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O que a Entropia, a
Física Quântica, a
Complexidade, os
Fractais e a Autopoiesis
têm a ver com a música
minimalista de Philip
Glass?
Carlos Pessegatti
5 artigos
Consultor

6 de outubro de 2015

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O que a Entropia, a Física Quântica, a Complexidade, os


Fractais e a Autopoiesis têm a ver com a música minimalista
de Philip Glass e os novos horizontes para a humanidade?

Muitas vezes, ao escutarmos uma sinfonia, parece que


temos a sensação de ouvirmos uma nota, ora em cima, ora
em baixo, de um lado, do outro, atrás, na frente, etc. É muito

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provável que algumas pessoas já tenham passado por


esta experiência.

E aí nos perguntamos como isso pode acontecer já que a


música, diferentemente das artes plásticas, é um fenômeno
que ocorre no Tempo. Ora, como podemos ter uma
sensação de “espacialidade”, notas em cima, em baixo, na
frente, atrás, se ela é uma forma de arte temporal? Como
isso é possível? Vamos tentar entender como este fato se
processa, mas antes gostaria de juntar à esta questão, uma
outra, também referente à música. Falo da música
minimalista que tem como grande expoente o músico Philip
Glass. Os artistas ditos ‘minimalistas’ preocupam-se em
fazer uso de poucos elementos fundamentais como base de
expressão. O termo minimalismo, em música, foi usado para
se referir à produção musical que se utiliza de repetição
frequente de pequenos trechos, com pequenas variações
através de grandes períodos de tempo.

Ora, ao se fazer valer do uso repetitivo de pequenos


trechos, composto por células ou frases melódicas, a
tendência, ao ouvirmos essa música quase hipnótica, e
entendendo a música como sendo uma forma de linguagem,
é que ela caminhe no sentido de seu esgotamento. Ou seja,
poucos elementos, repetidos continuamente, caminhariam
para um estado entrópico onde sobraria um mínimo de
informação, pois imaginamos que uma mesma ideia sendo
repetida o tempo todo, uma hora isso resultaria em não se
ter mais nada a dizer.

Entretanto, o que a gente percebe é que, estranha e


paradoxalmente, a informação cresce como que num
turbilhão. Por que isso ocorre, perguntam-se os teóricos da
informação? E eles se perguntam como esse fato se dá
baseando-se no conceito da Entropia da Informação.

Entropia (do grego entrope; transformação), é a parcela


crescente da energia inicial de um determinado sistema que
já não poderá ser transformada em trabalho. Só que aqui,
estamos falando de entropia enquanto sendo uma grandeza
termodinâmica que mensura o grau de irreversibilidade de
um sistema.

Por sua vez, a Entropia da Informação é definida como

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sendo uma forma de medir a quantidade de informação.


Uma mensagem irá ter uma maior quantidade de
informação quanto maior for o seu grau de incerteza ou
imprevisibilidade, e no caso exposto acima, não é isso o que
acontece.

Os dois conceitos possuem diferenças, mas é possível se


traçar um paralelo entre os dois, ou seja, entre a Entropia na
visão da Termodinâmica e a Entropia na visão da Teoria da
Informação.

Faremos isso mais para frente. Neste momento, passaremos


para um outro ponto. Vamos agora, procurar explanar um
pouco mais o conceito de entropia enquanto grandeza
termodinâmica. Imaginemos um sistema fechado onde
temos (num instante t=0), de um lado, uma certa
quantidade de água a 80 graus Celsius, e de outro, uma
mesma quantidade de água a 0 graus. Quando as duas são
colocadas juntas, a tendência é que elas venham a se
estabilizar, entrar em estado de equilíbrio a mais-ou-menos
20 graus, ou seja: no instante t=1. A 2a. Lei da
Termodinâmica diz que a energia sempre vai fluir do corpo
mais quente para o mais frio.

Atingido este estado de aparente harmonia, o sistema


permanecerá imutável. A isso chamamos de Entropia, pois
neste processo de transformação, parte da energia presente
no instante t=0, foi utilizada para realizar o trabalho e parte
foi dissipada (perdida).

Assim, reforçando o que dissemos acima, Entropia será a


parcela daquela energia inicial do sistema que não pode
mais ser transformada em trabalho.

Convém lembrar que aquilo que para o senso comum


aparenta ser ordem (o sistema em equilíbrio e em repouso a
20 graus), para a Física constitui desordem.

Aumentar a desordem significa, assim, desperdiçar energia


que poderia em princípio ser aproveitada como trabalho e,
não o sendo, foi simplesmente entregue na forma de calor à
fonte fria do sistema. Uma vez entregue à fonte fria, a
energia atrelada ao aumento de entropia não pode mais, em
contexto global, ser convertida em trabalho.

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Um outro exemplo seria o motor de um carro. Uma parte da


energia produzida pela combustão do combustível seria
utilizada para fazer o carro andar, ou seja, realizar um
trabalho. A outra, seria desperdiçada, transformada em
calor, e não seria aproveitada, considerando-se um sistema
isolado, obviamente.

Assim posto, como poderíamos então, relacionar esses dois


conceitos entre si e ainda por cima fazermos uma
associação com a música minimalista?

Antes disso, eu proponho colocar outros elementos para


que possamos ampliar a nossa capacidade de
compreensão.

Vamos introduzir agora o conceito de Fractal. Um Fractal é


um objeto geométrico que pode ser dividido em partes,
cada uma das quais semelhante ao objeto original. Diz-se
que os fractais têm infinitos detalhes, são geralmente
autossimilares e independem de escala. Em muitos casos
um fractal pode ser gerado por um padrão repetido,
tipicamente um processo recorrente ou interativo.

Os fractais não apresentam dimensões exatas, nem


simetrias perfeitas, e são, portanto, irregulares. Estão,
porém, longe de ser aleatórios e correspondem
perfeitamente ao que poderíamos chamar de uma
geometria da natureza.

Quero chamar a atenção para duas particularidades do que


está exposto acima: a autossimilaridade e a repetição de
padrão. Observe abaixo um exemplo de uma partitura de
música minimalista.

Só para que possamos estabelecer um paralelo, vamos


lembrar do que falamos ainda há pouco: a música
minimalista se utiliza de repetição frequente de pequenos
trechos, que são idênticos, portanto, autossimilares. Nos
fractais, o que se vê também, é a repetição de pequenas
formas geométricas autossimilares. E aqui gostaria de
colocar uma outra pergunta: qual a sensação que temos ao
olharmos para um Fractal? Será que a sensação que a sua
imagem nos passa não seria de algo que ‘borbulha’ de
informação? Diante de sua beleza e complexidade, eu diria

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que sim. E outra vez, uma nova pergunta (mais uma),


acredito que precisa ser feita. Ora, como pode um Fractal
nos transmitir essa sensação de transbordo de informação
se ele também é composto por elementos mínimos (células,
frases), iguais, que se repetem infinitamente? Não é isso
que sentimos ao ouvirmos uma música minimalista?

