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WEVERSEMAGAZINE (24.03.

2021)

CONHECENDO A ARTE MODERNA E


CONTEMPORÂNEA COREANA COM RM
Artigo por Jangro Lee (crítico de arte)

Mesmo quando você tem apenas um interesse passageiro por algo, se você faz junto de outra
pessoa, você pode sentir a antecipação da cabeça aos pés. Você não pode deixar de sentir certa
intimidade, mesmo que estejam em lugares diferentes, quando compartilham seus pensamentos e
sentimentos — as conversas durante este momento particularmente íntimo o aproximam um pouco
mais dessa pessoa que parece estar longe. RM, o líder do BTS, é rápido em mostrar seu amor e seu
olhar carinhoso pela arte. Ele não se limita a falar meramente sobre artistas e obras de arte que
admira; ele compartilha esse carinho com muitas pessoas fazendo doações para causas
relacionadas à arte, e tudo isso é possível porque ele é muito apaixonado pelo prazer que a arte tem
a oferecer. RM diz que ele se sente descansado e inspirado depois de ver arte, o que por sua vez nos
deixa mais curiosos sobre as artes também.

Como é o mundo da arte através dos olhos do RM? O crítico de arte Jangro Lee explora essa
pergunta entrando em detalhes sobre os artistas e obras de arte nos quais o músico está mais
interessado.
Tradução ENG-PTBR por @MoonchildForRM • Não reposte sem créditos | 1
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Os artistas e o público em geral têm agora mais


oportunidades de se comunicar através de
várias mídias sociais, e assim, em adição do
trabalho dos artistas, os fãs também estão
prestando atenção nas ações que estes estão
tomando. É o caso de uma foto do RM em pé
ao lado de "Eternal Song", uma das obras de
Kim Whanki, quando foi exibida em uma
exposição realizada no Museu de Arte de Seul.

Eternal Song (Canção Eterna)


Poderia um artista imaginar uma maneira mais
brilhante de dizer que quer estar com a gente
para sempre? Enquanto estudava em Paris, Kim
Whanki pintou esta moderna abordagem sobre
a estética coreana, uma obra que não é
Kim Whanki, Eternal Song. 1957. Kim Whanki, Where, in What Form, Shall
diferente do desejo de um fã de que seu artista
© Whanki Foundation and Whanki We Meet Again? 1970.
Museum. © Whanki Foundation and Whanki favorito permaneça fazendo seu trabalho por
Museum.
muito tempo.

KIM WHANKI
Kim faz uso frequente de temas naturalistas neste trabalho e imagens que ele sente que melhor revelam as emoções
coreanas, e as grossas pinceladas na tela maximizam o impacto da textura, uma característica notável nas obras da cena
artística parisiense da época. Kim se concentrou durante este período da sua vida em produzir obras que soassem
poeticamente coreanas, enquanto ao mesmo tempo que trocava ideias com seus contemporâneos mais conhecidos. Ele
descreveu as qualidades únicas encontradas em obras-primas deles como sendo semelhantes às suas próprias
poderosas canções e, portanto, estava basicamente procurando escrever as suas próprias. Quando visto sob esta
perspectiva, Eternal Song parece ainda mais significativo. Imagens como pássaros, montanhas, veados, nuvens,
cerâmicas e mais, simbolizam a imortalidade da natureza e da tradição; como as canções têm sido consideradas há
muito tempo como poemas com som, Kim mostra em sua tela a linguagem formativa na qual são escritos poemas ricos
em imagens. A técnica disciplinada e o uso harmonioso da cor, personificados pela composição plana e forma
simplificada, caracterizam esta obra, uma que é considerada de capturar totalmente a visão e a identidade de Kim como
um excelente artista e escritor literário. No entanto, o estilo de Kim não parou de evoluir aqui; depois de algum tempo em
Nova York, ele seguiu em frente para criar sua amplamente reconhecida série de pinturas com pontos em tela cheia. Ele
faz uso de pontos repetidos, ou pontos, como uma estrutura básica, mas as linhas em torno dos pontos nas telas de Kim
e as repetidas mudanças em suas cores são totalmente originais. Uma de suas mais famosas séries de pinturas, "Where,
in What Form, Shall We Meet Again?" (Onde, em que forma, devemos nos encontrar de novo?), cujo nome deriva da linha
final de um poema de Kim Kwang-seop intitulado "In the Evening" (À noite), é preenchida com uma impressionante
exibição desses pontos azuis, que por sua vez representam os pensamentos do artista e a saudade de seu país de
origem. Os pontos não são limpos, mas diluídos e manchados, cobrindo a tela em diferentes tonalidades de azul. Os
pontos mancham e se espalham, se encontrando e estendendo de uma série de elementos solitários para uma forma
aberta e expandida para demonstrar a harmonia da moderação e magnificência. Com essas técnicas mostrando as
diferenças de seus métodos, mas o uso consistente de temas coreanos e naturalismo, as obras de Kim permanecerão
para sempre como canções eternas.
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A arte moderna coreana começou na era


