perceber; e
Ajustar.
Estas atitudes farão com que você aprenda cada vez mais com as reações e relatos do paciente. Vale lembrar que
nosso cérebro aprende criando imagens, tanto na parte consciente como na subconsciente. Por isso, é importante
afastar qualquer coisa que desvie sua atenção no momento do atendimento.

Thomas Hobbes escreveu: “Pois não há ideia na mente de uma pessoa que antes não tenha sido gerada nos órgãos do
sentido”.

A intenção de avaliar
Sugerimos que, no campo de estudos do toque terapêutico, o termo avaliação seja interpretado como:

Ato de valorizar as informações percebidas / recebidas / captadas,


interpretando-as sob o viés terapêutico.

Neste sentido, recomendamos que o foco da atenção seja


projetado para alguns elementos referenciais, tais como:

Expressão facial;
Tensões corporais;
Qualidade da área tocada;
Relato de sensações e sentimentos, conforto ou
desconforto;
Capacidade de diferenciar a dor baseada nas
experiências pregressas;
Capacidade de dimensionar a dor, considerando
escalas de percepção subjetivas;
Capacidade de tipificar a dor.

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A Didática da dor
Durante o processo de comunicação entre o paciente e seu terapeuta, os relatos sobre a dor são os mais frequentes e
recorrentes.
A dor pode ser entendida como uma sensação desagradável de relativo
sofrimento, produzida por estímulos internos ou externos, que excitam
terminações nervosas sensíveis a eles e que pode ser classificada de
acordo com sua origem, local, tipo, intensidade, periodicidade, duração e
difusão.

A dor não é igual para todos, ela depende de fatores fisiológicos, sensoriais, afetivos, cognitivos, comportamentais e culturais.

A percepção e a tradução da dor podem ainda ser


influenciadas por emoções, experiências familiares,
memórias e fatores socioeconômicos, dentre outros
aspectos. Por ser uma experiência com vasta influência
multifatorial, sua mensuração se torna ampla e complexa.

A maioria dos pacientes não consegue avaliar a intensidade


da dor; para eles, dor é dor. Tal fato faz necessário que os
ensinemos a dimensionar, tipificar e qualificar a dor, em
suas diferentes formas de manifestação.

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Isso pode ser feito das seguintes maneiras:

Comparar a dor antes e depois do tratamento;


Sinalizar as melhoras observando as atividades da vida diária;
Aprender a tipificar a dor, identificando se é em pontada, em peso, ardência, choque etc.;
Identificar da maneira mais precisa possível o local da dor, assim como sua periodicidade e duração;
Identificar a origem da dor ou, pelo menos, o que supostamente pode ter causado o quadro de dor.

Para isso, há vários testes, apresentados na forma de escalas subjetivas, que podem ser utilizados. Destacamos dois de fácil
aplicação e boa aceitação pela comunidade cientifica:
Clique nos botões para ver as informações.

Escala de Estimativa Numérica (Numeric Rating Scale - NRS) 

Neste teste, os pacientes avaliam sua dor em uma escala de 0 a 10, com 0 representando "nenhuma dor" e 10 indicando
"a pior dor imaginável". Sousa e Silva (2005) sugerem a utilização dessa medida para avaliação dos níveis de intensidade
de dor na consulta inicial e durante todo o processo de tratamento.

Escala Analógica Visual (Visual Analogue Scale - VAS) 

Essa medida consiste de uma linha de 10cm com âncoras em ambas as extremidades. Numa delas é marcada "nenhuma
dor" e, na outra, é indicada "a pior dor possível", ou frases análogas. A magnitude da dor é indicada marcando a linha, e
uma régua é utilizada para quantificar a mensuração numa escala de 0-100mm.
Este instrumento tem sido considerado sensível, simples, reproduzível e universal, ou seja, pode ser compreendido em
distintas situações nas quais há diferenças culturais ou de linguagem do avaliador, clínico ou examinador. (HUSKISSON
apud SOUSA E SILVA, 2005)

Dica

A dor é uma aliada para a cura, pois ela sinaliza o bom e o ruim. Como um farol para quem navega no escuro, mostra a direção
que devemos manter ou evitar. Ensinar o paciente a medir a intensidade da dor é de grande ajuda. A maioria das pessoas
interpreta a dor como dor, simplesmente.