Para que possamos compreender melhor esse fenômeno,


vamos precisar introduzir um outro conceito: o da
Complexidade.

TEORIA DA COMPLEXIDADE E AUTOPOIESIS

Segundo Edgar Morin, a complexidade (complexus: o que é


tecido em conjunto) é um tecido de constituintes
heterogêneos inseparavelmente associados.

Complexidade ou Teoria da Complexidade refere-se a uma


visão interdisciplinar acerca dos sistemas complexos
adaptativos, do comportamento emergente de muitos
sistemas. Em sua análise crítica que fez às limitações da
Teoria dos Sistemas, Morin propôs uma reconceituação
desse termo: um sistema precisa passar a ser visto como
sendo, a um só tempo, tanto mais como menos que a soma
de suas partes. Mais, porque a reunião das partes permite o
surgimento de novas potencialidades para o conjunto,
qualidades emergentes que também retroalimentam as
partes, estimulando-as a expressar suas potencialidades
individuais. Menos, porque o advento do conjunto acaba por
determinar restrições às partes, inibindo-as assim de
expressar aquelas mesmas potencialidades individuais. O
homem, por exemplo, associado a outros homens, é
integrante de uma sociedade produtora de cultura, que ao
mesmo tempo o estimula e o constrange. Resumindo:

O todo é mais que a soma das partes, visto que


representa não só o surgimento de uma macrounidade
como também possibilita a emergência de novas
qualidades e propriedades;

O todo é menos que a soma das partes, porque as


partes, estando sujeitas às coações do todo, vêem-se
inibidas em suas potencialidades.

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De volta aos fractais, observemos como essas ideias


colocadas pela Teoria da Complexidade se aplicam a eles.
Olhando para a figura de um fractal, diante de sua grandeza
e beleza, fica claro que o todo é maior que a soma das
partes, pois é tão rico e complexo que nem parece que é
composto de pequeninas e aparentemente, insignificantes
partes.

Agora, se formos reparar em cada uma das partes que o


compõe, fica claro que o todo é menos que a soma das
partes porque deixamos de enxergar a riqueza que cada
parte possui e que pela coação do todo, acabam ficando
inibidas.

Com todos esses conceitos agora colocados, começamos a


ter elementos que nos possibilitem entender porque a
música minimalista, composta por pequenas frases
melódicas, acaba soando grandiosa, e a pergunta, de onde
surgiu tanta informação, parece que começa ser
respondida. Entre outras coisas, por causa das propriedades
emergentes de um sistema. Mas, bem que se poderia
perguntar: aonde entra a entropia nisso? Vamos deixar essa
resposta para o final.

Heisenberg, um dos fundadores da Física Quântica,


formulou o princípio da incerteza, que matematicamente
expressa a impossibilidade de saber-se com precisão, em
dado instante de tempo, tanto a posição como a velocidade
das partículas, pois quanto mais precisa for uma dessas
medidas mais imprecisa será a outra, ou seja, quanto mais
nossa observação estiver voltada a aferir um desses
atributos, menos condições terá de conhecer o outro. Isso
representou o fim do determinismo, pois é o ato de
observação, em si, o que determina a transformação daquilo
que é possível naquilo que é percebido como real; é ele
quem seleciona, entre uma infinidade de eventos possíveis,
o evento real que ocorreu. Em suma, o observador modifica
o fenômeno observado; não existe realidade independente
da mente do observador.

Um outro conceito muito importante que se faz necessário


para que possamos ampliar ainda mais a nossa possiblidade

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de entendimento, é o de Autopoiesis (do grego poiein; fazer,


gerar), termo cunhado pelos biólogos chilenos Humberto
Maturana e Francisco Varela nos anos 1970.

Foi através da autopoiesis que Maturana e Varela


pretenderam caracterizar os seres vivos, em oposição aos
seres não vivos. Em seus estudos, eles demonstraram
serem os seres vivos sistemas auto-organizantes,
caracterizados por três aspectos principais: autonomia,
circularidade e auto-referência.

A autopoiesis expressa a capacidade autônoma da vida de


conduzir sua própria preservação e desenvolvimento, e
inclusive de gerar-se a si própria (autoproduzir-se). É
através da conservação desta sua particularidade,
autopoiética, e de sua adaptação ao seu meio que irá lhe
propiciar as condições sistêmicas para a vida. Por
intermédio desta relação sistêmica, o organismo e o meio
geram-se mutuamente. A ideia de que o organismo e seu
meio são interdependentes assume que um depende do
outro, o que organizacionalmente falando, não ocorre.
Sabemos que o ser vivo, mesmo como um sistema fechado,
não é um sistema isolado, ou seja, ele continua sendo um
sistema termodinamicamente aberto, ou seja, apto a trocar
energia com o ambiente, mas organizacionalmente fechado,
no que diz respeito à sua capacidade de auto-organizar-se,
decidindo, ele mesmo, o que fará com as trocas realizadas
com o ambiente que o circunda. A título de ilustração,
devemos lembrar que a membrana que envolve a célula
representa ao mesmo tempo, o seu ambiente externo e
interno.

Assim, mais que interdependentes, o organismo e o meio


(ou ainda, o indivíduo e a sociedade) são interconstituintes.
O indivíduo só é indivíduo porque é social, e o social
somente é social porque é composto por indivíduos.

O sistema sensorial dos organismos vivos é um sistema


aberto, captador da realidade externa, e produtor de
representações do mundo. Pela autopoiesis, somente pode
continuar havendo sentido em se falar de representações
do mundo se para tanto incluirmos a figura do observador. E
aqui voltamos ao princípio da incerteza de Heisenberg.

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Qualquer representação será sempre um comentário de um


observador que, de um ponto de vista externo, observa a
ambos (organismo e meio), observa também a congruência
entre organismo e meio, e que assim pode falar a respeito
dessa congruência entre um sistema e sua circunstância:
“Tudo o que é dito, é dito por um observador”, diz Maturana.

O sistema fechado, ser vivo, sempre interagirá com o


ambiente como uma totalidade, e nesse processo sofrerá
mudanças desencadeadas por essas interações, mas jamais
determinadas por elas. Por isso se diz que os sistemas
autopoiéticos são estruturalmente determinados à medida
que as mudanças nas suas estruturas dependerão
exclusivamente do estado em que se encontra a sua própria
estrutura, ainda que possam ser disparadas pelas
interações com o ambiente.