do artista e continua até hoje. A força
motriz que mantém o movimento atual,
apesar da história exaustiva da nação, são
os artistas que criam dentro de seu
escopo e pressionam constantemente por
mudança, e portanto o mundo mostrado
no trabalho desses artistas é, sem
exceção, uma projeção baseada na
realidade do mundo que eles vivenciaram.

Lee Ungno, Bamboo. 1971. Lee Ungno, People. 1988.


© Lee Ungno Museum. Image courtesy SmartK.

LEE UNGNO
RM postou uma foto da obra "Bambu" de Lee Ungno, dizendo aos seus fãs que ele visitou a exposição chamada "The
Square: Art and Society 1900-2019" no Museu Nacional de Arte Moderna e Contemporânea. RM também mostrou seu
amor pela arte dando destaque para série "People" e ressaltando que se trata de um trabalho posterior do mesmo
artista. A obra de Lee é particularmente interessante quando revista cronologicamente, pois isso enfatiza sua mudança
de estilo. Seus primeiros trabalhos foram das chamadas quatro graciosas plantas em tinta, que o estabeleceram
firmemente dentro do campo da arte tradicional coreana. Lee tinha um profundo interesse e carinho por bambu: É dito
que ele fez pinturas de bambu exclusivamente durante os sete anos seguintes à sua vitória na Exposição de Arte de
Joseon em 1924. O bambu na arte é tradicionalmente associado a nobres, sugerindo pensamento correto e integridade.
A maestria de Lee como "mukjukhwa", ou como pintor de bambu em tinta que ele vinha fomentando desde sua
juventude é claramente visível em "Bamboo", a obra de Lee de 1971 que RM postou. O bambu é realisticamente
expresso com variações na saturação de tinta em telas que atingem três metros de altura e acolhe o público no que
parece ser uma verdadeira floresta de bambu. O trabalho de Lee durante este período é particularmente vibrante e ele
enfatiza as folhas de bambu, assim como as variações nas juntas, de uma forma mais expressiva do que antes. Embora
estes trabalhos permaneçam dentro do gênero "mukjukhwa", podemos ver as mudanças no estilo de Lee ao longo do
tempo. Em seus últimos anos, Lee passou a criar a agora conhecida série "People" que mostra uma multidão de figuras
humanas pintadas com pinceladas que lembram a caligrafia. As figuras nas pinturas parecem correr em uma direção,
como se o velho Lee estivesse expressando a vitalidade do espírito humano além do reino da história e da civilização.

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Como vimos, é natural que o caráter


de um artista — isto é, seu espírito e
atitude em relação à vida — esteja
incorporado em seu trabalho. Este
senso de caráter e as imagens que ele
produz são a principal força por trás
de nossa capacidade de apreciar a
obra de arte, nos permitindo estar
imersos em profundo encanto à
medida que as vemos. Pelo que vimos,
RM é atraído e intrigado pela arte de
Yun Hyong-keun, tendo visitado
exposições em Seul, bem como em
Veneza e Nova Iorque durante
algumas de suas viagens. Isso não é
uma algo fácil de ser fazer sem paixão,
o que torna fácil ver o interesse e o Yun Hyong-keun, untitled. C. 1966. Yun Hyong-keun, Umber-Blue. 1973.

carinho que RM tem por Yun e seu Image courtesy Muum. Image courtesy National Museum of
Modern and Contemporary Art.
trabalho.