 A intenção de tratar

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A intenção de tratar encerra nossa abordagem sobre a intencionalidade do toque, mais especificamente, do toque
terapêutico. Carrega com ela o compromisso com a cura como valor que deve ser assumido tanto pelo terapeuta
quanto pelo paciente.

Estar comprometido com a cura é o primeiro passo para que o toque terapêutico se manifeste com eficiência. Drenar,
alongar, descolar, diminui tensões, reequilibrar os sistemas e melhorar a circulação são ações que podem ser
caracterizadas nesta dimensão do tratamento.

A intenção de tratar é a junção da intencionalidade do toque terapêutico mais o domínio técnico/teórico com foco na
estrutura a ser tratada e no paciente. Visualizar as várias estruturas (tecidos, tendões, nervos e articulações)
envolvidas no que estamos tratando, formando um quadro mental robusto e preciso, potencializa nossa capacidade
terapêutica.

Atividades
1. De acordo com o conceito apresentado, podemos definir toque terapêutico como:

a) O toque orientado por conhecimentos técnicos e por atitudes eticamente balizadas e cientificamente respaldadas, visando promover o
alívio dos sinais e sintomas apresentados e pela ampliação da sensação de bem-estar.
b) O ato de utilizar a energia das mãos para curar.
c) É qualquer toque manual que promova bem-estar e conforto.
d) É o termo composto utilizado para designar o uso das mãos em qualquer ação terapêutica, com ou sem implementos.
e) O toque movido pela intenção de promover efeitos terapêuticos através do uso da energia das mãos e do uso de recursos materiais
cientificamente respaldados.

2. Diante da necessidade de conceituar e classificar ações típicas das rotinas de trabalho do Fisioterapeuta, identificamos, de
forma preliminar, dois tipos de toque. São eles:

a) Expressivo e técnico
b) Instrumental e intuitivo
c) Terapêutico e não-terapêutico
d) Intencional e espontâneo
e) Instrumental e expressivo
3. Considerando a classificação apresentada em nossa aula, o toque terapêutico pode ser classificado como:

a) Toque expressivo
b) Toque instrumental
c) Toque curativo
d) Toque avaliativo
e) Toque holístico

4. A intencionalidade do toque se refere ao quadro de clareza e objetividade apresentado pelo terapeuta no momento de sua
intervenção. Para a melhor compreensão sobre o assunto, apresentamos esse espectro de intenções através das seguintes
palavras-chave:

a) Foco, concentração e intenção


b) Sinais, sintomas e comportamentos
c) Comunicar, avaliar e tratar
d) Avaliar, tratar e curar
e) Foco, compromisso e amor fraternal.

5. Sugerimos que, no campo de estudos do toque terapêutico, o termo avaliação seja interpretado como:

a) Ato de aplicar e interpretar testes formais, cientificamente respaldados


b) Conjunto de ações orientadas para identificar o quanto nos distanciamos dos nossos objetivos estabelecidos
c) Ato de valorizar as informações percebidas / recebidas / captadas, interpretando-as sob o viés terapêutico
d) Testar e medir as condições do paciente através de escalas objetivas
e) Julgamento das melhores estratégias terapêuticas.

Notas

Título modal 1

Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográfica e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente
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Referências
DA SILVA, M.J.P. et al. Entendendo o toque terapêutico. Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, 44 (4): 69-73, out./dez. 1991.

MONTAGU, A. Tocar: O Significado Humano da Pele. 3.ed. São Paulo: Summus, 1988.

SCOPEL, E. et al. Medidas de avaliação da dor. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd105/medidas-de-avaliacao-da-


dor.htm. Acesso em 5 jul. 2020.

Próxima aula

Técnicas e manobras dos recursos terapêuticos manuais;

Componentes das manobras dos RTM.

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Leia o livro Tocar: O Significado Humano da Pele

Leia o textoEfetividade do Toque Terapêutico sobre a dor, depressão e sono em pacientes com dor crônica: ensaio clínico.

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