Para reforçarmos este conceito, convém apresentar mais


uma experiência realizada por Maturana. Em uma ocasião,
ele inverteu os dois olhos de um sapo, colocando-os de
cabeça para baixo. Sabemos que os sapos aproximam-se
da presa (insetos pequenos) e lançam sua longa e fina
língua retraindo-a rapidamente para dentro da boca com a
presa ali aderida.

Depois de submeter o pequeno anfíbio à esta cirurgia, ele o


colocou de volta ao seu meio e o observou. Percebeu que
quando o sapo era estimulado pela aparição do inseto, sua
língua, quando disparada, já não mais o atingia. Com isso ele
demonstrou que não há nenhum acesso a um real exterior,
pré-definido, mas somente uma correlação interna entre o
lugar da retina, agora invertida, que recebe uma perturbação
(a aparição do inseto) e uma contração muscular que move
a sua língua. Isso confirmou que os sistemas autopoiéticos
são estruturalmente determinados, ainda que possam ser
disparados pelas interações com o ambiente. É, portanto, a
auto-referência (o fechamento) que permite aos seres vivos
manterem padrões estáveis de relações, ou seja, permite-
lhes manterem-se organizados. Assim, a autopoiesis traduz
a capacidade dos sistemas vivos de continuamente
renovarem a si próprios, mas preservando sempre sua
individualidade, por mais que os seus componentes sejam
renovados.

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Order from noise (a ordem pelo ruído)

O conceito de Auto-Organização apareceu por volta dos


anos 1960 como uma tentativa de explicar a não
previsibilidade no comportamento dos sistemas. A ciência,
tal como historicamente conduzida, procurou sempre
descobrir unicamente certezas. Todo conhecimento
reduzia-se a ordem: toda aleatoriedade seria apenas
aparência, fruto de nossa ignorância. O conhecimento das
leis da natureza tinha por objetivo último controlá-la, colocá-
la submissa aos desígnios do homem, e a incerteza e a
desordem sempre foi inimiga desse projeto.

Hoje, com a descoberta dos sistemas não-lineares, a ciência


teve que aceitar a inexorabilidade da incerteza e negociar
com ela. A mesma incerteza que comprometia ou
inviabilizava as antigas explicações simplificadores torna-se
agora parte indissociável da explicação Complexa,
reconhecendo-se a que a desordem concorre para a
produção de ordem (order from noise). A auto-organização
dos chamados sistemas complexos adaptativos (o ser vivo,
por exemplo), é, pois, simultaneamente desorganização e
reorganização, ordem e desordem. Se tudo fosse só
desordem no Universo, certamente haveria muita criação e
inovação, mas nenhuma organização delas decorrente e,
portanto, nenhuma evolução. E se tudo fosse ordem, não
haveria criação ou inovação, e tampouco evolução, também.

Um dos mais importantes conceitos do Pensamento


Complexo é a Circularidade. Muitos autores
contemporâneos, como Henry Atlam, consideram a
denominação order from noise inadequada, preferindo
referir-se à complexidade pelo ruído, ou mais precisamente
à “complexidade por auto-organização pelo ruído”,
lembrando, obviamente, que a complexidade é tanto ordem
quanto desordem. Quando o ruído (novos elementos) é
introduzido no sistema ele tende à se reorganizar, saindo do
estado entrópico para o neguentrópico, ou regeneração do
sistema.

E o surgimento desse ruído pode ser considerado (nesse


caso particular que estamos estudando), pela introdução da

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figura do observador. A informação então presente na


música minimalista, considerando-se esse sistema maior,
tenderia a aumentar. Vejamos o que diz Atlan quando
procura estruturar o conceito de organização pelo ruído
com base na teoria da informação.

De acordo com C. E. Shannon, a quantidade de informação


contida num único símbolo de uma mensagem é igual à
probabilidade do aparecimento desse símbolo (uma letra,
por exemplo) na mensagem, ou seja, ela mede o grau do
receptor diante do símbolo recebido. Assim, a maior
quantidade possível de informação corresponde ao maior
grau possível de aleatoriedade. A quantidade média de
informação por símbolo, multiplicada pelo número de
símbolos da mensagem.

Para Atlan, tal analogia permite um transbordamento da


teoria da informação, inicialmente voltada para as questões
de comunicação, para o campo da análise da complexidade
dos sistemas.

Segundo Gregory Bateson, que formulou o conceito de


comunicação sistêmica, devemos procurar enxergar que os
fenômenos somente podem ser adequadamente
apreendidos se considerados no contexto das respectivas
trocas de informação envolvidas, em nosso caso particular,
relação ouvinte/observador X música/emissor.

É considerando este contexto, ouvinte/receptor X


música/emissor que começamos a vislumbrar uma
possibilidade de compreensão do porquê temos a sensação
desse transbordo. Ouçamos o que diz Atlan.

“A transposição consiste na mudança do ponto de vista da


observação, do ponto de vista (elementar) de uma via de
comunicação sobre a qual se exerce o ruído, para o ponto
de vista (global) de uma via interna de determinado sistema,
externamente ao qual um observador procura medir a
quantidade total de informação contida no sistema. Em
outras palavras, no primeiro caso, o observador (no sistema)
vê apenas a saída da via; no segundo, ele vê (do lado de
fora) todo o sistema. Assim, a quantidade total de
informação contida no sistema equivale ao conjunto das
combinações que é possível realizar com suas partes, ou

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seja, ao conjunto de estudos possíveis do sistema, e essa


quantidade representa o grau de improbabilidade de que a
reunião das diferentes partes resulte no mero acaso. Quanto
mais um sistema for composto por um grande número de
diferentes partes, maior será sua quantidade de informação,
pois maior será a improbabilidade de constituí-lo, tal como
ele é, com base na combinação aleatória de suas partes.”

A analogia da qual falamos existir nos conceitos de entropia


enquanto grandeza termodinâmica e teoria da informação,
no que diz respeito à aparente relação entrópica da música
minimalista, pelo fato de que esta, por ser constituída por
poucos elementos que se repetem continuamente a tornam
de certa forma previsível e com uma presença menor de
incertezas e que, como resultado, menos informação este
sistema possuiria, tem, paralelamente, do ponto de vista
termodinâmico, um sistema em equilíbrio que também seria
mais previsível, tendo, portanto, menos possibilidades de
alterar o seu estado, ou seja menos a dizer. O que tinha que
ser dito, já o foi.