YUN HYONG-KEUN
As obras de Yun, que, como RM nota com entusiasmo, são diferentes dependendo da idade do artista quando pintou
qualquer uma em particular, e ele é mais conhecido por seu "dansaekhwa", ou pintura monocromática , mas as
primeiras obras pintadas em sua juventude são brilhantes abstratos. O sentimentalismo lírico de seus primeiros
trabalhos parece ter sido um reflexo da influência do mentor e sogro Kim Whanki sobre Yun, mas após uma falsa
acusação de violação das leis anticomunistas e sua subsequente libertação da prisão, o trabalho de Yun assumiu
atmosfera e cores mais sombria com as quais o associamos mais prontamente hoje. Os observadores ficam
invariavelmente com uma impressão intensa do ressentimento e tristeza que angustiava Yun quando olham para as
colunas negras em sua tela. O tom de preto, reminiscente de tinta, não foi realmente criado usando tinta preta, mas
como resultado das camadas de umber queimado (vermelho profundo) e ultramarino (azul profundo) que Yun aplicou
repetidamente na tela. As tintas são colocadas em camadas sobre a tela com cola para que as cores corram livremente,
mostrando as várias cores que parecem se espalhar involuntariamente, mas sutilmente da escuridão. Da mesma forma,
o espectador pode ler a complexa emoção atmosférica das faixas verticais de cor em sua série "Umber-Blue" ao se
misturarem com o espaço branco das margens externas. Como as cores e as margens das obras variam conforme a
época e a situação em que cada uma foi pintada, a imersão total em uma determinada obra vem de uma análise
adequada do ambiente e do processo de pensamento de Yun na época em que ele estava pintando.

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Até este ponto, discutimos


principalmente pinturas, mas elas não
são as únicas obras de arte que
incorporam a história e as tradições
coreanas. Isso não quer dizer que as
obras herdadas da tradição sejam
sempre excluídas da lista de gêneros
artísticos, mas nenhuma lista estaria
completa sem a cerâmica de Kwon
Dae-sup. RM, que postou uma foto sua
com um dos jarros de lua de Kwon em
seus braços nas suas mídias sociais,
se referiu com admiração a Kwon
como um mestre da estética coreana
enquanto via seus trabalhos em uma
exposição. Kwon Dae-sup, Moon Jar. Image RM. Imagem do twitter oficial do
courtesy K Auction. grupo BTS.

KWON DAE-SUP
Os jarros de lua, uma cerâmica de porcelana feita originalmente no final do período Joseon, são cerâmicas coreanas
representativas, famosas por sua cor branca suave e curvas. Embora tenha se formado em pintura, Kwon ficou
fascinado com a forma e a imagem dos jarros lunares e vem trabalhando como ceramista da cerâmica desde então. É
natural que os jarros lunares de Kwon — nos quais ele vem trabalhando e aperfeiçoando há anos, e que são feitos
usando o espírito e técnicas associadas à porcelana branca tradicional — sejam reconhecidos como obras-primas; eles
são um refinamento da forma básica do jarro lunar, limpos e livre de defeitos, com um minimalismo bem adequado às
sensibilidades modernas.

Como grandes jarros lunares são difíceis de fazer todos em uma só peça, o topo e a base devem ser trabalhados
separadamente e fundidos usando habilidades altamente refinadas, um processo que ressalta a distinção entre estética
e acabamento para cada artista individual, com as inevitáveis imperfeições no formato redondo que aumenta a beleza
de cada jarro. Embora sempre branco, o fato de o artista controlar o quão claros ou nublados os frascos serão,
manobrando o fogo no forno, mostra como é difícil um processo. A qualidade discreta, porém calorosa, do jarro lunar se
reflete na sinceridade não afetada desses detalhes. Este equilíbrio refinado revela o desejo de Kwon de criar algo
simples e tradicional, enquanto pequenas irregularidades conferem a cada jarro uma efervescência única. Nas mãos de
um artista com sensibilidades modernas, esse processo de criação de cerâmica tradicional como o jarro da lua aponta
precisamente onde a tradição se cruza com a modernidade, e enriquece nossa experiência estética como espectadores.

