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Autocuidado do Terapeuta

Compaixão é uma motivação de prevenir e aliviar o sofrimento. E ela tem 3 fluxos:

● oferecer compaixão ao outro


● receber compaixão do outro
● me dar compaixão (autocompaixão)

O psicólogo está acostumado a um lugar de oferecer compaixão, mas geralmente


não percebe que precisa se abrir para o fluxo de receber compaixão e se dar
autocompaixão.

O primeiro passo para ensinar autocompaixão dentro do consultório, é ser um


terapeuta autocompassivo.

O terapeuta precisa vivenciar a autocompaixão para conseguir guiar o paciente


nessa descoberta - a todo tempo estaremos modelando uma postura de cuidado e
segurança.

Mas como ser mais autocompassivo, afinal? Prática, prática e prática - não tem
outro caminho. A autocompaixão é uma habilidade que pode ser treinada. Nós
terapeutas precisamos buscar meios de praticar e não uma fórmula mágica. não
existe autocompaixão em cápsula e isso serve tanto pra gente quanto pros nossos
pacientes.

E como a autocompaixão pode ser uma aliada no processo terapêutico?


Terapeutas autocompassivos conseguem manejar suas emoções difíceis durante a
sessão e retomar a presença. Isso é de extrema importância, visto que trabalhamos
diretamente com as emoções difíceis dos nossos pacientes (e as que são
despertadas em nós ao estar em contato com as deles).
Mindfulness como aliado do terapeuta na auto-regulação emocional:

“A tolerância do afeto e a regulação emocional são comumente consideradas


habilidades a serem cultivadas pelos pacientes, embora elas sejam imensamente
importantes também para os terapeutas: se não podemos tolerar nossas próprias
emoções difíceis, podemos achar difícil tolerar os afetos poderosos de nossos
pacientes. Dessa forma, é provável que nos distanciemos de nós mesmos e então
de nossos pacientes. Isso tudo pode ocorrer de forma inconsciente.” (Germer,
Siegel, Fulton, p.67, 2016)

Algo que é pouco falado mas muito importante e ajuda a evitar a fadiga do cuidador
são os cuidados do terapeuta principalmente durante a sessão. Nesse caso, a
intenção de prevenir e aliviar o nosso próprio sofrimento é a chave, seja nos
oferecendo um toque reconfortante, seja tirando alguns minutinhos para prestar
atenção na nossa respiração enquanto a gente valida alguma dificuldade “hoje
estou cansada”, “esse tema é difícil”, “hoje estou mais sensível”, ou quando estamos
distraídos, reconhecer de maneira gentil ao invés de crítica e julgadora faz com que
possamos estar ali para o nosso cliente de forma compassiva.

Autocuidado do terapeuta não é só reservar tempo para férias, massagem,


dormir. É também o que fazemos durante a sessão.

A pergunta da autocompaixão é: o que eu preciso agora? Leve essa pergunta


para os seus atendimentos. Coloque um post it no seu local de trabalho para
lembrar de ter essa curiosidade sobre você mesma durante os atendimentos. Cuidar
da gente enquanto cuidamos do outro não quebra a conexão com o nosso paciente,
mas sim nos fortalece para que possamos estar mais inteiras junto do outro.

Caso você reproduza esse material de alguma forma, pedimos que nos cite como fonte de onde o
conteúdo foi retirado. Com carinho, Beatriz Novo Garcia e Bruna Krug Lima
Referências:

MacBeth, A., & Gumley, A. (2012). Exploring compassion: A meta-analysis of the association between
self-compassion and psychopathology. Clinical Psychology Review, 32(6),
545–552. doi:10.1016/j.cpr.2012.06.003

Germer, Christopher K., Siegel, D., Ronald., Fulton, R. Paul., (2016). Mindfulness e psicoterapia.
Porto Alegre: Artmed

Germer, C. & Neff, K. (2019) Teaching the Mindful Self-Compassion Program: A Guide for
Professionals

Neff, K. D., Germer, C. (2019). Manual de Mindfulness e autocompaixão: um guia para construir
forças internas e prosperar na arte de ser seu melhor amigo. Porto Alegre: Artmed

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