Só que este sistema, que se encontra aparentemente


estabilizado, como se estivesse num estado entrópico, sofre
alterações ao entrar em contato com a figura do observador.
E como sabemos, não existe realidade independente da
mente do observador. Esta figura, de certa forma,
funcionaria como sendo o ruído que viria para desestabilizá-
lo. E aqui falamos em ruído no sentido de mais Interações.
Voltaremos a este ponto mais para frente.

Estamos prontos agora, para retomar a questão da


autopoiesis, mas em novas bases. Vimos até aqui diversas
noções, como as de “papel positivo do ruído”, que leva ao
“resgate de perturbações aleatórias” que se traduz numa
“auto-reconstrução, num novo patamar de organização” (a
nova música que borbulha), que apresenta maior
“complexidade”, ou seja, maior “quantidade de informação”
(veremos mais para frente que a complexidade de um
sistema não está apenas na quantidade de elementos que o
constitui, mas na quantidade de relações que esses
elementos mantém entre si). Convém lembrar, que todas
essas noções só têm sentido para nós, observadores
externos ao sistema mas não tem sentido algum para o

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próprio sistema.

Lembrando o que disse Maturana “Tudo o que é dito, é dito


por um observador”.

É provável que possamos sofrer mudanças sempre que


interagirmos com o ambiente, como também é natural que
elas sejam desencadeadas por essas interações, mas
devemos lembrar, que jamais serão determinadas por elas,
pois como reza a autopoiesis, somos seres estruturalmente
determinados.

É dentro da experiência humana, de cada um de nós, que a


música minimalista irá transbordar e transcender ao seu
estado inicial, e será apenas dentro de nós, seres temporais
e espaciais, que as notas de uma sinfonia se mostrarão
como sendo também um fenômeno de ordem espacial,
lembrando que o grau de complexidade de um sistema não
está na quantidade de elementos presentes neste sistema,
mas na quantidade de interações entre eles.

As cores, os sons, os gostos não são determinados pelas


estruturas externas a nós, mas pela nossa própria estrutura
interna e é nessa relação de interconstituição com o meio
que escrevemos no mundo a nossa história.

O Grande Outro

Nesses tempos que qualificaremos de neoliberais, o sujeito


kantiano vai mal, mas além dele, outro sujeito da
modernidade, o sujeito freudiano, descoberto nas
passagens dos anos 1900, não se encontra num estágio
muito superior. Com efeito, a neurose com suas fixações
compulsivas e suas tendências à repetição, não oferece a
melhor garantia da flexibilidade necessária às “conexões”
múltiplas no fluxo das mercadorias.

Como bem frisou Dany-Rober Dufour em seu maravilhoso


livro A arte de reduzir as cabeças, a figura do esquizofrênico
exposta por Deleuze no anos 1970, com as polaridades
múltiplas e inverssíveis de suas máquinas desejantes, é,
nesse sentido, aparentemente mais performativo e teria,
pelo menos num primeiro momento, mais chances de fazer
frente e talvez até de bloquear os fluxos maquínicos como o
Capital ou a identidade. Entretanto, o que vemos hoje é que

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o novo capitalismo parece ter entendido a lição deleuziana,


pois, com efeito, é preciso que os fluxos de mercadoria
circulem e eles circulam ainda melhor porque o velho sujeito
freudiano, com suas neuroses e suas falhas nas
identificações que não param de se cristalizar em formas
rígidas antiprodutivas, foi sendo substituído por um ser
aberto a todas as conexões.

Na ausência do Grande Outro (explanaremos melhor esse


conceito mais para frente) esse espaço acabou sendo
ocupado pela Mercadoria. Não são mais as lucubrações
metafísicas dos filósofos antigos que estão traçando o
nosso caminho, sugerindo-nos um norte à nossa
caminhada. Desbussolados e dessimbolizados , os
indivíduos pós-modernos acabaram sendo arregimentados
pelos filósofos das grandes agências de publicidade. São
eles quem estão delineando e moldando as nossas almas
através da Propaganda que encontra neste novo sujeito
livre, espaço para se propagar, pois não podemos nos
esquecer, como bem frisou Lacan, na lógica capitalista “o
escravo antigo foi substituído por homens reduzidos ao
estado de ‘produtos; produtos (...) consumíveis tanto como
os outros

Na tendência à dessimbolização em que presentemente


vivemos, diz-nos Dufour, não é mais, com efeito, o sujeito
crítico de Kant, colocando prioritariamente uma deliberação
conduzida em nome do imperativo moral da liberdade, que
convém, também não o é o sujeito neurótico de Freud, preso
numa culpabilidade compulsiva, é um sujeito precário,
acrítico e psicotizante que é doravante requerido. Este
sujeito psicotizante é um sujeito aberto a todas as
flutuações identitárias e, consequentemente, pronto para
todas as conexões mercadológicas. O cerne do sujeito
progressivamente dá lugar ao vazio do sujeito, um vazio
aberto a todos os ventos.

Para que possamos compreender melhor o conceito do


Grande Sujeito, ou Grande Outro de Lacan, precisamos
antes saber que o Sujeito (do latim, subjectus), designa o
estado do que é submisso. O Sujeito é, portanto, primeiro o
assujeitado, o submisso. Mas submetido a que?

Para que tenhamos uma ideia mais clara desse

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assujeitamento, é preciso que saibamos que essa questão


sempre interessou à filosofia: o homem é uma substância
que não tira sua existência de si mesma, mas de um outro
ser. As ontologias, que foram múltiplas, propuseram vários
nomes possíveis para esse ser: a Natureza, as Ideias, Deus,
a Razão ou... o Ser. O Ser nunca é puro, possui sempre uma
tradução, poderíamos dizer um dublê político. Dublê a quem
poderíamos dar o nome de “terceiro”, ou de “Um”.

A questão do Outro, tal como foi formulada por Lacan fica


muito próximo do que aqui estamos evocando como sendo
o Um. Para Lacan, o Outro figura como terceiro na fala.
Lugar terceiro tanto quanto lugar do terceiro, isto é, do que
Lacan, invocando abertamente a religião, denominou de
“Nome-do-Pai”, ou o significante o Outro.

Lacan retoma e desenvolve a ideia da incompletude do


Outro, ou seja, a propriedade indispensável que permite ao
Outro se constituir como tal é, paradoxalmente, sua
incompletude. Se o Outro fosse pleno, tudo deslizaria e eu
não poderia perguntar nada, portanto, só sou sujeito do
outro se posso lhe pedir contas. Em suma, sou sujeito do
outro na medida em que puder opor uma resistência ao
Outro. Nesse sentido, o sujeito é tanto a sujeição quanto o
que resiste à sujeição. Em outras palavras, o sujeito é o
sujeito do Outro e é o que resiste ao Outro.