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Assim como podemos encontrar conforto


e aconchego nos elementos tradicionais
de uma obra, às vezes nos encontramos,
embora sem saber por quê, ansiando por
algo quando as emoções de nosso
passado ressurgem. Talvez seja por isso
que "City, Disappearing Landscape" do
artista Joung Young-ju's e a emoção que
isso desperta parecem tão familiares.

Joung Young-ju, Disappearing Hometown


730. 2020. From the artist’s Blog.

JOUNG YOUNG-JU
As obras da série, que capturam cenas de antigas comunidades, parecem tão realistas quanto uma fotografia, mas são
feitas usando uma técnica chamada papier collé, que incorpora diferentes materiais fixados em uma tela. O papel
tradicional coreano conhecido como hanji é enrugado e revestido com tinta acrílica para realçar a paisagem de um
bairro antigo, mostrando traços do tempo à medida que a cor e a textura do papel alcançam um efeito tridimensional.
Fiel ao nome da série, a perspectiva faz com que as casas em "Disappearing Landscape" pareçam embaçadas, em linha
com o tema de lembrar memórias do passado antes que tudo desapareça. Joung derrama em suas obras os
sentimentos pessoais de conforto dela associados a uma pequena cidade natal, de modo que aqueles que as veem
inevitavelmente sentem uma nostalgia calorosa, independentemente de terem visto essas coisas pessoalmente ou não.
Curiosamente, em sua recriação de carinhosas lembranças da vizinhança, Young não inclui uma única pessoa na foto. A
razão provável de sentirmos a vivacidade e a nostalgia em cada pintura, apesar da ausência de pessoas, é a variedade
de casas bem iluminadas que preenchem a tela. Como sempre, o que vemos à primeira vista não é tudo o que nos
dizem, e é bastante fácil para nós imaginarmos todas as pessoas da vizinhança passando o tempo em suas casas;
nossa imaginação nos leva a um lugar de memória lírica nas obras de Joung.

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A memória e o significado associado com


algo são diferentes para cada pessoa. O
artista Kang Yobae, que nasceu e cresceu
na ilha de Jeju, associa a memória
principalmente com o tempo e o lugar no
que se refere especificamente a Jeju. Seu
trabalho se concentra na natureza e na
história da ilha.

Kang Yobae, Flowers and Weapon. Kang Yobae, South Wind 1. 1992. Image
1977. Image courtesy National courtesy Dolbegae Publishers.
Museum of Modern and
Contemporary Art.

KANG YOBAE
RM mencionou um livro que ele tem lido recentemente: "The Depth of Landscape", uma compilação da arte de Kang ao
lado de seus escritos pessoais que exploram sua vida e suas obras. O livro, uma investigação sobre o pensamento e a
lógica que Kang colocou em sua arte, é uma leitura intrigante por si só, mas é particularmente digno de ser notado
considerando o quão raro é para os artistas coreanos escreverem sobre seu próprio trabalho. O livro de Kang inicia com
a frase: "Fui criado na ilha e voltei para a ilha". Uma figura proeminente da arte e do movimento Minjung ("do povo") da
década de 1980. Kang encheu suas pinturas com as memórias dolorosas, mas poderosas de sua cidade natal, e
especificamente da revolta de Jeju. No entanto, muitas de suas obras lançaram também luz sobre o lado natural da ilha.
Ele mistura pinturas de paisagem tradicionais com técnicas ocidentais e mostra as quatro estações, mas há mais
acontecendo na tela do que poderia ser imediatamente aparente. A memória de Kang da paisagem está repleta de vida
e histórias, a tornando necessariamente diferente de como é vista nos olhos dos espectadores. Embora eles olhem para
o mesmo mar e céu que ele, Kang reconstrói as cenas através de sua memória da história que aconteceu nos
bastidores, e histórias contidas nelas. Mais notavelmente, o vento, um elemento comum de seu trabalho, é pintado com
pinceladas delicadas e sem restrições para capturar a sensação de tempo e lugar, e o ambiente animado nele. Os
ventos ilustrados de Kang agitam os corações dos observadores com aquilo que seu próprio coração enfrentou e seus
pontos de vista de cada momento ao longo de toda a sua vida.

Tradução ENG-PTBR por @MoonchildForRM • Não reposte sem créditos | 7

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