Chegados a esse ponto, uma pergunta que se impõe: que


Outros ou que figuras do Outro o homem construiu a fim de
a elas se submeter para se apresentar como sujeito desses
Outros?

Se o “sujeito é o subjectus”, o que é submetido, então


poderíamos dizer que a história aparece como uma
sequência de assujeitamentos a grandes figuras instaladas
no centro de configurações simbólicas cuja lista podemos
bastante facilmente fazer: o sujeito foi submetido às forças
da Physis no mundo grego, ao Cosmos ou aos Espíritos em
outros mundos, ao Deus nos monoteísmos, ao Rei na
monarquia, ao Povo na República, à Raça no nazismo e
algumas outras ideologias raciais, à Nação nos
nacionalismos, ao Proletariados no comunismo... Ou seja,
ficções diferentes que foi preciso cada vez edificar com
grande reforço de construções, de realizações, até mesmo

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de colocações em cena muito exigentes. De modo algum se


diz que todos esses conjuntos são equivalentes, muito pelo
contrário: segundo a figura do Outro eleita como centro dos
sistemas políticos-simbólicos, toda a vida econômica,
política, intelectual, artística, técnica muda. Todas as
coerções, as relações sociais e o estar-junto mudam, mas o
que permanece constante é a relação de submissão.

Partindo-se dessa concepção do sujeito percebemos que


ao longo da história textos, gramáticas, dogmas e todo um
campo de saberes tiveram que se afinar para submeter o
sujeito, isto é, a produzi-lo como tal, para reger suas
maneiras – eminentemente diferentes aqui e lá – de
trabalhar, de falar, de crer, de pensar, de morar, de comer, de
cantar, de contar, de amar, de morrer, etc. Fica claro, que o
que nomeamos “educação” é sempre o que foi
institucionalmente instalado quanto ao tipo de submissão a
ser induzida para produzir sujeitos. Assim colocado, o
sujeito, como falante, é, em suma, o sujeito do Outro. O
sujeito só é sujeito por ser sujeito de um grande Sujeito.

Após a definição das sociedades tradicionais,


caracterizadas pela hegemonia exclusiva de um grande
Sujeito, simples ou múltiplo, a definição das sociedades
modernas é mais fácil: a modernidade é um espaço coletivo
no qual o sujeito é definido por várias dessas ocorrências do
Outro. A modernidade corresponderia ao fim da unidade
dos espíritos reunidos em torno de um único grande Sujeito.

Já na pós-modernidade assistimos a derrocada dos sujeitos


crítico de Kant e neurótico de Freud. Por que essa definição
dupla do sujeito moderno como neurótico e crítico se
estilhaçou? Muito simplesmente porque mais nenhuma
figura do Outro, mas nenhum grande Sujeito vale
verdadeiramente na nossa pós-modernidade. Que grande
Sujeito se imporia hoje às jovens gerações? Que Outros?
Que figuras do Outro haveria hoje, nas pós-modernidade? A
civilização que produziu esses grandes Sujeitos sucessivos,
presumidos como nossos salvadores, se autodevorou.

Em suma, na pós-modernidade não há mais Outro no


sentido do Outro simbólico: um conjunto incompleto no qual
o sujeito possa verdadeiramente enganchar uma demanda,
formular uma pergunta ou apresentar uma objeção. Nesse

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sentido, é idêntico dizer que a pós-modernidade é um


regime sem Outros ou que a pós-modernidade é repleta de
semblantes de Outros, ou seja, nada.

Certo, não temos mais lei externa para nos guiar (e nos
assujeitar), mas não seria essa a ocasião única para
encontrarmos a nossas próprias leis internas? Rousseau nos
ensinou que não há liberdade sem leis. A liberdade segue o
destino das leis.” Então, assim sendo, estaríamos, pois,
diante de uma chance histórica de acesso à nossa
autonomia.

Ocorre que, se isso fosse verdade, ainda precisaríamos


saber apreendê-la e saber como operá-la, mas nada indica
que vamos nesse sentido, pois o programa de autonomia é,
com efeito, de uma grande exigência filosófica. De jeito
nenhum consiste em abandonar os indivíduos na cultura,
completamente perdidos; ao contrário, ele exige uma
grande preparação que passe, notadamente, pelo que
outrora se chamava de “direção da consciência.”

Então, é preciso decidir: estamos na hora, próxima do


grande meio-dia nietzscheniano, de um niilismo filosófico
enfim lúcido, ou na hora crepuscular de um “niilismo
cansado”.

Nós conhecemos a oposição irreconciliável que existe entre


esses dois conceitos. O niilismo lúcido parte da ideia de que
os antigos fundamentos metafísicos dos valores nunca
foram mais que ficções construídas em torno do nada. Ele
geralmente engaja um exercício eminentemente exigente e
frequentemente salutar: como recomeçar a pensar a partir
de nada? O outro niilismo, o “niilismo cansado”, para retomar
a própria expressão de Nietzsche, reenvia a um momento
incerto onde todos os valores se tornam cinzentos.

Esta circunstância se apresentaria hoje como um fato social


e histórico, manifestando-se por um fenômeno, disseminado
nas populações, de recusa de toda hierarquia dos valores
(por exemplo, entre os que se originam no interesse privado
e os que dependem da coisa pública), até mesmo de recusa
de todo valor. Tratar-se-ia, nesse “niilismo cansado”, até
mesmo esgotado, de dar um lugar central a “tudo o que
alivia, cura, tranquiliza, entorpece, sob vestimentas

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diversas”, ou seja, a mercadoria ocupando hoje essa posição


chave. Ela representaria o que permite aparecer hoje uma
certa profusão de objetos no lugar mesmo do nada
ontológico.

Chegamos a uma época que viu a dissolução, até mesmo o


desaparecimento das forças nas quais a “modernidade
clássica” se apoiava. Lyotard foi um dos primeiros a apontar
esse fenômeno, que foi caracterizado pelo esgotamento e
pelo desparecimento das grandes narrativas de legitimação,
notadamente a narrativa religiosa e a narrativa política.

A esse primeiro traço das grandes ideologias dominantes e


das narrativas soteriológicas acrescentaram-se
paralelamente, para completar o quadro, a desaparição das
vanguardas, depois, de outros elementos significativos tais
como: os progressos da democracia e, com ela, o
desenvolvimento do individualismo, a diminuição do papel
do Estado, a supremacia progressiva da mercadoria em
relação a qualquer outra consideração, o reinado do
dinheiro, a sucessiva transformação da cultura, a
massificação dos modos de vida combinando com a
individualização e a exibição das aparências, o achatamento
da história na imediatez dos acontecimentos e na
instantaneidade informacional, o importante lugar ocupado
pelas tecnologias muito poderosas e com frequência
incontroladas, a ampliação da duração da vida e a demanda
insaciável de plena saúde perpétua, a desinstitucionalização
da família, as interrogações múltiplas sobre a identidade
sexual, as interrogações sobre a identidade humana (fala-
se, por exemplo, hoje, de uma “personalidade animal”), a
evitação do conflito e desafetação progressiva em relação
ao político, a transformação do direito em um juridismo
procedimental, a publicização do espaço privado, a
privatização do domínio público. Todos esses traços devem
ser tomados como sintomas significativos dessa mutação
atual da modernidade. Eles tendem a indicar que o advento
da pós-modernidade não deixa de ter relação com o
advento do que hoje evocamos com o nome de
neoliberalismo.

Por tudo exposto, e lembrando que o Deleuze havia dito


sobre o sujeito psicotizante, que era um sujeito aberto a

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todas as flutuações identitárias e, consequentemente,


pronto para as conexões mercadológicas, acreditamos,
entretanto, que nem todos os indivíduos se tornaram, nessa
medida, psicóticos. Não é porque a forma sujeito dominante
hoje é a do sujeito acrítico e psicotizante que a humanidade
pós-moderna está no ponto de uma psicotização
generalizada. Nem tudo no mundo virou pós-moderno,
restam vastas zonas modernas e até zonas pré-modernas,
no sentido histórico. Por outro lado, ali mesmo onde a
ofensiva pós-moderna é predominante, há resistência, ao
menos neste momento: o pensamento crítico e a neurose
têm ainda belos rostos e belos dias diante de si.

Em linhas gerais, em todo lugar onde há ainda instituições


vivas, isto é, ali onde nem tudo ainda está completamente
desarranjado, seja esvaziado de toda substância, há
resistência a essa forma dominante. Afirmar que uma nova
forma sujeito está a ponto de se impor na aventura humana
não equivale, pois, a dizer que todos os indivíduos vão
sucumbir a ela sem combate.

A Dialogia

O físico americano David Bohm foi um dos mais destacados


físicos e pensadores do século 20. Suas ideias sobre o
diálogo constituem uma das contribuições mas importantes
feitas à ciência cognitiva e ao estudo das relações entre
indivíduos, grupos, organizações e instituições.

Bohm dá à palavra “diálogo” um significado diverso do


comumente utilizado. Com frequência, a etimologia das
palavras ajuda a conhecer seu significado mais profundo.
“Diálogo” vem do grego diálogos. Logos significa “palavra”
ou, em neste caso, poderíamos dizer “significado da
palavra”. E dia significa “através” – e não “dois”, como
parece. O diálogo pode ocorrer com qualquer número de
pessoas, não apenas com duas. Mesmo uma só pessoa
pode ter o sentimento dialógico dentro de si, se o espírito do
diálogo estiver presente.

O retrato ou imagem sugerido por essa derivação é o de


uma corrente de significados que flui entre nós e por nosso
intermédio; que nos atravessa, enfim. Esse fato tornará

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possível o fluxo de significados na totalidade do grupo, e daí


podem emergir (as propriedades emergentes do sistema)
compreensões novas.

As obras do filósofo Martin Buber têm influenciado a


psiquiatria, a psicologia, a educação, a sociologia e toda
uma corrente da filosofia contemporânea que se preocupa
com o sentido da existência humana em todas as suas
manifestações. A filosofia do diálogo (relação) é ponto
central de toda a sua reflexão tanto no campo da filosofia
como no campo dos ensaios sobre religião, política,
sociologia e educação, atingindo sua expressão madura em
Eu e Tu.

Uma das preocupações da atualidade pode ser traduzida


pela seguinte questão de Martin Buber: “Por onde se deve
começar a lutar contra o mal?” Segundo o filósofo, a luta
contra o mal deve começar na alma de cada ser humano
porque todo o resto será consequência disso. O que
contamina o homem não é o que entra nele, mas o que sai
dele, o que tem no seu coração. Nós, homens e mulheres,
necessitamos encontrar dentro de nós mesmos as bases
para uma Ecologia Humana plena de espiritualidade,
entendendo, como nos ensina o teólogo Leonardo Boff, que
espiritualidade é aquilo que produz em nós uma mudança.

As pequenas ideias” (frases melódicas, pequenas


figuras geométricas), ou resistências a um meio alienante,
podem resultar em um todo cheio de força e rico em
conteúdos.

Por isso reafirmo a minha fé nos seres humanos, pois por


mais que o meio tente lhe impor padrões repetitivos e
alienantes que o levem à uma espiral entrópica que visam à
sua anulação enquanto indivíduos, eles sempre serão
capazes de reerguer-se das cinzas. E o que antes parecia
condená-los à morte, agora o farão ressurgir cheios de
riqueza e esplendor, pois é dentro deles que se encontram a
beleza e a poesia e elas juntas serão capazes pela sua
redenção.

Não será o mundo que vai escrever dentro deles a sua


história, mas justamente o contrário. E mesmo sabendo que
o todo, quando é menor que a soma das partes, é capaz de

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constrangê-los, é também aquele que será capaz de lançá-


los num redemoinho sinérgico que os tornarão ainda muito
maiores e mais fortes. Voltaremos a este ponto mais para
frente.

O Ecosocialismo

Se existe uma palavra que tenha ficado muito difamada ao


longo dos últimos trinta anos, essa palavra foi o socialismo”.
Na verdade, isso é até compreensível, pois ela comparece
na história como um projeto alternativo à perversidade do
capitalismo seja como modo de produção seja como cultura
globalizada, hostil à vida e incapaz de trazer e generalizar
felicidade. Uma das alegações é de que ela não deu certo
em nenhum lugar do mundo, sobretudo depois da implosão
deste sistema na antiga União Soviética, o que suscitou um
entusiasmo quase infantil ao ideal capitalista, ficando ele
agora como o grande triunfador, a verdadeira solução para
os problemas sociais, o que sabemos não ser verdade, pois
este último se revelou também ilusório e falso.

Entretanto, convém reconhecer que aquele “socialismo”


nunca foi o socialismo pensado por seus teóricos. Na
verdade, o que existiu foi um espécie de capitalismo do
Estado autoritário, pois somente este podia acumular e
através dele e dos membros do partido construir o projeto
socialista e não por todo o povo.

Que sistema, então, poderá atender às necessidades


fundamentais da humanidade carente? Não será o
capitalismo que, lá onde chega, traz logo duas injustiças: a
social com a riqueza de poucos e pobreza de muitos, à base
da exploração e a ecológica com a devastação massiça da
natureza.

Se formos deixar de lado os diversos tipos de socialismo a


começar pelo socialismo utópico de Saint Simon, Owen e
Fourier, ou socialismo científico de Marx e Engels, ou ainda o
socialismo autoritário-ditatorial, o chamado estalinismo, e o
socialismo democrático de Schumpter (não confundi-lo
com a social democracia), acabamos nos restringindo ao

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ecossocialismo contemporâneo.

Para Michael Löwy, que recentemente lançou um belo livro


intitulado “O que é ecosocialismo” (Cortez, 2015), o
“ecosocialismo almeja não só a transformação das relações
de produção, do aparelho produtivo e do padrão de
consumo dominante, mas sobretudo construir um novo tipo
de civilização, em ruptura com os fundamentos da
civilização capitalista/industrialista ocidental moderna.”
Löwy, se afasta, assim dos socialismos anteriores
concebidos inicialmente pelo inglês Raymon Williams, pelo
americano James O`Connor e pelo espanhol Manuel
Sacristán, nos idos dos anos 1970.

Os tópicos principais desta proposta foram expostos


no Manifesto Ecossocialista Internacional (2001) que deu
origem à Rede Ecossocialista Internacional (2007).
Na Declaração Ecossocialista de Belém (2007) se diz
claramente: a humanidade enfrenta hoje um escolha
extrema: ecossocialismo ou barbárie…visa-se parar e
inverter o processo desastroso do aquecimento global em
particular e do ecocídicio capitalista em geral, e construir
uma alternativa prática e radical ao sistema capitalista”
(Löwy,pp.114 e 119). Todos estes textos se encontram no
livro de Michel Löwy.

Num artigo recente publicado pelo teólogo Leonardo Boff,


ele assim o encerra: Dentro de pouco seremos todos
ecossocialistas não por opção ideológica, mas por razões
matemáticas: dispomos apenas dos escassos bens naturais
existentes com os quais devemos atender a todos os
humanos e à toda comunidade de vida. Ou repartimos tais
bens com um mínimo de equidade entre todos ou não
haverá uma Arca de Noé que nos salvará. É vida ou morte.

A fenomenologia da Interação

(A sociedade em Rede)

Foi Paul Baran, engenheiro da Rand Corporation, que em


1964 idealizou um sistema de telecomunicações em rede
que fosse mais apto a sobreviver no caso de uma
hecatombe nuclear. Em seu estudo, ele chegou à conclusão

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de que os sistemas estavam organizados de três maneiras:


a) centralizada; b) descentralizadas; e c) distribuídas, como
mostra o esquema abaixo.

Segundo Baran, um sistema de comunicações sustentável


seria aquele que tivesse a sua topologia de forma
distribuída. Só para lembrar, ss coisas mais sustentáveis que
conhecemos se organizam desta forma. O cérebro humano
é assim; ele não dispõe de um neurônio central, que seria o
responsável por gerenciar todo o sistema. Assim são
também os ecossistemas. A vida, como vimos, sempre se
auto-regulou porque o seu padrão de organização é
distribuído. O social, não é o coletivo das pessoas. O social,
é o que está entre indivíduos. A sua característica principal é
a de apresentar uma tipologia em rede, entendendo por
Rede o fluxo interativo de convivência social. O mundo está
em rede. As redes são os nodos e as conexões existentes
entre eles.

Com o passar do tempo, estamos assistindo a uma


mudança que até pouco tempo atrás vinha acontecendo de
forma gradativa, mas que de uns anos para cá tem se
acelerado: as nossas organizações começaram a deixar de
ser participativas e aos poucos estão se tornando
interativas. Na participação, eu me torno parte de algo cujas
regras já estão delimitadas. Diferente de interação onde
tudo é construído na medida que a interação vai
acontecendo. Se antes era necessário que um líder ou uma
norma conduzisse as pessoas a tomarem atitudes, agora
qualquer um de nós pode produzir e disseminar ideias.

Hoje, são as pessoas que mobilizam redes e mais redes,


interagindo e movendo o mundo. O problema que se coloca
então, é: mas será que elas sabem para onde estão indo?

Vamos agora analisar alguns aspectos dos fenômenos da


interação. Eles acontecem de quatro formas:

1 – Clustering = aglomerando;

2 – Swarming = enxameando;

3 – Cloning = clonando, imitando

4 – Cruching = amassando.

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São funções que acontecem independente de nossa


vontade e representam o grau de interatividade que
depende do grau de conectividade, que, por sua vez,
depende do grau de distribuição.

Quanto mais uma estrutura é distribuída, mais conectada ela


vai estar porque possui mais caminhos. Quanto mais
caminhos ela tiver, mas interações fortuitas irão acontecer.
Portanto, maior será a interatividade. Quando essas quatro
funções aparecem, coisas estranhas começam a acontecer.

A primeira coisa estranha que percebemos é o Clustering,


que interage e se aproxima. Tudo o que interage tende a se
aglomerar. O Universo foi formado assim. Num exemplo
entre humanos, podemos dizer que se A conhece B e C,
mas C conhece B, um Clustering começa a se esboçar nesta
pequena rede que interage e consequentemente,
interagindo, acaba se aproximando.

A outra função, o Swarming, é quando uma dinâmica de


enxame acontece. Podemos ver isso acontecendo entre os
insetos, entre os peixes, ou pássaros e até mesmo com as
pessoas. Quando isso ocorre, cria-se uma inteligência
coletiva que está ligada à essa fenomenologia da interação.
No caso dos peixes, dá-se o nome de Shoaling, ou seja,
nadar em cardume. Quando assistimos a este nadar em
cardume que os peixes executam, percebemos que não
existe a figura de um líder, ou seja, de um peixe que é o
responsável por dirigir o cardume. Fenômeno parecido
acontece também com os pássaros. Flocking é o nome que
se dá ao ato de ‘voar em bando’.

A outra função da fenomenologia da interação é o Cloning.


O seres humanos aprendem por cloning pois são seres
imitativos. Grande parte do que conseguimos saber é por
imitação. O cupinzeiro é um ótimo exemplo de sistema
inteligente.

Como pode um ser tão pequeno construir algo tão


complexo. Será que isso não nos faz lembrar da música
minimalista e dos fractais, que da mesma forma, nascem da
junção de pequenos elementos que que vão interagindo de
maneira repetitiva, ou imitativa?

Pois bem. O cupim não vem com um programa complexo

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dentro dele. Sua única instrução é: imite o seu vizinho. O


problema é que ao fazer isso, ele não o imita exatamente
igual. Ele introduz uma variação (ruído). E o que se tem são
todos imitando todos ao mesmo tempo. Nesse processo,
eles ‘enxameiam’ também para clonar. Existe um Swarming
acontecendo junto com o Cloning, de sorte que a
distribuição dessas variações ao longo do tempo vai
gerando ordem de baixo pra cima através da interação. O
resultado, nós já sabemos: é o surgimento dessa coisa
fantástica, extremamente complexa e sustentável que é o
cupinzeiro, que poderia muito bem, fazendo uma análise sob
o ponto de vista estético, se parecer com um fractal ou uma
peça de música minimalista.

E o que acontece com os ‘cupinzeiros’ humanos, nós que


somos dotados de inteligência? E aí temos uma outra
pergunta que muito bem caberia aqui: com o aumento da
interatividade, nesse mundo de hoje de alta interatividade, o
que está sendo gerado por essas nossas interações? São
questões novas que nos estão sendo colocadas e que
merecem que façamos uma reflexão mais profunda. Mas
continuemos em nossa análise sobre os fenômenos que
ocorrem quando um sistema em rede começa a ocorrer.

Vamos falar agora da função Cruching. Na medida em que


aumenta o grau de distribuição e aumenta a interatividade,
ocorre um fenômeno conhecido como Small World
Networking, ou seja, diminui o tamanho do mundo. Isso
significa que diminui o número de intermediários entre você
e qualquer outra pessoa. Diminuindo esse grau de
separação entre as pessoas (antes tínhamos seis níveis; em
2011 esse número já havia caído para 3,9), muda a dinâmica
daquilo que hoje conhecemos como sociedade. Desta
forma, as pessoas passam a ser um corpo que se move
solidariamente em termos físicos. Elas começam a dançar (a
música que transborda) e assim passa a ser um sistema que
‘pensa’, pensa em termos de inteligência coletiva.

Tudo que interage, clusteriza, pode enxamear (de repente,


sai um milhão de pessoas nas ruas). Tudo o que interage,
clona. Um aprende com o outro, que aprende com o outro,
etc. E tudo o que interage se ‘aproxima’. Small is Powerfull
(pequenas células musicais, pequenas formas geométricas).

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Se você diminui o tamanho do mundo, o campo fica mais


‘empoderante’ e aí surgem mais oportunidades, mais
caminhos, mais possiblidades de se fazer qualquer coisa.

Essa função, ‘Empowerment’, que se dá quando o todo é


maior que a soma das partes, é uma função que opera do
coletivo para os indivíduos. É como se fosse um campo de
força que está induzindo nas pessoas uma energia, e elas
então começam a fazer coisas porque aquele campo está
possibilitando. Esse campo é a Rede, é o campo social.
Quanto menor for o grau de separação dentro deste
sistema, mais empoderante será o campo.

Conclusões

A música minimalista de Philip Glass, ao nos lançar num rico


espiral de beleza e significados, faz também desabrochar a
compreensão de que nem tudo está perdido, pois enquanto
existir vida, sempre haverá esperança e lembrando o que
falamos ainda há pouco, a vida é Autopoiética, e isso
significa que apesar de todas as interações que tivermos
com o ambiente que nos circunda, jamais seremos
determinados por elas pois somos seres estruturalmente
determinados. Somos nós que determinamos aquilo que
pretendemos ser.

Está denro de nós a nossa capacidade de autodestruição, se


deixarmos que nos transformemos em uma mera
mercadoria. Só que, também, encontra-se dentro de cada
um de nós toda a possibilidade de redenção.

A qual Grande Outro iremos nos assujeitar para moldar um


novo sujeito mais apto a enfrentar esse esvaziamento
provocado pelo processo de dessimbolização, ainda não
sabemos responder. Será a Ecologia? Se for, será ela capaz
de unir toda a humanidade sujeitando-a a um ideal comum
que possa ser compartilhado por todos? Será o
Ecosocialismo capaz de re-integrar o ser vivo ao seu meio,
aglutinando todas as pessoas em torno de um único modo
de trabalhar, de falar, de crer, de pensar, de morar, de comer,
de cantar, de contar, de amar, de morrer? Torço para que
sim.

Contudo, mesmo considerando este momento crítico e


entrópico que acomete todos os sujeitos pós-modernos,

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acreditamos que as propriedades emergentes deste


sistema, compreendido por aqueles que ainda resistem à
sua aniquilação, irão eclodir numa espiral rica e
transbordante de significados novos que será capaz de
produzir um todo ainda muito maior e mais forte.

Embora ainda não saibamos sobre que bases este novo


Grande Sujeito irá se erguer, acreditamos que o seu
florescimento será fruto da construção conjunta que
envolve cada um de nós, pequeninas partes, que estarão
presentes em sua composição final.

Com a compreensão do funcionamento das sociedades em


rede, a cada dia mais e mais conectadas, interagindo,
clonando, enxameando, acredito que uma nova inteligência
irá eclodir a partir do somatório de cada uma de suas partes,
e este novo saber coletivo que está em vias de ser parido,
será aquele que realmente irá nos guiar rumo a um mundo
mais distribuído e democrático, onde a vontade de todos e
de cada um irá sobrepujar a vontade daqueles poucos que
ainda desejarem nos governar.

O Século XX assistiu à derrocada das grandes narrativas


que pretendiam nos enquadrar sob uma única égide, mas,
como vimos, elas deram no que deu. Esta nova
Metanarrativa, não será erigida a partir de um centro, mas a
partir das relações de interatividade existentes entre todos
os nodos que compõem esta maravilhosa Teia da Vida.

Tal como a Fênix - aquele pássaro da mitologia grega que é


capaz de ressurgir das cinzas mesmo após ter entrado num
processo de auto-combustão no momento de sua morte, ou
seja, de ter entrado num estado entrópico sem possibilidade
de regeneração –, veremos surgir um novo Sujeito
composto por todos os sujeitos autores desta grande e rica
sinfonia que vem sendo escrita neste maravilhoso processo
de co-criação.

Carlos Pessegatti

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Atlan, Henry. Entre o cristal e a fumaça: Jorge Zahar, 1992

Bohm, David. Diálogo: Palas Athena, 1996

Dufour, Dany-Robert. A arte de reduzir as cabeças:


Companhia de Freud, 2003

Franco, Augusto. Cocriação: reinventando o conceito: 2012

Löwy, Michael. O que é ecosocialismo: Cortez, 2015

Guevara, Arnoldo José de Hoyos e Dib, Vitória Catarina. Da


sociedade do conhecimento à sociedade da consciência –
Princípios, Práticas e Paradoxos: Saraiva, 2007

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